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V. GoRDON CHILDE 6 QUE ACONCECEY NA SSTGRIR Warressm Dura © QUE ACONTECEU NA HISTORIA ~pessoais” ou divinos. Ao contréro, os aborigines austalianos epputros contam histérias ou mitos sobre tais seres. A represen- fagio do totem pelos membros do cla poderia levar & personifi- cago do antepassado, O vocabulério de um cerimonia dra- imitica pode converter-se num mito Finalmente, embora a mégica nfo produza os resultados ‘que seus praticantes seam, Spode ter una utilidade biol6- fica. As cérimdnias totemicas’e as abstinéncias, por exemplo, Estimulam no 36a soliduriedade social como também a efi- cigncia do cagador, dando-lhe confianga © familiarizando-o com 04 Mbitos do totem, Além divo, a sbstinenca de utilizar © totem como alimento, por um cla, serve pelo menos para ‘ica fone de subsists, para © Festa ‘As observagdes precedentes no pretendem definie a reli- gilo ou a orgunizugiv social de todos os selvagens. Na reali- Gade, hi entye a cultura espiritual ¢ material dos selvagens: moderns uma variedade tio grande como havia pelo menos nia cultura material dos homens da Idade Paleolitica, descrita com mais detulles neste cupitulo, & A Barbdrie Neolitica AA soxegio do impase em que se enconmata sels fo uma revolugao econémica ¢ cientifiea que participantes de p. ansformou seus fatureza, A cri- nittica que. encerrou © plistoceno constituiu a oportuni- dade para essa revolugio. A liquefagio dos lengdis de neve do Norte nio s6 transformou as estepes e tundras da Euroy em selvas temy Pine 7 das, mas também iniciou a transformagiv sertos interrompidos por oasis. Os revolucionirios nao foram 05 selvagens mais adiantados da Antiga Idade da Pedra — os i» estuvam demasiado bem adaptados a exploragio do ambiente plistoceno — e sim grupos mais humildes, que ha- ium ctiado culturas meaos especinizadas e menos briltantes no extreme sul, Entre eles, enquanto os homens cagavam, as mutheres — € 0 que supomos — tinham colhido entre outros comestiveis as sementes de ervas silvestres, preeursoras do nos- so trigo e cevada. O passo decisivo foi plantar tais sementes de- liberadamente, num terreno proprio, e cultivar a terra semeada, limpando-a de ervas daninhas © executando outras operagdes. 51 ot5 haus © QUE ACONTECEU NA HISTORIA Uma sociedade que assim agia produzia alimentos ativamen- te, aumentando portanto seus viveres, Potencialmente, podia —— para manter a populagio que crescia ‘oi esse 0 primeiro passo da revolucéo neolitien, © & suc ficiente para distinguir a barbérie da selvajan No sagen ar queolégico, tal passo tem sua ilusteagao. provavelmente. em certas cavernas do Monte Carmelo e outros locais da Palestina Os natufianos, nome dado aos habitantes das cavernas, aga vam com um equipamento de pederneira muito semelhante a0 encontrado entre os povos mesoliticos da Europa, Usavam, porém, algumas pederneiras montadas em ossos de costela como foices pura cortar o mato ou a palha — sim brilho pec liar nas pedernciras evidencia isso, sem revelar, infelizmente, que espécie de mato se cortava, e muito menos se era um pas- to cultivado ou selvagem Muitas das sociedades bérbaras hoje conhecidas dos etné- grafos nao foram além do cultivo de algum cereal ou outra planta. Mas as sociedades neoliticas da Asia Menor, da Fegiio mediterranica ¢ da Europa cisalpina, de cuja cultura somos herdeiros, também domesticavam certos animais comes- tiveis. Nessas regioes da Asia anterior, onde cresciam esponta- neaniente as plantas precursoras do trigo e da cevada, viviam também ovelhas,-cabras, vacas e porcos selvagens. Os cagado- res, cujas mulheres cultivavam a terra, tinham algo a oferecer a certos animais que até entio cagavam — os restolhos das pluntagées eas cascas dos cereais. Como os animuis se apro~ ximavam cada vez mais dos odsis, pressionados pelo avango do deserto, os homens puderam estudar seus hibitos e, a0 invés de muti-los, domesticé-los e dominé-los. Alguns etnégrafos afirmam que a criagio de animais veio diretamente da caga, sem haver participagao do cultivo. A agricuitura mista seria consequéncia da conquista dos plantadores pelos pastures, que produziu as sociedades mistas ou estratificadas. Mas as socie- dades neoliticas mais antigas que se conhecem no registro ar- queolégico séo formadas por agricultores mistos que domesti- caram alguns ou todos os animais anteriormente mencionados. Sua sobriedade, sua perspicécia para encontrar agua e plant cies, e em afastar os animais selvagens, permitiram a multipli- cago dos rebanhos e manadas. A observagdo constante dos 52 A BARBARIE NEORITICN animais a seus cuidados talve rebanhos ¢ manad: od tituir reservas de 05 talvez thes tenha revelado que esses ss alo s8 podem ser domesticador © cone alimento ¢ peles, mas também dispensae vic vas € guarda-toupas ambulantes. Vacat, cabrar ¢ oedlhan dem dar aliments ~ 0 leite — ‘ ee sem necessidade de maticas, Cenas’ variedades de ovelhas tém sua pele revestide seusk, mente de uma camada de Ii (as ovelhas com 1s parecem ser gama de rasio eles. 'pon nao tas ove presenta ali futuray, | Pen” © °° Uma fina penugem re. A nova atitude combativa frente a0 ambiente nio cessou de produzir novos viveres. As mais antigas sociedates neolite eas conhecidas, ¢ 3 maior parte dot Barbarosnealities de Epocas recentes, tambem cnatam novas substanciay que 680 exitiam na Natureza. Ao esquentar a argila divs ca, a mulher do agricultor pede provocat gquimicechminando a “gua. de constiutgac aluminio hideatado, que € 0 principal componente da argh. {© Ja) © produair a cerdmice, substancia com quatidades sensivei muito diferentes, que j& néo ¢ plistica nem pode ser de-man- chada pela agua, Com o mevimento rotativo da fiagio, pode converter certas fibras naturais em fio — a lie o linho, mais, tarde também 0 algodio e a seda, gragas a uma modifica: do na disposigio das moléculas, que até hoje constitul um mistério. Com sua argila plistica, os ceramistas moldaram com mios habilidosas novas formas, sugeridas na verdade por va- silhas mais antigas, feitas de madeira, de pedra mole ou peles ccabagas, mas com’ maior liberdade de desenho, gragas a um material que permite maior atividade & fantasia construtiva. Com seus fios, as mulheres fizeram tecidos, usando um meca- nismo complicado — 0 tear, As novas ideias sobre constragio foram aplicadas também as moradias, As familias neoliticas vi= viam geralmente em chogas de barro, de canigos, madeira, pedras ou de qualquer canigo flexivel revestido de argila. Para ajudé-los nessas atividades, os homens neoliticas fabricaram lum conjunto muito maior de ferramentas especializadas. En- tre estas, um machado feito de pedra de grio fino, afiada pelo polimento, se destaca de modo geral, embora nio universal. 33 (© QUE ACONTECEU KA HISTORIA Os arqueblogos consideram o machado de pedra polida como fb earicter(stiea do equipamento ncolitico, embora esse instru- mento neolitico nio seja desecnhecido dos selvagens nem em- pregado com regularidade pelos bérbaros cyja economia &, 04 era, neolitica. ‘A relagio precedente, embora incompleta (poderd ser su- plementada com a consulta a A Ecolugdo Cultural do Homem), Frostra, como 0 equipamento neolitico era imensamente mais Fico do que qualquer selvajaria palcolitica ou mesoliti barbirie surge com a aplicagio de win complexo regular de desoobertas € de invengdes cientificas, No registro arqueoldgt co, como na Etnografia, a maior parte dos aspectos enun jf se. encontra integralimente desenvolvida ¢ aplicada, embora de modos diferentes e para a produgio de formas distintas em feada zona e em cada uma das sociedacdes identifichveis, A Ar- queelogia nao revela uma cultura neolitica vinica, mas um cer~ th mimero de altars distntas, que so podem ter diferengado agas Ms aplieagées divergentes de tradigdes bisieas, 1 Fe tlivce of varndas opostmidades e necessidades locas Ea teoria dos difusivnistas. que, se aceita, levaré A concl de que a “revolugio neolitica” comegou hé muito tempo. Por outro lado, néo foi descoberta até agora nenhuma dicagio dos efeitos dessa revolugio em sedimentos geoldgi atribuidos ao plistoceno, No periodo posterior, o holoceno — presente geolégico — sua antiguidade poderé ser melhor com- provada na drea a leste do Mediterraneo. Ali, a precoce in- fensio_ da esrita proporciona um horizonte que, pelos regis tros histéricos, se pode datur das proximidudes do ano aC. Também ali as socicdades foram obrigadas a viver no mesmo usar durante muitis geragbes sucessivas, As palhogas de juncos ou de barro se arruinavam com o tempo, € novas es- truturas eram levantadas sobre as rufnas. Finalmente, os des- ojos acumulados chegaram a formar uma elevagio regular, ou fell. Os vales e as planfcies litorais da Grécia, 08 planaltos da Asia Menor (Turquia) e Ird, as estepes da Siria e Turques- to apresentam milhares dessas elevagées, Na Asia Menor ¢ Tri, no alto desses morros & poss{vel mesmo reconhecer fre- Gicotemente um “hortznte istéreo”: nivels de muas € PA vimentos de casas sobre os quais foram deixados abjetos mais 7 A BARBARIE.NEOLITICA ov menos da época de 3000 a. C. Caleulada 2 pa anos pohediaads aos depésitos subjects a ome ‘Ges le da aldeia mais antiga do local. Em Tepe Sih, no inte acidental do deveto pera, pe ximo de Kashan, as ruinas de dezesscte grupos de palhoe de barro, sucessivas ¢ colocadas bre eo aaa de ato, su lumas sobre as outras, forma- ]o ano 3000 a.C. um conglomerado d . mente 28 metros de es Guan ne f le espessura, Essas palhogas duram, 0 Ici de hoje, 125 anos, Mesmo que atribuamos &s suas correspon- dents hts apenas 75 ao de dra, tems qu ta caro primeito povoado mais ou menos no ano. 4300 a,c. Tepe Caves prinimo de Moss, 28 exmane € sonst {gs que se havian sucesivamente transformado em ruinas formaram uma impressionante elevagio de quase 35 metros de altura, Speiser calcula que as primeiras eamadas datem de sete mil anos. Em Ras Shamra (Ugarit), na costa setentrional da Siria, os restos acumulados em 3.500 anos, a partir de 3000 aC. tinham mais de 7 metros de espessura. Sob essa cama- da havia quase 12 metros de ruinas pré-histéricas, que na mesma proporgio avs fariam remontar & quase oito mil anos. Mesmo que as palhogas pré-histéricas, sendo mais frigeis, ti- vessem durado apenas a metade do tempo das construidas no periodo histérico, as primeiras datariam de 4500 a.C. Mas em nenhum desses tells conseguimos atingir 0 inicio da revolugao paleolitica, que os antecede: os casos encontrados em suas ba- ses mostram uum perfeito dominio da técnica da ceramica Por outro lado, em contraste com 0 que encontramos 20 norte dos Alpes, os povoados neoliticos mais primitivos, ja devidamente explorados nessa zona do leste do Mediterraneo, ilustram a existéncia de uma “economia mista”, tal como é de esperar que resullasse das primeiras aplicagées dos novos processos de produgio. O tell de Sialk esté situado num pequeno ofsis, onde uma primavera permanente no sé atria a caga e as aves silvestres ‘como praporcionava 4gua para a irrigagio de pequenas plan- tagbes" OS constratores da primeica aldcia we base do tel eo: | styam oom fundas garzotes os animais’ que se reuniam em | volta da agua, Mas também criavam vacas, ovelhas e cabras, € cultivavam cereais pelo processo de irrigagio, usando foices eter 55 \ (© QUE ACONTECEU NA HISTORIA so com dentes de pederneira, tal como os natufianos, Fia- de os? uiam ceitas fibras ainda nao identificadas ¢ faziam wade peda e de cerimica, Sabiam até decorar suas vasi- Ihe com desenhos pintados em cores escuras sobre wm fundo que, apds 0 corimento, ficwwa rosa-palido, realgandy assim a Srethianga dos vasos com as cestas cle ervas trangadlas, onde buscaram'a sugestéo para muitas das formas adotadas ‘A geste do Nilo estabeleceram-se pequenas comunidades as margens de um lago entao existente na depressio de Faium, a uma altura de 60 metros acima do atual nivel do lago. Tudo © que resta dessas populagdes sio amontoados de residuos ali- nenticios deixadas pelos povoadores. Os restos de seus repas- tos, bem como uma imensa quantidade de pontas de flechas de pederncira, arpdes e pontas de langa de oss0, provam que os faiumis cagavam os animais que abeberavam no ago, as aves silvestres, que se abrigavam nas margens, € arpoavam 0s peixes que nadavam em stias Aguas. Mas nos montes de de- tritos, além dos restos de animais de caga, aparecem também ossos de vacas, ovelhas € cabras e porcos provavelmente do- mésticos. Nas imediagdes foram encontrados pocos revestidos de palha, cheios de grios de trigo e cevada, Pel quantidade de cereais que comportavam os silos, calculou-se que a comu- nidade néo se podia manter apenas com esse comestivel, que era provavelmente uma reserva, completando um regime cons- tituide principalmente pela caga. Por outro lado, os cereais sio formas j& definidamente cultivadas, que se distanciam de muito das sementes das ervas silvestres. A cevada encontrada em Faium & na verdade quase idéntiea & cultivada hoje pelas sociedades barbaras da Africa do Norte, Além disso, cavavamese depésitos para o grio, revestin- do-0s com palha para melhor conservagio, Para a_cotheita, fubricavam-se ferramentas especiais — foices com dentes de pederncira inseridos num cabo de madeira reta — e moinhos de pedra manuais para transformar 0 grio em farinha. O equipamento da sociedade enriqueceu-se cam novos materiais artificiais — a cerimica para vasilhas e o linho para a roupa ~ © novos implementos: cabecas de machado agucadas pelo polimento e amolagio, fusos, teares 56 A DARDARIE. NEOLITICA No limite ocidental do delta, alguns tro a do Cairo, em Metimde, ecavadoSs antinees eobanes tuma aldeia de frageis palhogas espalhadas por uma extensan de mais de seis acres, Ainda tima vez os restos de comida ¢ as reliquias de equipamento de caga e pesca nos convencem da importdncia predominante da caga, pesca ¢ coleta. Mas tam- him oy ossos mostram que havia eriagio de porcos, vacas, ov thas ¢ cabras. Ao lado de cada grupo de palhocas havia celei- ros que guardavam cevada ¢ trigo, e restos das eiras, onde se separava'a palha do grio. Todo 0 novo equipamento encontra- do nas moradias de Faium esta presente também em Merimde. Além disso, a disposigéo das palhogas em filas regulares, ao longo de verdadeiras ras, reflete 0 reconhecimento de uma ordem social e de uma ofganizacio da vida comunal Na Europa, a economia neolitiea podoria ser ilustrada de forma mais completa pela grande variedade de moradias jé bastante escavadas. Embora revelem uma surpreendente va- riedade de culturas distintas, freqientemente com um equi- pamento mais primitivo — ou seja, mais pobre — do que das culturas do Oriente Proximo, as mais antigas mostram uma di- vergdncia significative em relgéo & economia que scabamos de descrever. Nos povoados neoliticos mais velhos que se co- nhecem até agora, ao norte dos Alpes, as atividades produti- vas do cultivo de cereais e da criagio de gado predominam de tal modo que a caga fica relegada a um plano secundario. JA nao representavam "economia mista” propriamente dita. Em toda a Europa central, do Drave ao Baltico, e do Vistula ao Mosa, em qualquer lugar onde as camadas de loess proporcionam solos de cultive fc, nem pantanosos nem mu fo Boscosos, encontramos as chamadas aldeias e cemiterios da mubianos. A localizagio de todas elas, € os restos de trigo e cevadi, laminas de enxadas, foices € moinhos manuais de pe- dra, acentuam a importineia do cultive de cereais. Encon- tram-se também ossos de vacas, porcos e ovelhas, mas em quantidades relitivamente pequenas. Os ossos de animais de eaga, ao contrétio, sho praticamente inexistentes ¢ as ferra- mentas de caga, rarissimas. Nesse vasto territério, 0 equipa~ mento dos danubianos surpreende pela uniformidade: em todas fas partes as vasillis, os machados, 08 adornos, guardam a 7 (© QUE ACONTECEU NA HISTORIA mesma forma tradicional, Dever ser 0 produto de um mes- [ie pa, gue awa espa, Como oy epee pat ‘anos vinham de uma rcgido meridional quente, onde as Gie hingara. Parece, além disso, que trouxeram do sul uma tragio supersticiesa pelas conchas mediterrinicas, do tipo Spondylus. gaederepi, que introduziram também na Alema- nha centrale na regiao do Reno, utilizando-as como adornos e amuletos. © proceso di expansio danubiana foi ilustrada pela es- cavagio de uma aldeia completa em Kéln-Lindenthal, proximo de Coldnia. As primeiras estruturas ali erguidas foram celei- ros. Devern ter sida levantadas perto dos terrenos recém-roga- dos pelos plintadores que viviam em outra aldein e percor- riam diariamente os trés ou cinco quildmetros até as plantagies. Ponico depois, algins desses plantadores carregaram também seus pertences e foram viver perto das plintagées, edificando rapidamente umas 27 casas grandes, retangulares, de duas pax redes que se encentram no teto numa frea cercada de seis acres ¢ meio, que compreendia também scus celeiros. Mas, com o tempo, abandonaram o local. £ de super que, perce- hendo que ji no thes era possivel extrair um rendimento su- ficiente das esgotadas terras vizinhas de Koln-Lindenthal, desconhecendo o efeito regencrador do alqueive ¢ da estruma- ‘slo, se tenham lo com todos os seus pertences para ter~ ras virgens mais férteis. Jotavam 0 recurso aparentemente mais simples para evitar os efeitos do esgotamento da terra pela repetigio das culturas, £ uma solugdo que adotam ainda hoje os agricultores barbaros da Africa, Assi e outros lugares, ¢ que talvez constitua 0 método mais antigo de cultiva seco, F bastante eficiente quando a terra & aparentemente ilimitada, mas com 0 tempo comega a provocar a procura de terras no- vas, como se pode ver precisamente em Kéln-Lindenthal. Depois de ter permanecido deserta algum tempo, durante © qual as terras antes cultivadas voltaram ao estado selvagem, @ aldeia fot ocupada por outro grupo de danubianos dothdos 58 A BAPBARIE. NEOLITICA de equipamento algo diferente © cujo mimero de casas chegou a ser de 35. Mas estes viram-se obrigados a circundar a nova Aldeia nao com uma simples cerca para proteger-se dos ani= mais selvagens, mas com um fosso e uma muratha defensiva | contra inimigos himanos — aparentemente um povo novo, 08 chamados oeidentuis, cujos aldecmentos mais. primitives ‘sio conhecidlos na Suiga, Franca, Bélgica e Gri-Bretanha, Esses aldeamentos acentuam outro aspecto da economia neolitiea, Os ocidentais também cultivavam cereais, linho e talvez magis. Mas o gado conslituia stia principal fonte de abastecimento, Nos despojas de sua cozinha, os cssos de gado Vactim sio muito mais numerosos do que os de qualquer outro animal. Os ossos de animais de caga sio relativamente escas- sos: na fentam apenas 30%, na Normandia apenas 2.5% do total de animais comestiveis. Assim, portanto, também na Europa ocidental a atividade produtiva dos pastores havia| arrebatado & coleta dos cagadores a primazia na economia] social das comunidades neoliticas mais primitivas | Mas apesar de pastoris, esses ocidentais ni eram mais ndmades do que as danubianos. Nas costs dos lagos suigos construiram Iaboriosamente casss de madcira sobre troncos, Nas chapadas do Sul da Inglaterra e nas colinas que dio sabre © Reno, cercaram 0 acampamento com varios fossos cavados no solo de greda sélida, completando-os com paligadas. Scu equipamento era do mesmo tipo encontrado entre os. danu- bianos, mas as formas das ferramentas diferiam muito. Pre- feriam os machados para a carpintaria, enquanto os danv- bianos confiavam exclusivamente nas enxés. Seus potes pare- cem imitar vasilhas de couro. Esse artigo, e outros, do equipa- mento ocidental Iembram tanto os usados em Merimde € em Faiun. que as tradigées dos ocidentais parecem derivar da Aitiea do Norte. & possivel ques tenham expalhado gradwal- mente em busca de novas plinicies, 0 que lembra a procura danubiana de solo virgem. Em cada caso, porém, a economia coletora que devia predominar ainda nas primeiras fases da revolugio havia sido em grande parte posta de lado para ilar Tugar a uma produgdo de alimento mais puramente neokitica, Esses cinco exemplos concretos bastam para indicar a complexidade da Tevelug’o reolitia, a expamsio dos. seus (© QUE ACONTECEU NA HISTORIA 1h BARBARIE NEOLITICA itada, Mesmo nas épocas pré-histéricas, wultados ¢ as aplicagées divergentes que podiam originar. a terra parecia P ee ce oderiam ser ‘famphiados com ree foe algumas Rociedades descobriram formas de restitoir a fertile Estilo arquedl6gico e com citagies emograficas. A Arqueo- aiele a terras cansadas, ou impedir seu esgotamento, Deixa ingls revela que hé.quatro mil anos sociedades com wma eco- Bese que um terreno retorne ao seu estado selvagem, © Fees neolitica se disseminaram pela Eurdsia, da Irlanda até Timpundo-o novamente com uma queimada, as cinzas resul: a China, Comunidades barbaras, de um nfvel comparivel, tanger restituirao ao solo grande parte das virtudes perdidas, vivem, ou viviam muito recentemente, em zonas da Africa, Os agricultores mistos podem levar o gado a pastar nas terras volo Pacifico, ou nas Américas, Todas compartilham das artes preparadas para 0 cultivo, € os excrementos Bos animais ser- hisicas como 0 cultivo de plantas, @ cerdmica, a constr Piet ie fertiizante, permitindo que com o tempo se produza 4. de casas € 0 afiamento dos nrachados pelo polimento, $6 os vit Nova colheita, As excregées humanas © 0 esterco animal 3) U Jamerinins ni idos, € @ prética da cringio prem ser deliberadamente conservados para aplicagio nos de gado foi li urdsia € praticumente desconhe~ Campos esgotados, provocando uma regeneragio mais rapida. chiens At neuplicagao concrete dos, prince Urn ou outro desses recursos deve ter sido empregado na ins difere enorme Grécin ov nos Baleas, no firm do periodo neolitico, pois ali Nossa divide parn com esses birbaros que nio conheciam Crrontramos povoados sucessivos, construidos sobre © mesmo ‘odas us plantas comestiveis cultivadas, Tugar, tal como entze os agricultores de irrigagio da Asia a eserita & grand de cera importdncia, foram descobertas por alguma sociedad anterior. birhara sem nome. ‘Encontramos assim povos ncoliticos que i z i i i Para realizar a revolugio neolitica, os homens, ou mais se abastecem nio s6 de trigo ¢ cevada, mas também de arroz, exatamente as mulheres, nio s6 tiveram de descobrir plantas Bring, milo, aw mesmo de inher, mandioea,absboras€ | creams e meétodos apropriados de caltivo, mas também arazi plantas nlo-cerealt On imiodas de cultivo apropriados | de inventar ferramentas especiais para lavrar 0 solo, segar Cee ee oe eee ° @ armazenar a colheita e transformé-la em alimento. Para trredes catlicivas o cliiicas Cifesontes itynd ~ fender o solo, 0 implemento mais comum entre os barbaros cones gesfgas clas diferentes ip afr modernos é simplesinente um pau pontiagudo, ao qual se ~ IS COFTeS| lentes é regides dri ra, Soe eee oe matters o Becain named, Nowe | pode adaptar, para dar peso, uma pedra perfurada, proximo Zona tenperida, Kem togaday como & Euro oe Qa ponta, Mas a maioria das tribos africanas prepara 0 ter- orciona syimaidids pseeadrlg, cas a.plantegea nin ‘dA! ues j feng com um enxada, instrumento usado sem duvida pelos Pothetta média mais do que dais ou tés"anos seguidos. A solu | anubianos. pse-hiebricgs:¢ provavelmente ovtros pres go mais simples para tal problema € rogar um terreno novo | eus © asisticos. Os cereals eram cortados a principio Com todos 08 anos! e, una ver tukzadse as tervas visinhoe 8 aldeie, ices feitas de dentes de pederneiras inseridas num cabo i reto, de madeira ou de osso, como entre os natufianos € }O mudar-se para um. solo virgem. Foi essa a soluca $ peloe dandbienas te Europe, pré-historica, a sins hoe fajumis, opine queixada.de animal ou ainda numa imitagho sta, de madeira. por algumas tribos africanas, como a dos langos, pelas tribos Imontunhesas de Assi e outros povos. Sua predomindncia ajuda © fato de que cada colheita deveria proporcionar ali- : a expansao universal das culturas neoliticas, mento suficiente até a colheita seguinte, normalmente no sse nomadismo agricola & um obstdculo a . prazo de um ano, constitui um aspecto essencial da economia feigoamento da arquitetura doméstica ou do qualquer aper- neolitica, Os celeiros ou depésitos eram, em conseqiéncia, ~ luma caracteristica destacada de qualquer aldeia barbara, e moradias, mas essas desvantagens ni igens ndo eram notadas enquanto foram localizados em aldeamentos pré-histéricos tio antigos 60 ' 61 (© QUE ACONTECEU NA HISTORIA a de Merimdc, de Faium ¢ Kéln-Lindenthal, O tigo ja nam de ser separados da casen pelo debulha joel Seguida transformados em farina, A moenda pela jot fer num pildo, mas o processo habitual era o de Gsiiegar os graos numa pedra em forma de pata ow de sel, Sankima pedra de fricetonar, em forma de bolo ou de salsi- Sha, Exes’ moinhos manuais deviam, porém, ser fabricados com pedras bastante duras, pois do contririo a comida teria tanta ‘areia como farinha. cn cevad ‘A farinba pode ser transformada facilmente em sopas ou bolos, mas 0 Erbrieo do Pao exige certos conhecimentos de Bioquimica — o emprego de um microrganismo, 0 lévedo — € um forno de construgio especial. Alem disso, © mesmo pro- cesso biolégico empregado para o fermento do pio serviu pura abrir & humanidade um nove mundo de encantamento; todos os selvagens modernos preparam licores, fe ados. Nos albores da historia, a cerveja cra preparada no Egito e na Mesopotimia, sendo jé conhecida como a bebida adequada a estimular & bondade dos mais antigos deuses sumerianos. Cerca de 3000 a.C., as bebidas se haviam tornado neces- siirias na maioria das sociedades da Europa ¢ da Asia Menor, © todo um servigo de vasos, cantaros, copos € tagas passou a ser usado para seu consumo, Todas as invengdes e descobertas precedentes foram, segundo as provas etnograficas, obra das mulheres, Também a elas, segundo os mesos indicios, devemos atribuir a qui- \ \ mica da tabricagio de cerdiiea, a fisica da fiaglo, a mecdnica dy tear e a botinica do linho e algodio. Por outro lado, nas soviedades pré-histéricas que temos meneionado, e em outras da Europa e Asia, até a China, as realizagdes femininas se fundiram com outras atribuidas ao homem, formando uma economia dnica. Entre os barbaros modernos, por exemplo, 0 cuidado dos rebanhos e manadas, com 0 preparo do equipa- mento necessirio, .recai sobre os homens, No registro arqueo- logico, a economia neolitica é uma economia agricola mista, cujo funcionamento passamos a estudar. A populagio neolitica da Europa e da Asia anterior vivia, em geral, em pequenas comunidades, aldeias ow vilas, Inves- 62 1A BARBARIE NEOLITICA tigndas a fundo, verificon-se , . que ocupavam extensies de 15 465 acres. A comunidade que hubitava em Skarn Brae, nee ithas Oreades, nio ia além de oito casas. Na Europa central, ena Russia meridional, o néimero de 25 a s Mo pare ter sido excepeional 905 8 8 3 eases Hae parece Essus_rounié fi i i ‘Ses espaciais constituiam organismos sociais eusjos_ membros eooperavam ente si nas tarelas coletvas, Nas aldeias ocidentais das charnecas alpinas, as diversas casas esto ligadas por ruas pavimentudas de troncos, Em Skara Brac, por ruclas cobertas, Esyes caminhos publicos comum, ¢ nao individual ocidental © dos Balcds esto cercadas de fossos, cercas on paligadas, como protegio contra os animais selvagens ou inie migos humans, e que também devem ter sido feites com un esforgo coletivo. Calculou-se que para cavar os fossos defen- sivos’ em torno da iiltima aldeia de Koln-Lindenthal foram ~ necessirios quuse tréy mil dias-homens de trabalho. A dispos gio das moradias ao longo das ruas definidas, j& observada. em Merimde, no Egito, expressa novamente certa forma de organizagio social. Método semelhante, segundo se diz, foi observado em aldeias ocidentuis do Sudoeste da Alemanha € nos aldeamentos do Sul da Russia, Mas nio é necessfrio supor a existincia de uma especia- lizagio industrial dentro da aldeia, alm da divisio de trabalho entre os sexos. A semelhanga dos barbaros modernos, cada domicilio neolitico preparava e cultivava seus alimentos, fa- bricava seus utensilios, roupas, instrumentos © outras coisas necessfrias. As mulheres aravam o solo, mojam e cozinhavam 5 gritos, fiavam, teciam e fabricavam as roupas, confecciona- vam ¢ coziam 0s potes, preparavam ormamentas © obj.tos migicos. Os homens, por set ldo, limpavan 0 terreno dia plantagio, construiam as palhogas, euidavam do gado, cag vam e fabricavam as ferramentas e armas necesshtias. ‘Além disso, cada aldcia era auto-suficiente, Cultivava seus alimentos e podia fabricar todo 0 seu equipamento essen Sral com material conseguido Tocalmente — pedra, 0:0, nie deira, argila etc. Essa auto-suficidncia potencial da comw nidade territorial e a falta de espectalizagio podem ser pa 63 © QUE ACONTECE_NA HISTORIA c distinguem a barbérie consideradas como caractertsticas rider Gilizagao e das barbaries superiores das idades ca nao oferece % cultor wenhum estimulo material a produzir mais do que necessits para manter-se com imilia e preparar a pro- vena colheita. Com isso, a comunidade pode sobreviver som excedentes. : Provavelmente, nenhuma comunidade neolitica se ajus- nel cas mais primitives, 0 a wuedlogos encoritraram materiais ON razidos de a distincia, Conchas do Mediterraneo ¢ do a tenga caadis nos colares dos faiumis. Em Sialk v vn Anau {no oasis de Merv) faziam-se pequenos orn Ssciros com cobre nativo e pedras semipreciosas trazidas de Tentenas de quilémetros. Os camponeses danubianos da Hun- {Etia, Boémia, Alemanha central ¢ RenAnia usavam bracelets Be pes Feitos de conchas de Spondylus gaederopi importadas do Mediterraneo [As importagdes nio se limitavam apenas a tais artigos de luxo, Os danubianos do vale do Mosa & talvez os ociden- tais_ do Sul da Inglaterra empregavam para seus moinhos manuais uma pedra muito dura, a lava de Neidermendig, de © perto de Mayen, sobre 0 Mosela. As pedras de cortar + = AiNidianas da’ Asia Menor e da Europa central, pederneiras Sy de alta qualidade e jades atzaentes para cabegas de machado 3 Sera fevadas por longas distancias. Até potes — provavel- mente contendo ‘alguma_ coisa — foram levados do vale do Maine 2 Koln-Lindenthal, 80 quilémetros Reno absixo, sendo trocados freqientemente entre as aldeias neoliticas da Tessé- lia. Os etndgrafos descrevem um comércio muito intenso, atra- vés de longas distincias, entre birbaros eujo equipamento continua sendo formalmente neolitico. Além disso, a economia neolitica parece ter encontrado condigées para’ certos rudimentos da. especializagao inter- comunal, mesmo em primitivas épocas pré-histéricas. No Egito, 2 = tipo de cerimica preferido pelcs deseendentes do tronco meso~ Titico nativo, em contraste com os produtores de alimentos focidentais. Em sintese, os comerciantes profissionais talvez tenham sido recrutados, em parte, entre os coletores que ainda restavam, © auto-abastecimento da comunidade neolitica era antes potencial do que real, sendo também raro que ela fosse estri- fumente sedentiria, O interckmbio com outros grupos era provavelmente mais frequente © mais intenso do que entre os oletores paleoliticos. A revolugao neolitica acelerow, com isso, © intercimbio da experiéncia entre os varios povos. 65 Ss s 9 ¢ados num claro ~. $48 economia ¢ seu equipamento a um ambiente rigi YP _ especializado e locali ‘J J nhecimento do pao e 0 (© QUE ACONTECEU NA HistORIA Nao obstante, estabelecidos num o: dos num fundo de vale do deserto, ent entre montanhas escarpadas, ou con, laro por florestas impenetriveis, os aldedes nan, Uticos s6 ocasionalmente tinham contato com 0 mundo extenny Passavam a maior parte do tempo empenhados em. adaptor idamente i zado, que oferecia a cada sociedade suas (> oportunidades proprias para descobertas e invengdes. Desea & forma, cada grupo desenvolveu tradigdes adequadas as cine cunstiincias. E exatamente isso o que a Arqueologia e a Etno- ‘> grafia revelam, ~ existe uma “cultura neolitica”, mas um nimero ilimitado de culturas neoliticas, Cada uma se distingue pelas variedades de plantas cultivadas ou de animais criados, por um equilibrio diferente entre a agricultura e a pecudria, pelas i} divergéncias na localizacdo dos povoados, o plano e a cons- i trugiio de casas, a confecgio eo material dos machados 6 Sutras ferramentas, a forma e decoragio das vasilhas, e por disparidades ainda maiores entre os ritos finebres, amuletos € estilos art{sticos, Cada cultura representa uma adaptigio aproximada a um ambiente especifico, com uma ideologia mais ou menos adequada a ele. A diversidade é conseqiién- cia de uma multiplicidade de descobertas ou inventos meno- res, a principio provocada por condicdes puramente locais e condicionada pelas peculiaridades geolégicas, climdticas ou botdnicas, ou, ainda, por idiossincrasias arbitrérias, isto 6, inexplicdveis. Dessa forma, néo podemos falar de “‘ciéncia neolitica”, mas de “ciéncias neoliticas”. As sociedades barbaras tinham & sua disposigdo uma rica tradigao cientifica que aplicaram com proveito e que se baseava freqiientemente numa expe- rimentagio mais ativa, maior do que a realizada pelas socie- dades selvagens ancestrais. Compreendia, na verdade, novas cigncias, como a quimica da cerimica, a bioquimica’ do co- aro da cerveja, a botinica agricola =e outras semelhantes, completamente desconhecidas no paleo Ktico, Mas essas tradigdes foram transmitidas ¢ enriquecidas do sociedade a sociedade, cada uma a sua maneira, Nao havia, y = por exemplo, um padrio universal para a cerdmica, mas um 66 1A BARBARIE NECLITICA, niimero de receitas tradicionais que equivalia ao. mimero de sociedades. Mesmo quando essas tradigoes nos parecem sim- ple:mente variagées sobre um mesmo tema, as mulheres que as transmitiam dificilmente: poderio ter discemido entre. © tema essencial © as ornamentagies aciden AAs prescrigdes téenico-priticas da eieneia barbara estavam, eertattente, inex tricavelmente fundidas a wma massa de feitigos e ritos fiteis, Até mesmo os. inteligentes ¢ civilizadissimos greyos tinham reevio de um deménio que rompia 0s vasos quando estavam senda corides, e para afasté-lo do forno colocavam uma hor- rivel mascara de gérgone. ~ Nao obstante, a comunicacgdo que comprovadamente hou ve entre as sociedades neoliticas acarretou um intercambio de idéias técnicas. Nese processo, a comparagio ajudou a eliminar 0 nao-essencial. A histdria’ posterior da citneia trata, em grande parte, da difusio de idéias titeis fora do ambiente onde surgiram e da selegio dos processos eficientes entre os rituais tradicionais com que estavam antes mesclados. Seria ainda menos legitimo falar de “religiao neolitica”, embora as sociedades birbaras tenham agido e ajam ccmo se, Recessitassem, ndo menos do que os selvagens, de um apoio | y_ ideol6gico, A’ maioria das sociedades neoliticas enterrava seus| mortos (tanto em cemitérios regulares como sob suas casas, ou ao lado delas) com mais pompa do que os cacadores yaleoliticos, No mundo mediterrinico, na verdade, as tradigdes funerdtias inspiraram a escavagio, excessivamente trabalhosa, de répticas subterrineas da moradia do morto. Na Europa ocidental e setentrional, eram reproduzidas em pedras gigan~ tescas ¢ colocadas artificialmente sob cnormes timulos, ao prego de um esforgo social ainda maior. Os mortos tio reve~ Tentemente entregues & terra influfam de alguma forma, segundo se acreditava, nas colheitas que dela nasciam, Essa, dedugio, plausivel com relagio a certas sociedades, nio pode porém ser generalizada. O enterro ritual nio é praticado por todos os birbaros, e a Arqueclogia ainda nio demonstrou que existisse em todas as sociedades neoliticas da Europa, As sociedades neoliticas do Egito, Siria, Ira, de todo 0 Mediterrineo e do Sudeste da Europa, e ocasionalmente até fas da Inglaterra, modelavam em barto ou talhavam em pedra or Ved © QUE ACONTECE NA Histon, ou oxo figuras fernininas, geralment imagens da “Densa Mae”. Deira, bili ae brota o grio tenha sido imaginada como. wna gael éio como tal, pede ser influenciada por siiplieas Cortes presentes (saerificios) bem como “deminada” por nines ace gias imitativas, Essas figuras parecem ser, em alnne oon a8 precursoras dirctas das ima sas das. sociedad histéricas da Mescpotimia, Siria e Crécia jens de deusas das sociedades : : : © companhei © Rusculing da fertlizasio. porem, x6 & representadn pelos tng x le argila ou pedra, talhados em Anatolia, nos Buled S Tagiiter, tolia, nos Balcis e na A magia deve ter sido praticada ainda no periodo neo- litico, apesar do controle real muito mais amplo que sobre a Natureza tinham as sociedades barbaras. Temos prova direta disso nos amuletos feitos pelos povos neoliticos em toda a rea do Mediterraneo, e jd em Merimde onde miniaturas de machados de pedra eam perfu duradas em colar, presumivelmente na crenga de que tal modelo atribuiria a seu portador parte do estranho poder, ou + mana, inerente 4 nova ferramenta, Na verdade, Thurnwald afirma que “principalmente nas sociedades nas quais a habi- lidade artesanal est muito desenvolvida & que se dé impor: tancia as precaugées e cerimdnias mégicas”. A magia dos barbaros, tal ccmo a dos selvagens, encontrou naturalmente a sua expresso, A unidio cerimonial dos sexos, em particular, simbolizava e “causava” a fertilizagio da Natureza, Mas entre 0s plantadores de sementes, pelo menos, o drama da fecun- didade tem que assumir forma mais caracteristica do que nos rituais selvagens. Um ciclo de mitas e praticas de cultos difun- didos entre os antigos povos da Asia anterior e da bacia do ‘Mediterrneo leva a deduzir que 0 casamento cerimonial limitou-se a um par escolhido. O ator masculino personifica © |a semente (ov vegetagio em geral) e assume durante certo £ |tempo o papel principal: torna-se o “rei do cereal”. Mas, tal ' como a semente, ele tem de ser enterrado ¢ brotar outra vez. Na sociedade mortal isso significa que deve ser morto ¢ substi. tuido por um sucessor jovem e vigoroso, Nesses atores as forcas produtivas da Natureza assumem formas pessoais e se transformam em “deusas” e “deuses”. 68 1A BARBARIE NEOLITICA Mas se a sociedade se pers do cereal” pode ser substitu neiro, ow pelos rites m: \dir de que a morte do “rei a pela exeeugio de um prisio- ° ic0s puramente simbilicas, 0 “rei do cereal” estaria em vias de se tornar um rei temporal, trans sao que seria facilitada se ele tivesse também as fungées de chefe guerrciro. ssa € a forma pela qual podem ter surgido { os “reis divincs que enconiramos no alvorecer: da, hist Nio é possivel estubelecer diretamente se essa regéneia ou chefia surgiu realmente no periodo neolitico na Asia Menor ou na Europa. No Egito, Mesopotamia ¢ Grécia, os reis his- toricos exccutavam muitas das funges que nos ritnais de fertilidade exam atribuidas ao hipatético rei do cereal. Muitos Dirbarox modernos reconhectm chefes heredititios cuja autor ~ ridade € tanto magica quarto militar, Na Europa neolit as casas que se destacam por suas dimensées maiores sua > central cm algumas aldeias ocidentais sio tidas coma S residéncias de chefes. Os grandes timulos de pedra da costa do At'intico e 0s enormes timulos da Bretanha tém sido interpretados como sepuileros de chefes. Mas nem mesmo os { defemsores alemies do “principio de lideranga” puderam en- ) contrar qualquer indicio de chefia numa aldeia danubiana como Kéln-Lindenthal, De qualquer modo, podemos presumir que a estrutura do cla e a comunidade baseada no “parentesco” sobreviveram incdkimes & revolugio neolitica. Entre os birbarcs de hoje, a terra é normalmente proznedade comum do cli. Quando nao & lavrada cokttivamente, as parcelas so distributdas a lias” individuais apenas para sua utilizagio e so redis- tribuidas anualmente, As pastagens so, evidentemente, co- muns, Entre os que se dedicam apenas ao cultivo da terra, Gevido a0 papel da contribuigio da mulher para a economia coletiva, 0 parentesco é naturalmente estabelecido pela linha ina, prevalecendo 0 sistema do “direito materno”. Nas lades' pastoras, a0 contrario, a influéncia econdmica © social passa aos homens, e 0 parentesco patrilinear. ‘A revolugio neolitica foi biclogicamente justificada pelo aumento numérico do Homo sapiens, que a seguiu. Embora pequenas, as comunidades neoliticas eram substancialmente maiores e muito mais numerosas do que os grupos paleoliticos cs} ) 7 sig . % ag a & yy yo 9 { © QUE ACONTECEY RA HISTORIA ou mescliticos, Na Asia Menor, Egito e Euro milhares de esqueletos sobreviveram do perfox uso neolitiea ¢ a revolugao urbana, ou transigio para economia da Idade do Bronze, em contraste com as poucas centenas de fésseis humanos de toda a épacn paleslitins Entretanto, 0 paleolitico deve ter durado de 10 # 50. vescy mais do que o neolitico! © crescimento da populacdo neolitica fol finalmente limitado pelas contradigdes da nova economia. A expansio numérica determinou a expansio espacial, Novas familias 86 poderiam subsistir com 0 cultivo de terras novas e da descoberta de novas pastagens para a criagio de rebanhos e manadas. Os produtores de alimentos que existiam dentro dos limites da barbirie tiveram de disseminar-se. Toda aldeia auto-suficiente foi forgada a criar constantemente a’deias fihas. A expansio universal da economia neolitica comprova esse proceso. Na pritica, os produtores de alimentos fre- giientemente se expandiam a expensas dos coletores, e estes lltimos nem sempre se submetiam passivamente & expulslo ou extingio. Por vezes, os selvagens adotavam ¢ adaptavam 8 economia dos bérbaros intrusos. As culturas neoliticas do Norte da Eurcpa parecem produzidas principalmente pelos povos mesoliticos das florestas, que haviam obtido gado e sementes dos danubianos invasores, bem como de outros agricultores com os quais aprenderam como fazer potes, fi € tecer. Esses discipulos aumentaram a corrente dos ‘agri cultores e aceleraram seu avango, Com 0 tempo, varias correntes se encontraram. A proximidade provocou o inter cAmbio de experiéncias e de conhecimentos, a, literalmente lo entre a revoe Os contatos, porém, nem sempre foram amigdvels, pro- vavelmente, Todos competiam pela mesma terra, que nko era ilimitada, e essa concorréncia podia levar & guerra. Os Primitivos danubianos parecem ter sido pacificos: em relagho a0 niimero de ferramentas de caga, as armas de guerra estdo ausentes de seus timulos. Suas aldeias no tinham defesus militares, Nao € por acaso que a ultima aldeia de Kéln- indenthal estava defendida por fortificagoes complicadas 6 que nas tumbas contempordneas existe armas. Nas faces finais do perfodo neolitico na Europa, armamentos em forma 70 ‘A BAROARIE NEOLITICA, de machados de combate, de pedra, e punhais de pedemeiras, Passaram a ser os elementos mais comuns dos acessbrios mnerdrios, Na Europa central e setentrional chegamos quase a ver surgir o estado de guerra de todos contra todos, A medida que’ se torna escassa a terra desocupada e de cultive facil. Em ontras regides h& indicios do mesmo processo, embora menos explicitos. Nas camadas sucessivas dos tells dos aldea- 3 mentos dos Baleas, Grécia, Anatélia, Siria e Ira constatamos © modificagies radicais na cultura, Tais modificagées. bruscas sio consideradas como. simbélicas da substituicio de uma sociedade por outra, de tradigdes sociais diferentes — em outras palavras, da conquista, expulsio ou escravizagio de um povo por outro. Essas modificagées de populagio pro+ duzidas pela guerra sio uma caracteristica periddica da vida barbara deserita pelos etnégrafos na América do Norte, Africa € Pacifico, Naturalmente, 0 dominio das plantagdes que outros culti= vavam e das pastigens onde outros apascentavam 0 gado néo significava 0 aumento da populagio total sustentada por essas terras. Iss0 nio soluciona a contradicgio. A guerra e a ma- tanga reduzem, ao invés de aumentar, a espécie humana, Nao obstante, uma modificagio de cultura no registro arqueoligico nem sempre significa a extingio da sociedade antiga. O resultado pode ser uma “cultura mista", na qual persistem elementos do equipamento mais antigo e sobrevivem uns membros da scciedade anteriormente estabelecida no‘ ¢. ver Na Europa central, as culturasneoliticas/mostram 5 tragos criundos das tradigdes nativas do Danibio, combinados < com outros desenvolvidos nas planicies boscosas do Norte, ¢ Alguns membros da sociedade danubiana mais antiga devem ter sobrevivido, embora escravizados pelos nortistas, As cule S turas mistas talvez denotem sociedades estratificadas divididas em governantes ¢ governados. De qualquer modo, sio_ mais ricas do que qualquer das culturas componentes, pois derivam da fusio de duas tradigdes socinis criadas por ambientes distintos. Tlustram um dos processos mais importantes. no intercdmbio da experiéncia humana, Além do miis, prova~ m ~ 3 © QUE ACONTECEY NA HIstORIA bolizam a ruptura inci z -Eufrates, onde até a pedi ¢.inaor durbildade das feramentas de cobre‘ou ‘bronse pods it jue se tormassem mais i ur fells com ges is econdmicas do que as Sk,pedrs ou ebsidiona, Por outro lado, na al lerra, especii moe mu ge any, aoe or quebrar no momento eee, He Pedemeira, que se pode ae none momento exato em que é preciso ferir 0 inimige pane Par ete Peduends adores, os primeiros abjetoa dio, nn verdad ante o8 epularmente caloctdes nay trabas ° “rramentas, Na prética, verifi= ”) ‘A BARBARIE SUPERIOR DA IOADE BO CORRE camos que isso s6 se tomou comum depois da revolugo urbana, nos vales aluviais que produziam uma nova economia que fomou real esa procura. Nese interim, outa, série de jescobertas_€ invengdes independentes havia simplif'cado a satisfagio das necessidades, reduzindo as dif-culdades de transporte, Tendo domesticado o gado, a fim de ter carne e depois leite, algumas sociedades tiveram a idéia de transferir para os bois parte das tarefas pesadas. O primeiro passo fci talvez fazer com que dois bois puxas‘em pelo campo uma espécie de enxada que as mulheres tinham usado até entéo — um arado. Além do proprio arado, foi necessério inventar jugo © amés pelos quais o poder de trago dos animais pudesse ser Utlizado, Fellzmente as ‘amplas costas do boi permitem a colo- ‘cagao de uma canga sem impedir o movimento ou 2 respiragao do an.mal. O; arados eram a principio feitos inteiramente de madeira, e por isso nenhuma prova direta existe da sua anti- guidade. Documentos eseritos ou gravados atestam sua utili- zag4o na Mesopotiimia e no Egito cerca de 3000 a.C., € cm data proxima na India, H4 provas da utilizagao do arado pouoo depois de 1400 a-C., na China, e em épcca nao mui i figuras de arados foram gravadas nas rochas da distante Suécia. Dessa forma, pelo ano 1000 a.C., 0 arado, tal como o bronze, chegara aos limites de sua difusio na antiguidade. © arado transformou as plantagées de cultivo de faixas de terra em agricultura general:zada (o amanho dos campos). € a univ indissoluvelmente & ia. Libertou as mulheres do trabalho mais enfadonho, mas a0 mesmo tempo privou-as do monopélio das colheitas de cereais, € do status social que isso Thes conferia, Entre cs bisbaros, enquanto a mulher nor- malmente trata das pequenas plantagées com a enxada, € 0 homem quem ara os campos. Mesmo os documentos sume- rianos e egipcios mais antigos mostram que os homens ara~ vam a terra, Para suportar 0 trabalho pesado, os bois de carga necessitam melhor alimentagéo do que o capim da es tepé, ficando geralmente em currais e recebendo come alimen- tagio 0 feno especialmento cultivado, ov até mesmo a cevada. Assim, 0 esterco pode ser acumulado para adubar os campos. ‘A inovagéo mais decisiva, porém, foi a utilizacio pelo homem 8 © QUE AcONTECEY Na isos 16 de uma forga motriz que nio a de seus prd passbilitada pela invengio dos arrcios © bel asso para 0 uso da maquina a vapor ou do A nova forga motriz podia ser aplicada Nas pocirentas planfcies da Asia Menor co CU formas, Europa setentrional, as cargas pesadas poders <2, De¥es da m trends. Como icon hesilo na Europa setentrional na epoca mesoite hs 2), € quase certo que também fp : Menor antes do ano 4000 6 Gea canga aot rein vat lum trené com a mesma facilidade com que puxa opoe jee mesmos arreios servirio para os dois casos, Noo heh Prova da existéncia de trends pré-histricos do que dean ‘mas 5 primeiros continuavam sendo usados pelo menos part 9s funerais — ainda no ano 2600 a.C., na Mesopotimig Pi Muito antes disso ccorrera uma revolu com o uso do movimento rotativo da 70, vidosos de sua utilizagio no Norte da Sir cemo a da fase de Tell Halaf, De qualqui de Gawra (mencionados paginas atrés) mostram carrooas oe duas e quatro rodas jé em uso generalizado antes de 3006s, ¢¢ Das esculturas sumerianas, e de espécimes encontrados noe Nimules do Terceiro Milénio, podemos deduzir os detalhes de sua construgio. As rodas consistiam em trés pegas de ma, deiza sélida, encaixadas, ¢ revestidas de coure seguro. com pregos de cobre. As rodas giravam numa s6 pega’ com os G20, que podiam ser fixados no corpo do veiculo’ com tras °, iso nos transportes, cla. HA indicios de: ia, em época remota fer modo, os modelos jgCir79gas semelhantes ainda sdo vistas na Sardenha, Tur- guia ¢ Sind. Embora pesadas e desajeitadas, sio durdveis eo ug, Brande progresso no processo’ de transporte Pia a cio, na verdade, os ancestrais lineares do auto- m rel. Cerca do ano 2000 a.C,, vefculos de rodas eram usados los vales do Indo até o litoral strio, No Egito, porém, nenhum veiculo desse tipo € conhecido 2.0. A invengio, Mane? tinea Creta 0 ano 2000 aC, e antes do Segrnce Milenio era conheei ir =e content - oe ina & Suécia, Mas no interval, culos recebera grande impulso smc; © PANSPOFE por vel= 86 antes de I ‘material, A BARSARIE SUPERIOR DA IDADE DO CORRE © ombros dos homens (ou gera'mente das mulheres) eram os mais antigos meios de transporte. Quando a forga motriz animal passou a ser usada, foi natursl que tal peso se transferisse para as costas do animal. © boi, porém, nao € © mais indicado para carregar coisas. O animal de carga mis ant'go de que se tém noticias parece ter sido 0 asno, natural do Leste da Africa. Antes do ano 3000 a.C., ele jé era conhecido no Egito e presumivelmente empregado nos transportes. Na Siria e na Mesopotimia era seguramente usado no Terceiro Milenio. Ha porém um amo selvagem, o cnagyo, na Asia Menor, que também foi domesticado, e assim sendo nao se pode dizet exatamente até que ponto o asno de carga, do Oriente era de origem africana. ‘Ossos de cavalo do Quarto Milénio foram encontrados em Sialk, no Tra, € em Anau, no Turquestio. O habitat nativo dos cavalos estava provavelmente naquelas regides, e & possivel jue 0 oasis de Mery tenha sido o centro de sua domesticacio. Br cavalos proporcionem came let, como ent os mongei itas, ao me mo tempo que so usados para montaria, para usar carros ou transporte de carga. Entalhes em assos, cerca de 3000 a.C., em Susa, no Elam, repreduzem claramente cava- leiros, mas 0s cavales que montam nao sio muito identificdveis. ‘A montaria como meio de acelerar as viagens e facilitar 0 intercimbio ¢ um fator que deve ser considerado, embora sea problemético 0 alcance da equitacao e do uso de cavalos, de mido geral, antes do ano 2000 a.C. Isso é © que podemos dizer, no momento, também quanto & utilizago dos camelos. Desde 0 ano 1000 a.C., 0 transporte € a comunicagio pelos desertos da Asia Mencr tém dependido do “navio do deserto”. Muito antes disso, porém, ossos de camelo foram desenterrados em Anau, da época de Sialk T ou Il, havendo também um desenho isolado de camelo num timulo ‘peo que, segundo se acredita, ¢ pouco anterior a0 ano SHO a.@ Dessa forma, € possivel que algimas sociedades tenham disposto desse meio de transporte até mesmo no Quarto, Milénio. De qualquer medo, as viagens por terra tornaram-se mais, rapidas cerca do ano 3000 2.C., com a attelagem de asnos ou cavalos asidticos, ou de ambos (para maior seguranga, 7 © GUE ACONTECEU NA HISTORIA digamos “eqiiinos”, que abarcam as duas espécies), a ca seege diss rodas, au carogas. Os armesee pats (oon nhecidos pelos desenhos sumerianos do Tereeiro Milense) (oo, os mesmos utilizados para os bois. Como essex infortunadte eqiinos nio tem as eostas largas dos bois, a forga de tarsy era transmitida a cunga por uma correia passada stb o percon® no peito do animal, e contra a qual ele tinha que fazer prewssot Ao lazé-lo, 0 pobre animal quase que se sufocava. Apesar dy Berd de forgt que iso provocava, 0 arnés oriental fo" imitadg em toda parte onde se adotou o carro de cavalos, ¢ s6 foi refer, mado com a invengio da coleira, na Idade Média, mais ea menos no século IX de nossa era, Assim, antes de finalizar 0 Quarto Milénio a.C., a forga dos bois, cavalos ¢ asnos, conjugada & roda, tinha proporcic. nado as sociedades orientais uma forga motriz € equipamento para transporte terrestre que no foram superados senio no século XIX. E no ano 3000 a.C,, 0 vento dava, também, a forga motriz para o transporte na goa Até mesmo os cagadores palecliticos devem ter possuido formas de jangadas ou canoas, Os europeus mesoliticos conseguiram cruzar os mares tormen: tosos entre Ulster ¢ Kintyre. Seus sucessos neoliticos fizeram viugens ainda mais aventurosas, Os polinésios, da Ocednia, embora dispondo apenas de ferramentas de pedra, construt. ram canoas de mais de 30 metros de comprimento, capazes de acomodar mais de cem pessoas e provisdes, nas quais fize- ram viagens de milhares de quilémetros, As canoas polinésias tinham velas, € barcos a vela aparecem representados no ierraneo e Egito durante 0 Terceiso Milénio. A prova mais antiga da existéncia da vela, porém, est4 nos desenhos de vasos egipcios pouco anteriores ao ano 3000 a.C, As em- barcagées ali reproduzidas sao, segundo se acredita, estranhas a0 vale do Nilo, e origindrias talvez do golfo Pérsico. De qualquer forma, mostram que a vela foi inventada antes do ano 3000 a.C. Com isso, 0 homem tinha pela primeira vez gontrolado uma forga inorginica para servir de forga motriz, Foi a sinica invengio desse géncro até a descoberts da rode hidréaliea em fins ‘do Primeizo Milénio a.C. As rudimentwres velas quadradas que vemos nos vasos egipcios exigitan muitas melboras antes que os barcos pudessem ser manobrados 88 ‘A BARBARIE SUPERIOR DA IDADE DO COBRE ivremente, mas devem ser consideradas como precursoras teers “Jas velas que impeliram os navios até 0 século a De qualquer modo, seja com, velas, pis, remos, ow simples- mente puxados das margens dos rios ow canais, os a Quarto Milénio pediam transportar cargas iomaras 2 pee Gas_ muito mais economicamente do que 0 lembo dos asm ‘bu os carros de bois. O comércin na antignuidade, pelo menos ‘o que se relaciona com mercadorias baratas ¢ populires por atacado, era principalmente fluvial ou maritimo. Os novos meios de transporte que acabamos de descrever, simplificando a. disteibuiggo das mercadorias, est'mularam @ aparecimento de nova classe de artesios, ndependentes do material importado, Essas classes podem ter originado Doves especialistas. A construgio de carrogas € barcns exige grande habilidade na carpintaria, Antes que se dispersassem os an- tepassados linghist'cos dos indianos, gregos € outros paves indo-europeus, a carpinturia j& parece ter sido um iia especializado, pois 0 carpinteiro € 0 (inico artesdo indicado or uma palavra comum ao sanscrito, grego e outros ramos Ia familia lingiiittiea, Nao cbstante, a Etnografia mostra que os camponeses construiram carrogas e canoas sem re- correr a profissionais, Nao podemos, portant, deduzir que a especializagio na construgin de barcos ou carres tenha existido antes da revolugio urbana. Entretanto, a evisténcia de outro artesio, alam do ferreiro, & comprovada pela Arqueologia. Colccando um bloco de argila plistica no centro de wma roda que gira rapidamente sobre wm eito vertical, vm arte 30 experimental pode fazer em alguns minutos wmv var th gque levaria dias para ser feita & mio. E a vanilla assim fabricada seré perfeitamente simética, Por outro Indo. sua produgio exige uma destreza extrema, que necesita longo aprendizado para ser adquirida, A Etangrafia mostra 9) 05 ceramistas que empregam a roda sio hubitwalmente espe cialistas do. sexo maseulino, mio mais as mulheres. para a quais a coriimica é apenas uma tarefa deméstica come comin ha ou fiar, Também podemos supor que na antigiidude 0 da roda indique a industralizagso da produgio de cerimica, © aparecimento de um novo artesanato especializado. © QUE ACONTECEY NA HistoRi4 Sendo seu equipamento muito simples, ¢ havendo po; um artesio smbulante, tao faci’mente quanto o fenton i Greta ¢ m0 Ege, os ceramistas de hoje, com suas "arid e sua roda, viajam de aldeia em aldeia e de ilha om iha, produzindo em cada uma delas aquilo que 0 gosto local ex ge Temos algumas provas diretas da existéncia desses ambul, nites em Greta ¢ Egina, no Segundo Milenio. Talver as ant, as vasilhas feitas na roda ten ido produzidas por esses tra balhadores ndmades. De q er modo, eles mostravam a mesma flexibilidade que cars teriza outros artesios primitivos, Também eles foram hberados das restrigées da socitdade tor, rilorial. © oficio dos ceramistas pde tornar-se intertribal, og talvez internacional, A oda invadiu, cedo, a indistria cermica por toda a ® Menor. Ela é encontra wa na terceira fase da Wade de Ik IH, no Ira, © no ano 2500 a.c. igada na India.’ No Egito, pelo con: ou depois da revolugag forma menos eficiente do issim mil anos antes que se conhegam rodus junto do Nilo, Na Europa, as relagées entre essas duas aplicagoes da roda seguiram curso oposto. Ao norte los Alpes, veiculos de rodas j@ sao conhecidos no Segundo Milenio, uo passo que as rodas na cerimica s6 aparecem no final do Primeiro. urbana sob a Dinastia que na Asia, e ainda Ss € inovagées cima parccem ser devidas a0 homem, n para fortalecer sua posigio econdmica. wer de muitas tarefas essenciais, mas pe- de enxada, 0 transporte de’ cargas, a — 0 homem cortou as bases econdmicas Liberando a mulhi sadas — 0 trabalho fabricagio de vasilhas do matriarcado, Além disso, 0s novos especialistas nao se adaptavam realmente a velha or Mesmo que o ceramista se fixe definitivamente numa aldeia, gbviamente nao é um membro do cli em qualquer sentido Fisiolégico. Sua participagao no grupo local’e cus devenes Para com ele sio determinados pela moradia e pelas fungoes. ganizagao de parentesco, 90 [A BARBARIE SUPERIOR DA IOADE 00 comRe Torna-se necesséria uma nova b, de tais estrange ue compreende Jeae ter aumentado pel S conquistas © misturas de popula: jes, cuja ocorréncia se deduz pelas modificagées calturais Gvidenciadas nos registros arqueclogieos Entre os barbaros, que adotaram algumas das inovacies aq examina, ot soilogo espram eon “Emin” atriarcal, até mesmo aquela que compreende ov filhos cae Fiaey site mulharee a flor s Ghee betes ton mane atriarea. Nessa sociedade, a propriedide pessoal pode abrane € manadas ~ € eseravos — bens de capital que podem aumens tur, Eo homem que se tenha distinguido como “hele seo (na vociedide matriseal O36 cargo € cet) tn oportunidade de consolidar sua autoridade cm bases econ fmueas pelt propriedade de gado ou servos, Essa tiquees pac garda fill ea atl gue proprcina toma him, jereditaria, Para torar-se, porém, iim poder re: de wet ee Saada, alver ous Tacs Sigerida’ no eapitilo. 3. Outra inst tuiga0, enlrelanto, pode facihtar a transigio. Entre os birbaros com esse nivel de desenvolvimento téenico e econdim: o verificamos frequentemente que alguns dos ritusis de fertlizagio, © outros, celebrados na selvajaria em forma comunal por todos os integrantes do. eli, foram monopolizados por “sccie ades seeretas", € que a iniciagio nelas deve ser comprada com festas e presentes, Dentro de tis sociedades hi yeralmente graus euja conquista é como a inseayioy um Tid sacramental quieras abaarte Sie fe addguirido, Os membros dessa sociedade esntinaam sendo, pes dores, eagadores, pastores ou agricultores, Se_adquiriam petiliacto «Des ead Sar bubs We giticle tL como os artesios, tornavam-se sacerdotes profissionais. Ese os gus foe Iietrquieos, oF mais nos se tansformavim quase que em res: O material arqueskigico que desctevemo ‘acima contém indicios de que tal ocorreu na Wade do Cobre, na Siria. Os sels, como os encontramos nas aldeis hslafiana, ‘pi conferem mana a seus felizes io a principio amuletos que conferem m 7 powuidores, Além de talhados na forma de um totem ou umn 91 (© QUE ACONTECEU NA HISTORIA “coisa poderosa”, sio também gravados com motivos magicos, ou reptesentagdes do totem, Esses dexenhos, com wea mies, poderiam ser transferidos para um bloco de argila. Apertinds seu amuleto-selo sobre a argila de uma tampa de cAntiro, uma pes‘oa The imprimia um “tabu”, transferia parte de sua perso. nalidade para ela, marcando-a como propriedade sua. Até mesmo 0s halafianos usavam assim of amuletos-sclos, que indicam, presumidamente, um reconhecimento dos direitos de propriedade, Os simbolos padronizados gravados no selo con ‘esse objetivo contribuiréo para a formagio dos simbolos da escrita conveneional, quando a revolugio urbana a toma necessaria, A. construgio reiterada, no mesmo lugar, do: templos de Gaver, através ‘de todas as bruscas molifvagbes de outros aspectos da cultura material e espiritual, encontra sua melhor cxplicagio na suposicao de que, apesar de todas as modificagées de populagio, uma determinada sociedade de adeptos mantinha sua personalidade coletiva, Essas corporagées hipotéticas podem corresponder As “sociedades secretas” dos Darbaros moderncs, ou as corporagdes sacerdotais nas quais se transformam, Lé pela quarta fase de Cawra, os templos jf tinham tomado a forma caracteristica que, mais ao sul, conhecida como a casa de um deus, onde'se encontra sua imagem para o culto eo altar para os sacrificios. As cores com’ que estio pintados so as prescritas como simbilicas € migicas na literatura teolégica posterior. Os santudrios sao, portunto, os precursores lineares dos templos que simboliza~ Fio a ordem mundial, e justificam até certo ponto a presuncio de que havia 0 cultu uu adoragio de divindades per-onalizadas. ‘As modificagbes bruseas, na arquitetura secular, na ce- Himica € nos Fitos finebres, observadas em Gawra e outros tells sirios, devem refletir modificagdes considerdveis na popu- lagao. £ dificil acreditar que essas modificagbes tivessem, sido pacificas. Ji na Europa de clima temperado e, na verdade, Inesmo antes, as populagdes em crescimento tinham de en- contrar uma saida para as familias excedentes tomando terras Ge outros povos. £ de presumir que os halufianos tenham suplantado "comunidades “‘neoliticas” mais antigas, sendo substituidos por sua vez pelos alUbaid. Nesse caso, as modi- 92 anosnie SUPERIOR DA IDADE DO COBRE anqucoligeas devem sr conseginci as Conquista que proporcionaram ao chefe a opor- de Bde se oe pat Seealer, Os veneidos, porém, 130 tunidade de. Sinccessariamente exterminades. Se alguns deles ever ter sido ety guardiges da tradigfo ritual de um deus sobrevieemos também podem ter sido deixados vivos como local outs avos. Os homens foram "“domesticados”, como Oe As conquistas teriam produzido as sociedades bois ous, divididas em senbores @ eseravos, embnides da dey classes encontradas nas mais antigas cidades historias. ficagoes das “culturas” A Revolugéo Urbana na Mesopotémia A. secravunoia, a roda, 0 carro. de bois, 0 burro de car 0 barco a vela’constitviram as bases de uma nova orgat zagio econémica. Sem ela, os materiais novos continuariam sendo artigos de luxo, os novos oficios nao funcionariam, € (05 novas inventos seriam apenas comodidades. As sociedades que viviam, embora precariamente, nas estepes sirias e nos phinaltos do Ira, como as que habitavam as costas do Mediter- rineo, ¢ as zonas temperadas da Europa, podiam ainda viver sem sentir a necessidade imperiosa de enfrentar a formidavel tarefa de reconstruir todo 0 edificio da barbérie neolitica, Os vales aluviais dos. grandes rios ofereciam um ambiente mais Gificil, mas também proporcionavam maiores recompensas materiais em troca de sua exploragio. Neles as aldeias da Idade do-Cobre se transformaram nas cidades da Idade do Bronze, pelos processos que descrevemos mais detalhadamente em A Evolucio Cultural do Homem. Na antiga Suméria (Shinar, na Biblia), pequena regiio nao maior do que a Dinamarca, sobre o delta do Tigre e do of [A REVOLUGAO URBANA NA. MESOPOTAMIA Enfrates, a transformacdo pode ser investigada passo a pusso pelo registro arqueoligico. A Suméria era um territério novo, Que recentemente se elevara sobre as aguas do golfo Pérsico pelos sedimentos carregados pelos dois rics. Estava ainda coberto de grandes pantanos, cheio de juncos altos, interrom- pido por bancos de barro e arcia e periodicamente inundados pelas enchentes. Através de canais tortuosos, entre os juncos, as aguas barrentas corriam lentamente para o mar. Mas eram piscosas, € os juncais abrigavam muitas aves silvestres ¢ outros animais, ¢, nos terrenos que emergiam, as timareiras propor- cionavam todos os anos uma quantidade considerdvel de frutos nutritivos. Em contraste coin 0 deserto de ambos os lados, essa regio parecia um paraiso, Se as enchentes pudessem ser controladas € canalizadas, os pantanos drenados ¢ os aridos bancos rega- dos, ela se poderia transformar num jardim do Eden. 0 solo era tao fértil que nio seria impossivel aproveité-lo cem vezes. Na verdade, documentos datados do ano 2500 a.C. indicam que o rendimento médio de um campo de cevada equivalia & 86 vezes a semeadura, Os plantadores podiam, portanto, obter facilmente um excedente de suas necessidades domésticas. E isso era necessirio, As matérias-primas exigidas por seu equipamento nio hes eram proporcionadas com tanta genero- sidade, De barro de aluvido nio se pode obter pedras ou pedemeiras adequadas nem para as ferramentas cortuntes mais simples, Essas substincias, tais como a madeira ¢ a pedra de construcdo, tinham que ser importadas de regides fora do delta, Mas 0s canais do rio néo s6 unem toda a planicie, mas também proporcionam caminhos méveis pelos quais as embar- cages podem transportar facilmente os materiais essenciais, vindos dos territérios montanhosos gua acima, ou do outro lado do golfo Pérsico. O comércio eta necessirio, mas também relativamente facil. Além disso, se de qualquer modo haviam de importar material para os ‘machados ¢ facas, haviam de pereeber que o ecbre & mais econdmico ¢ mais durdvel do que as pedras e pederneiras. Os primeiros exploradores chegaram & Suméria com um equipamento semelhante ao que encontramos em inimeros trimulos de aldeias da Idade do Cobre no Ir’, e quase ic 95 nos locais cais de = todas as Erech, Eridu cidades hi . , Lagash Uy istéricas da Suméria Pouco depois surgia Acade, apees u0, Siem do lugar = ae Em todos esses colonos al Ubsia locais as aldeias ai €stdo separadas das ci is encontramos docum mais, de d nos tells, assirios e iranianos, deck $Ses dos povoados centrais, Nos niveis intenmediac cem novas “culturas”, refletidas pelas modifiers igs, oPare Serb cultures”, rfl pelas modificagdes dos estilos SEEIICO & pelos nts finebres, pel introdugio da red da oer gradual substituicdo dos selos ilindri cas etc. Devem denotar a influéncia di pvodbon marcas etc, Deve incia de novos povoatios teams fae que se amalgamaram com a dos habitan- es , jo uma sociedade estratif i ges compostas. Entre a cultura al Ubaid e aes Jina Gao histérica ou dindstica primitiva, slogos distinguem ; , 0s arquedlogos distinguem pelo menos duas fases, Uruk e Jemdet Nasr, respectivament ambas representadas nfo s6 na Suméria, mas também, mai tarde, em_Acade, no extremo norte, fstneta dey een ) ma ‘confluéneia dos tios Diyala ¢ Tigre, préximo de Bagdé, © subindo 0 Eufrates até Mari, frente a embocadura do Khabur. Assim, também, dos registros escritos posteriores, os filélogos deduzem a prevenga de trés grupos lingiisticos: os jafetitas (conhecidos apenas por dedugées baseadas em alguns nomes de higar), os semitas (que falavam um idioma afim do hebraico e drabe) e os sumerianos que dominavam, (Ainda néo & possivel colocar tais rétulos Tngiiisticos as culturas identifieadas pelos arquedlogos, mas sabe-se que na Suméria escrevia-se 0 sumeriano antes do fim da fase Uruk, e que em Mari, pouco antes do inicio da fase barbaras dos primeiros idades “histéricas” muis wentos escritos e legiveis) que se acumularam, como levido as sucessivas reeonstru. 9 | 1p wevOLUGKO URBANA NA MESOPOTAMIA indst’ca primitiva, eram usados os simbolos sumerianos para Gimpeerigao de nomes semiticos.) rrar-se a fase Uruk em Erech, as ruinas das sucessivas aldeias j& tinham formado um tell de quase 20 Sretros de atura. No alto, jé nao nos encontramos no prado Ge wna aldeia, mas numa praga de cidade-catedral. No pri- meiro plano esto as ruinas de um templo gigantesco, medindo mais de 80 por 33 metrcs (cf. com os santuarios assirios mencionados no capitulo anterior), mais tarde dedicado & deusa Inanna. Atrds, ligada a0 templo de Anu, levanta-se uma montanha artificial ou ziggurat, de 11,5 metros de altura, feita de barro com tijclos secos ao sol. Suas encastas, porém, haviam sido consolidadas cravando-se no tijolo ainda umido milhares de cacos de cerimica. Uma escada Jeva ao alto, onde se fencontra uma plataforma coberta de asfalto, na qual hé uma Gminiatira, de templo, que mede mais de 24 por 18 metros, com amplo saléo dedicado ao culto e estreitas cimaras de cada Jado e im altar ou um idolo numa das extremidades. As pa- redes. de tijolos brancos € madeiras importadas, estavam orna- mentadas com nichos e contrafertes, bem como janelas para Hluminagao. As portas, enjos marcos eram de madeira de p.nho importada, estavam fechadas com esteiras. ‘A construgao desses templos monumentais € dessas montae wo nhas artificiais, a fabricagio de tijolos, e vasilhas de cerdmica, 2 importagao de madeira de pinho (vinda da Siria ow das Tontanhas iranionas), do lépis-lazili, chumbo e eabre para ddvenar os santwérios, pressupdem wina avbstancial forga de trabalho — uma grande populacio, Do ponto de vista do ta- manho, a cemunidade havia crescido de aldeia a aldeia, Havia enriquecido, também. Os artesios, jornaleiros e trabalhadores do transporte talvez tenham sido “voluntirios” inspirados por um entusiastno religio‘o. Mas se nfo recebiom pagamento pelo trabalho, pelo menos deviam ser alimentados enquanto trabalhavam. 1ss0 significa que havia um excedente de alimento para sua manu tenia. A fertilidade do solo, que capacitara o agricultor a produzir muite mais do que The era possivel consumir, pro- Porcionava tal excedente, Mas sua aplicagio aos templos Fugere algo cenfirmado pelos documentos posteriores: que os Antes de encer 7 ee Ae ‘deuses' con: servidores, Talver vam © ancestral comers oe scan © exced . 15 REVOUKAO UROANA NA MESCROTAMIA 108 — da terra to e dos Me: demos I is tc Pintanes podemos ler hoje. Como administradores riedades 4 um amo 2elos0 € 0s seus’ colegas da corporate pert J seacttS ed ie pcb mi ea Sa i recebimentos gastos com signos eseritos que plan devem ter contribu endidos por todos os clog suena ie arog, © interpret eserita, Pouco depois de 3000 a.C., a escrita se toma perfvitar tempos evar mente compresnsivcl aos filblgon moderns, ¢ of doctmentos Tesdo he com nos fu, aes er mln Com seus etamienos omo entre alone aes sumeranas iodo dindstico primitive, @ pre io ne “guns, Dbisbaros Ps meira metade do Tereeiro Milenio a ce A cidade propriamente dita esta circundada de um muro anos de tijolos e um fowo, 4 evjo abrigo o homem encontrou pela ; iat ¢ we Primeira vez um mundo proprio, relativamente protegide da morrer, individualmentee mantitham. Os sa Dressio imediata da rude Natureza. Erguese numa paisigem novos ocupantes, artifical de jardins, campos e pastagens em que foram trans- iowies mee formados os juncais des pantanos e 0 deserto, pela atividade coletiva das geragses precedentes, que construfram diques canais de escoamento, Os canais que drenam a terrae a tornam proveitosa também proporcionam aos cidadios dgua A construgio de um templo era uma sity € peixe, ¢ trazem aos cais mercadorias de lugares distantes, © trabalho de centenas de purticipantes dene nr eae fté em suas dimensdes materiais a cidade contrasta com e dirigido, 0 conjunto planejado antecipadamente com exatidio, a aldeia antiga. Embora insignificante em comparagio com Os contornos do templo eram tracados com cordas antes de Londres ou Nova York, representa, no obstante, uma nova se comegar a levantar as paredes. O plano fundamental de um peeaeto. Sa. Roweatee brpane: Ur isomieevatcsoals,perics templo, marcado no chio betuminoso pelas finas linhas vere 5 ees ies ere de 2 pars. Ob meen de Roe melhas de um cordao colorido, foi encontrado no alto de uma aed 2 tuasmilhas quedradas. Um. guyers nador de Lagash, uma das menores cidades da Suméria, sobre a qual dispomos de excelentes informagées, alega rcinar sabre dez “‘shars” de homens ~ em niimeros redondos literale mente 36 mil, € talvez relatives apenas a homens adultos. AS montanha artificial em Erech, sendo muito anterior a0 que descrevemos linhas atrés. Temos pins de templos, desenha- dos em escala nas placas de argila, relativos a outras cidades épocas mais recentes. Os sumerianos acreditavam que os auaces de Lagat, Uae & ReauiaN ee core oe de ép« populagdes Bi i proprios deuses desenhavam esses planos, revelando-os aos 419.000, 16.000 e 12.000, respectivamente, durante 0 Terceiro Fonbens em sophos. Mas os verdadeiros arquitetos eram, pro- Milenio, vavelmente, os sacerdotes. ke A alee eppiritual e seentmica oo. ove onjunto Ca : i corresponde ainda A fase Us tava expressa da forma mais evidente nos templos dos deuses, Num templo _ "rade ccguinie em Acade, foram des: erguidos sobre plataformas artificiais, dominados pelo ziggurat, em Erech, © também i igravadas com desenhos e s1imeros, fmus compreendendo também celeiros, armazéns ¢ oficinas. Os cobertas placas de are! Jas mais antigas placas que Gouses, em seu cariter de representantes da tribo dos clis, Sao célculos, precussores diretos 99 98 © QUE ACONTECEY NA HISTOR, so donos dos campos de plantio criados A terra da cidade, sparentemente, jae de pat balla sox vidual, enquanto os pastos ecntinuam de proofed. di © territério tribal de Lagash, por exemplo, bers neg cme Bropriedades de vmas inte deidades, Provavelmente deen” las pelo principal deus da cidade ou tribo, Sun cto omnes a enntabilidade de seu templo consenmucst men ee ossula 17 mifhas quadradas: Como no caso dy ter wit} Je um cla birbaro, 0 uso de trés quartas partes dew evel ficie, dividida em parcelas de dimensdes vaniaveis, era enteen a familias individuais, O restante, conservado por Bau stn, “propriedade pessoal”, era trabalhado por assaluiados, ano. datirios que pagavam como renda 0 equivalente de um ue, ou oitavo do produzido, ou pelo trabalho habitual dos restantes membros do cla. Em seu templo trabalhavam 21 padeiros, recebendo “salérios" em cevada e sendo auxiliados por 27 escravas; 25 cervejeiros, com scus ajudantes escravos; 40 mulheres que pre- paravam a la dos rebanhos da deusa, fiandeiras, tecelds, um ferreiro e outros artesdos, funcicndrios amanuenses e sacerdo- tes. O templo contava também com equipamento que confiava a seus empregados: ferramentas de metal, arados, animais para © trabalho, carretas € barcos. Baii possuia ainda an'mais re- produtores, inclusive um touro reprcdutor importado de Elam. (O gado estava sujeito & degenerescéncia nas planicies quentes, se no fosse cruzado com as ragas da montanha.) Em conseqiiéncia, 0 templo aparece como uma espécie de casa divina, versio enormemente aumentada da casa pa- triarcal da barbarie, mas na qual as diversas tarefas antes realizadas coletivamente peles membros do domicilio neolitico estavam divididas entre especialistas, individualmente concen- trados na execugdo de uma das fungées que na economia neolitica seria apenas um dos aspectos da atividade didria, As diferentes operacdes da indistria téxtil, por exemplo, exe- cutadas pela dona de casa barbara, foram distribuidas entre trés grupos diverscs de artesios. Os especialistas, afastados assim da produgao direta de alimento, sio mantidos pelos exce- | dentes que os arrendatérios do deus colhem e atmazenam, 100 1A REVOLUGAO URBANA NA MESOROTAWA A nova clase de artesios especializados que jurgia antes da revolugao é abastecida rio Petts do mesmo modo e se enquatira facie movie na erga do tole Marve oth oa alimento e a moradia, 0 ferreito, por exemplo, perdia « liner: dade €0 presto que 0 oflcis he havis congue na ber barie. Tem de vender a habilidade e seus produtos ao chele da casa, e dela dependerd para 0 armaznamento de. soa mater prima, A meima singe pea abe oon artes je surgem mais ou menos na mesma epoca vidraccitos joalheisos, gravadores de selos. _ _= sistema das casas divinas levou a exploragio racional da terra, i manutengio dov cana exsencats © b prodgae de um excedente em proporcies suficientes para. manter uma opulagio notavelmente maior, Mas as coat divinas mio erm fechadas em si mesmas, embora unidas sob 0 dominio de Ningirsu, A pcpulacio urbana esté longe de ser totalmente compreendida pela enumcragdo anterior, baseada em primi- tivas folhas de pagamentos dos templos. Incluia também mer- cadores profissicnais ou comerciantes, que no pertenciam a uma casa divina em particular, de forma que poucas vezes fir guravam nas listas de empregados que sio a. prine pal fonte para determinar as profissGes do periodo dinéstico primitivo. De qualquer modo, © registro arqueologico cferece provas abundantes da atividade dos comerciantes. As importagdes, como jé assinalamos, eram fundamentais para a vida numa planicie de aluviio, Cerca de 3000 a.C., 0 cobre cu o bronze, madeira para con:trugao, pedra, pelo menos para moinhos de mio e encaixes de porta (no Oriente antigo, as poitas de madeira néo tinham goncos, girando sobre uina edra furada colocada na base do umbral), haviam-se trans formado em necessidades para a populagio urbana, O our, | a prata, o chumbo, 0 lipis-tazili e outras substincias preciosas | fotum considerados também come necessidades para os deuses, Esses materiais e outros eram importados com bastante regula- ridade, a julgar pelas quantidudes encontradas nas ruinas ¢ principalmente nas tumbas, a partir da fase de Jemdet. O cobre vinha prineipalmente de Oman (Magan) no golfo Pér- sico, mas também era provavel que chegasse das_montanhas orientais, O estanho talvez fosse obtido cm Drangiana, no Tra 201 © QUE Aconare os CEU NA Hstong oriental, na Siria, na Asia Menor, 1. Ov até Os montes Tauro eram uma importante fonte de vas EUTpa, bo. A madeira vinha das montanhas do noroste 2. © Chum. cadeias das costas da Siria. A melhor pedra arg © (al¥ez das © lipis-lazili de Badakshan, no Nordeste do Afee <7 madrepérolas do golfo Pérsico, as conchas da Indi eta, a Na realidade, 0 comércio era tio intenso ¢ as Peninsular, artigos manufaturados das cidades do vale do Indg, 724 amuletos, contas € talvez até jarros de cerdmica, SI © pessoal que se dedicava a esse negécio deve ter sid heterogeneo. Pelos motivos expostos no capitulo 3 tala fee? recrutado parcialmente entre os selva 8 sens que sobreviver, nos limites do deserto, ou entre as tribos nd‘mades dedicadas princ'palmente ao pastoreio, E bem possive] que tenham side 0s semitas, que em periodos histéricos posteribres se destaca ram, em toda parte, como comerciantes. As condigies do comér- cio eram duras: as caravanas tinham de atravessar pntanos, desertos e montanhas. As flotilhas nao s6 tinham que se arras” tar pelos canais e passagens tortuosas entre bancos de areia e pantanos, mas também desafiar as Aguas abertas do golfo Pérsico € talvez as do mar da Arabia, Tinham de atravessar territérios de tribos estrangeiras, convencendo-as, com presen tes ou pela forga das armas, a permitir a passagem e fornecer Agua e outras coisas essenciais. O transporte tornava-se, assim, caro, Os negociantes necessitavam, além das mercadorias, de suprimentos € equipamento pare a viagem, bem como recursos para pagar os selvagens ou defender-se deles, Nos pontos terminais devam estar instaladas agéncias mais ou menos permanentes, para guardar fretes cargas, tal cong © cao eomeaien Ae Europa estabeleceram *fé- bricas” e colénias nas costas da Africa e China, ou nas cidades do Levante e Istambul. Ficaram muitos documentos € cartas comerciais de uma dessas colénias mercantis estabelecidas no comego do Segundo Milenio, em Kanes, no planalto da Asia Menor, e que se dedicava a exploragio do cobre, prata 0 chumbo das minas turcas. Referéncias feitas nas epopéias posteriores indicam que essa coldnia jé existia no ano 2500 a.C. Devido a essas condigées, 0 “‘comércio” no Oriente era, quanto a difusao da cultura, um fator mais poderoso do que 102 [A REVOLUGAO URBANA NA MESOPOTAMIA hoje. Os artesios livres podiam viajar com as caravanas, em busca de mercado para sua habilidade, ao passo que os escra- vos formavam parte da mercadoria. Juntamente com toda a caravana ou tripulagdo do navio, deviam hospedar-se na cida- de de destino, Estrangeiros em ‘terra estranha, procuravam 0 conforto de sua religiio, tal como as coldnias inglesas num ‘pais catblico ou maometano desejam um servigo anglicano todos 0s domingos. Uma cena esculpida num jarro por vm artista sumeriano local, encontrada nas ruinas de uma cidade sobre 0 Diyala, mostra um culto indiano que se celebrava aparentemente num santudrio local em Acade. Se os cultos feram assim transmitidos, as artes e oficios steis também diam ser. O comércio promovia o intercimbio da experiéncia jumana, Nessas condigdes 0 comércio, sendo essencial & sua mar nutengio, aumentaria a heterogeneidade da populagio das cidades. Estas, segundo o testemunho da Filologia e Arqueo logia, {4 consistiam em valores linguisticos ¢ culturais diferen- tes. Os comerciantes indispensdveis, compelidos pela profissio f@ viajar, nao podiam ser obrigados a negociar apenas numa cidade, ¢ os artesios ainda podiam vender no exterior seus conhecimentos. As crdnicas primitivas de Lagash falam de um homem da vizinha cidade de Umma que trabalhava na cerve- jana de Bai O principio bésbaro do parentesco tomava-se, como ordem social que unia tais elementos dispares, apenas uma ficgdo jé desgastada, ‘Tracos de tctemismo podem, na verdade, ser percebidos nos simbolos das deidades e nas representagies das cenas de culto, cujos participantes estéo vestidos como animais. As propriedades divinas, das quais parcelas eram entregues — Talver periodicamente — a0 “povo” da deidade, derivam provavelmente das tera de propriedade comuna! distribuidas Tnualmente, para cultivo, pelos membros do cli, em muitas Sociedades "basbaras, Mas" qualquer aprovimagie. quanto fgualdade dos Totes desse cultvo comum 6 desaparecers Bpoca das mais remotas erdnicas de Lagash, Enquanto mos tomponentes do “povo” de Bait possuiam apenas de 08 8 Ge ueres, um alto’ funcionério de templo tinha 355 aces, ‘Além disso, embora todos os membros de uma casa 103 © QUE ACONTE ACONTECE NA HistoRig uidescem ser, em tcoria, servidores do deus Ge" servigo eram muito diferentes para oe ngs eondisoes sacerdotais, de um lado, os arrendatirios, asoneyn nt adores cravos, do outro. Os arrendatirios ¢ os trabalhaalese es © = recebinm apenas uma fracio do produto de seus taba P® © excedente reunido pelo templo, eram pagos oe nyc cervejeiros ¢ outros artesios, que recebiam apenas umn geo salirio em cevada, Os eseravos que os ajudavam recebiam estritamente necessério para sua manutengi a Na realidade, antes do ano 2500 aC, a i deixado de ser um lugar feliz, Os abusos que eon sua harmonia sio expostos por Urukagina, de Lagushe ann decreto cujo objetivo era restaurar a ordem antiga, “tal como existira desde 0 prinefpio™. Sacerdotes favorecidos praticavan diversas formas de extorsio (cobrando demais pelas enterron por exemplo) e consideravam a terra, o gado, 0 cquipamento © os escravos do deus (ou seja, da comunidade) como so fossem propriedade privada e escravos pessoais. Foi entio que 0 “Sumo Sacerdcte penetrou no jardim dos pobres... -.-€ ali colheu madeira”, “Se a casa de um homem importante fosse contigua a de um cidadao comum", 0 primeiro podia anexar a morada humilde sem pagar ao dono a devida ‘com- pensagao”. “Se o sidito tivesse um asno e seu senhor lhe dis- sesse “Compri-lo-ei”, 0 privilegiado comprador raramente pagava uma soma que correspondesse aos desejos do proprie- tirio”. Apesar de sua linguagem rustica, esse texto arcaico nos deixa entrever, sem possibilidade de engano, um verdadeiro conflito de classes. O excedente produzido pela nova economia concentrava- se, na realidade, nas maos de uma classe relutivamente redu- zida, Essa concentragio era necessaria, sem duvida, para a acumulagio das pequenas contribuigées individuais em reser- vas suficientes para as grandes tarefas impostas a scciedade civilizada, Mas dividiu a sociedade em classes e provocou wma contradigao a mais na nova econcmia, pois limitou a expansio da indistria e, em conseqiiéncia, a absorgio da populagao rural excedente, Como somente os “deuses” e seus servidores favoritos es- tavam em ccndigées de comprar os produtos das novas indis- 104 [A REVOLUGAO URBANA NA MESOPOTAMIA trias, a demanda efetiva desses produtos continuow sendo re- duzida. Apenas uns poucos artesiox podiam conseguir man- ter-se produzindo para atendé-ta. Afora isso, como pa econo- mia neolitica, os filhos dos prolif'cos camponeses tinham de encontrar nevas terras para cultivar. Assim, embora as obras de recnperagao, a uta contra o deserto ¢ o pintano pudes:em satisfazer essa necessidade, a guerra contra cidades vizinhas, para anoderar-se das terras que seus cidadaos j& havinm tor- nado frutiferas, poderia parecer um caminbo mais facil, tal ‘como numa comunidade barbara, Sein como for, emhora todas as cidndes da Snméria e ra uniforme, e embora on prrque todas dependescem das Aguas dos mesmos tios, cada wma era politicamerte independente ¢ estava pronta a Tutar cortra sens vizinhos. Os mais antiqos documentos legiveis, que nao as 1a- minas de cantabilidade, descrevem guerras entre as cidades adiacentes de Lagach e Umma, pela presse de uma faixa de ter- it Os implementos bélicos de metal constitem tum e'emento destacado entre os pertences colocados em todas as tumbas primitivas. Até mesmo na fase Uruk. certos selos mostravam gravuras de cenas de batalha. Naturalmerte os dadaos tinham também que repelir os assaltos dos birbaros famintos, vindos dos limites do de'erto, € que Tlancavam ofha- es invejosos a riqueza urbana e as terras das cidades, criadas por séculos de trabalho. Acade tivessem wma cult Para lim'tar tais conflitos tomou-se necessaria uma nova institigao. No principio do. perfodo histérico havia surgido © | E'tado, mas estava personifieado pela figura tiniea do gover~ ‘nacor wrbano, ow rei, que podia ser simplemente 0 “rei do cereal” e 0 chefe guerreiro funcides € com maiores podere Os servideres sumérios posteriores afirmavam que a “realeza descera dos céus” milhares de anos antes do dilivio mitico, ou seja, 0 dikivio de Noé segundo a tradicio hebraica. No regis- tro arqheolég’co, 08 palécios e as insignias reais estio inteira~ mente ofuscados pelos templos e seu mobilidrio, durante as Faces Uruk e Jemuct Nasr. Os simbolos, porcin, existentes em alguns. selos primitivos talvez sejam representagbes, pictorieas de titulos reais. E tao logo aparecem as inscrighes decifriveis, talvez cerca de 2750 a.C,, surgem os nomes “reais”, 105 © QUE ACONTECEY NA HistORig Os_primeiros governadores urbanos_geral faa Sgteltrdeare Marios” (do: deus Siimtitus raramente lugal, ou “rei”, Mas oon resentanter tow tado, © governador de Lagash, Urukagina, inemeer ee oe de reforma mencionado linhas atrds, para repriny Mo Uoereto dos ricos. Aparece ali, na realidade, “como win podey eases temente superior a sociedade, mas necessirio. piea mown eo conflito de classes e manté-lo dentro dos limites de oie? © governador urbano devia sua autoridade, de an uma identificagio magica com o deus principal aa ped que significa que talvez fosse 0 ator que tepresentava o rept da deidade em a'gum drama de fertilidade, tal como decree vemos no capitulo 3. E certo que em épocas posteriores o rel Personificava o deus nos grandes festivais anuais. Por cutee Jado, a autoridade magica do ishokku era reforgada, pelo me nos, pelo poder temporal que Ihe conferia a qualidade de chefe durante a guerra. O rei vencedor, esmagando os inimic Bos, € um dos motivos prediletos da arte dindstica primitv Como representante na terra do chefe do pantedo local, © governador urbano unia as diversas “casas divinas” numa espécie de familia maior, se bem que de forma puramente metaférica, Em Lagash, as diversas deidades adoradas eram consideradas como aparentadas tal cemo os membros de uma casa patriarcal, Em consequéncia, sob o reinado de Urukagina, 0 ishakku era o sumo sacerdote do principal deus, Ningirsu, € sua esposa era a suma sacerdotisa de Bai, consorte de Ningirsu, € assim sucessivamente, Nao obstunte, nos primeiros documen= tos historicos so os deuses das cidades que vio A guerra e ob- tém vitéria. O prémio prometido néo & mencionado como uma faixa de territério de Lagash, por exemplo, mas como o campo de Ningirsu, Quando se celebra um tratado de paz, este € ro digido em nome das deidades dos beligerantes. Como representante do deus “tribal”, 0 ishakku recebe a maior parcela das terras do cli — em Lagash, dispunha de 608 acres s6 de propriedade de Baii — e “‘impostos”, que corres- pondem a fcrma civilizada dos presentes habitualmente ofere- cides a0 chefe birtaro. Em nome do deus, ele também rece- bia a maior parte do saque realizado a favor da deidade, O governador urbano chegou a concentrar dessa forma uma con- 106 [A REVOLUGAO URBANA NA MESOPOTAMIA siderdvel parte do produto excedente da terra, Os préprios Acuses podiam tornar-se devedores da generosidade do gover- nador. As inscrigdes primitivas falam com orgulho especial da construgo ou ornamentagio dos templos. Tais inserigses, po- rém, lembram também a aplicagio do excedente acumulado ‘de canais ou celeiros. Rugis- tram ainda as expedigées enviadas a Oman e outros palses, em busca de metal, pedra, madeira e outras matérias-primas, neces‘érias aos artesdos, que se tormavam assim devedores do ishakku pelo material de que necessitavam, "A populagio in- dustrial dependia do governador urbano quanto a suas maté- rias-primas”. Na verdade, depois do ano 2500 a.C., 0 comér- cio de metais, vital para ‘a inchistria de armamentos, transfor- ‘mou-se, pelo menos durante certos perodos e teoricamente, num monopdlio real. De qualquer forma, o rei, como’o Estado, era © comprador principal do metal e artigos similares, dominando assim 0 mercado. Nao obstante, o Estado urbano da Mesopotimia nao al- cangou (como afirma Heichelheim) a posicio predominante de um Estado totalitario moderno. O ishakku no foi nunes to- talmente um Fibrer. As corporagdes do templo podiam manter sempre uma certa liberdade eccnémica e intelectual; por mais | que dependessem da magnanimidade do governador urbino, as corporagdes perpétuas de sacerdotes eram mais permarien- tes do que qualquer dinastia temporal, Os governantes podiam ser depostos por revolugdes internas ou dominados pelos rivais estrangeiros, O clero conservava sua continuidade, apesar das modificagdes dindsticas. Os conquistadores geralmente respei- tavam os templas e freqiientemente as embelezavam com a mesma generosidade dos governantes nativos. Ao mesmo tem= , sempre antes de 2400 a.C. e freqiientemente a partir Bel ats 1800 e.C, a pequens zegllo. da Suméris e Acad fot ‘ividida numa quantiGade de Extados urbanos independentes, que ofereciam mercados altemativos para os artigos exdticos, 03 produtos industriais € os oficios dos artesios. Naturalmente, os governantes urbanos ambiciosos busca yam na contradigéo mencionada paginas atrés uma desculpa para acabar com tal concorréncia, estabelecendo hegemonias para si mesmos, seus deuses ¢ cidades. Cerca do ano 2000 em obras. produtivas: constr 107 © QUE ACONTECEY NA Histon, aC, 08 historiadores sacerdotais da Su, que uma cidade ou ontea desfrutara semp: ma sobre toda a terra, Alguns historiadores viram na adoragao universal de deidades como Enlil et pal templo estava em Nippur, o reflexo da uni ‘pul époea pré-histériea. Mas os documentos contempur sobreviveram nao constituem provas definidas dos de uma cidade sobre todas as demais. até cerca d aC, data cm que Lugalzageizi de Umma conquiston ce miimero de cidades. Mas também seu “império" for trancnee rio, Foi wm pouco mais tarde que wm semita, Sargia, wate nador adventicio de uma cidade nova, Agade (a tradigao rem ter sido ele filho de um jardineiro) realizou pela primeira vex ama unificacdo verdadeira, que durou cerca de um «éculo, Essa realizago foi repetida pelos reis sumerianos de Ur, Han ribi da Babildnia e outros. Mas com Sargio termina o periodo dinastico primitivo. iméria_acreditavam Fe soberania supree modernos, também, Prine polities da fineos que Uupremacia lo ano 2500 A nova ordem econémica nfo sé investiu a chefia barbara da santidade da realeza e conferiu a seus possuidores a ator tidade de um Estado territorial, mas t:mbém pela sua pripria natureza provceou um métedo novo de transm'tir a experién- cia humana — preciso e impessoal — e produziu ciéncias de de um tipo novo, exato e capaz de prever com perfeigay os resultados. Jé mencionamos a invengZo da escrita e a eriagio de um alfabeto durante a fase Uruk na Suméria, Isso merece mais do que uma simples referéncia, nio s6 pelas consequen- cias portentosas que teve para a historia sub eqiiente da hu- manidade, mas também porque em nenhuma outra parte do mundo 0 proceso de formagio de um sistema de escrita — uma linguagem escrita, na verdude — esta ilustrado por toda una série de documentos contemporanecs, das primeiras ex- Periencias até a adogio final de uma ortografia convencional. Iso porque, afortunadamente para nés, desde o principio os stmerianos empregaram para sua escrita liminas de barro que, cezidas, tcrnaram-se impereciveis. Como jé fci expliendo, as corporagies perpétuas de sacer- dotes viram-se encarregadas da pesada tarefa de administrar 4 acumulagao sem precedente de bens pertencentes as deida- des sumerianas. A administragdo das rendas do templo por 168 ‘A REVOLUGA URBANA NA MESOPOTAMIA cessas corporagées, em nome de um senhor divino, exigia cAl- tculos precises de todas as receitas e de:pesas: os servidores de tom deus deviam ser capazes de prestar contas de sua adminis- tragdo. © registro tinha de ser inteligivel nao s6 para quem 0 fazia, mas também para seu sucessor € tedos os participantes dha empresa comm. Nenhum sistema pesca como es 10s worn Tengo, ‘por exemplo, podiam ser iiteis. O chefe da cervejaria devia amtor que quantidade de cevada recebia,e quanta cer- veja ¢ de que categoria entregava, com simbolos que nav sé The recordavam algo, ow seja, que Ihe significavam algo, mas também podiam ser entendidos pelo seu sucessor, pelo inspe- tor dos eeleiros € pelos outros colegas. ‘A invengio de um sistema de escrita foi apenas um acor- do sobre 0s significados que deviam ser atribuidos aos simbo- fos pela cociedade que deles se ulilizava Para seus objetivos comuns, Os simbolos (caracteres) das pranchas mais antigas sio principalmente figuras auto-explicativas, Podemos chamé- los de pictogramas (e de pictogréfica a escrita formada com eles), Mas até 0 pictograma mais simples & mais ou menos con- vencional, Para denotar um asno, ndo & necessario desenhar trabalhcsamente na prancheta 0 retrato minucioso do animal — bastard um esboco simplificado, As abreviaturas usadas nas pranchas mais antigas mostram certa variedade, que se vai aos poucos uniformizando. Isso significa que gradualmente se es- tabelecen um acordo sobre determinada versio simbélica de um asno, sancionada pelo consenso da corporacao. Essa idéia constituin apenas 0 desenvolvimento de outra, Smplicita nos desenhos de sclos da época al'Ubaid, pois estes haviam sido impressos no barro, jA ecm um sentido simbélico. Também as abreviaturas e-peciais utilizadas como caracteres foram sugeridas, em certos casos, pelos selos. Os desenhos no poderiam representar convenientemente muitas coisas cujo registro era necessério. Essa dificuldade foi superada atribuindo-se a um desenbo um significado completa mente arbitrério. Escolheu-se, por exemplo, um jarra de b'co para designar determinada medida de volume, digamos um gur. Desenhando-se tragos no jarro, um gur de cevada (dois fragos) podia ser distinguido de um gur de cerveja (trés tra- {g05). Isso se fazia no Quarto Milenio a.C. Os signos ndo re- 108 (© QUE ACONTECEU NA HISTORIA yresentavam apenas oes, mas também atin ou palavras emes) Em linguagem técnica, a escrita jé nao era puramen- te gn iastambém tdeogrd Terie Sido! possivel, com a adogio de novas figuras e estabelecendo-se novas modi. fieagdes e combinagdes arbitrérias, ampliar © sistema e com ele exprimir a maioria das idéias que se deviam registrar. Pos- teriormente, foi 0 que ocorreu com a escrita chinesa. toe ysimerianes adetaram um curso diferente. A maiuria los substantivos comuns sumerianos era de palavras de w de, amings comune sumerianos op de pera de na ma cabega humana, que simbolizava a palavra ka ¢ a i “boca”, significava também o som ka. Adquiriu, assim, um valor fonético e podia ser usada como simbolo fonético, ou fonograma. Com as combinagées de tais fonogramas, era pos- sivel pronunciar certos nomes e palavras compostas, a0 invés de ingentar para elas novos signos (idengramas). Os sumcria nos desenvolveram essa idéia no periodo dindstico primitive. Conservaram uma certa quantidade de desenhos convencionais, usando-os ainda como ideogramas. Mas também os utilizavam foneticamente para pronunciar palavras. Freqiientemente,

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