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O livro "O que é isto - Decido conforme minha consciência?" de Lênio Streck debate a ideia arraigada de que juízes devem decidir com base em sua consciência pessoal. Streck argumenta que decisões judiciais não devem se basear em critérios subjetivos, e sim respeitar os princípios de um Estado democrático de direito. A obra provocou debates acalorados entre estudantes de direito e magistrados.
Descrizione originale:
RESENHA
Titolo originale
Resenha Do Livro O Que é Isso - Decido Conforme Minha Consciência de Lênio Streck
O livro "O que é isto - Decido conforme minha consciência?" de Lênio Streck debate a ideia arraigada de que juízes devem decidir com base em sua consciência pessoal. Streck argumenta que decisões judiciais não devem se basear em critérios subjetivos, e sim respeitar os princípios de um Estado democrático de direito. A obra provocou debates acalorados entre estudantes de direito e magistrados.
O livro "O que é isto - Decido conforme minha consciência?" de Lênio Streck debate a ideia arraigada de que juízes devem decidir com base em sua consciência pessoal. Streck argumenta que decisões judiciais não devem se basear em critérios subjetivos, e sim respeitar os princípios de um Estado democrático de direito. A obra provocou debates acalorados entre estudantes de direito e magistrados.
Resenha do livro "O que isso - Decido conforme minha
conscincia?" de Lnio Streck
AUTOR: Jos Erigutemberg Meneses de Lima
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luis Roberto Barroso quando de sua primeira interveno no julgamento da Ao Penal 470 e ao declinar algumas linhas de suas pr-compreenses sobre o tema, aludiu no ser a interpretao e aplicao do direito nem atividade mecnica tampouco comportar preciso matemtica. Deu a entender que a viso de mundo do intrprete jurdico pode, sim, fazer diferena na construo dos seus argumentos e nas escolhas que com freqncia precisam ser feitas no processo decisrio. Percebe-se o mesmo juzo no depoimento do Ministro Luiz Fux que, desde o incio da ao penal paradigmtica, no qual declara que mtodo de julgar consiste em, aps procurar ver qual a soluo justa, dar roupagem jurdica para a soluo.[1] No se deve apressadamente concluir que o decisionismo jurisdicional, aqui posto na qualidade de liberdade interpretativa, revelado pelos dois ministros paire unicamente sobre as cabeas laureadas a refletirem-se nas folhas do painel em mrmore bege-bahia que decora o plenrio do STF. O voto proferido pelo ministro Humberto Gomes de Barros, serve de exemplo da prtica no Superior Tribunal de Justia (STJ): No me importa o que pensam os doutrinadores. Enquanto for ministro do Superior Tribunal de Justia, assumo a autoridade da minha jurisdio. (...) Decido, porm, conforme minha conscincia.[2] Decerto, a atitude de juzes como Barroso, Fux e Gomes de Barros consistindo em decidirem de acordo com a concepo pessoal obviamente influenciados pela concepo das pessoas que compe seu ambiente familiar - deve ter dado o impulso argcia de Luis Alberto Warat para cunhar a jocosa afirmao de que em verdade a fonte do direito so as sogras do juiz.[3] Para o professor e advogado argentino, do costume dos juzes de decidirem primeiramente de acordo com as impresses da sogra mesa do jantar e depois buscarem roupagem jurdica, como defendido por Luiz Fux, que surge a multiplicidade de decises diametralmente opostas para situaes concretas absolutamente idnticas. Raciocnio assemelhado ao de Warat, qui tenha inspirado o professor Lnio Luiz
Streck para a construo do livro O que isto? decido conforme a
minha conscincia?[4]. Neste ousado libelo, lanado em meados de abril de 2010, o primeiro da Coleo O que isto? O autor busca respostas de fundo hermenutico para a fundamentao das decises jurdicas, erigindo com suas idias inovadoras as bases de uma teoria ps-positivista que venha ocupar espao do mito do decido conforme minha conscincia, arraigado na mente dos magistrados como acima se exps. Embora os fundamentos tericos no se constituam em algo absolutamente inovador, desde que as idias desenvolvidas freqentam outras obras de Streck, a exemplo de Hermenutica Jurdica e (m) Crise e Verdade e Consenso o livro presta-se fermentao do debate havido entre a convico pessoal do juiz e o critrio por ele utilizado para resolver as determinaes da lei. Claro que o novo acirra os nimos e provoca crticas, isto o que acontece quando uma obra surge recheada de variegada soma de curiosidades a serem desvendadas e debatidas aps inmeras leituras. No esteio das curiosidades surge o prprio ttulo aposto em forma de indagao. O que isto: decido de acordo com minha conscincia? Poderia ser substitudo, conforme palavras do prprio autor, sem perda de substncia, por O que isto mixar objetivismo e subjetivismo e tempos de virada lingstica? Outra curiosidade encerra-se na capa que destaca a Torre de Babel... Polmica e curiosa, a obra vem ouriando o esprito tanto de inscritos no Doutorado Interinstitucional, DINTER, realizado entre UNISINOS e FURB quanto no de aspirantes magistratura catarinense. Neste mbito, o debate ganhou foras e proliferou nos fruns e nas redes sociais, por conta de a banca elaboradora do concurso, ao tentar avaliar conhecimentos no mbito da interpretao e aplicao do direito no paradigma do Estado Constitucional, ter exigido posicionamento acerca da panprincipiologia, do princpio da razoabilidade e do decisionismo tendo por base o tema: A linguagem o que est dado e, portanto, no pode ser produto de um sujeito solipsista (Selbstschtiger), que constri o seu prprio objeto de conhecimento.[5] No preciso muito esforo ou gasto de tinta para deduzir que a grita foi geral e que, com a violncia das guas de outubro provocou uma enxurrada de recursos com os mais diversos argumentos propostos por aqueles que no concordaram ter o saber avaliado mediante parmetro
estabelecido em teoria ainda em construo, no solidificada, e cujos
princpios permeiam apenas as teses defendidas pelo jurista gacho. Bom. Talvez a reao dos concurseiros faa parte da esperteza macunamica inculcada na personalidade de intelectuais e broncos tupiniquins. Ou, de outro modo, em jargo mais sisudo, derive do decisionismo contra o qual Streck volta suas armas e eles (os futuros magistrados) aperfeioaro, aps ultrapassarem o patamar da prova de conhecimento e ttulos. Os togados que se entendam. Deixe-se isso para l. Aqui vale saber, afinal, que bicho este que tanto tingiu com as cores do assombro as futuras togas catarinenses e tanto entusiasma os doutorandos da FURB. Generalizando: em curto perodo, o livro afronta as diversas formas de decisionismo ao discutir a chamada filosofia da conscincia. Ponto. Isto porque em todas as linhas e entrelinhas o autor deixa antever que as decises judiciais no devem ser tomadas a partir de critrios pessoais, considerando-se a conscincia psicologista do intrprete. Em um estado democrtico de direito segundo ele no cabe mais dizer entre a lei e a minha conscincia, opto pelo meu sentimento do justo que est na minha conscincia. Agora j numa abordagem mais pontual derivada de uma leitura sem aprofundamento, retiram-se da parte preambular do livro as noes de sujeito, objeto e o giro ontolgico-lingustico, destacando o autor nesta fase a importncia da filosofia para o direito. E aps discorrer detalhadamente sobre como cada poca lidou com os fundamentos da deciso termina o captulo esclarecendo que O que importante ressaltar aqui que o problema da verdade e, portanto, da manifestao da verdade no prprio ato judicante - no pode se reduzir a um exerccio da vontade do interprete (julgar conforme sua conscincia), como se a realidade fosse reduzida sua representao subjetiva.[6] Em seqncia, o autor procura desfazer o paradigma da conscincia que entende que o direito aquilo que o interprete (juiz, tribunal etc.) quer que ele seja. Trava combate com a tendncia arraigada de que o juiz deve julgar em determinado momento segundo aquilo que ele sente, de acordo com sua conscincia, possibilitando discricionariedades e arbitrariedades.
Em canto avanado do livro, o autor d resposta ao que a banca exigia
dos participantes do concurso da magistratura, ao fazer meno ao critrio da razoabilidade, decretando que a maior parte das sentenas e acrdos acaba utilizando tais argumentos como um instrumento para o exerccio da mais ampla discricionariedade (para dizer o menos) e o livre cometimento de ativismo.[7] Adiantando-se mais, o autor identifica a existncia de vrias correntes tericas pairando sobre o direito positivo moderno fazendo com que o magistrado possa defender esta e aquela posio, situao percebida no agir do Ministro Fux, citado alhures. Por este ponto, o autor alude, ainda, o papel decado da doutrina no cenrio jurdico atual fato que proporciona a submisso dos tribunais ao imprio dos enunciados assertrios que se sobrepe reflexo doutrinria, [8] a exemplo do visto com o voto do ministro Humberto Gomes de Barro. Enfim, como se delineou acima, o livro ilustrado com a Torre de Babel comea e termina com indagaes, como se o autor pego em ato falho reconhecesse que a teoria ps-positivista do direito por ele proposta mesmo depois de estampada em vrios livros que do suporte terico a este - ainda se acha em processo de formao. De toda sorte, o autor feliz ao rediscutir a busca da superao do positivismo jurdico assentado no solipsismo do sujeito da modernidade. Nesse sentido so as explanaes de Streck: Desse modo, quando falo aqui e em tantos outros textos de um sujeito solipsista, refiro-me a essa conscincia encapsulada que no sai de si no momento de decidir. contra esse tipo de pensamento que volto minhas armas. Penso que seja necessrio realizar uma desconstruo (abbau) crtica de uma idia que se mostra sedimentada (ou entulhada, no sentido da fenomenologia heideggeriana) no imaginrio dos juristas e que tem se mostrado de maneira emblemtica no vetusto jargo: sentena vem de sentire(para citar apenas um entre tantos chaves, que, como j demonstrei, transformaram-se em enunciados performticos). [9] Por ltimo, atando as pontas do novelo ou fazendo a conexo entre a abertura do texto com seu final, o que recomenda a boa tcnica de redao, resta dizer que, mesmo que Luis Roberto Barroso tenha declarado que a interpretao e aplicao do direito nem atividade mecnica tampouco comportar preciso matemtica, parceiro intelectual de Streck combate a corrente dos que ressaltam a decadncia do paradigma jusprivatitico em detrimento da hermenutica constitucional. [10]
[1] Disponvel em:. Acesso em: 22 ago. 2013.
[2] Voto do ministro Humberto Gomes de Barros no AgReg em Resp n 279.889/AL., julg. Em 03/04/2001, DJ 11/06/2001, STJ, citado s pg. 25 [3] Captura Criptica: direito, poltica, atualidade. Florianpolis, n.2., v.2., jan./jun. 2010. P. 41. Disponvel em:. Acesso em: 22 ago. 2013. [4] STRECK, Lenio Luiz. O que isto decido conforme minha conscincia? 3. Ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2012. [5] Disponvel em:. Acesso em: 22 ago. 2013. [6] Ibidem, p. 19 [7] Ibidem, p. 48 [8] Ibidem, p. 88 [9] Ibidem, p. 59 [10] OLIVEIRA, Vitor Costa. A formao do neoconstitucionalismo e sua prevalncia na contemporaneidade. Jus Navigandi, Teresina, ano 13, n. 1655, 12 jan. 2008. Disponvel em:. Acesso em: 23 ago. 2013.
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