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JOHN MN@y.N RTHUR UMA CHAMADA PARA A BATALHA Neste exato momento, a verdade esta sob ataque; e muita coisa, em jogo. Nos Estados Unidos, talvez, ninguém tenha uma paixdo tao profunda por desmascarar aqueles que estado realizando esse ataque do que John MacArthur — principalmente aqueles que o fazem dentro da prépria igreja. NAO EXISTE UMA ZONA NEUTRA — NENHUM TERRENO SEGURO PARA OS QUE NAO ASSUMIRAM UM COMPROMISSO NESSA GUERRA. A BATALHA PELA VERDADE ESTA SE INTENSIFICANDO, ESTE LIVRO REVELA: +_ As armadilhas do pensamento pés-moderno + Por que o Movimento da Igreja Emergente é inerentemente defeituoso PO eo tone Op ees ee orc hac Raccoon ae ecg r! + Aimportancia da verdade e da certeza em uma sociedade pés-moderna + Como identificar e lidar com os erros e os falsos ensinos introduzidos eer otc tenet a ttt BONS Cates Romne hmmm Cr annem cle Retr ren Tale 0 ponto de fadiga letal no que diz respeito a encarar a verdade — uma época que ja nao acredita que a verdade possa ser conhecida. O Dr, John MacArthur nao concorda em OR Re Ee Tetirle Renu Meele ryan e tc Mes ie at Mar Me aaa eats oe Voce) Coden Lalaccy (seme Tsar Cc slcoM MaernLaTCS Con MECC oC MCMC cee RMI eri ec sua preocupacao com a igreja fica evidente em cada pagina. A igreja evangélica precisa Peconic Cen ketene ee hacomel tester e eB crea cM Pagan laa Saree RTE tod ae ST ae LI Cee ta) EDITORA FIEL EDITORA FIEL Caixa Postal. 1601 CEP 12230971 S30 José dos Campos-SP PABX.: (12) 3936-2529 www.editorafiel.com.br AGuerra pela Verdade: Lutando por certeza numa época de Engano Traduzido do original cm inglés: The Truth War: Fighting for certainty in age of deception Copyright © 2007 John F MacArthur, Jr. Publicado originalmente em inglés por Thomas Nelson, 2007. Publicado em portugués com permissio de Thomas Nelson. 1° edigao em portugués © 2008 Editora Fiel 14 Reimpressio ~ REVISADA: 2010 Todos os direttos em lingua portuguesa reservados por Editara Fiel da Missio Bvangélica Literdria PROIBIDA A REPRODUGAO DESTE LIVRO POR QUAISQUER MBIOS, SEM A PERMISSAO ESCRITA DOS EDITORES, SALVO EM BREVES CITAGOES, COM INDICAGAO DA FONTS. Presideiste. Rick Denham Editor: Tiago J, Santos Filho. Tradugao: Gordon Chown Revisdo: Waléria Coicev, Marilene Paschoal Capa: The Designworks Group Diagramacao e Arte Final: Edvanio Silva ISBN: 978-8599145-37-1 No decurso dos anos, tenho comprovade que minha parceria com Phil Johnson foi determinada por Deus. A con- tribuigdo de seus conhecimentos teolégicos, de sua clareza de pensamento e de sua forte convicc4o tem sido essencial para o sucesso de nossa cooperacdo em empreendimentos como este. Devo a Phil a mais profunda gratidao pelos seus consideravcis esforcos editoriais neste livro. JOHN MacARTHUR A Igreja de Cristo é continuamente representada na figura de um exército, Entretanto, o seu Capitao é o Principe da Paz; o seu objetivo é estabelecer a paz, e os seus soldados so homens de disposicdo pacifica. O espirito de guerra é 0 extremo oposto do espirito do evangelho. Apesar dissy, a lyreja, uesla Lerra, tem sido e sera, até a segunda vinda do Senhor, a igreja militante, a igreja armada, a igreja que guerreia, a igreja que conquista. E por qué? De acordo com a prépria natureza das coisas, é necessa- rio que a igreja seja assim. A verdade nao poderia ser verdade neste mundo, se nao estivesse em luta; e suspeitariamos da verdade, se o erro fosse seu amigo. A pureza imaculada da ver- dade sernpre deve estar em guerra contra as trevas da heresia e da mentira. C.H. SPURGEON’ 1. SPURGEON, Charles. The Metropolitan Tabernacle Pulpit. London, 1879. v. 5. p. 41. INDICE Introdugdo: Por que vale a pena lutar pela verdade? .......oeniie 9 1 A verdade pode sobreviver numa sociedade pés-moderna? verssesscsrsnrerecennmeens sess 29 Guerra espiritual: Dever, perigo e triunfo garantidos «cesses 57 Compelidos ao conflito: Por que devemos lutar pela fé? 83 Apostasia dissimulada: Como os falsos mestres se introduzem furtivamente na igreja? eee LLL Asutileza da heresia: Por que devemos permanccer vigilantes? .......-sssssessesssssen 131 A malignidade da falsa doutrina: Como o erro transforma a graca em licenciosidade?........... 155 O ataque 4 autoridade divina..... Anegacdo do senhorio de Cristo 183 Como sobreviver numa época de apostasia: Aprendendo das ligdes da Hist6ria......-sccccceccseenniees 207 Apéndice: Por que o discernimento est fora de moda?............... 229 INTRODUCAO POR QUE VALE A PENA LUTAR PELA VERDADE? uem imaginaria que pessoas que alegam ser crentes — inclusi- ve pastores — atacariam a propria no¢4o da verdade? Mas eles 0 fazem. Um exemplar recente da revista Christianity Today destacou um artigo de capa a respeito da Igreja Emergente. Esse é 0 nome popular de uma associac4o informal de comunidades cristas, de alcance mundial, que deseja restaurar a igreja, alterar 0 modo como os cristaos interagem com sua cultura e remodelar a maneira de pen- saymos a respeito da propria verdade. O artigo incluia um resumo biografico de Rob e Kristen Bell, o casal que trabalhou em equipe para fundar a igreja Mars Hill, uma comunidade emergente muito grande, em Grand Rapids, Michigan, que possui um crescimento sélido. Segundo o artigo, o casal Bell sentia-se cada vez menos satisfeito com a igreja. “A vida na igreja se tornara téo insignificante”, afirma Kristen. “Para mim, aigreja foi produtiva durante muito tempo. Depois, parou de ser funcional.” O casal Beil passou a questionar suas suposigées a respeito da prépria Biblia — “descobrindo-a como um produto humano”, conforme Rob se expressa, e néo a produto de um decreto divino. “A Biblia continua sendo central para nés”, diz ta A Grerev pris Verbane Rob, “mas ela é um tipo diferente de centro. Queremos abracar um mistério, em vez de domind-lo”. “Cresci achando que jd tinhamos decifrado a Biblia”, comenta Kristen, “e sabiamos o que ela significava. Agora, ndo tenho a menor idéia de qual seja o significado da maiar parte dela. Entretanto, sinte novamente que minha vida é grandiosa & como se, no passado, a vida ey estivesse em pretoe branco, mas agora estd em cores”. Um tema dominante permeia A IDEIA DE QUE A todo o artigo: no movimento da Igreja MENSAGEM CRISTA Emergente, a verdade (scja qual for o DEVE SER MANTIDA grau de reconhecimento desse conceito) ADAPTAVEL E é admitida como algo inerentemente AMBIGUA PARECE obscuro, indistinto, incerto e, em ulti- ESPECIALMENTE ma anilise, talvez até incognoscivel. ATRAENTE AOS Cada um dos lideres da Igreja JOVENS QUE VIVEM Emergente, cujos perfis biogrdficos EM HARMONIA COM A CULTURA E AMAM O ESPIRITO DESTA RPACA. foram apresentados no artigo, expres- sou um alto nivel de desconforto ao lidar com qualquer indicio de certeza a respeito do que a Biblia significa, mesmo numa questo tao fundamental como o evangelho. Brian McLaren, por exemplo, um autor popular e ex-pastor, 6 0 personagem mais conhecido do movimento da Igreja Emergente e uma de suas vozes mais influentes. McLaren é citado acerta altura do artigo da revista Christianity Today, dizendo: “Acho que ainda nao conseguimos entender corretamente o evangetho... Acho que os liberais também n4o o conseguiram. Mas acho que nés também no 0 entendemos do modo certo, Nenhum de nés chegou a ortodoxia”? 1, CROUCH, Andy. “The emergent mystique” in Christianity Today. Carol Stream: Christi- anity Today International, 2004. p. 37-38 (@nfase acrescentada). 2. Ibid. INTRODLCAO i Em outra parte do artigo, McLaren vincula a nugdv couvencio- nal de ortodoxia a afirmacao: “Capturamos e empalhamos a verdade, e a penduramos na parede”.’ Da mesma forma, ele faz uma caricatu- ra da teologia sistematica como uma tentativa inconsciente de “ter a ortodoxia em uma forma fixa, congelada e inalteravel para sempre”.* Hoje em dia, esse tipo de coisa goza de muita popularidade. McLaren foi o autor ou co-autor de cerca de uma duzia de livros, e seu total desprezo pela certeza é um tema ao qual ele volta repetidas vezes. Em 2003, a editora Zondervan e a orpanizacdo “Youth Specialties” (Caracteristicas da Juventude) trabalharam em conjunto para criar uma linha de produtes chamada Emergent/YS. Eles publicam livros, DVDs e produtos de audio num ritmo intenso e abundante, com titulos que variam desde: Repintando a Igreja: uma visio contempordnea, escrito por Rob Bell, até Adventures in Missing the Point (Aventuras num Ponto Perdido), um titulo bem apropriado, escrito com a colaborac4o de Brian McLaren e Tony Campolo. A idéia de que a mensagem crista deve ser mantida adaptavel e ambigua parece especialmente atraente aos jovens que vivem em harmonia com a cultura c amam o espirito desta época, c nado podem suportar que a verdade biblica autoritaria seja aplicada com precisao, como um corretivo para estilos de vida mundanos, mentes profanas e comportamentos fmpios. E o veneno dessa perspectiva vem sendo injetado, cada vez mais, na igreja evangélica. Mas isso nao € cristianismo auténtico. Nao saber o que se cré (principalmente numa questo tao essencial ao cristianismo como o evangelho) é, por definicéo, um tipo de incredulidade. Recusar reconhecer e defender a verdade revelada da parte de Deus é um tipe especifico de incredulidade obstinada e perniciosa. Defender a ambiguidade, exaltar a incerteza ou, de qualquer forma, obscurecer a verdade é um modo pecaminoso de nutrir a incredulidade. 3, MCLAREN, Brian. A Generous Orthodoxy. Grand Rapids: Zondervan, 2004. p. 293. 4. Ibid. p. 286. te AN Gerke A reey Vewoite Todo cristéo verdadeiro deve conhecer e amar a verdade. As Escrituras afirmam que uma caracteristica dos “que perecem” (aque- les que est4o condenados a perdicao por causa de sua incredulidade) é que nao acolhem “o amor da verdade para serem salvos” (2 Ts 2.10). A conclusao dbvia desse texto é que o amor genuino pela verdade esta embutido na fé salvifica. Esse amor a verdade é, portanto, uma das qualidades distintivas de todo crente verdadciro. Nas palavras de Jesus, eles conheceram a verdade, e a verdade os libertou (Jo 8.32). Numa época em que a propria idéia de verdade esta sendo des- prezada c atacada, até na prépria igrcja, onde as pessoas devcriam tra tar a verdade com a maxima reveréncia, o sdbio conselho de Salomao nunca foi tao oportuno: “Compraaverdade en4oavendas’” (Pv 23.23). O VALOR ETERNO DA VERDADE Em todo o mundo, nada é mais importante ou mais valioso do que a verdade. E a igreja deve ser “coluna e baluarte da verdade” (1 Tm 3.15). A Historia esta repleta de relatos de pessoas que preferiram a tortura ou a morte a negarem a verdade. Em geracdes anteriores, 0 fato de alguém dar a vida por aquilo em que cria era considerado um ato herdico. Isso jA nado é mais assim. Parte desse problema deve-se ao fato dos terroristas e homens- bomba suicidas terem tornado posse da idéia de “martirio” ea distor- cido. Eles se chamam de “martires,’ mas sio assassinos suicidas, que Matam as pessoas porque elas ndo créem. Sua agress4o violenta 6, na realidade, 0 oposto do martirio; e as ideologias implacaveis que os impulsionam sie a antitese da verdade. Nada ha de herdico no que fazem, nem ha qualquer nobreza naquilo que defendem. Contudo, eles sdo simbolos relevantes de uma tendéncia profundamente per- turbadora que contamina a geracdo atual, em todo o mundo. Hoje em dia, parece que no falta pessvas dispystas a matar em prul de uma mentira. No entanto, poucas pessoas parecem estar dispostas a INTRODLCAQ 14 falar em prol da verdade - e muitu menos a morrerem por ela. Considere os testemunhos dos martires cristaos no decurso da Histéria. Eles eram valentes defensores da verdade. Naa eram terrorislas, nem vivlentus, é logico, Mas “lulavam” pela verdade; proclamando-a em meio a oposicao ferrenha; vivendo de um modo que testemunhava o poder e a graca da verdade; recusando-se a renuncia-la ou abandona-la, ndo importando as ameagas que fossem feitas contra eles. Esse padrao comeca na primeira geracdo da histéria da igreja, com os préprios apéstolos. Todos eles, com a possivel excecao de Jodo, morreram como martires. O préprio Jodo pagou caro por manter-se firme na verdade, pois foi torturada e exilada por causa de sua fé. A verdade era algo que eles amavam, em favor do que lutavam e pelo que, finalmente, morreram. passaram esse mesmo legado a geracao posterior. Inacio e Policarpo, por exemplo, eram guerreiros da verdade cristé na antigiiidade. Ambos eram amigos pessoais e discipulos do apdstolo Jodo; portanto, viveram e ministraram quando o cris- tianismo ainda era muito recente. A Histéria registra que ambos entregaram sua vida voluntariamente, em vez de negarem a Cristo e desviarem-se da verdade. Inacio foi interrogado pessoalmente pelo imperador Trajano, que exigiu que ele fizesse um sacrificio publico aos idolos, como prova de sua lealdade 4 Roma. Inacio poderia ter poupado sua prépria vida ao ceder diante daquela pressdo. Alguns poderiam tentar justificar esse ato exterior, realizado sob pressao, contanto que Inacio nao negasse a Cristo em seu coracao. Mas, para Indcio, a verdade era mais importante do que sua propria vida. Recusou-se a sacrificar aos idolos, ¢ Trajano ordenou que cle fosse langado as feras, no estadio, para a diversao das multidoes pagas. Policarpo, amigo de Inacio, procurado pelas autoridades (por- que também cra conhccido como lider entre os cristdos), entregou- se de espontanea vontade, sabendo muito bem que isso lhe custaria a vida. Levado a um estadio, diante de uma turba sedenta de sangue, 4 NOGrki ka @rea Venice Policarpo recebeu ordens para amaldi- HOJE, BOA PARTE soar a Cristo. Recusou-se a fazé-lo, com DA !GREJA VISIVEL estas palavras: “Durante oitenta e seis PARECE IMAGINAR anos, eu O tenhy servido; Ele nunca me QUE O08 CRISTADS fez injustica alguma. Como, pois, blas- DEVEM ESTAR NUMA DIVERSAO, E NAO ali mesmo, foi imediatamente queimado NUMA GUERRA. A vivo. IDEIA DE LUTAR EM FAVOR DA VERDADE DOUTRINARLA & ALGO BEM DISTANTE DO PENSAMENTO femarei do men Rei que me salvau?” E, No decorrer da histéria da igreja, em cada geracdo, méartires incontaveis preferiram morrer a negar a verdade. Serd que eles nao passavam de tolos que valorizavam demais as suas convicgdes? DA MAIORIA DOS sua total conf, a 5 7 ua total confianga n. EREQUENTADORES dad i a a que cram DAS IGREJA. era, na verdade, um zelo mal orientado’ Morreram de snecessariamente? sm E caro que muitos pensam assim nos dias de hoje — inclusive alguns que professam ter fé em Cristo. Vivendo em uma cultura cm quc a perseguicio violenta é quase des- conhecida, multiddes que se declaram crentes parecem ter esquecido que a fidelidade geralmente tem um prego. Eu disse “geralmente”? De fato, a fidelidade a verdade sempre custa caro, de uma maneira ou de outra (2 Tm 3.12). E é exatamente por essa razao que Jesus insistiu no fato de que todo aquele que deseja ser seu discipulo precisa estar disposto a tomar uma cruz (Lc 9,23-26).§ O préprio movimento evangélico tem de assumir parte da culpa 5. A quarta perseguicao durante o reinado de Marco Aurélio descrita em FOXE, John. “A Perseguicdo aos Primeiros Cristaos” - in Livro dos Martires. Traducio de Almiro Pizet- ta. Séo Paulo: Mundo Cristao, 2003. O famoso martirologio escrito por Foxe é um tes- temunho monumental sobre a honra e a coragem dos reformadores que entregaram sua vida por amor a verdade, As énfases sdo vigorosas e necessarias em nossos dias de comodismo destituido de conviccdes. 6. Veja também MACARTHUR, John. Hard to Believe. Nashville: Nelson, 2003. INTRODUCAO 15 pela desvalorizacdo da verdade, ao satisfazer aqueles que sentem coceira nos ouvidos (2 Tm 4.1-4). Alpuém realmente acredita que os freqientadores que enchem as mega-igrejas de hoje, famintos por diversées, estariain dispustus a dar sua vida em favor da verdade? De fato, muitos deles sequer estao dispostos a assumir uma posi¢do firme em relacdo 4 verdade, mesmo em meio a outros crentes, num ambieule uo qual nao existe qualquer ameaga grave contra eles e onde, na pior da hipéteses, o que poderia acontecer seria alguém ficar cam os sentimentos feridos Hoje, boa parte da igreja visivel parece imaginar que os cristaos devem estar numa diversdo e nao numa guerra. A idéia de lutar em favor da verdade doutrindria é algo hem distante da pensamento da maioria dos freqientadores de igreja. Os cristaos contemporaneos esto determinados a fazer com que o mundo goste deles — e, é claro, nesse pracesso, querem tamhém se divertir o quanto puderem. Vivem tao obcecados em fazer com que a igreja pareca “legal” para os incrédulos, que ndo se incomodam com o fato da doutrina dos outros ser sadia ou nado. Num ambiente como esse, a simples idéia de identificar o ensino de alguém como falso é uma sugestao desagradavel e peri- gosamente anticultural; assim, o que se dird do fato de “contender sinceramente” pela fé? Os cristaos “compraram” a noc4o de que quase nada é tdo desagradavel aos olhos do mundo quanto o fato de alguém demonstrar uma preocupacdo sincera em relagdo ao perigo da heresia. Afinal de contas, o mundo nao quer realmente levar a verdade espiritual a sério; sendo assim, as pessoas nao podem ima- ginar por que alguém faria isso. No entanto, dentre todas as pessoas, 0s cristéos devem scr 03 mais dispostos a viver e morrer pela verdade. Lembre-se: conhece- mos a verdade, e a verdade nos libertou (Jo 8.32). Nao devemos nos envergonhar de testemunhar com ousadia (S] 107.2). B, se formos chamados para morrer por amor a verdade, precisamos estar dispos- tos e prontos a perder a nossa vida, de livre vontade. Foi exatamente 1p A GUERRA Phia VERDADT sobre esse assunto que Jesus falou ao chamar os seus discipulos para tomarem a sua cruz (Mt 16.24). A covardia ea fé auténtica se opdem. O QUE BA VERDADE? E claro que Deus e a verdade so inseparaveis. Qualquer pensa- suento a respeilu da esséncia da verdade — o que ela 6, 0 que a torna “verdadeira” e como podemos saber algo com certeza — nos remete imediatamente a Deus. Essa é a raz4o por que o Deus encarnado — Jesus Cristo — é chamado de “a verdade” (Ju 14.6). Essa também é a azo por que nao nos surpreendemos quando uma pessoa que rejeita a Deus, rejeita igualmente a verdade divina Se uma pessoa nao tolera o conceito de Deus, também nao havera lugar adequado para a verdade na cosmovisdo dessa pessoa. Sendo assim, o aten, agndstica on iddlatra coerente pade muito bem adiar a simples idéia da verdade. Afinal de contas, rejeitar a Deus é rejeitar o Doador de toda verdade, Aquele que tem a palavra final sobre aquilo que é realmente verdadeiro, hem como a prépria esséncia ea corporificagao da prépria verdade. Contorme observaremos adiante, é exatamente a essa con- clusio que muitas pessoas do ambito académico e filosdfico tém chegado. Ja nao acreditam na verdade como uma realidade segura que pode ser conhecida. Nao se engane: a semente desse tipo de opiniao é a incredulidade. A aversio contempordnea 4 verdade é simplesmente uma expressdo natural da hostilidade contra Deus, por parte da humanidade caida (Rm 8.'/). No entanto, nos dias de hoje, a maioria das pessoas alega crer no Deus da Biblia, mas, apesar disso, afirmam que esto incertos acerca do que venha a ser a verdade. Uma apatia sufocante a respeito do conceito de verdade domina boa parte da sociedade contemporanea - incluindo um segmento cada vez maior do movimento evangélico. Muitos dos que se autodenominam evangélicos questionam INTRODUCAQ ~ abertamente se existe, de fato, algo chamado verdade.’ Outros supdem que, mesmo que a verdade realmente exista, ndo podemos ter certeza a respeito do que ela 6; portanto, ela nao deve ser muito importante. Os problemas da incerteza e da apatia em relacdo a verdade, dois problemas gémeos, sao epidémicos, mesmo entre alguns dos Os LIDERES DA IGREJA autores e porta-vozes mais populares ESTAO OBCECADOS do movimento evangélico. Alguns se COMO BSTULO & recusam. explicitamente a tomar uma A METODOLOGIA; posisav em favor de qualquer assunto, PERDERAM O porque resolveram que nem mesmo as INTERESSE PELA Escrituras s40 claras 0 suficiente para GLORIA DE DEUS serem disculidas. E TORNARAM-SE Na verdade, tais idéias, em si GROSSEIRAMENTE mesmas, n4o sia novidade, nem parti- APATICOS QUANTO cularmente chocantes ~ a nao ser pelo AVERDADE E ASA fato de que essa maneira de pensar DOU'TRINA, PELO tenha atingido grande popularidade MENOS NO MOMENTO, A BATALHA PARECE ESTAR VIRANDO EM FAVOR DO INIMIGO. em nossos dias e pelo modo como essas idéias estéo se infiltrando na igreja. Rm resumo, essa ¢ exatamente a mesma atitude adotada por Pilatos, ao desconsiderar a Cristo: “Que é a verdade?” (Jo 18.38). Certas evangélicos “vanguardistas” agem, As veres, como se 0 falecimento da certeza fosse um novo desenvolvimento intelectual sensacional, em vez de o perceberem como ele realmente é: wm eco da velha incredulidade. Trata-se da descrenca disfargada com uma capa 7. Nados extraidos de uma pesquisa realizada depois dos ataques terroristas, publicada em navembro de 2001, pela Grupn Barna, indicaram que dnis tercas das adnitas que frequentam igrejas protestantes conservadoras questionam se existe a verdade moral absoluta. “How America’s Faith Has Change Since 9/11” (Como a Fé nos Estados Uni- dos Modificou-se desde 11 de setembro). Disponivel em: http://barna.org/FlexPage. aspx?Page-BarnaUpdate&BarnaUpdatelD-102. 1s A GVerrRA PELA VERDATE de religiosidade, buscando legitimidade, como se fosse meramente um tipo mais humilde de fé. Mas isso nao é fé de modo algum. Na realidad, a recusa contempordnea em considerar qualquer verdade como certa e segura é 0 pior tipo de infidelidade. O dever da igreja sempre tem sido o de confrontar semelhante ceticismo e refuta-lo mediante a proclamacio clara da verdade, que Deus revelou em sua Palavra. Ele nos deu uma mensagem clara, com o propésito de con- frontarmos a incredulidade do mundo. Fomos chamados, ardenados e comissionados a fazer isso (1 Co 1.17-31). A fidelidade a Cristo o exige. A honra de Deus assim o requer. Nao podemos ficar sentados, sem fazer nada, enquanto atitudes mundanas, revisionistas e céticas a respeito da verdade se infiltram na igreja. Nao devemos aceitar tal confusao em nome do amor, do coleguismo ou da uniao. Precisamos nos manter firmes e lutar pela verdade — estar dispostos a morrer por ela — como os crist4os fiéis sempre tém feito. Segundo as Escrituras, 0 antigo conflito pela verdade é uma guerra espiritual — uma batalha césmica entre Deus e os poderes das trevas (Ef 6.12), Uma das taticas prediletas dos nossos inimigos é disfarcarem-se como anjos de luz e infiltrarem-se na comunidade dos crentes (2 Co 11.13-15). Isso nao é novidade, mas estou conven- cido de que se tornou um problema muito grave na gerac4o atnal. Infelizmente, poucos crist&us parecem dispuslos a levar essa ameaca a sério. A igreja tornou-se indolente, mundana e acomodada. Os lideres da igreja estao obcecados com 0 estilo e a metadalagia; per- deram o interesse pela gloria de Deus e lornaram-se grosseiramente apaticos quanto & verdade e sd doutrina, Pelo menos, no momento, a batalha parece estar virando em favar do inimigo. Quando Deus prumulyou o Segundo Mandamento, que proi- biu a idolatria, Ele acrescentou a seguinte adverténcia: “Eu sou o SENHOR, teu Deus, Deus zeloso, que visito a iniqiidade dos pais nos filhos até & terceira e quarta geracdo daqueles que me aborrecem” (fx 20,5). Outras passagens das Escrituras deixam claro que os filhos nunca sao castigados diretamente pela culpa dos pecados de INTRODUCAQ 19 seus pais (Dt 24,16; Bz 18.19-32). Todavia, as conseqliéncias natu- rais daqueles pecados passam realmente de geracdo a geracao. Os filhos aprendem com os exemplos dos pais e imitam o que véem. Os ensinos de determinada geracao estabelecem um legado espiritual herdado pelas geracées seguintes. Se os “pais” de hoje abandonarem a verdade, a restauracio demandara varias geracées. Os lideres da igreja sv vs principais responsaveis por esta- belecerem o exemplo. Hoje, nossa necessidade desesperadora é de “pastores segundo o meu [de Deus] coragao, que... apascentem [os crenles} com couhecimento e com inteligéncia” Jr 3.15; At 20.28- 31). Também é o dever solene de todo crente, resistir a todos os ataques contra a verdade; abominar até mesmo a idéia de falsidade e nao comprometer-se de modo algum cout o iniinigo, que é, acima de tudo, um mentiroso e o pai da mentira (Jo 8.44). A guerra pela verdade é, afinal de contas, uma guerra. Uma guerra € sempre séria, mas essa é a batalha de todas as eras, eu prul do mais elevado dos prémios; portanto, requer de nés a maxima diligéncia. POR QUE A VERDADE ESTA INENTRICAVEL VINCULADA A Des? Comecaremos o Capitulo 1 com uma definicéo da verdade em termos biblicos. Em tiltima andlise, notaremos, tamhém, que toda tentativa de definir a verdade em termos ndo biblicos tem falhado. isso acontece porque Deus é a origem de tudo o que existe (Rm 11.36). Somente Ele define e delimita aquilo que é verdadeiro. Também é Ele quem revela toda a verdade. Todas as verdades reve- ladas na natureza sao de sua autoria ($1 19.1-6); e algumas dessas verdades s4o a auto-revelacio do proprio Deus (Rm 1.20). Ele nos deu mente e consciéncia para percebermos a verdade e entendermos © certo e o errado. Criou-nos com um entendimento fundamental de sua lei, escrita em nosso coracao (Rm 2,14-15), E, acima de tudo, MM A GuIiRKA PRLA VERDADE deu-nos a verdade perfeita e infalivel das Escrituras (S] 19.7-11), a qual é uma revelacdo suficiente para tudo o que diz respeito a vidaea picdade (2 Tm 3.15-17; 2 Pe 1.3), a fim de conduzir-nos a Ele mesmo como nosso Salvador e Senhor. Finalmente, Deus enviou a Cristo, a incorporac4o da prépria verdade, como o climax da revelacdo divina (Hb 1.1-3). Ba principal razdo para tudo isso era revelar-se a todas as suas criaturas (Ez 38.23). Toda a verdade, portanto, comeca com a verdade concernente a Deus: quem Ele 6; o que a sua mente sabe; 0 que a sua santidade envolve; o que a sua vontade aprova, e assim por diante. Em outras palavras, toda a verdade é determinada e devidamente explicada pelo Ser de Deus. Por conseguinte, toda nogao de sua inexisténcia é, pela propria defini¢do, inverdade. # precisamente isso que a Biblia ensina: “Diz o insensato no seu coracdo: Nao ha Deus” ($114.1; 53.1). As ramificagées de toda a verdade que comeca em Deus sao profundas. Voltando a uma consideracao anterior: essa € a razdo por que, uma vez que alguém negue a Deus, a coeréncia obriga-o, enfim, a negar toda a verdade. Negar a existéncia de Deus remove, num s6 instante, toda justificativa para qualquer Lipo de conhecimento. Conforme dizem as Escrituras: “O temor do SENHOR é 0 principio do saber” (Pv 1.7). Logo, 0 ponto de partida necessdrio para obtermos um enten- dimento auténtico do conceito fundamental da propria verdade é reconhecermos 0 unico Deus verdadeiro. De acarda com Agostinho, cremos a fim de entender; e a nossa fé, por sua vez, é alimentada e fortalecida A medida que obtemos um entendimento melhor. A fé em Deus, de conformidade com a maneira como Fle se revelou, ev entendimento produzido pela fé sao essenciais, se esperamos apreender a verdade com algum sentido sério e relevante. As Escrituras descrevem todos os cristios auténticos como aqueles que conhecem a verdade e que foram libertos por ela (Jo 8.32). Créem na verdade com todo o coragao (2 Ts 2.13). Obedecem A verdade mediante o Fsptrita de Deus (1 Pe 1.22), E recebem um INTRODUCAQ al amor fervoroso por mcio da verdade, mediante a obra graciosa de Deus em seus coracdes (2 Ts 2.10). Portanto, se nao ha sentido naquilo que vocé conhece, cré, ama e a que se submete, é porque, segundo a Biblia, vocé realmente nao assimilou a verdade. Ficlaro quea existéncia da verdade absoluta e seu relacionamento insepa- yavel com a pessoa de Deus constituem UMA PERSPECTIVA BIBLICA DA VERDADE © principio mais essencial de todo o TAMBEM ENVOLVE, cristianismo verdadeiramente biblico. NECESSARIAMENTE, Falo com franqueza; se vocé é uma O RECONHECIMENTO pessoa que questiona se a verdade é DE QUE A VERDADE realmente importante, peco-lhe que ABSOLUTA £ UMA nao chame o seu sistema de crengas de REALIDADE OBJETIVA. “cristianismo”, porque ele nao 0 é. A VERDADE EXISTE Uma perspectiva biblica da verda- FORA DE NOS de também envolve, necessariamente, E PERMANECE o reconhecimento de que a verdade INALTERAVEL, absoluta 6 uma realidade objetiva. A INDEPENDENTEMENTE verdade existe fora de nés e permanece DE COMO A inalter4vel, independentemente de PERCEBEMOS. A como a percebemos. A verdade, por VERDADE, POR SUA sua propria natureza, é tao fina e cons- PROPRIA NATUREZA, RAO FIXA E tante quanto Deus é imutavel. Porque a verdade pura (que Francis Schaeffer chamava de “verdade verdadeira”) é a expressdo inalterada e imutdvel de quem Deus é; e nao a nossa prépria interpretacdo pessoal e arbitra- tia da realidade. O fato de que os crentes de nossa geracau precisem ser lem- brados dessas coisas é estarrecedor. A verdade nunca é determinada quando examinamos a Palavra de Deus e perguntamas: “O que isto CONSTANTE QUANTO DEUS £ IMUTAVEL. significa para mim?” Sempre que ougo alguém falar desse modo, sinto vontade de perguntar: “O que a Biblia significava antes de vocé A Girxka pria Vikovpe existir? O que Deus quer dizer por meio daquilo que Ele diz?” é a pergunta certa a ser feita. A verdade e o seu significado nao sao de- terminados por nossa intui¢ao, experiéncia ou desejo. O verdadeiro significado das Escrituras ou de qualquer outra coisa - j4 foi deter- minado e estabelecido pela mente de Deus. A tarefa do intérprete é discernir esse significado. E a interpretacao apropriada precisa anteceder a aplicacdo. O significado da Palavra de Deus nao é tao obscuro, nem tao dificil de se entender como as pessoas geralmente fingem que é. Admitimos que algumas coisas na Biblia sao dificcis de entender (2 Pe 3.16), mas sua verdade central e essencial é suficientemente clara para que ninguém fique confuso a respeito dela. “Quem quer que por ele caminhe ndo errard, nem mesmo 0 louco” (Is 35.8). Além disso, nossa percep¢4o individual da verdade certamente pode e deve mudar. Todos nés comecamos sendo nutridos com o leite da Palavra. A medida que obtemos a capacidade de mastigar c digerir verdades mais dificeis, devemos nos fortalecer pela carne da Palavra (1 Co 3.2; Hb 5.12); ou seja, avancamos de um conhecimento meramente infantil para uma assimilacdo mais madura da verdade, em toda a sua riqueza e relacdo com outras verdades. Entretanto, a propria verdade nado muda devido a uma mu- danga em nosso ponto de vista. Enquanto amadurecemos em nossa capacidade de perceber a verdade, a propria verdade permanece fixa. O nosso dever é conformar todos os nossos pensamentos a verdade (S] 19.14); nao temos o direito de redefinir a “verdade”, para que ela se encaixe em nossos pontos de vista, preferéncias ou desejos. Nao devemos ignorar, nem descartar determinadas verdades simplesmente porque as consideramos dificeis de serem aceitas ou profundas demais para serem sondadas. Acima de tudo, ndo pode- mos ser apaticos ou indolentes no tocante a verdade, quando o prego para entender ou defender a verdade revela-se elevado ou bastante desagradavel. Esse tipo de abordagem egoisia da verdade equivale a usurpar a posicao de Deus (S1 12.4). As pessoas que seguem esse INTRODUCAQ 24 caminho garantem a sua propria destruicdo (Rm 2.8-9). Além disso, Deus, de fato, revelou a Si mesmo e a sua verdade com clareza suficiente. Mesmo 4 parte da revelacao especial e expli- cita da Biblia, Deus tornou bem claros para todas as pessoas alguns dos elementos principais da verdade espiritual. As Escrituras dizem, por exemplo, que as verdades principais a respeito de Deus, de seu poder, da sua gléria c da sua justiga séo conhecidas naturalmente por todos os povos, mediante a Cria¢ao e a consciéncia (Rm 1.19-20; 2.14-16). Essas verdades sio adequadamente claras e suficientes para tornar toda raga humana c todos os homens “indesculpavcis” (Rm 1.20). Todos os que seréo condenados no Juizo Final serio responsabilizados por rejeitarem qualquer verdade que estava a sua disposicéo. O fato de que o Deus justo ¢ santo responsabiliza tanto os incrédulos quanto os cristaos pela obediéncia a sua revelacao é uma prova irrefutavel de que Ele tornou a verdade suficientemente clara para nds. Alegar que a Biblia nao é suficientemente clara é atacar a sabedoria e a integridade do proprio Deus. CoMO A VERDADE A SENDO ALACADA NA IGREJA HO? A clareza e a suficiéncia das Escrituras, o estado de perdicao da humanidade nao-redimida e a justica de Deus em condenar os pecadores sao conviccdes antigas em todas as principais tradicdes do cristianismo histérico. Os cristaos tém diferido entre si no tocante as quest6es secundarias ou aspectos periféricos da doutrina. Mas, histévica e coletivamente, os cristios sempre tém mantido plena concordancia de que tudo quanto é verdadeiro — tudo que é objetivo e ontologicamente verdadeiro — continua sendo verdadeiro, quer de- terminada pessoa o compreenda, aprecie, aceite ou receba como verdade, quer ndo. Em outras palavras, visto que a realidade é criada por Deus ea verdade, definida por Ele, aquilu que é realmente verdadeiro, é verdadeiro para todos, independentemente da perspectiva pessoal a4 A GUPRRA PELA Virb Ane ou das preferéncias individuais. Hoje em dia, porém, as pessoas estao fazendo experiéncias com idéias subjetivas e relativistas a respeito da verdade, rotulando-as de “cristas”. Essa tendéncia indica um afastamento radical do cristia nismo biblico e histérico. Levada 4 sua conclusao necessaria, essa tendéncia conduzira inevitavelmente ao abandono ou transigéncia de todo elemento cssencial a fé crista verdadcira. Isso, segundo a minha convic¢ao, é outro grande ataque contra a verdade, feito pelos poderes das trevas, numa batalha que j4 tem durado muitos séculos. O fata de que esse erro estcja sende ensinado, defendido ¢ promovido por pessoas que professam conhecer e amar a Cristo nao altera o fato de que sc trata de um erro. Embora orelativismo seja frequentemente pro- pagado em livros que se encontram nas prateleiras dos best-sellers nas livrarias evangélicas, isso nao altera a gravidade AS PESSCAS ESTAO FAZENDO BXPERIENCIAS COM IDEIAS SUBJETIVAS E RELATIVISTAS A RRSPEITO DA VERDADE, do erro. A remodelagem de nossas ROTULANDO-AS DE idéias acerca da verdade e da certeza “cristas”, ESSA apresenta um perigo grave para o cerne TENDENCIA INDICA do evangelho cristao. UM AFASTAMENTO Como sempre, uma guerra RADICAL DO esté sendo travada contra a verdade. CRISTIANISMO Estamos de um lado ou de outro. Nao BIBLICO E HISTORICO. existe uma zona neutra — nenhum terreno seguro para os que nao assu- miram um compromisso nessa guerra. Recentemente, a questao da propria verdade — o que ela é e se realmente podemos conhecé-la —- passou a ser um dos principais pontos de contenda. Acontece, também, que estamos vivendo numa gerag4o em que supostos cristéos nado sentem o menor interesse por esse conflito e contenda. Multidées de cristéos subnutridos nas Escrituras e na INTRODUCAD : a doutrina chegaram a pensar que a controvérsia é algo que sempre deva ser evitado, custe o que custar. Infelizmente, esse 6 o exemplo que muitos pastores fracos tém lhes dado. Na igreja, nunca devemos apreciar ou nos envolver em contro- vérsia e conflito, sem motivos suficientes. Mas, em cada geracao, a batalha pela verdade tem sido inevitavel, porque os inimigos da verda- de sao implacaveis. A verdade esta sempre sob ataque. E, na realidade, éum pecado ndo lutar quando verdades vitais esto sendo atacadas. Isso é uma realidade, mesmo quando, as vezes, a luta resulta em conflito dentro da comunidade visivel dos cristéos professos. De fato, sempre que os inimigos da verdade evangélica conseguem se infiltrar na igreja, os crentes fidis sio obrigados a batalhar contra eles. Essa €, certamente, a situagau luje, assim como tem sido desde os tempos apostélicos. COMO O8 CRENTES FIEIS DEVEM REAGIR? A medida que o Espirito Santo levava a revelacao do Novo Testamento a sua conclusao, a importancia de lular pela verdade emergia como um dos temas predominantes. Encaixadas no final do Novo Testamento, 4 sombra do Aporalipse (que descreve a batalha final e o triunfo definitive da verdade), encontramos trés epistulas brevissimas, cujo tema comum é a devoc4o a verdade em meio ao conflito. O apdstolo Jodo escreveu duas dessas epistolas. Na segun- da cpistola de Joao, a palavra verdade aparece cinco vezes, somente nos quatro primeiros versiculos. Ela termina com esta mensagem solene (vy, 7-11): Porque muitos enganadares tém saido pelo mundo fora, os quais néo confessam Jesus Cristo vindo em carne; assim é 0 en- ganador eo anticristo. Acautelai-vos, para ndo perderdes uquilu que temos realizado com esforco, mas para receberdes completo galarddo. Todo aquele que ultrapassa a doutrina de Cristo e nela ndo permanece ndo tem Deus; 0 que permanece na doutrina, 2h A Guerre. pres Ver nso esse tem tanto o Pai como o Filho. Se alguém vern Ler cunvosco e ndo traz esta doutrina, ndo o recebais em casa, nem lhe deis as boas-vindas. Porquanto aquele que lhe dé boas-vindas faz-se cimplice das suas obras més. De modo semelhante, a terceira epistola de Joao tem a verdade como tema principal. A palavra verdade aparece seis vezes nos quator- ze versiculos da epistola. O apéstolo Jodo escrevia, para defender a verdade, contra Didtrefes, que amava ter preeminéncia na igreja, mais do que amava a verdade. Em contraste, Joao recomenda Demétrio, dizendo: “Todos lhe dao testemunho, até a propria verdade” (v. 12). Judas escreveu a terceira dessas breves epistolas. Todo o seu propésito ao escrevé-la era lembrar os cristAos de seu dever de lutar pela verdade. Nao era sobre isso que cle pretendia escrever a prin- cipio. Quando comecou a epistola, seu plano era escrever “acerca da nossa comum salvacao”. Mas, pelo Espirito Santo, foi compelido a nos exortar, com todo ardor, a batalharmos, “diligentemente, pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos” (v. 3). Judas falava especificamente a respeito de batalhar contra a influéncia dos falsos mestres que haviam se infiltrado secretamente na comunidade crista. Segundo parece, esses homens estavam trans- formando os pilpitos cristios em plataformas, das quais promul- gavam mentiras que subvertiam o Amago da doutrina crista. “Pois certos individuos se introduziram com dissimulacio, os quais, desde rauito, foram antecipadamente pronunciados para esta condenacao, homens impios, que transformam em libertinagem a graca de nosso Deus e negam o nosso tinico Soberano e Senhor, Jesus Cristo” (v. 4). Essa adverténcia inspirada (Jd 3, 4) motivou-me a escrever este livro. JA escrevi um comentario completo sobre a Epistola de Judas,® portanto, nao hé necessidade de abordar este assunly por 8. MACARTHUR, John. The MacArthur New Testament Commentary: 2 Peter and Jude. Chi- cago: Moody, 2005. INTRODUCAG a completo neste livro, Desejo focalizar bem de perto apenas dois versiculos (vv. 3, 4). Consideraremos a adverténcia de Judas por varios angulos diferentes. Fxaminaremos por que o defender a fé exige, de modo inevitavel, o conflito e nao a puslura ingenuamente cordial que muitos cristaos parecem favorecer hoje em dia. Veremos por que a indiferenca, a timidez, as concessdes e a nio-resisténcia sao excluidas como opc¢ées para os cristaos, quando o evangellio esta sendo atacado. Examinaremos alguns dos principais embates na guerra pela verdade no decurso da histéria da igreja. Acima de tudo, consideraremos por que a adverténcia de Judas é especialmente aplicavel aos dias em que vivemos. Meu coracdo ressoa a preocupacio de Judas pela igreja, seu amor pelo cvangelho e sua paixdo pela verdade. Lu, também, prefe- riria escrever a respeito de coisas positivas — tais como as riquezas da salvacao e todas as alegrias e béncdos que pertencem a todos aqueles que cstdo verdadeiramente em Cristo; sobre o nosso amor pelo Senhor; e, principalmente, sobre sua graca e gléria. De fato, este livro diz respeito a todas essas coisas e de como salvaguardé-las, porque clas sio cxatamente os aspectos da verdade que, em tltima anilise, estao em jogo na guerra pela verdade. Entretanto, em vez de aborda-las de modo completamente “positivo” e ndo-polémico, vejo-me compelido a ecoar as palavras inspiradas de Judas e a exortar os leitores que sinceramente amam a Cristo: vocés precisam batalhar, diligentemente, pela fé. A verdade osta sofrendo ataques intensos, c ha poucos guerreiros corajosos dispos- tos a lutar. Quando estivermos em pé diante do tribunal de Cristo, 0s crentes da presente geracdo nao poderdo justificar a sua apatia, queixando-se de que a uta na conflito pela causa da verdade parecia “sobremodo negativa” para o tipo de cultura na qual viviamos — ou afirmando que as questoes eram “tmeramente doutrinarias” e, por- tanto, nao valiam o esforco. Lembre-se de que, em Apocalipse 2 e 3, Cristo repreendeu as igrejas que toleravam falsos mestres em seu meio (2.14-16, 20-23), 28 A GVERBA PLLA VeERDADE Cristo elogiou especificamente a igreja de Efeso por haver examinado as alegacées de certos falsos apdstolos e té-los desmascarado como mentirosos (2.2). As igrejas tém o nitido dever de guardar a fé e agir contra os falsus mestres que se infillrain aelas. O proprio Cristo exige isso. Ao mesmo tempo, precisamas notar, com cuidado, que uma defesa poléinica da {é nao €, de modo algum, garantia de uma igreja saudavel e, muito menos, de um cristéo saudavel. Cristo também repreendeu os crentes doutrinariamente sadios de Efeso por aban- donarem seu primeiro amor (Ap 2.4). Por mais vital que seja o nosso alistamento na guerra pela verdade e na batalha pela nossa fé, mais importante ainda é lembrarmos por que estamos lutando — nao meramente pela emosdo de vencermos um inimigo ou ganharmos um argumento, mas por causa do amor genuino a Cristo, que éa en- carnacio viva e dinamica de tudo quanto consideramos verdadeiro e digno de lutarmos em seu favor, A VERDADE PODE SOBREVIVER NUMA SOCIEDADE POS-MODERNA? Respondeu Jesus: Tu dizes que sou rei. Bu para isso nasci ¢ para isso vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade ouve a minha voz, Perguntow lhe Pilatos: Que é a verdade? — Jute 18.37-38 — evando em conta a Pessoa que estava diante dele e a gravidade das questées sobre as quais as pessoas rogavam que ele decidisse, aatitude de Pilatos foi admiravelmente desdenhosa. Mas certamen- te suscitou uma consideracao vital: Que é a verdade? De onde, afinal, ver esse conceito e por que ele é tao fundamen- tal para todo o pensamento humano? Toda idéia que temos, todo rela- cionamento que cultivamos, toda crenca que nutrimos, todo fato que conhecemos, todo argumento que levantamos, toda conversa da qual participamos e todo pensamento que desenvolvemos pressupéem que exista tal coisa chamada “verdade”. Essa idéia é um conceito essencial, sem. o qual a mente humana no poderia funcionar. Ainda que vocé seja um daqueles pensadores atuais que ale- ga ceticismo quanto ao fato de que a verdade realmente seja uma categoria util, para expressar tal opiniao, vocé tem de admitir que a verdade ¢ significativa em algum nivel fundamental. Um dos axiomas mais fundamentais, wniversais e inegdveis de todo o pensa- mento humano é a absoluta necessidade da verdade; e, poderiamos acrescentar, a necessidade da verdade absoluta. 30 A Gurney #ria Vewaary UMA DEFINICAO BIBLICA Entdo, o que € a verdade? Segue-se, aqui, uma definicdo singela, extraida daquilo que a Biblia ensina: a verdade é aquilo que é consistente com a mente, a von- tade, 0 carater, a gloria eo ser de Deus. Sendo mais preciso: a verdade é a auto-expresstio de Deus. Esse é 0 significado biblico de verdade; é a definigéo que emprego cm todas as partes deste livro. Posto que a definicdo da verdade flui de Deus, a verdade é teolégica. A verdade é também ontolégica - um modo requintado de expressar que a verdade 6 a mancira como as coisas realmente sao. A realidade é o que é porque Deus de- clarou que ela deveria ser assim e a fez dessa forma. Por isso, Deus é 0 autor, a fonte, o determinador, o governador, o arbitro, o padrdo maximo e o derradei- ro juiz de toda a verdade. A VERDADE E AQUILO QUE E CONSISTENTE COM A MENTE, A VONTADE, O CARATER, AGLORIA EQ SER DE . Deus. SENDO Mais O Antigo Testamento refere-se ao PRECISO: A VIRDADE Todo-Poderoso como o “Deus da verda- & A AUTO-EXPRESSAO de” (Dt 32.4; $131.5; Is 65.16). Quando DE Devs. Jesus disse a respeito de Si mesmo: “Eu sou,.. a verdade” (Jo 14.6, énfase acrescentada), Ele cstava fazendo uma declaragao profunda a respeito de sua propria divindade. Também deixou claro que toda verdade, em ultima andlise, deve ser definida em termos de Deus e de sua gloria eterna. Afinal de contas, Jesus é “o resplendor da gloria [de Deus] e a expressao exata do seu Ser” (Hb 1.3). Ele é a verdade encarnada — a expressao perfeita de Deus e, portanto, a corporificacio absoluta de tudo o que é a verdade. Jesus também disse que a Palavra escrita de Deus é a ver- dade. Ela nao somente contém pepitas da verdade; ela é a verdade pura, imutavel e inviolavel que (segundo Jesus) “ndo pode falhar” (Jo 10.35). Jesus, orando ao seu Pai celestial, em favor dos seus A VERDADE PODE SOBREVIVER NUMA SOCTEDADE POSMODELNA® St discipulos, disse: “Santifica-ng na verdade; a tua palavra é a verdade” (Jo 17.17). Além disso, a Palavra de Deus € a verdade eterna, “a qual vive e é permanente” (1 Pe 1.23). E légico que nao pode existir qualquer discordancia on dife- renca de opiniao entre a Palavra escrita de Deus (as Escrituras) e a Palavra encarnada de Deus (Jesus). Em primeiro lugar, a verdade, por sua propria natureza, nao pode contradizer a si mesma. Em segundo lugar, as Escrituras sao chamadas de “palavra de Cristo” (C13.16). Ea mensagem dEle, a auto-expressao dEle. Em outras palavras, a verda- de de Cristo e a verdade da Biblia sio do mesmissimo carater. Estao em perfeito acordo, em todos os aspectos. Ambas sao igualmente verdadeiras. Deus se revelou 4 humanidade por meio das Escrituras e por meio de seu Filho. Ambos expressam com perfeic4o aquilo que averdade é. Lembre-se de que as Escrituras também dizem que Deus revela a verdade basica a respeito de Si mesmo por meio da natureza. Os céus proclamam a gloria de Deus ($1 19.1). Os demais atributos invisiveis de Deus (tais como sua sabedoria, seu poder e sua beleza) sdo constantemente demonstrados naquilo que Ele criou (Rm 1.20). O conhecimento de Deus é inato ao coracio humano (Rm 1,19), e o senso do carater moral e da sublimidade de sua lei esta implicito em toda consciéncia humana (Rm 2,15). Essas coisas sdo verdades universalmente auto-evidentes. De acordo com Romanos 1.20, a negacao das verdades espirituais que conhecemos de modo inato sempre envolve uma incredulidade deliberada e culpavel. E, quanto aqueles que duvidam que as verdades basicas no tocante a Deus ¢ aos seus padrées morais estejam realmente gravadas no coracao humano, esses podem achar uma comprovacao ampla disso na longa histéria das leis e das religiées. Suprimir essa verdade é desonrar a Deus, mudar a sua gloria e incorrer em sua ira (vv. 19-20). Ademais, 0 tmico intérprete infalivel daquilo que vemos na natureza ou conhecemog de modo inato, em nossa prépria consci- éncia, é a revelacado explicita das Escrituras. Posto que somente as a2 A Goerwe xy prea Verwiapd Escrituras nos fornecem o caminho da salvacao, a entrada para o reino de Deus e o relato infalivel de Cristo, a Biblia é 0 critério pelo qual devem ser testadas todas as afirmac6es concernentes a verdade e pelo qual todas as outras verdades devem ser avaliadas no final. A INADEQUACAO DE TODAS AS OUTRAS DEFINICOES Uma conclusao dbvia daquile que estuu dizendo é que, a parte de Deus, a verdade ndo significa coisa alguma. A verdade nao pode ser explicada, reconhecida, entendida ou definida sem que Deus scja a sua fonte. Visto que somente Ele é eterno e auto-existente, e somente Ele é 0 Criador de todas as coisas, Ele é a fonte de todaa verdade. Se vocé nao acredita nisso, tente definir a verdade sern referén- cia a Deus e veja quao rapidamente fracassam essas definicées. No momento em que vocé comegar a meditar sobre a esséncia da verda- de, vocé se deparard com a necessidade de um absoluto universal ~ a realidade eterna de Deus. Na proposic4o inversa, todo o conceito de verdade perde instantaneamente o sentido e, por essa raz4o, toda imaginacao do coragéo humano torna-se pura tolice no momento em que as pessoas tentam remover de sua mente o conceito de Deus. Essa foi precisamente a maneira como 0 apéstalo Paulo descre- veu o declinio permanente das idéias humanas, em Romanos 1.21- 22: “Porquanto, tendo conhecimento de Deus, nio o glorificaram como Deus, nem lhe deram gragas; antes, se tornaram nulos em seus proprios raciocinios, obscurccendo-se-lhes o coracdo insensato. inculcando-se por sdbios, tornaram-se loucos’. Sempre existem sérias implicacées morais, quando algném tenta fazer uma dissociacdo entre a verdade e o conhecimento de Deus. Paulo, continuando seu argumento, escreveu: “E, por haverem desprezado o conhecimento de Deus, o prdprio Deus os entregou a uma disposicao mental reprovavel, para praticarem coisas A VERDADE PODE SOBREVIVER NUMA SOCIEDADE POS-MODFRNA? 35 incunvenientes” (Rm 1.28). O resultado inevitavel do abandono da definicao biblica de verdade é a injustica e a impiedade. Vemos issa ocorrer diante de nossos olhos, em todos os cantus da sociedade con- tempordanea. Na realidade, a aceitacdo generalizada do homossexualismo, da No MOMENTO EM QUE VOCE COMECAR A MEDITAR SOBRE AESSENCIA DA VERDADE, VOCE SE DEPARARA COM A NECESSIDADE DE UM ABSOLUTO UNIVERSAL - A REALIDADE ETERNA Dg DEus. rebeldia e de todas as formas de iniqiii- dade que vemos em nossa sociedade é um cumprimento literal daquilo que Romanos afirma que sempre acuntece quando uma sociedade nega e suprime a conexdo essencial entre Deus e a verdade. Se vocé refletir sobre esse assunto com uma dose minima de sobriedade, ~ logo percebera que até as distingdes morais mais fundamentais — 0 bem eo mal, 0 certo eo errado, a beleza ea feitira, a honra ea deson- ra — nao tém qualquer possihilidade de possuir sentido verdadeiro ou permanente & parte de Deus. A razdo dissu é que a verdade e 0 conhecimento, por si mesmos, simplesmente nao possuem uma relevancia coerente A parte de uma arigem fixa, au seja, Deus. Como poderiam ser relevantes? Deus é, em Si mesmo, a propria definigao da verdade. Qualquer reivindicacao de uma verdade a parte de Deus 6 absurda. De fato, os filésofos humanos tém procurado, durante milha- res de anos, explicar a verdade e o conhecimento humano a parte de Deus — e, em ultima andlise, todos quantos fizeram semelhante tentativa fracassaram. Isso tem levado a uma mudanca apavorante no mundo do pensamento secular nos anos recentes. Vamos apresentar um esboco sucinto de como essa mudanca se realizou: os filésofos da Grécia antiga simplesmente admitiram a validade da verdade e do conhecimento humano, sem tentar explicar como sabemos aquilo que sabemos. No entanto, cerca de quinhentas a A Guerra Pria Verkpane anus aules dus Leupos de Cristo, Socrates, Platéo e Arisloleles co- mec¢aram a considerar o problema de como definir o conhecimento, cama descobrir se uma crenca é verdadeira e como determinar se realmente estamos justificados por acreditar em qualquer coisa. Durante quase dois mil anos, a maioria dos fildsofos pressupunha, em maior ou menor grau, que o conhecimento é transmitida, de alguma maneira, através da natureza e apresentavam explicacdes naturalistas, na tentativa de descrever como a verdade e o conheci- mento podem ser comunicados 4 mente humana. Mais tarde, em meados do século XVII, na aurora do chamado fluminismo, filésofos como René Descartes e John Locke comegaram a lidar seriamente com a questo de como obtemos o conhecimento. Essa ramificacdo da filosofia tornou-se conhecida como epistemo- logia — o estudo do conhecimento e de como a mente humana apreende a verdade. Descartes era um racionalista e acreditava que a verdade é conhecida A MAIS VALIOSA LICAO QUE A . » SAO mediante a razdo, usando como ponto HUMANIDADE . de partida algumas poucas verdades DEVERIA TER fundamentais e auto-evidentes, e empregando deducées légicas para edificar estruturas mais sofisticadas de conhecimento sobre aquele mesmo fundamento. Ao contrario disso, Locke APRENDIDO DA FILOSOFIA 6 QUE E IMPOSSIVEL QUE AVERDADE SEJA COMPREENSIVEL SEM QUE HAJA UM argumentava que a mente humana RECONHECIMENTO comeca como uma lousa vazia e adquire DE DEUS COMO O conhecimentos através dos sentidos. PONTO DE PARTIDA A opiniao de Locke é conhecida como NECESSARIO, empirismo. Immanuel Kant demonstrou que nem a légica somente, nem a experi- éncia somente (conseqientemente, nem o racionalismo, nem o empirismo) poderia explicar todos os conhecimentos humanos; e AVIRDADE [ODD SOBREVIVER NUMA SOCIEDADE POS-MODERNA? 25 elaborou uma proposta que cumbinava elementos do racionalismo e do empirismo. G. W. FE Hegel argumentou, por sua vez, que até mesmo a proposta de Kant era inadequada e propés um ponto de vista mais fluido da verdade, negandu que a realidade seja algo cons- tante. Pelo contrario, Hegel afirmou que aquilo que é verdadeiro se expande e se transforma no decorrer do tempo. As opinides de Hegel abriram a porta para varios tipos de irracionalismo, representados pelos sistemas “modernas” de pensamento, que variam desde as filosofias de Kierkegaard, Nietzsche e Marx até o pragmatismo de Henry James. Epistemologias primorosas tém sido propostas e repudiadas metodologicamente, uma apdés outra - como uma longa corrente, cujos elos anteriores sio todos quebrados. Depuis de milhares de anos, os melhores filésofos humanos tém fracassado completamen- te na tentativa de explicar a verdade a parte de Deus e a origem do conhecimento humano. A mais valiosa li¢éo que a humanidade deveria ter aprendido da filosofia é que € impossivel que a verdade seja compreensivel sem que haja um reconhecimento de Deus como v punto de partida necessario. A GRANDE “MUDANCA DE PARADIGMA” Em tempos recentes, muitos intelectuais incrédulos tém reco- nhecido que a corrente estd quebrada e resolveram que o culpado disso € 0 fato de que qualquer busca pela verdade é absurda. Com efeito, j4 abandonaram essa busca como se fosse alga totalmente fatil. Portanto, o mundo das idéias humanas esta atualmeute num estado grave de fluxo, Em quase todos os niveis da sociedade, esta- mos testemunhando uma mudanga de paradigmas profundamente radical — uma revisio, em grande escala, na maneira como as pes- Suas pensam a respeito da propria verdade. Infelizmente, em vez de reconhecer aquilo que a verdade ao A Greera pri. VERDADS exige e render-se 4 necessidade da crenga no Deus da verdade, 0 pensamento ocidental contempordneo ja cogitou maneiras de livrar totalmente a filosofia humana de qualquer nosao coerente acerca da verdade. O conceito de verdade esta sofrendo ataques pesados na comunidade filosofica, no mundo académico e no ambito da religiao no mundo. O modo como as pessoas pensam a respeito da verdade esta sendo totalmente renovado, e 0 vocabulério do conhecimento humano, completamente redefinido. Evidentemente, 0 propdsito é lancar no esquecimento toda nocdo de verdade. O alvo da filosofia humana costumava scr a verdade sem Deus. As filosofias contemporaneas estao abertas 4 nogdo de Deus sem a verdade — ou, falando com mais exatidao, a “espiritualidade” pessoal na qual todos tém a liberdade de criar seu proprio deus. Esses deuses pessoais nao representam ameaga alguma ao egoismo pecaminoso, porque, de qualquer forma, eles se adaptam as preferéncias pessoais de todo pecador e nado impdcm qualquer cxigéncia a ninguém. Esse fato ressalta a verdadeira razao de toda negacao da verda- de: “Os homens amaram mais as trevas do que a luz; porque as suas obras eram mas” (Jo 3.19). Nessa passagem, o Senhor Jesus esta dizendo que as pessoas rejeitam a verdade (a luz) por raz6es que sio fundamentalmente morais, e nao intelectuais. A verdade é clara — clara até demais. Ela revcla ¢ condena o pecado, Por isso, “todo aquele que pratica o mal aborrece a luz e nao se chega para a luz, a fim de no serem argitidas as suas obras” (v. 20). Os pecadores amam seu pecado, de modo que fogem da luz, negando que ela exista. E claro que a guerra contra a verdade no é algo novo. Comecou no Jardim, quando a serpente disse 4 mulher: “E assim que Deus disse?” (Gn 3.1), Uma batalha implac4vel tem sido travada desde entao — entre a verdade ea mentira: o bem eo mal; aluz e as trevas; acerteza e a duvida; a crenca e 0 ceticismo; a retiddo e o pecado. Essa guerra é um conflito espiritual selvagem que abrange literalmente toda a historia da humanidade. Mas a ferocidade e a irracionalidade do ataque contemporaneo parece nao ter precedentes. A VERDADE PODE SOBREVIVER NUMA SOCIEDADF POS-MODERNAY 37 As ramificaydes abrangentes da recente mudanca de paradigma tornaram-se bem dbvias. No decurso da geracdo passada — e es- pecialmente nestas duas tltimas décadas — temos visto mudangas convulsivas nos valores morais, ua filosvfia, na relipido ¢ nas artes da sociedade. A reviravolta tem sido tao profunda, que a gera¢ao dos nossos avis (e quase toda a geracdo anterior, em toda a histéria da humanidade) dificilmente teria imaginado que o panorama social pudesse mudar tao rapidamente. Quase nenhum aspecto do racioci- nio humano deixou de ser afetado. A devacdo tradicional e nominal aos ideais e aos padrées morais, a qual é derivada das Escrituras, esta morrendo juntamente com a geracdo mais velha. Muitos acreditam qne a mudanca de paradigma ja nos levou além da era da modernidade, a grande época subseqiiente no desen- volvimento do pensamento humano: a era pds-moderna. A MODERNIDADE Em termos simples, a modernidade eva cavacterizada pela crenga de que a verdade existe e que o método cientifico é a dnica maneira confiavel de determinar essa verdade. Na assim chamada era “moderna”, a maioria das disciplinas académicas (filosofia, ciéncias, literatura e educac&o) era direcionada primariamente por pressuposicées racionalistas. Em outras palavras, 0 pensamento moderne tratava o raciocinio humano como o 4rbitro final em re- lado ao que é a verdade. A mente moderna rejeitou o conceito do sobrenatural e procurou explicagées cientificas e racionalistas para tudo. Mas os pensadores modernos mantinham sua crenca de que o conhecimento da verdade era posstvel. Ainda buscavam verdades universais e absolutas que fossem aplicaveis a todos. As metodolo- gias cientificas tornaram-se o principal meio pelo qual as pessoas modernas procuravam obter esse conhecimento. Essas pressuposicées deram origem ao darwinismo, que, por sua vez, gerou uma fileira de idéias e cosmovisées humanistas. a8 A Guereea rria Venuane Dentre elas, destacaram-se varias filosofias ateistas, racionalistas e ut6picas — inclusive o marxismo, o fascismo, o socialismo, o comu- nismo ea liberalismn tealagico. As repercussdes devastadoras do modernismo logo foram sentidas em todo o mundo. Varios conflitos entre essas ideologias (e entre muitas outras semelhantes a elas) dominaram o século XX. Todas fracassaram. Apds duas guerras mundiais, revolucées sociais continuas, perturbacées civis e uma longa guerra fria ideolégica, a modernidade foi declarada morta pela maioria das pessoas do mun- do académico. A morte simbélica da era moderna foi marcada pela queda do Muro de Berlim, um dos monumentos mais apropriados e imponentes para a ideologia moderna. Uma vez que o muro cra uma cxprcs- sao concreta da cosmovisao utdpica e erronea da modernidade, sua demoli- cao repentina também foi um simbolo perfeito do colapso da modernidade. A maioria, sendo a totalidade, dos principais dogmas ¢ cosmovisdes da era moderna agora é considerada completamente antiquada e desespera- damentc desacreditada em quase todos os Ambitos do mundo intelectual e aca- démico. Até o fascinio que a religiao do modernista tinha pela alta critica deu lugar espiritualidade abstrata. O racionalismo grandemente confiante e a soberba humana EM TERMOS SIMPLES, A MODERNIDADE ERA CARACTERIZADA PELA CRENCA DE QUE A VERDADE DXISTE E QUE O METODO CIENTIFICO E A UNICA MANEIRA CONEIAVEL DE DETERMINAR ESSA VERDADE. que caracterizavam a era moderna — final e apropriadamente — perderam a maior parte de seu entusiasmo e influéncia. © POS-MODERNISMO Conseqitentemente, os novos modos de pensar tém sido apeli- dados, coletivamente, de pés-modernos. A VERDADE PODE SOBREVIVER NUMA SOCIEDADE POS-MODERNA? 3 Se vocé tem prestado atensao ao mundo ao nosso redor, provavelmente j4 deva ter ouvido muito essa expressio. O termo pés-modernismo tem sido usado cada vez mais, desde os anos 1980, para descrever varias tendéncias populares na arquitetura, na arte, na literatura, na histdéria, na cultura e na religigo. Nao é um termo de cxplicagdo facil, porque descreve um modo de pensar que desafia (e até mesmo rejeita) qualquer definicao clara. De modo geral, o pds-modernismo é marcado por uma ten- déncia de repudiar a possibilidade de qualquer conhecimento seguro e sélido acerca da verdade. O pds-modernismo sugere que, se a verdade objetiva existe, cla nao pode ser conhecida de modo objetivo ou com algum grau de certeza; porque (segundo os pés modernistas) a subjetividade da mente humana torna impossivel o conhecimento da verdade objetiva. Portanto, é inutil pensar na verdade em termos objetivos. A objetividade é uma ilusao. Nada é certo, ¢ a pessoa sensata nunca falara com conviccao demasiada a respeito de coisa alguma. Fortes conviccdes no tocante a qualquer aspecto da verdade s4o reputadas como supremamente arrogantes e desesperadamente ingénuas. Cada pessoa tem o direito a sua propria verdade. Por conseguinte, 0 pés-modernismo no possui uma agenda positiva para declarar que algo é verdadeiro ou bom. Talvez vocé jé tenha notado que somente os crimes mais hediondos ainda sdo considerados maus. Na realidade, existem muitas pessoas hoje que est4o dispostas a debater se algo é “mal”; por essa razdo, essa lin- guagem esta desaparecendo rapidamente do discurso publico. Isso acontece porque a propria noc4o do mal nao se encaixa no esquema pés-moderno das coisas. Se nao pudermos ter nada como certo, como julgaremos que uma coisa 6 m4? Por essa razdo, 0 tinico objetivo e atividade singular do pds-mo- dernismo é a desconstrusdo sistematica de qualquer reivindicagao da verdade, As principais ferramentas que tém sido usadas para isso s4o: o relativismo, o subjetivismo, a negacao de todo dogma, a disse- cagao e o aniquilamento de toda definig4o clara, o questionamento ia A Guewea vera Veriatye implacavel de todo axioma, a exaltacdo indevida do mistério e do paradoxo, 0 exagero deliberado de toda ambigiiidade ¢, arima de tudo, o cultivo da incerteza a respeito de tudo. Se vocé me desafiasse a condensar o pensamento pds-moderno em sua esséncia e a identificar seu teor numa tinica caracteristica, simples c central, cu diria que ele é a rejeicdo de toda expresséo de certeza. Na perspectiva pds-modernista, a certeza é considerada inerentemente arrogante, elitista, intolerante e opressiva — e, portanto, sempre errada. A morte da modernidade e o conseqiiente golpe sobre a arro- gancia humana racionalista é certamente algo que devemos celebrar. Mas, do ponte de vista espiritual, a ascenséo do pés-modernismo tem sido tudo, menos um desenvolvimento positivo. O p6s-modernismo tem resultado numa rejeicio generalizada da verdade e na venerac3o do ceticismo. Os pés modernistas des- prezam as reivindicacées da verdade. Repudiam, também, toda ten- tativa de construir uma cosmovisio coerente e rotulam todas as idcologias abrangentes e os sistemas de crencas como “metanarrativas” ou grandes histérias. Eles dizem que tais “histé rias” ndo tém a menor possibilidade de levar em consideracio a perspectiva individual de todas as pessoas; por essa razo, s4o sempre inadequadas. A preferéncia que o pds- Q POS-MODERNISMO SUGERE QUE, SEA VERDADE OBJETIVA EXISTE, ELA NAO PODE SER CONHECIDA DE MODO OBJETIVO QU COM ALGUM GRAU DR CERTRZA; PORQUE (SEGUNDO O05 A VERDADE PODE SOBREVIVER NUMA SOCIEDADE POS-MODERNA? 11 a verdade é reconhecida, em alguma medida, torna-se infinitamente flexivel e, em ultima andlise, incapaz de ser conhecida em algum sentido objetivo. O pés-modernismo assinala, por- tanto, um grande triunfo do relativis m0 — o conceito de que a verdade nao é fixa e objetiva, e sim algo determinado pela percep¢ao exclusiva e subjetiva de cada pessoa. Enfim, tudo isso é uma tentativa inutil de eliminar da vida humana, a moralidade ea culpa. REMOVENDO AS PROPOSICOES DAS PREMISS Outra consideracdo extremamen- te importante precisa ser mencionada no tocante as nogées pds-modernas sobre a verdade. Os pés-modernistas geralmente suspeitam de formas racio- nais e logicas. Em especial, nao gostam de O POS-MODERNISTA TEM AVERSAO POR ABSOLUTOS E NAO QUER RECONHECER QUALQUER VERDADE QUE PARECA AXIOMATICA OU AU'TO-EVIDENTE. PELO CONTRARIO, QUANDO A VERDADE E RECONHECIDA, EM ALGUMA MEDIDA, TORNA-SE INFINITAMENTE FLEXIVEL E, EM ULTIMA ANALISE, INCAPAZ DE SER CONHECIDA, EM ALGUM SENTIDO OBJETIVO, debater a verdade em termos proposicionais claros. Conforme percebemos, 0 pés-modernismo é, em grande medi- da, wma reagav contra o racionalismo desenfreado da modernidade. Mas a rea¢ao de muitos pés-modernistas em relacio ao racionalismo POS-MODERNISTAS) A SUBJETIVIDADE DA MENTE HUMANA TORNA IMPOSSIVEL O CONHECIMENTO DA VERDADE OBJETIVA. modernismo tem pela subjetividade, acima da objetividade, torna-o ine- rentemente relativista. Naturalmente, © pés-modernista tem aversdo por absolutus ¢ ndo quer reconhecer qual- quer verdade que pareca axiomatica ou auto-evidente. Pelo contrario, quando & gravemente exagerada. Muitos pés-modernistas parecem a nutrir a idéia de que a irracivnalidade é superior ao racionalismo. De fato, essas duas manciras de pensar sao totalmente erréne- as e igualmente hastis A verdade auténtica e ao cristianismo biblico. Um extreme é to letal yuanto 0 outro. O racionalismo precisa ser rejeitado, sem abandonarmos a racionalidade. A racionalidade (a uso correto da razao santificada mediante a 2 A GHPRRA Tra VERGABE logica sadia) nunca é condenada nas Escrituras. A fé nao ¢ irracional. A verdade biblica auténtica exige que empreguemos o pensamento ldgico, sensato e claro. A verdade sempre pode ser examinada e comparada 4 luz fulgurante de outra verdade, sem que scja diluida c torne-se um absurdo. A verdade, por sua propria natureza, nunca se contradiz, nunca é ildgica. E, ao contrario do pensamento popular, nao é racionalismo insistir cm que a cocréncia é uma qualidade essencial de toda verdade. Cristo é a verdade encarnada, e Ele nao pode negar-se a Si mesmo (2 Tm 2.13). A verdade que desmente a si mesma é uma absoluta contradicao de termos. “Mentira alguma jamais procede da verdade” (1 Jo 2.21). A légica também nao é um conceito peculiarmente “grego” que, de algum modo, é hostil ao contexte hebraico das Escrituras (esse é um mito comum, uma simplificagdo rude e exagerada, que é freqaentemente proposto para apoiar o flerte do pés-modernismo coma irracionalidade). As Escrituras freqientemente empregam ex- pedientes légicos, tais como a antitese, os argumentos “se... entdo”, os silogismos e as proposicées. Todas essas sao formas padronizadas da légica, e as Escrituras estdo repletas delas (por exemplo, a longa sequéncia de argumentos dedutivos a respeito da importancia da ressurreicao, em t Co 15.12-19). Apesar disso, é comum encontrarmos pessoas fascinadas pelas idéias pés-modernas que argumentam com veeméncia que a ver- dade nao pode ser expressa em meras proposicées, semelhantes as formulas matematicas, Até alguns cristaos professos argumentam, hoje em dia, nestes termos: “Se a verdade é pessoal, nao pode ser proposicional. Se a verdade esta incorporada na pessoa de Cristo, logo, a forma de proposic¢So talvez nao possa expressar a verdade auténtica. E por essa razo que a maior parte das Escriluras é conta- da na forma de narrativa — como uma histéria — e nado como um conjunto de proposi¢ées”. Ayazdo que esta por tras do desprezo do pos-imoderuisi pela verdade proposicional nao é dificil de ser entendida. Uma proposicao AVERDADE PODE SOBREVIVER NEMA SOCIEDADE POS-MODERNA 44 é uma idéia formulada como uma declaragéo ldgica que afirma ou nega algo; é expressa de tal modo que tem de ser verdadeira ou falsa. N30 existe terceira opcdo alguma entre o certo e o errado. Essa terceira op¢aa é o “meio-termo excluido” na légica. A questo central de uma proposi¢ao é resumir uma declaracao da verdade a uma clareza tao pura, de modo que essa declarac4o tenha de ser afirmada ou negada. Em outras palavras, as proposi¢ées sao as mais simples expressdes de valor da verdade, usadas para expressar a substancia daquilo que cremos. Falando com sinceridade, 0 pds modernismo nao pode suportar esse tipo de clareza. Na realidade, a rejeicio da forma proposicional por parte do pés-modernismo acaba se revelando totalmente insustentavel. £ impossfvel conversar sobre a verdade, de algum modo — ou mesmo contar uma histéria — sem recorrer ao uso de proposicées. Até recentemente, a validade e a necessidade de expressar a verdade em forma de proposicées eram consideradas auto-evidentes, por quase todos os que ja estudaram |égica, semantica, filosofia ou teologia. lronicamente, para formar qualquer argumento coerente contra o emprego das proposi¢ées, uma pessoa teria de empregar declaracdes proposicionais! Portanto, todo argumento contra 0 uso de proposi- Ges destréi-se a si mesmo instantaneamente. Deixemos bem claro: a verdade envolve, certamente, mais do que meras proposices. Sem davida alguma, existe um elemento pes- soal na verdade. O proprio Jesus Cristo transmitiu essa mensagem, quando declarou ser Ele mesmo a verdade encarnada. As Escrituras também ensinam que a fé envolve receber a Jesus Cristo com tudo a que Ele é —- conhecé-Lo num sentido real e pessoal e ser habitado por Ele — e nao meramente concordar com uma breve lista de ver- dades desencarnadas a respeito dEle (Mt 7.21-23). Portanto, é verdade que a fé nao pode ser reduzida ao mero assentimento de um conjunto finito de proposigées (Tg 2.19). Ja ressaltei esse fato, repetidas vezes, em livros anteriores. A fé salvifi- ca 6 mais do que um mero aceno intelectual com a cabeca, em sinal at A GLEKBA FELS Verpape de aprovacdo dos fatos de um esboco minimalista do evangelho, A fé auténtica em Cristo envolve o amor A sua Pessoa e a disposicdo de render-se 4 sua autoridade. O coracao, a vontade e o intelecto do ser humano — todos concordam no ato da fé, Nesse sentido, certamente é correto, e mesmo necessdrio, reconhecer que meras proposigées nao podem abordar apropriadamente todas as dimen- s6es da verdade. Por outro lado, a verdade simplesmente nao poderé sobreviver, se for destituida de seu contetide proposicional. Embora seja bem certo que crer ua verdade envolva mais du que o asseulimenty do intelecto humano a certas proposicées, também € certo que a fé auténtica nunca envolve menos do que isso. Rejeitar 0 contetido proposicional do evaupellio € sacrificar a f€ salvifica, e poato final, Os pés-modernistas sentem-se desconfortaveis com as proposicées por uma razao dbvia: eles nado gostam da clareza e da inflexibilidade exigidas para lidar com a verdade na forma proposi- cional. A proposicao é a forma mais simples de qualquer afirmacao da verdade; ¢ o ponto de partida fundamental do pds-madernismo € seu desprezo por todas as afirmagées da verdade. A “logica vaga” de idéias contadas na forma de “histérias” soa um tanto mais elasti- ca — embora, na verdade, nda o seja. As propnsicies saa hlacas de construg4o necessarios a todos os meios de transmissdo da verdade — inclusive das histérias. No entanto, 0 ataqne contra as expresses proposicionais da verdade é uma protegao natural e necessdria para a desconfianga ge- ral que o pds-modernismo possui em relacdo a ldgica, uma prote¢ao para sua aversdo A certeza e para sua antipatia para com a clareza. Para manter a ambigiidade e a flexibilidade da “verdade”, as quais séo necessarias 4 perspectiva pés-moderna, as proposigées claras e especificas precisam ser ignoradas como meios de expressdo da verdade. As proposicées nos obrigam a encarar os fatos e afirma-los ou nega-los. E esse tipo de clareza simplesmente nao desempenha um bom papel numa cultura pés-moderna. A VERDADE PODE SOBREVIVER NUMA SOCIEDADE POS-MODERNA? 15 A INCERTEZA FA NOVA VERDADE Obviamente, 0 pés-modernismo é consideravelmente mais complexo do que esses poucos paragrafos talvez possam demons- trar, mas eles constituem um esboco suficiente daquilo que essa expressio significa. No decurso deste livro, investigarcmos algumas das caracteristicas principais da mudanca de paradigma do pds- modernismo. Mas, para comecar, consideremos a nocac de que a certeza a respeito de qualquer coisa é inerentemente arrogante, Essa opiniao goza de uma popularidade desenfreada em nossos dias. A crenga de que ninguém pode realmente saber alguma coisa com certeza estA emergindo como praticamente o tinico dogma que os pés-modernistas podem tolerar. A incerteza é a nova ver- dade. A diivida e o ceticismo foram canonizados como uma forma de humildade. O certo e 0 errado foram redefinidos em termos de sentimentos subjetivos e de perspectivas pessoais. Essas opinides também esto se infiltrando na igreja. Em alguns circulos da igreja visivel, hoje, o cinismo é quase considerado como a mais espléndida de todas a virtudes. Comecei este livro com um excelente exemplo desse cinismo, visto no chamado movimento da Igreja Emergente. Um tom implacavel de inquietagio pés-moder- nista a respeito da certeza excessiva permeia todo esse movimento. Nao é de se admirar: a Igreja Emergente surgiu como um esforco deliberado para tornar o cristianismo mais apropriado a uma cultura pés-moderna. Os cristaos emergentes esto determinados a adaptar afé crista, a estrutura da igreja, a linguagem da fé e até a mensagem do evangelho a retérica e as idéias pds-modernistas. O pés-modernismo é um tema importante na literatura da Igreja Emergente. Varias vozes da lideranca do movimento tém sugerido que o pés-modernismo é algo que a igreja deva abracar e adolar. Oulros talvez sejam mais hesitantes quanto a endossar completamente 0 pés-modernismo, mas insistem em que os cristaos devem, pelo menos, comecar a falar a linguagem pés-moderna, se ww A Crepe Prey Vernapy quisermos alcangar uma geracao pos-moderna. Isso, dizem eles, exi- gird uma reorganizacao da mensagem que apresentamos ao mundo, além de uma remodelagem dos meios que usamos para pregi-la. Algumas pessoas desse movimento tém questionado abertamente se existe mesmo um papel legitimo para a pregacdo numa cultura pés-moderna. O “didlogo” é 0 método preferide de comunicacio. E, de acordo com isso, algumas congregagées de estilo emergente acabaram totalmente com os pastores e os substituiram por “narra- doves”. Outras substituiram o serm4o por um didlogo livre e aberto, no qual ninguém desempenha um papel de lideranca. Por motivos ébvios, dizer com autoridade “assim diz o SENHOR” nado é algo bem acolhido nesse ambiente. Obviamente, a primeira vitima dessa maneira de pensar é todo tipo AINCERTEZA EA de certeza. As proposigées centrais e NOVA VERDADE, as conviccOes sdlidas do cristianismo ADUVIBAEO biblico — tais como a crenca inabalavel CETICISMO FORAM na inspiracdo e autoridade do cristia- CANONIZADOS nismo biblico, uma compreensdo sa do verdadeiro evangelho, a plena certeza da salvacao, a confianca indubitavel no senhorio de Cristo e a exclusividade restrita de Cristo como o dnico caminho da salvacao — no se conciliam bem COMO UMA FORMA. DE HUMILDADE. O CERTO EO ERRADO FORAM REDEFINIDOS EM TERMOS DE SENTIMENTOS SUBJETIVOS E DE PERSPECTIVAS PESSOAIS. com o desprezo que o pos-modernismo sente para com as reivindicacdes ciaras e autoritarias da verdade. Por essa razav, v instrumenlo do didlugo pés- moderno muda a mensagem de modo instantaéneo e automatico. E a prépria retérica do movimento da Igreja Emergente reflele esse falo, Prestemos atencdo, por exemplo, a como Brian McLaren resu- me suas opinides sohre a artndoxia e sahre a questao das verdades A VERDADE PODE SOBREVIVER Ni MA SQCIEDADE POS-MODERNAY 17 do cristianismo serem ou nao sadias e fidedignas: Como é irénico que eu esteja escrevendo a respeito de orto- doxia, que, para muitas pessoas, significa uma apreensédo final da verdade a respeito de Deus, que é a gloria de Deus. Sente-se aqui au meu lado, neste pequeno restaurante, e pergunte-me se 0 cristianismo (a minha versdo dele, a sua verso, a do papa ou a de qualquer outra pessoa) é ortodoxo, no sentido de ser verdadeiro; e eu darei a minha resposta sincera: um pouca, mas néo todo. Admitindo que, por “cristianisma”, vocé se refere 4 maneira cristdé de entender o mundo e a Deus, as opinides cris- tas a respeito da alma, do texto e da cultura... Hu teria que dizer que é provdvel que tenhamos algumas poucas coisas certas, mas uma porcéo de coisas erradas. McLaren sugere que a propria clareza é de valor dubio. E evi- dente que ele prefere a ambigtiidade e 0 equivaco; e, portanto, seus livros estdo repletos de linguagem com duplo sentido deliberado. Na introdugao de seu livro A Generous Orthodoxy (Uma Ortodoxia Generosa), McLaren reconhece: “Fiz um esforco deliberado para ser provocative, injurioso e obscuro; refletindo minha crenca de que a clareza, as vezes, é supervalorizada e de que a surpresa, a obscuri- dade, o espirito brincalhao ea intriga (cuidadosamente articulados), com freqiiéncia, cstimulam mais o pensamento do que a clareza pode fazé-lo”.* Um tema predominante na maioria dos escritos de MacLaren é a idéia de que “existe grande perigo na busca por estar certo”? As influéncias pés-modernas também penetraram no movi- mento evangélico por outros meios. O livro Beyond Foundationalism: 1. McLaren, Brian. A Generous Orthodoxy. Grand Rapids: Zondervan, 2004. p. 293. 2. Thid. p. 23. 3. Citado em Greg Warner. “Brian McLaren: The Story We Find Ourselves In”, uma rese- nha baseada em fatos no website Rick Warren's pastors.com Disponivel em: http:// www.pastors.com.article asp?ArtID=4150. all A GUERRA PFLA ViRD Ape Shaping Theology ina Postmodern Context (Além do Fundamentalismo: Moldando a Teologia em um Contexto Pés-Moderno), escrito por Stanley Grenz e John Franke, foi publicado em 2001 e causou um impacto significative na comunidade académica evangélica; obteve muitas resenhas favoraveis na midia e estimulou numerosos artigos e palestras por parte de lideres evangélicos que, evidentemente, acham nesse livro muitas coisas com as quais podem concordar. Mas, como sugere o subtitulo, o livro pleiteia uma abordagem totalmente nova da teologia, com o objetivo de “contextualizar” o cristianismo para uma cultura pdés-moderna. “As categorias c os paradiginas do mundo moderno” estao em colapso, conforme dizem os autores na primeira frase do livro.‘ Eles passam a afirmar que, por esse motivo, a teologia crista deve ser repensada, revisada c adap lada, a fin de manter-se atualizada e permanecer relevante nestes tempos de mudanga. Grenz e Franke argumentam que o Espirito de Deus fala através das Escrituras, da tradi¢ao e da cultura, e que os tedlogos devem. procurar ouvir a voz do Espirito em cada uma dessas areas. Além disso, visto que a cultura esta em fluxo constante, é correto € apropriado (dizein eles) que a teologia crista também esteja num estado perpétuo de transicdo e fermentacdo. Nenhum assunto deve ser considerado como definitivamente estabelecido. A vitima em Ludo issu é qualquer conhecimento seguro e certo sobre a verdade biblica. Para Grenz e Franke, nao ha problema algum nisso. A convicgio deles é que todo desejo de obter um conheci- mento fixo e positivo de qualquer verdade pertence a categoria do racionalismo iluminista, que est4 em colapso. E exatamente isso que querem dizer quando fazem referéncia ao “fundamentalismo” no titulo do livro. Definem o furdumentalismo cldssicu como a “busca 4, GRENZ, Stanley J; FRANKE, John R. Beyond Foundationalisrn: shaping theology in a post- modern context. Louisville: Westminster John Knox, 2001. p. 3. A VERDADE PODE SOBREVIVER NUMA SOCIEDADE POS-MODERNAY a por completa certeza epistemoldgica”.* Naturalmente, a certeza é atacada no livro repetidas vezes. Esses ataques culminam na alegao incrivel de que a cerLeza, enfim, € incomnpativel com a esperanca.“ E claro que existem algumas coisas que ainda nao vemos com clareza e pelas quais ainda esperamos (Rm 8.24-25). Mas parece bastante artificial concluir que nao exisla nada que possamos saber com uma certeza genuina e definitiva. Apesar disso, alguns leitores, inclusive John Armstrong, acha- ram persuasivo o argumento de Grenz ¢ Franke. Armstrong é win escritor, cunferencista e ex-pastor que, durante certo tempo, foi um defensor da teologia reformada e um estudioso dos avivamentos. O name do seu ministério, Reforma e Avivamento, refletia isso. Mas, depuis de ler Beyond Foundationalism, Armstrong escre- veu uma série de artigos em seu boletim informativo, declarando que havia mudado de opiniao no tocante a varias questées vitais de doutrina — incluindo, entre outros assuntos, a fé e o entendimento, as ordenangas, a doutrina da revelacao e a Cristologia. Dando crédito a Grenz.e Franke por terem-no ajudado a ver a luz, Armstrong escre- veu: “Por meio de uma reflexdo mais profunda a respeito do método teolégico, fui obrigado a abrir mao daquilo que chamo de certeza epistemoldgica’.” E diz mais: “Os dogmaticos e mestres reformados, do lado conservador, buscam 0 conhecimento firme, inabalavel ¢ certo... John Franke sugere que a agenda empregada por esses tedlogos ‘glorifica a razao e endeusa a ciéncia’, Mudei de opiniao a respeito de como fazer Levlogia e confesso que agora concordo com a conclusao de Franke”.* 5. [bid. p. 30. 6, "Uma teologia repleta de esperanca se perde quando acompanha 0 sonho ilusdrio do fundamentalismo, que busca assegurar a sua propria certeza apelando para um alicer- ce antropologico supostamente inexpugnavel.” (Ibid. p. 248.) ‘7. ARMSTRONG, John. “How I changed my mind: theological method” in Viewpoint. Sep- tember/October 2003, p. 1. 8. Ibid. 30 A Gurxka rera Virbater Armstrong revela o quanto se afastou de seu ponto de partida, com a seguinte declaragao: “Se existe algum fundamento na teologia crist3, e creio que deva existir, ele nao se acha naigreja, nas Escrituras, na tradicéo, nem na cultura”. As Escrituras nao sao o fundamento da doutrina cristé? Entao, qual é esse fundamento? A resposta de Armstrong ecoa a tese central do livro Beyond Foundationalism: “Se precisamos falar em ‘fundamentos’ para a fé crista e seu emprecn dimento teologico, entao devemos falar somente a respeito do Deus trino e uno, revelado de forma polifénica por meio das Escrituras, da igreja e, até mesmo do mundo”? Armstrong faz um esforco desajeitado para dar algum crédito nominal as Escrituras, ao sugerir (numa linguagem que Karl Barth teria aplaudido) que nossa doutrina deve “estar sempre de acordo com o testemunho normativo da auto-revelacao de Deus contida nas Escrituras”.”° Deixando de lado o jargdo e interpretando essa declarag4o com maior clarcza, Armstrong parece estar reconhecen- do, pelo menos por um momento, que a revelacao que Deus fez de Si mesmo, nas Escrituras, deve ser o padrao de comparacao para medirmos todos os nossos pensamentos, crengas e ensinos a res- peito de Deus. Mas até esse petisco é arrancado num instante pela outra m&o e rapidamente substituido por uma anti-hermenéutica, totalmente subjetiva, irracional e pés-moderna: “A teologia tem de ser uma humilde tentativa humana de ‘ouvir a Deus’ ~ e nunca uma maneira racional de lidar com textos biblicos”.”" Armstrong identifica a ilusdo de muitos que esto sob o domi- nio desse [suposto] erro, ao jactar-se de que sua reviravolta radical é asintese da “humildade” e “a propria esséncia da lideranca servil”.” Em harmonia com essa mudanca de opiniao, Armstrong mudou o 9. Ibid. p. 4. 10, Ibid, 11 Ibid, 12. Ibid. p. 1. AVERDADE PODE SOBREVIVER NUMA SOCIEDADE POS-MODERN Ve =: nome do seu ministério de “Reforma e Avivamento” para “Atos 3” — o que ressalta seu alvo de ser “missiondrio” no terceiro milénio. Nesse meio tempo, Armstrong emprcga caricaturas e exageros para atacar as opiniédes que ele mesmo defendera no passado. Ele alega que ”, “cristdos pro- eminentes dizerem: ‘Eu nunca mudei de opiniéo ~ nunca”. Armstrong cita a Teologia Sistemdtica, de Wayne Grudem, como um exemplo do ponto ouvia, “rotinciramente O3 POS-MODERNISTAS EMERGENTES EMBACARAM A LINHA DIVISORIA ENTRE A CERTEZA E A ONTSCIPNCIA PARECEM SUPOR QUE, SE NAO PODEMOS SABER TUDO COM PERFEICAQ, NAO PODEMOS SABER NADA COM QUALQUER GRAU DE CRRTRZA de vista da “concordancia” na teologia. Vocé reune todos os versiculos de de- terminado assunto, divide-os em grupos, coloca-os no devido lugar de seu sistema e, por fim, desenvolve (ou esrreve) uma teologia, formal ou nao. Essa tcologia ¢, entdo, transferida, como se v proprio sistema contivesse, ou fosse, a verdade da parte de Deus”. Amnstrong, Grenz, Franke e 0s pds-modernistas emergentes anuviaram a linha diviséria entre a certeza e a onisciéncia. Parecemn supor que, se nao pudermos saber tudo com perfeicio, nao pode- remos saber coisa alguma com qualquer grau de certeza. Esse é um argumento atraente para a mente pds-moderna, mas est4 em com pleto desacordo com o ensino das Escrituras: “N6s, porém, temos a mente de Cristo” (1 Co 2.16), Com isso, nado estamos sugcrindo que possuimos um conheci- mento exaustivo. Mas temos realmente um conhecimento intalivel 13.Tbid. Num prosseguimento deste assunto em seu blog, ArmsLcuziy assemelha os cris- taos que tém “alto nivel de cortcza” aos ditadores ou tiranus. Esse at lige Lein o titulo de “Certitude Can Be Idolatrous’, June 30, 2005. Disponivel em: http,//julmaras- trong.com. 14. Ibid. p. 4. A Gvurnrwa prry Verpant an re daquilo que as Escrituras revelam, 4 medida que o Espirito Santo de Deus nos ensina através da sua Palavra. “Ora, nds nado temos recebido 0 cspirito do mundo, e sim o Espirito que vem de Deus, para que conhecamos o que por Deus nos foi dado gratuitamente” (1 Co 2.12). O fato de que o nosso conhecimento torna-se mais plenoe mais profundo — e que todos nds mudamos de opiniao a respeito de algumas coisas, a medida que obtemos cada vez mais discernimento — nio significa que tudo quanto sabemos seja incerto, obsoleto ou passivel de uma revisio completa, de poucos em poucos anos. As pa- lavras de 1 Joao 2.20-21 sao aplicdveis, em seu verdadeiro sentido, a todos os crentes: “E vés possuis uncdo que vem do Santo e todos tendes conhecimento. Nao vos escrevi porque ndo saibais a verdade; antes, porque a sabeis, e porque mentira alguma jamais procede da verdade”. A mensagem que provém dos evangélicos pés-modernos é exatamente o oposto disso: eles consideram a certeza como algo su- perestimado, A certeza é arrogancia, E melhor continuar mudando de opiniao e manter a sua teologia em um estado de fluxo constante. Por semelhante modo, a antiga guerra pela verdade, que ja du- rou varias eras, mudou-se exatamente para dentro da comunidade crista; e a propria igreja tornou-se um campo de batalha — e, infe- lizmente, pouquissimos na igreja hoje estéo preparados para a luta. A GUERRA NA IGREJA Esta nao é, de modo algum, a primeira vez que a guer-a pela verdade se introduziu na igreja. Isso tem acontecido em todas as principais épocas da historia da igreja. As balalhas pela verdade tém se intensificado na comunidade crista desde os tempos dos apéstolos, quando a igreja estava apenas come¢ando. Na realidade, o relato das Escriluras indica que os falsos mestres, na igreja, logo se tornaram um problema significative e amplamente difundido aonde quer que 0 evangelho chegasse. Quase todas as principais epistolas da Nova A VERDADE PODE SOBREVIVER NUMA SOCIEDADE POS-MMODERNAZ 54 Testamento abordam esse problema, de uma maneira ou de outra. O apdstolo Paulo estava sempre envolvido numa ©) CLIMA ATUAL DO POS-MODERNISMO batalha contra as mentiras dos “falsos REPRESENTA, apéstolos, obreiros fraudulentos”, que REALMENTE, UMA VITRINE se transformavam cm apéstolos de Cristo (2 Co 11.13). Paulo disse que isso era de se esperar. Afinal de contas, essa 6 uma das estratégias prediletas do Maligno: “E nao é de admirar, porque o proprio Satands se transforma em anjo de luz. Nao é muito, pois, quc 03 seus préprios ministros se transformem em MARAVILHOSA DE OPORTUNIDADES PARA AIGREJA DE JEsus CRISTO. A ARROGANCIA QUE DOMINAVA A ERA MODERNA ESTA EM SUAS AGONIAS DE ministros de justica” (vv. 14-15). Mont. O MUNDO, Seria uma ingenuidade deliberada EM SUA MATOR PARTE, negar que 1SS0 possa acontecer em nosso FOL APANHADO. tempo. De fato, isso esta acontecendo EM DESILUSAO em grande escala, O tempo presente E CONFUSAO. As nao é favordvel a que os cristaos flertem PESSOAS SENTEM- com o espirito da época. Nao podemos SE INSEGURAS A ser apaticos quanto 4 verdade que Deus RESPEITO DE QUASE nos confiou. Nosso dever é guarda-la, TUDO E NAO SABEM proclamé-la e transmiti-la 4 geracao QUE RUMO TOMAR EM seguinte (1 Tm 6.20-21). Ndés, que BUSCA DA VERDADE, aiaios a Cristo e cremos na verdade incorporada nos ensinos dEle, precisamos ter plena consciéncia da tealidade da batalha, a qual tem se tornado intensa ao nosso redor. Deveinus cumprir nosso papel na guerra pela verdade, que ja dura muitas eras. Temos a obrigacdo sagrada de participar da batalha e Intar pela fé. Nuun sentido restrito, a idéia motriz por detras do movimento da Igreja Emergente esta correta: o clima atual do pds-modernismo representa, realmente, uma vitrine maravilhosa de oportunidades aa XN GUbkwA Petr Ver bant para a igreja de Jesus Cristo, A arrogincia que dominava a era moderna esta em suas agonias de morte. O mundo, em sua maior parte, foi apanhado em desilusao c confusao. As pessoas sentem-se inseguras a respeito de quase tudo e nao sabem que rumo tomar em busca da verdade. Entretanto, a pior cstratégia para ministrar o evangelho num clima como esse é os cristaos imitarem a incerteza ou ecoarem 0 cinismo da perspectiva pos-moderna — e arrastarem a Biblia e o evangelho para dentro dessa perspectiva. Em vez disso, precisamos afirmar, de modo contrdrio ao espirito desta época, que Deus falou com a maior clareza e autoridade, de modo definitivo, através de seu Filho (Hb 1.1-2). B temos, nas Escrituras, o registro infalivel dessa mensagem (2 Pe 1.19-21). O pés-modernismo é simplesmente a expresso mais atual da incredulidade mundana. Seu valor essencial — uma ambivaléncia duibia para com a verdade — nao passa de ceticismo destilado em sua esséncia pura. No pés-modernismo, nada existe de virtuoso ou genuinamente humilde. Ele é uma rebelido arrogante contra a revelacao divina. De fato, a hesitacao do pés-modernismo no tocante a verdade éa antitese exata da confianga ousada que, segundo as Escrituras, é€ 0 direito de familia de todo crente (Ef 3.12). Essa seguranga é operada pelo préprio Espirito de Deus naqueles que créem (1 Ts 1.5). Precisamos valorizar essa seguranga e nao temer confrontar o mundo por meio dela. A mensagem do evangelho, em todos os fatos que a consti- tuem, é uma proclamacio clara, especifica, confiante e autorizada de que Jesus é Senhor, e de que Ele d4 uma vida eierna e abundanle a todos 0s que créem. Nés, que conhecemos verdadeiramente a Cristo e recebemos aquela dadiva da vida eterna, também recebemos da parte dEle uma comissao clara e especifica para transmitir, com ou- sadia, a mensagem do evangelho, como seus embaixadores. Se nao demonstrarmos igualmente clareza e nitidez em nossa praclamacio A VERDADE PODE SOBREVIVER NUMA SOUTEDANLE POS-MODERNA? 58 da mensagem, nao seremus bons embaixadores, Mas ndo somos meros embaixadores. Somos, ao mesmo tempo, soldados comissionados a guerrear em favor da defesa e dissemina- sao da verdade, em face aos alaques constantes contra ela. Somos embaixadores com uma mensagem de boas-novas para as pessoas que andam em trevas e vivem na regido da sombra da morte (Is 9.2). E somos soldados — com ordens para desLruir furtalezas ideoldgicas e derrubar as mentiras e enganos engendrados pelas forcas do mal (2 Co 10.3-5; 2 Tm 2.2-4). Observe atentamente: nossa tarefa como embaixadores é levar as boas-novas as pessoas. Nossa misséo como soldados é destruir as idéias falsas. Devemos manter esses ohjetivos no seu devido lugar; nao temos o direito de declarar guerra contra as pessvas, propriamente ditas, nem de entrar em relacionamentos diplomaticos com idéias an- ticristas. Nossa guerra nao é contra a carne eo sangue (Ef 6.12); nosso dever como embaixadores nao nos permite transigir com qualquer tipo de filosofia humana, engano religioso ou outro tipo de mentira, nem nos associar com algumas dessas coisas (C1 2.8). Se parece dificil manter essas duas tarefas em equilibrio e na perspectiva adequada, isso acontece porque elas so realmente dificeis. Judas ccrtamente entendeu isso. O Espirito Santo o inspirou a escrever sua breve epistola as pessoas que estavam lutando com essaé mesmas questdes. Contudo, ele as exortou a hatalharem dili- gentemente pela fé, contra toda falsidade, ao mesmo tempo em que faziam tudo quanto lhes era possivel para livrar as almas da destrui- cao: arrebatando-as “do fogo... detestando até a roupa contaminada pela carne” (Jd 23). Somos, portanto, embaixadores e soldados; procuramos alcan- car os pecadores com a verdade, ao mesmo tempo em que envidamas todos os esforcos para destruir as mentiras e outras formas de mal, que os mantém na escravidao mortifera. Esse 6 um resumo perteito do dever de todo cristéo na guerra pela verdade. 50 A Grenga pera Virpvut Martinho Lutery, aquele nobre soldado do evangelho, lancou esse desafio diante de todos os cristaos, de todas as geragdes que o sucederam, ao dizer: Se, com a voz mais elevada e a exposigéo mais nitida, eu professar toda porctio da verdade de Deus, e ndo professar exatamente aquele pormenor de que o mundo e o Diabo estio nos atacando naquele momento, ndo estou confessanda a Cristo, ainda que esteja professando-O com ousadia. Ali, onde a batalha é intensa, a lealdade do soldado é provada; e, ficar firme em todos os demais pontos do campo de batalha, serd mera fuga e vergonha, se 0 soldado falhar naquele pormenor.'§ 15. LurHeR, Martin. D. Martin Luthers Werke, Kritische Gesamtausgabe, Briefwechsel. 18 volumes. Weimar: Verlag Hermann Bohlaus Nachfolger, 1930-1985. v. 3. p. 81. GUERRA ESPIRITUAL! DEVER, PERIGO E ‘'RIUNFO GARANTIDOS Aos chamados, amados em Deus Pai e guardades om Jesus Crista, a miserivirdiu, a paz eo amur vos sejam multiplicados. — Judas 1-2 — Awe éo inferno,” sim o disse o general William Tecumseh Sherman. Antes de Sherman aposentar-se do servica ativo, esse aforismo famosa ja havia se tornado sinénimo de seu nome. Existem varias histérias conflitantes a respeito de onde e como ele falou isso. Perto do fim da sua vida, o proprio Sherman declarau nfo se lembrar de quando o dissera pela primcira vez, mas ainda concordava cum essa opiniao. De fato, o desprezo de Sherman pela guerra foi bem conhecido durante a maior parte de sua carreira militar. Um més apés o térmi- no da Guerra Civil Americana, quando Sherman eslava no auge de sua fama e no pindculo do seu sucesso como militar, ele escreveu a um amigo: “Estou doente e nauseado com as Intas” ! No entanto, ele ainda nao tinha terminado sua carreira de guerreiro, O seu importante cargo subseqiiente foi servir durante quatorze anos como comandante geral do exércita dos Estados Unidos, Naqueles anos, acontcceram algumas das batalhas mais 1, Hant, Sir Basil Liddell. Shermar:. Suldier, Realist, American, New York: Dodd, Mead & Co. 1929. p. 402, a8 A Givers pria Verpapt dificeis, nas horriveis guerras contra os indios, as quais sio manchas na colonizagio do Oeste norte-americano. Por mais que Sherman desprezasse as guervas, parece que nau conseguia ficar longe da luta. O general Sherman tem sido descrito por varios historiadores como um estrategista brilhante, um combatente inflexivel e um guerreiro implacdvel. Sua carreiza foi altamente controvertida, ¢ 0 juizo da Histéria tem sido divergente nc tocante ao seu carater pessoal e 4 conduta dos exércitos que ele comandava. Como militar, em todos os sentidos, era um exemplo ideal. No entanto, um fato exemplar na vida de Sherman esta evidente em todos os relatos da sua vida: embora realmente desprezasse a guerra, poucos soldados em toda a Historia tém sidv puerreiros mais resolutos ou mais tena zes do que Sherman. Seja qual for a nossa opiniao sobre o general Sherman como homem, existe algo de luuvavel e corajoso em sua perspectiva militar a respeito da batalha. Devemos desprezar a guerra com toda nossa alma. A guerra é uma das conseqiiéncias mais calamitosas do mal. E uma catdstrofe. Sempre é vil. Nunca deve ser romantizada, c nenhu- ma pessoa sensata deveria, em ocasido alguma, desejar 0 conflito ou apreciar a guerra. No entanto, ha épocas em que o mal torna a guerra absolutaienle necessaria. E, quando temos a obrigacdo moral de lutar, nunca deveros esquivar-nos desse dever, nem comprometer- nos com o inimigo, nem entrar na batalha com indiferenca. Pur mais detestavel que seja qualquer tipo de guerra, existem causas em favor das quais ndo lutar é um mal extremamente pior. POR QUE A GUERRA NAO F CARNAL? Precisamos ter perfeita clareza a respeito do tipo de luta que se espera que os crentes estejam realizando. A guerra espiritual des- crita no Novo ‘festamento nao é uma batalha literal contra carne e sangue, travada com armas terrenas e violéncia fisica. Pouco tempo atrds, houve uma época em quc isso cra uma suposigao geral. Mas GUERRA PSPIRET UA hoje nao é mais assim. AGUERRA BE UMA DAS CONSEGUENCIAS MAIS CALAMITOSAS DO MAL. E uma CATASTROPE. SEMPRE B VIL. NUNCA DEVE SER ROMANTIZADA, E NENHUMA PESSOA SENSATA DEVERIA, EM OCASIAO ALGUMA, DESEIAR. O CONELITO OU APRECIAR A GUERRA, Vivemos numa era em que os fanaticos religiosns, de modo rotinei- ro, explodem-se a si mesmos, langam. avides contra prédios ou cometem atos inimaginavelmente perversos de terrorismo barbaro em nome da reli- giao. A estratégia biblica para a guerra espiritual ndo tem absolutamente nada cm comum com as taticas do jihad islamico, As Escrituras deixam claro que a forca fisica nado é uma ferramenta legitima para o avanco do reino de Deus. A igreja nao recebeu, da parte do seu Senhor, autoridade alguma para brandir a espada, seja qual for © motivo — nem para a expansdo de sua intluéncia e, certamente, nem mesmo para se defender de seus inimigas. Fssas coisas tém sido perfeitamentc claras e quase universalmente afirmadas por cristaos piedosos que créem na Biblia, desde a noite em que Jesus foi traido e ordenou a Pedro; “Embainha a tua espada; pois todos ns que lancam mio da espada a cspada perecerao” (Mt 26.52). A propdsito, nao estamos sugerindo que o emprego da forca se- ja proibido para individuos cristaos que agem em legitima defesa au em defesa de sua familia, contra uma agresséo criminosa ou militar. A resisténcia fisica, em tais casos, nao é proibida em parte alguma da Biblia. O principio de voltar a outra face, referida em Matens 5.39-40, diz respeito as ofensas pessoais e aos atos de perseguicao por amor a Cristo, e nao a todos os tipos de ataques criminosos. Nos casos normais, quando uma pessoa esta resistindo As ameacas ilicitas a propriedade, a integridade fisica ou a vida, o emprego da forca, na medida apropriada, é perfeitamente licito, segundo os principios biblicos — Neemias 4.14. Obviamente, os crentes que 60 A GUERRA PEELS VERUADE 840 policiais, soldados ou outros agentes devidamente autorizados pelo governo devem estar dispostos a empregar forca letal, quando necessdrio, como parte de seu dever para com o governo civil Em passagem alyuma das Escrituras bd apoio para qualquer tipo de pacifismo absoluto. A questao é que a igreja, coma um corpo, e os cristdos, agindo em nome de Cristv, nunca tem o direito de empreyar a forga para atin- gir qualquer propdsito relacionado 4 obra de promover 0 reino de Cristo na terra. A guerra pela verdade nao tem qualquer relacao com a guerra carnal ou com a violéncia fisica. Nas palavras de Charles Spurgeon: “Se a igreja de Deus lancasse mao da forga, isso seria totalmente contrario ao espirito do cristianismo. Se um ministra do evangelho se tornasse um soldado ou empregasse o braco secular [da forca militar], isso pareceria o proprio auge da contradigdo”.? Sem diwida, episddios tragirns de guerras, cruzadas e inquisi- des foram realizados em nome de Cristo e, as vezes, até debaixo da autoridade direta de instituigdes eclesidsticas. Todos esses aconteci- mentas foram injustos e ndo poderiam ser justificados com base em qualquer preceito biblico. Além disso, foram um completo desastre do ponte de vista do verdadeiro ministério da igreja. As vezes, essas guerras e violéncias acorrem quando a igreja esta totalmente corrompida pela cultura. Essa situacdo é especialmente verdadeira no caso do militarismo religioso visto ocasionalmente nos tempos hizantinos e medievais. Em outras ocasides, a confusdo a respeito do relacionamento entre a igreja e o estado tem outorgado poderesa alguns lideres politicos demasiadamente zelosos ou a comandantes militares mal orientados, que pensavam que poderiam travar uma guerra santa em nome de Cristo. Essa confusao foi um problema sério, por exemplo, durante a Revolugao Inglesa. A conduta das cam- panhas militares de Cromwell subverteu, sem duvida, a verdadeira 2. SPURGEON, Charles. The Metropolitan Tabernacle Pulpit. London: Passmore & Alabaster. 1879. v. 25. p. 265. GUERRA ESPIRITL AL al piedade e influéncia do movimento puritano. E, em nome da preser- vacao da liberdade religiosa na Escécia, os Pactuarios retaliaram a brutalidade inglesa, matando varios cidad3os ingleses. A Biblia afirma, de modo categérico, que a guerra pela verda- de é uma guerra completamente diferente, travada com um tipo diferente de armas ¢ cujos objetivos sdo totalmente diferentes. “A nossa luta nao é contra o sangue e a carne” (Ef 6.12). “Nao militamos segundo a carne. Porque as armas da nossa milicia nao s4o carnais” (2 Co 10.3, 4). Todas as men¢ées de armas espirituais no Novo Testamento deixam esse [ato perfeitamente claro. Us instrumentos de nossa guerra ndo sia aqueles que poderiam ser forjados em qualquer bigorna terrestre. As nossas imicas armas ofensivas so “a palavra da ver- dade” ¢ “o poder de Deus”; e as “armas da justica” sao a nossa dnica armadura de defesa (2 Co 6.7). Em Jodo 18.36, Jesus disse a Pilatos: “O meu reino nao é deste mun- do. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus ministros se empenhariam por mim”. Observe cuidadosamente, outra vez: nosso Senhor nao estava propondo o pacifismo total. Se o reino de Jesus fosse uma instituigdo terrena, A GUERRA PELA VERDADE NAO £ UMA GUERRA CARNAL. NAO & UM CONELITO POR TERRITORIOS E NAGOES, NAO E UMA BATALHA POR TERRAS E CIDADES. NAO E UMA GUERRA ENTRE CLAS OU UM CONPLITO DE PERSONALIDADES ENTRE INDIVIDUOS. NAO E UMA LUTA POR INFLUENCIA ENTRE DENOMINAGOES RELIGIOSAS. NAo E UM PEQUENO COMBATE POR BENS MATERIAIS, E UMA BATALHA PELA VERDADE. Ele disse, seus servos realmente lutariam. Aqueles que ensinam que a violéncia, em si, ¢ injustificdvel, em toda e qualquer circunstancia, entenderam mal o ensino das Escrituras. De fato, Romanos 13.1- 4 outorga expressamente aos governos a antoridade de manejar oe A Gireksa PELY Vigbare a cspada, a fim de castigar os malfcitores, defender a seguranga nacional e manter a paz civil. O que estou ressaltando é que a permissdo para empregar a forca fisica nunca é outorgada a igreja; porque o povo de Deus, cor- porativamente, tem um tipo diferente — e bem mais importante -— de guerra a travar. A guerra pela verdade nao é uma guerra car- nal. Nao é um conflito por territérios e nacdes. Nao é uma batalha por terras e cidades. Nao ¢ uma guerra entre clas ou um conflito de personalidades entre individuos. Nao é uma luta por influéncia entre denominagées religiosas. Nao é um pequeno combate por bens materiais. uma batalha pela verdade. E uma guerra a respeito de idéias. E um conflito pelo dominio da mente, uma batalha contra falsas doutrinas, ideologias perniciosas e crencas erréneas. E uma guerra pela verdade. Paulo deixa isso claro em 2 Corintios 10.4, 5. Nessa passagem, ele define o objetivo final da guerra pela verdade: “Anulando nés sofismas e toda altivez que se levante contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo pensamento a obediéncia de Cristo”. 0 campo de batalha é a mente; o alvo é 0 triunfo absoluto da verdade; os inestimaveis despojos da conquista sao as almas resyatadas da escravidao ao pecado; o resultado é nossa submissdo voluntaria a Cristo; o prémio supremo é a honra atribuida a Ele como Senhor; ea vitéria final é totalmente dEle. POR QUE A VERDADE E TAQ VITAL? Hoje em dia, ouco, com uma freqiiéncia cada vez maior, as pessoas dizerem coisas como: “Ora, néo vamos discutir a yespeito daquilu que cremos. B apenas doutriua, Eu vez disso, focalizemos v modo como vivemos. O exemplo de Jesus certamente é mais impor- tante do que nossos argumentos a respeito das palavras de Jesus Deixemos de lado nossa discérdia a respeito de credos e dogmas e, em vez disso, dediquemo-nos a demonstrar o amor de Cristo pela GUERRA FSPIREUAL os maneira de conduzirmos nossa vida”. Muitas pessoas, em nossos dias, acham atraente essa sugestio; que superficialmente, parece cordial, gencrosa, modesta e altruista. Mas essa opinido é, em si mesma, uma violacao grave do “exemplo de Jesus”, que ensinou que a salvacdo depende de ouvirmos ¢ crermos em sua Palavra (Jo 5.24), Jesus disse: “As palavras que eu vos tenho dito sao espirito ¢ sdo vida” (Jo 6.63). Aqueles que duvidavam das afirmacées de Jesus concernentes a verdade, Ele respondeu: “Se nao crerdes que Eu Sou, morrereis nos vossos pecados” (Jo 8.24). Ele nunca deixou yualquer indfcio para que alguém imaginasse que o contetido proposicional dos seus ensinos é opcional, enquanto imi- tamos o seu comportamento. De fato, o Nove Testamento ressalta o contrario, de modo bem consistente. Um unico principio vital no tocante 4 nossa redencio do pecado destrdi todo esse argumento: a £6, e néo as obras, 6 0 Unico instrumento para a justificagdo (G] 2.16: Ef 2.8-9). Em outras palavras, o que cremos, endo 0 que fazemos, 6 0 que assegura nossa po- sicdo como justos diante de Deus — pois nos apropriamos da justica que nos justifica, somente pela {é, e ndo pelas nossas obras (Rm 4.5). Em Romanos 9.31-32, Paulo disse que “Israel, que buscava a lei de justica, nao chegou a atingir essa lei, Por qué? Porque no decorreu da fé, e sim como que das ubras”, Em outras palavras, por mais meticulosos que os israelitas tenham sido na sua observancia externa da lei de Neus, sua incredulidade foi suficiente para exclut-los do reino. “Porquanto, desconhecendy a justica de Deus e procurando estabelecer a sua prépria, ndo se sujeitaram A que vem de Deus. Porque o fim da lei é Cristo, para justica de todo aquele que cré” (Rm 10.3-4). Duvidavam da verdade de Cristo, e isso se revelou espiri- tualmente fatal, apesar de haverem aperfeicoado sua demonstracao externa de piedade. Note que Paulo disse expressamente que eles buscavam a jus- tiga. Mas a buscavam nos lugares errados. Visto que se apegavam as crencas err6neas a respeito da retidao que Deus requer e rejeitavam od A GUERRA PEELS VeRDADE ajustiga que Cristo poderia ter Ihes dado, foram condenados eterna- mente. Seu fracasso consistia, em primeiro lugar, num erro a respei- to de um artigo vital da fé, e ndo num mero defeito em sua pratica. Todo o seu sistema de crencas estava errado, e nado meramente 0 seu comportamento. A incredulidade bastou para condena-los, indepen- dentemente de como eles agiam. Sugerir que aquilo cm que as pessoas créem realmente nao é muito importante, desde que estejam se sentindo espirituais e fazendo o bem, nao é cordialidade alguma, e sim a pior forma de crueldade. Na verdade, diante desse fato, casa afirmacéo é uma contradicao prepotente da mensagem do evangelho. Além disso, a justica verdadeira simplesmente nao pode existir, isoladamente, sem a crenga na verdade. Se alguém quiser defender qualquer conceito de “bem pratico”, que subsista a parte da sa dou- trina, precisara remover da definicao do bem quase tudo que é verda- deiramente justo. Naturalmente, nio demora muito tempo para que esse tipo de pensamento mine os alicerces do préprio cristianismo. Brian McLaren, por exemplo, chega ao ponto de sugerir que os seguidores de outras religides também podem ser seguidores de Cristo, em termos prdticos, sem deixarem as outras religioes ou se identificarem com o cristianismo. Ele diz: “Nao acredito que fazer discfpulos seja equivalente a fazer adeptos da religido crista. Talvez, seja aconselhavel, em muitas circunstancias (ndo em todas!), ajudar as pessoas a se tornarem seguidores de Jesus e a permanecerem no seu contexto budista, hinduista ou judaico”.> McLaren esta liderando a passeata daqueles que parecem n4o achar que as crencas erréneas, a supersticdo, a falsa religido e os falsos deuses sao males dos quais as pessoas precisam ser libertadas. Em vez disso, ele sugere que até as (alsas religides podem, em dtima andlise, ser passiveis de serem resgatadas: 3. MCLAREN, Brian. A Generous Orthodoxy. Grand Rapids: Zondervan, 2004. p. 260. GUERRA ESPIRITUAL 13 Embora eu nav espere que todos os budistas se tornem cris- taos (culturais), espero realmente que todos quantos se sintam assim chamados se tornem seguidores budistas de Jesus. Creia que devemos dar-lhes essa npartunidade e convite. Nao espero que todos os judeus ou hindus se tornem membros da religido crista. Mas espero que tudus quantos se sintam assim chamados tornem-se seguidores judaizantes ou hinduistas de Jesus. Espero que, no fim, Jesus salve o budismo, o islamismo e todas as demais religies, inclusive a religiéo cristé que, freqiientemente, parece estar precisando de salvagéo, cumu qualquer outra religido (nesse vuntexto, desejo mesmo que todos us cristdos se tornem seguidores de Jesus, mas talvez isso seja pedir demais. Afinal de contas, eu mesmo ndo estou sendo bem- sucedido nisso).* O ponto de partida légico do livro de McLaren, Uma Ortodoxia Generosa, ¢a sua crenga de que as distingdes doutrinarias s4o de valor “secundario”® Uma dubiedade pés moderna previsivel parece influen- ciar o modo como McLaren aborda quase todas as reivindicagées obje- tivas da verdade — é um ceticismo que se estende até A autoridade das Escrituras. McLaren escreve como sc a ortopraxia (a retidao pratica) fosse aquilu que mais importa. Por meio de seu livro, chegamos a ter a impressdo de que McLaren acha que o comportamento correto sobre- puja automaticamente a crenga correcta. Quando McLaren finalmente oferece uma descricio do que a ortodoxia significa para ele, mesmo essa descri¢do acaba se referindo 4 maneira “como procuramos um tipo de verdade”,® e n3o a prépria verdade. Apesar de sua notdvel preferéncia pela ambigiidade, McLaren se mostra surpreendentemente franco em sua perspectiva a esse respeito. Fle acredita que tanto a metodologia da igreja quanto a 4. Ibid. p. 264. 5. Ibid. p. 32 6. Ibid. p. 28. bo) A GUIKRA PELA VE RR ADT mensagem cristA precisam estar em fluxo constante. “Nossa men sagem e metodologia ja mudaram, continuam mudando e devem mudar, se formas fiéis 4 misséo permanente e imutavel de Jesus Cristo,’ McLaren diz que a mensagem muda “nao porque nos en- ganamos e agora estamos mais prdximos de finalmente ‘entendé-la corretamente’””, e sim porque o “contexto” da cultura em que vivemos é dindmico. Enfim, devemos manter-nos atualizados nestes tempos pés-modernos. ; Observe, McLaren reconhece que uma mensagem que esta sempre em mudanga nao leva ninguém para mais perto de “entendé- la corretamente”; mas ele nao esta nem um pouco preocupado com isso. Em tltima andlise, Mclaren diz “entender corretamente’ nao é o fator mais importante; o mais importante é ‘ser bom e praticar 0 bem’, como seguidores de Jesus em nosso tempo e lugar especificos, encaixando-nos na historia continua do amor salvifico de Deus pelo planeta Terra”.* Tudo isso é um exemplo tipico daquilo que a pers- pectiva pés-moderna afirma. Mas o que deve ser notado aqui é que, no sistema de McLaren, a ortodoxia realmente é uma questdo de pratica e n4o de crengas verdadeiras. Embora reconheca que essa idéia seja “escandalosa’”, apesar disso, ele a afirma como a mensagem central de seu lito.” Francamente, é dificil ver essa perspectiva de outra maneira, sendo como a velha e familiar incredulidade, arraigada numa re} ensinos claros das Escrituras. McLaren elevou as boas obras do pré- prio pecador acima da importancia da fé fundamentada na verdade do evangelho. Nao devermos admirar que ele sinta grande alinidade com budistas e hinduistas. No final das contas, muitas das idéias dele a respeito do papel da retidao e das boas obras na cristianismo nav diferem {undamentalmente das idéias dessas religides. 7. Ibid. p.191. 8. Ibid. p. 192. 9. tbid. p. 30. GUERKA ESPIRTEUAL co E deveinos ter em mente que, na propria hierarquia moral de McLaren, um dos valores mais elevados (ou mesmo a virtude su prema, por meio da qual todas as outras sao medidas) 6 uma nocao particular de “humildade”, a saber: a espécie de humildade padrao do pés-modernismo, que comeca com a suposi¢aa de que a certeza, a confianca e as conviccées ousadas sio arrogantes , portanto, erradas. Assim, as ramificacbes da énfase constante de McLaren em relacao a pratica do que é correto, sem uma énfase semelhante na crenga do que é correto, acabam se revclando profundas, “A prética correcta”, segundo sua definicao, come¢a com o abandono de toda certeza a respeito da “crenca correta’. Obtemos a nitida impressio de que a verdade objetiva e Proposicional significa tay pouco para McLaren, que ele julgaria que um hindu liberal, que sempre procura falar de modo positivo e tolerante a respeito das crencas dos outros, é um “cristéo” melhor do que o pregador que critica abertamente outra pessoa, por ela ensinar um ponto de vista erréneo a respeito da lei e do evangelho. Fica claro que semelhante conceito faria do apéstolo Paulo um mau cristao (Gl 1.8-9) — e, de Jesus, alguém ainda pior (Mt 23). Ninguém, exceto o hipdcrita mais grosseiro, chegaria a sugerir que a maneira como agimos é totalmente irrelevante, se concordar- mos com os credos e cunfissées corretos, Apesar disso, McLaren inicia seu livro com um sarcasmo desse tipo. Ele alega que “diversas ortodoxias tém admitido, sempre e em todos os lugares, que a orto- doxia (pensamentos ¢ opinides corretos a respeito do evangelho) ea ortopraxia (a pratica correta do evangelho) poderiam e deveriam ser separadas, para que uma pessoa pudesse, pelo menos, orgulhar-se de conquistar uma nota “10” na ortodoxia, embora obtivesse um “2” na ortopraxia que, alids, é uma matéria opcional”2” Na realidade, nenhim cristao verdadeiro, em lugar algun do mundo, chegou a defender deliberadamente tal conceito distorcido 10. Ibid. 08 A GUERRA PELA VEKTADE de ortodoxia. As Escrituras sao bem claras: “Assim como 0 corpo sem espirito é morto, assim também a fé sem obras é morta” (Tg 2.26). Um conceito elevado da ortodoxia nao pode anular, nem subverter a imporLaacia da ortopraxia. [sso talvez acontega, se vocé partir da pressuposicdo de que a certeza e as fortes conviccoes sempre sdo erradas, e de que os argumentos a respeito do verdadeiro valor das proposicdes sempre sao arrogantes. Mas, com toda a certeza, a partir de uma perspectiva biblica, podemos reconhecer a veracidade de Tiago 2, A ORTODOXIA BIDLICA ABRANGE A ORTOPRAXIA. TANTO A DOUTRINA sem desconsiderar imediatamente a sa doutrina e a certeza estabelecida. A ortodoxia biblica abrange a ortopraxia. Tanto a doutrina correta CORRETA COMO O . como o viver correto s40 absolutamen- VIVER CORRETO SAO te essenciais e totalmente inseparaveis NTE . 5 ABSOLOTAME para o verdadeiro filho de Deus. Esse é ESSENCIAIS E : . — o ensino consistente do proprio CrisLu. TOTALMENTE “Se vos permanecerdes na minha palavra, sois verdadeiramente meus discipulos; e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertara” (Jo 8.31-32). Além_ disso, as Eserituras realmente ensinam, com clareza e coeréncia, a primazia da crenca INSEPARAVEIS PARA O VERDADELRO FILHO pe Devs. ESsk RO ENSINO CONSISTENTE DO PROPRIO CRISTO. correta como 0 alicerce para o comportamento correto. Em outras palavras, o viver na retidao é apropriadamente visto come fruto da fé auténtica, e nunca, o inverso. As acées piedosas, destituidas de qualquer amor verdadciro pela verdade, nem mesmo fazem parte de uma ortopraxia genuina. Pelo contrério, sao a piur [urma de justica propria hipdcrita. Portanto, vale a pena lutar em favor da verdade. Conforme ja vimos, essa é a tnica coisa neste mundo em favor da qual a igreja deve lutar. Se perdermos essa luta, todas as demais coisas sero perdidas. GUERRA ESPIRCIUAL oO £ bvio, para as pessvas mais sensatas, que nem todos os aspectos da verdade tém a mesma importancia e que nem toda divergéncia minima de opiniado precisa ser debatida com o mesmo fervor. Na realidade, um dos aspecius mais importantes em toda a questao da guerra espiritual é a questa sobre o que é insignificante e pelo que vale a pena lutar. Tratei dessa quest4o, pormenorizada- mente, ha mais de uma década, num livro chamado Reckless Faith (Fé Indiferente)." Esse é um ponto que merece uma consideracdo mais cuidadosa do que a maioria dos cristéos, evidentemente, se dispée a dedicar lhe. Brian McLaren, no entanto, pula essa parte do debate, visto que uma das suas pressuposicées fundamentais 6 que nao existe, realmente, no &mbito da verdade propusicional muita coisa pelo que valha a pena lutarmos. Ele apresenta uma afirmacio limitada do Credo Apostdlico e do Credo Niceno. E insinua repetidas vezcs que, uma vez assimilados esses dois credos da antiguidade, as tinicas questGes em jogo sao meros “distintivos denominacionais” e triviali- dades doutrinarias, que devem ser, tados, relegados a uma categoria “secundaria”? Isso simplesmente nao é uma avaliacio honesta do que esta acontecendo na guerra pela verdade hoje. Os principais campos de batalha — as idéias que o préprio McLaren alaca na maior parte de seu livro — sao a objetividade e cognoscibilidade da verdade, confor- me ela é revelada na Palavra de Deus. Portanto, 0 que realmente esta €m Jogo sdo as mesmas verdades que a serpente procurou subverter, quando perguntou a Eva: “E assim que Deus disse...?” (Gn 3.1). Sao as mesmissimas verdades que sempre estiveram no nucleo da guerra pela verdade — a inspiracio, a autoridade, a inerrancia, a suficiéncia ea clareza das Escrituras — além de varios aspectos essenciais da 11. McARTHUR, John. Reckless Faith: when the church loses its will to discern. Wheaton: Crossway, 1994. 12, MCLAREN, Brian. A Generous Orthodoxy. p. 32. ™ A GHERRA PES VERDALE miensagem do evangelho. Com certeza, essas sfo questées que néo podem ser eliminadas num so gesto, abandonadas ou menospreza- das como secundarias, em nome de uma no¢ao pervertida de amor e de humildade. Quando meditamos a respcito de quo grande parte da mensagem crista é subvertida pelas nocées pos-modernas a respeito da verdade, percebemos que as controvérsias atuais sdo infinitamente mais graves do que McLaren quer fingir que elas sao. Quando percebemos que nenhuma dessas questées € mencio- nada nos dois credos referidos por McLaren (porque essas doutrinas nem sequer foram desafiadas com seriedade pelos hereges antigos que receberam esses credos como resposta), imediatamente, deve ficar 6bvio que existem varias doutrinas cruciais que sao dignas de que as defendamos, além das poucas que so catalogadas em alguns dos credos mais antigos da cristandade. A maioria dos cristaos, no decurso de toda a Historia, tem entendido que vale a pena até morrer pela verdade do evangelho. Francamente, é dificil entender como uma pessoa que percebe a verdade segundo uma perspectiva pos- moderna poderia comegar a entender a raza por detras desse fato. A verdade — inclusive os fatos histéricos, a certeza e as propo- sicdes objetivas, distintas, conheciveis e autoritarias, que exigem ser aceitos como verdadeiros — é um conceito essencial para o cristia- nismo auténtico. Todos os demais aspectos da experiéncia religiosa brotam da verdade na qual cremos e server apenas cum expresses dessa experiéncia. Se for removido o fandamento da verdade, tudo o que restard é o sentimento religioso flutuante. Lembre-se: o apdstolo Paulo chamou a igreja de “coluna e baluarte da verdade” (1 Tm 3.15). E nosso dever sustentar a verda- de e brandir a espada da Palavra de Deus contra toda especulagan humana e toda hipdétese mundana que se levante contra o comhe- cimento de Deus. A luta continuara até que todos os pensamentos sejam levados cativos a obediéncia de Cristo (2 Ca 10.5). A igreja tem de prosseguir nessa luta e, se os lideres eclesidsticos nao estiverem dando o exemplo, entao, n4o est&o sendo fi¢is a sua vocagdo. GUERRA FSPIRTITUAT. ~ POR QUE A APOSTASIA F UMA AMEACA TAO GRANDE? Desde aquele dia, no Jardim, quando a serpente tenton Eva, 0 diaba tem atacado implacavelmente a verdade, usando mentiras € as mesmas estralégias, repetidas vezes, a fim de semear divida e incredulidade na mente humana. “Nao the ignoramos os desi ignios” (2 Co 2.11) A forma da dialética maligna do diabo raramente muda. Ele questiona a verdade que Deus tem revelado (“E assim que Deus disse: Nao comereis de toda 4rvore do jardim?” ~ Gn 3.1), Em seguida, ele contradiz o que Deus disse (“E certo que nao morrereis” - v. 4). Finalmente, ele inventa uma versdo alternutiva da “ver- dade” (“Deus sabe que no dia em que dele comerdes se vos abrir3o os olhos c, como Deus, sereis conhiecedores do bem e do mal” - v. 5). Geralmente, 0 credo alternativo do diabo contém al- guns clementos da verdade, esculhidos com cuidado — mas sempre diluidos e totalmente misturados com falsidades, contradicées, deturpagdes, disturgdes e qualquer outra perversdo imagindvel da verdade. E, somando tudo isso, o resultado final é uma grande mentiza. Além disso, ao promover sua desonestidade, Satanas emprega todos os agentes que ele pode iludi: e transformar em seus comparsas — deménios, incrédulos e (com maior eficacia) pessoas que, de algum modo, O CREDO ALTERNATIVO DO DIABO CONTEM ALGUNS ELEMENTOS DA VERDADE, ESCOLHIDOS COM CUIDADO — Mas SEMPRE DILUIDOS & TUTALMENTE MISTURADOS COM BALSIDADES, CONTRADICOES, DETURPACOES, DISTORGOES £ QUALQUER OUTRA PERVEKSAO IMAGINAVEL DA VERDANE. E, SOMANDO TUDO ISSO, © RESULTADO FINAL £ UMA GRANDE MENTIRA 72 A GHERRS PFLS Ver bane tém realmente uma associac¢do com a verdade ou, pior ainda, mera- mente fingem ser agentes da verdade e anjos de luz. Essa estratégia, conforme notamos no capitulo 1, 6 uma das prediletas de Satanas, provada uo decorrer dus séculus (2 Cu 11.13-15). Isso j4 acontecia, em grande escala, quando a igreja ainda estava em sua infancia. Depois de passar trés anos fundando a igreja em Efeso ¢ ensinando-a com diligéncia, Paulo advertiu os presbite- ros daquela nova congregaco a respeito daquilo que ele sabia que aconteceria, tao logo seguisse adiante: “Rut sei que, depois da minha partida, entre vés penetrarao lobos vorazes, que nado pouparao o rebanho. E que, dentre vds mesmos, se levantarao homens falando coisas pervertidas para arrastar os discipulos atrAs deles. Portanto, vigiai, lembrando-vos de que, por trés anos, noite e dia, nao cessei de admoestar, com lagrimas, a cada um’ (At 20.29-31). A ameaca priméria que preocupava Paulo viria de dentro da propria igreja — até mesmo dentre os presbiteros da igreja. Paulo estava falando profeticamente; por essa raz4o, usa um tom de cer- teza absoluta: “Eu sei”... Deus lhe revelara que um ataque contra a verdade surgiria no Ambito da lideranga da propria igreja, e que as pessoas seriam desviadas da fé, E foi isso o que aconteceu. No final do primeiro século, quando o apdstolo Joao escreveu Apocalipse, a mensagem de Cristo a igreja em Efeso incluiu um elogio aquela igreja: “Puseste 4 prova os que a si mesmos se declaram apéstolos e nao s4o, e os achaste mentirosos” (Ap 2.2). No mesmo contexto, Cristo condenou “as obras do nicola- itas” (v. 6). Os nicolaitas eram uma seita perigosa e podem ter sido os préprios “lobos” contra os quais Paulo advertiu aqucles crentes na famosa adverténcia profética de Atos 20. Se isso for verdade, os ensinos desse grupo podem ter sido originados por um ou mais dos primeiros presbiteros da igreja de Efeso. Algumas fontes antigas, inclusive Ireneu, em meados do século II, identificaram a seita com “Nicolau, um prosélito da Antioquia”, que foi nomeado, conforme GUERRA ESPIRITUAL 73 Atos 6.5, para uma posicdo de lideranca na igreja de Jerusalém. NAo existe uma comprovacio nitida a respeito dessa identificacao, mas existe uma quantidade consideravel de evidéncias de que o uicolaismo foi realmente gerado e incubado por homens que tinham alcancado posicao como lideres na igreja. Parece que os nicolaitas, ao serem rejeitados em Ffeso, mudaram-se para uma igreja estabelecida na cidade de Pérgamo, nao distante dali, onde conquistaram seguidores. A mensagem de Cristo 4 igreja de Pérgamo, em Apocalipse 2.12-17, 6 quase total- mente dedicada a repreensao, porque aquela igreja acolhera os que sustentavam “a doutrina dos nicolaitas” (v. 15). Qual era essa doutrina? No versiculo 14, ela é descrita como um tip de licenciosidade radical: “lens ai os que sustentam a dou- trina de Balado, o qual ensinava a Balaque a armar ciladas diante doa filhos de Israel para comerem coisas sacrificadas avs idolos ¢ prati- carem a prostitui¢do”. Eles estavam usando a liberdade crista como um pretexto para o pecado e uma oportunidade para dar ocasiao A carne (G1 5.13; 1 Pe 2.16). Esse foi, evidentemente, o mesmo tipo de erro ao qual Judas se dirigiu, ao escrever sua epistola, pois se referiu aos falsos mestres, ans quais se opunha, como “homens impios, que Lansformam em libertinagein a graca de nosso Deus” Ud 4), e declarou que eles, “movidos de ganancia, se precipitaram no erro de Balaao” (v.11). O comportamento licencioso e a cobica eram as caractertsticas marcantes de todas as formas de gnosticismo. Tratava-se de um tipo de religido falsa que floresceu no século II e que freqientemente se infiltrava na igreja. O nicolaismo possui muitas das marcas das formas posterivres de gnosticismo e parece ser uma das expressdes mais antigas da tendéncia gnéstica na igreja primitiva. E claro que doutrinas semelhantes j4 haviam se infiltrado na igreja e cumegado a se arraigar, quando Judas escreveu sua epistola. No capitulo 4, examinaremos a heresia gndstica mais detalha- damente. Por enquanto, observe apenas que o objetivo da Epistola t A GUERRS PELA VERbAbE de Judas é confrontar esse tipo de erro e encorajar os crentes a lutarem pela fé verdadeira. Note, também, que Judas nao desperdica uma linguagem requintada, nem emprega declaracSes suaves em sua avaliacao dos apéstatas de seus dias. O didlogo amigavel cum eles nao fazia parte de seu plano para lidar com a heresia (veja também 2Jo 7-1). Apostasia 6 o termo técnico que descreve a heresia prave e destruidora de almas, que surge dentro da igreja. Ela provém da palavra grega apostasia, que ocorre em 2 Tessalonicenses 2.3, que, em portugués, apresenta sua forma homOnima “apostasia’. Essa palavra esta estreitamente relacionada com a palavra grega que significa “divércio”. Fala de abandono, de uma separac4o, de uma desercio — da abdicagao total da verdade. O crist4o genuino pode desviar-se da fé e tornar-se um apds- tata? Nao. As Escrituras deixam isso bem claro. Aqueles que real- tnente se afastatn da {é, assim como Judas Iscariotes, simplesmente demonstram que nunca tiveram fé verdadeira. “Eles sairam de nosso meio; entretanto, ndo eram das nossos; parque, se tivessem sido dos nossus, lerium permanecide conosco, todavia, eles se foram para que ficasse manifesto que nenhum deles é dos nossos” (1 Jo 2.19, énfase acrescentada). “Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerao, e ninguém as arrebatara da minha mao. Aquilo que meu Pai me deu é maior do que tudo; e da mao do Pai ninguém pode arrebatar” (Jo 10.28-29). No entanto, existem muitos apdstatas. Desde os tempos de Judas Iscariotes, tem havido pessoas que professam a fé em Cristo e se identificam como disripulos, mas nunca abracam a verdade de modo genuino. Talvez compreendam a verdade. Talvez até pareca que a seguem, com entusiasmo, durante algum tempo. Podem identificar-se com uma igreja e, portanto, tornarem-se parte ativa e integral da comunidade crista neste mundo. As vezes, cles até sc tornam lideres numa igreja. Mas nunca créem realmente na verdade com um coracao integro. Assim como 0 joio entre o trigo, eles tem GUPRRA ESPIRTTUAL 3 uma aparéncia de autenticidade durante algum tempo, mas sao incapazes de produzir qualquer fruto ntil (Mt 13.24-30). O apéstata é, portanto, um desertor da verdade — alyuém que conheceu a verdade, demonstrou concordar com elae, talvez a tenha proclamado durante algum tempo — mas, por fim, rejeitou-a. O apéstata tipico pode continuar fingindo que cré na verdade e que a proclama; mas, na realidade, ele se ope a verdade e a subverte. Ele é um traidor da fé e, secretamente, um inimigo na guerra pela verdade. Contudo, cle quer que todos pensem o contrario. A maiuria dos apéstatas procura permanecer na igreja e, de modo ativo, busca aceita¢do entre o povo de Deus. Visto que tudo quanto eles fazem subverte a fé e corrompe a verdade, eles séo um grave perigo paraa satide do rebanho — embora usualmente facam tudo o que é possivel a fim de parecerem amaveis, agradaveis e piedosas. Por isso Jesus os comparou com lobos roubadores, disfarcados em ovelhas (Mt 7.15). Alguns apéstatas sao ousados e agressivos, e sem rodeios em sua oposicdo 4 verdade; porém, a maioria deles 6 mais sutil Independentemente de qudo amévcis, benignos ou modestos eles parecam ser, esses lobos disfarcados em ovelhas sao invariavelmente impulsionados por motivos malignos e de engrandecimento pessoal — tais como a soberba, a rebeldia, a cobica, a concupiscéncia, etc (2 Pe 2.10-19). Isso nao é uma sugestao de que eles sempre saibam muito bem que séo apéstatas. Muitos deles ficam tao obcecados por desejos malignos, que realmente imaginam que estio servindo a Cristo, quando, na realidade, estao se opondo a Ele (Jo 16.2). Outros talvez comecem com intencdes realmente boas, mas nunca passam da duplicidade. Sao como sementes que brotam em solo raso ou repleto de ervas daninhas. Frequentemente, revelam sinais prodigiosos de vida durante algum tempo. Mas, no fim, a sua prépria superficialidade ou mundanismo torna impossivel que a Palavra de Deus crie raizes neles (Mt 13,20-22), A despeito de qual- quer aparéncia temporaria de vida espiritual que possam evidenciar, s4a incapazes de produzir frutos verdadeiros e acabam apostatando. 6 A GUEBRA PRLA Veruant Nao deixe que a aparéncia tempordria de saude e vigor espirituais, mostrada no inicio, o engane. Quando essa pessoa abandona a fé, comprova que nunca foi regenerada e crente — continua morta em delitus ¢ pecados. A apostasia pode ter efeitos desastrosos e abrangentes na satide espiritual de toda uma igreja. Quando as falsas doutrinas nio sdo combatidas, geram mais confusdo e atraem mais pessoas superficiais e insinceras para dentro do aprisco. Sea apostasia nao for resistida com vigor, ela se propagara como fermento por meio dos seminarios, das denomina- Ges, das agéncias missiondrias e de outras instituices cristas. A falsa dou- trina ataca a igreja como um parasita, afetandv nosso testemunhe coletivo, QUANDO AS FALSAS DOUTRINAS NAO SAO COMBATIDAS, GERAM MAIS CONFUSAO E ATRAEM MAIS PESSOAS SUPERFICIAIS E INSINCERAS PARA DENTRO DO APRISCO. imunizando as pessoas contra a ver- dade genuina do evangelho, fazendo proliferar “discipulos” falsos e insinceros, enchendo a igreja com pessuas que, na realidade, so incrédulas. Servindo-se desses meios, a apostasia tem conquistado igrejas e denominacées De fato, isso ja aconteceu, intmeras vezes, em Luda a historia da igreja. ‘lem acontecido especialmente, em grande escala, nestes Ultimos 150 anos, onde quer que se propaguem o modernismo, o liberalismo teoldgico, a neo-ortodoxia, a “teologia de prucessv” e uma hoste de idéias semelhantes. Denominacées inteiras (incluindo muitas daquelas que, no passado, proclamavam com clareza 0 evan- gelho) foram deixadas em faléncia espiritual porque a heresia e a incredulidade foram toleradas, ao invés de combatidas. Obviamente, a causa da verdade 4 lesada quando isso acontece. As pessoas que abracam a apostasia sao destruidas por ela. As igrejas murcham e morrem por causa da apostasia. Considere o tato de que, j4 no final do primeiro século, quando o apédstolo Jodo escreven GUERRA ESPIRITEAT TF Apocalipse 2-3, cinco das sete igrejas da Asia Menor estavam come- sando a se desviar da fé ou ja eram apéstatas (Sardes ja era apéstata, ¢ Laodicéia estava cambaleando no precipicio da rejeicao final), A mensagem central de Cristo a todas aquelas igrejas, exceto duas, incluia a ordem para lidar com os apdstatas que estavam em seu meio. A batalha pela verdade na igreja sempre foi um conflito muito, muito dificil, mas necessario. POR QUE © MOVIMENTO EVANGELICO ESTA COM PROBLEMAS HOJE? A apostasia apresenta perigos reais e presentes, tanto hoje como sempre. Na verdade, a ameaca talvez seja mais iminente e pe- tigosa do que antes, visto que, em nossos dias, a maioria dos cristaos nao se importa com o predominio da [alsa doutrina, nem leva a sério seu dever de lutar contra a apostasia. Pelo contrario, desejam um ambiente amigavel de aceitacaa aberta para todos, de tolerincia de idéias opostas c de didlogo cordial com os apdstatas. Historicamente, o evangelicalismo, como movimento, tem se mantido contra essa maneira indiferente de lidar com doutrinas biblicas importantes — como se a propria verdade fosse maleavel. O distintivo fundamental dos evangélicos costumava ser o seu com- promisso com a pureza do evangelho. Esse compromisso é refletido na propria palavra evangélico (derivada da palavra grega traduzida por “evangelho"). William Tyndale toi um dos primeiros a empregar a expressao, ao falar sobre a “verdade evangélica” como sinénimo do evangelho. E o movimento evangélico sempre Lem considerado o evangelho como o amago e 0 alicerce de toda a verdade. Desde a Reforma Protestante, esse termo tem sido usado, historicamente, para significar um segmento especificu do protes- lantismo conservador, no qual algumas doutrinas fundamentais do evangelho sao consideradas absolutamente essenciais ao cristianis- mo auténtico. Esses distintivos cvangélicos inegociaveis incluem a “S A GbeRRS PEELS VERDE dyutrina da justificagao pela fé, o principio da expiagau vicaria, a autoridade absoluta ¢ a perfeita suficiéncia das Escrituras. claro que, necessariamente implicitas e incluidas nessa lista breve, estao outras doutrinas vitais, inclusive a da divindade de Cristo, de seu nascimento virginal e de sua ressurreic¢do corporal. Além disso, 0 evangelicalismo sempre negou expressamente que boas obras ou ordenangas possuam qualquer mérito diante de Deus, Q MOVIMENTO EVANGELICO JA NAO E Mais TAO EVANGELICO. O LIDER EVANGELICO TIPICO DE NOSsOS DIAS TEM MUITO MAIS PROBABILIDADE DE EXPRESSAR INDIGNACAO CONTRA ALGUEM QUE EXIJA CLAREZA E EXATIDAO DOUTRINARIA, DO QUE DE SE OPOR AUM FALSO EVANGELICO QUE BESTA ATACANDO ATIVAMENTE ALGUMA VERDADE BIBLICA VITAL. ou qualquer eficacia instrumental para a justificacdo. Portanto, no evangelicalismo histdrica a énfase € colocada, de modo apropriado, na primazia da fé sobre as obras. Os evangélicns sempre resistiram A pressdo para enaltecer as boas obras acima da sa doutrina e insistiram em que as obras verdadeiramente boas sao fruto da fé, e nunca um substituto valido da fé. No entanto, o movimento evangélico nado é mais téo evangé- lico. O lider evangélico tipico de nossos dias tem muito mais pro- babilidade de expressar indignacéo contra alguém que exija clareza e exatidao doutrindria do que de se opor a um falso evangélico que est atacando ativamente alguma verdade biblica vital. Boa parte do movimento evangélico tem agido, durante muito tempo, como se o nosso principal dever fosse simplesmente acompa- nhar todos os modismos da cultura mundana, a fim de conquistar a aprovacao de cada geracao. Essa estratégia nunca deixara de con- quistar um apoio entusiasta por parte daqueles que s4o imaturos, GUERRA ESPIRETUAT mH fracos, ignorantes ou covardes; mas nunca sera verdadeiramente eficaz. Sem a verdade, nenhuma transformacio espiritual 6 possivel (1 Pe 1.22-25; Jo 17.17). Os evangélicos que se mostram desesperados por seguir a cultura atrasam-se, invariavelmente, em acompanhécla, parecendo, de algum mods, ineptos e toscos, por sempre falharem em manter o passo, embora Lentem fazé-lo arduamente. Mas 0 papel da igreja nao é imitar as modas, nem cortejar 0 favor do mundo. Jesus disse: “Se o mundo vos odcia, sabei que, primeiro do que a v6s outros, me odiou a mim. Se vos fasseis do mundo, o mundo amaria 0 que era seu; como, todavia, nao sois do mundo, pelo contrario, dele vos escolhi, por isso, o mundo vos odeia” (Jo 15.18-19). A campanha para fazer com que o cristianismo pareca “con- temporanen” e sofisticade aos olhos do mundo esta se revclando especialmente desasirosa neste momento. A medida que a cultura pos-moderna torna-se cada vez mais hostil A autoridade, a clareza e as proclamacées autoritarias da verdade, cada vez mais o evange- licalismo esta sendo levado 4 maneira de pensar pés-modernista a respeito da verdade; imaginando que essa é a maneira de “alcancar” a cultura. Conseqiientemente, os cristdos estio cada vez menos dispostos a lutar pela verdade. COMO OS CRENTES SAO MANTIDOS EM SEGURANCA? Parece que algo semelhante estava acontecendo na igreja apos- télica. Por essa razao, o ponto forte da breve, mas poderosa, epistola de Judas, era um desatio como propdésito de motivar os cristaos a se tornarem soldados na guerra pela verdade. No entanto, um fato interessante é yue v ponto de partida de Judas foi ressaltar a seguranca do crente verdadeiro. Judas dirigiu sua epistola aos “chamados, amadas em Deus Pai e guardados em sn A GUEREN PrIA VERD SIE Jesus Cristo” (v. 1). Todas as recomendagées, adverténcias e enco- rajamentos que se acham nos versiculos seguintes nao se aplicam as pessoas irresolutas ou hesitantes. Ele se dirige Aqueles que tém fé verdadeira. Judas reconhece que toda guerra é horrivel, perigosa, desagra- davel; é algo que toda pessoa sensata preferiria evitar totalmente. Nesse sentido, a guerra no dmbito espiritual nao é diferente da guerra carnal; se é que existe alguma diferenca, a guerra espiritual é muito mais ameacadora. Se uma guerra convencional (conforme disse o general Sherman) é, na Terra, a coisa mais préxima ao inferno; entdo, a guerra espiritual é muito mais apavorante, pois é, literalmente, um conflito hostil contra as forcas do inferno, no Ambito espiritual, onde o inimigo nunca esta plenamente visivel. Lembre-se: nossos verdadeiros inimigos ndo s40 a carne e 0 san- gue. Essa é uma guerra cdsmica, que envolve as hostes do inferno, as quais estao dispostas em ordem de batalha contra Cristo. Suas armas consister em mentiras de todos os tipos — mentiras sofisticadas, mentiras filosdficas macicas, mentiras malignas que apelam a peca- tminosidade da ra¢a humana caida, mentiras que insuflam o orgulho hu:nano € mentiras que s4o muito parecidas com a verdade. Nossa unica arma é a verdade de Cristo, conforme revelada em sua Palavra. Esse cendrio é assustador, principalmente quando compre- endemos plenainenle a nossa total fragilidade, nossa tendéncia de enganarmos a nés mesmos e nossa propensdo ao pecado. Talvez pareca que pouca coisa nos qualifique para sermos soldados na guerra pela verdade, Mas seguimos a uin Comandante que recebeu toda a autoridade — o senhorio absoluto — no céu e na terra (Mt 8.18). Conforme disse Paulo: Cristo esta “acima de todo principado, e potestade, e poder, e dominio, ¢ de tudu nome que se possa referir, nao sé no presente século, mas também no vindouro. E pés todas as coisas dehaixa dos pés, ¢ para ser o cabeca sobre todas as coisas, o deu a igreja” (Lf 1.21-22). Cristo é a verdade encarnada. Se vocé fur um crente verdadeiro, vocé é chamado, santificado e preservado nEle. GUERRA FSPIRITUAL Si No sentido final e eterno, nenhum crist3o verdadeiro se perdeu, nem se perderd, na guerra pela verdade. Somos amados, chamados, abengoados, santificados ¢ mantidos em seguran¢a — até em meio a escalada da apostasia. A despeito de todos os perigos apresentados pelas mentiras infernais e pela guerra cAsmica, somos preservados em Cristo e temos a garantia de que, no final, triunfaremos. Esse € 0 ponto de partida da epistola de Judas. E, também, exatamente nesse ponto que Judas termina a sua epistola, reco- mendando seus leitores “Aquele que é poderoso para vos guardar de tropesos e para vos apresentar com exulta¢ao, imaculados diante da sua gléria” (v. 24), Fsse é, portanto, 0 contexto em que as Escrituras nos concla- mam a guerrear pela verdade: a tarefa intimida; 0 inimigo é temivel; Os perigos assustam; o panorama dessa batalha é apavorante; o preco do envolvimento é o total sacrificio de si mesmo — e isso é exatamente o que todo cristao verdadeiro oferece a Cristo, ao re- ceber dEle a salvacdo (Lc 9.23-25). Mas temas a promessa de que esse sacrificio sempre valerd a pena c de que o nosso triunfo final também é garantido - porque estamos “guardados em Jesus Cristo”. Certamente, isso é algo que vocé deve guardar no coragao, enquanto pensa sobre a sua participagdo na guerra pela verdade, E natural que nos sintamos inadequados. Somos completamente inadequados por nés mesmos (2 Co 3.5-6). Mas Cristo é a plena suficiéncia, e estamos unidos com Ele pela fé. Nao existe mutivo Para pavor ou apreensao. Nosso triunfo final é certo, porque Cristo ja ganhou a ultima vitéria em nosso favor, Os crentes verdadeiros sempre tém segiranca final, na fé; “Guardados pelo poder de Deus, mediante a fé, para a salvacdo preparada para revelar-se no tiltimo tempo” (1 Pe 1.5). Lembre-se das palavras do proprio Jesus: “As mi- nhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conhego, c elas me seguem, Eu lhes doua vida eterna; jamais perecerio, e ninguém as arrebatara da minha mao. Aquilo que meu Pai me deu é maior do que tudo; e da m4o do Pai ninguém pode arrebatar” (Jo 10.27-29). E as mentiras R2 A GUERRA PEELS ViRbALT condenatorias séo aniquiladas sob o poder da verdade (2 Co 10.4-5). Portanto, se vocé é crente, entre na batalha. Lute pela verdade. Batalhe diligentemente pela fé. A apostasia esta presente na igreja e provavelmenle se luruaid pir, Mas nds, que cremos em Jesus Cristo, ndo temos nada a temer. Somos chamados, amados e man- tidos seguros nEle. Por isso, podemos nos sentir sohremodo con- flantes, mesmo nesta época de duvida e de incerteza. Aquele que é a verdade encarnada — Aquele cuja honra e gloria estac em jogo — é tanto a nossa Comandante como o nosso Protetor. E sua Palavra é uma arma formidavel. COMPELIDOS AO CONFLITO: POR QUE DEVEMOS LUAR PELA FE? Amados, quando empregava toda a diligéncia em escrever-vos acerca da nossa comuin salvacdo, foi gue me senti abr igado a corresponder-me convosco, exartando-vos a hatalhardes, diligentemente, pela fé que uma ver por tadas foi entregue ao santos. —~ Judas 3 — \ Fisto que o catalisador deste livro é 0 desafio de Judas as pessoas que estavam sob os seus cuidados pastorais, desejo apresentar- Ihe esse homem, Judas era o meio-irmao mais jovem de Cristo. Como sabemos isso? Bem, em primeiro lugar, as Escrituras dizem que, depois do nascimento de Jesus, José c Maria tiveram, pelo menus, outros qua- tro filhus. Marcos 6.3 indica que eles também tinham filhas — em- bora seus nomes no sejam citados e nem saihamos quantas eram. A familia em que Jesus cresceu parece ter sido razvavelinente grande segundo os padrées de hoje. Em Mateus 13.55, quatro meio-irmaos de Jesus s4o mencionados expressamente pela nome. Nesse contexto, Mateus cstd descrevendo comiv as pessoas da cidade uatal de Jesus, Nazaré, reagiram diante dos seus ensinos repletos de autoridade, questionando as suas credenciais. Elas expressaram incredulidade e espanto pelo fato de que um mestre como Jesus pudesse vir da familia de um humilde carpinteiro, da propria vila deles, a qual era pouco notavel. Nesse contexto, eles mencionaram os pais, os irmaos e as irmas de Jesus. Uma vez que Sa A GiuEKEA PELY VERRADE Mateus registra os nomes dos quatro filhos mais jovens da familia, observe a ultima pessoa da lista: “Nao é este o filho do carpinteiro? No se chama sua mae Maria, e seus irmaos, Tiago, José, Simo e Judas?” (énfase acrescentada). “Judas” é uma transcricdo simples do nome Judas, em grego. Nos manuscritos biblicos originais, esse é exatamente 0 mesmo termo usade para referir-se ao nome de Judas Iscariotes. Esse nome, nos manuscritos gregos, é loudas. Judas, que significa “louvai a YHWH”, é uma variagao grega de Juda, uma das doze tribos de Israel, variacado essa transcrita para 0 portugués. Esse nome era bastante comum em Israel no primeiro século, O Novo Testamento nos apresenta, no minimo, sete homens diferentes com o nome de Judas, inclusive dois dos primeiros discipulos. E claro que entre eles haviao falso discipulo chamado Iscariotes. Mas havia também um membro fiel dos doze apéstolos charmadu Judas. Jodo 14.22 0 apresenta com 0 aposto “nao o Iscariotes”. Atos 1.13 refere-se ao discipulo menos conhecido pelo nome de “Judas, filho de Tiago”. Ele é normalmente chamado de Tadeu, em vez de Judas (Mt 10.3). Esse discipulo nao é o autor da epistola; embora essa conexAo ja tenha sido feita incorretamente, por diversas vezes, logo veremos pur que esta errada, Outres Judas no Novo Testamento incluem um insurgente chamado Judas, o Galileu (At 5.37), Judas Barsabas, um lider da igreja que eulregou a decisao do concilio de Jerusalém aos crentes em Antioquia (At 15.22), e um homem chamado Judas, que morava na Rua Direita, em Damasco, em cuja casa 0 apdstolo Pautla perma- neceu imediatamerite apds a sua conversao (At 9.11). O Judas sobre quem estudamos neste livro destaca-se de todos os demais. Uma quantidade consideravel de evidéncias hthlicas sugere que o “Judas” citado como um dos filhos mais jovens de José e Maria, em Mateus 13.55, nao é outro, sendo o autor humano da epistala. Embora o préprio Judas ofereca detalhes escassos a COMPPLIDOS AO CONPLITO al respeito de sua propria identidade, os poucns fatos que ele revela telacionam-se perfeitamente com aquilo que sabemus a respeito do meio-irmao mais jovem de Cristo. SERVO DE Jes 's Cristo, IRMAO pr Taco Na realidade, os melhores indicios que possuimos a respeito da verdadeira identidade de Judas provém da propria epistola. O que Judas ndo diz a seu respeito é quase tao interessante quanto o que ele diz, Observemas, em primeiro lugar, o que ele diz. Nas palavras iniciais da epistola, v autor se descreve como “Judas, servo de Jesus Cristo e irm§o de Tiago” (v. 1). Quem ¢ esse “Tiago”? Conforme jé vimos, Tiago é o primeiro nome nas duas listas biblicas dos filhos naturais de José e Maria. © apéstolo Paulo, em Galatas 1.19, menciona “Tiago, 9 irmao do Senhor” como o principal lider na igreja primitiva em Jerusalém, Em 1 Corintios 9.5, Paulo faz uma referéncia geral aos “irmaos do Senhor”, sem mencionar o nome de qualquer um deles. Ali, Paulo refere-se a eles de um modo distinto dos apéstolos, mas lhes atri- bui, claramente, uma importancia semelhante na obra da igreja primitiva. Tiago e Judas s30 os tinicos que tém seus nomes mencionados explicitamente — na cundicao de irmaos e meio-irmaos de Jesus — nas Escrituras. ‘Tadeu, o pai do apéstolo Judas Tadeu, era um antro homem, também chamado Tiago;' e a semelhanca entre todos esses nomes levou, infelizmente, muitas pessoas — inclusive alguns co- mentaristas excelentes — a confundir o apéstolo Tadeu com Judas, 1. Em Atos 1.13 ¢ Lucas 6.16, o quase desconhecido apéstolo Judas (também identificado como Tadeu) ¢ declarado “filho de Tiago”. 0 manuscrito original diz, iteralmente, “Ju- das de Tiago”, sugerindo que 0 pat do apostolo chamava-se Tiago. B exatamente isso que a maioria das traduyGes de Lucas 6.16 e Atos 1.13 dizer agora, Bi A Girees pria Verve autor da epistola. Mas eles nao sao a mesma pessoa. Alias, o “Tiago” mencionado em Judas 1 ndo era apéstolo. O tmico apéstolo chamado Tiago (filho de Salomé e Zebedeu, ¢ irmao de Joo, o apéstolo amado) foi martirizado por Herodes, bem cedo na histéria da igreja, conforme Atos 12,1-2. Esse Tiago morreu muito tempo antes de Judas escrever sua epistola. Portanto, o Tiago mais conhecido na igreja, quando Judas apresentou-se como seu irmao era aquele a quem Paulo chamou de “Tiago, irmao do Senhor” (G1 1.19). Poi esse Tiago quem escrevcu a cpistola, do Novo Testamento, que leva o seu nome. Ele também aparece como o porta-voz da igreja de Jerusalém, em Atos 15.13. Agora, observe o que Judas ndo diz a respeito de si mesmo. Ele nao reivindica, em lugar algum, o titulo de apéstolo. Na verdade, esse fato poderia ser considerado estranho se ele fosse um dos doze apdstolos. Além disso, nos versiculos 17-18, Judas parece remover toda a divida a respeito dele ser um dos apdéstolos, ao se distinguir especificamente dos apéstolos e referir-se a eles na terceira pessoa: “os quais vos diziam” (énfase acrescentada). Em segundo lugar, note que Judas também 140 se identifica claramente como o irmao mais jovem de Jesus. Isso talvez pareca estranho & primcira vista, mas é compreensivel, tendo em vista as complexidades desse parentesco ¢ a historia de como Judas chegou afé. Lembre-se de que, no inicio, os préprios irmaos de Jesus nao criam nEle. Marcos 6.1-6 narra os mesmos eventos descritos em Mateus 13.54-58. Os habitantes de Nazaré “se maravilhavam, dizendo: Donde vém a este estas coisas? Que sabedoria é esta que the foi dada? E como se fazem tais maravilhas por suas indus? Nao é este o carpinteiro, filho de Maria, irmao de Tiago, José, Judas e Simao? E no vivem aqui entre nés suas irmas? E escandalizavam-se nele” (Mc 6.2-3, énfase acrescentada). A lista em Marcos 6.3 inclui os mesmos nomes citados em Mateus 13.55; mas, em Marcos, a ordem dos dois tiltimas nomes esta COMPELIDOS AQ CONELITO Se invertida: Judas, em terceiro, e Simo, em ultimo. Tiago é 0 primeiro nas duas listas, A ordem sugere que Tiago era o mais velho entre 0s quatro, e “Judas”, conforme é chamado uas duas listas, era um dos filhos mais jovens da familia de José e Maria — talvez o mais jovem de cinco rapazes, incluindo Jesus, que logicamente era o mais velho de todos os seus meio irmaos e meio-irmis. As idades relativas deles nunca sdo citadas, mas Judas era, pelo menos, quatro ou cinco anos Mais novo que seu irmao mais velho. Naquele periodo de sua vida, parece que ainda vivia no lar de seus pais. Marcus 6.3 parece deixar subentendido que toda a familia estava presente, quando a aldeia de Nazaré voltou-se contra Jesus: logo, Jidas teria sido testemunha ocular desses eventos. Judas, sendo jovem, parece ter se sentido confuso pela opo- sicao ferrenha a Jesus, e, no inicio, ele mesma ficou envelto na incredulidade. Jodo 7.5 diz que, durante o minislério terreno de Jesus, “nem mesmo os seus irmaos criam nele”. Mais tarde, Judas realmente creu em Jesus. Mas, no inicio, parece que Judas seguiu a maioria na rejeic3o em relacdo a autoridade de Jesus. Portanto, entender qual a identidade certa de Judase qual o seu parentesco com Cristo nos oferece um discernimento interessante quanto ao carater desse homem, bem como quanto ao que fomenta- va sua paixdo pela defesa da verdade. Sua propria experiéncia — de ter sido quase levado ao erro, por haver dado crédita demasiado a opinido popular — certamente explica a intensidade do seu proprio zelo como um homem maduro que guerreava pela verdade. Uma razdo final para identificar Judas como o mein-irmao de Jesus encontra-se na quantidade minima de informacées que Judas considerou nevessario oferecer a respeito de si mesmo. Parece claro que ele e a sua familia eram bem conhecidos na igreja primitiva, porque ele nao reivindicou titulo algum, nem apresentou qualquer credencial, e precisava apenas de algumas informagées escassas. Bastava-lhe identificar-se, no versiculo 1, simplesmente como “servo de Jesns Cristo e irmao de Tiago”, Uma vez que nao havia SH A Guereka pera Virpave outro Tiago mais bem conhecido na igreja primitiva, e os outros deis irmaos chamados “‘liago” e “Judas” ndo sio mencionados em nenhuma outra parte da Biblia, parece inescapavel a conclusao de que “Judas... irm4o de Tiago” é o mesmo “Judas” citado duas vezes JUDAS, SENDO JOVEM, PARECE TER SE SENTIDO CONEUSU PELA OPOSICAO FERRENHA A JRSUS, R, NO INICIO, ELE MESMO FICOU ENVOLTO NA INCREDULIDADE, JOAO 7.5 DIZ QUE, DURANTE © MINISTERIO TERRENO bE JESUS, “NEM MESMO O53 SLUS IRMAOS CRIAM NELE", MAIS TARDE, JUDAS REALMENTE CREU EM JESUS. Mas, NO INICIO, PARECE QUE JUDAS SEGUIU A MAIORIA NA REJEICAO EM RELAGAO A AUTORIDADE DE JESUS. nos evangelhos como meio-irm4o de Cristo. Como é admiravel que dois dos proprios irmaos terrenos de Jesus tenham sido usados pelo Espirito de Deus para escrever livros do Novo Testamento. Nenhum dos dois era apéstolo, mas sua obra foi reconhecida pclos apéstolos ¢ pela igreja primitiva como divinamente inspirada. Essas epistolas foram inspiradas e preser- vadas pelo Espirito de Deus, ¢ legadas a nés como parte do canon do Novo Testamento, A identificagio humildc de Judas como “servo de Jesus Cristo” nos diz muito a respeito desse homem. Na mente do préprio Judas, qualquer conexdo terrena e qualquer relacio- namento pessoal que ele tivera com Jesus, como meio-irmio, como mem- bro intimo da familia e o irmac mais jovem — tudo que era terreno deu lugar a um relacionamento espiritual e celestial mais profundo, no qual Judas considerava Jesus como o Senhor soberano e o Mestre divino sobre a sua vida. Isso € particularmente fascinante, quando refletimos sobre a incredulidade que Judas e seus irmaos haviam tido anteriormente COMPELIDOS AO CONELITO BO (Jo 7.5). Segundo parece, todos os irmaos e irmas incrédulos de Jesus tornaram-se crentes apés a ressurrcicéo dEle. Iisses duis, Tiago e Judas, tornarani-se lideres influentes na igreja. Embora os demais irmaos e irmas nio sejam mencionados pelos nomes fora dos evangelhos, eles tamhém devem ter sido testemunhas oculares da ressurreicao. Atos 1.14 deixa subentendido, enfaticamente, que todos eles tornaram-se crentes, porque o texto declara que, juntos com os apéstolos, estavam “Maria, mde de Jesus, e... os irmdos dele” (énfase acrescentada), unanimes em oragao no Cenaculo, imediata- mente antes do Pentecostes, Visto que apenas quarenta dias haviam se passado entre a crucificagao de Jesus (na Pascua) ¢ a descida do Espirito Santo, no Dia de Pentecostes, parece que os irmaos e irmas terrenos de Jesuia chegaram a fé salvifica depois que Jesus morreu, Judas deve ter ficado profundamente humilhado por causa da sua incredulidade no passado e certamente sentiu temor ante a realidade de que seu meio-irmao mais velho era realmente o Filho de Deus encarnado, que morreu pelos pecados e pela incredulidade do proprio Judas; depois, ressuscitou com triunfo dentre os mortos. E claro que esse acontecimentn mudou toda a percepcdo de Judas a respeito de Jesus c de quem Ele era. Judas n4o mais pensava em Jesus como um irmao. Por isso, ele se referiu a si mesmo como “ser- vo de Jesus Cristo” — e diz que é irmio de Tiago. MUDANCA DE AGENDA Embora nao achemos, em lugar alguin das Escrituras, os de- talhes sobre a conversio de Judas ou sua experiéncia como crente, antes de escrever sua famosa epistola, fica claro que ele se tornara uma voz de autoridade respeitada entre os santos e um guerreiro eficaz em favor da verdade. Ele nao identifica og seus leitores origi- nais. Talvez fosse uma tnica igreja ou um grupo de igrejas. Parcce que seus pensamentos se concentravam preduminantemente em on A Guerre vy epria Vreoane crentes judeus, pois a epistola esta repleta com figuras de lingua~ gem do Antigo ‘lestamento. Contudo, nao existem outros indicios concretos a respeito dos destinatarios originais dessa epistola. Além disso, Judas nao desperdica tempo, na introducdo, para estabelecer ou defender suas proprias credenciais. £ bastante perceptivel que ele era bem conhecido ¢ tido em alta estima pelas pessoas para as quais escrevia. Judas os conhecia muito bem. Tinha certeza da vocacao deles (v. 1). Deu-lhes uma bénc4o calorosa, porém muito breve, invocando sobre cles “a misericérdia, a paz c o amor” (v. 2). Judas os chamou de “amados” (v. 3). Escreveu como um amigo familiar e mentor espiritual, Mas Judas também escreveu num tom de muita urgéncia, refletido na brevidade da epistola. Os versiculos 3 e 4 explicam a gravidade das questées que compeliram Judas a escrever. Sua intencado original era escrever uma mensagem edificante, de con- solo e encorajamento, a respeito da salvacdo que todos os crentes desfrutam. Mas, antes mesmo de comesar a escrever, foi dissuadido daquele propésito: “Amados, quando empregava toda a diligéncia em escrever-vos acerca da nossa comum salvacdo, foi que me senti obrigado a corresponder-me convosco, exortando-vos a batalhardes, diligentemente, pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos, Pois certos individuos se introduziram com dissimulacdo, os quais, desde muito, foram antecipadamente pronunciados para esta condenagio, homens impios, que transformam em libertinagem a graca de nosso Deus e negam o nosso tinico Soberano e Senhor, Jesus Cristo” (wv. 3-4). O apdstolo Paulo comegou sua Epistola aos Galatas com um tom semelhante de urgeéncia e solenidade, deixando de lado as pala- vras graciosas de elogio que faziam parte essencial do padrao normal de suas epistolas. Mesmo quando escreveu a igreja em Corinto, Lao cheia de problemas, Paulo lhes dirigiu palavras de aprovacdo e apreciacdo (veja, por exemplo, 1 Co 1.4-9 e 2 Co 1.7). Mas o grande COMPELIDOS AQ CONFLITO vl apéstolo omitiu totalmente qualquer nota de encorajamento, quando escre- veu aos galatas, Nenhuma palava de apoio ou louvor dirigidos a eles se achia em lugar algum de toda a epistola. Peto contrario, Paulo invocou uma maldicaa dupla e sombria contra os falsos mes- tres no meio deles (G1 1.8-9), Os nove versiculos introdutorios parecem ter 0 propésito de deixar os leitores abalados e sem folego, removendo-os assim da influéncia sedutora dos falsos mestres Judas sente sc impulsionado por preocupacées semelhantes e entra diretamente no 4mago da questo. De certo modo, os versiculos introduts- tios de Judas sio ainda mais abruptos do que os de Galatas 1. Os versiculos 3 e 4 constituem uma das introducées mais irresistiveis e esclarecedoras de qualquer epistola do Novo Testamento. Pense nisto: Judas est4 dizendo que, enquanto se assentava para escrever uma epistola positiva e encorajadora, que celebrasse as alegrias da salvacdo, percebeu a urgéncia do momento e seguiu, de boa vontade, o controle e a inspiragéo soberanos do Espirito Santy, e foi compelido a escrever algo diferente do que pretendera. Portanto, sua carta tornou-se uma adverténcia breve, ein linguagem incisiva, convo- cando os leitores a lutarem pela fé. TENDEMOS A PENSAR NAIGREJA PRIMETIVA COMO SENDO PERFEITA, PURA E NAG PERTURBADA POR ERROS GRAVES. A VERDADE & QUE ELA NAO BRA ASSIM, DE Mobo ALGUM, DespE O INICIO, OS INIMIGOS DA VERNADE DESENCADEARAM UM "SFORCO PARA SE INFILTRAR NA IGREJA E CONFUNDIR © POVO be DEUs, MUTILANDO AVERDADE E ACRESCENTANDO MENTIRNAS A DOUTRINA CRISTA ATAQUES CONTRA A VERDADE VINHAM, NAO SOMENTE DOS PERSEGUIDORES DO LADO DE FORA, MAS TAMBEM DOS FALSOS MESTRES E CRENTES PROFESSOS DE DENTRO NA IGREJA VISIVEL, a2 A Gerkea Pela Vrxuauet Em sua opinido, o que aconteceu para que Judas mudasse o lom e v conteddo de sua epistola? Ele nao nos diz. E possivel que, antes de comegar a escrever, tenha recebido informagées de algum lugar: um relatério, uma carta ou um relato de uma testemunha ocular, que lhe contasse a respeito de una ameaga ao bem-estar daquele rebanho. Ou, talvez, o Senhor lhe tenha revelado, de modo sobrenatural, algn que inspirou essa mudanga na mensagem. Seja como for, o Espirito Santo compeliu Judas a tratar de um assunto sobre o qual ele nao planejara falar. A gloriosa salvacao a respeita da qual Judas planejara escrever sofria o perigo de ser severamente comprometida, se a igreja ndo se mostrasse disposta a lutar pelo evangelho. Portanto, aquilo que comegau camo uma tentativa calorosa e amigavel de oferecer consolo e encorajamento tornou-se, em vez disso, numa convocagdo ao combate, com som de trombeta. Toda a epistola 6 um brado de guerra que se aplica a todas ns crentes, de todas as épocas. Judas exorta a nos unirmos na guerra pela verdade ea ficarmos do lado do Senhor. Vocé fica admirado ao pensar que isso era necessario, mesmo nos dias dos apdstolos? As vezes, tendemos a pensar na igreja primitiva como perfeita, pura e nado perturbada por erros graves. A verdade é que ela ndo era assim, de modo algum. Desde a inicio, as inimigos da verdade desencadearam um esforco para se infiltrar na igreja e confundir o povo de Deus, mutilando a verdade e acrescen- tando mentiras 4 doutrina crista. Ataques contra a verdade vinham nao somente dos perseguidores do lado de fora, mas também dos falsos mestres e crentes professos de dentro da igreja visivel. A es- tratégia de Satands, de colocar seus ministros dentro da igreja, a fim de semearcm a doutrina iniqua, estava se revelando perigosamente eficaz, mesmo enquanto o Novo Testamento ainda estava sendo escrito (2 Co 11,14-15). Alids, a Epistola de Judas contém uma repeti¢ao quase exata das palavras do apdstolo Pedro, em 2 Pedro 2.1-3.4, que certamente COMPEMDOS SO CONFLITO 24 jAhavia sido escrita e estava em circulacdo. Somos realmente levados a conclusao de que 2 Pedro toi escrita antes de Judas, porque Judas 18 cita 2 Pedro 3.3 e, no versiculn 17, reconhece expressamente quc o trecho provinha de um apéstolo. Além dissv, 2 Pedro 2.1-2 e 3.3 Prevéem a chegada de falsos mestres, ao passo que Judas declara expressarnente que certos individuns “se introduziram com dissimu- lagdo” (v. 4 — énfase acrescentada; cf. 11-12, 17-18). Portanto, os falsos mestres ja haviam se infiltrado na igreja. Naquele momento, estavam alojados, de forma segura, na comu- nidade dos crentes. Estavam sendo aceitos como irmaos crentes, e seus falsos ensinos venenosos estavam se espalhando na igreja. Judas exortou os crentes a se oporem a essas heresias, ao invés de aceita-las, A vida da igrcja dependia disso. A APOSTASIA DISSTMLILADA 0 falso ensino ministrado por terroristas espirituais engana- dores, que se infiltram na igreja, sempre a empestou. Quer os falsos mestres tenham consciéncia disto, quer nao, eles sav missiondrios salanicos, enviados para produzir mais apdstatas. O designio de Satands é conduzir as pessoas que j4 tiveram contato com 0 evan- gelho as heresias de perdido, Sempre tem havido, na igreja e ao seu redor, pessoas que ouviram a verdade ea entenderam, mas que ainda nao a acolheram, nem se renderam a ela de modo salvifico. Essas pessoas podem ser levadas a rejeitar a verdade; é exalamente issu que v Maligno espera realizar. Esse problema nao era exclusivo da igreja A qual Judas se divigiu. A apostasia é um tema familiar nas Escrituras. A Epistola de Judas 0 tnico livro na Biblia dedicado exclusivamente a esse assunto (ressaltando, assim, a urgéncia da mensagem de Judas). Por outro lado, varias epistolas do Novo Testamento falam muito subre os perigos da apustasia e da falsa doutrina. Esse era, laramente, um dos grandes e abrangentes problemas desde o inicio da histéria da he A GULPREA PLA Verband igreja. Diversas epistolas — em especial, Hebreus, 1 e 2 Corintios, Galatas, Colossenses, 1 e 2 Tessalonicenses, 2 e 3 Jodo — foram escritas, em parte ou na totalidade, por causa da necessidade de en- frentar heresias de varios falsos mestres, que afastavam as pessoas da fé. E claro que isso ndo era inesperado. O proprio Jesus contou uma parabola familiar a respeito de quao facilmente algumas pessoas se desviam da verdade para a apuslasia. A Pardbola du Semeador encontra-se em Mateus 13 e Lucas 8 e retrata a Palavra de Neus coma ima semente plantada em quatro tipos de solo: o solo duro, o solo superficial, v solo com ervas daninhas e o solo bom. Os solos representam os coracdes humanos em diferentes condicées de receptividade. Jesus explicou o simbolismo da parabola em Lucas 8.11-15: Este é o sentido da parabola: a semente é a palavra de Deus. A que caiu 4 beira do caminho séo os que a ouviram; vem, a seguir, o diaho e arrebata-lhes do coragéo a palavra, para néo suceder que, crendo, sejam salvos. A que caiu sobre a pedra sao os que, ouvindo a palavra, a recebem com alegria; estes néo tém vaiz, créem apenas por algum tempo e, na hora da provacdo, se desviam. A que caiu entre espinhos saa os que ouviram e, no decorrer dos dias, foram sufocados com os cuidados, riquezas e deleites da vida; os seus frutos nao chegam a amadurecer. A que caiu na boa terra sdo os que, tendo ouvide de bom e reto coracéo, retém a palavra; estes frutificam com perseveranca. Note: trés dos quatro solos retratam pessoas que ouvem a Palavra e se desviam. Alguns, simbolizados pelo solo duro, desviam- se quase que imediatamente, porque “vem... o diabo e arrebata-lhes do coragéo a palavra, para ndo suceder que, crendo, sejam salvos”. Sao ouvintes indolentes — que nao se importam, nem reagem espiritualmente, sobre os quais a Palavra de Deus nao tem efeito permanente, COMPELIBDOS AQ CONFLITO oF Outros, os ouvitiles representados pelo solo com ervas dani- nhas, talvez demonstrem sinais precoces de vida, mas nunca frutifi- cam, pois, antes que a Palavra de Deus produza frutos em sua vida, os desejos mundanos sufoca a vida de qualquer interesse espiri- tual que essas pessoas possam ter. Talvez elas déem a impressao de estarem crescendo e prosperando durante algum tempo, mas nunca expcrimentam a conversao verdadeita; que é 0 primeira “fruto” e 0 mais essencial, aludido nessa parabola. E, no fim, se desviam. Conquanto esses ouvintes mundanos e superficiais se identifiquem como membros do povo de Deus, sao uma ameaga para o bem-estar espiritual da igreja. Entretanto, a maior de tadas as ameacas provém dos ouvintes representados no solo superficial. Estes, “ouvindo a palavra, a re- cebem com alegria; [mas] nao tém raiz... créem apenas por algum tempo e, na hora da provacao, se desviam”. Sua resposta inicial ao evangelho ¢ totalmente positiva — respondem alé com entusiasmo. Apresentam toda a aparéncia de uma vida genuina e vidvel, Mas “estes nao tém raiz”, e, por essa raz4o, a sua fé nao pode durar e ja mais dard qualquer fruto. Essa fé nunca dara frulu espiritual algum, Porque nao é uma fé verdadeira. Hssas pessoas “créem apenas por algum tempo”, somente no sentido mais fugaz: ouvem, entendem e, de modo superficial, afirmam a verdade. Mas, uta vez que ndo possuem raiz, nunca produzirao frutos auténticos. Judas 12 empresta essa figura da Pardhola do Semeador e descreve os apéstatas como “arvores em plena estagau dus frutos, destes desprovidas, duplamente mortas, desarraigadas”. Esses “san- tos” superficiais nao tem raizes e frutos — esto realmente mortos. Por essa razdo, inevitavclmente se desviam. Esta é a propria esséncia da apostasia: ouvir a verdade, saber que ela é, professar aceita-la e, depois, rejeitdla. Visto que a rejeicao final da verdade ocorre com pleno conhecimento e entendimenty, isso é uma apostasia fatal, da qual nao ha esperanga de recuperacio. Esse é exatamente o pecado descrito, em termos tao apavorantes, em 30 A GULRRA PFLA VERDADE Hebreus 6.4-6: “E impossivel, pois, que aqueles que uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se tornaram participantes do Espirito Santo, e provaram a boa palavra de Deus e os poderes do mundo vindouro, e cafram, sim, é impossivel outra vez renova-los para arrependimento, visto que, de novo, estao crucificando para si mesmos 0 Filho de Deus e expondo-o A ignominia”, A parabola de Jesus a respeito dos solos retrata aquilo que Hebreus 6 descreve. Tambeérn se refere, exatamente, aquilo sobre o que Judas escreveu: a apostasia. A apostasia nao é um problema meramente de discipulos superficiais ou obviaiente, insincerus. As vezes, os lideres cristdos também apostatam. Por amarem o poder e o prestigio — ou por outros motivos igualmente sinistros, tais como libertinagem (Jd 4, 2 Pe 2.10) € ganancia (Jd 11, 1 Tm 6.5) — mesmo quando se desviam, os lideres apéstatas nio abandonam, necessariamente, a igreja visivel. Geralmente, permanecem nela e continuam a servir como pregadores, mestres ou autores. Cerlammentle, fingem ser cris- taos. Encobrem a sua deser¢io com sutileza. Professam fidelidade a verdade, enquanto tentam subvertéla. As pessoas influentes que professam ou fingem crer na verdade, embora udu possuam {6 ae salvifica, provavelmente sejam o maior perigo interno que a igreja enfrenta. A histéria da igreja esta repleta desses exemplos — desde os judaizan- tes, cujo falso evangelho confundia AS PESSOAS INFLUENTES QUE PROFESSAM OU FINGEM CRER NA VERDADE, EMBORA as igrejas da Galacia, até aos muitos NAo possuaM tele-evangelistas corruptos de hoje, FE SALVIFICA, cuja avareza, falhas morais, falsas PROVAVELMENTE profecias, “milagres” fraudulentos e SEJAM O MAIOR doutrina errénea sao vergonhas para PERIGO INTERNO QUE 0 cristianismo e uma pedra de trapeso AIGREJA ENFRENTA. para os que nao tém discernimento. Até certo ponto, a apostasia COMIPELIDOS AO CONFLILO: y sempre ¢ um pecado deliberado e voluntario. Um apdéstata nao é apenas alguém indiferente em relacdo a Palavra de Deus ou igno- rante acerca daquilo que ela ensina. Uma pessoa que nunca ouviu a verdade nio é “apéstata”, ainda que scja um mestre de uma religiao falsa. A apostasia é um pecado muito pior do que isso. Um apéstata é alguém que recebeu a luz, mas nao a vida; a semente, mas nao o fruto; a Palavra escrita, mas nio a Palavra viva; a verdad, mas nao o amor a verdade (2 Ts 2.10). Nao estamos sugerindo que os préprios apdstatas nunca sdo iludidos ou confundidos. Usualmente, esses enganadores cstao su Jeitos a varios tipos de engano que os cegam (2 Tm 3,13). Podem até imaginar que, em algum sentido, estdo servindo a causa da verdade (cf. Jo 16.2). Mas, em um aspecto ou outro, rejeitaram a verdade deliberadamente, apesar de terem conhecimento e entendimento suficientes para serem plenamente responsaveis por isso. Isto é 0 que torna o pecado de apostasia tao maligno: ele comeca com uma rejeic¢ao deliberada da verdade, depois que a verdade foi ouvida e entendida. Atos 8.9-25 apresenta um exemplo biblico classico a respeito de Cuno a apostasia pode ocorrer. Ali, conhecemos a Simao, um ma- gico, que, segundo Lucas, construira sua reputac4o deixando o povo de Samaria aténito com sua magia (provavelmente, com truques que usavam as maus), alegando ser grande e poderoso. Em outras pala- vras, Simo era um vigarista profissional. Segundo Lucas, o povo de Samaria acreditava que os truques de Simao eram realizados pelo “poder de Deus, chaimado v Grande Poder” tv. 10). Mas, quando o evangelho chegou em Samaria, tudo mudou. Os versiculos 12 e 13 dizem: “Quando, porém, deram crédito a Filipe, que os evangelizava a respeilu do reinu de Deus e do nome de Jesus Cristo, iam sendo batizados, assim homens como mulheres. O préprio Simo abragou a fé; e, tendo sido batizado, acompanhava a Filipe de perto, observando extasiado os sinais e grandes milagres praticados”, v8 A Gereka tera Vrrnane Podemos ter certeza de que a mensagem de Filipe era uma apresentacdo clara, completa, exata e fiel do evangelho de Jesus Cristo. As pessoas — evidentemente, muitas delas — estavam sendo batizadas. Filipe estava produzindo um profundo impacto evangelistico entre os samaritanos, e o evangelho reverberou de for- ma tao profunda na comunidade, que até o proprio Simao, o magico, “abracou a fé”. Quao auténtica parecia a fé demonstrada por Simao, a prin- cipio; ela podia ser vista pelo fato de ter sido batizado e por estar acompanhando Filipe, bem como por ficar cxtasiado com o que via. Sinais e grandes milagres (verdadeiros e nao truques) eram realizados; e Simao ficou genuinamente aténito. Perito em ilusées ¢ truques astutos, Sim&o percebcu com clareza e entendeu imedia- tamente que Filipe nao era trapaceiro, Reconheceu imediatamente que a mensagem de Filipe era a verdade, e sua reagao inicial foi intciramente positiva. Pelo menos em algum nivel, Simao “abragou a fé”, ou seja: quando ele percebeu a verdade e a entendeu, nao a rejeitou imediatamente. Entretanto, os versiculos 18 e 19 nos contam: “Vendo, porém, Simac que, pelo fato de imporem os apdstolos as maos, era concedi- do o Espirito Santo, ofereceu-lhes dinheiro, propondo: Concedei-me também a mim este poder, para que aquele sobre quem eu impuser as maos receba o Espirito Santo”. Segundo parece, quando os apos- tolos impunham as m4os nos recém-convertidos em Samaria, havia alguma manifesta¢3o visivel de que o Espirito Santo havia chegado aquelas pessoas. Com toda a probabilidade, os convertidas em Samaria falaram em linguas, de um modo miraculoso (nao em mera linguagem inarticulada, e sim em idiomas conhecidos e reconheci- veis), assim como o tinham feito os primeirus crentes, no Dia do Pentecostes. O derramamento das linguas teria sido um sinal claro de que os samaritanos estavam recebendo o mesmo Espirito Santo, nas mesmas condicées em que O recebezaim os primeiros crentes judeus, para que nao houvesse divisio alguma na igreja. Quando <= COMPPLIPOS AC CONPLITO. ue Simo testemunhou esse sinal tao maravilhoso, quis, desesperada- mente, 0 poder de realizd-lo a vontade. Lembre-se: Simao havia crido e fora batizado; acompanhara Filipe de perto, observara todos os sinais e ficara, constante e po- silivamente, alOnito, Conforme todas as aparéncias exteriores, sua fé parecia auténtica. Mas Pedro lhe respondeu: “O teu dinheiro seja contigo para perdicdo, pois julgaste adquirir, por meio dele, o dom de Deus” (v. 20), Pedru consideruu v pedido de Simao uma evidéncia de que o magico nao era, de modo algum, um crente verdadeiro. “Nao tens parte nem sorte neste ministério, porque o teu coragdo nao é reto diante de Deus” (v. 21). Esse, alias, é considerada 0 método direto de enfrentar um apéstata. Ohserve que no apelo subseqiiente que Pedro fez a Simo para que se arrependesse, o apdslulo falou do perdao quase que em termos hipotéticos e sugeriu que o pecado de Simfo era tao grave, que talvez nem houvesse possibilidade de perdao: “Arrepende-te, pois, da tua maldade e roga ao Seuhor, lalvex te seja perdoado o intento do coragdo; pois vejo que estas em fel de amargura e laco de iniqtidade” (wv. 22-23). Simao implorou para que Filipe orasse por ele, “para que nada do que” Pedro havia dito sobreviesse sobre ele (v, 24). Simo ficou ob- viamente ahalado e aterrorizado — pelo menos, naquele momento. O terror de Simao ante a perspectiva de sua prépria apustasia nao parece ter durado muito tempo. Parece que ele apostatou de Cristo naquele mesmo dia. Ele ndo é mais mencionado por Lucas, nem mesmo em qualquer outro lugar do registro biblicu. Mas Justino, o Martiz, um apologista da igreja primitiva, que também era samaritano e viven na geracado seguinte apds a época de Simao, registrou alguns pormenores a respeito de Simao. E nao existe motivo para duvidarmos do relato de Justino. Ele diz que Simao era natural da aldeia samaritana de Gita. Justina e Tveneu, um apologista contemporaneo intimo e colega de Justino, registram que Simao deu inicio a uma das primeiras falsas seitas cristas, De fo A GUERKA PELA VERDADE acordo com Ireneu, o magico langava mao de figuras de linguagem e terminologias biblicas e as adaptava de acordo com varios mitos que inventara a respeito de si mesmo — incluindo a alegacdo blasfema de que ele mesmo era o préprio Deus encarnado. Simao é considerado, por muitos historiadores da igreja primitiva, como o fundador da primeira seita gnéstica plenamente desenvolvida. Ele é conhecido na histéria eclesiastica como Simao Mago, e de seu nome deriva o termo simonia, a pratica de vender cargos eclesidsticos. AQUELES QUE CONHECERAM A VERACIDADE DO EVANGELHO, PROFESSARAM CRER NELE B DEPOIS SE DESVIARAM DA FE, ESSES NAO TEM ESPERANCA ALGUMA DE REDENCAO, HEBREUS 6.4-6 E 10.26-30 CONDENAM ESSE TIPO DE APOSTASIA, NUM TOM DE SENTENCA IRREVOGAVEL, SUGERINDO QUE AQUELES QUE SE DESVIAM DELIBERADAMENTE JAMAIS VOLTAM A FE. Ninguém é mais perigoso para a fé cristé do que um apéstata ousado. Acarreira de Simao fui uma comprova- cdo bem antiga desse fato. Aqueles que conheceram a ve- racidade du evanyelho, professarain crer nele e depois se desviaram da fé, esses no tém esperanca alguma de redenyao. Hebreus 6.4-6 e 10.26-30 condenam esse tipo de apostasia, num tom de sentenca irrevogavel, sugerin- du que aqueles que se desviam delibe- radamente jamais voltam a fé. Nesse mesmo tom, Pedro falou a respeito dos apdstatas: “Portanto, se, depois de terem escapado das contaminacées do mundo mediante o conhecimenta do Senhor e Salvador Jesus Cristo, se dei- xam enredar de novo e sdo vencidos, tornou-se o sett viltimo estado pior que o primeiro. Pois melhor lhes fora nunca tivessem conhecido o caminho da justica do que, apds conhecé-lo, volverem para tras, apartando-se do santo mandamento que lhes fora dado” (2 Pe 2.20-21). COMPELIDOS AO CONFLI] O ful Pessoas nessa situagao geralmente dedicam sua vida a atacar a verdade que rejeitaram — e normalmente lancam mao de sutilezas para isso. Durante o resto de sua vida, dizem coisas tais como: “Eu ja estive naquela situacao; jd fiz isso — ¢ ndo funciona. No passado, eu também acreditava nisso; mas isso nao é verdade. Agora, sou escla- recido. Permita-me dar-lhe esclarecimento, também”. Ou, conforme tantas pessoas tendem a dizer hoje: “No passado, cu costumava ter certeza de que conhecia ¢ entendia o significado das Escrituras; mas agora néo sou mais arrogante ao ponto de continuar afirmando isso”. De novo, isso é um eco classico da mensagem da serpente para Eva: “Foi assim que Deus disse...? Pois bem, escute a mim... e os seus olhos serdo abertos e vocés serao como Deus” (cf. Gn 3.1, 5). A GUERRA DURADOURA PELA VERDADE Assim como o préprio pecado, a apostasia ndo é, de modo al- gum, um fendmeno recente; tampouco é algo exclusivo da era crista. A partir daquele momento no Jardim, quando a serpente introduziu sua guerra contra a verdade no mundo dos homens — continuando até 4 conclusao do canon do Antigo Testamento ¢ indo além, até os dias de hoje — a campanha contra a verdade tem sido implacavel e surpreendentemente eficaz. Repetidas vezes, no Antigo Testamento, Israel foi solenemente advertido a n4o se apartar da fé. Apesar disso, os apéstatas s40 en- contrados em todos os periodos da historia do Antigo Testamento. As vezes, parecia que toda a nacdo havia apostatado. Por exemplo, na geracdo de Elias (uma época em que o total da populacao de Israel podia atingir, com certeza, varios milhdes de pessoas), o nitmero dos fiéis diminuiu para cerca de sete mil (1 Re 19.18). Elias imaginou, por urn momento, que ele era o unico crente vivo verdadeiro! Durante a vida de Jeremias, o tamanho do remanescente fiel provavelinenle fosse ainda menor. Quase todos em Israel eram hostis ao ministério de Jeremias. Depois de quatro décadas de lou A GLreRaA PELA VERDADE pregacao poderosa, o grande profeta ficou essencialmente sozinho. As Escrituras nao apresentam qualquer indicio de que ele tenha chegado a ver um dnico convertido. Em toda a época do Antigo Testamento, o problema da aposta- sia permeava tudo, e os tempos de fidelidade geral da na,au, como o avivamento descrito em Neemias 8, eram excepcionais e, na sua maior parte, de curta duracdo. O avivamento de Neemias logo deu lugar a uma forma superficial e insipida de religido (veja Ne 13). A indiferenga espiritual dominou a historia posterior de Israel. Por fim, toda a na¢ao tornou-se tao apdstata que, aa nascer o Messias promelido, quase Ludos os israelitas nao perceberam a verdadeira re- levancia do evento. Durante os trés anos de seu ministério publico, os israelitas clamaram para que Ele fosse morto como um impostar periposu e una aineaca a religido deles. Do ponto de vista humano, até parecia que os inimigos da verdade costumavam ter o dominio na época do Antigo Testamento. Porlanlo, adc nos surpreende o fato da palavra apostasia ocorrer varias vezes na Septuaginta (versdo grega do Antigo Testamento, que existia desde aproximadamente dois séculas antes do nascimento de Cristo). Em Josué 22.22, por exemplo, a apostasia é caracterizada como “rebeliao” ou “infidelidade contra o SENHOR”. Jeremias 2.19 também emprega a palavra apostasia para descrever o afastamento daqueles que deixavam totalmente o Senhor. Esse mesmo versiculo define a esséncia de toda a apostasia: “Nao teres temar de mim, diz.o Senhor, a SENHOR dos Exércitos”. Portanto, a apostasia, por mais chocante e desanimadora que seja, tem sido uma realidade sempre presente em toda a historia da redencan. Muitas pessoas que conhecem a verdade, rejeitam-na; e tem sido sempre assim. Nesse aspecto, os tempos em que vivemos nao tém nada de extraordinario, Até mesmo o ministério de Jesus nos apresenta um quadro assustador da apostasia na vida real. Jodo 6 registra que grandes multiddes apareciam por onde quer que Jesus estivesse, sempre que COMPELIDOs AO CONFLITO los Ele operava milagres. Mas elas se desviaram em massa, quando Ele comec¢ou a proclamar verdades que n4o queriam escutar. Na maioria das casos, parece que a rejeican a Crista par parte daqnelas pessoas nao era nada mais do que uma apostasia definitiva e irreversivel. No final daquele capitulo, extenso e tragico, o versiculo 66 afirma: “A vista disso, muitos dos seus discipulos o ahandonaram e jA nado andavam com ele”. Os ensinos de Jesus deixaram a verdade nitidamente clara. Aquelas pessoas que perceberam com clareza a verdade e enten- deram perfeitamente o que Jesus ensinava, no final, afastaram-se. Na realidade, foi precisamente a total clareza da verdade que as afastou. Quando perceberam a verdade como ela realmente era, simplesmente a odiaram. A verdade era muito exigente, impopular e inconveniente, uma grande ameaca aos planos daquelas pessoas, severa demais para com os pecados delas. Lembre-se: “Os homens amaram mais as trevas do que a luz; porque as suas obras eram més” (Jo 3.19). Essa foia maneira como a era do Novo Testamento comecou. As Escrituras ensinam também que a apostasia scr gencralizada no fim dessa era. Em seu discurso no monte das Oliveiras, Jesus apresentou uma descric4o extensa dos ultimos dias, incluindo esta: “Levantar- sc 4o muitos falsos profctas c enganarao a muitos” (Mt 24.11). De modo semelhante, Pedro profetizou que “virao escarnecedores com os seus escarnios, andando segundo as proprias paixdes e dizendo: Onde esta a promessa da sua vinda?” (2 Pe 3.3-4). Em 1 Timéteo 4.1-2, o apdstolo Paulo diz: “Ora, o Espirito afirma expressamente que, nos tltimos tempos, alguns apostatarao da fé, por obedecerem a espiritos enganadores e a ensinos de deménios, pela hipocrisia dos que falam mentiras e que tém cauterizada a propria consciéncia”. De fato, um dos pontos cruciais no fim dessa era sera um abandono mundial da verdade e uma ampla rejeicdo de Cristo, conhecida como “a apostasia”, conforme 2 Tessalonicenses 2.3. Assim, a apostasia é um fato de toda a Histéria, e jamais ha Ly A Greney pery Vewrsbe qualquer armisticio na guerra pela verdade. Nossa peragav certa- mente ndo é uma exce¢do a essa regra. Hoje, aleumas das maiores ameacas contra a verdade provém de dentro da igreja visivel. Ali, os apdstatas estao presentes em grande abundancia — ensinando mentiras, popularizando falsidades grosseiras, reinventando dou- trinas essenciais e redefinindo a prépria verdade. Parecem estar em todos os lugares da cultura evangélica contempordnea, mercadejan- do o evangelho. Mas 0s falsos mestres nao so necessariamente tao dbvins. Nan exibem distintivos que os identificam como apéstatas. Usualmente, fazem o maximo para nao se destacarem como inimigos da verdade. Fingem devogao a Cristo e exigem tolerancia por parte dos segui- dorcs de Cristo. Em muitos casos, sio pessoas muito simpdticas, persuasivas e que se expressam bem, Segundo Judas, isso é 0 que torna a apostasia um assunto de preocupacdo urgente para a igreja. A apostasia produz pessoas que podem se infiltrar na igreja “com dissimulacao” (Jd 4, énfase acrescentada). Paradoxalmente, as pessoas As vezes imaginam que hoje ndo existem mais falsos mestres c apéstatas, visto que o cristianismo tornou-se tao amplo e abrangente. Nao ha necessidade de envolver- se numa batalha pela verdade — uma vez que a propria verdade passou a ser infinitamente adaptavel c, portanto, capaz de acomodar os pontos de vista de todas a pessoas. Alguns até mesmo tém suge- rido que a verdade é suficientemente ampla para acomodar todas as idéias bem intencionadas das religiées ndo-cristas. Por conseguinte, o problema da apostasia é especialmente agudo na atmosfera radi- calmente tolerante da tendéncia pos-moderna de nossos dias. Hoje, muitos cristaos estéo fatigados da longa gucrra pela verdade. Sentem-se intranqiiilos quanto ao fato de que as discdrdias doutrindrias ¢ as divisées sejam uma mancha na unio espiritual da igreja e, portanto, um mau testemunho diante do mundo. Ouvimos constantemente estas perguntas e muitas cutras semelhantes: “Nao é hora de deixarmos de lado as nossas diferencas e apenas amarmos COMPELIDOS AQ CONFIITO iis uns aos outros?”; “Eu vez de lutarmos contra as pessoas das quais discordamos, por questées doutrindrias, por que nao temos um didlogo cordial com elas e cuvimos suas idéias?”; “Nao podemos ter uma conversa amistosa, em vez de uu cuullilo amargo?”; “Nao devemos ser agradaveis, em vez de contenciosos?”; “A geracao atual precisa realmente perpetuar a lita por causa de crencas e ideologias? Ou podemos, finalmente, declarar a paz e deixar de lado Ludas as contendas a respeito de doutrina?” E claro que existe uma preorupa- Mas OS FALSOS cao legitima no tom dessas perguntas. MESTRES NAO SAO As Escrituras nos ordenam: “Se possi- NECESSARIAMENTE vel, quanto depender de vis, tende paz TAO OBVIOs, NAO com todos os homens” (Rm 12.18); EXIBEM DISTINTIVOS “Segui a paz com todos” (Hb 12.14); “O QUE OS IDENTIFICAM fruto do Espirito 6: amor, alegria, paz, COMO APOSTATAS longanimidade, benignidade, bondade, USUALMENTE, FAZEM fidelidade, mansidio, dominio pré- © MAXIMO PARA prio” (Gl 5.22-23). Entendidas juntas, NAO SE DESTACAREM essas passagens deixam claro que COMO INIMIGOS DA as Escrituras exigem da nossa parte VERDADE, PINGEM © oposto de uma atitude briguenta. DEVOCAO A CRISTO E EXIGEM TOLERANCIA POR PARTE DOS SEGUIDORES DE CRISTO, Nenhuma pessoa que exibe o fruto do Espirito pode deleitar-se no conflito. Deve ficar claro, portanto, que a cha- mada pata batalharmos pela fé nao é uma permissdo para que espiritos contenciosos promovam deliberadamente contendas por questées insignificantes. Mcsmo quando o conflito se revela inevitavel, nao devemos adotar um espirito maldoso. Mas ha ocasides em que o conflito é inevitavel. Essa é a razdo por que Judas escreveu sua cpistola. Para sermos fiéis a verdade, precisamos, as vezes, travar “guerra civil’ dentro da igreja — mor- mente quando os inimigos da verdade, que adotam a falsa postura

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