De entre as narrativas que uma Criada dos tempos do
Bisav me repetia em criana e que eu mais tarde ouvi, com detalhes e pormenores interessantes, da boca do Povo, a lenda da Cidade Encantada foi aquela que mais me impressionou e seduziu... Quando a boa Velhinha, satisfazendo a minha curiosidade infantil, descrevia as ruas amplas e bem lanadas, ladeadas por palcios magnficos, com seus Templos majestosos, com a sua vida agitada de grande fulcro de civilizao, l nos abismos do oceano, eu ficava, cismando, com o corao confrangido e, quanta vez, na minha ingenuidade, pedia sinceramente a Deus para que permitisse que numa dessas noites de S Joo, quando dizem que a cidade submergida sobe flor da gua e os sinos dos seus Templos clamam na voz forte dos bronzes, e em todos esses seus Palcios esplendorosos lampejam fogos de mil cores e sobem aos ares preces e louvores, no mais volvesse para as profundezas do Atlntico a cidade um dia, nos sculos que se perderam no rolar dos tempos, desaparecida com esse Continente que, dizem, dos mares da Madeira se estendia a terras distantes... E ficava a cismar na vida da Cidade Encantada no fundo do mar, h sculos e sculos e no lendrio Continente que ora as guas cobrem...