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DOIS BISPOS PORTUGUESES DA SEGUNDA METADE DO SECULO XII Armando Alberto MARTINS * «Entre 0 grandes encomendadares roménicas esto os bispos das dioceses (...) de Coimbra e Evora, os quais promoveram a construgao das catedraisy. CLA, Ferreira de Almeida, in Histéria da Arte em Portugal, Lisboa, Alfa, 1986, v. 3. p.l4. O século XII é, geralmente, considerado na histéria do Ocidente medieval coma um periodo de grande criatividade, renovacdo e desenvolvimento; alguns autores | 0 tém apelidado de «século de renascimento» cultural’, Do ponte de vista do impulso de construgdes arquitecténicas famosas, recordem-se apenas dois nomes que por si s4s sintetizam programas de larga visdo € eram simultaneamente sinais de grandes ambigées: 0 abade Suger de Saint Denis [1081-1151] € Diego Gelmirez [1100-1140], primeiro arcebispo de Compostela. Nao menos importantes foram, paralelamente ‘outros «construtores», como 0 bispo de Paris, Maurice de Sully [1160-1196] ou Jodo de Léon, bispo da antiga capital daquele reino. Se é verdade que ao longo da centiria muitas coisas mudaram com alguma celeridade, os ritmos de evolugdo foram desiguais quer nos vérios ramos do saber, quer nas varias 4reas do quadro geografico; de certo um dos espagos que maiores alteragGes conheceu foi a Peninsula Ibérica. Na histéria de Portugal é 0 tempo da fundagao da nacionalidade, do caldeamento cultural do mundo cristo com o muculmano depois das conquistas de Santarém e Lisboa’. Na segunda metade do século, faz-se a consolidagéo das conquistas a norte do Tejo e o avanco decisivo para o sul, até ao Algarve, que apenas seria conquistado, definitivamente. como sabemos, em meados da centuria seguinte, Por outro lado, na historia religiosa o século XII é 0 terminus da chamada cera mondsticas’, a que, segundo querem alguns, se seguiria <0 tempo das catedrais»*, isto &, a «era dos bispos», das cidades que renasciam, com as suas escolas, o seu mercado e a emergéncia da engenhosa actividade de artesdos, mercadores, legistas e outros letrados, bem como de muitos outros inventores da nova consciéncia da sociedade urbana. Esta observagao, sem deixar de ser verdadeira, é como todas as que rotulam perlodos e instituigdes, demasiado simplificadora, deixando de fora outras realidades igualmente importantes mas que, esbatidas pelo tempo e nao tendo deixado tracos muito duradoiros, tém sido mal avaliadas. Com efeito, e para voltarmos 8 nomenclatura citada, «era mondstica», que afirmam ter-se iniciado com 0 «pai da Europa», 5. Bento de Nursia, em meadas do século VI e canclufdo com «0 tiltimo dos Padres», S. Bernardo de Claraval, em 1154, sucede, de facto, aquilo que poderfamos chamar a «era canonical», isto é, 0 tempo da influéncia preponderante dos cénegos regrantes - esses ilustres esquecidos da historiografia contemporanea, até hd poucos anos’ - que fizeram a transigac do mosteiro para a cidade, prepararam 0 aparecimento dos Mendicantes e a7 ARMANDO ALBERTO MARTINS contribuiram para a afirmagao dos poderes episcopais reformados, quer tornando-se eles mesmos directos mentores - criando comunidades regrantes, reformando cabidos, ocupando sés episcopais, construindo catedrais, assumindo a direcqao de colegiadas - quer através de outros institutos regulares ou seculares, como exemplarmente se pode documentar na historia portuguesa de entdo. Foram grandes artifices do mundo novo que despontava com pujanga. Os dois "; no segundo documento, o terceiro rei de Portugal fazia a doagao de 600 morabitinos velhos «para @ obra da Sés“, Estas duas passagens parecem mosttar-nos com evidéncia, que entre os anos de 1188-1221, ao menos, havia em Evora obras da Sé E so indicativo, de certo, de ac¢3o do bispo nessas mesmas obras. Ou seja, D. Paio. 32 DOIS BISPOS PORTUGUESES DA SEGUNDA METADE DO SECULO XIL dificilmente pode ser desligado das obras de construgdo de uma Sé na cidade que Geraldo Sem Pavor conquistara, definitivamente, aos Mouros, em Setembro de 1165 Nao seria de grande atrevimento, tentar construir uma catedral numa cidade ainda de destino tao incerto face aos repetidos e temiveis ataques do poder muculmano quando to recentemente tadas as conquistas cristas a sul do Tejo tinham sido de novo perdidas® e Evora, s6 por um esforge herctileo e pela forca imbat{vel da sua Milfcis* conseguira manter-se de pé, qual ilha no meio de vasto mar encapelado? Pelo que acima ficou dito a cristandade alentejana tinham um bispo capaz de cusadias ¢ ¢ uma das formas de melhor garantir a seguranca era construir solidamente © bastiéo episcopal, protegendo-o com defensivas torres, sGlidos muros e alterosos contrafortes, face 20 exterior, mas organizando-o internamente dentro das suas muralhas, com uma igualmente sdlida armadura institucional. Resistente que fora A CGria romana ¢ 8 chancelaria metropolitana galega «construiriay, bem assente, a sua gteja episcopal, E depois, se necessdrio fosse nao seria ele capaz de estimular a que se empunhasse uma espada? Nao fora D. Paio, poucos anos antes, destemido condutor de aprestirias» nas terras baixas do Tejo, entre Alcoentre e Ria Maiar? Apesar de tudo, a sua cidade devia considerar-se tortaleza inexpugnavel, pois até D. Sancho | confiava em algumas das suas torres, tanto como nas de Coimbra, para, tranquilamente, af guardar parte do seu tesouro”’ © breve estudo de alguns aspectos mais conhecidos da accao destes dois bispos ducentistas portugueses impde, nao tanto que tiremos conclusdes, mas que retenhamos algumas ideias. Mostra-nos, em primeiro lugar que se trata de dois prelados muito actives © esclarecidos, bons conhecedores dos seus direitos © deveres na linha reformadora inaugurada nos finais do século XI pelos aclérigos e papas gregorianos» € aprofundada pelos sucessivos concllios lateranenses de 1123, 1139 1179, antes de, por forma mais solene, ser sancionada no IV concilio de Latrao de 1215 quando ambos jé tinham desaparecido Tal sangao, porém, nao encerraria o debate do século XII acerca da fungéo do bispo, da riqueza e da pobreza na igreja © sobre as ares eiclesiae» |de que a controvérsia entre Cister e Cluny eta apenas um aspecto]. Para muitos era valido o principio «qui seminat spiritualia debet recipere temparaliay e a pobreza devia ser para os homens da lgreja e nao para a lgreja, como o préprio papa Pascal Il aceitara, em J 116: cpossua, pois a greja, mae e senkora, Gens e coisas ¢ que as possa distribuir ¢ dar ‘ans seus filkas caraa melhor souber e lhe aprawvers® Homens preocupados em tornar fortes poderosas as suas igrejas, D. Miguel e D. Paio procuraram doté-las de bens materiais e prové-las dos equipamentos mais urgentes; tornaram-se verdadeiros «construtores»: de obras das suas sés e da organizacio patrimonial ¢ institucional que havia de perdurar muito para além deles mesmos. Face a essa imposigao debatem-se com problemas varios: de um lado a recuperacao de bens e direitos espoliados, do outro, a «personalizagdo das prebendas» e beneficios dos cabidos | a que logo se ligaria a possibilidade de nao residéncia |, as incertezas do espaco e do tempo, com a urgéncia de quase tudo ter que realizar desde a hase, enfrentam a oposigao de poderosos ¢ de institutos que, de alguma forma, Jhes poderiam ser rivais: num caso o mosteiro de Santa Cruz ea Ordem dos Templarios, pelo menos; no outro, os Freires da Milfcia de Evora. Os bispos apoiam inquestionavelmente, a sua acco, mas desejam manté-la sob controle, partinda do principio que na diocese a autoridade, em matéria religiosa. 6 apenas o bispo. O 33 ARMANDO ALBERTO MARTINS recutso & distante autoridade papal que nao se faré esperar, por parte de quem Thes disputa poder e iniciativa, comeca [4 a lazer sentir os efeitos da crescente . A. Reuter, Chancelarias Matos, 0. ¢., doc: 247, p. 273. €, com eleito, uma base muito preciria para a argumentagao e trata-se, muito provavelmente, a nosso vet, de erra de copista 38 DOIS BISPOS PORTUGUESES DA SEGUNDA METADE DO SECULO XII 25 p. Thoma ab Incaratione, Histona Ecclsae Lusitanae, Colmbriae, 1762, tom. Ul, pp. 17-19, © autor baseia a sua afirmagao no facto de o nome do bispo de Evore aparecer registado no Necrliaio do mosteio regrante de 5, Salvador de Grii6. onde podia ler-se: «Serta Idus Seprembrs obit D. Pelagis Eborenss Epscopus Canonicus S. Crucis in Era 12420. Da mesma opiniaa era | P. Ribeito que cita como fonte um necroldgio de S. Vicente de Fora J. P Ribeiro, Diser, Crom. ¢Crf,V,p, 164 Recordando como eram redigidos, copiados e actualizados os obituérios destes mosteiros, © dado néo ter chegado até nés nenhum dos tempos medievais, permanece 2 divids, porque, muitas veres, a confusaa de um copista difundia-se, posteriormente, por muitos outros. A meu ver nenhuma prova existe para aquilo que € apenas provavel 26 tais provas existem e esto publicadas, Avelino de Jesus da Costa, «lnventério dos Bens © Obitudtio de Santa Maria de Alcégova de Santarémy, in Boletim da Biblioteca da Universidade de Coimbra, 36, (1981), pp. 12. cliem Doms Pelaous pror prfateeclsiae |S. Marie de Alagoa], gui fut Episcopus Eboresis, apprehend quastam feredtates se pssesiones pro psa ecclesia in Alcazve de Rivo Mato. termini Sanctarene. quando terra de novo dbidaba.ur inter populatores, Como se ¥8 a afimagio € clara e explicita sobre algumas das acgBes do Prior da Colegiada’ era presor & em prestiria consegiu obter mais propriedades e bens para a sua igreja! Tal alirmagéo trez & nossa meméria a acgdo de outro contempordieo, D, 1040 Teoténio, segundo prior do mosteiro de Santa Cruz que, por esses anos brandia também a laniga contra os Mouros [embora o estro poético de Camdes atribua esas faganhas a seu tio, o santo e manso D. Teoténio, primeiro prior| Velam-se estes mesrios documentos sobre D. Pato editados, com ligeiras variantes, pot Maria Angela Beirante, Santarin Madival, Lisboa, Universidade Nova de Lisboa, 1980, pp. 4i e 50. Para dacumentagao sobre @ vida da mesma colegiada, nos finais do século XII, L, D. Villela da Silva, Medras Hisiricas da insin & real callgiada de Santa Maria de Akgovs da vila de Saniarém, Lisboa, Impressio Régia, 1817 Desta forma discordamos de J. César Baptista quando atirma que de D. Pain nao existe nenhur dato biogratico seguro anterior a sua eleicdo para bispe de Evora, em 1180. Cf. |. César Baptista, «Restauragéo da diocese de Evora, in A Cidade de Evara, 58, (1975) p95. 27 Maria Angela Beirante, Evona na \dade Média, Lisboa, Fundagéo C. Gulbenkian, JNICT, 1995, p. 231. As razSes dda nossa discordancia sao varias: Nem M. Ribeiro de Vasconcelos, na sua , art. cit, pp LOD-LOL 4l ais atribuigoes foram-Ihe cometidas por Inocéncio Ill, Iego no inicio do seu pontificada, em 14 @ 27 de Maio, de 1198, pela bulas nota nobis © Oblata nobis. Avelino de Jesus da Costa e Marla Alegria M. Fernandes, Bala Portugués 0... pp 7-8 ¢ 15, © facto de & pontificado de InocEncio Ilse ter iniciado em 22 de Fevereiro esse mesmo ano ¢ Lotario di Segni ter estudado tealogia em Paris, antes de ir estudar direito em Bolonha, poderiam ser indicativos hipotéticos de terem sido condiscpulds nas margens do Sena, caso se provasse que , Palo af estudara. Tudo isto, porém, ndc passa de meras conjecturas. 4? & maioria dos historiadores da arte portuguesa, ainda hoje, talvez na linha das informagdes de André de Resende, «Historia da Antiguidade da cidade de Evora, in Obras Porugueszs, ed. de |, Pereita Tavares, Lisboa, Sa da Costa, 1963, p.55, situam o inicio da construgdo da sé ebotense em | 186, portanto no episcopado de D. Palo Assim, para citar apenas autores e obras mais recentes, vejam-se:Invenlr Aristica de Portugal, Exar, vol, Lisboa, 1966, p. 19: ]. A. Ferreira de Almeida, di, Tesours Artsicas de Portugal. Lisboa. 1976, p. 242: Paulo Pereira, dir Hist dt Arte Portuguese, Lisboa, Circulo de Leltores, 1995, vol. |, B. 364 Esta data comegou a set posta ein dvida sobretudo a partir da obra de AntSnio Francisco Barata, Memrin fistri:a soe fudagd da Séde Evora e suas Antiguiades, Evora, 1876, Hoje € prinapalmente J. César Baptista quem defend, com bons argumentos, ta tese, em «Catedral de Evora estudo historico. act. Sea argumentagio assenta em provas artisticas, inscri¢Ses lapidérias e argumentos econdmices, nenhuma prova arquivistica apoditica é no entanto, conhecida e apresentada, Veremos, seguidamente, em que consistern as nussas dinidas. 4 Rui de Azevedo, A.de Jesus da Costa, M. Pereira, ed. Documeias de D Sancho | |1 174-1211}, vol. 1, Coimbra, Universidade de Coimbra, 1979, p. 49, 44 ANTT. Leitura Nowa, Odiana Vill, 42 v,, ed. por Gabriel Pereira. Documentos Histdricos da Cidade de Evora, Evora, 1889, vol. 1, p, 13, cit, porM, Angela Beirante, Erora Medieval, 6 P. 230. 45 Pata melhor se avaliar a furia dos ataques mugul manos recorde-se o conselho de D. Sancho | dado aos CCrizios, em 1190, para comprarem casas no interior da muralha, a fim de af poderem esconder o corpo de 8. ‘Afonso Henriques enterrado na tgreja do seu mostetro, ANTT, Llura de D. Jodo Teatéki, col, Bastos, 3, fl, 165 v 46 Sobre © papel da Milfcia dos Cavaleiros de Evora nos dois dltimos decénies do século Xl, vide Rui de Aeveds, «Primérdios da Orcem Militar de Evora, in Bole Culurl da Junta Distrial de Evora, 8, (1967), pp. 3-30, 47 Rui de Azevedo et alii, Docuntentas de. Sancho | 1174-1211]. ¢ p. 48. 48 Cit por G. G. Merlo, «Proprieta ecclesiastiche ¢ potenza delle chiese vescovile nel secolo Xil», in Siena det’ Italia Relaosa 0. ©, p. 296, 40

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