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ISSN 1519-5902
janeiro/junho 2004 no 7
H ISTÓRIA
da
EDUCAÇÃO
Revista Brasileira de
SBHE
Sociedade Brasileira de História da Educação
Revista Brasileira de História da Educação
ISSN 1519-5902
1º NÚMERO – 2001
Editora Autores Associados – Campinas-SP
EDITORIAL 7
ARTIGOS
Monteiro Lobato e seus leitores: livros para ensinar, ler para aprender 9
Marco Antonio Branco Edreira
RESENHAS
CONTENTS 231
Editorial
Comissão Editorial
Monteiro Lobato e seus leitores
livros para ensinar, ler para aprender
Trata-se de um estudo sobre práticas de leitura de leitores de Monteiro Lobato que lhe
enviaram cartas nas décadas de 1930 e 1940. Essas práticas estão relacionadas ao caráter
didático dos livros infantis do escritor. A partir das idéias de Chartier e Certeau, foram
analisadas as maneiras pelas quais o autor utilizou seus livros como forma de ensinar e os
leitores utilizaram os livros para aprender.
CARTAS DE LEITORES; PRÁTICAS DE LEITURA; LITERATURA INFANTIL; LIVRO
DIDÁTICO; HISTÓRIA DA LEITURA.
This is a research about practices of reading from Monteiro Lobato’s readers. These readers
used to send him letters during the 30’s and the 40’s. These practices are related to the
pedagogical character of the writer’s children books. Based on ideas of Chartier and
Certeau, it was analysed how the author used his books like as a way to teach and how the
readers used them to learn.
READER LETTERS; PRACTICES OF READING; CHILDREN’S LITERATURE;
SCHOOLBOOK; HISTORY OF READING.
Introdução
Todo estudo sobre a história do livro e da leitura tem algum interes-
se para história da educação, ainda que indireto. Compreender o uso do
livro como instrumento de ensino e a prática de leitura vinculada ao
aprendizado tem uma importância fundamental.
Este artigo trata dessas duas questões a partir do estudo das caracte-
rísticas didáticas dos livros de Monteiro Lobato e das apropriações, re-
lativas à aprendizagem, de um conjunto de leitores desses livros1. Trata-se
de um conjunto de leitores comuns2 que se corresponderam com o autor
nas décadas de 1930 e 1940. Sua faixa etária se estende dos 8 aos 16 anos
e a procedência é muito variada, abrangendo todas as regiões brasileiras,
com predominância da Região Sudeste. Suas cartas encontram-se arqui-
vadas no Instituto de Estudos Brasileiros (IEB)3 e muitas fornecem indí-
cios das apropriações relativas à aprendizagem através das leituras de
Lobato.
De acordo com Chartier, para a compreensão das práticas de leitura
é necessário levar em conta a produção do texto, a produção do suporte
no qual o texto está inscrito e a apropriação dos leitores.
1 Este artigo é composto, com algumas modificações, pelo terceiro capítulo da dis-
sertação À caça do sentido: práticas de leitura de leitores de Monteiro Lobato
(1926-1946). São Paulo: FEUSP, 2003.
2 A denominação leitor comum é utilizada por Darnton em seu estudo sobre as cartas
de um leitor de Rousseau, Jean Ranson. Para ele, esse leitor possui características
que o faz assim, isto é, “desconhecido, que não tinha nada de extraordinário e que
fala de suas leituras ao contar sua vida cotidiana” (Darnton, 1996, p. 144).
3 As cartas fazem parte do Dossiê Monteiro Lobato, pertencente ao Arquivo Raul de
Andrada e Silva. Este foi doado pelo sobrinho do titular, Guy R. de Andrada, em
março de 1993, com inúmeros documentos, principalmente relativos ao trabalho
do titular do arquivo. Raul de Andrade e Silva foi historiador e professor da USP.
Nasceu em São Paulo em 1905 e morreu em 1991. Colaborou em revistas acadêmi-
cas e jornais, além de membro do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo e
da Academia Paulista de Letras (cf. Batista, pp. 55, 97).
monteiro lobato e seus leitores 11
Para isso, mais tarde, o autor propõe que o historiador transite por
diversas áreas:
4 Tomo o conceito na acepção de Certeau, para o qual estratégia é “...o cálculo (ou a
manipulação) das relações de forças que se torna possível a partir do momento em
que um sujeito de querer e poder (uma empresa, uma cidade, uma instituição cien-
tífica) pode ser isolado. A estratégia postula um lugar suscetível de ser circunscrito
como algo próprio e ser a base de onde se podem gerir as relações com uma exte-
rioridade de alvos ou ameaças (os clientes ou os concorrentes, os inimigos, o cam-
po em torno da cidade, os objetivos e objetos de pesquisa)” (Certeau, 1994, p. 99).
monteiro lobato e seus leitores 13
Ela ressalta, ainda, o fato de não ser explicado o que são os “livros
de conhecimentos úteis”, mas que os livros de literatura são os conside-
rados de “boa literatura”. Diz, também, que, apesar das deficiências do
levantamento, ele “permite concluir que havia predominância do livro
didático, seguindo uma tendência editorial, já observada no passado, de
produzir para um público leitor previsível” (idem, ibidem).
Na esteira desse mercado dos livros didáticos, além de Narizinho
arrebitado, publica, em 1921, Fábulas de Narizinho. No ano seguinte,
sai outra edição do mesmo livro, reformulado e com outro nome, Fábu-
las. Na folha de rosto dessa edição indica-se: “Obra aprovada pela Dire-
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Em Minas, desde algum tempo, se vem adotando o método global pelo pro-
cesso de “contos ou historietas”. Devemos, porém, a sua divulgação entre
nós, com técnicas mais aperfeiçoadas, à professora Lúcia Casassanta, que a
partir de 1929, através de eficiente curso de Metodologia da Língua Pátria,
ditado na Escola de Aperfeiçoamento de Belo Horizonte, vem imprimindo
nova e inteligente orientação ao ensino desta matéria, baseando-a em sólidos
princípios científicos [apud Leite, 2002, pp. 482-483].
5 Trata-se da cartilha O livro de Lili (método global), publicada pela editora Francisco
Alves em 1945.
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Os textos
6 Trata-se de sua tese de doutorado: The children’s literature of José Bento Monteiro
Lobato of Brazil: a pedagogy for progress, concluída em 1974, pela Michigan
State University.
20 revista brasileira de história da educação n° 7 jan./jun. 2004
é sobre a qualidade didática da obra que a autora concentra o foco do seu es-
tudo, tendo concluído que Lobato se utilizava do método socrático de ensino
e valorizava, sobretudo, o aprendizado informal, já que ele próprio assim ab-
sorvera a maior e melhor parte do seu conhecimento [Penteado, 1997, p. 221].
Não houve bairro do País da Gramática que não visitassem [...] e o resultado
de tudo foi que quando voltaram para o Sítio de Dona Benta estavam sabendo...
gramática! Mas sabendo mesmo, de verdade, e tanto que deram vários quinaus
num professor duma escola pública lá perto. Foi uma simples brincadeira, e
no entanto lhes valeu mais para o conhecimento de coisas da língua do que
um ano ou dois de escola com aqueles terríveis livros... [Lobato, 1934].
Essa posição contra a escola, contudo, deve ser vista para além de
uma visão de educação, como uma forma de propaganda, pois contra-
pondo-se à escola, propõe-se como alternativa. O final do texto não
deixa dúvidas: “E acabou-se a dificuldade das crianças aprenderem Gra-
mática. Basta agora que comprem este livro...”.
Os estudos sobre os livros infantis de Lobato apontam, também,
que além daqueles com o nome explícito no título, há outras produções
com pretensões didáticas. Segundo Penteado, é o caso de Serões de Dona
Benta. O autor afirma que o livro veicula conhecimentos da área de
ciências. Sua análise aponta o vínculo explícito com a escola:
7 ARAS-DML, Cp, Ci. – Cx. 1, P2, 11. Coqueiros – MG, 24.02.36. A partir das
próximas notas, as referências às cartas do acervo não conterão a denominação
ARAS-DML (Arquivo Raul de Andrada e Silva – Dossiê Monteiro Lobato), Cp
(Correspondência passiva) e Ci (Cartas infantis), pois todas as correspondências
fazem parte desse conjunto. Constarão apenas as referências ao número da caixa
(Cx.), da pasta (P) e, logo em seguida, ao número do documento na pasta. Estas
siglas foram extraídas da documentação do próprio IEB, tal como consta na listagem
dos documentos do arquivo.
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Este conceito de literatura infantil pode parecer, aos mais radicais, uma here-
sia – talvez seja, mas deve-se também reconhecer que sempre se atribui à
literatura infantil (como também à juvenil) um caráter educativo, formador,
por isso ela quase sempre se vincula à escola, a instituição, por excelência,
educativa e formadora de crianças e jovens; lembrem-se, por exemplo, que
Monteiro Lobato, quando publicou A menina do nariz arrebitado, em 1921
[sic], caracterizou-o, na capa como “livro de leitura para as segundas séries”,
o livro foi anunciado como “um novo livro escolar aprovado pelo governo de
São Paulo”, e a edição foi realmente vendida para o governo de São Paulo
para que o livro fosse adotado nas escolas.
monteiro lobato e seus leitores 27
...pedir a Dona Benta que me ensine mais alguma coisa de Português além do
que ela ensinou no livro. [...] quero inscrever-me num concurso, e quase não
sei Português [...] Tenho uma gramática, mas infelizmente leio, leio e não
entendo nada. Preciso muito passar no concurso, pois o papai esta desempre-
gado [...] e eu ganho “uma ninharia” onde trabalho. Tenho certeza de que se
ela ensinar-me eu aprenderei.
sim que comprou e aprendeu muito com ele: “Chegando em casa fui
logo começando à ler. Aprendi ‘abéssa’”17. Assim como Edite, que afir-
ma de passagem: “Não é por dizer, mas eu aprendi e compreendi
gramatica com o seu livro”18.
Outras referências ao livro ocorrem junto com outros livros do au-
tor, como História do mundo..., outra obra muito citada como fonte de
aprendizado escolar. Foi editada pela primeira vez em 1933. Adaptação
do texto de Virgil Hillyer, não é um livro pequeno, pelo contrário, é o
segundo mais extenso do autor, compondo 78 capítulos. Conta a vida
humana desde a pré-história até a Segunda Guerra Mundial. Nas
primeiras edições, lida por muitos dos remetentes, ela ia apenas até a
Primeira Guerra e a Revolução Russa. As edições conhecidas pelos lei-
tores eram fartamente ilustradas com figuras relativas à história sem
alusão aos personagens do Sítio, mas o texto contém a participação dos
personagens que, a todo momento, intervêm para opinar e tirar dúvidas.
Manuel, que leu o livro um ano após o lançamento, já identifica o
aprendizado através do mesmo, ressaltando estar essa característica pre-
sente em outros livros do autor: “De todos os livros os autores que eu
elogio mais são os livros de V. Exa. porque são os que me despertam
mais curiosidade. [...] História do Mundo para crianças que ensina mui-
ta coisa que ignorava inteiramente”19.
Dora, representando uma turma da Escola Técnica Orsina da Fonse-
ca, em 1935, comenta o caráter instrutivo dos livros, opinião influencia-
da possivelmente pela escola, pois a classe escreveu a pedido da profes-
sora. Lamenta que Lobato não escreva somente para crianças: “É pena!
O sr. quer saber de uma coisa? Deve escrever muitos livros no gênero de
História do Mundo para Crianças e Emilia no País da Gramática, porque
além de recreativos são altamente instrutivos e têm muita saída”20.
Em 1936, Maria Josefina, do quarto ano do Grupo Escolar Tiradentes,
de Curitiba, também comenta a aquisição de novas informações: “Li
Depois li História do Mundo para Crianças que me tem sido de muita utilida-
de nos meus estudos de Historia da Civilização. A Geografia de Dona Benta
também. Então com aqueles apartes de Emilia torna-se muito engraçado. [...]
Sou muito imbecil para a Matemática e ficar-lhe-ia muito grato se o Snr. me
mandasse a Arithmética de Emília23.
Guardaremos tudo isto [que pediram] como relíquia do melhor amigo que
tivemos, que nos livrou das cacetes e antigas aulas de Português e Aritméti-
ca. [...] Os seus livros nos já os conhecemos. O preferido por nos é “Arithme-
tica da Emilia”, que viajando, comendo melancias, nos ensinou frações. Era
esse ponto detestado por nos24.
Estou estudando História do Brasil e como acho muito cacete, peço por favor
que o sr. escreva, um livro, sobre o assunto. Acho que o senhor não quer
escrever porque Viriato Corrêa plagiou dos seus contos, escrevendo logo a
História do Brasil. Mas por mim pode escrever porque certamente já o tinha
imaginado e mesmo eu não gosto dos livros que Viriato Corrêa faz. Prefiro
os seus33.
livro. [...] Não vou amola-lo mais com minhas tolas palavras e também eu
tenho de estudar38.
Sabe uma conclusão que eu tirei? Que a senhora é uma pedagoga revolucio-
nária, utópica possível. [...] Revolucionária porque o seu “método de cama-
radagem” não existe ainda no Brasil (talvez mesmo no mundo). Utópica,
porque, com a mentalidade dos tais adultos, o ensino é uma coisa tão sisuda,
tão vital, tão obrigatória, que nos aborrece. [...] Se eu for alguém algum dia,
se algum dia eu tiver ou poder, ou riqueza, ou fama, eu juro em nome de
Monteiro Lobato, meu pai espiritual, que mandarei erguer uma grande está-
tua em sua honra, que será o mesmo que à Cultura e à Pedagogia. [...] Quero
com isso pagar não o quanto aprendi, mas apenas a Nova Visão da vida que
os seus livros me deram42.
Referências Bibliográficas
The article describes the scouting developed in Minas Gerais, during the Antônio Carlos
Andrada governor years (1926-1930), when a reformulation was carried out in the public
education. I have researched the assistance of state to the education movement created
originaly by the British military Baden-Powell, in a context that reenforce nationalism,
civilianship and militarization of children and teenagers.
SCOUTING; HISTORY OF EDUCATION; MINAS GERAIS; TEACHING REFORM;
ANTÔNIO CARLOS ANDRADA.
1 Sou grato aos professores Rodrigo Patto e Luciano Mendes que, através de suges-
tões e da leitura do texto, muito contribuíram para elaboração deste trabalho.
2 O artigo apresenta parte de minha pesquisa desenvolvida durante o curso de bacha-
relado em história do Departamento de História da UFMG. A pesquisa, já concluí-
da, resultou na monografia intitulada Sempre alerta! O movimento escoteiro em
Minas Gerais (1926-1930).
educação e civismo 45
Surgimento do escotismo
[...] procurar melhorar o padrão dos futuros cidadãos, especialmente seu ca-
ráter e sua saúde. Era preciso descobrir os pontos fracos do caráter nacional
e esforçar-se por erradicá-los, substituindo-os por virtudes equivalentes que
educação e civismo 47
Art. 207 – Será instituido entre os alumnos das escolas primarias, com caracter
facultativo e como instrumento de educação physica, moral e cívica, o pe-
queno escoteirismo.
Parag. 1º – A instrucção será ministrada por instructores escoteiros, fóra dos
dias de funccionamento escolar, de accordo com as instrucções organizadas
pela Inspectoria de Educação Physica.
Parag. 2º – O director do estabelecimento, assim como o medico escolar,
deve sempre ser ouvido sobre o horario, a duração e a natureza dos exercí-
cios e scientificados dos alumnos que devem delles participar.
Será instituido, diz o art. 207, do regulamento, entre os alumnos das escolas
primarias, com caracter facultativo e como instrumento de educação physica,
moral e civica, o pequeno escoteirismo.
O escoteirismo é uma admiravel escola de educação, já consagrada nos mais
importantes paizes do mundo pelos seus fructos grandiosos, alguns dos quaes
se mostram vicejantes em nosso proprio paiz.
60 revista brasileira de história da educação n° 7 jan./jun. 2004
Disse que náo havia ainda um anno que, pela primeira vez, se fizera ouvir em
Minas, pelo escoteirismo, a palavra de um grande chefe, e os resultados já
eram aquelles que Bello Horizonte, há dois dias, vinha premiando com o
mais quente aplauso e o mais ardente enthusiasmo de seu civismo.
O presidente Antônio Carlos, o grande chefe a que se referia, fazendo o que
tem feito, com exito pleno, pelo escoteirismo, deixou evidenciado que não
pregara por essa cruzada de patriotismo, com palavra van, em busca de po-
pularidade, mas como é do feitio do eminente estadista, com palavra
convencida,com palavra nascida do coração e da sinceridade. [...]
O escoteirismo não é simples gymnastica não é mero esporte, nem é apenas
educação militar. É a preparação do homem integral, pela completa fortaleza
physica, civica e moral, de cujo esforço possa a patria esperar confiadamente.
Saudando os escoteiros de Montes Claros, o voto que formulava era por que
o enthusiasmo daquelles jovens patricios se communicasse avassalador, como
O escotismo mineiro tem tido no decurso de 1928 para cá uma boa dose de
infelicidade.
Passamos a explanar os motivos porque assim dizemos:
Há 6 anos, Pereira da Silva fez de mil jovens da nossa capital, mil batalhadores
da grandiosa obra de Baden Powel.
Depois Pereira organiza a Federação Mineira de Escoteiros, a Federação
Mineira de Escoteiros não apoiou o escotismo como deveria.
E com isso nosso escotismo, tão bem levantado por Pereira da Silva, caiu
quase em franca decadencia e sinão assim, porque essa mesma figura a quem
o escotismo já devia a sua fundação e propagação em nossa terra ainda soube
tira-lo dos escombros em que jazia31.
Este artigo nos ajuda a entender algumas questões sobre a crise pela
qual passou o escotismo mineiro a partir de 1930 e lança a idéia de que
este momento se insere num contexto maior de dificuldades do escotis-
mo nacional. Herbert reforça a idéia de que a FME se omitiu no apoio
que deveria dar ao escotismo; além disso, ele afirma que grupos desapa-
receram “tambem pela falta de apoio material e mesmo moral do actual
Governo Mineiro...”. Essa fala reforça minha afirmação de que com a
saída de Antônio Carlos e a eleição de Olegário Maciel o escotismo
perdeu prestígio dentro do governo e, conseqüentemente, as verbas e o
“apoio moral” diminuíram35.
No início de 1932, chefe Pereira foi para Barbacena fazer um trata-
mento médico e ficou afastado durante quase um ano. Nesse período, o
grupo Guia Lopes e o da Escola Barão de Macahubas encerram suas
atividades. Estes eram os dois únicos grupos remanescentes da década
de 1920 que ainda atuavam. O Guia Lopes, que era o antigo grupo do
Gymnasio mineiro, fundado ainda no governo de Mello Viana, chefiado
por Pereira da Silva, reaparece no final de 1932 graças a mobilização de
antigos escoteiros que mesmo sem a presença do antigo chefe retomam
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72 revista brasileira de história da educação n° 7 jan./jun. 2004
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Legislação
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Legislação Federal de 1917 e 1928.
educação e civismo 73
Documentos diversos
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ESTATUTOS E REGIMENTO INTERNO DA ASSOCIAÇÃO DE ESCOTEIROS CATHOLICOS DO BRAZIL.
Rio de Janeiro, Brasil, 1921.
74 revista brasileira de história da educação n° 7 jan./jun. 2004
Diderot e o sentido político da
educação matemática
Introdução
As referências a Denis Diderot (1713-1784) em alguns textos que
focalizam a história da educação enfatizam especialmente sua defesa da
instrução pública organizada e dirigida pelo Estado independentemente
da Igreja, fundamentada no predomínio do ensino científico sobre o
ensino literário. Diderot vê na educação um fator primordial para a vida
individual e social e afirma que a instrução deve dar oportunidades a
todos de acordo com seus méritos e capacidades. Contudo, embora
sublinhe a importância da educação, Diderot procura também relativizar
uma possível confiança ilimitada em seu papel, considerando que nela
influem de maneira decisiva as faculdades e disposições naturais de cada
indivíduo (Abbagnano & Visalberghi, 1995; Boto, 1996; Luzuriaga,
1990; Snyders, 1977). Autores como Manacorda (1997) e Snyders (1977)
acentuam, além desses aspectos, o reconhecimento do valor das artes
mecânicas por parte do principal editor da Enciclopédia, destacando
seu esforço pela compreensão das relações entre cultura e trabalho ou,
num vocabulário mais afeito ao Século das Luzes, entre a geometria das
academias e a das oficinas.
Em 1775, Diderot enviou à imperatriz Catarina II a encomenda feita
por ela de um projeto de instrução pública para a Rússia, o Plano de
uma universidade (ou de uma educação pública em todas as ciências);
nesse escrito, o filósofo expõe suas idéias a respeito da escola a que
deveriam ter acesso, após alguma instrução primária1, todos os filhos de
uma nação. Ao apresentar sua proposta para o primeiro curso de estudos
da Faculdade das Artes2, Diderot dispõe na primeira classe – preceden-
do os estudos relativos às demais ciências, às línguas, à literatura, à
1 Nas palavras de Diderot: “Suponho que aquele que se apresenta à porta de uma
universidade saiba ler, escrever e ortografar corretamente sua língua; suponho que
ele sabe dispor os caracteres da aritmética; o que ele deve ter aprendido ou na casa
de seus pais ou nas escolas primárias” (Diderot, 2000, p. 284).
2 Diderot, embora condene radicalmente o modelo da Sorbonne, organiza a univer-
sidade de acordo com a estrutura francesa: todos os estudantes freqüentariam pri-
meiramente a Faculdade das Artes, em três cursos de estudos que durariam de sete
a oito anos. Os que terminassem tais cursos entrariam em seguida em uma das três
faculdades superiores – medicina, direito ou teologia.
diderot e o sentido político da educação matemática 77
3 Venturi (1988), além de destacar, como outros estudiosos de Diderot, o fato de ter
o filósofo, em sua juventude, se sustentado dando aulas particulares de matemáti-
ca, escreve que talvez tenha sido esse conhecimento aquilo que de mais profundo e
duradouro lhe deixou a passagem pela escola. Venturi enfatiza o interesse de Diderot
pela matemática durante toda a sua vida.
78 revista brasileira de história da educação n° 7 jan./jun. 2004
ral. Tomamos, ao mesmo tempo, conhecimento dos abstratos: cor, som, sa-
bor, odor, densidade, rarefação, calor, frio, moleza, dureza, fluidez, solidez,
rigidez, elasticidade, peso, leveza etc.; figura, distância, movimento, repou-
so, duração, extensão, quantidade, impenetrabilidade” [idem, p. 119].
9 Para maior clareza, cito parte do texto de Bacon no original: “... and these are two,
geometry and arithmetic; the one handling quantity continued, and the other
dissevered”.
82 revista brasileira de história da educação n° 7 jan./jun. 2004
Não existe na natureza nem superfície sem profundidade, nem linha sem
largura, nem ponto sem dimensão, nem qualquer corpo que tenha essa regu-
laridade hipotética do geômetra. Desde que a questão que se lhe propõe o
faça sair do rigor de suas suposições, desde que ele seja forçado a fazer en-
trar na solução de um problema a avaliação de algumas causas ou qualidades
físicas, ele não sabe mais o que faz; é um homem que coloca seus sonhos em
equações, e que chega a resultados que a experiência quase nunca deixa de
destruir [Diderot, 1875, t. XVI, pp. 475-476].
do jogo, e é por essa razão que ele chega até mesmo a considerar como
esgotada a ciência matemática11.
Ainda segundo Crocker, a matemática, na visão diderotiana, é “uma
ordem criada pelas necessidades e pelo modo de operação do intelecto”
(Crocker, 1974, p. 14). Retomaremos mais adiante o tema da ordem em
Diderot para interpretar a preferência do enciclopedista pela colocação
da matemática em primeiro plano na organização dos estudos que propõe
a Catarina da Rússia.
O posicionamento de Diderot quanto à insuficiência da matemática
na interpretação da realidade física, entretanto, já havia se manifestado
antes da publicação dos primeiros textos da Enciclopédia, na Carta so-
bre os cegos, em 1749. Considerando a abstração como a separação, pelo
pensamento, das qualidades sensíveis dos corpos, Diderot refere-se à
ocorrência, nas questões físico-matemáticas, de enganos provenientes da
excessiva simplificação dos objetos.
A Carta sobre os cegos é apontada por muitos autores como um
marco na evolução do pensamento diderotiano – como nota Romano
(1996a), ela sinaliza uma aventura do espírito na qual dissolve-se a
Há uma espécie de abstração da qual muito poucos homens são capazes, pois
ela parece reservada às inteligências puras; é aquela pela qual tudo se reduzi-
ria a unidades numéricas. É preciso convir que os resultados dessa geometria
seriam bem exatos, e suas fórmulas bem gerais, porque não há objetos, seja
na natureza, seja no possível, que essas unidades simples não possam re-
presentar – pontos, linhas, superfícies, sólidos, pensamentos, idéias, sensa-
ções, e... se, por acaso esse fosse o fundamento da doutrina de Pitágoras,
poder-se-ia dizer dele que fracassou em seu projeto, já que essa maneira de
filosofar está demasiado acima de nós, e demasiado próxima da do Ser su-
premo que, segundo a expressão engenhosa de um geômetra inglês12, geome-
triza perpetuamente no universo.
A unidade pura e simples é um símbolo demasiado vago e demasiado geral
para nós. Nossos sentidos nos conduzem a signos mais análogos ao alcance
de nosso espírito e à conformação de nossos órgãos [Diderot, 1951, p. 855,
grifo meu].
Entre todas as idéias que temos, como não há nenhuma outra sugerida ao
espírito de mais maneiras, não existe nenhuma mais simples que a de unida-
de ou um – nela, não há sombra de variedade ou composição: todo objeto em
relação ao qual empregamos os sentidos, toda idéia em nosso entendimento,
todo pensamento de nossas mentes traz consigo essa idéia. E, portanto, é a
mais íntima aos nossos pensamentos, bem como, por seu acordo a todas as
outras coisas, a idéia mais universal que temos [Locke, 1952, p. 165].
12 Guinsburg (Diderot, 2000) anota que Diderot refere-se a Joseph Rason, um discí-
pulo de Newton.
86 revista brasileira de história da educação n° 7 jan./jun. 2004
Interrogai matemáticos de boa fé, e eles vos confessarão que suas proposi-
ções são todas idênticas e que tantos volumes sobre o círculo, por exemplo,
se reduzem a nos repetir de cem mil maneiras diferentes que é uma figura na
qual todas as linhas traçadas do centro à circunferência são iguais [Diderot,
1951, pp. 890-891].
É sobretudo nas matemáticas que todas as verdades são idênticas; toda a ciên-
cia do cálculo não é senão a repetição deste axioma – um e um são dois – e toda
a geometria não é mais do que a repetição deste – o todo é maior que sua parte
[Diderot, 1875, t. III, p. 454].
15 O Plano prevê que o segundo, o terceiro e o quarto cursos serão seguidos durante o
mesmo tempo de duração do primeiro (Diderot, 2000). Explica Dolle (1973): to-
dos os alunos passariam pelas classes desses três últimos cursos enquanto freqüen-
tassem o primeiro. O primeiro curso constitui o ensino de base, e é completado
pelo segundo, que deve ser seguido por todos os alunos até sua saída da Faculdade
das Artes.
Além disso, Diderot enfatiza que a importância do segundo curso reside na forma-
ção religiosa, cívica e moral dos estudantes. O texto do Plano deixa claro que as
classes do primeiro curso teriam lugar pela manhã, e as do segundo à tarde.
90 revista brasileira de história da educação n° 7 jan./jun. 2004
Quanto à álgebra, embora não seja explícito, quer sobre seu uso
prático, quer sobre suas vantagens no sentido formativo, o autor do Pla-
no, a partir da concepção desse saber como aritmética generalizada, in-
siste sobre o fato de ser ela um conhecimento acessível:
A Álgebra, cujo nome não assusta mais, não é senão uma aritmética mais
geral que a dos números, tão clara quanto ela e mais fácil; são somente as
mesmas operações, porém mais simples [idem, ibidem].
É, com efeito, bastante natural pensar que o primeiro uso que os homens dela
fizeram logo que se encontraram reunidos em sociedade, tenha sido medir
seus campos e verificar a sua extensão [idem, ibidem].
Porém, Diderot esclarece que, ainda que tenha sido esse o objetivo
das primeiras operações geométricas, o uso dessa ciência se tornou muito
mais universal – a ela concerne tudo o que é extenso, ou ainda, ela se
refere às grandezas cujas partes são contínuas, isto é, unidas e ligadas
entre si17. Mais adiante veremos que, mais do que a ênfase sobre o uso
prático da geometria nas medições, é o papel formativo do conhecimen-
to geométrico na educação moral e intelectual do homem necessário a
uma sociedade em transformação que terá grande parte da atenção do
enciclopedista.
A parte relativa ao cálculo das probabilidades no Plano de uma
universidade põe em relevo utilidades práticas menos imediatas da
matemática do que as invocadas em favor da aritmética e da geometria:
17 Um todo composto por partes separadas umas das outras é, por sua vez, uma quan-
tidade que se exprime por números, e é objeto da aritmética (Diderot, 1975).
diderot e o sentido político da educação matemática 93
18 Billy (1948, p. 370) cita a seguinte passagem de Diderot numa carta a Catarina II:
“Em geral, no estabelecimento das escolas tem-se dado importância e espaço de-
masiados ao estudo das palavras; é preciso substituí-lo pelo estudo das coisas”.
diderot e o sentido político da educação matemática 95
Para o filósofo, esse é um ensino tão importante que é por ele que
cumpriria começar, desde que sua abstração fosse acessível às crianças.
No entanto, alocando-o na sexta classe, após as classes de matemática e
96 revista brasileira de história da educação n° 7 jan./jun. 2004
É evidente que a geometria, caso nela fosse instruído, lhe forneceria um meio
infalível de assegurar-se se os testemunhos de seus dois sentidos são ou não
contraditórios. Ele não teria senão que tomar o cubo ou a esfera entre suas
mãos, demonstrar a alguém qualquer uma de suas propriedades, e pronunciar,
se o compreendessem, que vê-se cubo aquilo que ele sente cubo, e que con-
seqüentemente é cubo aquilo que ele segura. Quanto àquele que ignorasse
essa ciência, penso que não lhe seria mais fácil discernir, pelo toque, o cubo
da esfera que ao cego do senhor Molineux19 distingui-los pela vista [Diderot,
1951, p. 890].
20 Embora veja nessa passagem que até a linguagem geométrica não escapa da des-
confiança de Diderot, Romano (1996a) afirma ser possível acreditar que o filósofo,
100 revista brasileira de história da educação n° 7 jan./jun. 2004
ometria20.
Romano (2001) comenta que as preocupações com a linguagem
verbal são um traço característico dos pensadores democráticos do
século XVIII, e especialmente de Diderot – todos eles “afirmavam que
para instaurar a democracia, seria preciso a mudança na língua do po-
vo” pois este,“acostumado à distorção das leis e dos vocábulos, reali-
zada pelos tiranos, acostumara-se a ouvir uma coisa e entender outra”
(Romano, 2001, pp. 424-425). Eis mais uma relação a ser enfatizada – o
relevo que a matemática adquire na proposta pedagógica de Diderot
devido às vantagens da linguagem dessa ciência está ligado ao pensa-
mento político do enciclopedista.
Contudo, se a geometria é, entre os conteúdos propostos por ele
para o Primeiro Curso de Estudos da Faculdade das Artes, aquele que é
mais mencionado quanto ao papel formativo, Schmitt (1997) nos cha-
ma a atenção para uma passagem em que Diderot tece um vínculo entre
um outro estudo – o das probabilidades – e a educação moral. Agora, o
ganho está em uma maior aproximação com os negócios da vida:
devido ao seu entusiasmo pelas ciências, confia mais (ou desconfia menos) nessa
mesma linguagem.
21 Eric-Emmanuel Schmitt indica que essa passagem pertence a uma carta dirigida
por Diderot à condessa de Forbach em março de 1772 (Schmitt, 1997, p. 315).
Nesse trecho, ao qual não tivemos acesso direto, uma aparente contradição se ma-
nifesta caso tomemos literalmente a figura de Euclides como o educador moral a
que Diderot se refere, uma vez que a obra do grego não contempla as probabilida-
des. No entanto, parece-nos que Diderot, ao nomear Euclides como seu mestre de
moral, identifica-o com o conhecimento matemático, em particular com o conheci-
mento referente às probabilidades – esse último, sem dúvida, ensina a comparar as
vantagens e desvantagens de uma ação.
diderot e o sentido político da educação matemática 101
mentos úteis como a matemática. Mas uma nação não pode se dar ao
luxo de perder as potencialidades dos mais capazes – daí a exigência de
que as portas da escola se abram indistintamente a todos os filhos dessa
nação. É essencial a seguinte passagem, freqüentemente citada do Pla-
no de uma universidade, na qual o autor explica essa concepção:
ressaltar mais uma vez esse aspecto ligado à educação matemática den-
tro da obra política de Diderot.
Certamente podem-se levantar questionamentos quanto à forma que
ele propõe para essa educação no Plano, levando em conta, como ob-
serva Dolle (1973), que, figurando na primeira classe do primeiro curso
de estudos, os conhecimentos matemáticos, mesmo com a vantagem de
ter garantida sua abordagem na instrução dos que não pudessem prosse-
guir nos estudos, seriam focalizados exclusivamente nesse nível, não
sendo retomados depois para aprofundamento. Dolle levanta também
dúvidas quanto à possibilidade de um aprendizado efetivo da matemáti-
ca em tão pouco tempo – uma classe de estudos – a menos que Diderot
tivesse pensado, para a aplicação de seu plano, somente em um progra-
ma reduzido.
Todavia, não se pode negar a ousadia de Diderot em relação ao que
se fazia na educação da época e mesmo ao que se propunha então como
reforma, como ressalta também Dolle. A proposta diderotiana de fixar
as ciências em lugar das letras, e especialmente em lugar das línguas
antigas, como base da instrução, se apóia não só no tão enfatizado prin-
cípio de utilidade, mas também, em grande parte, em uma argumenta-
ção sobre a capacidade dos jovens para assimilar os conhecimentos
científicos e, particularmente, a matemática. Dolle assinala o que dife-
rencia Diderot de outros proponentes de mudanças na educação de seu
tempo da seguinte maneira:
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108 revista brasileira de história da educação n° 7 jan./jun. 2004
Da ótica dos Estudos Culturais e campos afins, analiso estratégias implementadas pelos
representantes do governo do estado do Rio Grande do Sul de importação da obra didática
do autor português João de Deus, a Cartilha maternal, cujo método de ensino da leitura
fora adotado oficialmente. Inicialmente, apresento a crítica dos representantes do governo
gaúcho às “contrafações inconvenientes”, discutindo, após, a aceitação de adoção de
cartilhas que mais se aproximassem da obra lusa. Finalizo a análise mostrando as marcas
de sua aculturação, ao se adaptar a necessidades locais do estado gaúcho.
CARTILHA MATERNAL; ACULTURAÇÃO; RIO GRANDE DO SUL; PRIMEIRA
REPÚBLICA; ESTUDOS CULTURAIS.
From the perspective of the Cultural Studies and related fields, I analyse strategies
implemented by Rio Grande do Sul state officers on importing the didactic work developed
by the Portuguese author João de Deus, Cartilha maternal, whose method to teach reading
was officially applied. Firstly, I have provided the critique formulated by the Rio Grande
do Sul government officers concerning “unsuitable counterfeits”, and after that, the
acceptance of primer uses most closer to the Portuguese work. I conclude the analysis by
showing its acculturation marks, as it fits to the local needs of this southern Brazilian state.
MATERNAL PRIMER; ACCULTURATION; RIO GRANDE DO SUL; EARLY REPUBLIC;
CULTURAL STUDIES.
Introdução
1 Essa frase mencionada por Erico Verissimo é a frase inicial do primeiro texto da
Cartilha maternal.
2 A definição do que seriam cartilhas em contextos e períodos diversos pode auxiliar
a entender esses deslizamentos, isto é, a produção de novos significados. A tradi-
ção lusa dessas obras didáticas as reconhecia inicialmente como cartas ou cartinhas,
e estas, ainda no final do século XIX e início do século XX, circulavam pelo Brasil
comumente apresentadas como livros de primeiras letras. Essas obras têm sua
origem nos catecismos e silabários manuscritos que foram utilizados no ensino da
leitura no final do século XV (Fernandes, 1998), consistindo, então, em pequenos
livros que continham o abecedário, o silabário e rudimentos do catecismo. Escolano-
Benito (1997) nos informa que a denominação cartilha tem origem em expressões
como “cantar” ou “ler a cartilha” para alguém. Já a denominação primeiro livro de
leitura está associada às séries cíclicas de livros “compostas de textos de diferentes
níveis de complexidade, dispondo os conteúdos, geralmente, os mesmos, em cada
etapa do processo, de forma gradual” (ESCOLANO-BENITO, 1997, p. 34).
a cartilha maternal e algumas marcas de sua aculturação 111
3 Estudos como os de Pfromm Netto, Rosamilha e Dib (1974), Magnani (1996, 1997),
Mortatti (1999) e Monarca (1994) foram extremamente importantes para a com-
preensão da trajetória de métodos de alfabetização e de cartilhas adotadas na ins-
trução pública do nosso país, entre império e república, auxiliando, assim, na
identificação de obras didáticas adotadas, seus autores e sua circulação por diver-
sos estados brasileiros, especialmente Rio de Janeiro e São Paulo.
112 revista brasileira de história da educação n° 7 jan./jun. 2004
estava começando a se sobrepor ao latim vulgar e estava sendo composta uma gra-
mática que lhe fosse própria. Por sua vez, os métodos de António Castilho e de João
de Deus mostram, de diferentes formas, uma possibilidade de reflexão sobre a relação
entre língua oral e escrita a partir de uma de suas unidades lingüísticas: a palavra.
6 Gaúcho, Hilário Ribeiro (1847-1886) era reconhecido nacionalmente, desde o pe-
ríodo imperial, por sua produção didática. Além das atividades de professor e escritor
didático, foi poeta, dramaturgo e biógrafo (Martins, 1978). Seus compêndios fo-
ram adotados nas escolas públicas do município da Corte e nas províncias de Mi-
nas, São Paulo, Rio Grande do Sul, Pernambuco, Rio de Janeiro e outras (Ribeiro,
1887). Continuaram populares na República, sendo bastante usados até a década
de 1930. Foram premiados em 1883, com o “Diploma de 1ª Classe”, em importan-
te exposição pedagógica que se realizou na capital do país. Mais tarde, em 1887,
receberam a mesma premiação na Exposição de Objetos Escolares, sendo final-
mente consagrados, com “Medalha de Prata”, na Exposição de Paris, de 1889.
Pfromm Neto, Rosamilha e Dib (1974) observam que as obras didáticas de Hilário
Ribeiro disputavam com as de Abílio César Borges, o Barão de Macaúbas, a prefe-
rência dos/as professores/as primários/as. A última edição do silabário é de 1941
(123. ed.) e da cartilha é de 1943 (236. ed.), pela Francisco Alves (Villas-Boas,
1974). Em nota introdutória que acompanha a Cartilha nacional, Hilário Ribeiro
(s.d.; 1887; 1919) explica que escreveu essa cartilha para substituir esse primeiro
livro (silabário) que era, então, bastante adotado.
7 O baiano Abílio César Borges (1824-1891) trocou a carreira de médico pela de
professor. Para Pfromm Neto, Rosamilha e Dib (1976), o primeiro livro de leitura
do “Método Abílio” representou um surpreendente salto na pedagogia brasileira,
pois, até então, a aprendizagem da leitura se iniciava com abecedários manuscri-
tos, papéis de cartório e “toscas cartilhas”. Esse primeiro livro, ao mesmo tempo
que adotava a silabação, se opunha à soletração de sílabas sem sentido.
8 Maiores referências sobre Ubatuba encontrei em uma das atas das sessões do Con-
selho de Instrução Pública. Um dos primeiros livros examinados por esse conse-
lho, já no regime republicano, corresponde ao silabário de Arthur Trajano Ubatuba
(Atas..., 1891, p. 189).
9 Professor de português, francês, italiano, matemática e escrituração mercantil, foi
também autor de livros didáticos. Escreveu a Cartilha mestra para aprender-se a
ler com rapidez ou primeiro livro de leitura, identificando sua orientação de leitura
com o “genuíno methodo João de Deus” (Andrade, 1919, capa). Esta obra foi
“adoptada não só nas escolas publicas do Estado do Rio Grande do Sul, Ceará e
Rio Grande do Norte, mas também para as escolas regimentaes do exército”
(ANDRADE, 1919, capa). A Cartilha mestra foi premiada na Exposição Nacional de
1908, no Rio de Janeiro, com medalha de prata.
116 revista brasileira de história da educação n° 7 jan./jun. 2004
Felizmente este erro não tem ainda produzido todos os seus máos fructos por-
que quasi a totalidade do professorado pede livros de Hilario Ribeiro, estabe-
lecendo-se assim uma tacita combinação. Jámais adoptarei livros de methodo
e doutrinas oppostas para o ensino de uma mesma matéria [idem, p. 303].
sino simultaneo e mixto, os unicos que a escola publica póde com vantagem
empregar; e além disso são os regulamentares conforme estatúe o artigo 54
do regulamento [idem, ibidem].
E em 1897:
Reitero o que sobre este assumpto tive a honra de dizer vos em meu relatório
do anno passado. Continúa o mesmo mal; penso, porém, tomar serias provi-
dencias a respeito na proxima reunião do conselho escolar, porque pretendo
nomear uma commissão de membros daquella corporação para examinar os
livros em uso e dar parecer fundamentado sobre os que julgar mais em con-
dições de serem adoptados. Nessa escolha se terá em vista a unidade da dou-
trina e os methodos.
Impressionado com as péssimas consequencias da diversidade de livros es-
colares de que vos falei no meu relatorio do anno passado, tomei a resolução
de dirigir-vos officio n. 266, de 3 de abril do corrente anno, no qual eu pon-
118 revista brasileira de história da educação n° 7 jan./jun. 2004
derava que desde que fôra publicada a primorosa e inimitavel Cartilha Ma-
ternal do inolvidavel João de Deus, começaram a aparecer as contrafacções,
com grande prejuizo para o ensino, porque todas, visando somente o escopo
mercantil, deturpavam o maravilhoso invento.
Infelizmente estas contrafacções (como sempre sóe acontecer) repelliram do
mercado brazileiro a grandiosa obra do grande homem; e o nosso Estado,
como todos os da União, tem sido forçado a distribuir pelas escolas publicas
as referidas contrafacções. Penso, porém, que podemos conseguir emancipar
o ensino desses maús livros [idem, ibidem].
O Sr. Inspector Escolar declarou que, tendo o Conselho em sua ultima reu-
nião, consedido-lhe autorização para titulo de esperiencia, destribuir pelas
escolas, adoptando provisoriamente, quaesquer livros de leitura (1º e 2º) que
mais se aproximassem do Methodo João de Deus, não havia se utilizado
d’essa autorização: não só por que não appareceram ditos livros: porem que
si o conselho assim o entendesse, poderia ratificar á autorização a respeito. O
Sr. Brandão Junior, tomando a palavra propoz que não só se ratificasse aque-
la autorização, quanto aos mencionados livros como quaesquer outros que o
Sr. Inspector Geral julgar de conveniência para o ensino, apresentando-os
depois ao Conselho para sobre elles elaborar parecer. Foi approvada esta
proposta por todos os Srs. Presentes [ATAs..., 1901, p. 34].
11 O exemplar da Cartilha (Deus, 1996) utlilizado para análise nesta seção corresponde
à cópia fac-similada da 1ª edição, publicada em 1876.
a cartilha maternal e algumas marcas de sua aculturação 123
Ainda no anno passado vos ponderei que por motivos de ordem econômica,
era-me impossível fornecer ás escolas a “Cartilha Maternal”, de João de Deus.
Tenho diversas vezes dito que o livro actualmente fornecido não satizfaz as
exigências do methodo ordenado pela lei; mas emquanto não desapparecerem
as razões apontadas em outros relatorios ou emquanto não tivermos outro
livro que mais se aproxime do methodo legal, estamos forçados a distribuir
pelas nossas escolas actuaes 1º e 2º livros de Samorim.
Dizia-vos eu, então, que logo que me fosse possivel, de acordo com a lei,
cumpria as vossas ordens, fazendo a substituição lembrada.
No fim do anno passado, appareceram no mercado a “Cartilha Primária” e o
“Segundo Livro” pelo methodo João de Deus, por um professor rio-grandense.
Com auctorisação do Conselho, distribui, como experiência, pelas escolas,
estes dois livros, recomendando a diversos professores competentes que me
communicassem os resultados obtidos com os referidos livros.
Deixo de manifestar-me sobre o merecimento dessas obras por não terem
ellas sido ainda definitivamente aprovadas pelo Conselho Escolar.
Abstrahindo do ensino da lettra manuscripta, a “Cartilha Primaria” adoptou
ou procurou adoptar o methodo de João de Deus aos usos e costumes da lín-
gua portugueza fallada no Brazil [RELATORIO..., 1902, pp. 212-213, grifo meu].
Nota ao professor
O dec.-lei 292, de 23 de fevereiro de 1938, tornou obrigatório o uso da orto-
grafia nacional, resultante do acordo a que se refere o dec. 20-108, de 15 de
junho de 1931, entre a Academia Brasileira de Letras e a Academia de Ciên-
cias de Lisboa, e deu outras providências.
a cartilha maternal e algumas marcas de sua aculturação 129
Conclusões
A análise de cartilhas como textos culturais torna evidente a inter-
textualidade e interdiscursividade de uma época, em que obras reconhe-
cidas como originais se perdem em novas obras que também seriam
reconhecidas de tal forma. Dito de outra maneira, isto significa que,
quando as cartilhas são vistas como contrafações da Cartilha maternal,
mostram nas nuanças apresentadas antes a sua diversidade, o que faz
com que possam ser reconhecidas como contrafações “inconvenientes”
ou “similares” da obra original não pelo desrespeito aos direitos autorais,
como poderíamos imaginar, mas pela maior ou menor aproximação à
obra original.
130 revista brasileira de história da educação n° 7 jan./jun. 2004
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escripta. Rio de Janeiro: Livraria Garnier.
O plano de estudos das escolas
públicas elementares na Província
do Paraná
ler e escrever, para Deus e o Estado
Ariclê Vechia*
O texto analisa os planos de estudo das escolas públicas elementares no período do Paraná
Provincial, tomando como fonte principal os relatórios dos presidentes da província e os
relatórios dos inspetores gerais da Instrução Pública. Emancipada de São Paulo, a Provín-
cia do Paraná precisava firmar-se política e administrativamente. Para tal, o presidente da
província elegeu a educação e a uniformização do ensino como metas prioritárias de seu
governo. Estes objetivos deveriam ser atingidos pela adoção de um plano de estudos
único, direcionado para a formação do indivíduo, implicando o cultivo dos valores do
Estado, visando uma educação nacional, e dos princípios da moral cristã, ou seja, da
doutrina da religião católica.
INSTRUÇÃO PÚBLICA; ENSINO ELEMENTAR; PLANO DE ESTUDOS; PARANÁ
PROVINCIAL; SÉCULO XIX.
This work analizes the programs of study of the public elementary schools during the
time when Paraná was a province, using as its main source the reports of the Presidents of
the Province and of the General Inspectors of Public Instruction. Once disassociated from
São Paulo, the Province of Paraná sought to establish a political and administrative identity.
The President of the Province identified as a priority of the government the creation of a
uniform educational system. This objective would to be achieved through the adoption of
a unique program of studies that was oriented to the development of the individual, and
included the cultivation of the values promoted by the State. The result was an educational
system that was based on the principles of Christian morals, that is, on the doctrine of the
Catholic religion.
PUBLIC EDUCATION; ELEMENTARY EDUCATION; SYLLABUS; PARANÁ;
NINETEENTH CENTURY.
Introdução
Art. 1º. As escolas serão divididas em três classes, cada uma das quais, me-
nos a terceira, terá primeiro e segundo banco, conforme o grau de adianta-
mento dos alunos. Essa divisão porém, poderá ser alterada em uma ou em
todas por ordem especial do inspetor geral.
Art. 2º. A divisão do ensino pelas classes nas escolas primárias inferiores do
sexo masculino será feita do modo seguinte: 1ª classe, consistirá de 2 bancos
o plano de estudos das escolas públicas elementares na província do paraná 139
Art. 4º. A divisão nas escolas femininas será a mesma, com a diferença de que
se omitem as noções de linhas na primeira classe, assim como outras noções
geométricas na terceira classe, ensinando de aritmética somente teoria e prá-
tica de somar e diminuir na segunda classe, e de multiplicar e repartir na ter-
ceira. Também o tempo do ensino é menor em cada banco, sendo vinte minutos
para cada um, menos o da terceira classe que terá meia hora, a fim de que os
40 minutos, que restam para preencher o tempo legal da escola, sejam empre-
gados no ensino do trabalho de agulha [Paraná, 1856, apud Paraná, 1858a].
[...] adotei a “Gramática de Coruja” que, posto que se ressinta de alguns de-
feitos foi a que mais adaptada achei para dar as primeira noções, para ligar e
combinar as palavras e saber delas fazer uso e emprego. Para a leitura adotei
inglesa: Fáceis lições sobre matéria de dinheiro, para uso da mocidade. Julgo
que se pode adotar esse livro para leitura da última classe porque embora
pareça sugerido pelo industrialismo britânico adaptado aos seus hábitos, ele
fornece noções econômicas exatas e certas que a todos convém saber [Paraná,
1856, pp. 25-28].
Art. 2º. O estudo das matérias necessárias se dividia pelas classes do modo
seguinte:
§ 1º A música começar-se-á a ensinar desde a 2ª classe pelas noções de arte,
exercícios de tons para a formação da gama; na 3ª classe, música vocal e
instrumental com solfejo, vocalização e canto; nas classes superiores, aper-
feiçoamento dos exercícios de transposições.
146 revista brasileira de história da educação n° 7 jan./jun. 2004
Art. 4º. As alunas que não quiserem concluir o estudo das matérias desta
cadeira, poderão pedir exame de instrução elementar no fim da 3ª classe
[Paraná, 1858b, pp. 136-137].
Nas escolas de sexo feminino, além das matérias prescritas, seriam ensina-
dos os trabalhos de agulha [Paraná, 1871b, p. 7].
Art. 1º. O diretor geral da instrução pública será substituído em todos os seus
impedimentos pela pessoa que for designada pelo presidente da Província.
Art. 2º. O inspetor paroquial da capital será de livre escolha do presidente da
Província.
Art. 3º. Os inspetores paroquiais devem visitar e inspecionar as escolas pelo
menos uma vez por mês.
Art. 4º. As aulas primárias funcionarão todos os dias compreendida a quinta
feira, das 9 horas da manhã a uma da tarde [Paraná, 1882, p. 87].
Art. 1º. Os professores das escolas primárias do sexo masculino são obriga-
dos a ensinar ginástica aos alunos três vezes por semana e por tempo que não
exceda uma hora.
Considerações
Referências Bibliográficas
BASTOS, Maria Helena & FARIA FILHO, Luciano Mendes (1999). A escola ele-
mentar no século XIX: o método monitorial/mútuo. Passo Fundo: Ediuf.
BUISSON, Ferdinand Edouard (1911). Nouveau dictionnaire de pedagogie et
d’instruction primaire. Paris: Hachette.
CHIZZOTTI, Antonio (1975). As origens da instrução pública no Brasil. Disserta-
ção (Mestrado) – PUC/SP, São Paulo.
HAIDAR, Maria de Lourdes M. (1972). O ensino secundário no Império do Bra-
sil. São Paulo: Grijalbo.
VECHIA, Ariclê (1998). Imigração e educação em Curitiba: 1853-1889. Tese
(Doutorado) – Universidade de São Paulo (USP), São Paulo.
Fontes
Este trabalho apresentará a discussão sobre os destinos das Faculdades de Filosofia, Ciên-
cias e Letras na década de 1960 como ponto crucial da Reforma Universitária brasileira.
Além dos debates no Conselho Federal de Educação, utilizou-se como fonte privilegiada
os relatos registrados pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência – instituição
que tratou dos interesses de algumas áreas científicas durante o processo de reformulação
universitária. A criação das Faculdades de Educação será tema final deste texto, tratada
como decorrência dos embates anteriormente mencionados.
REFORMA UNIVERSITÁRIA; HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO; UNIVERSIDADE DE SÃO
PAULO; FACULDADE DE EDUCAÇÃO.
This study presents the discussion about the future of the Faculties of Philosophy, Sciences
and Literature at the 60’s as decisive point to the Brazilian Universitarian Reform. Besides
the discussions at Federal Board of Education, the reports recorded by the Brazilian Society
to Progress of Science – institution responsible for the concerns of some scientific sectors
along the universitarian reformation process – have been privileged. The creation of the
Faculties of Education is the theme of this study, as a result of those discussions.
UNIVERSITARIAN REFORM; HISTORY OF EDUCATION; UNIVERSITY OF SÃO
PAULO; FACULTY OF EDUCATION.
Ora, para que tais institutos pudessem ser introduzidos nas universidades já
existentes tornar-se-iam necessárias certas modificações de sua estrutura e,
sobretudo, da mentalidade de nossos catedráticos. Doutra forma teríamos a
existência de sistemas concorrentes, sobretudo no que diz respeito às facul-
Voltando ainda ao Simpósio de Brasília devo lembrar que, a meu ver, e pode
ser que me engane, ali se procurou antes mostrar as deficiências das Faculda-
des de Filosofia que os seus êxitos. Houve acesa discussão sobre o destino
das Faculdades de Filosofia, propondo alguns a sua substituição pelos Insti-
tutos Centrais, outros a bipartição em Faculdades de Ciências e Faculdades
de Filosofia e Letras, outros a tripartição em Faculdades de Filosofia, Facul-
dades de Ciências e Faculdades de Educação9.
Por ter sido escrito em 1971, o texto de Heladio Antunha serve como
fonte privilegiada de observação do horror que o movimento estudantil
provocava em boa parte do corpo docente da USP; inclusive justifican-
do neste setor a necessidade de desmembramento da FFCL, onde se
concentrava a maioria do corpo discente. As manifestações estudantis
de fins da década de 1960 eram recentes quando Heladio Antunha
escreveu seu texto. O autor demonstra aversão profunda quanto à quebra
da hierarquia universitária baseada até então no mérito acadêmico
comprovado pelos mecanismos institucionais da universidade. Para este
autor, conceder o poder às assembléias paritárias, onde alunos opina-
riam em posição de igualdade com os professores, seria subverter a pró-
pria essência da universidade – instituição calcada no saber objetivamente
auferido por títulos comprovadores do conhecimento e da maturidade
do corpo docente. É possível que outros professores também percebes-
sem sua autoridade intelectual e institucional ameaçada pelo movimen-
to estudantil. No final da década de 1960, é provável que o horror
provocado pelo movimento estudantil em Heladio Antunha também fosse
compartilhado por outros professores da USP.
Heladio Antunha – como diversos outros autores que posteriormen-
te trataram da Reforma Universitária da USP – analisou o Relatório
Ferri, como ficou conhecido o Memorial de Reestruturação da USP.
Este relatório, elaborado entre 1966 e 1968, propunha que todas as fa-
culdades da USP fossem transformadas em institutos, aos moldes da
Universidade de Brasília. Heladio Antunha destaca que o Relatório Ferri
tem importância somente como curiosidade histórica, pois não elaborou
formalmente nenhum projeto de reforma dos Estatutos da USP. O Rela-
14 Idem, p. 216.
174 revista brasileira de história da educação n° 7 jan./jun. 2004
15 Idem, p. 220. O autor escreveu também artigo sobre as origens históricas da Faculda-
de de Educação da USP: “As origens da Faculdade de Educação da USP”. Revista
da Faculdade de Educação. São Paulo: FE-USP, vol. 1, n. 1, pp. 25-41, dez. 1975.
16 Beatriz Alexandrina de Moura Fétizon. Subsídios para o estudo da Universidade
de São Paulo. Tese (Doutorado) – FE-USP, São Paulo, 1986, vol. 2, p. 678.
a reforma universitária e a criação das faculdades de educação 175
17 Idem, p. 679.
18 Idem, p. 681. A autora escreveu também artigo sobre as origens históricas das
Faculdades de Educação: “Faculdades de Educação: antecedentes e origens”. Es-
tudos Avançados, São Paulo: USP, vol. 8, n. 22, pp. 365-373, set-dez. 1994.
19 Kalliópi Alexandra Aparecida Katsios. Um estudo sobre o curso de Pedagogia da
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (1940-
1949). Dissertação (Mestrado) – PUC-SP, São Paulo, 1999.
20 Bruno Bontempi Júnior. A cadeira de História e Filosofia da USP entre os anos 40
e 60: um estudo das relações entre a vida acadêmica e a grande imprensa. Tese
(Doutorado) – PUC-SP, São Paulo, 2001.
176 revista brasileira de história da educação n° 7 jan./jun. 2004
22 Idem, p. 540.
23 Maurício Rocha e Silva. “Reforma Universitária”. Ciência e cultura, São Paulo:
SBPC, vol. 19, n. 4, p. 633, dez. 1967.
a reforma universitária e a criação das faculdades de educação 179
Essa evolução é via de regra lenta e acidentada, talvez por ser a educação um
dos setores onde mais fortemente atuam os mecanismos sociais de resistência
à mudança. Entretanto, as fases de processo tendem a suceder-se com grande
regularidade, permitindo mesmo alguma generalização. Por exemplo:
1 – coexistindo com a ausência de qualquer preparo específico do professor
de todos os seus escolares, inicia-se a formação de mestre primário em cur-
sos normais de grau ginasial ou equivalente;
2 – prossegue a formação ginasial e reduz-se a proporção de mestres primá-
rios inteiramente leigos, iniciando-se o seu preparo também em grau de colé-
gio;
3 – desaparece o professor inteiramente leigo e desenvolve-se o preparo do
mestre primário em grau de colégio, iniciando-se a formação de especialistas
em nível pós-colegial;
4 – reduz-se a proporção de mestres primários com preparo ao nível de ginásio
e firma-se como norma a escola normal colegial, iniciando-se a formação es-
pecífica, em grau superior e ao nível de graduação, (a) de professores de disci-
plinas profissionais no ensino normal de grau colegial e pós-colegial, (b) dos
especialistas de Educação e (c) dos professores de ensino médio em geral;
a reforma universitária e a criação das faculdades de educação 183
29 Idem, p. 99.
30 Idem, p.100.
a reforma universitária e a criação das faculdades de educação 185
1 – Psicologia da Educação
2 – Sociologia da Educação
3 – História da Educação
4 – Filosofia da Educação
5 – Administração Escolar
6 – Estatística Educacional
7 – Métodos e Técnicas da Pesquisa Pedagógica
8 – Educação Comparada
9 – Higiene Escolar
10 – Currículo e Programa
11 – Técnicas Audiovisuais da Educação
12 – Técnicas à Orientação Educacional
13 – Instrução Programada
14 – Teoria e Prática da Escola Primária
15 – Teoria e Prática da Escola Média
16 – Planejamento Educacional
17 – Economia da Educação
18 – Política Educacional
19 – Legislação Escolar
20 – Didática Geral
21 – Didáticas Especiais ou Métodos de Ensino33.
Referências bibliográficas
O presente artigo trata da Escola Normal de Cuiabá, criada e organizada por um professor
paulista, Leowigildo Martins de Mello, que se formou na Escola Normal Caetano de
Campos e se deslocou para Mato Grosso atendendo à solicitação do governo, com a fina-
lidade de reorganizar a instrução pública do estado. Através da análise da estrutura
organizacional e curricular dessa instituição, buscou-se estabelecer confronto entre o
modelo escolar paulista, representado por Mello, e a forma pela qual tal modelo foi
incorporado, tendo em vista a realidade educacional, social e econômica do estado do
Mato Grosso.
HISTORIOGRAFIA; EDUCAÇÃO; FORMAÇÃO DE PROFESSORES; MATO GROSSO;
ESCOLA NORMAL.
This study analyses the Normal School in Cuiabá, created and organized by a teacher from
São Paulo, Leowigildo Martins de Mello, who was graduated by the Normal School
“Caetano de Campos” and that moved to Mato Grosso at the request of the local
Government, with the objective of structuring the public instruction in the State. Based on
the analysis of the organizational and curricular structure of that institution, I tried to
establish a comparison between the São Paulo scholar model, represented by Mello, and
the form in which such model was incorporated taking into account the educational, social
and economic reality of the State of Mato Grosso.
HISTORIOGRAPHY; EDUCATION; TEACHERS FORMATION; MATO GROSSO;
NORMAL SCHOOL.
I. Organização administrativa
1.Instalação física e recursos materiais
[...] sem casas adaptadas, sem mobília, sem materiais para aprender e ensinar
a ler, escrever e contar, a escola é, sempre, uma irrisão [...] Mas, se é certo
que o professorado, entre nós, não corresponde à missão que lhe é confiada,
como convém, também não é menos exato que, nas condições em que a pro-
víncia o tem conservado e conserva, seria um milagre se correspondesse [Leite,
1970, p. 47].
4 Esteve ele à frente da Escola Normal desde sua implantação, sendo demitido em
1916. Após sua demissão exerceu a função de advogado provisionado, vindo a
falecer aos trinta e três anos de idade.
5 Cf. Amâncio, 2000, p. 89.
196 revista brasileira de história da educação n° 7 jan./jun. 2004
[...] que aos concursos presidam toda justiça, completo critério e perfeita
ponderação sobre a idoneidade e capacidade educativa dos concorrentes, pois
que é bem mais preferível um péssimo interino, remissível por um simples
ato do Governo, do que um mau lente vitalício [Mato Grosso, Relatórios...,
1915].
Quadro I
ALUNOS MATRICULADOS NA
ESCOLA NORMAL DE CUIABÁ (1911-1916)
Quadro II
PROFESSORES FORMADOS NO PERÍODO 1913-1916
Seu programa de ensino, cuja orientação é, como bem disse Pestalozzi [...]
ensinar a fazer, fazendo, e não, ensinar a fazer, dizendo como se faz. [...] É lei
fundamental de pedagogia, que, em aquisição de conhecimentos, os fenôme-
nos devem sempre partir do consciente para o inconsciente, mediando, entre
essas duas frases extremas da evolução físico-psíquica, o termo médio-cons-
ciente – inconsciente, ou, por outras palavras, a ação educadora deve partir
do concreto para atingir ao abstrato, mediante a transição natural pelo con-
creto-abstrato [Mato Grosso, Relatório...,1912].
[...] por mais boa vontade que tenha o educador para cumprir seus deveres, a
sua ação é constantemente cercada por falta de meios. Pela mesma razão por
que o mais hábil operário, falta de seus instrumentos, só consegue obras
toscas e imperfeitas, o educador, sem o aparelho escolar completo e perfeito,
só pode conseguir educação imperfeita, anormal, atrofiadora das faculdades
infantis [idem].
Quadro III
PROGRAMA DA ESCOLA NORMAL DE CUIABÁ
Quadro IV
HORÁRIO DA ESCOLA NORMAL DE CUIABÁ – 1911
Quadro V
HORÁRIO DA ESCOLA NORMAL – 1915
Conclusão
Referências Bibliográficas
CORRÊA FILHO, Virgilio (1994). História de Mato Grosso. Várzea Grande: Editora
da Fundação Júlio Campos.
LEITE, Gervásio (1970). Um século de Instrução Pública (história do Ensino
Primário Público em Mato Grosso). Goiás: Rio Bonito.
RODRIGUES, Maria Benicio (1988). Educação escolar como instrumento de me-
diação da relação estado/povo: a Reforma Mato-Grossense em 1910. Disser-
tação (Mestrado em Filosofia da Educação) – Pontifícia Universidade Católica,
São Paulo.
SOUZA, Rosa Fátima (1998). Templos de civilização. São Paulo: UNESP.
VIDAL, Diana G. & SOUZA, Maria Cecilia C. C. (orgs.) (1999). A memória e a
sombra – a escola brasileira entre o Império e a República. Belo Horizonte:
Autêntica.
Documentação
Depoimento oral
bados àqueles que mantinham posições que antes tinham sido suas.
Igualmente, pediu nova guerra contra a França após a Paz de Amiens.
Mas, quando ela chegou, deixou a luta para os outros: “voltou a seus
velhos manuscritos e ao cenário pacífico do distrito dos lagos. Tinha
defendido seus princípios” (p. 206). O nacionalismo de Coleridge
teve alcance mais duradouro que a guerra contra a França. A denúncia
sistemática da selvageria das conquistas de Napoleão como exor-
cismo da sua juventude revolucionária reverteu sobre um sentimen-
to nacional e um patriotismo inteiramente morais e santificados sempre
que se tratasse dos ingleses. Thompson destaca a conseqüência
que isso teve para a alienação entre as culturas inglesa e irlandesa:
uma contribuição ativa. A sensibilidade de Thompson ainda foi ca-
paz de notar a ausência, nos ensaios políticos produzidos por
Coleridge entre 1798 e 1818, de registros generosos para com os
amigos de sua juventude jacobina.
A crise de Wordsworth teve outra intensidade. Para Thompson,
o “odioso democrata” que foi Wordsworth existiu até depois da Paz
de Amiens. Isto é, nos anos iniciais do século XIX fica para trás a
crença numa fraternidade universal. Seguem-se os anos de desenga-
no. Foi o tempo em que o poeta enfrentou a si mesmo, uma profun-
da reflexão sobre suas antigas alianças ou aliados. Ao contrário do
que ocorreu com Coleridge, não houve deslealdade, apenas uma
contração do coração. Thompson foi capaz de buscar uma interpre-
tação histórica para esse momento na literatura que Wordsworth pro-
duziu entre 1797 e 1814. E, então, percebe que entre o Prelude,
finalizado em 1805, e Excursion, publicado em 1814 existe uma
diferença de método que é fundamental para o entendimento do fra-
casso moral e imaginativo de Wordsworth. Os dez anos de trabalho
sobre o Prelude parecem a Thompson um momento de recuperação
e superação em arte da experiência jacobina de Wordsworth. O
Prelude aparece-lhe, assim, como uma transmutação das reivindica-
ções políticas de igualdade em vida interior, como uma confronta-
ção com o quadro triste do fracasso das expectativas utópicas do
poeta. Tratava-se de uma auto-revelação que não expulsava da sen-
sibilidade o jacobinismo e a perda do ideal do passado. Excursion,
ao contrário, lhe parece uma autonegação do poeta. Nove anos de-
pois de finalizado o Prelude, identifica um declínio das energias e
da autenticidade poética de Wordsworth, que resulta não apenas na
220 revista brasileira de história da educação n° 7 jan./jun. 2004
EDITORIAL 7
ARTICLES
The Universitarian Reform and the creation of the Faculties of Education 161
Macioniro Celeste Filho
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