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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARA CAMPUS XI- SAO MIGUEL DO GUAMA (COORDENACAO DO CAMPUS DE INTERIORIZACAO. [DISCIPLINA: Portugués Diacronico CH: 80 | ENENTA: Origem, historia e dominio da Lingua Portuguesa, Leis Fonéticas. Metaplasmos. Vocalismo é| Consonantismo. Formas divergentes e convergentes. Sintaxe Diacrénica, Analise critica da gramatica normativa. BIBLIOGRAFIA BASICA: BAGNO, M. Portugués ou brasileiro: um convite & pesquisa. Sao Paulo: Pardbola, 2001 COUTINHO, |. de L. Gramatica Histérica. Rio de Janeiro, Académica, 1969. CUNHA, C. & CINTRA, L. Nova Gramética do Portugués Contemporaneo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1965. MELO, G. C. de. Iniciagao a Filologia e a Linglistica Portuguesa. Rio de Janeiro: Padrao. SILVA. R. M. e O portugués arcaico: fonologia. Sao Paulo: Contexto, 1996. WEEDWOOD, B. Historia Concisa da Linguistica. Seo Paulo: Pardbola, 2002, Professora: Waldinett Nascimento Torres UEPA - Campus XI Rua Anténio Carlos de Lima, n°80 - Bairro: Vila Nova CEP: 68660 - 000 Fone/ Fax: (91) 3446-1682 2. Histéria 2.1. O periodo pré-roménico 2.2. O periodo rominico_ 2.3. O galego-portugués 2.4. O portugués arcaico 2.5. © portugués modero 3. O portugués no mundo 3.1. O mundo luséfo: 3.2. O portugués na Europa 3.2.a. Portugal 3.2.b. O galego 3.3. O portugués na América 3.3.a. Hist6ria da lingua no Brasil 3.3.b. Zonas dialectais brasileiras 3.4, O portugués na Africa 3.4.a. Angola 3.4.b, Cabo Verde 3.4.c. Gui issau 3.4.d. Mocambique 3.4.e. Sao Tomé ¢ Principe 3.4£. Outras regides da Africa 3.5. O portugués na Asia 3.5.a. Timor-Leste 3.5.b. Outras regides da Asia 4. Fontes 5. Informagées adicionais 1. Preficio A lingua portuguesa tem uma das histérias mais fascinantes entre as linguas de origem. européia, Em razao das navegagdes portuguesas nos séculos XV e XVI, tomou-se um dos poucos idiomas presentes na Africa, América, Asia e Europa, sendo falado por mais de 200 milhdes de pessoas. Este texto procura inicialmente apresentar um pouco da histéria desta lingua, partindo das raizes latinas na Europa até o portugués moderno. Em seguida, apresenta a situagao atual do portugués nos diversos paises e regides do mundo onde ele ¢ falado. Este texto nfo ¢ escrito por nem para especialistas em linguas. Destina-se &s pessoas em geral que desejam conhecer um pouco mais sobre a lingua portuguesa. Trata-se de um trabalho formado a partir de contribuigdes recolhidas de diversas fontes e por varias pessoas. Por estas razdes, pedimos antecipamente desculpas por eventuais erros e ‘omissdes e convidamos todos a acrescentarem seus comentatios e sugestées. 2.1. O periodo pré-romanico s linguistas tém hoje boas raz6es para sustentar que um grande numero de linguas da Europa e da Asia provém de uma mesma lingua de origem, designada pelo termo indo- ‘europeu. Com excegio do basco, todas as linguas oficiais dos paises da europa ocidental pertencem a quatro ramos da familia indo-européia: o helénico (grego), o roménico (portugués, italiano, francés, castelhano, ete.), 0 germénico (inglés, alemao) e o céltico (irlandés, gaélico). Um quinto ramo, o eslavo, engloba diversas linguas atuais da Europa Oriental. Por volta do II milénio a.C., 0 grande movimento migratério de leste para oeste dos povos que falavam linguas da familia indo-européia terminou. Eles atingiram seu habitat quase definitivo, passando a ter contato permanente com povos de origens diversas, que falavam linguas no indo-européias. Um grupo importante, os celtas, instalou-se na Europa Central, na regio correspondente as atuais Boémia (Repiblica Tcheca) e Baviera (Alemanha). Algumas linguas da Europa no II milénio ac. Povos de linguas indo-européias: germanos, eslavos, celtas, timbrios, latinos, oscos, dorios. Povos de origens diversas: iberos, aquitanos, ligures, etruscos, siculos. 0s celtas estavam situados de inicio no centro da Europa, mas entre o Ie 0 Lmilénios a.C. foram ocupando varias outras regides, até ocupar, no século III a.C., mais da metade do continente europeu. Os celtas sto conhecidos, segundo as zonas que ocuparam, por diferentes denominagées: celtiberos na Peninsula Tbérica, gauleses na Franga, bretdes na Grii-Bretanha, galatas no centro da Turquia, ete. 0 periodo de expansio celta veio entretanto a softer uma reviravolta e, devido & pressio exterior, principalmente romana, o espago ocupado por este povo encolheu. As linguas célticas, empurradas ao longo dos séculos até as extremidades ocidentais da Europa, subsistem ainda em regiées da Irlanda (0 irlandés ¢ inclusive uma das linguas oficiais do pais), da Gra-Bretanha e da Bretanha francesa. Surpreendentemente, nenhuma lingua céltica subsistiu na Peninsula Ibérica, onde a implantagao dos celtas ocorreu em tempos muito remotos (I milénio a.C.) ¢ euja lingua se manteve na Galiza (regio ao norte de Portugal, atualmente parte da Espanha) até o século VII d.C, 2.2, O periodo romanico Embora a Peninsula Ibérica fosse habitada desde muito antes da ocupagdo romana, pouquissimos tragos das linguas faladas por estes povos persistem no portugués moderno. A lingua portuguesa, que tem como origem a modalidade falada do latim, desenvolveu- se na costa oeste da Peninsula Ibérica (atuais Portugal e regitio da Galiza, ou Galicia) incluida na provineia romana da Lusiténia. A partir de 218 a.C., com a invastio romana da peninsula, e até o século IX, a lingua falada na regio o romance, uma variante do Jatim que constitui um estigio intermediério entre o latim vulgar e as linguas latinas modernas (portugués, castelhano, francés, etc.). Durante o periodo de 409 d.C. a 711, povos de origem germénica instalam-se na Peninsula Tbérica. O efeito dessas migragées na lingua falada pela populagao nao é uniforme, iniciando um processo de diferenciagio regional. O rompimento definitivo da uniformidade linguistica da peninsula ir ocorrer mais tarde, levando a formagaio de linguas bem diferenciadas. Algumas influéncias dessa época persistem no vocabulério do portugués moderno em termos como roubar, guerrear e branco A partir de 711, com a invasdo moura da Peninsula Ibérica, 0 drabe ¢ adotado como lingua oficial nas regides conquistadas, mas a populago continua a falar o romance. Algumas contribuigdes dessa época ao vocabuldrio portugués atual so arroz, alface, alicate ¢ refém. No periodo que vai do século IX (surgimento dos primeiros documentos latino- portugueses) a0 XI, considerado uma época de transigdo, alguns termos portugueses aparecem nos textos em latim, mas o portugués (ou mais precisamente o seu antecessor, galego-portugués) é essencialmente apenas falado na Lusiténia. 2.3. O galego-portugués No século XI, & medida que os antigos dominios foram sendo recuperados pelos cristdos, os rabes so expulsos para o sul da peninsula, onde surgem os dialetos mogérabes, a partir do contato do érabe com o latim. Mapa da reconquista crista do territério de Portugal Com a Reconquista, os grupos populacionais do norte foram-se instalando mais a sul, dando assim origem ao territério portugués, da mesma forma que, mais a leste na Peninsula Ibérica, os leoneses e os castelhanos também foram progredindo para o sul e ocupando as terras que, muito mais tarde, viriam a se tomar no territ6rio do Estado espanhol. Com o inicio da reconquista crista da Peninsula Ibérica, o galego-portugués consolida- se como lingua falada e escrita da Lusitania. Em galego-portugués sao escritos os primeiros documentos oficiais e textos literdrios no latinos da regigio, como os cancioneiros (coletineas de poemas medievais): + Cancioneiro da Ajuda - Copiado (na época ainda nao havia imprensa) em Portugal em fins do século XIII ou principios do século XIV. Encontra-se na Biblioteca da Ajuda, em Lisboa. Das suas 310 cantigas, quase todas sto de amor. + Cancioneiro da Vaticana - Trata-se do cédice 4.803 da biblioteca Vaticana, copiado na Itélia em fins do século XV ou prinefpios do século XVI. Entre as suas 1.205 cantigas, ha composigdes de todos os géneros. + Cancioneiro Colocei-Braneutti - Copiado na Itélia em fins do século XV ou prineipios do século XVI. Descoberto em 1878 na biblioteca do conde Paulo Brancutti do Cagli, em Ancona, foi adquirido pela Biblioteca Nacional de Lisboa, onde se encontra desde 1924. Entre as suas 1.664 cantigas, ha composigdes de todos os géneros. 24. O portugués arcaico ‘A medida em que os cristtios avangam para o sul, os dialetos do norte interagem com os dialetos mogarabes do sul, comegando o processo de diferenciagiio do portugués em relagdo ao galego-portugués. A separagio entre o galego ¢ o portugués se iniciaré com a independéncia de Portugal (1185) e se consolidaré com a expulsaio dos mouros em 1249 € com a derrota em 1385 dos castelhanos que tentaram anexar o pais. No século XIV surge a prosa literdria em portugués, com a Crénica Geral de Espanha (1344) ¢ 0 Livro de Linhagens, de dom Pedro, conde de Barcelos. Entre os séculos XIV e XVI, com a construgdo do império portugués de ultramar, a lingua portuguesa faz-se presente em varias regides da Asia, Africa e América, sofrendo influéncias locais (presentes na lingua atual em termos como jangada, de origem malaia, e ché, de otigem chinesa). Com o Renascimento, aumenta o ntimero de lianismos e palavras eruditas de derivagio grega, tornando o portugués mais complexo e maledvel. O fim desse periodo de consolidagao da lingua (ou de utilizagao do portugués arcaico) é marcado pela publicagao do Cancioneiro Geral de Garcia de Resende, em 1516. 2.5. O portugués moderno No século XVI, com o aparecimento das primeiras graméticas que definem a morfologia ea sintaxe, a Iingua entra na sua fase modemna: em Os Lusiadas, de Luis de Camées (1572), 0 portugués ja ¢, tanto na estrutura da frase quanto na morfologia, muito préximo do atual. A partir dai, a ingua tera mudangas menores: na fase em que Portugal foi governado pelo trono espanhol (1580-1640), o portugués incorpora palavras castelhanas (como bobo e granizo); € a influéneia francesa no século XVII (entida principalmente em Portugal) faz o portugués da metrépole afastar-se do falado nas coldnias. Nos séculos XIX e XX 0 vocabulério portugués recebe novas contribuigées: surgem termos de origem grecolatina para designar os avangos tecnolégicos da época (como automével e televisdo) ¢ termos técnicos em inglés em ramos como as ciéncias médieas ¢ a informatica (por exemplo, check-up e software). O volume de novos termos estimula a criagio de uma comisso composta por representantes dos paises de lingua portuguesa, em 1990, para uniformizar 0 vocabulirio técnico e evitar 0 agravamento do ann da intradnedin de termas diferentes nara os mesmos obietos. 3.0 portugués no mundo (0 mundo luséfono (que fala portugués) é avaliado hoje entre 190 ¢ 230 milhdes de pessoas. O portugués é a oitava lingua mais falada do planeta, terceira entre as linguas ocidentais, apés o inglés e o castelhano. portugués é a lingua oficial em oito paises de quatro continentes: Angola (10,9 milhdes de habitantes) Brasil (185 milhdes) Cabo Verde (415 mil) Guiné Bissau (1,4 milhio) Mogambique (18,8 milhoes) Portugal (10,5 milhdes) Sao Tomé e Principe (182 mil) Timor Leste (800 mil). portugués ¢ uma das linguas oficiais da Unido Europeia (ex-CEE) desde 1986, quando da admissio de Portugal na instituigao, Em razo dos acordos do Mercosul (Mercado Comum do Sul), do qual o Brasil faz. parte, 0 portugués ¢ ensinado como lingua estrangeira nos demais paises que dele participam. Em 1996, foi criada a Comunidade dos Paises de Lingua Portuguesa (CPLP), que reune 0s paises de lingua oficial portuguesa com o propésito de aumentar a cooperago € 0 intercémbio cultural entre os paises membros ¢ uniformizar e difundir a lingua portuguesa. indice 3.1, O mundo luséfono 3.2. O portugués na Europa 3.2.a. Portugal 3.2.b. O galego 3.3, O portugués na América 3,3.a, Historia da lingua no Brasil 3.3.b. Zonas dialectais brasileiras 3.4. O portugués na Africa 3.4.a. Angola 3.4.b, Cabo Verde 3.4.¢. Guiné-Bissau 3.4.d. Mocambique 3.4.¢. Sio Tomé e Principe 3.4.f. Outras regides da Africa 3.5. O portugués na Asia 3.5.a. Timor-Leste 3.5.b. Outras regides da Asia 3.1, O mundo luséfono Na dea vasta e descontinua em que ¢ falado, o portugués apresenta-se, como qualquer lingua viva, internamente diferenciado em variedades que divergem de maneira mais ou ‘menos acentuada quanto & prontincia, a gramatica e ao vocabulério. Tal diferenciagao, entretanto, no compromete a unidade do idioma: apesar da acidentada historia da sua expansio na Europa e, prineipalmente, fora dela, a lingua portuguesa conseguiy manter até hoje aprecidvel coesto entre as suas variedades. ‘As formas caracteristicas que uma lingua assume regionalmente denominam-se dialetos. Alguns linguistas, porém, distinguem 0 falar do dialeto: + Dialeto seria um sistema de sinais originados de uma lingua comum, viva ou desaparecida; normalmente, com uma concreta delimitagdo geografica, mas sem ‘uma forte diferenciagdo diante dos outros dialetos da mesma origem. De modo secundério, poder-se-iam também chamar dialetos as estruturas linguisticas, simultineas de outra, que nao alcangam a categoria de lingua. + Falar seria a peculiaridade expressiva propria de uma regio e que nao apresenta 6 grau de coeréncia alcangado pelo dialeto, Caracterizar-se-ia por ser um dialeto empobrecido, que, tendo abandonado a lingua escrita, convive apenas com manifestagdes orais. No entanto, a vista da dificuldade de caraeterizar na prética as duas modalidades, empregamos neste texto o termo dialeto no sentido de variedade regional da lingua, nao importando 0 seu maior ou menor distanciamento com referéncia 4 lingua padrio. No estudo das formas que veio a assumir a lingua portuguesa, especialmente na Africa, na Asia e na Oceania, é necessdirio fazer a distingdo entre os dialetos e os crioulas de origem portuguesa. As variedades crioulas resultam do contato que o sistema linguistico portugues estabeleceu, a partir do século XV, com sistemas lingufsticos indigenas. 0 grau de afastamento em relago a lingua mae ¢ hoje de tal ordem que, mais do que como dialetos, os crioulos devem ser considerados como linguas derivadas do portugués. 3.2. O portugués na Europa Na faixa ocidental da Peninsula Ibérica, onde o galego-portugués era falado, atualmente utiliza-se o galego e o portugués. Esta regio apresenta um conjunto de falares que, de acordo com certas caracteristicas fonéticas (principalmente a pronincia das sibilantes: utilizaglio ou no do mesmo fonema em roSa e em paSSo, diferenciagio fonética ou no entre Cinco e Seis, etc.), podem ser classificados em trés grandes grupos: 1. Dialetos galegos; (= Galego ocidental - Galego oriental 2. Dialetos portugueses setentrionais; € E - Dialetos transmontanos e alto-minhotos C - Dialetos baixo-minhotos, durienses e beirdes 3. Dialetos portugueses centro-meridionais. D - Dialetos do centro-litoral B - Dialetos do centro-interior e do sul 4, A - Limite de regidio subdialectal com caracteristicas peculiares bem diferenciadas indice 3.2.a. Portugal 3.2.b. O galego 3.2.a. Portugal AA fronteira entre os dialetos portugueses setentrionais e centro-meridionais atravessa Portugal de noroeste a sudeste. Merecem atengdo especial algumas regides do pais que apresentam caracteristicas fonéticas peculiares: a regio setentrional que abrange parte do Minho e do Douro Litoral, uma extensa drea da Beira-Baixa e do Alto-Alentejo, principalmente centro-meridional, e o ocidente do Algarve, também centro-meridional. 0s dialetos falados nos arquipélagos dos Agores ¢ da Madeira representam um prolongamento dos dialetos portugueses continentais, podendo ser incluidos no grupo centro-meridional. Constituem casos excepcionais a ilha de Sdio Miguel e da Madeira: independentemente uma da outra, ambas se afastam do que se pode chamar a norma centro-meridional por acrescentar-lhe um certo niimero de tragos muito peculiares (alguns dos quais igualmente encontrados em dialetos continentais). 3.2.b. O galego ‘A maioria dos linguistas ¢ intelectuais defende a unidade linguistica do galego portugués até a atualidade. Segundo esse ponto de vista, 0 galego ¢ 0 portugués modernos seriam parte de um mesmo sistema linguistico, com diferentes normas escritas (situacdo similar a existente entre o Brasil ¢ Portugal, ou entre os Estados Unidos e a Inglaterra, onde algumas palavras tém ortografias distintas). A posigao oficial na Galiza, entretanto, é considerar 0 portugués ¢ o galego como linguas autGnomas, embora compartilhando algumas caracteristicas. Outras informagaes sobre a Galiza e o galego moderno podem ser obtidas nos seguintes enderegos: * Instituto de Lingua Galega da Universidade de Santiago de Compostela. Vieiros, um espago para comunicagdes e informagoes sobre a Galiza ¢ o galego. Portal Galego da Lingua. Movimento Defesa da Lingua da Galiza. 3.3. 0 portugués na América indice 3.3.a, Historia da ingua no Brasil 3,3.b. Zonas dialectais brasileiras 3.3.a. Histéria da lingua no Brasil No inicio da colonizagdo portuguesa no Brasil (a partir da descoberta, em 1500), 0 tupi (mais precisamente, o tupinamba, uma lingua do litoral brasileiro da familia tupi- guarani) foi usado como lingua geral na coldnia, ao lado do portugues, principalmente zgragas aos padres jesuitas que haviam estudado ¢ difundido a lingua. Em 1757, a utilizaggo do tupi foi proibida por uma Provisto Real. Tal medida foi possivel porque, a ssa altura, 0 tupi jé estava sendo suplantado pelo portugués, em virtude da chegada de muitos imigeantes da metrépole, Com a expulsdo dos jesuftas em 1759, portugués fixou-se definitivamente como 0 idioma do Brasil. Das linguas indigenas, 0 portugués herdou palavras ligadas a flora e & fauna (abacaxi, mandioca, caju, tatu, piranha), bem como nomes priprios € geograficos. Com o fluxo de eseravos trazidos da Aftica, a lingua falada na col6nia recebeu novas contribuigdes. A influéncia africana no portugués do Brasil, que em alguns casos chegou também a Europa, veio principalmente do iorubé, falado pelos negros vindos da Nigéria (vocabulério ligado a religido e & cozinha afrobrasileiras), e do quimbundo angolano (palavras como cacula, moleque e samba). ‘Um novo afastamento entre o portugués brasileiro e 0 europeu aconteceu quando lingua falada no Brasil colonial néo acompanhou as mudangas ocorridas no falar portugues (principalmente por influéncia francesa) durante 0 século XVIII, mantendo-se fiel, basicamente, a maneira de pronunciar da época da descoberta. Uma reaproximagao ocorreu entre 1808 ¢ 1821, quando a familia real portuguesa, em razao da invasio do pais pelas tropas de Napoledo Bonaparte, transferiu-se para 0 Brasil com toda sua corte, ocasionando um reaportuguesamento intenso da lingua falada nas grandes cidades. Apés a independéncia (1822), 0 portugues falado no Brasil sofreu influéncias de imigrantes europeus que se instalaram no centro e sul do pais. Isso explica certas, modalidades de prontineia e algumas mudangas superficiais de Iéxico que existem entre as regibes do Brasil, que variam de acordo com o fluxo migratério que cada uma recebeu. No século XX, a distancia entre as variantes portuguesa e brasileira do portugués aumentou em razéio dos avangos tecnolégicos do periodo: nao existindo um procedimento unificado para a incorporagao de novos termos A lingua, certas palavras passaram a ter formas diferentes nos dois paises (comboio e trem, autocarro € dnibus, pediigio e portagem). Além disso, 0 individualismo e nacionalismo que caracterizam 0 ‘movimento romantico do inicio do século intensificaram o projeto de criagao de uma literatura nacional expressa na variedade brasileira da lingua portuguesa, argumento retomado pelos modernistas que defendiam, em 1922, a necessidade de romper com os 3.3.b. Zonas dialetais brasileiras A fala popular brasileira apresenta uma relativa unidade, maior ainda do que a da portuguesa, o que surpreende em se tratando de um pais t@o vasto. A comparagao das, variedades dialctais brasileiras com as portuguesas leva & conclusdo de que aquelas representam em conjunto um sineretismo destas, ja que quase todos os tracos regionais, ‘ou do portugues padrao europeu que no aparecem na lingua culta brasileira so ‘encontrados em algum dialeto do Brasil. A insuficigneia de informagdes rigorosamente cientificas e completas sobre as, diferengas que separam as variedades regionais existentes no Brasil no permite classificd-las em bases semelhantes as que foram adotadas na classificacio dos dialetos do portugués europeu. Existe, em cardter provis6rio, uma proposta de classificagao de conjunto que se baseia - como no caso do portugués europeu - em diferengas de prontincia (basicamente no grau de abertura na prontincia das vogais, como em pEgar, onde o "e" pode ser aberto ou fechado, e na cadéncia da fala). Segundo essa proposta, € possivel distinguir dois grupos de dialetos brasileiros: o do Norte e 0 do Sul, Pode-se distinguir no Norte duas variedades: amazénica e nordestina. E, no Sul, quat fluminense, mineira e sulina. Esta proposta, embora tenha o mérito de ser a primeira tentativa de classificagao global dos dialetos portugueses no Brasil, é claramente simplificadora. Alguns dos casos mais ‘evidentes de variagdes dialectais ndo representadas nessa classificagao seriam: ‘a diferenga de prontincia entre o litoral e o interior do Nordeste; 0 dialeto da regitio de Recife, em Pernambuco (PE) é particularmente distinto; a forma de falar da cidade do Rio de Janeiro (RJ); 0 dialeto do interior do estado de Sao Paulo (SP); € as caracteristicas préprias aos trés estados da regido sul (PR, SC e RS), em particular 0(5) dialeto(s) utilizado(s) no estado do Rio Grande do Sul (RS) > 3.4, 0 portugués na Africa Em Angola e Mogambique, onde o portugués se implantou mais fortemente ‘como lingua falada, ao lado de numerosas linguas indigenas, fala-se um portugues bastante puro, embora com alguns tragos préprios, em geral areaismos ou dialetalismos lusitanos semelhantes aos encontrados no Brasil. A influéncia das linguas negras sobre o portugués de Angola e Mocambique foi muito leve, podendo dizer-se que abrange somente o Iéxico local. ‘Nos demais pafses africanos de lingua oficial portuguesa, o portugués ¢ utilizado na administragdo, no ensino, na imprensa e nas relagdes internacionais. Nas situagSes da vida cotidiana so utilizadas também linguas nacionais ou crioulos de origem portuguesa. Em alguns paises verificou-se 0 surgimento de mais de um crioulo, sendo eles entretanto compreensiveis entre si. Essa convivéneia com linguas locais vem causando um distanciamento entre 0 portugués regional desses paises e a lingua portuguesa falada na Europa, aproximando-se em muitos casos do portugués falado no Brasil « 3.4.a. Angola O portugués é a lingua oficial de Angola. Em 1983, 60% dos moradores declararam que o portugués ¢ sua lingua materna, embora estimativas indiquem que 70% da populagao fale uma das linguas nativas como primeira ou segunda lingua. Além do portugués, Angola abriga cerca de onze grupos lingtifsticos principais, que podem ser subdivididos em diversos dialetos (cerca de noventa). As linguas principais s4o: 0 umbundu, falado pelo grupo ovimbundu (parte central do pais); 0 kikongo, falado pelos bakongo, ao norte, e 0 chokwe- Iunda ¢ 0 kioko-lunda, ambos ao nordeste. Hé ainda o kimbundu, falado pelos mbundos, mbakas, ndongos e mbondos, grupos aparentados que ocupam parte do litoral, incluindo a capital Luanda, Talvez em razio dessa variedade lingiiistica original, o portugués acabou por se tornar uma espécie de lingua franca, que facilitava a comunicagio entre os diversos grupos. Em contato com as linguas nativas, 0 portugués também sofreu modificagdes, dando origem a falares crioulos, conhecidos como pequeno portugués, 3.4.b. Cabo Verde portugués é a lingua oficial de Cabo Verde, utilizada em toda a documentagio oficial e administrativa, E também a lingua das rédios e televis6es e, principalmente, a lingua de escolarizagiio. Paralelamente, nas restantes situagdes de comunicagao (incluindo a fala quotidiana), utiliza-se 0 cabo-verdiano, um crioulo que mescla o portugués arcaico a linguas afticanas. O crioulo divide-se em dois dialetos com algumas variantes em prontincias ¢ vocabulirios: os das ilhas de Barlavento, ao norte, ¢ os das ilhas de Sotavento, ao sul. ou popularmente, como pretogués. Em 1983, 44% da populagao falava crioulos de base portuguesa, 11% falava o portugués e o restante, infimeras linguas africanas. O erioulo da Guiné-Bissau possui dois dialetos, o de Bissau e 0 de Cacheu, no norte do pais. A presenga do portugués em Guiné-Bissau nfo est consolidada, pois apenas uma pequena percentagem da populagio guineense tem portugués como a lingua materna e menos de 15% tem um dominio aceitavel da Lingua Portuguesa. A zona lus6fona corresponde ao espago geogriifico conhecido como "a praga”, que corresponde a zona central e comercial da capital (Bissau). A situagio se agrava devido ao fato da Guiné-Bissau ser um pais encravado entre paises francéfonos € com uma comunidade imigrante expressiva vinda do Senegal e da Guiné (também conhecida como Guiné-Conakri). Por causa da abertura a integragdo sub- regional e da grande participagao dos imigrantes francéfonos no comércio, existe presentemente uma grande tendéncia de as pessoas utilizarem ¢ aprenderem mais 0 francés do que portugués. Hi aqueles que defendem que, atualmente, o francés jd é a segunda lingua mais falada na Guiné, depois do crioulo. + 3.4.4. Mocambique Mogambique esta entre os paises onde o portugués tem 0 estatuto de lingua oficial, sendo falada, essencialmente como segunda lingua, por uma parte da sua populago. De acordo com dados do Censo de 1980, o portugués era falado por cerca de 25% da populagao e constituia a lingua materna de pouco mais de 1% dos maogambicanos. Os dados do Censo de 1997 indicam que a percentagem atual de falantes de Portugués ja € de 39,6%, que 8,8% usam o portugués para falar em casa ¢ que 6,5% consideram o portugués como sua lingua materna. A vasta maioria das pessoas que tém a lingua portuguesa como materna reside nas reas urbanas do pais, ¢ s40 os cidadaos urbanos, principalmente, que adotam © portugués como lingua de uso em casa. No pais como um todo, a majoria da populagdo fala linguas do grupo bantu. A lingua materna mais frequente € 0 emakhuwa (26.3%); em segundo lugar esta o xichangana (11.4%) ¢ em terceiro, o elomwe (7.9%). 3.4.e. Sio Tomé e Principe Em Sao Tomé fala-se o forro, o angolar, o tonga e 0 monco (linguas locais), além do portugues. O forro (ou sio-tomense) é um crioulo de origem portuguesa, que se originou da antiga lingua falada pela populagdo mestiga e livre das cidades, No século XVI, naufragou perto da ilha um barco de escravos angolanos, muitos dos quais conseguiram nadar até a ilha e formar um grupo étnico a parte, Este grupo fala 0 angolar, um outro crioulo de base portuguesa mas com mais termos de origem bantu. Ha cerca de 78% de semelhangas entre o forro e o angolar. O tonga é um crioulo com base no portugués e em outras linguas afticanas. E falado pela comunidade descendente dos "servieais", trabalhadores trazidos sob contrato de outros paises africanos, principalmente Angola, Mogambique e Cabo-Verde. A ilha do Principe fala principalmente o monco (ou prineipense), um outro crioulo de base portuguesa e com possiveis acréscimos de outras linguas indo-européias. Outra lingua muito falada em Principe (e também em So Tomé) € o crioulo cabo-verdiano, trazido pelos milhares de cabo-verdianos que emigraram para o pais no século XX para trabalharem na agricultura, 0 portugués corrente de Sao Tomé e Principe guarda muitos tragos do portugués arcaico na prontincia, no léxico e até na construgao sintética. Era a lingua falada pela populagao culta, pela classe média e pelos donos de propriedades. Atualmente, é 0 portugues falado pela populagdio em geral, enquanto que a classe politica e a alta sociedade utilizam 0 portugués europeu padrdo, muitas vezes aprendido durante os estudos feitos em Portugal. 3.4.f. Outras regides da Africa A influéncia portuguesa na Africa deu-se também em algumas outras regiées isoladas, muitas vezes levando & aparigfi de crioulos de base portuguesa: Ano Bom, na Guiné Equatorial. Em Ano Bom, uma illa a 400 km ao sul de Sa Tomé, fala-se 0 ano-bonense, bastante similar ao sdo-tomense. Tal fato explica-se por haver sido a ilha povoada por escravos vindos de Sao Tomé, Casamanga, no Senegal. O crioulo de Casamanga sé se fala na capital, Ziguinchor, uma cidade fundada por portugueses (seu nome deriva da expresstio portuguesa cheguei e chorei). Esté na érbita lexical do crioulo de Cacheu, na Guiné-Bissau. 3.5. O portugués na Asia Embora nos séculos XVI e XVII o portugués tenha sido largamente utilizado nos portos da india e sudeste da Asia, atualmente ele s6 sobrevive na sua forma padrio em alguns pontos isolados: + no Timor leste, tertitério sob administragaio portuguesa até 1975, quando foi invadido e anexado ilegalmente pela Indonésia. A lingua local ¢ o tetum, mas uma parcela da populag’io domina o portugués. ‘+ em Macau, territério chinés que esteve sob administragdo portuguesa até 1999. O portugués é uma das linguas oficiais, ao lado do chinés, mas s6 ¢ utilizado pela administragdo ¢ falado por uma parte minoritéria da populago; ‘+ no estado indiano de Goa, possessiio portuguesa até 1961, onde vem sendo substituido pelo konkani (lingua oficial) e pelo inglés, Dos crioulos da Asia e Oceania, outrora bastante numerosos, subsistem apenas os de Damo, Jaipur e Diu, na india; de Malaca, na Maldsia; do Timor; de Macau; do Sri- Lanka; e de Java, na Indonésia (em algumas dessas cidades ou regides ha também grupos que utilizam 0 portugués). 3.5.a, Timor-Leste 4, Fontes 1, Walter, Henriette (1994), A Aventura das Linguas do Ocidente - A sua Origem, a sua Historia, a sua Geografia (tradugao de Manuel Ramos). Terramar, Lisboa, Portugal. 2. Azevedo Filho, Leodegario A. (1983), Histéria da Literatura Portuguesa - Volume I: A Poesia dos Trovadores Galego-Portugueses. Edigdes Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro, Brasil. 3. Mattos e Silva, Rosa V. (1994), O Portugués Arcaico - Morfologia e Sintaxe. Editora Contexto, Sao Paulo, Brasil. 4. Ferreira, Carlota e outros (1994), Diversidade do Portugués do Brasil: Estudos de Dialectologia Rural e Outros, 2* edigdo (revista). Universidade Federal da Bahia, Salvador, Brasil 5. Cunha, Celso ¢ Cintra, Luis F. Lindley (1985), Nova Gramdtica do Portugués Contempordneo, cap. 2, pp. 9-14. Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro, Brasil. 6. Cuesta, Pilar V. e Mendes da Luz, Maria A. (1971), Gramdtica da Lingua Portuguesa, pp. 119-154. Colegio Lexis, Edigdes 70, Lisboa, Portugal. 7. Novo Diciondrio Aurélio da Lingua Portuguesa, 2a edigio (revista e ampliada, 1986). Editora Nova Fronteira, So Paulo, Brasil 8. Almanagque Abril, 20* (1994) e21* (1995) edigdes. Editora Abril, Sao Paulo, Brasil, 9. Culbert Sidnev § (1987) The nrincinal lanonages of the World. em The World Fonética historica Introdugao ‘As chamadas leis fonéticas, proclamadas pelos linguistas de escola Neo-Gramatica do século XIX s2o mudangas regulares que se observam na evolugao de todas as linguas, motivadas pela configuragao fonética das palavras. Nao sendo, como se julgava inicialmente, macicas ¢ pe psorvavels, acabam, 208 poucos, por afectar a quase totalidade do léxico de cada lingua em sterminada seogdo de tempo. S40 eventos historicos, sujeitos as mesmas contingéncias regionals, politics, culturais e sociais dos outros eventos que atingem a vida de uma Comunidade, o que significa que t&m uma actuagao limitada a um passo da historia daquela, mesma comunidade. Na evolugdo do latim falado no inicio do império para o falado ha Romania Ocidental (Norte de Italia, Gala, Récia e Hispania) e desse para o romance galego portugues, verfcaram-se consideraveis mudangas regulares, determinadas pelo contexto fonético que s4o, resumidamente, estas: Simbolos 4. Amudanga ocortida entre duas formas separadas pelo tempo indica se inscrevendo entre elas o paréntese angular >. 2. As formas latinas, para imediato reconhecimento, escrevem-se em caracteres maidscules, 3, Quando uma vogal acentuada latina é longa, a sua notagao vem seguida do sinal : €, ‘quando é breve, no ¢ assinalada, 4, Recorre-se aos parénteses rectos para incluir, no seu interior, uma letra, ou letras que interessa considerar pelo seu valor fonetico. Se estiver em causa o seu valor fonologico, ou Seja, a entidade abstracta a que correspondem no sistema de uma lingua, jé se recorre &s barras obliquas. 5, Ohifen no final de uma forma latina indica que naquela posigao esteve uma desinéncia (normaimente -m para os substantivos e adjectivos, -! para as formas verbais) que calu muito cedo em latim vulgar e da qual ndo guardam meméria as linguas romanicas. Exemplificagao AMA:RE>amar PIRA->pera ‘A esquerda dos parénteses angulares estdo as formas latinas e a sua direita as formas portuguesas regultantes. No primeiro caso, a palavra latina tem [a] longo na silaba tonica e, no Segundo, um [i breve. Estas vogais, na mente dos falantes so, respectivamente, /ai/ e I, 20 paso que nas suas bocas sé0 [2] ¢ [i Assii ilagao Por assimilago, entende-se a modificagéio de um som por influéncia do som vizinho que com tele passa a partihar tragos articulatorios (ie. torna-o foneticamente parecido ou igual 2 ele) Esta é uma mudanga sintagmatica, assim chamada por ocorrer entre elementos de uma cadeia sintagmtica (sons articulados sucessivamente na prondncia das palavras). A assimilacdo de lum som pode verificar-se por influencia do som anterior (sera uma assimilagao progressiva), do ‘som seguinte (uma assimilacdo regressiva), por influencia simultanea dos sons anterior € Seguinte (assimilag&o dupla) e por influéncia de um som no contiguo (assimilagao & distancia), Os contextos fonéticos (i.e. palavras concretas onde ocorrem as mudangas fonéticas) mais propicios & assimilagdo so os nasais, os anteriores e os intervocalicos. Contextos nasais: - Uma vogal vizinha de [m]¢ [n], sons que so consoantes nasais, tem tendéncia para deixar de ser vogal oral e passar a ser vogal nasal. Isto ocorre universalmente na histéna das linguas e, no caso do portugués, verificou-se na passagem do latim hispanico para 0 romance galego-portugués (séculos VL-VIl),talvez por influencia das linguas celtas que fa Peninsula se chegaram a falar. AS vogais que antecediam o [n] passaram a ser vogals asais (ex: PONTE->plolte, LU:NA->igja, NON>nfo~)), pelo que se diz que foram nasalisadas por assimilacao regressiva. Na época nossa contemporénea, observam-se nasalizagées, ja de eenniin nroovessivo. semore que os falantes pronunciam, na primeira silaba da forma muito, Contextos anteriores ou palatais: - Outras assimilagdes podem dar-se junto de vogal anterior, tradicionalmente chamada palatal (i] ou [e], ou junto de semivogal anterior, ou palatal, [i] Estas mudangas chamam-se palatalizacdes e podem também ser regressivas OU progressivas. Em latim vulgar, a lingua falada no Império Romano do Ocidente entre os séculos Ill a.C. eV4.C.., ter-se-2 iniciado, no século | da era Crista, uma palatalizagao regressiva que afectou as consoantes no continuas, [-cont), tradicionalmente chamadas oclusivas, [kJ € [t], antes de som anterior. Nos contextos [ke]. [ki [kl] € [i] as consoantes tvoluiram para uma sequéncia com iode (a semivogal anterior) [ti] e mais tarde, s6 na Romania Ocidental, para a africada dental [ts], forma antepassada daquelas consoantes que hoje er portuguas se escrevem ou entéo (este titimo num contexto especial, intervocalico, {que possibiltou a evoluedo [ts}> [az)). Assim, temos CENTU->[ijjento>[ts}ento>cento, FACERE>faltilere>talts}er=ta[dzler>fazer, CISTA=I[tiJesta>ttslesta>cesta, FACIE- >faltije>falts}e>face. Mais antiga, foi a evolugdo de [ti]: FORTIA->forlis]a>forga. Outras palatalizagdes regressivas, desencadeadas no latim vulgar da mesma época pela presenga da semivogal anterior [], afectaram consoantes continuas (oU fricativas), liquidas e nasais: CASEU->quello, VINEA->vinha, FILIU->filho. Mais tardias, foram as palatalizagdes regressivas tipicas do romance galego-portugues, ‘ocorridas pelo século Vi, que modificaram a articulagao das consoantes no continuas, ou oclusivas, [pl [kJ [t, antes da liquida [I], esta evoluiu para a semivogal anterior {]e, a partir dal, palatalizou em africada [tS] a consoante precedente, a qual, a seu tempo, simplficou na ‘consoante continua anterior [S], sempre escrita com : PLORAR(E)>"tSlorar>chorar,CLAMA'R(E)>[tS]amar> chamar, FLAGRA:R(E)>[tS]eirar>cheirar. Mas este tipo de assimilagao também pode ser progressivo, o que se vé igualmente no latim, mas ja 56 na Hispania, pelo que tera ocorrido mais adentro da era Crista: CAPSA- >caliisa>caixa, COXA: ou seja [koksalPcolilsa>coxa>coxa, ACUC(U)LA->aguli}ia>agulha, Contextos intervocalicos: - Aqui j4 se observa a assimilagao dupla. Por assimilicao dupla entende-se aquele tipo de influencia simultanea que as vogais exercem sobre uma consoante {que ocorra entre elas na cadeia sintagmatica. Este contexto, chamado intervocalico € simbolizado VCV (vogal+consoante+vogal), é extremamente debilitante para a consoante, a {qual ora é fricatizada, se for uma consoante oclusiva (segundo uma terminologia mais moderna, passa de nao continua a continua), ora é sonorizada se for surda (passa de nao vozeada a vozeada), ora, se for ja de si mais instavel (uma continua, uma liquida ou uma nasal), pode deixer totalmente de ser articulada (fenémeno que tem o nome de assimilacao total). Esta é a tendéncia universal da mudanga e, em galego-portugues, pelo século Vil, ocorreu uma assimilagdo dupla que muito caracteriza esta lingua medieval de origem latina (este romance). Com efeito, s6 em galego-portugués é que o [I simples intervocalico latino delxou de ser articulado e s6 em galego-portugués (e gascdo) é que o (n] simples, no mesmo context, deixou tambem de ser articulado: PALA->paa>pa, DOLO:RE->door=dor, BONU->bé0>bom, ANELLU->delo>elo (Repare-se que a assimilag3o dupla de [n] simples intervocalco foi precedida de uma assimilagao regressiva, em que a mesma consoante nasalizou a vogal anterior; note-se também que 0 [|_G] de anel ainda persiste porque tem origem numa liquida latina geminada []) Outras assimilagdes duplas, anteriores a estas, afectaram consoantes do latim vulgar a partir do inicio da era Crista, mas raramente culminaram no respectivo desaparecimento porque foram travadas por factores sistematicos, neste caso, fonolégicos (ver Fonologia Historica do Portugués). Entre os séculos le Vd, C., uma assimilagao dupla provocou, na Romania Ocidental, aquilo a que tradicionalmente se chama sonorizagdo, ou seja, vozeamento das consoantes nao vozeadas intervocalicas. As vozeadas intervocdlicas também foram atingidas por este proceso de assimilaco dupla, tendo comegado por passar a consoantes continuas, € acabando duas delas por deixarem de ser articuladas. Da mesma forma, as geminadas sofferam simpliicagao. O portugués conservou o resultado deste latim vulgar ja evoluido: APICULA>abelna — MUTU>mudo LACU->lago FABA->fava NU:DA->nua STREGA>estria CIPPU->cepo GUTTA>gota PECCA:RE>pecar ABBATE>abade — ADDUCERE>aduzer: 0 facto de o mesmo tipo de assimilagao ter ocorrido entre vogal e consoante liquida /r/ conduz ‘a uma reflexdo sobre o estatuto particular das consoantes liquidas que, em certos aspectos, se aproximam dos segmentos vocdlicos. Exemplos: PATRE->padre, MA'TRE->madre, LACRIMA>lagrima Dissimilagao Por dissimilagao entende-se a modificago de um som por influéncia de um som vizinho, articulatoriamente préximo que, com ele, € por sua influéncia, deixa de partihar tragos articulatérios (i.e. torna-se foneticamente diferente). Esta é também, tal como a assimilagao; uma mudanga sintagmatica, que envolve elementos da mesma cadeia sintagmatica (i.e, sons da mesma palavra), mas é muito menos regular, ocorrendo apenas esporadicamente, pelo que 6 dificil também calcular uma data precisa para a sua ocorréncia, (Os sons que preferentemente sofrem dissimilagao so 0s vocalicos, orais ¢ nasais, e os consonanticos que constituam liquidas ou nasais. Dissimilagao entre vogais: LOCUSTA-Iagosta ROTUNDA->redonda VENTANA>ventéa>venta CAMPA:NA->campaa>campa Dissimilagao entre consoantes MEMORA:RE>nembrar>lembrar ANIMA>alma LOCA‘LE->logar>lugar Metatese Tal como a dissimilagao, a metatese, que é a transposigao de sons dentro de uma mesma cadeia sintagmatica,¢ irregular, de dificil datago e multo frequentemente envolve consoantes liquidas, aquelas que menos estabilidade tém. Também pode envolver semivogais post6nicas que, por metatese, passam a ocorrer junto da vogal tonica. O padrao silébico parece aqui funcionar como um rastiho para este tipo de mudanga, Metatese de semivogais: O latim vulgar sofreu em época bastante recuada, uma vez que @ generalidade das linguas romanicas a testemunha, a metatese de semivogal anterior nos sufixos -A:RIU>airo, -ARIAPaira, Em portugués, as formas herdeiras desses sufixos revelam ainda uma assimilagao para -eiro, -elra, que deverd ter ocorrido em latim hispanico, ja que em castelhano as formas paralelas s40 -ero, -era DIARIA>jeira PRIMA:RIU>primeiro Metatese de consoantes: Como se disse, s40 sobretudo as consoantes liquidas [I] e [r] que Sofrem o processo da metatese. E uma tendéncia universal que pode testemunhar-se pelo destino de uma forma latina ARBORE-, a qual em portugués n4o deu origem a metatese {arvore), mas em italiano e castelhano provocou duas diferentes solugées de metatese envolvendo es mesmas consoantes, respectivamente, albero, © érbolg, Para exemplificar metateses com liquidas portuguesas, podem observar-se as formas FLO:RE=ffOlsediai OU Epéntese Este é um fenémeno contrério ao da assimilagao total, uma vez que consiste na adigao de sons no interior da cadeia sintagmatica. Tutelado pela estrutura da silaba, que tende frequentemente para o padro universal CV (consoante+vogal), o fenomeno da epéntese consonantica reestruturou notoriamente as silabas do porlugués medieval que continham o hiato (encontro de duas vogais) -i-0, -a e que, a partir dos séculos XIV-XV, passaram a terminar em -inho, - inha, com epentese da consoante nasal [1] : VINU->vi-omvinho — GALLI:NA->gali~a>galinha Quando diz respeito 4 insergéo de vogais, a epéntese tem o nome mais particular de anaptixe, ¢ observa-se frequentemente no portugués do Brasil, que reestruturou silabas com grupos ‘consonénticos, silabas CCV, em sucess6es de silabas obedecendo 0 padrao universal CVCV: ‘ope2o>opigéo ritmoeritimo —_ pneu>pineu~peneu Bibliografia Gramaticas historicas ALI, Manuel Said, 1921-23, Gramatica Histérica da Lingua Portuguesa, Rio de Janeiro, Edigbes Melhoramentos, 1971 (7* edig&o). DIAS, A. Epiphanio da Silva, 1918, Syntaxe Historica Portugueza. 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