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SEIS INTERPRETAQOES SOBRE O BRASIL Luiz Carlos Bresser Pereira* A produgao intelectual € o desenvolvi- mento da formacdo social brasileira so na- turalmente dois fenémenos profundamente interligados, Os intelectuais tentam analisar (e orientar) a sociedade, a qual, por sua vez, os condiciona. E este condicionamento re- flete de um lado o imperativo da propria realidade em mudanga, de outro os com- prometimentos de classe e as opgdes ideo- légicas. A proposta deste artigo é fazer uma andlise centrada ndo no desenvolvimento da formago social brasileira, mas na evolu- ¢do das interpretagdes fundamentais sobre essa realidade. Ao invés de examinar a li- quidagdo da sociedade agrério-mercantil, o perfodo populista e sua crise, a alianga tec- noburocrético-capitalista autoritdria e seu colapso, e as perspectivas que se abrem pa- ra a sociedade brasileira atual, tentarei ana- lisar as interpretagGes intelectuais ligadas a essas realidades e suas transformages. Qualquer classificagdo das interpreta- Ges ou teorias sobre a sociedade brasileira € naturalmente arbitrdria. Reconhecendo ses, entretanto, é exclusivamente minha. este fato, creio entretanto ser possivel ten- tar esta classificaggo na medida em que o debate intelectual no Brasil tem sido bas- tante rico, expressando bem as contradi- g6es existentes na sociedade brasileira. Ve- jo, nos ultimos 50 anos, seis ou sete inter- pretagGes conflitarem e se sucederem no cendrio intelectual brasileiro. Inicialmente temos (1) a interpretagdo da vocagdo agré- ria, em conflito nos anos quarenta e cin- qiienta com (2) a interpretagao nacional- burguesa. Esse. conflito é superado por uma série de fatos novos que ocorrem nos anos cingiienta e se esgota na Revolugao de 1964. Surgem entao, de um lado (3) a in- terpretago autoritério-modernizante pré- pria do novo sistema de dominacao, en- quanto que os intelectuais de esquerda iro se dividir em trés posigdes nem sempre cla- ramente distintas: (4) a interpretagao fun- cional capitalista, (5) a interpretagdo da superexploragdo imperialista, e (6) a inter- pretagdo da nova dependéncia. Finalmente, quando o regime de 1964 entra em crise, a partir de meados dos anos setenta comega Agradego 0s comentarios de Gabriel Cohn e Guido Mantega. A responsabilidade por erros e omis- dados ~ Revista de Ciéncias Sociais, Rio de Janeiro, Vol. 25, n° 3, 1982, pp. 269 a 306. a delinear-se a interpretagdo do projeto de hegemonia burguesa industrial. OS ATORES Estas interpretagSes esto evidente- mente relacionadas com as classes e fragdes. de classe em conflito e em associagdo na so- ciedade brasileira. Em um primeiro mo- mento € a burguesia mercantil que se divi- de em um setor exportador e um substitui- dor de importagdes. A burguesia mercan- til exportadora conflita com a pequena burguesia urbana. Desta nasce, nos anos trinta, a burguesia industrial e a classe “mé- dia” tecnoburocrética, no quadro da indus- trializagdo substitutiva de importagdes e do crescimento do aparelho burocrético esta- tal. O populismo € 0 resultado da alianga destas novas classes com os trabalhadores urbanos, sob a égide do latifundio voltado para o mercado intemo. A crise do populis- mo € o rearranjo das aliangas de classe — excluindo os trabalhadores e fortalecendo 08 tecnoburocratas militares e os civis pla- nejadores — € a etapa seguinte, marcada pela Revolugdo de 1964, Esta etapa afinal entra em colapso na segunda metade dos anos setenta. Em todo esse processo, temos como atores as classes sociais. E a burguesia mer- cantil especulativa, a pequena burguesia in- dustrial, a média tecnoburocracia civil e militar, freqientemente chamada de “‘clas- se média”, os trabalhadores urbanos e, como ndo-atores, os trabalhadores rurais ¢ 0s marginais urbanos. Entre esses atores, talvez o mais com- plexo e mais dividido seja a tecnoburocra- cia, que faz o seu primeiro ato de presenca na hist6ria nos anos trinta, mas que somen- te constituirse- em uma classe politica e historicamente significativa nos anos cin- qienta e principalmente nos anos sessenta. Sua caracteristica comum reside no fato de seus membros nfo serem proprietdrios (burgueses), nem trabalhadores auténomos proprietdrios (pequenos burgueses), nem trabalhadores operativos assalariados (pro- letdrios), mas trabalhadores coordenativos que recebem um ordenado em grandes or- ganizacdes. Sdo uma classe social na medi- da em que assumem ou tendem a assumir a propriedade da organizagao burocrdtica, definindo-se assim a relagdo de produgao tecnoburocritica organizacional. Definidos genericamente nestes termos, estes novos atores da histéria, detentores ndo apenas de relages de produgdo mas de uma ideologia propria, os tecnoburocratas ou intelectuais em sentido amplo, incluin- do técnicos e administradores, subdivi- dem-se em tecnoburocratas piblicos e pri- vados, ou entfo, segundo outro critério, em civis e militares. Nem todos os intelec- tuais so tecnoburocratas porque ainda existem intelectuais pequeno-burgueses, que trabalham por conta propria. Em telagdo aos demais atores, é impor- tante distinguir com clareza a pequena burguesia, relacionada com a pequena pro- dugdo mercantil, da burguesia. O pequeno burgués, que existe na sociedade brasileira desde sua formagdo, participa diretamente da produgdo ¢ eventualmente emprega tra- balhadores assalariados. E 0 caso do arte- so, do pequeno produtor agricola, do pe- queno comerciante e do profissional libe- ral. O burgués, ao contrério, ndo participa diretamente da produgdo. Comanda traba- thadores e uma massa de capital, se for em- presirio, ou vive de dividendos, juros ¢ alu- guéis, se for rentista. A burguesia, que também existiu no Brasil desde os primérdios da colonizacdo, € a burguesia mercantil especulativa. E a burguesia que se apropria do excedente econdmico via especulago, monopélio, fa- 270 vores do Estado, exploragdo de trabalho es- cravo, expropriagio de camponeses (pos- seiros). E tanto a burguesia canavieira quanto a burguesia do café, ainda que esta represente um estdgio mais avangado de de- senvolvimento das forgas produtivas. E a burguesia. ainda dominante no Nordeste brasileiro.e no Centro-Oeste, que serviu de base politica para a UDN e o PSD no perfo- do 1945.64. E a burguesia que comeca a perder poder com a Revoluggo de 1930, mas que, aliada a burguesia industrial e a tecnoburocracia, a partir de 1964, afinal se conserva no poder até hoje, servindo, es- pecialmente no Nordeste, de base politica para a Arena e depois para o PDS. E a bur- guesia que comanda o capital mercantil, 0 qual inclui o capital latifundidrio, o capital comercial e o capital bancério. Poderfamos ser tentados a considerar uma burguesia financeira e um capital fi- nanceiro no Brasil como um estégio além do capitalismo industrial, mas na verdade 0 que temos é apenas uma burguesia bancd- tia, cujo capital tem essencialmente a mes- ma natureza do capital latifundidrio e do capital comercial: € acumulado através do processo da acumulagdo primitiva e nao da mais-valia relativa, entendida a acumulagdo primitiva como 0 conjunto de mecanismos autoritérios e especulativos de apropriago do excedente exclufdo o mecanismo de mais-valia. A burguesia industrial, finalmente, é a classe que se apropria do excedente via mais-valia relativa, ou seja, através de traba- tho assalariado e de troca de equivalentes. O capital industrial gera a mais-valia através do aumento da produtividade e da explora- do dos trabalhadores, aos quais, entretan- to, € pago um salério equivalente ao valor da forca de trabalho que vendem. Para a burguesia industrial, a violéncia necessdria para a apropriagdo do excedente € a de asse- gurar que a forca de trabalho seja considera- da como uma mercadoria como qualquer outra. A burguesia industrial comega a ser sig- nificativa nos anos trinta no Brasil, mas sempre em uma posigao claramente subor- dinada, No periodo populista, entre 1930 e 1964, ela esté aliada e subordinada as frag6es ndo-cafeeiras, orientada para o mer- cado interno da velha burguesia mercantil. A partir de 1964, quando toda a burguesia se une ¢ se alia 4 tecnoburocracia, a burgue- sia industrial € apenas um dos componen- tes do pacto politico autoritério entdo constitufdo contra os trabalhadores € as fragdes progressistas da tecnoburocracia. S6 a partir de meados dos anos setenta,-de- pois de um continuo e explosive aumento do poder material da burguesia industrial, esta inicia um projeto de hegemonia polf- tica. E claro que a distingfo entre 0 capital mercantil e 0 capital industrial ndo é abso- luta, Existem muitas dreas cinzentas. Por outro lado, é preciso entender que 0 que distingue essencialmente um capital do outro néo é a drea funcional de atividade exercida, Esta ¢ uma classificagao hist6ri- co-econdmica, néo uma classificagdo fun- cional. Nesse sentido, a agricultura latifun- didria de exportagdo, o grande comércio exportador ¢ importador ¢ o sistema ban- cério eram capital mercantil, mas nem toda empresa agricola, comercial ou bancaria ne- cessita integrar o capital mercantil. Quando a produtividade ou a incorporagao de pro- gresso técnico tornam-se atividades domi- nantes, seu capital passa a ser industrial ou produtivo, ao invés de especulativo ou mer- cantil. Burguesia mercantil, burguesia indus- trial, tecnoburocracia e trabalhadores urba- nos so 0s atores das interpretacoes sobre 0 Brasil; os intelectuais sio seus autores. Co- efi mo cheguei aos 20 anos na primeira metade dos anos cingtienta, participei, as vezes apaixonadamente, de todo o debate sobre essas interpretag&es. Por isso nfo pretendo a neutralidade ideol6gica ou a iseng&o emo- cional, embora no tenha desistido de pro- curar a objetividade. A INTERPRETACAO DA VOCAGAO AGRARIA Duas grandes interpretagdes antagoni- cas sobre a sociedade brasileira conflitam nos anos quarenta e cinqiienta. De um lado temos a interpretagdo hegeménica da voca- $40 agréria do Brasil; de outro, a interpre- taco nacional-burguesa. A interpretagdo da vocagio agréria da sociedade brasileira corresponde a hegemo- nia da burguesia agrério-mercantil, tranqili- la no Brasil até os anos vinte e sob perma- nente contestagdo a partir de entZo. Mas, ainda nos anos quarenta e cingiienta, era a interpretacao ideologicamente hegem6ni- ca, apesar do fato de a burguesia agrdrio- mercantil nao controlar mais o Estado com exclusividade desde 1930. Para essa interpretagdo, 0 Brasil é 0 pais essencialmente agricola, é o pais cheio de riquezas naturais e de cordialidade, mas tropical e mestigo, portanto, inferior. E o pais que Oliveira Vianna vé embranquecer- se.' E o pais triste e melancdlico em uma terra radiosa de Paulo Prado.? E o Brasil macunaimico de Mario de Andrade e da pré-revolu¢do burguesa representada pela Semana de Arte Moderna. E o Brasil mo- derno porque cafeeiro e paulista, autoritd- (@ I edigao € de 1922). 1928). rio € corrupto mas recuperdvel através de uma democracia das elites, segundo a vi- sfo da familia Mesquita, no comando do jornal O Estado de Sao Paulo, e de Paulo Duarte. E o Brasil ufanista de Afonso Cel- so. E o Brasil maravilhoso da casa grande e da senzala, do sobrado e do mocambo de Gilberto Freire. E o Brasil essencidlmente agricola de Murtinho e de Eugénio Gudin. A interpretago da vocagdo agréria, produto de longa dominagSo agrério-mer- cantil, cobre um amplo periodo de tempo e € extremamente variada, constituindo uma violéncia tedrica querer reduzi-la a algumas caracteristicas essenciais, porque existem pensadores significativos ¢ inovadores, in- clusive entre os jd citados, e porque surge ento toda uma série de pioneiros de uma andlise mais critica do Brasil, a partir de Euclides da Cunha, Alberto Torres, Silvio Romero e José Verissimo. De qualquer maneira, de acordo com a interpretagdo da vocagio agrdria, 0 Brasil nao € visto como um pafs subdesenvolvido, mas como um pais rico e cheio de futuro, com uma vocagdo agricola definitiva. No plano politico, o Brasil € visto como uma democracia presidencialista no estilo norte- americano, embora nao passe de um regime oligarquico. No plano social, é visto como uma sociedade sem conflitos sociais e ra- ciais, embora s6 a repressio reduza o con- flito. No plano cultural, a interpretagao da vocacdo agrdria ignora que a cultura brasi- leira de entdo, de um lado era uma mera cultura ornamental, de salao, desligada do desenvolvimento das forgas produtivas; de outro, era uma cultura transplantada, sem Oliveira Vianna, Evolugdo do Povo Brasileiro, 42 edigao, Rio de Janeiro, José Olympio, 1956 Paulo Prado, Retrato do Brasil, 64 edicdo, Rio de Janeiro, José Olympio, 1962 (a 14 ediggo é de 272 capacidade de formulagdo tedrica original ou critica.? A INTERPRETAGAO NACIONAL-BURGUESA A interpretago nacional-burguesa, que surge nos anos quarenta e alcanga pleno de- senvolvimento nos anos cingiienta, reflete as mudangas econémicas e politicas ocorri- das no Brasil, principalmente a partir de 1930. E a interpretago do Partido Comu- nista, e serd principalmente a interpretagio do Grupo de Itatiaia, que publica entre 1953 e 1955 a revista Cadernos do Nosso Tempo, e afinal se reine no ISEB (Institu- to Superior de Estudos Brasileiros) que, depois de diversos conflitos internos, é li- quidado pela Revolugio de 1964. Serd também, embora em menor grau, a inter- pretago dos economistas da CEPAL (Co- miso Econémica para a América Latina, da ONU). Grupo do ISEB tem algumas figuras exponenciais. Hélio Jaguaribe* o princi- pal cientista politico, sendo o principal for- mulador te6rico do grupo, mas Igndcio Rangel, economista,® e Alberto Guerreiro Ramos, socidlogo,® sféo também figuras fundamentais. Sao ainda personagens signi- ficativos Roland Corbisier,’ Candido Men- des de Almeida,® Alvaro Vieira Pinto? e Ewaldo Correa Lima." Nenhum desses autores é marxista, em- bora as influéncias de Marx sejam claras, es- pecialmente no pensamento de Igndcio Rangel, notdvel e criativo pensador que monta um modelo particularmente original € dialético do desenvolvimento brasileiro, a partir dos conceitos de dualidade bésica, ciclos longos, recursos ociosos ¢ inflagdo de custos. Marxista e indiretamente pertencen- Sobre a interpretagao oligérquico-mercantil, aqui tratada muito sumariamente, ver, entre outros: Roland Corbisier, Formagao e Problema da Cultura Brasileira, Rio de Janeiro, ISEB, 1958; Alber- to Guerreiro Ramos, Cartitha Brasileira do Aprendiz de Socidlogo, Rid de Janeiro, Editorial An- des, 1954; Jodo Cruz Costa, Contribuigdo @ Historia das Idéias no Brasil, Rio de Janeiro, José Olympio, 1956; Sergio Miceli, Intelectuais ¢ Classe Dirigente no Brasil (1920-1945), Sio Paulo, DIFEL, 1979; e Wanderley Guilherme dos Santos, Ordem Burguesa e Liberalismo Politico, So Paulo, Duas Cidades, 1978, pp. 15-57. Hélio Jaguaribe, “Sentido e Perspectivas do Governo Kubitschek”, Cadernos de Nosso Tempo, ja- neiro-margo, 1956, artigo nfo-assinado; O Nacionalismo na Atualidade Brasileira, Rio de Janeiro, ISEB, 1958; Condigdes Institucionais do Desenvolvimento, Rio de Janeiro, ISEB, 1958; Desen- volvimento Econémico e Desenvolvimento Politico, Rio de Janeito, Fundo de Cultura, 1962. Igndcio Rangel, Dualidade Bdsica da Economia Brasileira, Rio de Janeiro, ISEB, 1957; Introdu- a0 a0 Estudo do Desenvolvimento Econémico Brasileiro, Salvador, Livraria Progresso Editora, 1957; Recursos Ociosos na Economia Nacional, Rio de Janeiro, ISEB, 1960; A Inflacdo Brasileira, Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro, 1962. Alberto Guerreiro Ramos, Cartitha Brasileira ..., op. cit.,A Redugéo Sociologica, Rio de Janeiro, ISEB, 1958; O Problema Nacional do Brasil, Rio de Janeiro, Editora Saga, 1960. 7 Roland Corbisier, Formagdo e Problema... op. cit. 5 Candido Mendes de Aimeida, Nacionalismo e Desenvolvimento, Rio de Janeiro, Instituto de Estu- dos Afro-Asidticos, 1963. ° Alvaro Vieira Pinto, Ideologia e Desenvolvimento Nacional, Rio de Janeiro, ISEB, 1957; Consci- éncia e Realidade Nacional, Rio de Janeiro, ISEB, 1960. 10 Ewaldo Correa Lima, “Polftica do Desenvolvimento”, Alberto Guerreiro Ramos e outros, Intro- dugdo aos Problemas do Brasil, Rio de Janeiro, ISEB, 1956. 273 te ao grupo é Nelson Werneck Sodré, prin- cipal intelectual do Partido Comunista Bra- sileiro, que publica diversos trabalhos atra- vés do ISEB.'! Na mesma linha, Alberto Passos Guimardes'? faz a andlise do card- ter latifundiério e monopolista da econo- mia brasileira. A interpretagao nacional-burguesa co- mega por uma critica radical da interpreta- do da vocagao agréria. A cultura brasileira 6 ent&o definida como alienada, heterdno- ma, transplantada, amorfa, inauténtica, or- namental, marcada pelo complexo de infe- rioridade colonial. A partir dessa critica, sem divida extremamente aguda, da cultu- ra oligdrquica e semicolonial que dominava © pais, 08 novos intérpretes propdem-se a formular um projeto nacional para o Bra- sil: um projeto de industrializagdo e inde- pendéncia politica, Para formular esse projeto, parte-se de uma interpretago simplificada e ideolo- gicamente comprometida mas basicamente correta do processo histérico brasileiro até entdo. A sociedade ¢ dividida em dois grandes blocos. De um lado, a oligarquia agrério-mercantil dominante, aliada ao im- perialismo, opde-se a industrializacdo brasi- leira © busca manter 0 status quo semico- lonial, semifeudal e primério exportad De outro lado, sob a lideranga de Getiilio Vargas € depois de Juscelino Kubitschek, temos 0 grupo modernizante: a burguesia industrial nacional, as classes médias técni- cas (os tecnoburocratas) ¢ os trabalhadores urbanos, além de fragdes ndo-exportadoras da velha oligarquia. A lideranga desse grupo u Methwen, Rio de Janeiro, ISEB, 1957 deveria naturalmente caber, segundo a in- terpretago nacional-burguesa, a burguesia industrial nascente que tem como protéti- po as figuras de Roberto Simonsen e, em menor grau, de Ewaldo Lodi. E a “burgue- sia nacional”, uma construgdo mental com uma certa base na realidade que, segun- do a interpretagdo nacional-burguesa, seria nacionalista, industrializante, moderna e socialmente progressista, enquanto a bur- guesia agrério-mercantil seria tradicional, agriculturalista, colonial, antiindustrializan- te. Ao realizarem esta andlise, os formula- dores da interpretagGo nacional-burguesa estavam ao mesmo tempo constatando ¢ analisando uma realidade, que depois seria chamada de pacto populista, e de outro la- do estavam formulando um desejo ou sen- do instrumentos de uma ideologia burguesa. A “burguesia nacional”, em conflito com © imperialismo e especialmente o cardter “feudal” da sociedade brasileira até 1930 eram construg6es ideolégicas insustentd- veis, as quais 0 Partido Comunista em es- pecial aderiu de maneira decidida nessa época, transpondo assim para o Brasil, de forma mecdnica, as etapas da historia do marxismo vulgar ou stalinista. A ideologia nacional-burguesa, entre- tanto, ndo era apenas burguesa. Era tam- bém uma primeira manifestagdo da ideolo- gia modernizadora, desenvolvimentista eficientista, da tecnoburocracia nascente no aparelho do Estado. Os intelectuais que a formulavam, aos quais deveriam ser somados homens como Jesus Soares Perei- Nelson Werneck Sodré, As Classes Sociais no Brasil, Rio de Janeiro, ISEB, 1957; O Tratado de tatzes Histdricas do Nacionalismo Brasileiro, Rio de Janei- 10, ISEB, 1959; A Ideologia do Colonialismo, Rio de Janeiro, ISEB, 1961. 12 Alberto Passos Guimardes, Inflagdo ¢ Monopdlio no Brasil, Rio de Janeiro, Civilizagdo Brasileira, 1963; Quatro Séculos de Latifiindio, 2 edigdo, Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1968 (a 18 edigao é de 1964). 2714 ra, R6mulo de Almeida, Santiago Dantas e também Roberto Campos, eram mem- bros da tecnoburocracia que assumira 0 comando do desenvolvimento no seio do Estado populista.'? B preciso, entretanto, observar que es- ta descri¢do da interpretagao nacional-bur- guesa, alids como a das demais interpreta- g6es, € uma generalizago que ignora uma série enorme de particularidades. O ISEB, por exemplo, entra em crise e se divide em 1958, a partir da posigao critica e inde- pendente de Alberto Guerreiro Ramos, no- tdvel socidlogo que adota uma posigao de esquerda nio-marxista e passa a fazer a cri- tica do proprio ISEB (do qual, por outros motivos, também se desliga Hélio Jaguari- be) em processo de radicalizagao polit e do PCB."* Posigao até certo ponto se- melhante é a de Wanderley Guilherme dos Santos.'* Esta interpretagdo, por outro lado, é contempordnea a anélise de dois grandes pensadores brasileiros. Sio Caio Prado Jinior, que faz a interpretagdo definitiva 13 do Brasil colonial,'® ¢ Celso Furtado,.” que traz para o Brasil a critica da CEPALA teoria neoclissica sobre o desenvolvimento e em especial sobre a lei das vantagens com- parativas do comércio internacional, faz a andlise do modelo primério-exportador e, mais genericamente, do subdesenvolvimen- to brasileiro, e propde a industrializagéo via substituigdo de importag6es ¢ planeja- mento econdmico. As andlises da economia brasileira, de Caio Prado Jr. e de Celso Furtado, pela sua originalidade e profundidade constituem-se em paradigmas que nfo podem ser reduzi- dos a uma interpretag#o genérica. A posi- go de Caio Prado Jr., além de isolada, ¢ antagonica a dos seus contempordneos, e lhe permitird, depois de 1964, estabelecer as bases de uma nova interpretagdo sobre 0 Brasil. J4 as contribuigdes de Celso Furta- do que, inclusive, publicou dois trabalhos pelo ISEB,"* tiveram uma importancia deci- siva para a interpretactlo nacional burguesa. Merece ainda ser citada como uma contri- buigdo isolada da época o trabalho hoje Examinei 0 aspecto também tecnoburocritico do pacto populista em um trabalho anterior. Ver Luiz. Carlos Bresser Pereira, Estado e Subdesenvolvimento Industrializado, So Paulo, Editora Brasiliense, 1977, pp. 189-193. 14 Alberto Guerreiro Ramos, A Crise do Poder no Brasil, Rio de Janeiro, Zahar, 1961; fito e Verda- de sobre a Revolugdo Brasileira, Rio de Janeiro, Zahar, 1963. 1s 1963. 16 Caio Prado Jr., Evolugdo Politica do Brasil e Outros Estudos, 2 edicao, Sao Paulo, Editora Br: Wanderley Guilherme dos Santos, Reforma, Contra-Reforma, Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro, liense, 1957 (a 18 edigio € de 1933); Formagdo do Brasil Contemporineo, St edigao, S40 Paulo, Editora Brasiliense, 1957 (a 18 edigdo € de 1942); Historia Econémica do Brasil, 44 edigio, Si Paulo, Editora Brasiliense, 1956 (a 18 edigfo é de 1945). ” Celso Furtado, “Caracterfsticas Gerais da Economia Brasileira”, Revista Brasileira, 1949; Eco- nomia Brasileira, Rio de Janeiro, 1954; Formagdo Econdmica do Brasil, Rio de Janeiro, Fundo de Cultura, 1959; Desenvolvimento e Subdesenvolvimento, Rio de Janeiro, Fundo de Cultura, 1961; A Pré-Revolugdo Brasileira, Rio de Janeiro, Fundo de Cultura, 1962; Dialética do Desenvolvimen- to, Rio de Janeiro, Fundo de Cultura, 1964. 18 deste, Rio de Janeiro, ISEB, 1959. Celso Furtado, Perspectivas da Economia Brasileira, Rio de Janeiro, ISEB, 1958;A Operagao Nor- 275 cléssico de Raymundo Faoro, de matriz weberiana, Os Donos do Poder." Da mesma forma que o grupo do ISEB, a preocupago de Celso Furtado era a de criticar as teorias desenvolvidas nos paises centrais e construir uma teoria alter- nativa capaz de explicar a realidade brasi- leira ou latinoamericana. Furtado e o gru- po CEPAL foram mais bem-sucedidos, in- clusive porque menos comprometidos ideo- logicamente com a burguesia. Mas nao ha duivida de que o projeto de industrializagzo da CEPAL € o projeto de construggo nacio- nal sob a lideranca da burguesia nacional e do Estado possufam muitos pontos em co- mum. As idéias de planejamento e de indus- trializagdo substitutiva de importagdes eram centrais em ambos. A INTERPRETAGAO AUTORITARIO-MODERNIZANTE A interpretagdo nacional-burguesa pra- ticamente liquidava a interpretagdo colo- nial-mercantil, na medida em que a indus- trializagdo torna'se vitoriosa e definitiva no Brasil dos anos cingiienta. A crise politica do inicio dos anos sessenta e a conseqiiente Revolugdo de 1964, por sua vez, encarre- gar-seo de liquidar com a interpretaggo nacional-burguesa. De fato, esses dois fend- menos so fatos hist6ricos novos que con- dicionario todo o pensamento politico ¢ econdmico brasileiro subseqiiente. E claro que as quatro interpretagdes que vamos analisar em seguida jé comegavam a se defi- nir antes de 1964, mas é um engano pensar que o debate nas ciéncias sociais se resolve no campo puro das idéias ou ideologias. Geralmente so os fatos hist6ricos novos que atropelam as idéias e as reorientam, 19 € de 1957), nao obstante 0 imobilismo do pensamento de tantos cientistas sociais, 7 A liquidagdo da interpretagdo nacio- nal-burguesa era automdtica, na medida m que sua proposta politica principal era a alianga da burguesia com o proletariado sob a égide da tecnoburocracia estatal, contra a burguesia agrdrio-mercantil e o imperialismo. A Revolucdo de 1964 repre- senta 0 rompimento definitivo dessa alian- ge a unificagdo da burguesia industrial e mercantil sob 0 comando-politico da tec- noburocracia estatal e sob a prote¢do do imperialismo multinacional. Falar ainda de revolugdo burguesa, burguesia nacional, alianga da esquerda com a burguesia depois da violenta represso burguesa contra a es- querda e os trabalhadores era impossivel. Surgem, todavia, novas interpretagdes a partir de 1964. Ao nivel das classes do- minantes, a interpretago autoritério-mo- dernizante substitui-se a interpretagdo agrério-mercantil enquanto interpretacdo hegem6nica. Mas distingue-se claramente dessa interpretagdo, na medida em que é industrializante e planejadora como a inter- pretacdo nacional-burguesa. Esta nova interpretagdo hegeménica estd baseada em duas idéias-chave — desen- volvimento econdmico e seguranga nacio- nal — e em uma alianga politica entre a burguesia local, agora unificada, a tecno- burocracia estatal e as empresas multinacio- nais, Em ultima andlise, o golpe militar de 1964 é fruto da crise do populismo que a unificagdo da burguesia agrdrio-mercantil com a industrial propicia. Esta unificaggo, por sua vez, estabelece uma nova cliva- gem (mas ndo um novo conflito) no seio da burguesia, na medida em que € 0 capital monopolista, tanto industrial quanto mer- Raymundo Faoro, Os Donos do Poder, ® edigio, Porto Alegre, Editora Globo, 1975 (a 18 ediggo 276 cantil e bancério, que se toma hegemé6nico em detrimento do capital competitivo. No momento em que a unificagao da burguesia ocorre, ao mesmo tempo em que as multinacionais industriais esto entrando em massa na economia brasileira, nao resta outra alternativa 4 tecnoburocracia estatal, para que ela possa realizar o seu projeto desenvolvimentista de Brasil-poténcia, se- ndo aliar-se 4 burguesia monopolista e as multinacionais. Por isso, a interpretagio autoritdrio- modernizante, além de seu cardter essen- cialmente burgués, na medida em que de- fende enfaticamente a “livre empresa”, ¢ uma interpretagdo tecnoburocrética, que privilegia o planejamento econémico e a in- tervengdo direta do Estado na economia, nfo apenas como regulador, mas também como produtor de bens e servigos. O proje- to industrializante, modernizador, burgués e tecnoburocrdtico da interpretagdo nacio- nal-burguesa reaparece na_interpretago autoritdrio-modernizadora. O que desapare- ce € 0 discurso nacionalista e 0 discurso po- pular ou populista. O discurso nacionalista desaparece porque a industrializago conso- lidara-se através da protecdo alfandegéria (Lei de Tarifas de 1958) e da alianga da burguesia local com as novas empresas mul- tinacionais industriais. O discurso popular torna-se desnecessdrio, j4 que os trabalha- dores foram excluidos do pacto social. Ao invés de alianga com os trabalhadores, fa- la-se agora em seguranca nacional que, no contexto de 1964, significaré repressio policial contra os trabalhadores e a esquer- da. Sob um certo Angulo, é possivel dizer 20 a APEC Editora, 1963, p. 59. que a hegemonia, ao nivel das classes domi- nantes, da interpretagao autoritério-moder- nizante representa a vit6ria da Escola Supe- rior de Guerra — agente ideoldgico funda- mental dessa nova interpretagZo — sobre o ISEB, 0 Partido Comunista e a CEPAL, agentes basicos da interpretagao nacional- burguesa. Representa também a vitéria do imperialismo norte-americano que, de um lado, através do treinamento sistemético de militares e policiais brasileiros, e de outro, através da penetraggo das multina- cionais industrializantes, logra impor aos militares brasileiros uma “doutrina de segu- ranga nacional” apoiada na guerra-fria e definida por um anticomunismo irracional. A interpretagdo autoritdrio-modemi- zante tem naturalmente origens anteriores a 1964, Nao cabendo aqui uma andlise exaustiva do problema, citaremos apenas seus dois formuladores fundamentais: 0 Ge- neral Golbery do Couto e Silva que, jé em 1952, escreve Aspectos Geopoliticos do Brasil, onde as bases da doutrina da segu- ranga nacional sao definidas,?° e Roberto de Oliveira Campos que, jf em 1953, na Escola Superior de Guerra, buscava “a rea possivel de conciliagao entre uma ideologia de desenvolvimento e uma ideo- logia de seguranga”.™ Roberto Campos, que nos anos cin- qienta surge como um dos mais brilhantes tecnoburocratas brasileiros, é provavelmen- te o principal formulador dessa nova inter- pretagdo do Brasil, especialmente sob o ponto de vista econémico. Da mesma for- ma que o general Golbery diagnosticava em 1958 a dependéncia politica essencial e necessdria do Brasil em relagdo aos Estados Golbery do Couto e Silva, Geopolitica do Brasil, Rio de Janeiro, José Olympio, 1967, pp. 19-64. Roberto de Oliveira Campos, Ensaios de Histéria Econémica e Sociolégica, Rio de Janeiro, 277 Unidos,” concluindo por uma ideologia autoritdria de seguranca nacional, Roberto Campos define a dependéncia econémica essencial e necessdria do Brasil em relagio as empresas multinacionais. Percebendo que as empresas multinacionais passavam a investir pesadamente na industria e a com- prometer-se portanto com a industrializa- 40 brasileira, ele se toma seu mais arti- culado defensor. Nao se trata de defender as empresas multinacionais nos quadros da divisdo internacional do trabalho, em que ao Brasil restaria a funco primério-exportado- ta, Esta € a visio de Eugénio Gudin, preo- cupado em criticar a tese de Prebisch con- tra a lei das vantagens comparativas do co- mércio internacional e as teorias da CEPAL. A esse respeito, Roberto Campos, embora discfpulo de Eugénio Gudin, dele se distin- gue claramente. E também Campos, geralmente consi- derado um simples economista neocléssico, distingue-se com toda a clareza dos neoclds- sicos na sua defesa do planejamento eco- némico” e da tecnocracia enquanto agente do planejamento. O planejamento ¢ justifi- cado em fungfo da “debilidade da inicia- tiva privada”, da “faculdade telescépica” ou visio a longo prazo que o Estado possui e a burguesia nao, e da capacidade de “concentragdo de recursos” do Estado25 Por outro lado, referindo-se ao periodo em que foi Ministro do Planejamento (1964-1966), escreve um artigo, “Em De- fesa dos Tecnocratas”, com os quais se 2 23 identifica, afirmando: “entre 0 imobilismo perfeccionista € a experimentagao moder- nizante, a atitude dos tecnocratas pare- ce ter sido a mais produtiva”.® Nesses termos, defendendo o planejamento e a tecnoburocracia, mas ao mesmo tem- po defendendo o capitalismo local e mul- tinacional e utilizando um instrumental monetarista para combater a inflagfo, Ro- berto Campos realiza no plano econémico a cooptagio da andlise neocléssica pela perspectiva tecnoburocrdtica do planeja- mento econémico. E essa ser4 uma caracte- ristica econémica essencial da interpreta- ¢G0 autoritdrio-modernizante. A INTERPRETACAO FUNCIONAL-CAPITALISTA Enquanto a interpretag0 autoritdrio- modernizante permanece hegeménica ao nfvel das classes dominantes até meados dos anos setenta, ao nivel da esquerda sur- gem trés interpretag6es alternativas: a in- terpretagdo funcional-capitalista, a inter- pretagio da superexploragao imperialista e a interpretagdo da nova dependénci A. interpretacdo funcional-capitalista ird dominar grande parte do pensamento brasileiro de esquerda durante a segunda metade dos anos sessenta. Seu postulado bisico é 0 de que o Brasil sempre foi um pais capitalista, ou entZo que o eventual pré-ca- pitalismo aqui existente sempre foi funcio- nal para a acumulacgo capitalista. Seu pro- Golbery do Couto e Silva, Geopolitica . . ., op. cit., pp. 223-259. Roberto de Oliveira Campos, Economia, Planejamento e Nacionalismo, Rio de Janeiro, APEC Edi- tora, 1963; Do Outro Lado da Cerca, Rio de Janeiro, APEC Editora, 1968; Ensaios contra a Ma- ré, Rio de Janeiro, APEC Editora, 1969. 4 Janeiro, APEC Editora, 1967. as 26 Roberto de Oliveira Campos, Economia, Planejamento Roberto de Oliveira Campos, Do Outro Lado ...., op. i Roberto de Oliveira Campos, Economia, Planejamento ..., op. cit.;A Técnica € 0 Riso, Rio de op. cit., pp. 114-116, 136. 278 blema fundamental é o de reinterpretar a realidade brasileira a partir da critica da in- terpretagdo nacional-burguesa. Esta fora “a grande culpada” da Revolugio de 1964 e da decorrente derrota das esquerdas, de- vido a sua proposta de modernizagao e de alianga proletdrio-burguesa, Era preciso fa- zet © julgamento dessa interpretagdo e co- locar no pelourinho seus principais respon- séveis: 0 Partido Comunista e 0 grupo do ISEB. Nesse sentido, para negar a validade da interpretago nacional-burguesa, era preci- so negar o cardter pré-capitalista (ou mes- mo capitalista mercantil) da sociedade bra- sileira anterior a 1930, criticar qualquer teoria dualista, afirmar a continuidade e perfeita unidade da classe dominante bra- sileira, e negar origens étnicas sociais dife- rentes para os empresérios industriais em relago a burguesia agrério-mercantil. Ora, ao pretender realizar essa negago radical de toda a interpretagdo nacional-burguesa, ao invés de limitar-se 4 critica dos seus exageros especialmente enquanto proposta ideol6gica, esta interpretago assume um caréter ressentido, emocional, que € a0 mesmo tempo seu grande trunfo, na medi- da em que aguga a capacidade critica, € sua grande limitagdo, j4 que se torna inca- paz de compreender ou analisar correta- mente os fatos novos que haviam tornado superada a interpretagdo nacional-burguesa. 27 28 A. interpretagéo funcional-capitalista serd formulada de maneira extraordinaria- mente brilhante por Caio Prado Jr. que, em 1966, publica um livro fundamental para a compreensio de todo o pensamento brasileiro posterior: A Revolugdo Brasi- leira." Trata-se de uma andlise apaixonada, critica e autocritica das relag6es de produ- gio brasileiras. Uma andlise equivocada porque ressentida. Mas ao mesmo tempo uma andlise pioneira, corajosa, indignada e coerente com suas andlises anteriores sobre 0 cardter mercantil da colonizagdo brasileira®® e sobre a natureza da questio agrdria.? E equivocada porque afirma uma continuidade capitalista para o Brasil ina- ceitavel, porque no se interessa em distin- guir com clareza a burguesia mercantil da industrial, porque afirma que a burguesia industrial teve origem na oligarquia cafeei- ra,° porque nega que durante um certo momento da histéria essas duas burguesias hajam realmente entrado em conflito. B pioneira porque jé percebe o cardter indus- trializante do novo imperialismo, porque identifica o “capitalismo burocratico” e percebe o Estado burocrdtico posto a servi- go da acumulagfo capitalista, porque de- nuncia a permanente explorag#o dos cam- poneses e dos trabalhadores rurais brasi- leiros, porque discute as relagdes de produ- ¢Go no campo e procura demonstrar que muitos daqueles que se entendem por cam- Caio Prado Jr., A Revolugdo Brasileira, Sao Paulo, Editora Brasiliense, 1966. Caio Prado Jr., Formagao do Brasil ..., op. cit.; Hist6ria Econémica ..., 0p. cit, Caio Prado Jr., A Questdo Agréria, Sio Paulo, Editora Brasiliense, 1979. Este livro reiine artigos publicados originalmente na Revista Brasiliense, entre 1960 e 1964. Vale observar pesquisa de cardter hist6rico por mim realizada sobre as origens étnicas e sociais do empresério brasileiro, que demonstrou que 85% dos fundadores ou pri responséveis pelo desenvolvimento das empresas industriais paulistas eram de origem imigrante, e que apenas 3,9% tinham origem na burguesia cafeeira. Ver Luiz. Carlos Bresser Pereira, “Origens Etnicas e Sociais dos Empresérios Paulistas”, Revista de Administracdo de Empresas, n. 11, junho, 1964. Republi- cado em Bresser Pereira, Empresdrios e Administradores no Brasil, Si Paulo, Editora Brasilien- se, 1974. 29 30 279 poneses no Brasil (os meeiros, por exemplo) sfo na verdade trabalhadores assalariados. O cardter critico em busca de culpa- dos na contribuiggo de Caio Prado Jr. é por ele confirmado em um artigo em que responde as criticas de Assis Tavares, afir- mando: “A Revolugao Brasileira o que pre- cisamente procura, certa ou erradamente (€ 6 isto que Assis Tavares deveria indagar € no indaga), é buscar para as esquerdas uma posigao ‘qualitativamente diferente’ que Ihes abra novas perspectivas, e que se live do oportunismo e seguidismo que ver h4 muito em boa parte esterilizando e inutilizando seus esforgos — como entre outros aqueles que deram oportunidade a0 golpe contra-revoluciondrio de 19 de abril. O principal responsdvel por aquela inefici- éncia das esquerdas (e é o que se afirma e se procirou sustentar em A Revolugdo Brasileira) foi uma base tedrica err6- nea,”3! Outro trabalho basico nesta linha eri- tica, que marcou época e influenciou deci- sivamente toda uma geracdo, € o cldssico artigo de Rodolfo Stavenhagen, “Sete Te- ses Equivocadas sobre a América Lati- na’? As teses equivocadas so (1) dualis- mo, (2) desenvolvimento via difusio do industrialismo para dreas tradicionais, (3) as zonas tradicionais so um obstéculo a0 capitalismo progressista, (4) a burguesia at p.57. 32 nacional tem interesse em romper 0 dom{- nio da oligarquia latifundidria, (5) 0 desen- volvimento depende de uma classe média nacionalista e progressista, (6) a integragdo nacional da América Latina depende da miscigenago e (7) hd uma identidade de interesses entre camponeses e operdrios. Em sintese, e exclufdas as duas ultimas te- ses, 0 que Stavenhagen faz € uma critica decisiva € radical as concepgdes modemi- zantes implicitas na interpretagdo nacio- nal-burguesa. A interpretagdo funcional-capitalista tem uma série de outros nomes altamente significativos. Femando Novaes® faz a andlise clssica do perfodo colonial brasilei- ro na linha proposta inicialmente por Caio Prado Jr. Nega qualquer caréter pré-capi- talista para o perfodo colonial, que é visto exclusivamente como um episédio do pro- cesso de acumulagio primitiva mercantil. Jodo Manoel Cardoso de Mello, em O Capitalismo Tardio, prossegue a andlise de Femando Novaes até o presente. Sua andlise histérica o situa na interpretaggo funcional-capitalista porque minimiza a importéncia da Revolugdo de 1930; afirma que “‘a burguesia cafeeira foi a matriz da burguesia industrial” ;* critica, da mesma forma que Robert Cajado Nicol ¢ Warren Dean,** a oposigaéo ou a contradi¢ao de- tectada por Furtado entre a industrializa- Caio Prado Jr., “Adendo d Revolugdo Brasileira”, Revista Civilizagdo Brasileira, n, 14, julho, 1967, Rodolfo Stavenhagen, “Siete Teses Equivocadas sobre la América Latina”, Pol/tica Externa Inde- pendente, Rio de Janeiro, Civilizagdo Brasileira, Ano I, n. 1, maio, 1965, Republicado em José Carlos Garcia Durand, Sociologia do Desenvolvimento, Rio de Janeito, Zahar, 1967. 3 Fernando A. Novaes, Portugal e Brasil na Crise do Antigo Sistema Colonial (1777-1808), So Pau- lo, Editora Hucitec, 1979 (tese defendida em 1973). 4 da, p. 103. 3s Joo Manoel Cardoso de Mello, O Capitalismo Tardio, Campinas, UNICAMP, tese ndo-publica- Robert Cajado Nicol, Agricultura e Industrializagdo no Brasil (1950/1930), Sao Paulo, Fundagao Gettlio Vargas, mimeo, 1974. Warren Dean, A Industrializagdo de Sao Paulo, Sdo Paulo, DIFEL, 1971. 280 go e€ a expansio cafeeira. Esta é vista exclusivamente como um fenémeno positi- vo para a industrializago.°* © trabalho de Cardoso de Mello, en- tretanto, tem grande importéncia inclusive porque, depois da Historia Econémica do Brasil de Caio Prado Jr., é a primeira inter- pretagao significativa da historia econémi- ca brasileira em termos marxistas ndo-orto- doxos. Propde-se, inclusive, a oferecer uma altemativa a periodizagao das fases da eco- nomia brasileira adotada pela interpretagao nacional-burguesa: Colonial-Mercantil até 1808, Semicolonial Agrério-Mercantil Pri- mério-Exportadora até 1930, Industrial Substitutiva de Importagdes a partir de entZo. Em seu lugar propde:7 Mercan- til-Escravista Colonial até 1808; Mercan- til-Escravista Nacional até 1888; Exporta- dora-Capitalista-Retardatéria a partir de en- tao. Esta fase por sua vez dividese em: nascimento € consolidagdo do capital in- dustrial (1808-1933); industrializagao res- tringida (1933-1956); industrializagao pe- sada (1956 ...). Vale observar porém que, a0 exami- nar especialmente a industrializacdo pesa- da, Cardoso Mello jé est ultrapassando a andlise funcional-capitalista, Por outro la- do, embora preocupado em descaracteri- zara importancia da ruptura de 1930, nao hd duivida que sua periodizagdo reconhece a mudanga fundamental do capital mercan- til para o industrial. Apenas a coloca no fi- 36 nal do século passado, ao invés de neste sé- culo. Outra contribuigdo significativa é a de Boris Fausto com A Revolugao de 1930, na qual, j4 nos dois primeiros pardgrafos da introdugio, informa que seu trabalho “pro- cura mostrar a inconsisténcia de um mode- lo corrente” segundo o qual “na formacZo social do pafs, existiria uma contradi¢f0 bdsica entre o setor agrdrio-exportador, re- presentado pelo latiftindio semifeudal, associado ao imperialismo, e os interesses voltados para o mercado interno, repre- sentados pela ‘burguesia’.”2* Q trabalho € uma importante contribuigdo para a an4- lise da revolugao de 1930, mas desde o ini- cio é marcado pelo ponto de vista da inter- pretagdo funcional-capitalista, que reduz a interpretagdo nacional-burguesa a um mo- delo simplificado para em seguida negar-Ihe qualquer validade. Na mesma linha, um ar- tigo pioneiro criticando especificamente a obra de um dos expoentes da interpretag&o nacional-burguesa, Nelson Werneck Sodré, é escrito por Paula Beiguelman, que afirma: “Nao hd, pois, como interpretar a agitaggo da década de 1920 e na revolucdo de 1930 em termos de um conflito entre o setor in- terno e oagrdrio, ou,na expresso do autor (N.W.S.), como uma luta entre burguesia e latiftindio.” 9 Outro trabalho marcante nesta mesma linha é o de Francisco de Oliveira, a “Criti- A solugio tedrica para este problema foi afinal dada por Sérgio Silva, que demonstrou a natureza contraditéria, ao invés de linearmente favordvel ou contrdtia, das relagGes entre o café e a indus- trializagdo, Ver Sérgio Silva, Expansio Cafeeira e Origem da Indiistria no Brasil, S40 Paulo, Edito- ra Alfa-Omega, 1976 (tese defendida em 1973). Ver também a contribuigdo de Wilson Cano, Rat- zes da Concentragdo Industrial no Brasil, Sao Paulo, DIFEL, 1977. 7 38 39 Jodo Manoel Cardoso de Mello, O Cépitalismo Tardio, op. cit., p. 195. Boris Fausto, A Revolugdo de 1930, Sio Paulo, Editora Brasiliense, 1972, p. 9. Paula Beiguelman, “A Propésito de uma Interpretacdo da Histéria da Reptiblica’ Revista Civili- za¢do Brasileira, n. 9-10, setembro-novembro, 1966, p. 262. 281 ca 4 Razdo Dualista”. Como o trabalho de Cardoso de Mello, trata-se também ¢ principalmente de uma critica a Celso Fur- tado, na medida em que ele teria adotado uma visio dualista e modernizante da eco- nomia brasileira. O cardter pré-capitalista da formagdo social brasileira anterior nfo € megado. O que se nega € qualquer contra- dicdo entre o Brasil pré-capitalista e 0 Bra- sil capitalista. Pelo contrdrio, a agricultura pré-capitalista, assim como a marginalidade urbana, seriam funcionais para a acumula- ao capitalista, na medida em que rebaixas- sem 0 custo de reprodugdo da mao-de-obra. Pela riqueza de suas sugestdes, entretanto, expostas sempre em termos de um marxis- mo efetivamente dialético aberto, este trabalho de Francisco de Oliveira exerce- rd uma grande influéncia sobre 0 pensa- mento da esquerda democratica no Brasil. Sua andlise dos mecanismos de acumulagdo primitiva ainda em agdo no pais, sua pro- posta de internalizagZo do -problema do subdesenvolvimento ¢ sua discussio sobre a “inchagdo” do tercidrio, entre outras, so contribuicdes extremamente estimulantes do debate e da pesquisa. Na mesma linha, temos outras contri- buigdes de alguns pesquisadores do CEBRAP, que se torna entéo um centro fundamental do pensamento brasileiro, ao lado da Universidade de So Paulo. Na ver- dade, dentro do CEBRAP vao conviver € muitas vezes se misturar (porque nem sem- pre é facil distinguir a interpretagao funcio- nal-capitalista da interpretago da nova de- pendéncia, dado o fato de que alguns auto- res transitam de uma para outra) represen- tantes das duas interpretacées. Na linha extremamente criativa aberta por Francisco de Oliveira, so especialmente significativos os trabalhos de Lucio Kowa- tick,*! responsdvel por uma andlise brilhan- te das relagdes funcionais entre marginali- dade ¢ dependéncia no contexto das socie- dades dependentes, de Manoel Berlinck,** também a obra coletiva do CEBRAP, coordenada por Lticio Kowarick e Vinicius Caldeira Brant, Sdéo Paulo 1975, Cresci- mento e Pobreza, uma extraordinéria and- lise do processo de acumulagao e da paupe- rizago da populagao paulista.”? Um tltimo** representante fundamen- tal da interpretago funcional-capitalista ¢ 40 Francisco de Oliveira, “Economia Brasileira; Critica a Razdo Dualista”, Estudos CEBRAP, n. 2, outubro, 1972. a Liicio Kowarick, Capitalismo e Marginalidade na América Latina. Rio de Janeiro; Paz e Terra, 1975 (tese defendida em 1973);A Espoliagdo Urbana, Rio de Janeiro, Paz ¢ Terra, 1979. a a3 Manoel T. Berlinck, Marginalidade Social e Relagdes de Classe em Sao Paulo, Petrépolis, Editora Vozes, 1975. Liicio Kowarick e Vinicius Caldeira Brant, coordenadores, Séo Paulo 1975: Crescimento e Pobre- za, Sio Paulo, Edigdes Loyola-CEBRAP, 1976. A obra foi escrita coletivamente, constando, en- tre seus colaboradores, Céndido Procépio Ferreira de Camargo, Fernando Henrique Cardoso, Fre- derico Mazzuchelli, José Alvaro Moisés, Maria Hermfnia Tavares de Almeida e Paul Singer, mas a coordenagao dos trabalhos coube a Lticio Kowarick e Vinfcius Caldeira Brant, cuja marca sobre o todo afinal deve ter sido decisiva, fazendo-nos incluir esta obra na interpretagdo funcional-capita- lista, E claro que muitos outros trabalhos incluem-se nesta linha de interpretagdes. Veja-se, por exem- plo, a critica radical do ISEB realizada por Caio Navarro de Toledo, ISEB: Fabrica de Ideologias, So Paulo, Editora Atica, 1977; e Maria Sylvia Carvalho Franco, “O Tempo das Ilusées”, in Mari- lena Chauf e Maria Sylvia Carvalho Franco, Ideologia e Mobilizagdo Popular, Sio Paulo, CEDEC 282 Luciano Martins, que sintetiza seu pensa- mento em Pouvoir et Developpement Eco- nomique.*® Em sua andlise da Revolugdo de 1930, hd a preocupagdo permanente de re- duzir o seu significado histérico a um epis6- dio de “modemizagao conservadora”, nos termos da conceituagdo de Barrington Moore,” através do qual novas elites subs- tituem ou se justapdem as antigas. Luciano Martins reconhece o cardter de luta de clas- ses da Revolugdo de 1930, mas o define “em um sentido bem preciso como uma lu- ta de classes preventiva, desencadeada por iniciativa da classe dominante”.*” E preo- cupa-se em demonstrar ¢ documentar que ngo havia conflito entre a oligarquia agrd- ria € os industriais, j4 que, em um movi- mento tipicamente oligérquico como foi a Revolugdo de 1932, ‘a documentagao so- bre a participagdo da Federagao das Induis- trias de So Paulo no conflito é abundan- te’”.*8 Estas consideragdes, entretanto, nao pretendem negar a grande contribuigo de Luciano Martins, como alids dos demais re- presentantes da interpretagdo funcional-ca- pitalista aqui citados. A andlise de Luciano Martins € especialmente importante no apenas na andlise da Revolugdo de 1930, mas principalmente na pesquisa sobre a emergéncia da tecnoburocracia e dos pro- cessos decisérios dos quais ela participa ati- vamente para implantar a industria pesada no Brasil. A interpretagdo funcional-capitalista é importante na medida em que permite as esquerdas uma andlise autonoma — ao invés de subordinada 4 burguesia, como era a in- terpretagdo nacional-burguesa — da realida- de brasileira. Por outro lado, sua fundamen- taco marxista ndo-stalinista lhe permite um aprofundamento critico do debate sobre as relagdes entre a economia e a politica e sobre a forma de dominagdo burguesa no Brasil, que antes s6 fora realizado de um ponto de vista marxista por Caio Prado Jr. Trata-se, entretanto, de uma interpretagdo limitada, devido ao seu cardter excessiva- mente critic. Preocupada em negar de ma- neira radical toda a interpretagdo nacional- burguesa, ignora que esta sem dtivida come- tera graves erros, mas que a superacdo de sua andlise devia-se menos a esses erros ¢ mais aos fatos novos ocorridos nos anos cingiienta. Esta limitagdo, alids, explica porque muitos dos seus autores tendem a transitar para a interpretagdo da nova de- pendéncia quando estd se tornando hege- ménica entre as esquerdas no Brasil. Neste quadro, Luiz Pereira surge como uma figura isolada, apenas indiretamente li- gada a interpretagdo funcional-capitalista, da qual, entretanto, é um dos pioneiros. Es- crevendo em uma época de transi¢ao Tra- batho e Desenvolvimento no Brasil, sua contribuiggo nem sempre é clara, mas sem duivida é rica de sugestées, especialmente sua ~ Paz e Terra, 1978. Por outro lado, vejase o depoimento sobre o ISEB realizado por Hélio Ja- guaribe, “Um Breve Depoimento e uma Apreciagao Critica”, Cadernos de Opinio, n. 14, outu- bro-novembro, 1979. 45 46 Barrington Moore J a 48 Luciano Martins, Pouvoir et . Luciano Martins, Pouvoir er .. Luciano Martins, Pouvoir et Developpement Economique, Paris, Editions Anthropos, 1976 As Origens Sociais da Ditadura e da Democracia, Lisboa, Edigdes Cosmos, 1975 (tradugdo do original em inglés, de 1967). = 0p. cit., p. 120. 0p. cit., p. 133. 283 reinterpretagdo da Revolugo de 1930 ¢ sua critica 4 teoria sobre o dualismo estru- tural, pois, a seu ver, o que existe no Brasil € a coexisténcia de capitalismos “dinamiza- dos” e “sufocados”.” A INTERPRETAGAO DA SUPEREXPLORACAO IMPERIALISTA. A dificuldade em ver, para em seguida poder interpretar os fatos novos, aplica-se também @ interpretagdo da superexplora- gfo imperialista, Esta € também uma inter- pretago ressentida da derrota representa- da pela Revolucdo de 1964, mas é uma in- terpretago muito mais radical. Sua propos- ta ndo € apenas a de criticar a interpreta- Go nacional-burguesa e os decorrentes des- vios da esquerda, mas a de construir uma nova interpretagdo, ndo apenas para o Bra- sil, mas para a América Latina de um modo geral, a partir do conceito leninista de im- perialismo e do conceito trotskista da per- da de dinamismo do capitalismo central. Da mesma forma que a interpretago na- cional-burguesa, o imperialismo € o grande culpado do subdesenvolvimento. Mas, dife- rentemente daquela interpretagdo, nao exis- te divisio na burguesia intema, entre uma burguesia agrério-mercantil aliada ao impe- rialismo e uma burguesia industrial: a bur- guesia estd solidamente unida e subordina- da ao imperialismo. E também nao existe nenhuma proposta “nacionalista” que sir- va de amortecedor da luta de classes. O imperialismo extrai praticamente to- do 0 excedente dos paises subdesenvolvi- 49 so dos. E o obstdculo fundamental a qualquer proceso real de desenvolvimento. A bur- guesia local, por sua vez, est4 integralmente subordinada ao imperialismo. Como este explora os trabalhadores locais através do comércio internacional e das empresas mul- tinacionais, no resta outra altemativa a burguesia local, para poder se apropriar também ela do excedente, sendo supex- ploré-los. E para superexplorar os traba- Ihadores € necessdrio recorrer a violéncia. Por isso as burguesias locais sio necessaria- mente autoritérias, sendo fascistas. Em con- clusio, a alternativa para o Brasil, assim co- mo para os demais povos latino-america- nos, € 0 socialismo ou o fascismo, j4 que © capitalismo depéndente seria necessaria- mente fascista. Estas teses tém como uma de suas ba- ses o8 trabalhos de Andrew Gunder-Frank que, em um artigo cléssico, “Desenvolvi- mento do Subdesenvolvimento”® e¢ em uma série de livros (a partir de Capitalism and Underdevelopment in Latin Ameri- ca), procura demonstrar a tese radical de que a América Latina sempre foi capitalis- ta, jamais tendo apresentado caracteristi- cas pré-capitalistas. A colonizagdo européia teria sido puramente mercantil e, portanto, essencialmente capitalista. Implantando-se na América Latina um modelo capitalista exportador de produtos primédrios, teriam sido o capitalismo e 0 imperialismo as cau- sas bdsicas do subdesenvolvimento, tanto assim que as zonas mais subdesenvolvidas do continente foram aquelas que tiveram um grande auge exportador mercantil, Luiz Pereira, Trabalho € Desenvolvimento no Brasil, Si0 Paulo, DIFEL, 1965, pp. 87-97 ¢ 119. Andrew Gunder Frank, “Desenvolvimento do Subdesenvolvimento” Luiz Pereira, org., Urba- nizagdo e Subdesenvolvimento, Rio de Janeiro, Zahar, 1973 (publicado originalmente em Monthly Review, Vol. 18,n. 5, setembro, 1966). st Review Press, 1969. Andrew Gunder Frank, Capitalism and Development in Latin America, Nova York, Monthly 284 Em uma linha muito semelhante, Ruy Mauro Marini desenvolve a “teoria da su- perexplorago”. E curioso que Marini re- conhece que durante um certo perfodo houve interesses comuns entre a burguesia € 0 proletariado, tendo isto “conduzido a vanguarda pequeno-burguesa ao reformis- mo e 4 politica de colaboragao de clas- ses”, mas “o pronunciamento militar de 1964 assestou um golpe mortal na corrente reformista”. A interpretagdo nacional-bur- guesa, portanto, ¢ identificada com o re- formismo, embora se admita que ela tenha tido certa validade durante algum tempo. O reformismo fracassou porque o de- senvolvimento do Brasil estaria baseado essencialmente na superexplorago dos tra- balhadores, definida pelo fato de que os trabalhadores recebem um saldrio inferior ao nivel de subsisténcia, além de terem sua jornada de trabalho e a intensidade de seu trabalho aumentadas. Esta superexplora- 40 seria uma tendéncia normal nos paises capitalistas, que se acentuaria nos paises dependentes ou periféricos, j4 que estio submetidos ao imperialismo dos paises ca- pitalistas centrais, que lhes extrai parte da mais-valia através da troca desigual de mer- cadorias no mercado internacional. Em conseqiiéncia, “as nagées desfavorecidas pelo intercdmbio desigual nfo buscam es- pecialmente corrigir os desequil{brios entre 08 precos e o valor de suas mercadorias ex- portadas (0 que implicaria em esforgo re- dobrado para aumentar a capacidade pro- dutiva do trabalho), mas sim tentam com- pensar a perda das rendas geradas no co- mércio internacional através da superex- ploragio dos trabalhadores”.5? Ora, a su- perexplorago implica no rompimento da troca de equivalentes. O trabalho deixa de ser pago de acordo com seu valor. Para lo- grar esse resultado, a burguesia é obrigada a recorrer a métodos autoritdrios, que se- riam, assim, inerentes as burguesias perifé- ricas como a brasileira. Além disso, no ca- so do Brasil, a burguesia recorreria 20 subimperialismo, via exportagdo de seus Produtos manufaturados a paises ainda menos desenvolvidos, nos quadros de uma nova divisfo internacional do trabalho, j4 que a superexploragio impediria a forma- 40 de um mercado intemo. Na mesma linha, Theoténio dos San- tos deixa muito claro, inclusive no tftulo de um de seus livros, que a alternativa para © Brasil e a América Latina é 0 socialismo ou o fascismo.™ Sua andlise nfo se limita apenas a este aspecto e, como no caso de Ruy Mauro Marini, constituise em uma importante contribuig%o critica radical ao modelo latino-americano e brasileiro, sub- desenvolvido, dependente e autoritério. No plano da dependéncia, Theotonio dos Santos identifica trés formas histéri- cas: (1) a dependéncia colonial, comer- cial-exportadora, (2) a dependéncia finan- ceiroindustrial, que se consolida,no final do século XIX, e (3) a dependéncia tecno- I6gico.industrial do perfodo do pés-guer- ra, exercida através das empresas multina- cionais.'$ Este tiltimo tipo de dependéncia Ruy Mauro Marini, Subdesarrollo Revolucién, México, Siglo XI, 1969, p. 151. Ruy Mauro Marini, Dialética de la Dependencia, México, Ediciones Era, 1973, p. 37. Theoténio dos Santos, £1 Nuevo Caracter de la Dependencia, Santiago Centro de Estudios Socio- Econémicos da Universidade do Chile (CESO), 1967; Dependencia y Cambio Social, Santiago, Centro de Estudios Socio-Econémicos da Universidade do Chile (CESO), 1970; Socialismo o Fa- cismo ~ el Nuevo Caracter de la Dependencia y el Dilema Latinoamericano, Buenos Aires, Edicio- nes Periferia, 1973. Theot6nio dos Santos, Dependencia y Cambio . ..,op. cit. . 55. 285 d4 origem a um tipo de desenvolvimento “‘desigual e combinado”, na medida em que © subdesenvolvimento € caracterizado por desigualdades profundas, relacionadas com a superexploragdo da mio-de-obra. Por ou- tro lado, como essa superexploragdo es- t4 ligada a transferéncia de excedentes para os paises imperialistas, a desigualdade tor- na-se um elemento estrutural da economia mundial. Por isso o desenvolvimento lati- no-americano, além de desigual, € combi- nado. Na verdade, embora Theoténio dos Santos faga, j4 em 1973, uma andlise im- portante e relativamente pioneira do fato novo representado pelas empresas multina- cionais manufatureiras a partir dos anos cingiienta, ele no consegue perceber que no € apenas a natureza da dependéncia que muda. O grau de exploragdo também muda, na medida em que as multinacio- nais tornam-se diretamente envolvidas no processo de industrializagdo brasileiro. Por outro lado, na medida em que o imperialismo externo e a superexploragao intema, ambos estritamente relacionados, agudizariam a luta de classes de maneira in- sustent4vel, Theotonio dos Santos conclui de forma radical pelo cardter intrinsecamen- te fascista da burguesia latino-americana ¢ afirma: “Tudo indica que o que nos espera um longo processo de profundos enfren- tamentos polfticos e militares, de radicali- zagGo social profunda, que leva estas socie- dades a um dilema entre governos de forga que tendem a abrir caminho para o fascis- mo e govemos revoluciondrios populares que tendem a abrir caminho para o socia- lismo”.5¢ 56 7 p. 181. se Theoténio dos Santos, Dependencia y Cambio .. . , op. ci Florestan Fernandes, Estrutura de Classes e Subdesenvolvimento, Rio de Janeiro, Zahar, 1968, Finalmente, devemos fazer uma refe- réncia imprescindivel a Florestan Fernan- des. E extremamente dificil classificar o notdvel socidlogo, verdadeiro fundador da escola moderna de sociologia de Sao Pau- lo. Seu pensamento independente e com- plexo impossibilita as classificagGes simplis- tas. Sua andlise indignada da Revolugdo de 1964, que (1) frustra a revoluggo burguesa, (2) neutraliza os militares como fatores de equilibrio politico, e (3) mostra definiti- vamente que nada mais pode se esperar das nossas classes conservadoras*” nos levaria a situd-lo na interpretagdo funcional-capita- lista, Da mesma forma, sua andlise da evo- lugo social e politica brasileira, centrada em dois ciclos revoluciondrios que tém co- mo data inicial 1808 ¢ 1888, levaria na mesma diregao.** Por outro lado, ao fazer a distingaio en- tre uma revolugdo burguesa cléssica, que levaria o desenvolvimento brasileiro a um padrfo de capitalismo auto-suficiente ¢ auténomo, e uma revolugdo burguesa de- pendente, por ele detectada no Brasil ¢ que apenas marcaria a passagem do capita- lismo comercial e financeiro para o indus- trial, Florestan Fernandes esté em conflito tanto com a interpretagdo funcional-capita- lista quanto com a interpretagdo da superex- plorago imperialista, na medida em que es- sa distingdo salienta a passagem do capita- lismo mercantil para o industrial (da qual a Revolugdo de 1930 seré 0 marco) € mos- tra que afinala burguesia brasileira nao é to coesa como se pretende. Mas, se formos considerar sua posigéo radical em relagfo ao autoritarismo bur- gués, considerado intrinseco as burguesias . 68. Florestan Fernandes, Estrutura de Classes . .. ,op. cit.,p.172. 286 dependentes como a brasileira, sua andlise se aproxima muito da interpretagdo da superexploracdo imperialista. Florestan Fer- nandes conserva uma visio histérica em que a burguesia em um determinado mo- mento defendeu as posig6es democraticas ou nacionais, mas conclui pelo seu inerente autoritarismo. Em suas palavras: “De clas- ses patrocinadoras da revolug%o democréti- co-burguesa nacional passam a conceber-se como pilares daordem mundial do capitalis- mo, da ‘democracia’ e da ‘civilizagao cris- ta..." No fundo, a referida reviravolta con- fere novos fundamentos psicolégicos, mo- raise politicos ao enriquecimento da domi- nagao burguesa e a sua transfiguragZo numa fora social especificamente autoritdria totalitéria.”®° De qualquer forma, parece- nos essencial considerar Florestan Fernan- des como uma figura a parte neste quadro que estamos tentando delinear das interpre- tages sobre o Brasil. A INTERPRETAGAO DA NOVA DEPENDENCIA Em contraposi¢ao a interpretacao fun- cional-capitalista ¢ a interpretago da su- perexploragio imperialista, temos final- mente no. campo das esquerdas a interpre- tagdo da nova dependéncia.” so 60 Esta interpretagdo, ainda que compar- tilhe com a interpretago funcional-capi- talista e com a interpretagdo da superex- ploragdo imperialista da critica a interpre- tagdo nacional-burguesa, é muito menos ra- dical nessa critica. Ndo porque nao veja erros e comprometimento ideoldgico nessa inter- Pretagdo, mas porque distingue os erros de interpretagfo e 0 comprometimento ideolégico da superagao dessa interpretagao pelos fatos novos que acontecem durante 08 anos cinqiienta no Brasil. A utilizagdo do conceito de “fato no- vo” € essencial para essa interpretacio. No plano politico, uma série de fatos novos, ocorridos principalmente durante o gover- no Kubitschek, elimina as razSes para o conflito entre a burguesia industrial e a bur- guesia agrério-mercantil e para uma poss{- vel posi¢ao nacionalista da burguesia. Por outro lado, liquida a alianga dos trabalha- dores com a burguesia, que o pacto popu- lista refletia e a interpretagao nacional-bur- guesa no apenas constatava mas propunha. Estes fatos novos, que examinei em um trabalho de 1963,°' so os seguintes: (1) consolidagdo da industria nacional que a partir de entao néo pode mais ser consi- derada “artificial” em um “pais essencial- mente agrério”; (2) decadéncia definitiva da agricultura exportadora de café com a Florestan Fernandes, A Revolucdo Burguesa, Rio de Janeiro, Zahar, 1974, p. 316. Para uma critica da interpretagao da superexploragio imperialista realizada por representantes da interpretagdo da nova dependéncia, ver Fernando Henrique Cardoso, “O Consumo da Teoria da Dependéncia nos Estados Unidos”, Ensaios de Opinio, n. 4, 1977; José Serra, “As Desven- turas do Economicismo: Trés Teses Equivocadas sobre a Conexio entre Autoritarismo e Desen- volvimento”, Dados, n, 20, 1979, pp. 3-45; José Serra e Femando Henrique Cardoso, ‘As Des- venturas da Dialética da Dependéncia”, Estudos CEBRAP, n. 23, 1979. E significativo que nao hd erfticas a interpretagdo funcional-capitalista, pretendendo-e assim uma unidade de pontds de vista com a interpretagdo da nova dependéncia que de fato no existe, embora os pontos comuns © as dreas cinzentas sejam muitos. Luiz Carlos Bresser Pereira, “O Empresirio Industrial e a Revolugao Brasileira”, Revista de Admi- nistragao de Empresas, n. 8, julho-setembro, 1963, pp. 20-25, republicado em Bresser Pereira, Empresdrios e Administradores ..., op. cit. Ver também Desenvolvimento e Crise no Brasil, Rio a 287 queda dos pregos intemacionais, tomando invidvel a transferéncia de renda do setor exportador para a industria (estes dois fa- tos novos liquidam a relativa divisio no seio da burguesia brasileira); (3) entrada em massa das empresas multinacionais associa das indiretamente com a burguesia local; (4) aprovacdo em 1958 da Lei de Tarifas que protege definitivamente a industria na- cional da importago de similares estran- geiros (estes dois fatos novos liquidam com © “nacionalismo” da burguesia local, j4 que esse nacionalismo limitou-se sempre ao protecionismo e jamais se opés a penetra- ¢40 das multinacionais); (5) revigoramento da atividade sindical durante os anos cin- qienta, através da formagdo de diversos pactos inter-setoriais de unidade sindical; ¢ (©) Revoluggo de Cuba, em 1959, que apa- vorou a burguesia local. Estes dois iiltimos fatos novos foram diretamente respons4- veis pela liquidago do pacto populista e pela radicalizagao do inicio dos anos sessen- ta, quando a esquerda formula pela primei- ra vez (mas de forma imatura) um projeto politico auténomo. De um modo geral, en- tretanto, os seis fatos novos explicam a unido da burguesia industrial e agrdrio-mer- cantil, sua associago com as multinacio- nais e seu rompimento com os trabalhado- tes e a esquerda. A Revoluco de 1964 se- 14 a trdgica’ culminagdo desse proceso. A contribuicio fundamental a inter- pretagdo da nova dependéncia, entretanto, serd realizada por Fernando Henrique Car- doso. Em 1967, circula de forma mimeogra- fada um livro escrito em colaborago com Enzo Faletto que iré marcar todo o pensa- mento brasileiro ¢ Latinoamericano poste- tior: Dependéncia e Desenvolvimento da América Latina. A partir desse livro constitui-se 0 que seria chamado de “teoria da dependén- cia”, baseada em uma critica de um lado as teorias de modemizagao e de etapas do desenvolvimento ¢ de outro a teoria da su- perexploragdo imperialista. A proposta mais geral do conceito de dependéncia con- siste em demonstrar que os determinantes externos (imperialismo) da situagfo de de- pendéncia esto relacionados aos determi- nantes internos (estrutura de classes) que sio fundamentais ¢ tendiam a ser minimi- zados na interpretagdo nacional-burguesa. “Nesta perspectiva, a andlise da dependén- cia significa que nao se deve considerd-la como uma ‘varidvel externa’, mas que é possfvel analisé-la a partir da configuracao do sistema de relagdes entre as diferentes classes sociais no ambito mesmo das na- goes dependentes.”™ essencial na interpretagdo da nova dependéncia, entretanto, no estd nesse conceito tedrico de dependéncia, mas na de Janeiro, Zahar, 1968, pp. 112-118, onde volte a examinar 0 problema. Os fatos novos exami- nados neste artigo de 1963 pretendiam explicar porque a interpreta¢do nacional burguesa perdera validade © porque 0 modelo politico desenvolvimentista entrara em crise, na medida em que aqueles fatos novos levaram ao colapso da alianca entre a burguesia industrial e os trabalhadores, sob a égide de Getdlio Vargas e, portanto, de setores do latifiindio voltados para o mercado in- terno. 62 Rio de Janeiro, Zahar, 1970. 8 novos que mudam o cardter da dependéncia. Fernando Henrique Cardoso e Enzo Faletto, Dependéncia e Desenvolvimento na América Latina, Prefiro a denominagdo ‘nova dependéncia”, porque realmente o essencial a definigdo dos fatos Fernando Henrique Cardoso e Enzo Faletto, Dependéncia e Desenvolvimento . . . ,op. cit.,p.31. 288 andlise da nova dependéncia que se confi- gura na América Latina e particularmente no Brasil com a entrada em massa das em- presas multinacionais industriais. ‘Ao contrério da interpretagfo fun- cional-capitalista, no se nega toda valida- de a interpretago nacional-burguesa e re- conhece-se que houve um pacto populista e nacionalista entre a burguesia industrial, 0s setores urbanos populares ¢ o latifiindio ndo-exportador, ao mesmo tempo em que se admite que a “industrializagio, de cardter substitutivo, alcangou-se, por um la- do, através da agdo direta do Estado e, por outro, pelo impulso de uma ‘burguesia in- dustrial’ em grande medida desvinculada do setor agroimportador”. O importante ¢ menos*negar a inter- pretagdo anterior e mais reconhecer o fato novo — os investimentos estrangeiros reali- zados pelas corporagées industriais multi- nacionais — que determina uma nova for- ma de dependéncia, desenvolvimentista (a0 contrdrio do que imaginava a interpretago nacional-burguesa, que identificava impe- rialismo com estagnagao), mas excludente. ‘A nova dependéncia finalmente caracteri- za-se, segundo Cardoso e Faletto, nesse tra- balho extraordinariamente pioneiro, pela associagio da burguesia local com as em- presas multinacionais industriais e com uma tecnoburocracia estatal, civil e mili- © Idem, pp. 36, 103-108, 115. 66 Idem, pp. 103-104. 67 Idem, pp. 122-125 e 134-135. 68 tar.’ Fernando Henrique Cardoso volta ‘a examinar o problema do novo tipo de imperialismo e do novo modelo de desen- volvimento associado em uma série de en- saios reunidos em livros,®* que aprofun- dam e ampliam as idéias bdsicas desenvolvi- das inicialmente no Chile,em 1966 e 1967. No plano econémico, entretanto, era necessério reinterpretar também a nova de- pendéncia. Celso Furtado dé um primeiro asso, mas incompleto, com um ensaio fun- damental, Subdesenvolvimento e Estagna- edo na América Latina, em que a andlise do novo modelo de desenvolvimento, ba- seada nas empresas multinacionais e na in- diistria capital-intensiva e tecnologicamente sofisticada, jd esta claramente definida. Mas Furtado ainda ndo vé com clareza 0 novo proceso de expansio econdmica, que ain- da no comecara, e fala na tendéncia a es- tagnagdo. Mas nesse mesmo trabalho ele jé sugere que a estagnago poderia ser supera- da, especialmente no Brasil (e mais dificil- mente na Argentina), através de um novo proceso de concentragdo de renda. Novo passo € dado com Teoria e Politica do De- senvolvimento Econémico,” uma reformu- lagdo € ampliagio de Desenvolvimento e Subdesenvolvimento, em que as novas ba- ses da teoria de dependéncia sao delineadas. Carlos Lessa escreve o estudo classico 15 Anos de Politica Econédmica™ em meados Fernando Henrique Cardoso, O Modelo Polttico Brasileiro e Outros Ensaios, Sa Paulo, DIFEL, 1972; Autoritarismo e Democraticagdo, Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1975; As Idéias e seu Lugar, Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1980. 69 Brasileira, 1966. » Nacional, 1967, n Celso Furtado, Subdesenvolvimento e Estagnacdo na América Latina, Rio de Janeiro, Civilizagdo Celso Furtado, Teoria e Politica do Desenvolvimento Econémico,, Sfo Paulo, Companhia Editora Carlos Lessa, 15 Anos de Polttica Econdmica, Sao Paulo, Editora Brasiliense, 1975, 289 dos anos 60, mais ou menos na mesma épo- ca em que Maria da Conceigdo Tavares es- creve seu trabalho fundamental sobre o modelo de substituic¢ao de importagdes.” Meu Desenvolvimento e Crise no Brasil é de 1968. As primeiras tentativas de definir um novo modelo de desenvolvimento sio reali- zadas por Anténio Barros de Castro,” Ma- ria da Conceigéo Tavares e José Serra.” Por outro lado, publico em 1970 um trabalho, “Dividir ou Multiplicar: A Distribuiggo da Renda e a Recuperagdo da Economia Bra- sileira”,”> onde jé relaciono com clareza 0 novo ciclo de expanso que ocorria no Bra- sil desde 1967, com a concentragdo de ren- da da classe média para cima. Ficava assim definida a caracteristica fundamental do “novo modelo brasileiro de desenvolvimen- to”, baseado na concentragio de renda das camadas médias para cima, as quais serviam como mercado para as industrias dindmicas do perfodo, ou seja, as indistrias de bens de consumo durdveis, especialmente a in- distria automobilistica, Os dois trabalhos marcantes sobre o novo modelo brasileiro de desenvolvimento, entretanto, sero o ensaio “Além da Estag- nagao”, escrito por Maria da Conceigao Ta- vares ¢ José Serra ¢ o livto Andlise do Mo- delo Brasileiro, de Celso Furtado.” A and- lise parte, de um lado, da heterogeneidade tecnolégica estrutural que caracterizaria a industrializagao latino-americana, jé sugeri- da para a América Latina por Anibal Pinto, desde os primeiros anos da década de ses- senta.” Esta heterogeneidade estrutural implica na existéncia de um setor moderno ‘ou monopolista, em que se realiza a alianga do Estado, das empresas multinacionais in- dustriais e do grande capital local, e de um outro setor tradicional ou competitivo, que inclui a velha industria substitutiva de im- portagées. A esse novo dualismo soma-se um processo de reconcentracdo de renda das classes médias para cima, que viabiliza em termos de mercado a implantacdo das industrias modemas, monopolistas e tecno- logicamente sofisticadas. Define-se entdo uma nova estratégia de desenvolvimento, 72 Maria da Conceiggo Tavares, Da Substituigéo de Importagdes ao Capitalismo Financeiro, Rio de Janeiro, Zahar, 1972. n 1969, pp. 142-143. 1” Antonio Barros de Castro, Sete Ensaios sobre a Economia Brasileira, Rio de Janeiro, Forense, 18 6 ” Maria da Conceigdo Tavares e José Serra, “Mas Alld del Estancamiento: Una Discusién sobre el Estilo de Desarrollo Reciente”, E/ Trimestre Econdmico, vol. XXXIIL, n. 152, outubro-dezem- bro, 1971. Publicado em portugués em Maria da Conceigdo Tavares, Da Substituigao ... , op. cit. Luiz Carlos Bresser Pereira, “Dividir ou Multiplicar: A Distribuigdo de Renda e a Recuperagio da Economia Brasileira”, Revista Visio, novembro, 1970. Republicado em Bresser Pereira, Desen- volvimento e Crise no Brasil, 3% edigdo ampliada, Sdo Paulo, Editora Brasiliense, 1972, pp. 211- 221. Maria da Conceiggo Tavares e José Serra, “Mas Alli del Estancamiento ...”, op. cit., Celso Fur- tado, Andlise do “Modelo” Brasileiro, Rio de Janeiro, Civilizagao Brasileira, 1972. Anibal Pinto, “Naturaleza y Implicaciones de la ‘Heterogeneidad Estructural’ de la América Latina”, EI Trimestre Econémico, vol. XXXVIL, n. 145, janeiro-margo, 1970. Anfbal Pinto, alids, € reconhecido tanto por Maria da Conceigdo Tavares quanto por Fernando Henrique Car- oso como o primeiro formulador do novo modelo latino-americano de subdesenvolvimento in dustrializado, baseado na “heterogeneidade estrutural”, 290 em que Estado,.empresas multinacionais e empresas locais ocupam dreas complemen- tares (ao invés de competitivas) no apare- tho produtivo. Este tipo de crescimento, entretanto, estd sujeito a crises de realiza- go nao apenas devido a problemas de des- proporcdo, mas especialmente devido a “necessidade de mudangas permanentes e descontinuas na forma de assignacao de re- cursos (geragfo, apropriagao e utilizagao do excedente), explicadas pelo cardter solidd- tio da economia com os esquemas renova- dos de divisfo internacional do trabalho”.”* Na mesma linha, Paul Singer, que exa- minara pioneiramente as crises de conjun- tura no Brasil,” faz a andlise do “milagre” brasileiro em 1972 e prevé de forma no- tavel seu colapso.*' Seus ensaios sfo reu1 dos no livro A Crise do “Milagre”.®* Fran- cisco de Oliveira e Frederico Mazuchelli, por sua vez, fazem uma contribuigdo deci- siva para a compreens&o do novo padrao de acumulaggo implantado no Brasil em “Pa- dr6es de Acumulacao, Oligopélios e Estado no Brasil”. Neste ensaio, os autores poem em segundo plano o cardter funcionalista 8 n Maria da Conceigdo Tavares ¢ José Serra, “Mas Alli del Estancamiento Paul Singer, “Ciclos de Conjuntura em Economias Subdesenvolvidas”, Revista Civilizagdo Brasi- das formagdes pré-capitalistas no Brasil e preocupam-se em definir 0 novo padro de acumulag3o que se implanta a partir dos anos cingiienta, seu éxtase € sua agonia, uti- lizando com inteligéncia o instrumental marxista, A andlise do processo de acumu- lago ocorrido no Brasil nos dltimos trinta anos 6 ao mesmo tempo apaixonada e es- clarecedora. Séo ainda importantes para a andlise do novo padrdo de acumulagdo bra- sileiro e do respectivo modelo politico auto- ritdrio, ainda que pertencendo a matrizes tedricas diversas, os trabalhos, (a) no plano econémico, de Pedro Malan e John Wells, Maria da Conceigfio Tavares, Regis Bonelli e Pedro Malan, Décio Saes, Luciano Couti- nho e Henri Philippe Reichstul, Luiz Gon- zaga de Mello Belluzzo, Jodo Manoel Car- doso de Mello, Carlos A. Afonso e Herbet de Souza, Eduardo Matarazzo Suplicy, Ignd- cio Rangel, Peter Evans, Carlos Lessa e Gui- do Mantega e Maria Moraes; (b) no plano politico, Alfred Stepan, Celso Lafer, Simon Schwartzman, Octdvio Guilherme Velho, Carlos Estevam Martins, Gléucio Soares, Sérgio Abranches, Philippe Faucher, Maria = "0p. cit. p. 949. leira,n. 2, maio, 1965; Desenvolvimento e Crise, Sao Paulo, DIFEL, 1968, 1972. 81 82 3 Paul Singer, O Milagre Brasileiro: Causas ¢ Conseqiiéncias, Sao Paulo, Cadermo CEBRAP, n. 6, Paul Singer, “As Contradigdes do Milagre”, Estudos CEBRAP, n. 6, outubro-dezembro, 1973. Paul Singer, A Crise do “Milagre”, Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1976. 84 Francisco de Oliveira e Frederico Mazuchelli, “Padrées de AcumulagZo, Oligopélios e Estado no Brasil”, in Francisco de Oliveira, A Economia da Dependéncia Imperfeita, Rio de Janeiro, Graal, 1977. Pedro Malan e John Wells, “Furtado, Celso — Andlise do Modelo Brasileiro”, Pesquisa e Planeja- mento Econémico, Vol. I, n. 2, dezembro, 1972. Maria da Conceigo Tavares, Acumulacdo de Capital e Industrializagio no Brasil, Campinas, UNICAMP. 1974 (tese ndo-publicada); Ciclo e Crise: 0 Movimento Recente da Industrializagdo Brasileira, Rio de Janeiro, FEA da Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1978 (tese néo-publicada). Regis Bonelli e Pedro Sampaio Malan, “Os Limites do Possfvel: Notas sobre 0 Balango de Pagamentos nos Anos 70”, Pesquisa € Planeja- mento, Vol. 6, n. 2, agosto, 1976. Décio Saes, Industrializapdo, Populismo e Classe Média no Bra- sil, Sio Paulo, Editora Brasiliense, Cad. Unicamp, n. 6, 1976, Luciano Coutinho e Henri Philippe ae Hermfnia Tavares de Almeida e Wanderley Guilherme dos Santos.* Em meus trabalhos sobre 0 novo mo- delo de desenvolvimento, prossigo a andlise de 1970 na terceira edigao de Desenvolvi- mento e Crise no Brasil,® em artigos de 1973 e 1977, ¢ principalmente no livro Es- tado e Subdesenvolvimento Industrializa- do.*” Minha preocupagao, além de forma- lizar 0 modelo e examinar mais detidamen- te seus aspectos politicos, é a de aprofun- dar a andlise do Estado e da tecnoburocra- cia civil e militar que o dirige com relativa autonomia em relacdo ao capitalismo lo- cal ¢ as empresas multinacionais. Preocupa- 40 até um certo ponto semelhante encon- tra-se em Le6ncio Martins Rodrigues®® e nos trabalhos de Edmar Bacha. Este publi- ca alguns trabalhos muito significativos so- bre 0 novo modelo brasileiro e sobre a hie- tarquia gerencial como determinante dos altos salérios (ordenados na minha termi- Reichstul, “O Setor Produtivo Estatal o Ciclo”, Catlos Estevam Martins, org., Estado e Capita- lismo no Brasil, Sao Paulo, Editora Hucitec-CEBRAP, 1977. Luiz Gonzaga de Mello Belluzzo, “A. Intervengo do Estado no Perfodo Recente”, Ensaios de Opinio, n. 2-3, 1977. Joio Manoel Car- doso de Mello, “O Estado Brasileiro ¢ os Limites da Estatizagio”, Ensaios de Opinido, n. 2-3, 1977, Jodo Manoel Cardoso de Mello e Luiz Gonzaga de Mello Belluzzo, “Reflexdes sobre a Cxi- se Atual”, Escrita Ensaio, ano 1, n. 2, 1977. Carlos A. Afonso e Herbet de Souza, Estado e De- senvolvimento Capitalista no Brasil, Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1977. Eduardo Matarazzo Su- plicy, Politica Econdmica Brasileira e Internacional, Petrpolis, Editora Vozes, 1977. Igndcio Rangel, “Posficio”, in Igndcio Rangel, A Inflagdo Brasileira, 39 edicio, So Paulo, Brasiliense, 1978; Ciclo, Tecnologia e Crescimento, Rio de Janeiro, Civilizagao Brasileira, 1982, Peter Evans, Dependent Development: The Alliance of Multinational, State and Local Capital in Brazil, Prince- ton, Princeton University Press, 1979. Carlos Lessa, “Nago-Poténcia como um Projeto do Esta- do para o Estado”, Cadernos de Opinio, n. 14, dezembro de 1979 - agosto de 1980. Guido Mantega e Maria Moraes, Acumulagéo Monopolista e Crises no Brasil, Rio de Janeiro, Paz e Ter- ra, 1980. Alfred Stepan, The Military in Politics, Princeton, Princeton University Press, 1971. Celso Lafer, O Sistema Politico Brasileiro, Sio Paulo, Editora Perspectiva, 1975. Simon Schwartzman, Sao Paulo e o Estado Nacional, Sio Paulo, DIFEL, 1975. Octavio Guilherme Velho, Cupitalismo Autoritdrio e Campesinato, Séo Paulo, DIFEL, 1976. Carlos Estevam Martins, Capitalismo de Estado e Modelo Polttico no Brasil, Sé0 Paulo, Graal, 1977. Giducio Ary Dillon Soares, “Depois do Milagre”, Dados, n. 19, 1978, pp. 3-26. Sérgio Abranches, The Divided Leviathan, Ithaca, Cornell University, 1978 (tese no-publicada). Philippe Faucher, Le Brésil des Militaires, Montre- al, Les Presses de l"Université de Montréal, 1981. Maria Hermfnia Tavares de Almeida, “Os Demo- cratas no Fio da Navalha”, Estudos CEBRAP, Vol. 1,n. 1, dezembro, 1981. Wanderley Guilher- me dos Santos, Poder e Politica: Crénica do Autoritarismo Brasileiro, Rio de Janeiro, Forense Universitaria, 1978. Luiz Carlos Bresser Pereira, Desenvolvimento e Crise. .., op. cit. A primeira edigio desse livro (1968) continha uma ruptura apenas parcial com a interpretago nacional-burguesa, sob a qual me formara intelectualmente. Esse rompimento limitava-se & andlise dos fatos novos que haviam tornado superada aquela interpretagdo, Sé a partir dos trabalhos de 1970 e 1972 é que passo de- finitivamente para a nova interpretagéo. Luiz Carlos Bresser Pereira, “O Novo Modelo Brasileiro de Desenvolvimento”, Dados, n. 11, 1973, pp. 122-145; “A Estratégia Brasileira de Desenvolvimento entre 1967¢ 1973”, Revista de Administragéo de Empresas, Vol. 17, n. 4, julho-agosto, 1977; Estado e Subdesenvolvimento In- dustrializado, op. cit. ‘Ledncio Martins Rodrigues, “Um Novo Modelo Latino-Americano?”, So Paulo, mimeo., 1973. a7 292 nologia) dos tecnoburocratas® e os retine em um livro basico, Os Mitos de uma Dé- cada,” Todos esses trabalhos de andlise eco- némica, ainda que possam apresentar di- vergéncias importantes de orientagdo, ins- crevem-se na linha da interpretagdo da nova dependéncia na medida em que buscam compreender a realidade brasileira a partir dos fatos novos que a modificaram profun- damente durante os anos cingiienta. Nesse sentido, além das contribuigdes jé assinala- das, Celso Furtado continuard a ter um pa- pel decisivo na andlise do processo econd- mico em marcha no Brasil nos quadros da nova dependéncia através de seus livros, O Mito do Desenvolvimento Econémico e O Brasil Pés-Milagre.” Voltando ao plano politico e social, podemos ainda citar nos quadros gerais da interpretagdo da nova dependéncia, embo- ra constituam na verdade abordagens para- lelas ou relativamente independentes, as notdveis contribuigdes de Francisco Wef- 89 Edmar Bacha, “Sobre a Dinémica de Crescimento da Economia Indust fort® e de Octavio Ianni® sobre o populis- mo; ¢ a andlise do desenvolvimento capita- lista no Brasil realizada por Juarez Bran- dao Lopes™ e Octdvio Ianni®’ sobre a for- ma¢do da sociedade industrial e do capita- lismo no Brasil. E significativo alids obser- var que nas obras destes dois autores sobre © capitalismo no campo, ambas de 1976, a énfase esta na penetragao recente (nos ilti- mos cingiienta anos) do capitalismo no campo, constituindo-se em um desmentido indireto a interpretacao funcional-capitalis- ta, que pretendia o Brasil capitalista desde 0 inicio da colonizagao. E importante ainda assinalar as contri- buigdes recentes para o estudo dos empre- sdrios brasileiros realizadas por Eli Diniz e Renato Raul Boschi, em que o problema da burguesia nacional e do seu autoritaris- mo sfo examinados. Hé também uma gran- de bibliografia sobre a agricultura e os sin- dicatos e a classe operdria, mas deixo de ci- tar novas contribuiges para nao fugir ao objetivo da andlise. Hélio Jaguaribe, por Subdesenvolvida”, Pes- quisa e Panejamento Econémico, Vol. 3, n.4, dezembro, 1973; “Hicrarquia e Remuneragio Ge- rencial”, Estudos Econémicos, Vol. 4,n. 1, janeiro-maio, 1974. 90 on 92 Edmar Bacha, Os Mitos de uma Década, Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1976. Celso Furtado, O Mito do Desenvolvimento Econdmico, Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1974; O Brasil “Pos-Milagre"’, Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1981 Francisco C. Weffort, “Politica de Massas”, Octévio Ianni, Politica e Revolugdo Social no Brasil, Rio de Janeiro, Civilizagdo Brasileira, 1965; “Estado e Massas no Brasil”, Revista Civilizagdo Bra. sileira, Ano I, n. 7, maio, 1966; “Populismo e Politica no Brasil”, Celso Furtado, org., Brasil Tempos Modernos, Rio de Janeiro, Civilizagao Brasileira, 1968; Populismo na Politica Brasileira, Rio de Janeiro, Paz ¢ Terra, 1978. 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Eli Diniz, Empresério, Estado e Capitalismo no Brasil, Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1978, Eli Di- niz e Renato R, Boschi, Empresariado Nacional e Estado no Brasil, Rio de Janeiro, Forense Uni- 93 Do Latifiindio a Em- 9s 96 293 sua vez, procura rever e atualizar sua posi- 40 original, mas mantém sua esperanga em uma alianga politica com a burguesia.®” Cabe finalmente uma breve referéncia 4 obra de Darcy Ribeiro. Sua macrovisio do processo civilizatério escapa ao ambito deste artigo. Em relaggo ao Brasil, um dos “povos novos” que sofre um rdpido e trau- mético processo de “atualizaco histérica”, observa-se em sua obra uma forte influén- cia da interpretagdo nacional-burguesa. Por isso ele no pode ser classificado na inter- pretacdo funcional-capitalista ou na da su- perexploracao imperialista. Desta ultima, entretanto, ele se aproxima, devido ao for- te contetido nacionalista de sua andlise. Ele reconhece a importancia fundamental da Revolugao de 1930, assinala a mudanga fun- damental no tipo de dependéncia ocorrido durante 0 perfodo do Plano de Metas do presidente Kubitschek, mas no consegue perceber que essa mudanga passa a exigir uma renovagdo de todo o instrumental ana- litico, nas linhas propostas pela interpreta- ¢40 da nova dependéncia. Ao invés, insiste em ver as multinacionais como meras “bom- bas de suc¢o de divisas”.” Este fato, en- tretanto, nfo tira a grande importéncia de sua andlise, especialmente no nivel ma- cro-histérico, a qual revela uma criativida- de e uma lucidez que mostram que o Bra- versitéria, 1978. Renato Raul Boschi, Elites Industriais e Democracia, Rio de Janeiro, Graal, 1979. sil j4 possui intelectuais que pensam e escre- vem ndo apenas sobre o Brasil e a América Latina, mas sobre 0 mundo em que vive- mos. Este € 0 caso, entre outros, de Caio Prado Jr., Celso Furtado, Hélio Jaguaribe, Alberto Guerreiro Ramos, Fernando Henri- que Cardoso e o préprio Darcy Ribeiro. INTERPRETACAO DO PROJETO DE HEGEMONIA DO CAPITAL INDUSTRIAL Os trabalhos extremamente estimulan- tes de Eli Diniz e Renato Raul Boschi, em- bora se inscrevendo na interpretagdo de no- va dependéncia, insistem no cardter basica- mente autoritério dos empresdrios brasilei- tos. Embora eles estejam corretos quando afirmam que a visdo autoritéria dos empre- sdrios transparece na énfase, na ordem e na estabilidade contra 0 conflito, no privilégio dos aspectos técnicos em relagdo aos politi- cos, ¢ na idéia do Estado como “campo pri- vativo das elites”, este tipo de andlise im- pediu-os ~e de um modo geral impediu to- da a intelectualidade brasileira — de perce- ber os novos fatos que minavam esse auto- Titarismo (que teve auge no perfodo 1964- 1974) e direcionavam a burguesia indus- trial brasileira no sentido de uma posiggo relativamente, sendo democratica, pelo me- nos liberal. °7 Helio Jaguaribe, Brasil: Crise e Alternativas, Rio de Janeiro, Zahar, 1974. 8 Darcy Ribeiro, As Américas e a Civilizagéo, Rio de Janeiro, Civilizagdo Brasileira, 1970; El Dile- ‘ma de America Latina, México, Siglo XXI, 1971; Teoria do Brasil, Rio de Janeiro, Paze Terra, 1972; “Sobre 0 Obvio”, Encontros com a Civilizagdo Brasileira, n, 1, julho, 1978, 9 Darcy Ribeiro, As Américas e a Civilizagdo, op. cit., p. 308. 100 Eli Diniz e Renato R. Boschi, Empresariado Nacional ... op. cit., pp. 193-195, Segundo Diniz © Boschi, baseados em uma pesquisa realizada em 1974-1975, “esperar que um projeto de maior liberalizagao do regime possa partir da burguesia ou que essa possa pressionar no sentido de reati- vagio dos mecanismos da sociedade civil é, quando muito, apenas conjunturalmente vidvel, para no dizer mesmo impossivel” (p. 199). 294 S6 a partir da interpretag§o da nova dependéncia seria possivel compreender 0 processo de redemocratizagao que tem int- cio no Brasil a partir de 1975 e, principal mente, a partir de 1977. Mas mesmo a in- terpretacdo da nova dependéncia é insufici- ente, porque agora é preciso considerar ou- tros fatos novos, que tém lugar nao mais nos anos cingiienta, mas nos anos sessenta ¢ especialmente setenta. A rigor, a andlise desse processo de de- mocratiza¢ao parcial, controlado e retarda- do pelo préprio Governo através da estraté- gia da “abertura”, exigiria uma nova inter- pretacdo para o Brasil: a interpretago do projeto de hegemonia do capital industrial. Mas, dado o cardter limitado da bibliogra- fia ainda existente sobre o assunto, parece mais adequado apenas sugerir as linhas ge- rais da nova interpretagao. O processo de democratizagao inicia-se no Brasil no final de 1974, imediatamente apés a derrota do govemo nas eleigdes de novembro e quando o processo de expan- sGo de 1967-73 jé se esgotara. Publico en- tao na Folha de S. Paulo uma série de arti- gos (entre 1976 e 1978) — sobre a crise eco- némica, sobre a redugfo relativa do exce- dente disponivel, sobre a campanha contra a estatizagZo como um processo de redefi- nico do modelo politico, sobre a ruptura tor 1978, 102 parcial mas decisiva da alianga politica en- tre a burguesia e a tecnoburocracia estatal, sobre © novo projeto politico de hegemo- nia burguesa e sobre o novo papel das es- querdas —, que so depois publicados em O Colapso de uma Alianga de Classes, 1 O que se pretende através destes traba- thos é demonstrar que o Brasil caminhava para um processo de redemocratizago ne- cessirio, devido a fatos novos ndo apenas conjunturais (a crise econémica, a derrota do governo nas eleicdes majoritdrias de 1974), mas também por motivos estrutu- tais, Na verdade, a burguesia industrial, que emerge timidamente como forga econémi- ca e politica no Brasil a partir de 1930,! 86 comega a se tomar hegeménica no Bra- sil, no seio da burguesia em geral, a partir do processo recente de redemocratizacao. E sabido que a Revolugao de 1930 marca a decadéncia da burguesia agrério-mercantil. Mas, na nova composigao de forgas que se estabelece entdo, a burguesia é ainda um s6- cio menor. O latifandio substituidor de im- Portagoes (ao invés de exportador) assume © comando politico nacional.!°3 A Revolu- $40 de 1964 nao altera esse quadro. O lati- fiindio e o capitalismo mercantil, especula- tivo, comercial e bancério, continuam do- minantes; a burguesia industrial permanece Luiz Carlos Bresser Pereira, O Colapso de uma Alianca de Classes, Sao Paulo, Editora Brasiliense, A anilise cléssica sobre o cardter postigo, tradicionalista da ideologia burguesa industrial, revelan- do falsa consciéncia de classe dos empresdrios brasileiros nessa fase, foi realizada por Fernando Henrique Cardoso, Empresdrio Industrial e Desenvolvimento Econémico, Sio Paulo, DIFEL, 1964. Além dos trabalhos de Eli Diniz e Renato Boschi jé citados, é importante assinalar os traba thos de Luciano Martins, Industrializacdo, Burguesia Nacional e Desenvolvimento, Rio de Janei- 10, Editora Saga, 1968; de Fernando Prestes Motta, Emprestrios e Hegemonia Politica, So Paulo, Brasiliense, 1979; e os meus, “O Empresdrio Industrial . .."", Desenvolvimento e Crise no Brasil ¢ Empresdrios e Administradores Citados. O que ¢ preciso assinalar, entretanto, é a mudanga em marcha na ideologia burguesa, na medida em que o capital industrial torna-se dominante, 103 Ver, a respeito, a contribuicao fundamental e ousada de Ignécio Rangel, “A Hist6ria da Dualidade Brasileira”, Revista de Economia Polttica, Vol. 1, n. 4, outubro-dezembro, 1981. 295 como s6cio menor. As grandes mudangas de 1964 consistem na unidade da burguesia sob a égide do capital monopolista, na ex- clusio dos trabalhadores e na incorporacdo da tecnoburocracia estatal no pacto po- Iitico. Mas a burguesia industrial crescia, acu- mulava capital a uma taxa muito maior do que as outras burguesias, durante todo o pe- tiodo, desde 1930, passando por 1964. O capital industrial tornava-se dominante eco- nomicamente; podia agora pretender a hege- monia politica. E, em 1973-74, quando o regime capitalista-tecnoburocrdtico entra em crise econdmica, a crise politica subse. qiiente e o ptocesso de democratizagao deri vam portanto de um projeto burgués (indus- trial) de hegemonia politica. Trabalhadores, intelectuais de esquerda, estudantes, Igreja, ha muito lutavam pelo restabelecimento da democracia no Brasil. O fato novo que vem alterar 0 equilfbrio de forga é a adesiio do capital industrial — e, particularmente, do capital industrial competitivo — ao projeto democratico. Nesse momento, a burguesia, que jd era ideologicamente hegemdnica, pas- sa também a pretender a hegemonia politi- ca, Além de classe dominante, pretende também transformar-se em classe dirigente, e assim sacudir a tutela tecnoburocrdtico- militar.’ O fato estrutural novo reside exata- mente neste caréter dominante do capital industrial. A burguesia industrial apropria-se do excedente econdmico através da mais- valia relativa, ou seja, através de troca de equivalentes no mercado (forga de traba- Iho por mercadorias), € pode’assim realizar lucros sem recorrer diretamente a forga. Por isso, e desde que se sinta politicamente segura, ela pode, ao contrdrio da burguesia mercantil, dispensar 0 uso direto da forca estatal. Pode portanto ser razoavelmente de- mocrdtica. E pode propor, como de fato propésa partir de 1977, um_pacto social de- mocrdtico aos trabalhadores. O recurso ao autoritarismo, que foi funcional para a bur- guesia brasileira a partir de 1964 em fungao da instabilidade politica entdo vigente e da necessidade tipica dos paises retardatdrios de aumentar a taxa de acumulagdo, deixou de sé-lo. O capital industrial ndo apenas al- cangou uma taxa de acumulagao “satisfato- tia” (mais de 20% do produto), mas tam- bém jd consegue se reproduzir através do mecanismo cldssico da mais-valia relativa, tornando insubsistentes as teorias que atri- buem ao capitalismo brasileiro um cardter autoritdrio por ser retardatério!®S, Isto nao significa, entretanto, que a burguesia industrial brasileira seja necessa- riamente democrdtica. Ela o seria se a apro- priagdo do excedente se realizasse exclusi- vamente pelo mecanismo da mais-valia. No Brasil, entretanto, este ndo € 0 caso, dada a enorme participacgo do Estado na econo- 10% Luciano Martins também parte da constatagdo da hegemonia burguesa no Brasil para afirmar: © regime autoritério (assim como o ‘modelo’ econdmico) foi instrumental para a implementagao € generalizagio dessa ordem capitalista, ele tende agora a tomar-e,e cada vez mais, uma ameaca 4 seguranga dela.” Luciano Martins, “O Significado do ‘Pacote’ de Novembro”, Folha de Séo Paulo,6 de dezembro de 1981. Observe-se que essa interpretagdo ndo apenas se choca frontalmente com a interpretagdo da super- exploragdo imperialista, mas também é incompativel com a estimulante andlise de Octavio Gui- Iherme Velho, Capitalismo Autoritdrio.. .., op. cit., que atribui ao capitalismo brasileiro um ca- riter autoritério porque aqui ndo se realizou uma verdadeira revolugo burguesa. Esta teoria tem como ponto de referéncia o cardter autoritério das revolugdes capitalistas tardias. O que é preciso assinalar, entretanto, é que esse autoritarismo ¢ historicamente transit6rio, 105 296 mia. Esta participagao esté proxima a 50% do PIB, considerados inclusive os estados, os municipios e as empresas piiblicas.'°* Ora, neste caso, as formas de apropriagdo do excedente via acumulacdo primitiva (sub- sfdios e favores de todos os tipos) conti- nuam essenciais, e levam uma parte da pr6- pria burguesia industrial a se manter auto- ritdria para poder gozar desses favores sem maiores controles. Estabelece-se, assim, um curioso para- doxo. Essa burguesia costuma acusar a tec- noburocracia estatal de estatizante e auto- ritdria, mas na verdade é a dimensao do apa- relho econémico estatal e a possibilidade que tem esse Estado de dividir 0 excedente em favor da alta burguesia e, portanto, do capital monopolista, que tendem a tornd-la autoritdria. Diante desse raciocinio, conclui-se que a burguesia industrial ndo diretamente liga- da ao aparelho do Estado tende a ser demo- crética; esta corresponde a média burguesia ou a burguesia competitiva. Em contrapo- sigfo, a grande burguesia ou a burguesia monopolista, na medida em que depende de encomendas, incentivos e subsidios do Estado, tende ao autoritarismo. O grande Estado tecnoburocrdtico-capitalista toma assim uma parte da burguesia autoritéria. E a tecnoburocracia militar e civil, neste caso, transforma-se em instrumento desse autori- tarismo da alta burguesia monopolista, ao invés de agente auténomo do autoritarismo, como pretende a ideologia burguesa. Se esta andlise for correta, o que resta saber € qual burguesia é hegeménica ideolo- gicamente no Brasil. Provavelmente esta he- gemonia, apesar do grande peso econémico do Estado, cabe a média burguesia compe- titiva e aos setores da grande burguesia ndo- dependentes do Estado. Compreende-se as- sim a nftida tendéncia da burguesia brasi- leira em diregdo a democracia verificada a partir de 1975, ¢ principalmente de 1977, quando se estabelece 0 que estou denomi- nando de “‘pacto social democrdtico de 1977”. Mas é preciso admitir que essa ten- déncia nao estd plenamente assegurada.'°” Esse pacto social, estabelecido em 1977 logo apés 0 golpe autoritério representado pelo “‘pacote de abril”, estd ainda em vigor. Nio foi escrito, Poucos tém clara conscién- cia dele. Mas estd baseado néo em uma alianga politica entre a burguesia industrial e os trabalhadores (isto constituiria uma re- edigdo do pacto populista), mas na aceita- go de trés idéias-chave por ambas as par- tes: (1) democracia, que interessa a todos; (2) manutengo do capitalismo, que é fun- 106 Segundo calculos de Werner Baer, Isaac Kerstenetzky e Anibal Villela, “As Modificagdes no pa- pel do Estado na Economia Brasileira”, Pesquisa e Planejamento, Vol. 3, n.4, dezembro, 1973, P. 905, a produg&o estatal corresponde a 50% do PIB. Carlos Von Doellinger, Estatizagao, Finan- gas Publicas e suas Implicagées, Rio de Janeiro, CEDES, mimeo., 1981, calculou essa porcenta- gem em 46%. 107 Bolivar Lamounier, que vem procurando analisar o proceso de abertura politica através de diver- sos trabalhos — ver Bolivar Lamounier, “O Discurso e o Processo (da Distengio as Opgdes do Re- gime Brasileiro)", Henrique Rattner, org., Brasil 1990, S40 Paulo, Editora Brasiliense, 1979; “O Porqué da Abertura”, in B, Lamounier e J. E. Faria, O Futuro da Abertura: Um Debate, Sio Paulo, Cortez Editora, 1981 ~, fez uma critica significativa desta interpretagao, procurando esta- belecer seus limites te s. Ver Bolivar Lamounier, “Notes on the Study of Redemocratization”, Washington, Documento de Trabalho n, 58, Latin American Program of the Woodrow Wilson In- ternational Center for Scholars, Smithsonian Institute, 1980. 297 damental para a burguesia; e (3) distribui- ¢40 moderada da renda, que interessa aos trabalhadores.'°* E um pacto que ndo im- pede a luta de classes, que no inviabiliza nem € contraditério com partidos puramen- te trabalhadores como o PT, mas que esta- belece as bases reais, embora ainda insegu- ras, de uma democracia burguesa no Bra- sil, semelhante a existente nos paises capi- talistas centrais, em que a luta de classes é travada dentro de um quadro institucional relativamente estdvel. CONCLUSAO Estas seis interpretagdes sobre o Brasil no pretendem exaurir a enorme riqueza de estudos e interpretagdes que foram realiza- dos sobre o Brasil nos tiltimos anos. Entre as trés interpretagdes de esquerda, exclufda a Ultima, ainda em embrifo, a da superex- ploragdo imperialista ¢ a mais de esquerda © a menos plausivel; a funcional-capitalista fica no meio-termo ideol6gico, prejudicada pelo cardter emocional de sua colocaggo inicial; j4 a interpretagdo da nova depen- déncia inclui socialistas democratas e so- cial-democratas, ao mesmo tempo que apre- senta uma andlise mais realista do Brasil. As duas primeiras sfo basicamente marxis- tas. A terceira tem fortes influéncias mar- xista, mas inclui autores ndo-marxistas co- mo Celso Furtado. Todas so profundamen- te criticas da interpretagdo autoritério-mo- dernizante. Por outro Jado, nenhuma delas, muito menos a autoritdrio-modemizante, se apro- xima de uma interpretagao liberal. Na ver- dade ¢ significativamente nao existe uma in- terpretagdo liberal no Brasil. A burguesia i dustrial as vezes tenta caminhar nessa dire- do, mas até agora no foi bem-sucedida nesse intento. Existem interpretagdes demo- crdticas, como € 0 caso da funcional-capi- talista e da nova dependéncia. Mas essas in- terpretagdes nfo so liberais porque nfo confundem democracia com liberalismo. Esta € uma confusdo que os defensores vul- gares do capitalismo costumam fazer, mas que no Brasil nao chega a se constituir em uma interpretago liberal-burguesa, dada a sua indigéncia teérica e a falta de intelec- tuais com capacidade de formulé-la. A interpretagdo do projeto de hegemo- nia do capital industrial, por outro lado, € uma interpretac¢do de base marxista, que busca detectar as novas tendéncias do capi- talismo no Brasil, em um momento em que a sua integragdo com o capital internacio- nal, através da inclusdo do Brasil como um parceiro ainda que menor entre os paises industriais centrais, parece em estdgio adian- tado, Isto ndo impede que o Brasil perma- nega subdesenvolvido, dependente, marca- do por profundos desequilfbrios estrutu- tais. Mas, transformado em um dos gran- des paises exportadores dos produtos manu- faturados do mundo, o Brasil tende a ser admitido no clube dos paises capitalistas centrais, sob a égide do capital industrial local e do capital multinacional. E prova- velmente dentro de um quadro desse tipo que deverd se travar a luta de classes no Bra- sil, € que se poderd caminhar, a médio pra- ZO, para um socialismo democratico e auto- gestiondrio. (Recebido para publicagdo em marco de 1982) 108 Ver, a respeito, Luiz. Carlos Bresser Pereira, “Pacto Social Ameagado”, Folha de Sao Paulo, 26 de marco de 1981 ; “Pacto Social e Alianga Polftica”, Leia Livros, n. 36, junhojulho, 1981. 298 BIBLIOGRAFIA branches, Sérgio 1978 - The Divided Leviathan, Ithaca, Cornell University, tese ndo-publicada. Afonso, Carlos A. e Souza, Herbet de 1977 — Estado e Desenvolvimento Capitalista no Brasil, Rio de Janeiro, Paz ¢ Terra. 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In the left, there are (a) the imperialist over-explotation interpretation, one which ascribes the underde- velopment of Brazil to imperialism, offering so- cialism or fascism as national alternatives; (b) the functional-capitalistic interpretation, which de- Parts from the notion that Brazil has always been capitalist country or, at least, that the pre-capi- talist social structure was functional for the emer- gence of capitalism; and (c) the new dependency interpretation, emphasizing the new events of the 1950's, notably the expansion of multinational corporations within the Brazilian industrial sec- tor. These new realities preempt, on the one hand, the national-bourgeois interpretation and, on the other, establish the basis for a new developmen- tal model. RESUME* Six Interprétations sur le Brésil Selon lauteur les interprétations sur le Bré- sil sont au nombre de deux avant 1964 et de qua- tre aprés cette date. Les deux premiéres sont: — celle qui attri- bue au pays une vocation agraire. Elle correspond 4 Vidéologie dominante, partisane du modéle économique qui privilégie le secteur primaire et Pexportation; — l'interprétation de la bourgeoisie nationale issue du processus d’industrialisation. Crest celle 4 laquelle souscrivent la CEPAL, ISEB et le PCB. Aprés 1964, on peut distinguer une interpré- tation de droite, celle qui préne une modemisa- tion autoritaire et trois interprétations de gau- che: (a) celle qui attribue le sous-développement brésilien & une surexploitation impérialiste et qui ne voit que deux alternatives possibles pour le ays: le socialisme ou le fascisme; (b) l’interpréta- tion fonctionnelle capitaliste qui, comme la pré- cédente, considére que le Brésil a toujours été capitaliste et que tout ce qui a pu exister de pré- capitaliste dans la formation sociale brésilienne a ét6 fonctionnel au capitalisme; (¢) linterpréta- tion du courant de la nouvelle dépendance qui met en relief les faits nouveaux survenus dans les anges 50, en particulier entrée des entreprises multinationales dans le secteur industriel. Ces faits nouveaux rendent caduque Pinterprétation de la bourgeoisie nationale d’une part et établis- sent les bases d’un nouveau modéle de développe- ment d’autre part. * A versio francesa dos resumos deste ntimero é de autoria de Anne Marie Millon Oliveira. 306

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