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O Nome da Rosa O riso como perversdo da alma uspense?- Drama historico? Filme "cabega"? O nome da rosa, de Jean: Jacques Annaud, pode ter todas essas classtficagoes. Mas pode também ser caracteriza- 4o como um filme que fala, sobre- tudo, sobre 0 riso. Mais do que is- “f so, sobre como esta manifestacdo COSNERY dos sentides humanos era vista } [GG URS Sola SOTURRAY ABRATIAM pela Igreja na Kade Média: algo jue atastaya.o homem de Deus e dda verdade, € que, ao menos no filme, poderia levar_ monges beneditinos a morte. Sem fugir da estrutura narrati va do livro ne qual foi baseado, 0 best seller homOnimo de Umberto Eco, 0 filme © nome da rosa se passa em um mosteiro na Italia le 1327, caja paz é abalada por uma série de mortes. Os monges acreditam que se trata de uma ‘obra do deménio". Entretanto, 0 frei William de Baskerville (Sean Connery), com ajuda de sua racionalidade franciscana e do aspirate a monge Adso de Melk (Christian Slater) logo diagnosti ca que nao eram os maus espiri No melhor estilo Sherlock Hol- mes ecom uma ambientaciopri- de pistas que acaba por revelar mente Livro Il da Poética de Aris- morosa das "trevas medievais", a que as mortes estariam rela- —tételes, que versaria sobre 0 hu: trama caminha por um labirinto cionadas @ um livro, Suposta: more a comédia Fcvevica Olivro © Livio 1 da Poética de Aristételes pode ter sido uma Invengdo de Umberto Eco que ten- tou ser comprovada sem sucesso por algumas teses. Em O nome da rosa, a obra representava um grave perigo para 0 mesteizo, uma “iha de ordem e raconali- dale". E 0 proprio filésofo quem esclarece 0 porqué do medo de 0 livro cair em "mdos erradas": "A comédia 6, como jé dissemes, imi tagdo de homens inferiores; nao todavia, quanto a toda especie de vidios, mas s6 quanto aquela parte torpe que é ridicula.’, afir- "Legides tém vivido a se perguntar se Cristo riu ou nao. Acho que nunca riu porque, onisciente como devia ser 0 filho de Deus, sabia © que fariamos nés cristdos." Frei William de Baskerville Para os beneditinos, do filme © da vida real, no mestetro estavam, somente os "eleitos", que deveriam levarse a santidade e por ela diferenciarse dos outros homens. A vida aust que levavam seria © caminho perfeito para a superar as fraquezas propriamente hu- ‘manas e chegar a Deus. riso era encarado como uma J biblioteca & destnuida pelo fogo dessas fraquezas. E, pasando da ealidade medieval para a ticgao de Umberto Eco, para "proteger’ ‘05 monges do conhecimento da Niteratura inadequada’ e sua difusdo pelo mosteixo, aqueles que tinham 0 livro em suas mao cram assassinados, Depots de rirem do que liam, mortiam por causa de um veneno que atisorvi ‘am ao umedecer os dedos na lin. gua para conseguir virar as pagi nas gradadas. Humor versus Fé Mas nao é no enredo que se esgota a discussao sobre o riso em 0 nome da rosa. Os didlogos entre © frei William ¢ © beneditine George de Burgos (Guilherme € Jorge para os leitores de Umberto Eco na tradugao brasileira), por exemplo, sdo um verdadeiro embate entre visdes da filosofia (de Aristételes, de Séo Tomas de Aquino © de Sao Francisco de Assis) € da Igteja medieval sobre © humor. George comeca: "Um monge Feveli¢a do deve rir, Para isso existem os bobos € os Lolo’. E William re bate: "Os franciscanos sto de ‘uma ordem em que o riso é visto ‘como indulgéncia, Sao Francisco de Assis era dado ao riso", George diz, entao, que "o riso € um vento demoniaco, deforma o rosto e faz com que homens se parecam com macacos'. E William, iréni- co, em uma citacdo a Aristételes: "Macacos nao tiem, 0 riso é proprio do homem’ Este e outros didloges do filme ilustram como a Igreja medieval ~ principalmente do periodo em que a presenca da Inquisicio se fez mais forte ~ aberninava dog- maticamente a risada, E mos tram que a visdo do riso como perversdo da alma crista servia também como uma das justifica- tivas para 0 rigido controle do conhec dos mosteiros Segundo a historiadora e pro- fessora da PUC-Rio, Flavia Schiee Eyler, € no século XI que comega © declinio dos valores da Idade Média e o inicio da constnucao de uma subjetividade que nao exis. imento exercido dentro liu durante toda Era Medieval. "€ exalamente neste momento de crise que se passa O nome da rosa. Percebe-se no filme a tentativa da Igreja em controlar a producao de subjetividade ¢ de uma identi dade que nao fosse centiada em Deus", analisa, Flavia afirma também que nesta tentativa da Igreja esta a razdo para o seu_posicionamet to diante do humor. Para ela, a comédia foi proibida, como uma ‘busca do clero por reafirmar sua posicao de comando. E ela ex ca: "ndo hé comicidade fora do humano, Os tipos comics exis- tem na plenitude de sua materi alidade, ou seja, 0 corpo se adi- anta @ alma, Assim, 0 riso, um geste social e plenamente cor. péreo, toma Ihos da Igreja. |goso aos o- "Um monge nao deve rir. Para isso existem os bobos € os tolos." Jorge de Burgos Comico sutil Como se no bastasse © humor estar no cerne de tantas questoes em 0 nome da rosa, ele aparece também na sua estratura narra tiva, Apesar de nao se poder dizer que tratase de uma comedia, Hoteer Em O nome da rosa, apesar de a biblioteca estar aberta aos monges ¢ também aos padres visitantes, uma parte dela 6 restrita ao bibliotecério, a seu aju- dante © aos superiores do mosteiro. Isso ilustra como a intlectualidade nao era, naquele momen- to, algo que devosse atingir a tedos, mas somente aos mais cultes. Segundo o proprio filésofo Arist6teles, cla no é a caracteristica fundamental do ser humano, mas sim, a racionalidade. alguns criticos afirmam que, assim como 0 livro de Umberto Eco, o filme € marcado por um humor pés-modermo, jé que mos- tra situagdes cOmicas através de uma estética dramitica A personagem William de Barkerville, por exemplo, é dota- da de uma sutil¢ fina ironia, que se completa com o risinho ¢ 0 olhar sarcisticos que Sean Co. rnnery empresta ao frei. Sem falar na comica cena do debate entre (0 inguisidores, os franciscanos ¢ ‘A Inquisigao punia os hereges com a morte 0s beneditinos, que é camuflada em meio a um momento de aru. dal importancia para 0 desenro- Jar da trama. Mas por que o elemento cémico ‘parece apenas nas entrelinhas em uma obra cujo enredo gira em torno da questiio do riso? Como 0 pecado que levou os monges a morte foi rit, talvez o filme esteja ‘apenas fazendo com que o espec- tador embarque no clima sombric do mosteiro ¢ ria com moderagno, para nao ser proximo. Osta Na Idade Média, muitos livros que ofereciam *perigo” ao homem foram queimados. 114 casos de Vibliotecas inteiras incendiadas, como a de Alexandria, para impedir a difusée do conhed- mento, o que também foi explorado na ficgao. No mosteiro onde se passa o filme, a biblioteca termi- na em chomas ndo acidentais para que toda a riqueza literdria que abrigava nao caisse em "maos erradas' Fol também no periodo medieval que a Igreja necessitou reafirmar sua ortedexia, dado que as pregades anticlericais se propagavam rapida- mente. Sao desta fase as primeiras heresias punidas rigorosamente com a morte pelo Tribunal do Santo Oficio, Se 0 inimigo estava pronto para corromper © cristianismo através de seus membros mais fra- cos, © monastério por sua vez, com seu rigor ¢ sua, lina de oragde, protegia os monges dos erros do mundo secular. FcveTica

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