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Familias e casais 25 Chego alguns dias antes do workshop e entrevisto duas familias. Edito fitas em que apresento o primeiro e segundo dias em que vi ambas as familias ao vivo em um estiidio, onde se projetam as sessées para a audiéncia. Em geral, nds (a familia e eu) buscamos apresentar uma narrativa coerente que leve em consideracao o contexto cultural familiar. Venho seguindo esse for- mato em 26 paises, da Nova Zelandia ao Japao, da Espanha a Alemanha, do México a Argentina, trabalhando com tradutor na maior parte dos casos. Tenho questionado a natureza do ajuste entre mim e¢ essas familias de culturas tao diversas. O entendimento mtituo nao deveria ser possivel, porque com frequéncia me vejo perdendo as nuances verbais t4o importantes em te- rapia, e tenho trabalhado em paises dos quais ignorava por completo as regras. culturais. Cheguei A conclusao de que ha duas formas de explicar esse fend- meno. Uma seria que sou um mestre no hipnotismo, capaz de convencer fam{- lias de diferentes culturas de que minha forma de ver as suas experiéncias é superior a sua propria forma. A outra explicacdo, mais aceitavel, é de que todos nés, ett préprio incluso, somos sujeitos a formas comuns de ver e entender as relacdes familiares, e que eu ofereco as familias uma estrutura organizadora que parece explicar seus dilemas, e entéo elas utilizam esse modelo e nele fazem inovac6es, colocando-o sob maneiras individuais. UM MODELO DE QUATRO ETAPAS PARA ACESSAR A FAMILIA No trabalho com familias, a arte de acess4-las consiste em descobrir o que impede a familia de atingir seus objetivos e unir-se a ela para conceber uma visio de como passar de onde ela esta para onde ela quer estar. Abordamos essa tarefa em quatro etapas: (1) ampliar a queixa apresentada; (2) destacar 0 problema ~ interacdes mantenedoras; (3) investigar 0 passado com foco na estrutura; (4) descobrir/cocriar formas alternativas das relacdes. Etapa 1: ampliar a queixa apresentada A primeira etapa consiste em desafiar a conviccdo da familia de que o pro- blema primério se localiza no mecanismo interno do paciente individual. Esta é a etapa que transforma a terapia em terapia familiar. As técnicas usuais incluem: * Focar as areas de competéncia do paciente identificado. * Dar um sentido diverso do proposto pela familia para encarar 0 pro- blema (reenquadramento). « Explorar as formas de apresentacao dos sintomas e dedicar atencéo aos detalhes. * Observar o problema sob diferentes perspectivas até que os sintomas percam sua toxicidade. « Explorar 0 contexto no qual os sintomas se manifestam. 26 Salvador Minuchin, Michael P. Nichols & Wai-Yung Lee © Pesquisar dificuldades de outros membros da familia, similares ou di- ferentes daquelas apresentadas pelo paciente identificado. « Encorajar o paciente identificado a descrever 0 sintoma ¢ o significado que atribui ao mesmo, a descrever outros aspectos de si, a descrever a familia, e dar a ele um espaco respeitoso enquanto os demais mem- bros da familia tornam-se espectadores. Etapa 2: destacar o problema - interacdes mantenedoras A segunda etapa consiste em explorar 0 que os membros da familia podem estar fazendo para perpetuar 0 problema. A chave é auxiliar os clientes a ver como suas acées podem estar mantendo o problema, sem provocar resisténcia. Esta etapa é bdsica para toda intervencdo no sistema de crencas. Com efeito, a natureza complementar da influéncia mttua entre os membros da familia é senso comum, e, desse modo, isso nunca constitui uma surpresa genuina para os membros da familia, os quais ja devem ter se questionado, aberta ou silenciosamente, “O que nés fizemos?”, “O que devemos fazer de forma diferente?”, antes de cristalizar sua formulacio inicial: “Isto esta nele”. Paul Watzlawick descreveu este processo no seu paradoxo: “O problema é a forma como a familia tenta resolver o problema”. Quase sempre o terapeuta encontraré uma parte, a parte curadora dos membros da familia, pronta a aliar-se com 0 processo de ajuda. Como um fato positivo, esta segunda etapa conta com a premissa de que os membros da familia mudarao seu padrao de relacdo se conseguirem ver a si mesmos como capazes de ajudar o paciente identificado. As técnicas nesta etapa variam conforme o terapeuta, mas sao descritas em todos 0s livros sobre terapia familiar, e o leitor vai encontra-las salpicadas repetidas vezes ao longo dos casos relatados neste livro. Etapa 3: investigar o passado com foco na estrutura A terceira etapa consiste em uma exploracdo breve e focada do passado dos membros adultos da familia, com o objetivo de auxilid-los a entender como chegaram a sua visio restrita do presente, de si mesmos e dos outros. Esta etapa é nova para nés, ainda que sempre tenha sido parte da terapia com abordagem psicodinamica. Pensamos que a rejeico das experiéncias do passado na forma- co basica do self foi uma resposta ideolégica da terapia familiar em sua polémica com os pensadores psicodinamicos, e que a area agora jé esta madura o sufi- ciente para corrigir seu partidarismo inicial. Sendo agora um octogenario, tenho consciéncia dos fragmentos da minha infancia flutuando e influenciando minhas respostas no presente. Sei que isso é verdade para vocés, os leitores deste livro. A questao entao reside na forma como intervimos nesta etapa. Como podemos utilizar esta exploracao do passado de maneira a facilitar a expansao dos padrées de relacionamento no presente? Familias e casais 27 Vemos esta etapa como a continuacio das exploracdes do estilo de rela- cionamento que o terapeuta e a familia desvelaram na etapa anterior. Assim, est direcionada para dreas especificas que tenham sido reveladas como geradoras de dificuldades. O terapeuta pode comecar com uma pergunta a um membro da familia: “Vi na tltima sesso que vocé nao desafiard seu parceiro mesmo em situacdes onde fica claro que ele est errado e que vocé discorda dele. Que experiéncias em sua infancia Ihe organizam no sentido de evitar discordancias?”, “Como seus pais selecionaram para vocé este par de lentes em particular?”, “Este par de lentes que seus pais lhe ajudaram a escolher parece reduzir sua capacidade de envolver-se com seu parceiro. Poderia falar sobre como isto foi escolhido para ‘vocé em sua infancia?”, “Vimos anteriormente que vocé parece agir como se tivesse oito bracos, quando de fato sabe que seus dois bracos estio cansados € gostariam de no ser sobrecarregados dessa forma. Como na sua infancia vocé escolheu essa orientacéo especifica para suas relacdes com as outras pessoas? Vocé pode falar a respeito disso?”. Alguém poderia pensar sobre essa forma de questionamento como originada nao apenas do pensamento psicodinamico, mas também da tradicao narrativa de encontrar novos sentidos em velhas historias. Na terceira etapa, os filhos permanecem como audiéncia das historias de seus pais. Na quarta etapa eles vao se unir a seus pais como participantes ativos. A quarta etapa é que torna uma avaliacdo nao apenas precisa, mas também util Etapa 4: descobrir/cocriar formas alternativas das relacées Apés desenvolver um quadro inicial dos motivos que mantém a familia bloqueada e de como esse caminho foi tomado, os membros da familia e 0 terapeuta falam sobre quem precisa mudar o que - e quem tem a disposicdo de fazé-lo ou nao. Sem essa etapa, que transforma o processo de avaliacao de uma operacio realizada nas familias em uma operacao realizada com a fami- lia, a terapia frequentemente torna-se um processo de empurrar as pessoas para onde elas nao veem razao para ir. Nao é surpreendente que resistam. Ainda que muito tenha sido escrito na area sobre as técnicas de terapia, ainda nao exploramos suficientemente o processo da danca terapéutica, os movi- mentos necessérios para gerar mudancas. As técnicas terapéuticas sio apenas ferramentas utilizadas para realizar uma tarefa especifica. Normalmente, os tera- peutas possuem uma caixa de ferramentas com as pecas corretas, mas carecem de um mapa. Ainda que seja necessério 0 terapeuta estar equipado com algumas ferramentas para entrar no sistema familiar, estas tornam-se contraproducentes se no existe uma orientacdo conceitual subjacente & sua aplicacao. No novo milénio, a necessidade nao esta em mais e melhores téc- nicas — pois jé temos um grande estoque delas. Ao contrario, nosso objeti- vo reside em provermos uma visdo conceitual ampla o suficiente para orga- nizar a multiplicidade de formas de conceitualizar e intervir nos problemas da 28 Salvador Minuchin, Michael P. Nichols & Wai-Yung Lee familia. Nos dez casos que apresentaremos adiante, tentaremos focar as téc- nicas como uma parte do processo de gerar algo novo. Nosso modelo de quatro etapas é concebido para ser titil a terapeutas de varias correntes, na medida em que operam por meio dos estdgios de aber- tura da terapia familiar (ver Tabela 1.1). Tabela 1.1 O modelo de quatro etapas Etapa 1 Etapa 2 Etapa 3 Etapa 4 Descentralizaro ——_Investigar os Investigar 0 que os Redefinir 0 problema padroes familiares — membros da familia problema e apresentado eo = que mantémo trazem do passado _testar opcdes portador problema que ainda influencia do sintoma © presente As etapas nesta tabela esto muito simplificadas. Ao transitar pelas mes- mas, faz-se necessdrio deter algum entendimento sobre como as familias se or- ganizam, e nao impor seus prdprios conceitos sobre elas. O objetivo do processo de “acessar” as familias deve ser descobrir com elas uma forma nova e ttil de compreensio de seus dilemas e explorar seus préprios recursos de cura. Tabela 1.2 Expansio do processo de quatro etapas Entendendo a organizacao familiar Técnicas Estrutura Unido Fronteiras Dramatizagao Aliangas Escuta Coalizées Mapeamento Triangulacao Reenquadramento Ciclo de vida da familia Intensidade Competéncia Definicao de fronteiras Desequilibrio Quando tentamos acessar a utilidade de nosso instrumento com tera- peutas iniciantes, alunos graduados em um curso de terapia familiar, eles entenderam o conceito inerente a primeira etapa, e sabiam que precisavam descentralizar o paciente identificado e o problema, movendo-se em direcao das relacées interpessoais. Entretanto, no sabiam como fazer isso acontecer. Percebiam que precisavam encontrar uma linguagem que convidasse os membros da familia a explorar tal territério. Para preencher essa lacuna, ensinamos sobre organizacdo familiar e sobre como os membros da familia Familias e casais 29 fazem parte de um sistema familiar. O mapa, entdo, perde sua simplicidade porque questdes sobre como unir-se & familia, como entender as histérias dos membros da familia no contexto do sistema familiar, como manter a curio- sidade e apoiar os membros da familia ao mesmo tempo em que desafiamos a rigidez familiar, como ouvir os contetidos e ver os comportamentos — em su- ma, como fazer terapia - estavam faltando no processo. UM ULTIMO MOMENTO DE REFLEXAO Antes de iniciarmos uma aplicacao caso a caso de nosso modelo, pode ser bom considerar algumas questdes sobre a ideia geral de avaliar familias. A terapia familiar é a melhor forma de aliviar a dor de um membro individual da familia? Pode a terapia familiar ter consequéncias imprevisiveis para 0 paciente identificado, ou para outros membros da familia? As mudancas benéficas na familia podem ser consideradas inadequadas no seu contexto social? Em outras palavras, a mudanca pode ser vista como algo errado do ponto de vista moral, politico ou ideolégico? Gregory Bateson fazia questionamentos desse tipo e desconfiava da ideia de tentar mudar as pessoas. Como antropdlogo, era pouco inclinado a fazer julgamentos. Terapeutas, pensava ele, eram taxonomistas: criavam etiquetas diagnésticas e, entéo, acreditavam que eram reais.'' Bateson preocupava-se com 0 enviesamento cultural das pressuposicdes dos terapeutas e com as pres- s®es que estes colocavam sobre as pessoas de modo a acomodé-las a sua versao de como as coisas deveriam ser. Tais preocupacdes foram ampliadas nos Ultimos anos pela critica pés-modernista, que desafia até mesmo a nocdo de que a verdade possa mesmo ser conhecida. O que passa por verdade, dizem os p6s-modernistas, é apenas uma forma de contar a hist6ria. Na era do ceticismo pés-modernista, os terapeutas familiares encontram- se em uma encruzilhada. Podem eles, como um personagem das historias de Jorge Luis Borges, caminhar em duas estradas a0 mesmo tempo? Podem acei- tar a historia de uma familia como valida e ainda assim pensar que uma nova histéria possa ser util? E se assim ¢, podem escolher entre ver familias pertur- badas como paralisadas em padrées de comportamento autodestrutivos ou cognicées autodestrutivas? Hoje nos vemos em um paradoxo similar aquele em que os fisicos en- contravam-se quando perguntaram se a luz era transmitida por particulas ou por ondas. Concluiram que: sim, mas depende da natureza da observacdo. Em vez de perceber que ha mais de uma maneira de descrever as pessoas, 0s terapeutas familiares tendem a dividir-se em campos tedricos. A escola nar- rativa, seguindo 0 pés-modernismo, acolhe o contar histérias. S40 as hist6- rias que as pessoas contam a si mesmas que organizam suas experiéncias e

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