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Karl Marx e Friedrich Engels MANIFESTO COMUNISTA Organizagao e introducao Osvaldo Coggiola Bearers Copyright desta edigao © Boitempo Editorial ‘Tradugio do Manifesto Comunista Atvoro Pina Assistente editorial Daniela finkings Revisio Alize Kobayashi Flamarion Mauss Priscila Ursula des Santos Capa Antonio Kel sobre deseo de Maringont Eaitoragio eletrénica Flioio Valeorde Gorotti Fotolitos Augusto Associados Impressio e acabamento Barta Agradecemos a valosa claboragi de Francisco Melo (edigtes Avante!) ‘Allexaraire Antunes Perso e Faria da Costa Duro, {que se enipentarant particularmente na edigao deste Manifesto, ISBN. 978-85-85934-23-1 ‘Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser utiizada ow reprodkizida sem a expressa auitorizagao da editora edigio: margo de 1998 1 reimpressio: abril de 1998 2\ reimpressio: abril de 1999, 3 reimpressaor agosto de 2002 “4 reimpressio: junho de 2005 5+ reimpressac: novembro de 2007 BOITEMPOEDITORIAL Jinkings Eaitores Associados Lida ua Eucldes de Andrade, 27 Perdizes05030-020 ‘Sto Paulo. SP tel/fax 11 3872-6969 3875-7250 ‘altor@bostempoeditorialcombr ‘won hojtempocditoria.combe SUMARIO Nota da edigao Introducao. Osvaldo Coggiola MANIFESTO COMUNISTA Karl Marx e Friedrich Engels I Burgueses e proletirios IL- Proletérios e comunistas. L- Literatura socialista e comunista, IV - Posigio dos comunistas diante dos diversos partidos de oposicio Preficios de Marx e Engels Profcio a edicto alent de 1872, Profcio & edigto russa de 1882 .. Proficio & edigto alema de 1883.. Preficio a edigao inglesa de 1888 Preficio a edigao alema de 1890. Preficio a edigao polonesa de 1892 Prefcio a edigto italiana de 1898. Em meméria do Manifesto Comunista . Antonio Labriola (© Manifesto Comnonista de Marx e Engels Jean Jaures Noventa anos do Manifesto Comunista .. Leon Trotsky (© Manifesto Comunista de 1848. Harold Laski Cem anos depois do Manifesto. Lucien Martin (© Manifesto Comuntsta: qual sua relevancia hoje? James Petras a7 40 51 59 68 a 2 74 74 78 80 81 87 137 159 169 239 Manifesto Comunista Westar ater shee werinit en, Capa da primeira edigao do Manifesto do Partido Comunista publicade em Londres, no final de fverero de 1848. UM ESPECTRO ronda a Europa — 0 espectro do comunismo, Todas as poténcias da velha Europa unem-se numa Santa Alianga para conjura- Io: 0 papa e 0 czar, Metternich © Guizot, 0s radicais da Franca © os policiais da Alemanha. Que partido de oposicio nao foi acusado de comunista por seus ad versirios no poder? Que partido de oposi¢ao, por sua vez, nio langou a seus adversirios de direita ou de esquerda a pecha infamante de co- rmunista? Duas conclusoes decorrem desses fatos 1% © comunismo ja € reconhecido como forga por todas as potén- cias da Europa: 2 £ tempo de os comunistas exporem, abertamente, a6 mundo in- teiro, seu modo de ver, seus objetivos e suas tendéncias, opondo um ‘manifesto do proprio partido a lenda do espectro do comunismo. Com este fim, reuniram:se, em Londres, comunistas de vatias nacio- nalidades ¢ redigiram 0 manifesto seguinte, que seré publiczdo em in als, francés, alemao, italiano, flamengo e dinamarqués.* Sobre a publicopo do Manifesto nas linguas mencionadas, wer as indicagdes dos preficios ¢ Shae rspectias nots. 39 Marx ¢ Engels Burgueses e proletéios! ‘A historia de todas as sociedades até hoje existentes? é a historia das lutas de classes. Homem livre e escravo, patricio e plebeu, senhor feudal e servo, mes- tre de corporacao! e companheiro, em resumo, opressores e oprimidos, em constante oposicao, tém vivide numa guerra ininterrupta, ora fran- ca, ora disfarcada; uma guerra que terminou sempre ou por uma trans- formacao revolucionatia da sociedade inteira, ou pela destrui¢ao das duas classes em conflito. Nas mais remotas épocas da Historia, verificamos, quase por toda Parte, uma completa estruturacao da sociedade em classes distintas, uma mialtipla gradac3o das posigdes sociais. Na Roma antiga encontramos Patricios, cavaleitos, plebeus, escravos; na Idade Média, senhores, vassalos, mestres das corporages, aprendizes, companheitos, servos, e, em cada uma destas classes, outras gradagdes particulares. Asociedade burguesa moderna, que brotou das rufnas da sociedade. feudal, nao aboliu os antagonismos de classe. Nao fez mais do que es- tabelecer novas classes, novas condicdes de opressio, novas formas de luta em lugar das que existiram no pasado. Entretanto, a nossa época, a época da burguesia, caracteriza-se por ter simplificado os antagonismos de classe. A sociedade divide-se cada "Por burguesia entendee a classe dos cpitlistas moderns, poprietiies dos meios de producio socal que empregam o trabalho assalariado. Por poletariade,aslasse dos assa= luriados modernos que, ndo tendo mcioe pripris de produsto, so obrigadss a verde sta {orca de trabalho para sobrevver (Nota de F. Engels edie Inglesa de 1888) * Ito toda historia escrta. A pré-tistri, a arganizago social anterior 8 histria esc: 4a, eva desconhecda em 1847. Mais tarde, Haxthause (August von, 172-1866) deseo bri a propredade comum da terra na Risia, Maurer (Georg Ladcig ven) mostrou fer sido essa base social da qual es tibos teutonias derivaran histricamntee, pouco & ppouco,verficow-se que a comunidede rural era a forma primitioa a sacedade, desde « ‘tia até @ Ironia. A organtzagao interna desea socedae comumista prmiton foi des. ‘end, em sua forma tiie, pela descoberta de Morgan (Lets Henry, 191881) da oer dadera naturcen de gens ede sua relaco com a trib. Ap a disolugio desas comunt ‘dudes primitoas, a sociedade pass aaeidir-seem classes istntas. Procure tra ese process de dissolugio na obra Der Ursprong der Familie, des Privatergentiuams und des Staats (A Origem da Familia, da Propriedade Privacla e do Estado), 2 "ed, Stutigart, 1866. Nota de F Engels 2 ei inglesa de 1886. * O mestre de conporagi & um membr da guilds, pate inlerno, « no seu dirigente. (Nota de. Engels tego ingle de 1888) 40 Manifesto Comunista ‘vez mais em dois campos opostos, em duas grandes classes em con- {ronto direto: a burguesia e o proletariado, ‘Dos servos da Iddade Média nasceram os moradores dos primeiros burgos; desta populaco municipal safram os primeiros elementos da burguesia ‘A descoberta da América, a circunavegagao da Attica abriram um novo campo de aco a burguesia emergente. Os mercados das In- dias Orientais e da China, a colonizagio da América, 0 comércio colonial, 0 incremento dos meios de troca e das mercadorias em geral imprimiram ao comércio, 8 industria e & navegacao um imp.ilso des- conhecido até entao; e, por conseguinte, desenvolveram rapidamente © elemento revolucionatio da sociedade feudal em decomposicao. ‘A organizacao feudal da indGstria, em que esta era circunscrita a corporagées fechadas, j8 ndo satisfazia as necessidades que cresciam Com a abertura de novos mercados, A manufatura a substituiu. A pe: quena burguesia industrial suplantou os mestres das corpo'agoes; a divisdo do tabalho entre as diferentes corporagdes desapareceu dian- te da divisao do trabalho dentro da propria oficina, “Todavia, os mercados ampliavam-se cada vez mais, a procura por mereadorias continuava a aumentar. A propria manufatura tornou-se insuficiente; entao, 0 vapor e a maquinaria revolucionaram a pro- ducao industrial. A grande indistria moderna suplantou a manufatu- fara media burguesia manufatureica cedeu lugar aos milionarios da indiistria, aos chefes de verdadeiros exércitos industriais, aos burgue- ses modemos ‘A grande inddstrla criou o mercado mundial, preparado pela des coberta da América, © mercado mundial acelerou enormsmente 0 desenvolvimento do comércio, da navegacao, dos meios de comu- niicagao, Este desenvolvimento reagiu por sua vez sobre a expansio dda industria; e A medida que a industria, o comércio, a navegagao, fas vias férreas se desenvolviam, crescia a burguesia, multiplicando Sous capitais e colocando num segundo plano todas as classes legadas pela Idade Média ‘Vemos, pois, que a propria burguesia moderna € 0 produto de um longo processo de desenvolvimento, de uma série de transformacdes no modo de produgio e de circulacao, Cada etapa da evolugio percorrida pela burguesia foi acompa- hada de um progresso politico correspondente. Classe oprimida pelo despotismo feudal, associagio armada e auténoma na comu- a Marx ¢ Engels nat, aqui repablica urbana independente, ali terceiro estado tribu- tario da monarquia; depois, durante 0 periode manufatureiro, con- trapeso da nobreza na monarquia feudal ou absoluta, base principal das grandes monarquias, a burguesia, com o estabelecimento da grande indistria e do mercado mundial, conquistou, finalmente, a soberania politica exclusiva no Estado representative moderno. O executivo no Estado moderno nao é senzio um comité para gerir os negécios comuns de toda a classe burguesa, ‘A burguesia desempenhou na Histéria um papel iminentemente re- volucionsrio, Onde quer que tenha conquistado 0 poder, a burguesia destruiu as relacdes feudais, patriarcais e idilicas, Rasgou todos os complexos e va- riados lagos que prendiam o homem feudal a seus “superiores naturais", para s6 deixar subsistt, de homem para homem, o laco de frio interes. se, as duras exigéncias do “pagamento 2 vista". Afogou os fervores sa- grados da exaltacao religiosa, do entusiasmo cavalheiresco, do senti- mentalismo pequeno-burgués nas aguas geladas do célculo egoista. Fez da dignidade pessoal um simples valor de toca; substituiu as numero- sas liberdades, conquistadas duramente, por uma Gnica liberdade sem escripulos: a do comércio. Em uma palavra, em lugar da exploracao dissimulada por ilusdes religiosas e politicas, a burguesia colocou uma exploragao aberta, direta, despudorada e brutal, A burguesia despojou de sua auréola todas as atividades até entao eputadas como dignas € encaradas com piedoso respeito. Fez do mé- dico, do jurista, do sacerdote, do poeta, do sabio seus servidores assa- lariados, A burguesia rasgou 0 véu do sentimentalismo que envolvia as rela- ‘ces de familia © reduziu-as a meras relacoes monetirias A burguesia revelou como a brutal manifestagao de forga na Idade Média, tao admirada pela reagao, encontra seu complemento natural na ociosidade mais completa, Foi a primeira a provar o que a atividade *"Comuna™ ea nome que sede ma Franga A clades nascentes, mesmo antes de terene ‘conguistado a autonamia local eos dietos poco de“lercio estado" Em ger a Inga. terra éo exemplotipico do desenvoleimenta econdmico da burguesia, enguanta a Fang Fe presenta o seu descoleimento plc. (Nota de F Engel etn inglesa de 1888) (Os habitants das cides de taeda Fran asim chanaramn ao sues comunidades tera us, depos de trem comprato ou conguistado dos senhores fue sus prineies direitos ‘um govern autdnome. (Nota de EEngels a eto aleat de 1890.) 2 Manifesto Comsnista humana pode realizar: criou maravilhas maiores que as piramides do Egito, os aquedutos romanos, as catedrais géticas; conduziu expedicoes que empanaram mesmo as antigas invasdes ¢ as Cruzadas. ‘A burguesia nao pode existir sem revolucionar incessantemente os instrumentos de producao, por conseguinte, as relagdes de producto fe, com isso, todas as relagdes sociais. A conservagio inalterada do an- tigo modo de produgao era, pelo contrario, a primeira condigao de exis- téncia de todas as classes industriais anteriores. Essa subversao contt- nua da produgao, esse abalo constante de todo o sistema social, essa agitagdo permanente e essa falta de seguranga distinguem a época bur- uesa de todas as precedentes, Dissolvern-se todas as relagces sociais, antigas e cristalizadas, com seu cortejo de concepgdes ¢ de idéias se- culatmente veneradas; as relagGes que as substituem tornam-se antiqua- das antes de se consolidarem, Tudo 0 que era sélido e estavel se des- mancha no af, tudo 0 que era sagrado € profanado e os homens siio obrigados finalmente a encarar sem ilusdes a sua posicao social © as suas relacbes com os outros homens. Impelida pela necessidade de mercados sempre novos, a burguesia invade todo 0 globo terrestre, Necessita estabelecer-se em toda parte, ‘explorar em toda parte, criar vinculos em toda parte. Pela exploracao do mercado mundial, a burguesia imprime um ca rater cosmopolita & produgao e€ ao consumo em todos os paises. Para desespero dos reacionérias, ela roubou da industria sua base nacional, As velhas inddstrias nacionais foram destrufdas € contin.am a ser destruidas diariamente, Sao suplantadas por novas indiistries, cuja in- trodugao se torna uma questio vital para todas as nagdes chvilizadas — indiistrias que ja nao empregam matérias-primas nacionais, mas sim ma- térias-primas vindas das regiGes mais distantes, e cujos produtos se con- somem nao somente no proprio pals mas em todas as partes do mun- do. Ao invés das antigas necessidades, satisfeitas pelos produtos nacio- nals, surgem novas demandas, que reclamam para sua satisfara0 08 pro- tos das regides mais longinquas e de climas os mais diversos, No Iu- gar do antigo isolamento de regides e nagdes auto-suficientes, desen- volvem-se um intercambio universal e uma universal interdependéncia das nagdes. E isto se refere tanto & producao material como a produ- cao intelectual. As criagdes intelectuais de uma nagio tornam-se patriménio comum, A estreiteza e a unilateralidade nacionais tornam- se cada vez mais impossiveis; das numerosas literaturas nacionais € lo- cals nasce uma literatura universal 8 Mare ¢ Engels Com 0 rapido aperfeigoamento dos instrumentos de produgao ¢ 0 Constante progresso dos meios de comunicagao, a burguesia arrasta para a torrente da civilizagéo todas as nagdes, até mesmo as mais barbaras, Os baixos precos de seus produtos so a artlharia pesada que deste6i todas as muralhas da China e obriga & capitulacao 0s bérbaros mais. tenazmente hostis aos estrangeiros. Sob pena de ruina total, ela obriga todas as nagées a adotarem o modo burgués de produsao, constrange- asa abragar a chamada civilizacao, isto é, a se tornarem burguesas. Em uma palavra, cria um mundo a sua imagem e semelhanca. ‘A burguesia submeteu 0 campo & cidade. Criou grandes centros ut- banos; aumentou prodigiosamente a populacao das cidades em rela- 40 4 dos campos e, com isso, arrancou uma grande part> da popula- ‘580 do embrutecimento da vida rural. Do mesmo modo que subordi- nou 0 campo a cidade, os patses barbaros ou semibarbaros aos palses ivilizados, subordinou os povos camponeses aos povos ourgueses, Oriente ao Ocidente, ‘A burguesia suprime cada vez mais a dispersio dos meios de produ 680, da propriedade e da populacao. Aglomerou as populares, centra- lizou os meios de producao e concentrou a propriedade em foucas mios, A conseqiiéncia necessitia dessas transformagoes foi a centralizacao po. litica. Provincias independentes, ligadas apenas por débeis lacos federa- tivos, possuindo interesses, leis, governos e tarifas aduaneitcs diferentes, foram reunidas em uma 56 nacao, com um s6 governo, uma s6 lei, um ‘0 interesse nacional de classe, uma 6 barrteira alfandeggtia, ‘A burguesia, em seu dominio de classe de apenas um século, criou forsas produtivas mais numerosas e mais colossais do que todas as ge- ragdes passadas em seu conjunto. A subjugacao das forcas da nature 2a, as maquina, a aplicagdo da quimica na indistria e na agricultura, a navegagio a vapor, as estradas de ferro, telégrafo elétrico, a explo. ragao de continentes inteitos, a canalizago dos rios, populacées intel ras brotando da terra como por encanto — que século anterior teria sus- peitaclo que semelhantes forcas produtivas estivessem adormecidas no seio do trabalho social? Vimos, portanto, que os meios de produgao e de troca, sobre cuja base se ergue a burguesia, foram gerados no seio da sociedade feudal Numa certa etapa do desenvolvimento desses meios de proclugio e de troca, as condig6es em que a sociedade feudal produzia e vocava — a forganizagao feudal da agricultura e da manufatura, em suma, o regime feudal de propriedade — deixaram de corresponder as forcas prodti ” Manifesto Domania vas em pleno desenvolvimento. Tolhiam a producao em lugar de impulsioné-la, Transformaram-se em outros tantos grithes que era pre- iso despedagar; e foram despedacados. Em seu lugar, surgiu a livre concorréncia, com uma organizacao so- cial e politica apropriada, com a supremacia economica e politica da classe burguesa. vAssistimos hoje a um process semelhante, A sociedade burguesa, ‘com suas telagoes de producao e de troca, o regime burgués de proprie- dade, a sociedade burguesa moderna, que conjurou gigantescos meios de producao e de troca, assemelha-se a0 feiticeiro que j& no pode con- trolar os poderes infernais que invocou. Ha dezenas de anos, a historia da indéstria e do comércio nao é sendo a hist6ria da revolta das forgas produtivas modernas contra as modernas relagdes de produsio, contra Fs relagdes de propriedade que condicionam a existéncia da burguesia fe seu dominio. Basta mencionar as crises comerciais que, repetindo-se periodicamente, ameagam cada vez mais a existéncia da sociedade bur- guesa. Cada crise destréi regularmente nao s6 uma grande massa de produtos fabricados, mas também uma grande parte das proprias for ‘cas produtivas ja criadas, Uma epidemia, que em qualquer outra épo- Ca teria parecido um paradoxo, desaba sobre a sociedade — a epide- mia da superproducao. A sociedade vé-se subitamente reconduzida a tum estado de barbarie momentinea; como se a fome ou uma guerra de exterminio houvessem Ihe cortado todos os meios de subsisténcia; ‘0 comércio € a indistria parecem aniquilados. € por qué? Porque a so- ciedade possui civilizagsio em excesso, meios de subsisténcia em ex: cesso, indistria em excesso, comércio em excesso. As forgas produti- vvas de que dispde no mais favorecem o desenvolvimento das relagdes burguesas de propriedade; pelo contrario, tomnaram-se podercsas demais para estas condicdes, passam a ser tolhidas por elas; e assim que se li- bertam desses entraves, langam na desordem a sociedade inteira ¢ amea- ‘cam a existéncia da propriedade burguesa. O sistema burgués tornou- Se demasiado estreito para conter as riquezas criadas em seu seio. E de {que maneira consegue a burguesia vencer essas crises? De um lado, pela destruicao violenta de grande quantidade de forcas produtivas; de ou tro, pela conquista de novos mercados e pela exploragiio mais intensa dos antigos. A que leva isso? Ao preparo de crises mais extersas @ mais destruidoras e a diminuigso dos meios de eviti-las. ‘As armas que a burguesia utilizou para abater 0 feudalismo voltam- se hoje contra a propria burguesia. 5 Mars ¢ Engels ‘A burguesia, porém, nao se limitou a forjar as armas que lhe trarao a ‘morte; produziui também os homens que empunharao essas armas — 05 operarios modemos, os proletirios. Com 0 desenvolvimento da burguesia, isto é, do capil, desenvol- ve-se também o proletariado, a classe dos operarios modernos, os quais 86 viver enquanto tém trabalho e s6 tém trabalho enquanto seu traba- tho aumenta o capital. Esses opersrios, constrangidos a vender-se a re- talho, sao mercadoria, artigo de comércio como qualquer outro; em con- seqtiéncia, esto sujeitos a todas as vicissitudes da concorréncia, a to- das as flutuagdes do mercado. O crescente emprego de maquinas ¢ a divisio do trabalho despoja. ram a atividade do operario de seu carster auténomo, tirando-Ihe todo. 2 atrativo. O operdrio torna-se um simples apéndice da maquina e dele 50 se requer o manejo mais simples, mais mondtono, mais facil de apren- der. esse modo, 0 custo do operirio se reduz, quase exclusivamente, aos meios de subsisténcia que The s30 necessérios para viver e perpe. tuar sua espécie. Ora, 0 prego do trabalho, como de toda mercadotia, ¢ igual a0 seu custo de produgdo. Portanto, & medida que aumenta o arater enfadonho do trabalho, decrescem os salarios. Mais ainda, na mesma medida em que aumenta a maquinaria ¢ a divisio do trabatho, sobe também a quantidade de trabalho, quer pelo aumento das horas de trabalho, quer pelo aumento do trabalho exigido num determinado tempo, quer pela aceleracdo do movimento das maquinas etc. A industria moderna transformou a pequena oficina do antigo mes- tre da corporagao patriarcal na grande fabrica do industria capitalista, ‘Massas de operdrios, amontoadas na fabrica, sio organizedas militar. mente. Como soldados rasos da industria, estio sob a vigilancia de uma hierarquia completa de oficiais e suboficiais. Nao sio apenas servos da classe burguesa, do Estado burgués, mas também dia a dia, hora a hora, escravos da maquina, do contramestte e, sobretudo, do dono da fabri, ca. E esse despotismo é tanto mais mesquinho, mais odioso © exas- Perador quanto maior € a franqueza com que proclama ter no lucro seu objetivo exclusive, Quanto menos habilidade € forga o trabalho manual esige, isto é quanto mais a industria moderna progride, tanto mais o trabalho dos homens é suplantado pelo de mulheres e criangas, As diferercas de ida- dee de sexo nao tem mais importancia social para a classe operaria Nao ha seni instrumentos de trabalho, cujo prego varia segundo a ida. de © 0 sexo, 46 Manifesto Comunista Depois de sofrer a exploracao do fabricante e de receber sou salario ‘em dinheiro, 0 operdrio torna-se presa de outros membros da burgue- sia: 0 senhorio, 0 varejista, o penhorista etc. ‘As camadas inferiores da classe média de outrora, os pequenos industriais, pequenos comerciantes os que vivem de rendas [rentiers|, artesdos e camponeses, caem nas fileiras do proletariado; uns porque ‘seu pequeno capital nao permite empregar os processos da grande it dastria e sucumbem na concorréncia com os grandes capitalistas; 01 tros porque sua habilidade profissional é depreciada pelos novos mé- todos de produgao. Assim, o proletariado é recrutado em todas as clas- ses da populacio. (© proletariado passa por diferentes fases de desenvolvimento. Sua uta contra a burguesia comeca com a sua existéncia. No comeco, empenham-se na luta operatios isolados, mais tarde, ope- rarios de uma mesma fabrica, finalmente operarios de um mesmo ramo de indastria, de uma mesma localidade, contra 0 burgués que os ex- plora diretamente, Dirigem os seus ataques nao s6 contra as relagoes burguesas de producao, mas também contra os instrumentos de produ- 40; destroem as mercadorias estrangeiras que thes fazem concorrén- cia, quebram as maquinas, queimam as fabricas e esforcam-se pat conquistar a posigiio perdida do trabalhador da Idade Média Nessa fase, 0 proletariado constitui massa disseminada por todo 0 pais e dispersa pela concorréncia. A coesao maciga dos operarios nao 6 ainda o resultado de sua propria uniao, mas da unido da burguesia que, para atingir seus préprios fins politicos, é levada a por em movi mento todo 0 proletariada, o que por enquanto ainda pode fazer. Du: rante essa fase, os proletarios nao combatem seus proprios inimigos, mas (05 inimigos de seus inimigos, os restos da monarquia absoluta, os pro- prietarios de terras, os burgueses ndo-industriais, os pequenos burgue~ ses, Todo 0 movimento hist6rico esta desse mado concentrado nas maos dda burguesia e qualquer vitéria aleangada nessas condigoes € uma vi- toria burguesa. Mas, com 0 desenvolvimento da industria, 0 proletariado nao ape- ras se multiplica; comprime-se em massas cada vez maiores, sua for ca cresce e ele adquire maior consciéncia dela. Os interesses, as con- digdes de existéncia dos proletarios se igualam cada vez mais & me- dida que a maquina extingue toda diferenga de trabalho © quase por toda parte reduz o salirio a um nivel igualmente baixo. Em virtude da concorténcia crescente dos burgueses entre si ¢ devido as crises a Marx e Engels comerciais que disso resultam, os saldrios se tornam cada vez mais instaveis; © aperieigoamento constante e cada vez mais rapido das maquinas torna a condic’o de vida do operario cada vez mais preca- Fia; os choques individuais entre 0 operario singular e © bargues sin- gular tomam cada vez mais 0 cardter de confrontos entre duas clas- ses. Os operirios comecam a formar coalisdes contra os burgueses e ‘atuam em comum na defesa de seus saldrios; chegam a fundar asso- ciacdes permanentes a fim de se precaverem de insurreicdes eventuais, Aqui e ali a luta irrompe em motim. De tempos em tempos os operarios triunfam, mas é um triunfo efémero, O verdadeiro resultado de suas lutas nao é 0 éxito imediato, mas a unio cada vez mais ampla dos trabalhadores. Esta unio é faci. litada pelo crescimento dos meios de comunicacao criados ela grande industria e que permitem o contato entre operarios de diferentes localidades. Basta, porém, este contato para concentrar as numerosas lutas locais, que tém o mesmo carater em toda parte, em uma luta nacio- nal, uma luta de classes. Mas toda luta de classes 6 uma luta politica. E a unido que os burgueses da Idade Média, com seus caminhos vicinais, levaram séculos a tealizar os proletarios modernos realizam em pou- cos anos por meio das ferrovias, A organizagao do proletariado em classe e, partanto, em partido po- litico, é incessantemente destruida pela concorréncia que fazem entre si 08 préprios operarios. Mas renasce sempre, e cada vez mais forte, mais s6lida, mais poderosa, Aproveita-se das divisoes internas da bur- guesia para obrigé-la ao reconhecimento legal de certos interesses da classe operaria, como, por exemplo, a lei da jormada de dez horas de trabalho na Inglaterra, Em geral, os choques que se produzem na velha sociedade favore- cem de diversos modos o desenvolvimento do proletariado. A burgue- sia vive em luta permanente; primeiro, contra a aristocracia; depois, con- tra as fragdes da propria burguesia cujos interesses se encontram em. onflito com os progressos da inddstria; e sempre contra a burguesia dos paises estrangeiros. Em todas estas lutas, vé-se forcada a apelar para © proletariado, a recorrer a sua ajuda e desta forma arrasté-lo para o movimento politico. A burguesia fornece aos proletarios os elementos. de sua prépria educagao politica, isto é, armas contra ela propria Além disso, como j vimos, fragdes inteiras da classe dominante, fem conseqtiéncia do desenvolvimento da industria, sao langadas no proletariado, ou pelo menos ameagadas em suas condigoes de exis- 8 Manifesto Comunista téncia, Também elas trazem ao proletariado numerosos elementos de educagao, Finalmente, nos periodos em que a luta de classes se aproxima da hora decisiva, 0 processo de dissolugao da classe dominante, de toda a velha sociedade, adquire um cardter tao violento e agudo, que uma pe- quena fracao da classe dominante se desliga desta, ligando-se a classe revolucionaria, & classe que traz nas maos 0 futuro. Do mesmo modo que outrora uma parte da nobreza passou para a burguesia, em nossos dias uma parte da burguesia passa para o proletatiado, especialmente a parte dos idedlogos burgueses que chegaram a compreensio teérica do movimento histérico em seu conjunto. De todas as classes que hoje em dia se opéem a burguesia, s6 0 pro- letariado € uma classe verdadeiramente revolucionétia. As outras clas- ses degeneram e perecem com o desenvolvimento da grande indastria; © proletariado, pelo contrario, 6 seu produto mais auténtico. 'AS camadas médias — pequenos comerciantes, pequenos ‘abrican- tes, artesdos, camponeses — combate a burguesia porque esta com- promete sua existéncia como camadas médias. Nao sao, pois, revolu- cionarias, mas conservadoras; mais ainda, s0 reacionarias, pois pre tendem fazer girar para tras a roda da Hist6ria. Quando se tornam re- voluciondrias, isto se di em conseqiiéncia de sua iminente fassagem para o proletariado; nao defendem entao seus interesses atuais, mas seus interesses futuras; abandonam seu préprio ponto de vista pata se colo- car no do proletariado. (© limpen-proletariado, putrefacio passiva das camadas mais baixas da velha sociedade, pode, as vezes, ser arrastado a0 movimento por uma revolucao proletaria; todavia, suas condigdes de vida o predispoem mais a vender-se a reacio. ‘As condigdes de existéncia da velha sociedade ja estao destruidas nas condicdes de existéncia do proletariado, O proletario nao tem pro- priedade; suas relagdes com a mulher e os filhos jé nada tém em co- mum com as relagdes familiares burguesas. O trabalho industrial mo- derno, a subjugacao do operario ao capital, tanto na Inglaterra como nna Franga, na América como na Alemanha, despoja 0 proletirio de toda carater nacional. As leis, a moral, a religiao sao para ele meros preconceitos burgueses, atrs dos quais se ocultam outros tantos inte- esses burgueses, ‘Todas as classes que no passado conquistaram 0 poder trataram de consolidar a situagao adquirida submetendo toda a sociedade as suas ” Marx e Engels condigdes de apropriagao. Os proletarios nao podem apaderar-se das forgas produtivas socials sendo abolindo © modo de apropriacao a elas correspondente e, por conseguinte, todo moda de apropriacao existen. te até hoje. Os proletirios nada tem de seu a salvaguardar; sua missio 6 destruir todas as garantias e segurangas da propriedade privada até aqui existentes. ‘Todos 0s movimentos hist6ricos tém sido, até hoje, movimentos de inorias ou em proveito de minorias. © movimento proletirio & 0 mo- vimento autnomo da imensa maioria em proveito da imensa maioria, © proletariado, a camada mais baixa da sociedade atual, nao pode er guerse, por-se de pé, sem fazer saltar todos os estratos superpostos que constituem a sociedade oficial A luta do proletariado contra a burguesia, embora nao seja na essén- ia uma luta nacional, reveste-se dessa forma num primeiro momento. E natural que o proletariado de cada pafs deva, antes de tudo, liqiicar a sua propria burguesia, Esbogando em linhas gerais as fases do desenvolvimento proletario, descreveros a histéria da guerra civil mais ou menos acuta na socie dade existente, até a hora em que essa guerra explode numa revolugao aberta ¢ o proletariado estabelece sua dominagao pela deiubada vio- lenta da burguesia, Todas as sociedades anteriores, como vimos, se basearam no antago- rnismo entre classes opressoras e classes oprimidas. Mas para primi uma classe é preciso poder garantir-Ihe condigdes tais que Ihe pemmitam pelo ‘menos uma existéncia servil. O servo, em plena servidio, cnseguiu tor arse membro da comuna, da mesma forma que 0 pequeno burgués, sob o jugo do absolutism feudal, elevou-se a categoria de burgués. operirio modemo, pelo contrario, longe de se elevar com o progresso. da indtistria, desce cada vez mais, caindo abaixo das condigoes de sua propria classe. O trabalhador torna-se um indigente eo pauperismo cresce ainda mais rapidamente do que a populacao e a riqueza, Fica assim evi- dente que a burguesia é incapaz de continuar desempenhando o papel de classe dominante e de impor & sociedade, como lei supremma, as con- digdes de existéncia de sua classe. Nao pode exercer 0 seu dominio por que nao pode mais assegurar a existéncia de seu escravo, mesmo no qua dro de sua escravidao, porque 6 obrigada a deixi-lo afundar quma situa ‘S40 em que deve nutri-lo em lugar ser nutrida por ele. A sociedade nao pode mais existir sob sua dominacao, o que quer dizer que a existéncia dda burguesia ndo 6 mais compativel com a sociedade. 50 Manifesto Comunista Accondicao essencial para a existéncia e supremacia da classe burguesa ga seumulagao da riqueza nas maos de particulares, a formaciie © 0 cres- Cimento do capital; a condigao de existéncia do capital é 0 trabalho as Salariado, Este baseia-se exclusivamente na concorréncia dos operarios snive si, O progresso da indiistria, de que a burguesia é agente passive © ‘avoluntario, substitui o isolamento dos operatios, resultante da competi {Gho, por sua unio revoluciondria reultante da associagio, Asim, 0 de sa civimento da grande inddstria retira dos pés da burguesic a propria base sobre a qual ela assentou 0 seu regime de producao e de apropria a0 dos produtos. A burguesia produz, sobretudo, seus prop roe Seu declinio € a vit6ria do proletariado sio igualmente inevitivels iit Proletarios e comunistas Qual a relagdo dos comunistas com os proletarios em geral? ‘Os comunistas nao formam um partido & parte, oposto aos outros pare tidos operarios. Nac tem interesses diferentes dos interesses do prole:ariado em geral 'Nao proclamam principios particulares, segundo os quais pretendam moldar 0 movimento operario. ‘Os comunistas se distinguem dos outros partidos operarios somente fem dois pontos: 1) Nas diversas lutas nacionais dos proletarios, desta cam e fazem prevalecer 0$ interesses comuns do proletariaco, indepen- centemente da nacionalidade; 2) Nas diferentes fases de desenvolvimen- tos por que passa a luta entre proletaios e burgueses, representam, sem: pre'e em toda parte, 0s interesses do movimento em seu conjunte. ‘Na pratica, os comunistas constituem a fragao mais reso uta dos par- tidos operarios de cada pats, a fracao que impulsiona as demais; teor- Camente tém sobre o resto do proletariado a vantagem de uma com- preensao nitida das condigdes, do curso e dos fins gerais do movimen- to proletario. O objetivo imediato dos comunistas 6 o mesmo que o de todos os lemais partidos proletérios: constituigao do protetariado ery classe, der ubada da supremacia burguesa, conquista do poder politico pelo pro letariado. ‘ks proposicbes tebricas dos comunistas no se baselam, de moclo al- 51 Marx e Engels gum, em idéias ou principios inventados ou descobertos por este ou aquele reformador do mundo, Sao apenas a expresso geral das condigbes efetivas de uma luta de classes que existe, de um movimenta histérico que se desenvolve diantre dos alhos. A aboli¢ao das relacées de propriedade que até hoje existi- ram ndo 6 uma caracteristica peculiar e exclusiva do comuni ‘Todas as relagbes de propriedade tém passado por modi lantes em conseqjiéncia das continuas transformacoes das condigoes his- t6ricas. A Revolugdo Francesa, por exemplo, aboliu a propriedade feudal em proveito da propriedade burguesa. (© que caracteriza 0 comunismo nao € a aboligso da propriedade fem geral, mas a aboligao da propriedade burguesa, ‘Mas a moderna propriedadle privada burguesa é a ciltima e mais per- feita expresso do modo de produgao e de apropriagao baseado nos antagonismos de classes, na exploracao de uns pelos outros. Nese sentido, os comunistas podem resumir sua teoria numa t lexpressio: supressio da propriedade privada, Nés, comunistas, temos sido sensurados por querer abo ir a propri dade pessoalmente adquirida, fruto do trabalho do individu — prop dade que dizem ser a base de toda liberdade, de toda atividade, de toda indepencéncia individual, Propriedade pessoal, fruto do trabalho e do mérito! Falais da proprie- dade do pequeno burgués, do pequeno camponés, forma de proprie- dade anterior 4 propriedade burguesa? Nao precisamos aboli-la, por que o progresso da indtstria ja a aboliu e continua abolindo-a diaria- mente. Ou porventura falais da moclerna propriedade privada, da pro- priedade burguesa? Mas 0 trabalho do protetario, o trabalho assalariado cria proprieda- de para o proletério? De modo algum. Cria 0 capital, isto 6, a proprie- dade que explora o trabalho assalariado ¢ que s6 pode aumentar sob a condigao de gerar novo trabalho assalariado, para voltar a explori-lo, Em sua forma atual, a propriedade se move entre dois termos antagoni- cos: capital e trabalho. Examinemos os termos desse antagenismo. Ser capilalista significa ocupar nao somente uma posi¢ao pessoal, mas também uma posic¢ao social na produce. © capital € um produto co- letivo e s6 pode ser posto em movimento pelos esforgos combinados de muitos membros da sociedade, em Giltima instancia pelos esforcos combinados de todos os membros da sociedade. 52 Manifesto Comunista © capital nao é, portanto, um poder pessoal: & um poder social {Assim, quando o capital ¢transformado em propriedade comum, pet= tencente a todos os membros da sociedade, nao ¢ uma propriedade pes- soal que se transforma em propriedade social. O que se transformou foi o carster social da propriedade. Esta perde seu cardter de classe Vejamos agora o trabalho assalariado. © prego medio que se paga pelo trabalho assalariado € 0 minimo de salirio, ou soja, a soma dos meios de subsistencia necessarios para que © operiio viva como operirio. Por conseguinte, 0 que 0 operatio re- cebe com o seu trabalho € o estrtamente necessério para a meta con- servaciio e reprodugao de sua existéncia. Nao pretendemos de modo algum abolir essa apropriagao pessoal dos produtos do trabalho, indis pensivel 8 manutencio e 2 reprodugao da vida humana —uma apro priagao que nao deixa nenhum lucro liquide que confra poder sobre 0 trabalho alheio. Queremos apenas suprimir 0 carater miseravel desta apropriacio, que faz com que o operirio 6 viva para aumentar 0 ¢a- pital e 36 viva na medida em que 0 exigem os interesses da classe do- minante Na sociedade burguesa 0 trabalho vivo é sempre um meio de au- mentar 0 trabalho acumulado. Na sociedad comunista o trabalho acu- tmulado & urn meto de ampliar, enriquecer ¢ promover a existencia dos trabathadores. Na sociedade burguesa 0 passado domina o presente; na sociedade comunista € presente que domina o passado. Na sociedad burguesa © capital é independente e pessoal, a0 passo que o individuo que tra balha é dependente e impessoal. € a supressio dessa situagao que a burguesia chama de supressao da individualidade e da liberdade. com razo. Porque se trata efetiva- mente de abolir a individualidade burguesa, a independéncia burgue- sa, aliberdade burguesa Por liberdade, nas atuais relagdes burguesas de producio, compreen dese a liberdade de comércio, a liberdade de comprar e verder, Mas, se 0 trafico desaparece, desaparecera também a liberdade de traficar, Toda a fraseologia sobre o livre comércio, bem como to- dias as bravatas de nossa burguesia sobre a liberdade, 36 tém sentido quando se referem a0 comércio constrangido ¢ ao burgués oprimi- dlo da Idade Média; nenhum sentido tém quando se trata da supres- sito comunista do trafico, das relagdes burguesas de producao e da propria burguesia 33 Marx e Engels Hortorizai-vos porque queremos suprimir a propriedade privada, Mas em vossa sociedade a propriedade privada esta suprimida para nove décimos de seus membros. E é precisamente porque nao existe para estes nove décimos que ela existe para vés. Censurai-nos, por- tanto, por querermos abolir uma forma de propriedade que pressupoe como condigao necessaria que a imensa maioria da sociedade nao possua propriedade, Numa palavra, censurai-nos por querermos abolir a vossa proprie- dade, De fato, 6 isso que queremos. ‘A partir do momento em que o trabalho nao possa mais ser conver: tido em capital, em dinheiro, em renda da terra — numa palavra, em poder social capaz de ser monopolizado —, isto é, a parti do momen- to em que a propriedade individual nao possa mais se converter em propriedade burguesa, declarais que o individuo esta suprimido. Confessais, no entanto, que quando falais do individuo, quereis refe: Fievos unicamente ao burgués, ao proprietario burgués. E este indi duo, sem davida, deve ser suprimido, © comunismo nao priva ninguém do poder de se apropriar de sua parte dos produtos sociais; apenas suprime 0 poder de subjugar o trax balho de outros por meio dessa apropriagiio, ‘Alega-se ainda que com a abolicio da propriedade privada toda a atividade cessaria, uma inércia geral apoderar-se-ia do mundo. Se isso fosse verdade, ha muito que a sociedade burguesa teria suc Cumbido & ociosidade, pois os que no regime burgues tabalham nao lucram e os que lucram nao trabalham. Toda a objecio se -eduz a essa tautologia: nao haverd mais trabalho assalariado quando nao mais existir capital. As objesdes feitas a0 modo comunista de produgao € de apropri {¢80 dos produtos materiais foram igualmente ampliadas & producao e 8 apropriagao dos produtos do trabalho intelectual. Assim como o de- saparecimento da propriedade de classe equivale, para 0 burgués, a0 desaparecimento de toda a produc, 0 desaparecimento da cultura de classe significa, para ele, 0 desaparecimento de toda a cultura, A.cultura, cuja perda 0 burgués deplora, é para a imensa maioria dos homens apenas um adestramento que os transforma em maquinas. Mas nao discutais conosco aplicando & abolicao da propriedade bur guesa o critério de vossas nocdes burguesas de liberdade, cultura, di- Feito etc. Vossas proprias idéias s80 produtos das relagbes de produgao. © de propriedade burguesas, assim como © vosso direito nio passa da 54 Manifesto Comunista vontade de vossa classe erigida em lei, vontade cujo contetido ¢ deter- minado pelas condigaes materiais de vossa existéncia como classe, Essa concepeao interesseira, que vos leva a transformar em leis eter- nas da natureza e da razdo as relagbes socials oriundas do vosso modo, de produgio e de propriedade — relagdes transitérias que surgem e de- saparecem no curso da producio —, 6 por vés compartilhada com to- das as classes dominantes ja desaparecidas. O que aceitais para a pro- priedade antiga, 0 que aceitais para a propriedade feudal, j4 nao podeis, aceitar para a propriedade burguesa. Supressao da familia! Até os mais radicais se indignam com esse pro- pésito infame dos comunistas. Sobre que fundamento repousa a familia atual, a familia burguesa? Sobre o capital, sobre o ganho individual. A familia, na sua plenitude, 56 existe para a burguesia, mas encontra seu complemento na auséncia forcada da familia entre os proletirios e na prostituigao publica. A familia burguesa desvanece-se naturalmente com o desvanecer de seu complemento, e ambos desaparecem com o desaparecimento do capital, ‘Censurai-nos por querermos abolir a exploraco das criangas pelos seus proprios pais? Confessamos este crime, Dizeis também que destruimos as relagdes mais tuirmos a educacao doméstica pela educagiio social. E vossa educacio nao é também determinada pela sociedade? pelas condiges saciais em que educais vossos filhos, pela intervencao direta ou indireta da sociedade, por meio de vossas escolas etc.? Ds comu- nistas nao inventaram a intromissao da sociedade na educagz0; apenas procuram modificar seu carter arrancando a educacao da influéncia da classe dominante. © palavreado burgués sobre a familia e a educacao, sobre os doces lagos que unem a crianga aos pais, torna-se cada vez mais repugnante & medida que a grande inddstria destréi todos os lacos familiares dos proletirios e transforma suas criangas em simples artigos de fem simples instrumentos de trabalho. "6s, comunistas, quereis introduzir a comunidade das mulheres!”, prita-nos toda a burguesia em coro. Para 0 burgués, a mulher nada mais é do que um instrumerto de pro- dugao. Ouvindo dizer que os insttumentos de producao serao explora- dos em comum, conclui naturalmente que © destino de propriedade co: letiva caberd igualmente 3s mulheres. Nao imagina que se trata preci timas, a0 substi- 55 Mars e Engels samente de arrancar a mulher de seu papel de simples instrumento de producao. De resto, nada é mais ridiculo que a virtuosa indignagiio que os nos- 08 burgueses, em relacao & pretensa comunidade oficial das mulheres que adlotariam os comunistas. Os eomunistas no precisam introduzie a comunidad das mulheres. Ela quase sempre exist 'Nossos burgueses, ndo contentes em ter & sua disposicio as mulhe- res € a8 fillhas dos proletirios, sem falar da prostituio oficial tom sin- ular prazer em seduzir as esposas uns dos outros. © casamento burgués é, na realidade, a comunidade das mulheres ca- sadas. No maximo, poderiam acusar os comunistas de querer substitur tuma Comunidade de mulheres, hipdcritae dssimulada, por oura que seria franca e oficial. De resto, evidente que com a aboligao das atuas rela. 8 de producao desapareceré também a comunidade das mulheres que deriva dessa relacoes, ou seja, a prostuigao oficial e ndo-oicia Os comunistas também so acusados de querer abolir a patria, a nacionalidade Os operitios ndo tem patria. Nao se thes pode trar aquilo que no posstiem. Como, porém, o proletariad tem por objetivo conquistar 0 poder politico e elevar-se a classe dirigente da nagSo, tornarse ele pr. prio nacao, ele é, nessa medida, nacional, mas de modo nenhurn no sentido burgués da palavra, Os isolamentos e os antagonismos nactonais entre os povos desapa recem cada vez mais com 0 desenvolvimento da burguesi, com a I berdade de comércio, com 0 mercado mundial, com a untformidade da producao industrial e com as conclisdes de existéncia a ela corres. pondentes. A supremacia do proletariado faré com que desaparecam ainda mais depressa. A aco comum do proletariad, pelo menos nos paises civil zados, € uma das primeiras condigdes para sua emancipacso, A medida que for suprimida a exploragao do homem pelo homem sera suprimida a exploragao de uma nacio por outa Quando os antagonismos de classes, no interior das nacées, tiverem dlesaparecido, desaparecera a hostildacle entre as proptias nagées. As acusagbesfeitas aos comunistas em nome da religo, da flosofia € da ideologia em geral no merecem um exame aprotundado, Sera preciso grande inteligéncia para compreender que, a0 mu: darem as relacdes de vida dos homens, as suas relacbes sociais, a sua existéncia social, mudam também as suas representagces, as suas 56 Manifesto Comunista concepgées € conceitos; numa palavra, muda a sua consciéncia? Que demonstra a histéria das idéias sendo que a producao intelec- tual se transforma com a produgao material? As idéias dominantes de uma época sempre foram as idéias da classe dominante. Quando se fala de idéias que revolucionam uma sociedade inteita, isto quer dizer que no seio da velha sociedade se formaram os elemen- tos de uma sociedade nova e que a dissolugao das velhas idéias acom panha a dissolugao das antigas condicbes de existéncia, Quando o mundo antigo declinava, as antigas religides foram vencidas pela religito crista; quando, no século XVIll, as idéias cristas cederam lugar as idéias Huministas, a sociedade feudal travava sua ba- talha decisiva contra a burguesia entao revolucionaria. As idsias de li- berdade religiosa e de consciéncia nao fizeram mais que proclamar império da livre concorréncia no dom{nio do conhecimento. “Mas” — dirio — “as idéias religiosas, morais, filos6ficas, politicas, icas etc. modificaram-se no curso do desenvolvimento historico. A religido, a moral, afilosofia, a politica, o direito sobreviveram sempre a esdas transformacées. “Alem disso, ha verdades eternas, como a liberdade, a justiga etc., que so comuns a todos os regimes socials. Mas 0 comunismo quer abo- lir estas verdades eternas, quer abolir a religio © a moral, em lugar de Ihes dar uma nova forma, e isso contradiz todos os desenvolvimentos. hist6ricos anteriores", ‘A que se reduz essa acusagao? A historia de toda a sociedade até nossos dias moveu-se em antagonismos de classes, antagonismos que se tém revestido de formas diferentes nas diferentes épocas. ‘Mas qualquer que tenha sido a forma assumida, a exploragio de uma parte da sociedade por outra é um fato comum a todos 0s séeulos ante- Fores. Portanto, nao é de espantar que a consciéncia social de todos os séculos, apesar de toda sua variedade e diversidade, se tenha movido. sempre sob certas formas comuns, formas de consciéncia que s6 se di solverdo completamente com o desaparecimento total dos antagonis mos de classes. ‘A tevolugo comunista 6 a ruptura mais radical com as relacoes tradicionais de propriedade; nao admira, portanto, que no curso de seu desenvolvimento se rompa, do modo mais radical, com as idéias tradi- clonais. Mas deixemos de lado as objegdes feitas pela burguesia ao movimen- to comunista. 7 Marx © Engels Vimos antes que a primeira fase da revolugio operiria é a elevagao do proletariado a classe dominante, a conquista da democracia, © proletariado utilizar sua supremacia politica para amancar pouco pouco todo 0 capital da burguesia, para centralizar todos os instru- mentos de produgéo nas maos do Estado, isto &, do proletariado orga- nizado como classe dominante, e para aumentar 0 mais rapidamente possivel o total das forcas produtivas {sso naturalmente 6 podera ser realizado, a principio, por interven- ‘GOes despoticas no direito de propriedade e nas relagoes de produgao burguesas, isto ¢, pela aplicacao de medidas que, do ponto de vista eco- nomico, parecerdo insuficientes e insustentaveis, mas que no desenro- lar do movimento ultrapassarao a si mesmas e serao indispansdveis para transformar radicalmente todo 0 modo de producao. Essas medidas, é claro, serdo diferentes nos diferentes paises. Nos paises mais adiantados, contudlo, quase todas as seguintes me- didas poderao ser postas em pratica: 1. Expropriacao da propriedade fundidria e emprego da renda da terra para despesas do Estado, 2. Imposto fortemente progressive. 3. Aboligao do direito de heranca. 4. Confisco da propriedade de todos os emigrados e rebeldes. 5. Centralizagao do crédito nas maos do Estado por meio de um ban- 0 nacional com capital do Estado e com 0 monopslio exclusivo. 6. Centralizagao de todos os meios de comunicacao e transporte nas maos do Fstado, 7. Multiplicacao das fabricas nacionais e dos instrumentos de produ- S40, arroteamento das terras incultas e melhoramento das terras cul- tivadas, segundo um plano geral 8. Unificacao do trabalho obrigatério para todos, organizagao de exer. citos industrias, particularmente para a agricultura. 9. Unificagao dos trabalhos agricola e industrial; aboligae gradual da distingao entre a cidade € 0 campo por meio de uma distribuicao ‘mais-igualitaria da populagao pelo pais 10. Educagao piblica e gratuita a todas as criangas; abolicio do traba- tho das criangas nas fabricas, tal como é praticado hoje. Combina- 80 da educacao com a produc material etc. Quando, no curso do desenvolvimento, desaparecerem os antagonis- 58 mos de classes e toda a producio for concentrada nas miios dos indivi- duas assaciados, o poder piblico perdera seu carater politico. O poder politico é © poder organizado de uma classe para a opressio de outta. Se o proletariado, em sua luta contra a burguesia, se organiza forcosa- mente como classe, se por meio de uma revolucao se converte em clas- se dominante e como classe dominante destréi violentamente as antigas relacdes de producio, destrdi, juntamente com essas relagoes de produ- ‘cao, as condigées de existéncia dos antagonismos entre as classes, des- 1udi as classes em geral e, com isso, sua propria dominagao corro classe. Em lugar da antiga sociedade burguesa, com suas classes e antago- rismos de classes, surge uma associagio na qual o livre desenvolvimento, de cada um é a condicao para o livre desenvolvimento de todos, UI Literatura socialista e comunista 1. O socialisme reacionario a) 0 socialismo feudal Por sua posigao hist6rica, as aristocracias da Franca e da Inglaterra viram-se chamadas a langar libelos contra a sociedade burguesa. Na revolucao francesa de julho de 1830, no movimento inglés pela refor- mat, tinham sucumbido mais uma vez sob os golpes desta odiada arri- vista. A partir daf nao se podia tratar de uma luta politica séria; s6 thes restava a luta literdria. Mas também no dominio literario tornara-se im- possivel a velha fraseologia da Restauragao. Para despertar simpatias, a aristocracia fingiu deixar de lado seus pro- prios interesses e dirigiu sua acusa¢do contra a burguesia, aparentando defender apenas os interesses da classe operaia explorada. Desse modo, entregou-se ao prazer de cantarolar satiras sobre 0s novos senhores & de thes sussurrar ao ouvido profecias sinistras. Assim surgiu © socialismo feudal: em parte lamento, em arte pas quim; em parte ecos do passado, em parte ameagas ao futuro. Se por vezes a sua critica amarga, mordaz e espirituosa feriu a burguesia no. Soba press das masans a Ciara dos Comune inglesa apron em 1831 wa worm ele tora gue fait o acest da Burges industrial a prlamento Nap se tnta da Restauragto Ingles de 1660 a 1682, mus da Restouragio Francs de 1814 1830, (Nota de F Engels dedi ingles de 1888.) 39 Mars e Engels coragio, sua impoténcia absoluta em compreender a marcha da Hist6- ria moderna terminou sempre produzindo um efeito comico. Para atrair 0 povo, a aristocracia desiraldou como ban do mendigo; mas assim que o povo acorreu, percebeu que as costas da bandeira estavam omadas com os velhos brasdes feudais e dispersou- se com grandes e irreverentes gargalhadas. Uma parte dos legitimistas franceses e a “Jovem Inglaterra” oferece- ram ao mundo esse espeticulo. Quando os feudais demonstraram que o seu modo de exploracao era diferente do da burguesia, esqueceram apenas uma coisa: que 0 feuda- lismo explorava em circunstancias e condiges completanente diver- sas, hoje em dia ultrapassadas. Quando ressaltam que sob o regime feu- dal o proletariado moderno no existia, esquecem que a burguesia foi precisamente um fruto necessirio de sua organizagio social. ‘Além disso, ocultam tao pouco 0 caréter reacionario de sua critica que sua principal acusagao contra a burguesia consiste justamente em dizer que esta assegura sob seu regime o desenvolvimento de uma classe que fara ir pelos ares toda a antiga ordem social. (© que reprovam a burguesia & mais o fato de ela ter produzido um proletariado revolucionario, que o de ter criado o proletariado em geral Por isso, na luta politica participam ativamente de todas as medidas de repressio contra a classe operaia, E, na vida diaria, a despeito de sua pomposa fraseologia, conformam-se perfeitamente em colher as mags de ouro da drvore da industria, e em trocar honra, amor e fideli- dade pelo comércio de li, agticar de beterraba e aguardente.® Do mesmo modo que o padre e o senhor feudal marcharam sempre de maos dadas, 0 socialismo clerical marcha lado a lado com o socia- lismo feudal. Nada 6 mais facil que recobrir 0 ascetismo cristo com um verniz: socialista, © cristianismo também nao se ergueu contra a propriedade privada, 0 matriménio, 0 Estado? E em seu lugar nao pregou a caridade a pobreza, o celibato e a mortificagao da carne, a vida monéstica e a tose refers sobretudo b Aleman, onde #aristocraci latifendisra culties por conta pr: ria grande parte de suas tera, com ajuda de administrador alam dso, produtoe de ‘iar de betrabaedestiadres de aguardente. Os mas préspers aristocrats britinicas se ‘heontram, por enguanto, cima disso, mas também saber con compensa dio de Suasrendasemprestando seus names as fudaors de solodadesanninas de epuladorais foumencedividese (Nota de F. Engels ego inglesa de 1888.) cy Manifesto Comunista Igreja? O socialismo cristo nao passa da agua benta com que o padre abencoa o desfeito da aristocracia b) © socialismo pequeno-burgués A aristocracia feudal no 6 a Unica classe arruinada pela burguesia, nao € a Gnica classe cujas condigdes de existéncia se atrofiam e pere- ‘cem na sociedade burguesa moderna. Os pequenos burgueses e os pe- quenos camponeses da Idade Média foram os precursores da turguesia moderna, Nos paises onde 0 comeércio ¢ a inddstria so pouco desen- volvidos, esta classe continua a vegetar ao lado da burguesia em as- Nos patses onde a civilizagao moderna esti florescente, forma-se uma nova classe de pequenos burgueses que oscila entre o proleta- riado e a burguesia fracao complementar da sociedade burguesa, re- constituindo-se sempre como os membros dessa classe, no entanto, se véem constantemente precipitados no proletariado, devido a con- corréncia, e, com a marcha progeessiva da grande inddstria, sentem aproximar-se o momento em que desaparecerao completamente com fragio independente da sociedade moderna e em que serao substitu dos no comércio, na manufatura e na agricultura por supervisores, ca- patazes e empregados. Em patses como a Franca, onde os camponeses constituem bem mais dda metade da populagao, era natural que os escritores que se batiam pelo proletariadlo e contra a burguesia aplicassem a sua critica do regime bur- ues critérios do pequeno burgués ¢ do pequeno camponés e defendes- sem a causa operiria do ponto de vista da pequena burguesia. Desse modo se formou 0 socialismo pequeno-burgués. Sismondi é o chefe des- sa literatura, nao somente na Franga, mas também na Inglaterra. Esse socialismo dissecou com muita perspicécia as contradis6es ine- rentes as modernas relacdes de produgao. Pos anu as hipécritas apolo- gias dos economistas. Demonstrou de um modo irrefutavel os efeitos montferos das maquinas e da divisao do trabalho, da concentragao dos capitais e da propriedade territorial, a superproducao, as crises, a deca- déncia inevitivel dos pequenos burgueses e pequenos camponeses, a miséria do proletariado, a anarquia na produc, a clamorosa despro- porcao na distribuigio das riquezas, a guerra industrial de exterminio entre as nacbes, a dissolugao dos velhos costumes, das velhas relacoes de familia, das velhas nacionalidades. Quanto ao seu "contetido positive", porém, o socialismo pequeno- 6 Marx ¢ Engels burgués quer ou restabelecer 0s antigos meios de produgio e de troca e, com eles, as antigas relagdes de propriedade e toda a antiga socie- dade, ou entao fazer entrar a forga os meios modernos d= producdo € de troca no quadro estreito das antigas relagdes de propriedade que fo- ram destruidas e necessariamente despedacadas por eles. Num e nou- tro caso, esse socialismo & ao mesmo tempo reacionatio e ut6pico. Sistema corporative na manufatura e economia patriarcal no campo: els suas tltimas palavras. Por fim, quando os obstinadlos fatos hist6ricos dissiparam/Ihe a embria- _guez, essa escola socialista abandonou-se a uma covarde ressaca, ©) O socialismo alemao ou 0 “verdadeiro” socialism A literatura socialista e comunista da Franca, nascida sob a pressiio de uma burguesia dominante e expressdo literaria da revolta contra esse dominio, foi introduzida na Alemanha quando a burguesia comecava a sua luta contra 0 absolutismo feudal, Fil6sofos, semifilésofos e impostores alemdes langaram-se avidamente sobre essa literatura, mas esqueceram-se de que, com a importacao da Iiteratura francesa na Alemanha, no eram importadas ao mesmo tem- po as condigées de vida da Franca, Nas condig6es alemas, a literatura francesa perdeu toda a significagao pritica imediata e tomou um cara ter puramente literdrio. Aparecia apenas como especulacio ociosa so- bre a realizacao da esséncia humana. Assim, as reivindicagbes da pri- meira revolugao francesa s6 eram, para os filésofos alemzes do século XVIIL, as reivindicagdes da “razao pratica” em geral; € a manifestagio da vontade dos burgueses revolucionarios da Franca nao expressava, a seus olhos, sendo as leis da vontade pura, da vontade tal como deve ser, da vontade verdadeiramente humana. (© trabalho dos literatos alemaes limitou-se a colocar as idéias fran- esas em harmonia com a sua velha consciéncia filos6fica, ou melhor, @ apropriar-se das idéias francesas sem abandonar seu proprio ponto de vista filosatico, ‘Apropriaram-se delas da mesma forma com que se assimila uma lin- ‘gua estrangeira: pela traducao. Sabe-se que os manges escreveram hagiografias catélicas insipidas sobre os manuscritos em que estavam registradas as obras clissicas da antiguidade paga. Os literatos alemaes agiram em sentido inverso a res- ppeito da literatura francesa profana. Introduziram suas insenidades filo- s6ficas no original francés. Por exemplo, sob a critica francesa das fun- 62 Manifesto Comunista ‘ces do dinheiro, escreveram “alienaco da esséncia humana’; sob a Critica francesa do Estado burgués, escreveram “superacao do dominio da universalidade abstrata", e assim por diante. ‘Asta interpolagiio do palavreado filosofico nas teorias francesas de- ram o nome de “filosofia da ago”, “verdadeiro socialismo”, “ciéncia alema do socialismo”, “justificagao filoséfica do socialismo" ets esse modo, emascularam completamente a literatura socialista e co- munista francesa. E como nas maos dos alernaes essa literatura tha dei xado de ser a expresso da luta de uma classe contra outra, eles se felici- taram por terem-se elevado acima da “estreiteza francesa”, e terem de- fendido nio verdadeiras necessidades, mas a “necessidade da verdade"; 1ndo a interesses do proletario, mas os interesses do ser humano, do ho- mem em geral, do homem que nao pertence a nenhuma classe nem a realidade alguma e que s6 existe no céu brumoso da fantasia filossfiea, Esse socialismo alemao que levava tdo solenemente a sério seus canhestros exercicios de escolar e que os apregoava tao charlata- nescamente, foi percendo, pouco a pouco, sua inocéncia pedente. A luta da burguesia alema e especialmente da burguesia prussiana contra 0s feudais ¢ a monarquia absoluta, numa palavra, © movimento, liberal, tornou-se mais séria. esse modo, apresentou-se ao “verdadeiro” socialismo a tao desejada oportunidade de contrapor ao movimento politico as reivindicacdes so- cialistas, de langar os anatemas tradicionais contra o liberalismo, o regi me representativo, a concorréncia burguesa, a liberdadle burguesa de im- prensa, 0 direito burgués, a liberdade e a igualdade burguesas; de pregar {as massas que nada tinham a ganhar, mas, pelo contrario, tudo a perder esse movimento burgues. O socialismo alemao esqueceu,, bem a pro- pésito, que a eritica francesa, da qual era 0 eco monétono, pressupunha a sociedade burguesa moderna com as condigées materiais de existén- cia que Ihe correspondem e uma constitui¢ao politica adequada ~ preci samente as coisas que, na Alemanha, estava ainda por conquistar. Esse socialismo serviu de espantalho — para amedontrar a burguesia ameagadoramente ascendente — aos governos absolutos da Aemanha, ‘com seu cortejo de padres, pedagogos, fidalgos rurais e burocratas. Juntou sua hipocrisia adocicada aos tiros de fuzil e as chicotadas com que esses mesmos governos respondiam aos levantes dos oper- rigs alemaes. Se 0 “verdadeiro” socialismo se tornou assim uma arma nas maos dos governos contra a burguesia alema, representou também diretamente 8 Mare ¢ Engels lum interesse reacionério, 0 interesse da pequena burguesia alema. A classe dos pequenos burgueses, legada pelo século XVI, e desde entaio renascendo sem cessar sob formas diversas, constitui na Alemanha a verdadeira base social do regime estabelecido. Manté-la é manter na Alemanha o regime estabelecido, A suprema- cia industrial e politica da burguesia ameaca a pequena burguesia de destruicao — de um lado, pela concentracao do capital, de outro, pelo desenvolvimento de um proletariado revolucionario. O “verdadeito” so- cialismo pareceu aos pequenos burgueses uma arma capaz de aniqui- lar esses dois inimigos. Propagou-se como uma epidemia. A roupagem tecida com os fios imateriais da especulagao, bordada com as flores da retérica e banhada de orvalho sentimental, essa tou- pagem na qual os socialistas alemaes envolveram o miseravel esquele- to das suas “verdades eternas", ndo fez senao ativar a venda de sua mer cadoria entre aquele pablico. Por seu lado, 0 socialismo alemao compreendeu cada vez mais que sua vocagao era ser 0 representante grandiloqiente dessa pequena bur- guesia, Proclamou que a nagdo alema era a nage modelo, e opequeno bur _gués alemao* o homem modelo. A todas as inffimias desse homem mo- delo atribuiu um sentido oculto, um sentido superior e socialista, que as tomaya exatamente o contrario do que eram. Foi conseqiiente até 0 fim, levantando-se contra a tendéncia “brutalmente destuutiva” do co- munismo, declarando que paitava imparcialmente acima de todas as lutas de classes. Com raras excecdes, todas as pretensas publicagbes so- Cialistas ou comunistas que circulam na Alemanha pertencern a esta suja e debilitante literatura” 2. O socialismo conservactor ou burgués (Uma parte da burguesia procura remediar os males sociais para a exis- téncia da sociedade burguesa. Nessa categoria enfileiram-se os economistas, 0s filant’opos, os hus manitarios, os que se ocupam em melhorar a sorte da classe operaria, 0 organizadores de beneficéncias, os protetores dos aninais, os fun- 5 Nae de 1885: pequeno flat "A tormenta revoluciondna de 1848 varrex toda essa srdidatendencia¢ tru de seus partic ‘iris o deseo de continua brincando com o scaliomo, O repesentate wrncpale po elissco dest escola 0 Sr. Karl Grn. (Nota def Engels eign eem de 1890) o Manifesto Comsnista dadores das sociedades anti-alcodlicas, enfim os reformadores de gabi- ete de toda categoria, Esse socialismo burgués chegou até a ser elabo- rado em sistemas completos, ‘Como exemplo, citemos a Filosofia da Miséria, de Proudhon, Os socialistas burgueses querem as condigoes de vida da sociedade moderna sem as lutas e os perigos que dela decorrem fatalmente. Que- rem a sociedade atual, mas eliminando os elementos que a revolucio- nam e dissolve. Querem a burguesia sem o proletariado. burgue- sia, naturalmente, concebe © mundo em que domina como 9 melhor dos mundos, © socialismo burgués elabora em um sistema mais ou me- nos completo essa concepgao consoladora. Quando convide 0 prole- tariado a realizar esses sistemas e entrar na nova Jerusalém, no fundo 0 que pretende € induzi-lo a manter-se na sociedade atual, desembar cando-se, porém, do ddio que sente por essa sociedade. ‘Uma segunda forma desse socialismo, menos sistematica perém mais pratica, procura fazer com que os operarios se afastem de qualquer mo- vimento revolucionario, demonstrando-Ihes que nao sera tal ou qual mu- danca politica, mas somente uma transformagao das condicdes de vida material e das relagdes econdmicas, que poderd ser proveitosa para eles. Por transformacao das condi¢Ges materials de existéncia esse socialis- mo nao compreende em absaluto a aboligao das relagbes burguesas de producao — que 56 é possivel pela via revoluciondria —, mas apenas reformas administrativas realizadas sobre a base das proprias relacoes, de producao burguesas e que, portanto, ndo afetam as relagoes entre 0 capital € 0 trabalho assalariado, servindo, no melhor dos casos, para diminuir os gastos da burguesia com sua dominacao e simplificar 0 tra- balho administrative de seu Estado. ( socialismo burgués 56 atinge sua expressio correspondente quan- do se tora simples figura de ret6rica. Livre comércio, no interesse da classe operatia! Tarifas protetoras, no interesse da classe opersria! Prises celulares, no interesse da classe operaria! Eis a altima palavra do socialismo burgués, a nica pronun- ciada a sério. (O seu raciocinio se resume na frase: os burgueses sao burgueses ~ no interesse da classe opera. 3, O socialismo e 0 comunismo eritico-ut6picos Nao se trata aqui da literatura que, em todas as grandes revol ges mo- demas, exprimiu as reivindicacGes do proletariado (escritos de Babeut etc). 6 Marx e Engels As primeiras tentativas diretas do proletariado para fazer prevalecer seus proprios interesses de classe, feitas numa época de agitagao geral, no periodo da derrubada da sociedade feudal, fracassaram necessaria ‘mente nao s6 por causa do estado embriondrio do proprio proletaria- do, como devido & auséncia das condigées materiais de sua emancipa- ‘<0, condigdes que apenas surgem como produto da épaca burguesa, A literatura revolucionéria que acompanhava esses primeiros movimen. tos do proletariado teve forcosamente um contetido reacionirio. Pr conizava um ascetismo geral e um grosseiro igualitarismo. Os sistemas socialistas e comunistas propriamente ditos, os de Saint- ‘Simon, Fourier, Owen etc., aparecem no primeiro periode da luta entre © proletariado e a burguesia, perfodo anteriormente descrito (ver "Bur gueses e proletirios") Os fundadores desses sistemas compreendem bem o antagonismo das classes, assim como a ago dos elementos dissolventes na propria socie. dade dominante. Mas nao percebem no proletariado nentuma iniciati~ va histérica, nenhum movimento politico que thes seja peculiar Como 0 desenvolvimento dos antagonismos de classes acompanha © desenvolvimento da indiistria, ndo distinguem tampouco as condicoes materiais da emancipacio do proletariado e poem-se a procura de uma cléncia social, de leis sociais que permitam criar essas condigées, Substituem a atividade social por sua propria imaginagio pessoal; as condigdes historicas da emancipagao por condigdes fantasticas; a on. ganizacdo gradual e espontanea do proletariado em classe por uma or- anizacao da sociedade pré-fabricada por eles. A hist6ria futura do mun- do se resume, para eles, na propaganda e na execucao pritica de seus planos de organizagao social. Todavia, na confeccao de seus planos tém a convicgao de defender antes de tudo os interesses da classe operdria, como a classe mais sofre- dora. A classe operiria s6 existe para eles sob esse aspecto, 0 de classe mais sofredora, Mas a forma rudimentar da luta de classes e sua propria posicao. social 05 levam a considerar-se muito acima de qualquer antagonis- mo de classe. Desejam melhorar as condicoes materiais de vida de todos os membros da sociedade, mesmo dos mais privilegiados. Por isso, nao cessam de apelar indistintamente a sociedade inteira, ¢ de preferéncia a classe dominant. Bastaria compreender sew sistema Para reconhecé-lo como o melhor plano possivel para a melhor so- ciedade possivel. 66 Manifesto Comumista Rejeitam, portanto, toda ago politica e, sobretudo, toda a¢ao re~ volucionatia; procuram atingir seu objetivo por meios pacificas e ten- tam abrir um caminho ao novo evangelho social pela forca do exem- plo, com experigncias em pequena escala que naturalmente sem- pre fracassam. Essa descri¢ao fantéstica, da sociedade futura, feita numa época em que o proletariado ainda pouco desenvolvido encara sua propria po- sigao de um modo fantastico, corresponde as primeiras aspiracdes ins tintivas dos operirios a uma completa transformagao da sociedade. ‘Mas as obras socialistas e comunistas encerram também elementos ccriticos. Atacam todas as bases da sociedade existente. Por isso forne- ccem em seu tempo materiais de grande valor para esclarecer es oper’- rios, Suas propasicdes positivas sobre a sociedade futura, tais como a supressao do contrastre entre a cidade e 0 campo, a aboligao da fami lia, do lucto privado e do trabalho assalariado, a proclamagao da har- monia social e a transformagio do Estado numa simples administragao da produsao — todas essas propostas apenas exprimem o desapareci- mento do antagonismo entre as classes, antagonismo que mal comega e que esses autores somente conhecem em suas formas imprecisas. AS- sim, essas proposigdes tém ainda um sentido puramente ut6pico. A importancia do socialismo e do comunismo critico-ut6p cos esta nna razao inversa do seu desenvolvimento historico, A medida que a luta de classes se acentua e toma formas mais definidas, a fantastica pressa de abstrair-se dela, essa fantastica oposigao que Ihe ¢ fei:a, perde: ‘qualquer valor pratico, qualquer justificacao tedrica. Por isso, se em muitos aspectos os fundadores desses sistemas foram revoluc onarios, a seitas formadas por seus discipulos formam sempre seitas reacio- nrias, Aferram-se as velhas concepgdes de seus mestres apesar do de- senvolvimento histérico continuo do proletariado. Procuram. portan- to, nisto sao consequientes, atenuar a luta de classes conciliar os antagonismos. Continuam a sonhar com a realizagao experimental de suas utopias sociais: instituicao de falanstérios isolados, criagzo de co- onias no interior, fundagao de uma pequena Icéria* — edigao em for- alates ram clini socatisias projtadas por Chrles Fourie; lira era «nome dado por Cabet seu pais utpic e, mais tarde, sua olbia conmunsta na América, (Nota de F Engel eit ingle de 1388.) Coldnias no interior Thome colonies era como Orven chamacw a scidadescomanistas-mo- deo (acrescentado por F Engels edigto alm de 1890.) oa Marx ¢ Engels mato reduzido da nova Jerusalém —, ¢ para dar realidads a todos es- ses castelos no ar veem-se obrigados a apelar para os bons sentimen- tos € os cofres dos filantropos burgueses. Pouco a pouco caem na ca- tegoria dos socialistas reacionarios ou conservadores descritos ante- Fiormente, e s6 se distinguem deles por urn pedantismo mais sistema- tico, uma fé supersticiosa e fanatica nos efeitos miracu osos de sua ciéncia social, Por isso se opdem com exasperacio a qualquer aco poltica da classe operaria, porque, em sua opinido, tal agdo s6 poderia decorrer de uma descrenca cega no novo evangelho. Desse modo, os owenistas, na Inglaterra, e as foutieristas, na Franca, rFeagem respectivamente contra 0s cartistas ¢ os reformistas" Iv Posicdo dos comunistas diante dos diversos partidos de oposicao © que ja dissemos no capitulo II basta para determinar a relagaio dos comunistas com os partidos operarios ja constituidos e, por conseguin- te, sua relagao com os cartistas na Inglaterra e os reformadores agrarios na América do Norte. (Os comunistas lutam pelos interesses e objetivos imedia:os da classe operaria, mas, ao mesmo tempo, defendem e representa, no movi- ‘mento atual, 0 futuro do movimento. Aliam-se na Franca ae partido so. cial-democrata’ contra a burguesia conservadora e radical, reservando- se o direito de criticar a fraseologia e as ilusdes legadas pela tradicao re- volucionaria, Na Suga apdiam os radicats, sem esquecer que esse paride se com- pode de elementos contradit6rios, em parte socialistas democriticos, no sentido francés da palavra, em parte burgueses radicais. * Democratas republicans «socialists paquono-burguese, partidos do jrnal francés La Réforme (1843-1880). Defendiom a instawaplo da replies ea realizagto de rformas de Esse partido era representa no Parlamonto por Ledea Rollin, a iteratura por Lows Blane (1811-82), na ionprensa pelo “Reforme”. O name socia-demaraca significa, pra equces ‘eo eriacon, a parte do Partido Democriic ou Republican com fendéncia as Ot me- os socialists, (Nota de F Engle deg ingles de 1888.) 68 Manifesto Comuniita Na Polonia os comunistas apéiam o partido que vé numa revolucao agtaria a condigao da libertagio nacional, o partido que desencadeou a insurreigao de Cracovia em 1846*. ‘Na Alemanha, 0 Partido Comunista luta junto com a burpuesia to- das as vezes que esta age revolucionariamente — contra a monarquia absolut, a propriedade rural feudal e a pequena burguesia ‘Mas em nenhum momento esse Partido se descuida de despertar nos operatios uma consciéncia clara e nitida do violento antagon smo que existe entre a burguesia eo proletariado, para que, na hora precisa, 05 periros alemaes salbam converter as condicoes sociaise politcas, cia ds pelo regime burgués, em outras tantas armas contra a burguesia, para que logo apés terem sido destruidas as classes reacionérias da Ale- mana possa ser travada a luta contra a propria burguesia. £ sobretudo para a Alemanha que se volta a atenca0 dos comuni tas, porque a Alemanha se encontra as vésperas de uma revalugao but guesa e porque realizar essa revoluczo nas condicbes mais avangadas fa civilizagao européia e com um protetariado infinitamente mais de- Senvolvide que o da Inglaterra no século XVII e o da Franca no século XVII; ¢ por que a revolugao burguesa alema s6 poderd ser, portanto, 0 prelidio imediato de uma revolucao proletaia fm resumo, 0s comunistas ap6iam em toda parte qualquer movimento revolucionirio contra a ordem social e politica existente fm todos estes movimentos colocam em destaque, como questio fun damental, a questio da propriedade, qualquer que seja a forma, mais cou menos desenvolvida, de que esta se revista Finalmente, os comunistastrabalham pela uniao e pelo entendimen- to dos partidos democriticos de todos os paises Os comunistas se recusam a dissimular suas opinides © seus fins. Proclamam abertamente que seus objetivos s6 podem ser alcangados pela derrubada violenta de toda a ordem social existente. Que as clas- Ses dominantes tvemam 3 idéia de uma revolucao comunistet Nela 0s proletarios nada témn a perder a no ser os seus gilhoes, Tém um mun- do a ganhar. PROLETARIOS DE TODOS Os PAISES, UNI-VOS! © insurrego inicada pelos democratas reooluciondrios poloneses (Densbotoskie cutras) em fe~ foaia de 2846 como ebjetivo de conguistaraliertao nacional da Polen. Fo devrotaia to comepo de mar de 1886. 6

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