Sei sulla pagina 1di 68
EDITORA 4 VOZES Um vide pel om ro vendesi@vozes.com.br pone cs See lingshiga Ison 978. 7 976-2462-8 WN WARS Maria Helena Zancan Frantz TORA VOZES A literatura nas séries iniciais A procura do fio da meada Ao longo de mais de trés décadas, envolvida com © ensino da literatura no Ensino Fundamental, Médio e Superior, muito tenho me intertogado a respeito da minha fungéo como educadora, do papel da Titeratu- xa em nossa vida ¢ no processo ensino-aprendizagem, ‘bem como a funcéo da escola na formacio dos nossos estudantes. Observando meus alunos, via nitidamente uma enorme diferenga entre um aluno-leitor e um aluno-no leitor. Bessa diferenca nfo era notada apenas por mim, mas também confiemada pelos colegas das demais ére- as do conhecimento, Da mesma forma percebia-se uma grande distancia entre um aluno-leitor-desde-o-princi- pio (pré-escola) e um aluno-leitor-iniciado-tardiamen- te ~ nas séries finais do Ensino Fundamental ou do Médio —na maioria das vezes pressionados pelo ves- tibular, O universo das leituras de cada um, acompa- nhando cada etapa do desenvolvimento, passando pelas diferentes fases de leitura € que fazia a grande e visivel diferenga Apoiada, entdo, em textos de intimeros autores (ci- tados ao final deste livro) sobre 0 tema, foi toman- do forma a minha primeira grande descoberta: ler fiz a diferenga. E fui perccbendo, entio, o papel decisivo, fundamental da leitura no processo de construgao do conhecimento. Ao mesmo tempo, fui recolhendo ao longo do cami- nho, subsidios que reafirmavam a cada dia essa des- coberta e iam, aos poucos, transformando-a em uma firme conviegio: 0 texto literdrio é fator imprescindivel no processo de formagao do leitor. E a porta de entrada para o mundo da leitura, Com o passar dos anos fui formulando algumas conclusées. Primeira: uma proposta de educacdo que se queira, de fato, transformadora, inclusiva, democré- tica, emancipatéria, 56 ser posstvel se a escola tiver sucesso no empreendimento de formar leitores. Segun- da: a literatura infantil, por seu cardter hidico-magico , €0 caminho natural, a chave mégica que abre a porta 16 de entrada principal que dé acesso ao mundo da leitu- rae a tudo o que ela pode nos proporcionar. Porém, ao mesmo tempo, constatamos que a escola tem falhado, ¢ muito, na condugdo dese processo, no que se refere a formagiio do leitor. Ela ndo tem conse- guide introduzir o aluno no mundo da leitura, a partiz da beleza, da magia, do prazey, da alegria que uma boa leitura pode proporcionar ao seu leitor. O aluno néo consegue perceber a leitura como uma atividade sig- nificativa e gratificante em sua vida, e por isso ndo se interesea por ela e entio nfo a pratica. Todas as propostas pedagégicas das escolas, hoje, sfo undnimes em afirmar que querem uma educacéo transformadora, libertadora, emancipatéria, inclusiva, etc. Propdem-se também a “construir conhecimento”. ‘O que se busca é uma educagao que promova a cida- dania, Vemios que a escola sabe que tipo de educacao quer fazer, mas muitas vezes nao sabe come fazé-la. E 9 pior, ndo dispde das condigdes basicas, dos instru- mentos adequados para alcangar esses objetivos. Os sujeitos envolvidosno processo ensino-aprendizagem nem sempre sao sujeitos leitores. Fm razao disso toda a proposta pedagégica da escola fica comprometida, pois como nos adverte Luzia de Maria, em Leitura & colheita (20U2: 40) “a effcdcia da escola pode ser medida nu a7 modo como conseguiu prover o aluno de competéncia Tin guistica para o exercicio consciente de sua cidadania”. Portanto, a melhora na qualidade de ensino que tanto buscamos 86 serd aleangada quando a escola con- seguir formar, de fato, leitores. Quando a escola obti- ver sucesso nessa que é a sua maior e mais importante tarefa. Nao podemos esquecer também que em uma sociedade letrada como esta em que vivemos a leitu- ra é condigao primeira, indispensavel para o exercicio pleno da cidadania. Assim, se o professor das séries iniciais tiver sucesso em iniciar seus alunos polos ca aninhos da leitura através da literatura, ¢ os professores das etapas seguintes derem continuidade a esse traba- Iho, temos certeza de quea escola brasileira conseguir’ dar um grande salto de qualidade ¢ 0 professor-alfabe- tizador, bem como os demais, terao cumprido da me- thor forma a sua maior tarefa como educadores. Esse 6, pois, 0 desafio maior e 0 primeiro que deveré ser enfrentado pela escola se quisermos comegar a mudar ‘© quadro triste da qualidade do ensino brasileiro. Mas, por Gbvia que possa parecer essa conclusio, vemos ainda nas escolas um grande descompasso frente a essa questio. E isso em todos os niveis, em todos os graus. Ha, na verdade, um enorme cami- nho a ser percorrido entre 0 que se sabe ser neces- » Sdrio € 0 que de fato se faz ou se consegue fazer 18 para a constituicéo de sujeitos leitores. Muitas vezes © professor tem consciéncia disso tudo, mas se sente impotente, despreparado, sem recursos pedagégicos para fazer esse trabalho. O curso que o formou, na maior parte das vezes, nio o preparou para a sua mais importante tarefa ~ ai também a literatura foi tratada apenas como uma atividade decorativa, marginal, um apéndice das outras disciplinas. Ent4o, por onde comecar? © ponto de partida é sempre um professor-leitor, com amplo conhecimento do acerve da literatura infantil disponivel, que atra- vés do seu testemunho de amor pelo livro possa aju- dar seu alto a também estabelecer lagos afetivos com a leitura, “Para acompanhar o processo de formagio do aluno-leitor é imprescindivel que o professor tenha construido ou esteja construindo, para si proprio, uma histéria de leitor” (MARIA, 2002: 49). O segundo passo, que é decorréncia da importin- cia que ele dé para a leitura na sua vida, 6 dedicar um espago nobre para a vivéncia da literatura em suas au- las. Depois, cuidar para nao destruir o prazer que essa leitura possa trazer aos alunos, propondo atividades chatas, repelitivas ou que nada tém a ver coma leitura feita ou com a natureza da literatura. Por isso, ele ne- cessita de uma metodologia para trabalhar a literatura com seus alunos. Afinal, uma tarefa tio importante e 19 decisiva quanto essa nao pode mais ser feita na base da improvisagio. Em resumo: 0 professor deveré ter 0 cuidado de fa- zer dessas experiéncias de leitura algo realmente pra zeroso, significativo, gratificante para a crianga. Caso quiser prolongar o prazer dessa leitura ou exploré- Ia sob outros angulos, cuidaré de propor atividades Iidico-artisticas afinadas com 0 texto literério infantil 1, artistico). Nao podemos esquecer também que a crianga dessa faixa (que é essencialmente ltidico, magic etéria vive a fase do pensamento lidico e a fase do ‘pensamento magico. Brincar, fantasiar, questionar é a forma utilizada por essa crianga para conhecer ¢ ex- plorar a sua realidade, para construir os seus conhe- cimentos. A literatura infantil ¢ também ludismo, é fantasia, € questionamento, e dessa forma consegue ajudar a encontrar respostas para as indimeras indagacies do * mundo infantil, enriquecendo no leitor a capacidade de percepeao das coisas. Como podemos pereeber, a crianga e a literatura in- fantil compartilham da mesma natureza - ambas so Jtidicas, magicas e questionadoras — e essas afinidades fazem com que a literatura seja o mais poderoso aliado do professor e da crianca pela vida afora, na busca da compreensdo do mundo e do ser humano. Lucia Lins 20 B. Rego (1988) nos mostra que ha uma relagio muito estreita entre a convivéncia com o texto literario pela crianga jé na pré-escola € 0 sew éxito no aprendizado da leitura e da escrita na fase posterior. Justifica dizen- do que o texto escrito e o texto oral possuem caracte- risticas distintas, e a crianga que exercita o primeito terd mais facilidade para produzir seus proprios textos atendendo as exigéneias da lingua escrita-padrao, ou se utilizando da lingua de forma ltidica ou artistica. Concluimos afirmando com Maria da Gloria Bordini: Consideranda a natireza da literatura, po~ de-se afirmar que, se o professor esté com- prometido com wma proposta transforma- dora de educagio, ele encontra no material literario o recurso mais favorével & consecu- fo de sous objetivos (BORDINI, 1985: 18) a O que é leitura? ‘Todos lems a nds e ao mauido rnossa volta para vishumbrar o que somos ¢ oide estamos, Lemos para conpreender, ou para comegar compreender. Nao podemos deixar de ler Ler, quase como respirar, é ‘ossa.fuungto essencial. Alberto Manguel Os equivocos que se cometem em relagio 8s quies- t5es referentes & leitura tém sua origem, na maior parte das vezes, num conceito igualmente equivocado do ato de ler, O que se observa 6 aceitagio quase que geral da concepgio de leitura ("behaviorista-skinneriana”}, que a entende somente como “decodificagio mecani- a de signos linguisticos”. Nesse caso “o aprendizado se dé a partir do condicionamento estimulo-resposta” (MARTINS, 1984: 31). Somente amparado em tal conceito de leitura é que se pode entender a declara~ cao de alguém que confessa nao ter problemas com a leitura, apenas com a compreensdo do que lé! Vemos aqui, claramente, a desvinculagao entre 0 ato de ler e o de entender, acreditando-se que a leitura comega e termina no ato da decodificacdo, Nesse caso ainda, a “leitura” é vista como atribuigéo especifica do professor alfabetizador, enquanto os clemais professo- res eximenrse da tarefa que nao foi levada a termo de amancira satisfatoria no periodo da alfabctizagao. Temos, porém, um conceito mais abrangente de lei- tura, que nao a separa da sua compreensio: “aprender a ler significa aprender a ler 0 mundo, dar sentido a ele e a nés proprios” (MARTINS, 1984: 34). Essa nova concepgao (“cognitivo-sociolégica”) entende a leitura como “um proceso de compreensao abrangente, cuja dindmica envolve componentes sensoriais, emocio- nais, intelectuais, fisiolégicos, neurolégicos, culturais, econémicos e politicos” (MARTINS, 1984: 31). E um conceito amplo de leitura, uma vez que néo a restringe a linguagem escrita, mas a estende & leitura de sons, gestos, imagens, acontecimentos... Ler 6, pois, atribuir sentidos. Nesse processo néo se pode desvincular a capacidade do leitor de deci- » ffa¥ sinais da sua capacidade de atribuir-thes sentido. 24 Somente a partir da realizacao desses dois momentos & que se poder falar em leitura. Vista assim, a leitura se torna uma necessidade vital para o ser humano, in- dispensavel a sua vida, pois the revela o seu proprio eu, ao mesmo tempo em que Ihe dé instrumentos para melhor conhecer 9 mundo em que vive, E nessa perspectiva que Maria da Gloria Bordini afirma que “ler é conhecer, mas também conhecer-se; integrar e integrar-se em novos universos de sentidos; € abrir ¢ ampliar perspectivas pessoais; é descobrir ¢ atualizar potencialidades” (BORDINI, 1985: 27). Essa concepgdo de leitura como ato emancipatério ultrapas- sa os limites da escola, permitindo ao leitor a conti- nuidade e o aprofundamento do seu conhecimento de mundo muito além do periodo de escolaridade. 25 A fungéo da leitura Alleitura — principalmente a leiturn do texto lteririo — pode oe constituir numt fator de liberdade e transformagto dos homens Ezequiel Theodoro da Silva A sociedad contempordnea pode ser caracterizada por uma prética consumista cada vez mais acentuada materiais, mas ideias, valores e comportamentos. A glo- balizagao da vida corre o risco de set, na verdade, a perda da identidade do ser. A massificagéo ¢ a alienagdo dos individuos so pro- dutos necessérios « essa pritica. S40 produtos desejados e buscados de um processo cada vez mais envolvente, que se serve de maneira eficiente ¢ eficaz dos moder- nos meios de comunicagio, colocanco-nos diante de um grande paradoxo: quanto mais nos submetemos a influ- éncia desses meios de comunicagao — que supostamente deveriam nos tornar mais esclarecidos diante da reali- dade ~mais impotentes nos tomamios para reagir a essa situagio de dependéncia e dominagio e a ela ento nos ‘entregamos passiva e pacificamente. Nesse caso a lingua- gem deixa de ser um elemento de comunicacio, de inte- 1agao de dois sujeitos para se tornar um instrumento de poder (e dominagio) a servico de interesses alheios. Para reverter essa situiaciio é necessario que 0 indi- viduo se “aposse da palavra” —na expressao de Elvira Franga (1984). Isso s6 é poss{vel a partir do momento em que o sujeito é capaz de desvelar os sentidos de um texto (escrito, falado, de imagens), compreendendo as intengGes subjacentes a ele, ou seja, € capaz de ler além do texto, Nesse caso a paiavra deixa de ser um instru- mento de dominagao para se transformar em instru- mento de libertago do homem, possibilitando, a par- tir da reflexio, que ele se torne sujeito de sua histéria Essa, acreditamos, deve ser a funcao principal da lei- tura no mundo de hoje. E para isso que Vania Resende nos chama a atengo quando diz que a leitura pode ter Gua fun distintas e ‘opostas. A primeira, dlienadora, quando for- ‘THe iGredientes que alimicntam o mundo 28 de aspiragbes ilusbrias, desvinculadas de qualquer intengdo questionadora. Uma se- panic tlonve he desperta no lei Ges face'a6 que a obra contém ea tudo que ela revive e evoca fora do sujeito (RESEN- DE, 1985: 52}. Vista desse modo a leitura assume funcio critica e social muito importante, dando. ao homem direito a op- 40, a um posicionamento préprio diante da realidade. E, a medida que revela ao leitor esse mundo, desen- volvendo nele maior consciéncia individual e social, a leitura esta agindo no sentido da humanizagéo des- se individuo, ampliando a sua capacidade de penser, sentir e interagir nas relagdes sociais de seu tempo. Um dos principais objetivos da escola de hoje é dar instrumentos ao aluno para que ele possa ter acesso a0 acervo cientifico-cultural da humanidade, para que possa construir conhecimento. Todo o conhecimento cientifico, toda a produgio artistico-cultural da hu- manidade ests, de alguma forma, registrada a espera de um leitor, Através da leitura, um universo ines- gotdvel de eriocées e informagées se abre diante do leitor. A leitura deve ser a mediadora entre o leitor ¢ 0 aaundo para que a partiz dela ele possa redimensionar valores e vislumbrar novos horizontes para si e para a sociedade (RESENDE, 1985: 52). 29 Se considerarmos o grande ntimero de criangas que abandonam os baneos escolares antes mesmo de conclufrem 0 Ensino Fundamental, compreenderemos a importancia de realizarmos um trabalho que dé ao aluno condigdes de continuar construindo seu conhe-

Potrebbero piacerti anche