Sei sulla pagina 1di 5
i : Estudos em Design Voll, n.1, jul. 1995 O Nome da Rosa - Um caso de metodologia de projeto Isabella Perrotta Tomando como exemplo o desenvolvimento do romance O Nome da Rosa de Umberto Eco, analisamos as etapas do processo de criagéio em geral, e especificamente na frea de design. { Se a rosa é a rosa, 0 que é a rosa? Um nome pr'aquilo que j tem nome, ou 0 nome daquela que nunca o teve? Palavra. Que fala do que se acabou ou do que nunca existiu Puro simbolo. Muitas definig6es. i A Palavra é a coisa mais preciosa para Umberto Eco, o mais importante todrico de comunicagdo contemporaneo, pai de A Obra Aberta ¢ autor do romance O Nome da Rosa. Ele se recusa a responder o significado do titulo deste seu romance, se mesmo é uma obra aberta ou com que personagem se identifica. Porém admite que nada consola mais um autor do que descobrir na sua obra Ieituras nas quais nao pensava ¢ que os leitores Ihe sugerem. Diz que 0 autor nao deve interpretar seu trabalho, que deveria morrer depois de escrever, para néo perturbar 0 caminho do texto... Mas como excelente tedrico que é, sente prazer em dizer, nao porqué, mas de que modo resolveu 0 7 “PROBLEMA TECNICO” que ¢ a produgdo de um romance. Para ele quando um escritor ou artista diz que trabalhou sem pensar nas regras do processo, quer dizer apenas que trabalhava sem saber que conhecia as regras E justamente 0 processo - ou as regras - do trabalho de criagaio que vamos analisar. ‘Tomamos como exemplo o processo de criago de O Nome da Rosa, para compara-lo com 0 proceso de criagdo de qualquer obra, inclusive de design. Design é projeto. E projetar é uma metodologia O termo design se universalizou vindo do latim. Designio - intento, intengdo, plano, projeto. Talvez intento seja 0 inicio, a idgia; projeto 0 meio, 0 processo; resultando no produto (ainda que grafico) . Fazer design é criar, conceber, ter idéias, insights. Mas nosso verdadeiro trabalho 6 transformar as idéias em alguma coisa conereta ¢ objetiva, um produto que atenda critérios especificos. Isto & projetar. E projetar é uma metodologia. Ser criativo nao ¢ ter que criar sempre coisas novas, mas saber gerir problemas diferentes. E se toda criagao é “20% inspiragaio ¢ 80% expiragio”, estes 80% devem ser ajudados pelas técnicas metodolégicas. F claro que quanto mais pratica o profissional tém, e quanto mais simples for 0 seu problema, mais instintivamente ele percorre os passos metodologicos e menos conta se da de que eles existem. Podemos, porém, afirmar que a 98 criatividade nao é um dom divino proporcionado a poucos eleitos. Ela esta diretamente relacionada com a formagao cultural ¢ intelectual do individuo, (pois toda idéia parte do que se conhece), sua capacidade de analise ¢ analogias ¢ as técnicas que domina, tanto para expressar suas idéias quanto para organizar o seu problema, Para realizar O Nome da Rosa Umberto Eco utilizou toda a sua cerudigdo na concepgiio, ¢ muita técnica na realizagio 5 livros costumam definir metodologia como 0 caminho a ser percorrido para a solugo de um problema. Este caminho é, de uma maneira superficial, dividido nas seguintes etapas = definigdo do problema = levantamento de dados - determinagdo de limites = geragdo de altemativas para solugio do problema = avaliagio das alternativas = revislio (redesenho, no caso do design) = detalhamento = acabamento Em relagio ao romance Nome da Rosa: as duas etapas iniciais deste roteiro estado bastante bem ilustradas com os exemplos abaixo, quanto aos limites, perceberemos aqueles impostos pelo rigor de coeréncia historica do autor, além dos comerciais, aqui no mencionados, mas também impostos pelo editor. Alternativas referentes a Estudos em Design Voll, n.1, jul. 1995 cada sub-parte do romance foram sendo desenvolvidas paralelamente, algumas foram “redesenhadas”, outras postas de lado, Detalhamento e muito pente fino néo faltaram em mais de dois anos de trabalho. A vontade de envenenar um monge - 0 problema Diz ele que este era um desejo antigo, ¢ dai nasceu o livro, Na verdade queria escrever um romance - que seria o seu primeiro, Queria que fosse interessante, Uma historia com mistérios, eventos politicos. teolégicos e ambigitidades Uma historia que divertisse, que fosse agradavel de ler, de calafrios metafisicos. Escolheu 0 romance policial, que tanto encanta o grande piiblico. Segundo Eco, encanta porque representa uma historia de conjetura. “De quem éa culpa?” Esta ¢ a pergunta basica da filosofia, da psicanilise e do romance policial Estava ai a enunciagao do seu problema de projeto: escrever um romance policial interessante que tratasse de assuntos politicos ¢ teolégicos. Ah, sim... e queria envenenar um monge. Ai comega seu levantamento de dados: leu um tratado sobre venenos. Nao satisfeito, pediu ajuda a um bidlogo sobre a possibilidade de criar uma sustincia absorvivel pela pele no manuseio de alguma coisa, Esta coisa, como no poderia deixar de ser, seria um Livro. E assim, perceberemos em toda a histéria varias referéncias ao universo ¢ as paixdes do erudito Umberto Eco. (© Nome da Rosa - Um caso de metodologia de projeto A ambientagao / Construgao de um mundo A principio seus monges deveriam viver num mosteiro contempordneo, mas como os mosteiros ou abadias de hoje ainda vivem de muitas lembrangas medievais, comegou a estudar seu guardados sobre o assunto. A certa altura disse para si mesmo que, como a Idade Média era o seu imaginario cotidiano, seria melhor escrever um romance que se desenvolvesse diretamente neste periodo. Além de ler sobre, leu e releu os préprios cronistas medievais para adquirir seu ritmo ¢ sua candura, E durante um ano construiu o mundo onde a hist6ria se passaria - uma abadia medieval, ao norte da Itélia, com uma grande biblioteca (ponto focal do crime): ~ LIVROS: fez varias listas dos livros que poderiam ser encontrados em bibliotecas medievais, ~ PERSONAGENS: catalogou muitos, reais ou imaginarios, dos quais varios nao chegaram a aparecer na trama; - ARQUITETURA: fez um levantamento através de fotos e desenhos, de forma a estabelecer a planta da abadia, suas disténcias e nimeros de degraus de uma escada. Desta maneira seus didlogos tomnaram-se cinematograficos por que eram escritos sob o olhar de uma planta baixa real, durando o tempo exato necessario para se percorrer uma determinada distancia ~ HISTORIA: a inquisigao ¢ a questo da filosofia de pobreza franciscana seriam 9 importantes para a trama, mas como as caracteristicas que queria para seu personagem - investigador inglés - encaixavam-se melhor no séc. XIV, a historia se passa neste século - 1327 - endo no XII ou XIII = PRECISAO: obedecendo aos fatos reais, em dezembro de 1327 um dos personagens - Michele - jé estaria fora da Italia, logo os acontecimentos se desenrolariam em novembro. Mas talvez fosse muito cedo para matar um porco - que s6 acontece no inverno, dai decidiu-se pelo final de novembro, ¢ no alto de uma montanha, onde ja seria possivel estar nevando nesta época (A morte do porco era necessaria para que 0 segundo cadaver fosse encontrado num barril de sangue, obedecendo os pressigios da segunda trombeta do Apocalipse.) - LABIRINTO: A famosa biblioteca tinha a forma de um labirinto (com todos os significados que isso possa ter). Leu um estudo sobre labirintos, e durante dois o1 trds meses de trabalho construiu 0 seu que precisava ser fechado, ndo ao ar livre como normalmente so os labirintos, porém com frestas ¢ arejamento necessarios para poder incendiar-se A mascara Umberto Eco ndo decidiu contar apenas sobre a idade média mas na idade média, ¢ pela boca de um cronista da época - 0 grande teérico e eritico 100 ra um narrador principiante, tinha vergonha de contar. Sentia-se exposto. O jovem Adso - personagem narrador - foi ideal pois registra tudo com a fidelidade fotografica de um adolescente, faz perguntas como as de quem desconhece o mundo ¢ faz compreender tudo através das palavras de alguém que no compreende nada. (Este foi inclusive um dos fatores que permitiram a legibilidade do romance por parte dos leitores menos sofisticados.) A narrativa ~. toda histéria conta uma historia j4 contada. Por esta raziio, minha historia s6 podia comegar com um manuscrito encontrado - uma citagaio. Assim escrevi logo a introdugo, colocando minha narragio em um quarto nivel de encaixe, dentro de outras trés narragdes: eu digo que Vallet dizia que Mabillon dissera que Adso disse...” Se toda histéria conta uma historia ja contada, reafirmamos que toda criagao recria alguma coisa existente. Nao é uma dadiva caida dos ccéus, ¢ precisa contar com um criador possuidor de referéncias. A Construcao do Leitor As cem primeiras paginas do romance, dificeis € cansativas, so penitenciais mesmo. Destinam-se a preparar o leitor para o ritmo dos acontecimentos na abadia, Quem no conseguisse Ié-las, também nao conseguiria ler 0 resto do livro, Seria como nio conseguir subir studos em Design Vol, n.1, jul. 1995 teenie tlae ————— a colina, no alto da qual encontra-se a abadia, ¢ ficar nas encostas privando-se dos acontecimentos. O objetivo do escritor era desenhar um leitor, que superada a iniciagio, se tornasse um prisioneiro do texto, e para melhor conforto deste “usuario” foram “projetados” 0 ritmo e respiragao da narrativa Pode-se dizer que O Nome da Rosa é um Tomance pés-modemo, ¢ segundo Eco, a resposta pés-moderna ao modemo consiste em reconhecer que o passado, j que mio pode ser destruido porque sua destruigo leva ao siléncio, deve ser revisitado: com ironia, ¢ de maneira nao inocente, Nao s6 0 titulo simbélico, mas todo O Nome da Rosa, permite varias leituras nas entrelinhas da trama principal. Elas esto cheias de referencias cultas a hist6ria, 4 literatura ¢ 4 filosofia, E um labirinto de conjeturas que se constréi a parte do labirinto real. Tudo para o leitor (ou uma parte do universo de leitores que o livro atingiu) se divertir ? Esta era uma parte da emunciagiio de seu “problema”. Sem diivida Eco conseguiu realizar. E sem duivida ele também se divertiu bastante com algumas referéncias que talvez sé ele conhega. Este livro est longe de ser um livro simples, mas ‘mesmo 0 mais simples dos objetos ou o mais gestual dos quadros carregam por tras de si toda uma hist6ria de criagdio, Todo um reflexo de um determinado contexto. Bruno Munati, tebrico do design, diz que quando alguém fala “isso eu sei fazer”, significa que saberia refazé-lo, se ndo, ji 0 teria feito © Nome da Rosa - Um caso de metodologia de projeto Obs.: 0 texto de Umberto Eco que trata de seu provesso de criagio de O Nome da Rosa refere-se t trama de seu romance como histéria, € nunca como estéria, por i8s0 obedecemos seu critério, Sobre a Autora Isabella Perrota, Professora do Departamento de Artes da PUC-Rio; Designer, Sécia da Burton & Perrota Criagdo Visual ~ Rio de Janeiro, RI 101

Potrebbero piacerti anche