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PTAs) AGRADECIMENTOS ‘A ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL. SECAO RIO DE JANEIRO (OAB-R), NAS PESSOAS DO SEU PRESIDENTE, DR. \WADIH NEMER DAMOUS FILHO, EDR. MARCOS LUIZ, OLIVEIRA DE SOUZA, SECRETARIO-GERAL, PELO APOIO E}O OFERECIMENTO DA CHANCELA DA ORDEM PARA A EDICAO DO LIVRO A TODOS OS QUE, HA 20 ANOS| AUDARAM-ME NA PESQUISA, E A TODOS CS QUE, HOJE, CONTRIBUIRAM, DIRETA OU PARA A PUBLICAGAO IDA OBA AJORGE VIEIRA, ROSANGELA. EEQUIPE DA AJORGE COSTA E EQUIPE DA: ME EDITORA PRINCIPE DA PAZ, PELO’ EPELA SUMARIO PREFACIO in APRESENTACAO ww INTRODUGAO « 1 CONSIDERAGOES PRELIMINARES. 1. Uma Questio Neg? 25 2 Ajostando Significador: Raciemo, Precoaceit, Discriminagio, Sepregacio 27 11, CULTURA RACIAL NO BRASIL... a 1. “Ascendéncia Europeia” eo Ideal de Emibranguecer 38 2.0 Homem Brasileiro 42 3.De Mitos aTabus 45 4. Reforco ¢ Desconstrucio dos Mitos 48 IIL NEGRO E DIREITO ee 56 a Aboligio 84 2. Daal Imposiio de “Bons” Costumes 88 3.2 Segrepagio e Discriminagio Costumeitas 93 33 BarceitasInstitucionsie 99 IV. NEGRO NOS ESTADOS UNIDOS E NO BRAS! eownsnnsennnnnnnne 104 1, Da Decisio Brown & Agio Afirmativa 104 () Sab naan “Magister Dixie” 139 REFERENCIAS nn ee tS ANEXO: LEGISLAGAO DE INTERESSE oc nssnnensnnnnnnrnnnnnne 130 “Que a justica constitu fonte concitual permanente da experitncia num sentido de melber, de mais perfeite, temos a prova no fato de ninguém Aesfraldara bandeira da injstiga, Quem, em nome da justia, revindicaria 4 familia patriarcab, as corporasbes foudais on a esavidao?” (Hermes Lima, 1983: 179) “Tgualdade perante a lei nao tem sempre significado tratamento eoportuni- dlodesjquaie.E 08 resultadas nocivos dectrutiveseinjiustos da divriminagao ¢ da segregarao raciais ainda aparecem em praticamente todos os pontos da Nagio” (Rennedy,1964: 173) PREFACIO Este texto corresponde @ monografia apresentada 4 OAB-RJ em 1988, vencedora do concutso “100 Anos de Aboli¢io”, promovido pela Entidade para comemorar o Centendtio daqucle acontecimento. © tema proposto aos concorrentes foi: “100 Anos de Abolicao, Nor- mas ¢ Costumes: © Negro, O Direito ¢ a Cultura Racial no Bra O eedital do certame previa a concessio de um prémio em espécie a0 autor da monografia vencedora € 2 publicacdo de um livro com as cinco primeiras colocadas. Embora o prémio pecuniatio fosse também um atrativo, concorri interessado muito mais na possibilidade de ter © texto publicado com a chancela da OAB, Divulgado o resultado, 0 Pago como previsto (ver fotos & pag, 14, adiante), porém a nor alguma razio, no aconteceu, o que s6 agora acontece, da atual diregio da Entidade. Dois dados contribuiram para a minha decisio de participar do concurso: primeiro, o fato de os cartazes espalhados pela cidade para divulgilo reproduzitem, lado a lado, a foto de um cabo da Policia Militar conduzindo presos, amarzados um ao outro, homens negros de uma favela catioca, ¢ uma gravura do tempo da escravidio, na qual se reproduzia cena semelhante; segundo, o requisito do anonimato para a aceitacio da inscri¢io, com a adverténcia aos candidatos de que nio colocassem no texto qualquer indicagio da sua identidade. Ademais, naqueles dias, estava clara a intencio do Governo e de setores impor- tantes da socicdade de aproveitar a data para reforgar a idéia de que, apés a Abolicio, negros e brancos passaram a conviver em perfeita 120 ANOS DE ABOLICAO 1888 - 2008 harmonia, dé vez que a Reptblica teria oferecido oportunidades iguais, para todos. Seria uma festa. Quis mostrar que nfio era bem assim. Vinee anos depois, verifica-se que 0 contetido da monografia con- tinua atual, ¢ que a adverténcia nela contida de que a discriminacio racial era combustivel certo para o incremento da violéncia urbana fazia sentido, razio pela qual empenhei-me em publicé-la. Mas s6 teria sentido fazé-lo se o texto original fosse mantido. Apesar dessa decisio, foi preciso revisé-lo e acrescentar alguns dados para que o mesmo nio apresentasse informagdes defasadas ou incompreensiveis, © que foi feito de preferéncia em notas de rodapé. Na verdade, de 1988 para ca foram editadas varias leis e desenvolvidos diversos programas de Agio ‘Afirmativa que beneficiaram, direta ou indiretamente, a populagio ne- gra. Além disso, mudou muito a atitude de “‘negros” e “brancos” (aliés, uma diferenca importante é que passou a ser politicamente incorreto referit-se aos negros como negros, ¢ aos brancos como brancos...)'- Decidi incluir no livro, 20 final: (@) texto-base, “A Guisa de Posfi- cio”, de palestra que proferi em novembro passado no Festival Afro Brasileiro, realizado no SESC / TIJUCA em homenagem a Zumbi dos Palmares; ¢ (b) uma reflexio sobre educagio e identidade, introdutéria de minha tese de doutoramento, Na palestra, analiso 0 quadto da vio- léncia do Rio, realgando 0 que chamo de choque de etnias. Na reflexio, ‘Magister Dict”, as Subjetividades Negativas inculcadas nas nossas, criangas pelo sistema de ensino. A leitura da monografia e desses dois JORGE DA SILVA textos suplementaes propiciara ao leitor a possibilidade de situar-se no passado para fazer um flash forwards, e no presente para um flash back. Quanto aos negtos (insisto, para manter a coeréncia com o texto de 20 anos atras), observa-se que o niimero dos que passaram a questionar racismo estrutural aumenta a cada dia, fato que vai exibir o desequilt- brio de nossas relagdes sociais. Entre 0s brasileiro de identidade branca, sobretudo nas camadas mais altas, hd os que se mostram at6nitos. Afinal de contas, como entender que, numa sociedad que sustentam ser uma democracia racial, se fale a0 mesmo tempo em racismo ¢ em programas especiais para este ou aquele grupo? Outros hi que reagem, no rato de forma saivosa, is politicas ditas compensat6rias.Irrtam-se por io conse- guirem impor a sua ‘verdade’ a todos, como antes, quando se colocavam ‘na condigo de tutores e porta-vozes de todos, inclusive dos negros. Mais ainda quando alguém afirma que o aparente equilibrio de nossas relagies saciais se assentava, em boa medida, na calculada passividade dos negros. Estranhamente, até mesmo pessoas que se apresentavam e eram vistas como solidirias, sobretudo no meio académico, passaram a mostrar a sua verdadeira face, a de defensoras intransigentes dos interesses do seu grupo identitirio, exibindo intolerdncia com quem quet que ouse pensar de forma diferente delas, méxime se 0 ousado for negro. Em realidade, enquanto a pauta incluia apenas temas genéricos ‘como: “A contribuigao do negro para a cultura brasileira”; “O sofrimen- to dos negros durante a escravidio”; “Casos de racismo” (de racismo individual, é claro) etc., elas se mostraram simpéticas. Mas quando os grupos militantes negros, apoiados por um niimero cada vez maior de pessoas com assumida identidade branca, colocam em pauta a discussiio 120 ANOS DE ABOLIGAO 1888 - 2008 dos efeitos da discriminagao institucional do presente (no trabalho, na educacio, no poder), elas nfo pestanejam: “Isso é coisa de americano! “Querem importar um problema que nao temos ¢ por ai afora. E entio transformam suas posigées institucionais, em verdadeiros aparelhos da reagio, No fundo, o que temem é ver mu- dado 0 modelo de ordem social perverso que defendem, beneficiérios tradicionais que sio do mesmo. (ver fotos 4 pag 35). Louve-se a iniciativa da OAB-RJ. Em 1988, embora o clima fosse de trava com 0 cartaz. que, pelo menos na aparente euforia, a Entidade esfera da repressio, 2s coisas niio tinham mudado tanto no que se refe- ria aos descendentes dos eseravos, Nada obstante, 0 tema proposto 203, candidatos, “Notmas e Costumes: O Negro, o Dircito a Cultura Racial se a policia, ¢ especificamente a no Brasil”, dava margem a que se colo« Policia Militar, como exceciio a regen da igualdade racial no Brasil, A meu ‘ver, eta pteciso mostrar que a policia no era excecio; que fazia parte de ‘um sistema social em que o meismo estava presente em praticamente todas as dimensdes da vida dos brasileiros, inclusive na do sistema de Justiga Uma outra condiio para a inscrigo no concurso era que aentrega dos trabalhos fosse feita em determinada repatticao da OAB, envelo- pados, contra a entrega de uma senha, correspondente a um nimero. como negro catioca, as subjetividades envolvidas nas relagdes sociais entre nds, pedi a um colega, branco, que entregasse, como se fosse ele o autor, os exemplares da minha monografia. (Cuidado des- propositado, talvez.) da OAB, No ato piiblico da divulgagto do resultado, no audits JORGE DA SILVA surpresa quando se conheceu a identidade do vencedor. E dupla iro- nia: tratava-se de um coronel da PM, da mesma PM a que pertencia 0 cabo do cartaz; de um coronel negro que, dias depois, fez questo de comparecer fardado, acompanhado do comandante-geral da Policia Militar ¢ de vatios oficiais, também fardados, & solenidade de entrega do prémio, prevista no edital. ‘Quando me dei conta, meses depois, de que o assunto da publicagio do livro caira no esquecimento, pensei em publicé-lo por outro cami- ho, porém, com o passar do tempo, acabei deixando a idéia de lado. Nesses vinte anos, publiquei cinco livros, dois deles sobre 0 tema. No entanto, a0 aptoximar-se 0 120° ano da Abolico, lembrei-me do texto ¢ constatei, ao Ié-lo novamente, que seria um bom exercicio comparat os dois momentos, o que me fez retomar o projeto de publicé-lo, agora com o titulo “120 Anos de Aboliga0”. Cumpre assinalar que, na disputa discursiva, alguns termos e ex- pressdes usados em determinada época ou caem em desuso ou sio condenados em outro. O texto de 1988 falava em “elites”, “brancos”, , “problema do negro”, “classe média” etc, Palavras ¢ expres establishment. Decidi-manté-las. E preciso ler 0 texto localizando-se no tempo. Estamos em maio de 1988. ip de Jancco: Lua, 1994, 40 120 ANOS DE ABOLIGAO 1888 - 2008 Primi pin a Tis do Adv (OAB-R])~ de 1988 JORGE DA SILVA 15 APRESENTACAO Caminhei como um plebeu desajeitado pelos corredores do Museu Imperial de Petrpolis com os pés metidos nos sapatos ¢ os sapatos enfia- dos nas pantufas brancas, fornecidas aos visitantes. Assim, ha poucos anos, conheci uma parte do que testa da imponéncia com que viveu a monarquia brasileira, acomodada no espaoso palicio de vetaneio de dom Pedro II ¢, posteriormente, residéncia da Princesa Isabel ‘Tive um choque porta de safda da casa da Redentora. Estava distraido quando um jovem negro ajoelhou-se minha frente ¢ tirou as pantufas que eu usava. No final do século XX a projecio da conti- uidade da escravidio estava ali. Dei poucos passos a frente e voltei. Fotografei, entrevistei o rapaz e publiquei a histétia dele e do trabalho que executava. ‘Nido voltei mais ao lugar. Mas essa cena éa prova de como a historia brasileira avanga numa lentidio irritante. Concilia, nao dé saltos. Evita upturas. © processo parece puxado por uma “parelha de cavalos” na expresso de Silva Jardim, um republicano hist6rico que rompeu com a Repiilica tio logo ela foi proclamada, Estava convicto que os acordos politicos dos republicanos construfam uma espécie de “3° Reinado” e io a Reptiblica pela qual se batera, Desiludido, viajou para a tdliae atirou-se no Vesiivio. Saiu da vida e aio entrou para a histéria. A elite brasileira no perdoa os dissidentes. Eles sio isolados ¢ esquecidos. |A saga da questio racial no Brasil tem essa marca. Esse livro des- 120 ANOS DE ABOLICAO 1888 - 2008 mascara o modelo autoritirio com inteligencia e acuidade. AAs leis do Sexagenitio e do Ventre Livre foram um golpe astuto dos escravocratas. Protelaram por 70 anos o fim da escravidiio. Esse apenas um dos desafios que Jorge da Silva tem enfrentado 20 longo da vida. Esse livro € obra de um intelectual preparado para ‘© combate. [Nas linhas e entrelinhas ele me recorda um alerta dado por Joaquim Nabuco, Para Nabuco no bastava abolir a escravidio. Era necessi- tio acabar, também, com a obra da escravidio: 0 analfabetismo ¢ 0 latifandio, Sem isso 0s efeitos se prolongariam pela historia brasileira adentro, O monarquista nfo mascarou a hipocrisia da elite brasileira, & qual pertencia. Um Nabuco ¢ um Silva concordam nesse caso. Por tudo isso 0 livro hé de incomodar. Que bom. $6 incomoda quando déi. Mauricio Dias JORGE DA SILVA INTRODUCAO Os estudos sobre a “questio do negro” no Brasil tgm sido realizados sobretudo sob 08 enfoques socioligico, antropol6gico, histético ¢ eco- ndmico, A abordagem critica, do ponto de vista juridico, é ainda muito escassa, pois a contribuicio do Diteito a essa questo pode ser decisiva para futuro das telagdes sociais na sociedade brasileira. Imprescindivel, todavia, scr admitira preliminar de que existe uma questio racial nfo resolvida no Brasil, sendo esta, provavelmente, a principal barreira a ser vencida. Da dificuldade inicial de recolher fontes na érea do Direito que versassem sobre o tema proposto — “Normas Costumes: O Negro, Direito e a Cultura Racial no Brasi =, surgi a idéia de partie para a iGo, de ontem e de hoje. Até a Aboligio encontram-se provisdes Ordenagé nas, do Cédigo Criminal do Império, Alvaris Re- Wwisos” e Acérdiios de antigos tribunais, e a chamada “legislagao emancipadora” dos escravos, No que tange 4 aplicacio da lei, merece realce 0 processo relativo ao julgamento dos escravos insurretos de Pati do Alferes, em 1838, liderados pelo negro Manoel Congo, como se pode confeririem Insurreizto negra ¢ justiza, editado pela OAB-RJ *. livro, ao revolver os arquivos da Comarca de Vassouras, vai fundo 120 ANOS DE ABOLICAO 1888 - 2008 ‘aa questio, constituindo-se em uma bela pagina para mostrar 0 Direito €0 Judiciério a servigo da injustica, Apés 0 13 de maio de 1888, quase nfo se falou mais no assunto, ¢ 86 se vai admitir que hé discriminagio do negro em 1951, quando da edigio da Lei Afonso Arinos, com nova redagio de 1985, Na legisla cio ordinaria em geral, cumpria identificar dispositivos que pudessem relacionar-se direta ou indixetamente com a vida dos negtos. Como no desconfiar da Lei das Contravengdes Penais, preocupada com a “vadiagem” ¢ a “mendicincia”? F evidente que esses dispositivos tém cendereco certo. Quanto a aplicagio da Lei Afonso Arinos, os casos de “preconceito” se repetem, sem que se possa imputar responsabilidade a0 agente da ofensa, pois a caracterizagio da contravengio é pratica- ‘vel. Nao era poss{vel ir adiante sem procurar entender a raziio do siléncio em torno da questo apés a Aboligio, Era importante revisar os dados histéricos, e agugar os sentidos do observador. Ficou clato que muitos fatos relacionados com a escravatuta, a extingio do tnifico e 2 emancipacio legal, ou eram escamoteados ou distorcidos pelas elites conservadoras, a fim de negar a discriminacio. O Capitulo 1, Preliminares, foi concebido com a finalidade de convencer 0 leitor incrédulo, ou convencido do contritio, de que a premissa da existéncia de uma questio tacial no Brasil é verdadeira, sem o que nem adiantaria ie em frente. Outra preocupagio ~ c esta aparece em todo 0 texto ~ foi questio- nar teorias muito em voga, ha décadas, explicando de forma simplista Capitulo 2, ( que seria a ‘maravilha’ das relagdes raciais no Br: JORGE DA SILVA. Cultura Racial no Brasil, é intciramente dedicado a discutir a cultura na, a partir do No Capitulo 3, Negro ¢ Direito, concentra-se 0 maior esforco, pois se trata de buscar estabelecer nexo entre a legislagio € o Dircito ‘em sentido lato. Apresenta-se af, em ordem cronolégica, até os dias de hoje, um comentétio de cada lei de interesse, situando-a, na medida do ‘no tempo e no espaco da sua edigiio, Analisa-se também nesse apés breve incursio teérica, a influéncia dos “costumes” nas, relagdes entre negros e brancos apés @ Aboligo, a fim de mostrar que aauséncia de segregacio legal nao significa, necessariamente, auséncia wsle.segsegacio material... ‘Tendo em vista que, entre nds, existe a tendéncia de se tomar como referéncia nessas questdes o que ocorre nos Estados Unidos, foi preciso comparar a situacio do negro brasileiro com a do negro norte-americano de um outro ponto de vista, para o que foi concebi- do 0 Capitulo 4, Negro nos Estados Unidos no Brasil. Lé, seria um problema; aqui, Cae Restava a questio metodolégica, © que implicava ter em mente a itagio do tempo disponivel para a pesquisa e a redagio da mono- grafia. Que hipéteses confirmar ou refutac? Pesquisas de campo? Que recursos? Na verdade, o que esti em jogo silo emogées, alegrias, revol- ta, preconceito, ddio, segregacio, discriminagio. Sentimentos. Como mensurar sentimentos? Todavia, acima de tudo estamos lidando com fatos, do passado e do presente. Quanto ao pasado remoto, seriam 120 ANOS DE ABOLICAO 1888 - 2008 imprescindfveis as fontes primérias. Quanto aos fatos do pasado ime- diato e aos do presente, também as fontes primérias ea vivéncia pessoal do autor. Consciente de que © depoimento sobre a sua observacio pessoal nao teria, por si s6, muita validade, decidiu que cada alirmacio teria que ser apoiada por uma antoridade intelectual ou por estudioso sétio, ou pelos dois. Dai a profusio de citagdes, por vezes repetitivas ¢ enfadonhas, do que 0 autor se penitencia de antemio. Em anexo, 0 inteito teor de algumas leis de interesse, para que 0 leitor curioso possa descobrie dados que fugiram & percepgio deste pesquisador. Nas transcrigdes de documentos antigos, procurou-se manter a grafia da época. JORGE DA SILVA. I. CONSIDERAGOES PRELIMINARES Niio se poder analisar convenientemente o tema ‘o negro’ sem que se levante a preliminar de argiiit se o mesmo se constitui ou no numa questio relevante, que meteca a atenco de estudiosos de todas as Areas. Antes de qualquer avango, pois, é imprescindivel indagar: existe ou nio luma questio negra no Brasil? As frases abaixo so uma sintese daquelas ouvidas amitide em conversas informais e em programas humoristicos de ridio ¢ TV. Quem ainda nao as ouviu? ~“O Brasil é uma democracia racial” \qui nio existe discriminagio” Brasil todos somos irmios”, miscigenacio é fendmeno tipico brasileiro”. “No Brasil, quem niio tem um pouco de sangue negro?”, juem niio gosta de uma mulata?”, 'm dos meus maiores amigos é um negro”. “Meu avé tinha um pouco de sangue negro”. ‘a nossa casa a empregada come na mesa cor “Nés adoramos o ascensorista do nosso prédi é um preto de alma branca”, - “Bla é uma preta bonita”, le € preto mas tem o cabelo bom”. “Ota, coitado, ele até que no é muito preto”, lc € preto mas tem boa apresentacao”, ~“O preconccito no Brasil nfo é racial, é social. Discrimina-se 0 , €nfio o negro”, 22, 120 ANOS DE ABOLIGAO 1888 - 2008 - “Os negros tém mais dificuldade de aprender por uma questio genéti - “Os negros tém indole perversa”. -“O negro que nao sobe na vida é porque no se esforga; as opor- tunidades sio iguais”. - “Por que é que preto quando melhora de vida s6 casa com mulher branca?”. - “Esses movimentos negros estio inventando um problema que nao temos”. - “Preto niio pode subir na vida, fica logo besta”. = “Pior do que 0 preto é o mulato’ Estas sio expresses ouvidas no dia-a-dia, nfo rato proferidas sem maldade, mas que podem bem retratar 0 que escondem em profundidade. Exptessdes eivadas de preconceito, pois, mesmo aquelas aparentemente inofensivas, tém significado oposto a0 seu significante, Servem, na ver- dade, para mostrar como o inconsciente coletivo distancia-se da ilusio da demoeracia racial. E aestas expressées poderiamos acrescentar alguns chistes popula- res, usados igualmente em tom de brincadeira, porém com inexplicével freqiiéncia: - “Branco correndo é atleta, preto correndo ¢ ladrao’ - “Preto entra pra igreja pra chamar branco de irmi = “Preto quando nfo ‘suja’ na entrada, ‘suja’ na sada”. Como corolitio desse sentimento da alma coletiva, é sugestiva a JORGE DA SILVA 28 lenda brasileira “De como 0 Diabo Criou o Negro” (claro, Deus teria ctiado o branco..), refetida por Joo Ribeiro (1968: 75), citando versio de Medeiros e Albuquerque: “Conta que os primeiras homens erant pretos. O barra de que Deus se servi para fager Adio ea eseura, Maso Senboy, complacent, pis remédo junio ao ma, Fe com que apareesse pero dali ums lago de dauas claras, onde quem se banbasse {ficaria branco, Os homens, que cram mutes, preciptaramsse. Os que cgaran _primeiv fcaram de perfite aber Os que jd encontraram a dgua manchada pelos ‘que as tinbam precedide,tomarana as tons intermndhos entre o branco eo peta. E, como a dgua se ia assim esgotand, os titinas chegados apenas encontraram wm restinho no fundo, que s6Ibes permitin molbarem as solas dos pés e ax palmas das miios, Isso excpica, seule sca velha lenda, porque as pessoas de cor preta tem as plantas dos pés e as palmas das mos muito mais claras.” Resta saber que efeitos essas “brincadeiras” produzem nos negros, © que, aparentemente, nio importa a quem se utiliza delas, principal- ‘mente quando partem de pessoas que, com elas, mostram a sua rejei¢io s negtos. Nutrir este sentimento nfo traria maiores conseqiiéncias ibilidades de felicidade de milhdes rasileieos)“nio-brancos” (aqui inclufdos aqueles a quem poderia~ isto nao afetasse a vida e as p 1s chamar de “negros-negros”, sgr0s-morenos” € “negros-brancos”, estes tltimos chamados de ‘negros-mulatos”, “negros-pardos”, .cdides? por Abdias do Nascimento) *. E no haveria problema pada nals da dsseragio de mest de Moema Pacheco ‘eum de aint 120 aNos DE ABOLIGAO 1888 - 2008 também se essa ilusio nao se constitufsse numa inc6gnita ao futuro das relagdes desses grupos com toda a sociedade brasileira, sendo im- previsiveis as conseqiiéncias da manuten¢ao desse stats quo, ou seja, da eterna marginalizacio dos negtos. Quanto as expressdes € chistes acima, é Sbvio que tefletem uma ideologia forjada em outros niveis. Primeiro, a ideologia da supetiori- dade biolégica dos povos europeus em relagio aos demais; segundo, a da inferioridade da raga negra em relagio a todas as outras; € terceiro, a assimilagio dessa ideologia por estudiosos brasileiros, notadamente por Nina Rodrigues (1957: 144, ¢ 1988:5). Quando se sabe que esse estudioso “do negro” fez escola e teve seguidores de renome nos campos médico ¢ juridico no Brasil inteito, os quais difundiram suas idéias racistas em livros, artigos e em periédicos; e mais, que essas idéias ganharam o sistema escolar, tem-se a certeza de onde provieram aquelas expressdes € chistes jocosos. Exemplo do pensamento de Nina Rodrigues: “sil site sified me ne woke glee ee co a revoltante exploragaio que dela fizeram os interesses escravistas dos norte americanos, Para a céncia nao é esta inferioridade mais do que um fenimeno de aordem perfetamente natural, produto da marcha desigual do desenvolimento fi logenitico da bumanidade nas suas diversas divistes ou segses”. (1957:144) “A sensualidade do negro pode atingirentio ds raias quase das perverse secuats: mérbidas, A excita genésica da clissica mulata brasileira néo pode deicar de ser considerada um tipo anormal.” (1988: 5) Sem mais comentitios. JORGE DA SILVA. 1. Uma Questiio Negra? Para as elites, no hé uma questio negra no Brasil, desde 1888. § uma posi¢io cémoda, pois nao sio os seus filhos que niio terio acesso educagao; no so elas que terio as suas familias deses- truturadas; que serio obrigadas a ocupar as posigdes mais baixas na escala social, ¢ que se constituitio em hordas de despossuidos. Se fosse possivel 4 classe dominante — pelos padrées brasileiros, branca—manter esse quadro indefinidamente, talvez fizesse sentido 4 sua indiferenga, Na verdade, a “oportunidade” que se oferece a0 negro no Brasil € mais ou menos a oportunidade de sobrevivéncia que se dé a alguém jogado numa piscina com os pés as maos o dele, que no se amarrados. Se ele nfo se salvar, a culpa tera esforcou ou nio teve inteligéncia suficiente para desamarrar-se. E, mais ou menos o raciocinio daqueles que dizem que 0 negro é in- culto marginalizado porque quer; ou mais precisamente: 0s negros, seriam inerentemente inferiores. B exatamente neste ponto que se pode afirmar que 0 Direito nio tem sido suficientemente exercitado no sentido do enfrenta- mento dessa questdio, como veremos adiante, posto que, tomando 0 principio do universalismo como wltima ratio, faz com que a nossa legislacio seja evasiva ou “para inglés yer" Por outro lado, temos @pritica oficial, sendo relevantes nesse sentido as consideracdes de Hasenbalg (1982: 106-7) a respeito do que chama de “retirada de cena” do negro do cenario brasileiro pela destruigio do registro histérico dos documentos relativos 4 escravidio, mandados queimat pelo ministro das Finangas Rui Barbosa em 1890, ¢ a exclusio do —————120 ANOS DE ABOLICAO 1888 - 2008 quesito ‘cor’ dos censos de 1890, 1920 e 1970; ¢ ainda do siléncic imposto a todos sobre a questo, a partir do mito da democra: cia racial, cuja construgio comega em Casa Grande & Senzala, d Gilberto Freyre (Fteyte, 1980)|'Do mito a0 tabu, 0 assunto fico praticamente proibido. Falar contra ele eta o mesmo que peca contta a castidade. Produziram-se duas identidades: uma par consumo piiblico ¢ oficial, a da democracia racial, segundo a qu: todos vivem em harmonia, com oportunidades iguais para todos independentemente de raca ou cor, € uma identidade no plano das relagdes sociais, em que é mantida a hierarquia social com base raga e na cor da pele, No dizer de Hasenbalg: “4 segunda identidade corresponde ao plano privado e incorpora duas mensies, Uma delas, a nivel mais consiente¢ deliberado, tradusz aguilo qu «a boca pequena e em conversa entre brancos, constitu 0 repertério de ditadal populares carregades de imagens negatvas sobre o negra A ontra, em plant ‘mais inconscente,corresponde @ esteretipasio dos papéise Ingares do neg Nesta dimensito 0 negro & representado ora como trabalbador bragal, nao q ‘ifcado, ora como aguele que ascenden socialmente pelos canais de mobili \ erste: legtimes pare omega" E se compararmos os dias de hoje com os da época da Abolicié ‘vamos verificar que a posigio dos negros em telacio a dos brancos ni mudou muito, O que aumentou foi a sua frustragio. E temos que lu para que esta nao se transforme em ddio, ¢ dai em violéncia. Quanto a indagacio feita no inicio, parece Sbvia a resposta: tem uma questio negra no Brasil. JORGE DA SILVA- 7 justando Significados. Racismo, Preconceito, Disctiminacio, Segregacio Fontes inesgotiveis de confusio e equivocos, nao rato as pa- laveas racismo, preconceito, discriminagio e segregacio tém sido usadas de forma indistinta, como se fossem sinénimas, razio pela qual se torna necessétio delimitarthes a denotacio ¢ a conotagio usuais. A providéncia se impde porque o tema é rico em sutilezas, € a indistingio s6 pode servir a quem nao se disponha a abordé-lo de forma minimamente objetiva. Nao se trata propriamente de tomar essas palavras como conceitos juridicos ou sociolégicos, mas tio somente de tentar jogar um pouco de luz na confusio terminolégi- ca. A consulta aos dicionérios nfo poderia passar de um ponto de partida, pois os mesmos, embora ajudem na tarefa, nfio dio conta de subjetividades, mesmo porque nfo tém a fungio de informar sobre as miiltiplas conotacdes que as palavras podem assumir em diferentes contextos, em especial no contexto das relagdes entre negros € brancos no Brasil. Além disso, os dicionétios, ainda que apresentando a etimologia das palavras, nfo costumam aludir ao contexto histérico em que os seus verbetes surgem, pois estes de- vem ser concisos. Isto, a nosso ver, pode levar 4 naturalizacio dos significados do presente, pois eles registram os usos mais comuns, hoje. Frases do tipo “No Brasil nio existe racismo, ¢ sim um pouco de preconceito”, ou “O preconceito é social, ¢ no racial” podem ser enunciadas com sinceridade, mas podem também ser cnunciadas ‘numa tentativa de mascarar a realidade, quangas que normalmente no se encontram nos diciondrios. Assim, é indispensével cotejar 08 significados usuais desses termos com a observagio do dia-a-dia. 28 120 ANOS DE ABOLIGAO 1888 - 2008 Abaixo, de forma resumida, vao algumas indicacdes dos significados dos mesmos, para além dos sentidos dicionarizados. Racismo. O racismo nasce como uma construgio ideolégica, com pretenses cientificas, em torno da idéia de que a humanidade se constitui de ‘ragas’ biolégicas, as quais estariam em diferentes estigios evolutivos. Tal idéia, tida pelos europeus como um fato da natureza, daria aos mesmos a justificativa para o colonialismo que implantaram no mundo, Parte essencial de toda a doutrinagio para a difusio dessa ideologia foi o estabelecimento de que os brancos estariam no topo da pirimide e os negros, embaixo. Mesmo depois da demonstraco cientifica de que no hé racas biolégicas, 0 «: ‘mo continuara a existit, marcado por uma atitude hostil contra os “diferentes”, calcada na suposigio de que as diferencas de aparéncia, ou seja, dos tragos externos, como a cor da pele, corresponderiam a diferencas mentais, morais ¢ culturais. Como conclui Joel Rufino dos Santos em seu O que é racismo (SANTOS, 1980: 39) 5, este, “sob a sua forma atual, baseado na cor da pele & filko da colonialismo”. Partamos dos dicionétios. © Dicionzrio Brasileiro da Lingua Portuguesa registra: “"Racisma, 1. Teoria que afirma a superioridade de certas ragas humana sobre as demais. 2. Caractere isco, morais entelectuais que disinguem determinada raga. 3. Aciio on qualidade de individuo racista. 4. Apego a raga”. ‘Parasia melhor conpreeasio do que seo acisme, vee SANTOS, Je! Rufino dos O gue asia Paulos Brae 1980 JORGE DA Silty lag No dicionatio Aurélio (1980) “"Racisma, 1. Doutrina que sustenta a superioridade de certas tagas. 2. Qua- Tidade, sentinento on ato de individuo racista”. Ja Lessa (1986: 1022), no Diciondrio de Ciéneias Sociais, vai um pouco mais longe, ao trazer a tona 0 dado niio-biolégico. Em sua definigio o que mais pesa é 0 etnocentrismo: | “Racomo é a doutrina que afirma haver nma conexito entre caradterstcas | racias¢ cultura, e que algunas ragas sao inerentemente superiors a ontras. | 0 racism inclu’ no sew conceito de raga, indisriminadamente, agrupamentos | nao bielbgcos, tais come seitas reliosas, nogbes, grupos Hngstias © grupos | calturais, Dai poder ser considerado uma forma particularmente virulenta de etnocentrivmo”. No caso bras gia), indicativos de ancestralidade africana, para entender 0 racismo jeiro, vamos ficar com os componentes “raga” (nfo raga bi associada a outros tragos fen s brasileiro como a afirmagio da superioridade da ‘raga branca’ sobre a ‘raga negra’, e a hierarquia das pessoas e grupos de acordo com a gtadacio da cor da pele, isto é quanto mais ‘preto’ (ou menos “branco)’, mais inferior. Preconceito. Uma pessoa pode no gostar da outra simples- diferente do dela, grupo do qual ela nfo gosta por razSes nem sempre claras, Trata- mente porque esta pertence a um grupo soci: se, portanto, de um juizo ou opiniio sobre alguém, algum grupo 30 120 ANOS DE ABOLICAO 1888-2008 ow algo, independentemente de experiéncias negativas anteriores vividas por quem porta o preconceito. Um sentimento em estado latente, nutrido por qualquer um de nés, pois estamos todos condi- cionados a portat algum tipo de preconccito, seja contra os negtos, contra 0s brancos, contra as mulheres, contra os judeus etc. E um sentimento que pode mantes-se recOndito ou sé ser externado de forma privada entre os pares. Interessante a referéncia a diferentes formas de preconeelto apre- sentadas no Dicionario Brasileiro da Lingua Portuguesa (Op. cit 1383): “Preconccita. (pre + conceito). 1. Conceite on opiniao formados antes de ter as conbecimentos adeqnados. 2 opin on sentimento desfavorénel, concebido antecipadamente om independente de experiincia on raza 4. Sociol — Atividade emcionalmente condicionada, baseada em crenga, opiniao om generalizagio, com individuos om grupos, — Preconceito de classe: atitudes discrimialras incondicionadas contra pessoas de ontra classe social. Preconceito racial manifestardo hostl ow desprezo conira individuas on povos de outras raras. Preconceito religioso: intolerdincia manifesta contra indivtduos ow grupos que sequers ontras rligies”. E aatribuicio dos efeitos do preconccito ao proprio preconceituoso, como aparece em Jahoda (1986: 962), no Disiondnio de Ciéncias Socias: “Preconceto é una atitude negatina, desfavordével, para com um grupo on sens componentes individuais, E. caracterizado por crengas esterrotipadas, A atitude resulta de procesos internos do portador e nao do teste das atributos reais do grupo”. JORGE DA SILVA $3 B claro que © preconceito afeta as pessoas ou grupos aos quais se jrige, mas nio se deve desconsiderar o fato de que ele afeta também ssoas que o nutrem, independentemente de manifestar-se objeti- 'vamente sob a forma de discriminagio. No caso brasileiro’ é de fundamental importincia estabelecet a diferenca entre preconceito e discriminacZo. O preconceito é um sen- timento que vai acompanhar o seu portadot todo 0 tempo; faz parte dele, B aquele cidado que nfo gosta de judeus, mas nunca o diz publi- vizinhos da Rua X, a seu ver menos camente; é aquele que detesta “civilizados”, mas finge gostar deles. Em suma, uma atitude de reserva contra “os outros”, contra os “diferentes”, o que torna o preconceito contra os negros compreensivel, embora lamentével. Discriminagao. Vimos acima que 0 preconecito independe ontade consciente das pessoas (somos todos condicionados culturalmente), fato que pode afetar mais 0 prcconceituoso do que 0 alvo do seu preconceito, como ja mencionado, Porém, se as pessoas pertencentes a um grupo no sto obrigadas a gostar das pessoas do outro, isto no quer dizer que elas nao estejam obriga- las. Nd posso, negro, exigir que as pessoas gostem le negros. Mas devo exigir que elas respeitem a mim ¢ aos outros negros como cidadios. O problema real para os negros, portanto, é menos o preconceito e mais a discriminagio, fruto da deliberacio consciente de matcar a pretensa inferioridade dos negros. Dito de outra forma: € a instrumentalizagio do preconceito, que pode manifestar-se contra individuos do grupo considerado ou contra 0 grupo como um todo (diser 32 120 ANOS DE ABOLIGAO 1888 - 2008 JORGE DA stuya——__$_$_$_$_$_$_$___>~___33 No Dicionério Brasileiro da Lingua Portuguesa (Op. cit: 613), aparece audas e racionalizadas”. Podemos dizer que o preconccito ¢ 0 racismo © verbete ‘discriminar’, no qual encontramos o sentido 5: “Tratar de ym poténcia, e a discriminacao, em ato. modo preferencial, geralmente com ptejuizo para uma das parte Segregagdo. Comum a qualquer defini¢io de segregar aparece o Jgnificado separar. No nosso caso, separar um grupo do outro, ou de yessoas desse grupo. Mas segregar tem a ver também com isolar, como parece no Ditionénio Aurilio (Op. cit: 1540), a0 definir segregagio racial "Politica que visa a separar e | o1 solar no seio dame socedade as minorias raciais pect, as scias, religicas, ete. : disriminagao racial”. Certo que “isolac” Iém da nogio de “separat” no sentido geogeitfico, espacial. Pode Este sentido tem uma cazacteristica interessante. A discriminacio seria um efeito colateral da preferéncia que se desse a alguém ou a algum grupo, € no a aco deliberada para prejudicar os demais. preciso pensar, porém, nos casos em que hé a deliberacao de prejudicar, pura e simplesmente. ipnificar isolat do acesso aos bens sociais ¢ econdmicos, sem implicar Esclarecedora € a definigio de discriminagio oferecida por Moore cessariamente separagio fisica no espago ptiblico, ou mesmo em ‘no Diciondrio de Ciencias Sociais (Op. cit. 361): sspacos privados, como no das empresas, em que determinado grupo jode ser isolado” em fungdes subalternas. “No sentido contempordneo mais, conmum, tanto na linguagem eauante como nas ciéncias sociais, denota o tratamento desfavordvel dado arbi- Em verbete do Diciondrio de Cééncias Sociaisassinado por Bain (1987: 104), vamos encontrar definiclo um pouco mais precisa, pois esse trariamente a certas categorias de pessoas. Nesse caso, refere-se a um tor alude a trés modalidades de segregacio: por lei, pelo costume processo on forma de controle social que serve para manter a distancia social entre duas on mais categorias on grupos, através de nm conjunto Yor acordo tacito. de priticas mais ow menos institucionalizadas e racionaliadas. Essas “Nos sitimos anos, fem-se dado maior énfase ao so que indica separagdo peogrifica utilizapao de servgos impastos a categorias e grupos subordinades de pessoas, por lei costume on acordo tite. Esse nso se aplica principabnente (priticas acarretam a atribuisao arbitriria de tragos de inferioridade, haseados em raxées que pouco tim a ver com o comportamento real das essoas que sao objeto da discriminagae. Fregiientemente tais raxdes 4 bye if gi RG entram em conflito com as idéias aceitas de justia ¢ decéncia”. ca categoras ¢ grupos énicos, religiasas ¢raciais". Como se-vé, 0 que distingue o preconceito da discriminacio éaacio Se considerarmos que o “costume”, em iltima anilise, corresponde 1m “acordo ticito” entre os cidados ¢ grupos de qualquer sociedade, que prejudica um grupo ou seus componentes, direta ou indiretamente, por meio de “um conjunto de priticas mais ou menos institucionali- tres modalidades de segregacio podem scr reduzidas a duas: por 34 120 ANos De AB ouicéo 1888 - 2008 RGE DA SILVA. 35 ~ Discriminagao — instrumentalizagio do preconceito, por meio lei, de um lado, e por acordo ticito, de outro. No caso da sociedade brasileira, estariamos falando, enti, de segregacio por acordo técito, mecanismos nem sempre dissimulados. Afeta fortemente a vida dos vale dizer, costumeira, como individuos e como grupo étnico. A segregacio pode ser materializada também pelo auto-isola- ~ Segregacio (no caso brasileiro, tacita, costumeita) — materializa- mento em sclagio aos demais grupos sociais, do que resulta que lo da disctiminagio, refletida na separagio espacial e / ou no isola- > social de determinado grupo social em relagao 20s outros. cla tem duas vias: ou 0 grupo isola-se voluntatiamente, impondo, em conseqiiéncia, a separacio de outros grupos e pessoas — como Pode-se depreender do que foi exposto acima que, no caso do €0 caso de alguns grupos minorititios de imigrantes no Brasil, que fazem o seu mundo A parte, ot a segregacao se manifesta numa a discriminacio e a segrepacio derivam de uma das modalidades referidas acima: pot meio da lei (como ocorria nos Estados Unidos e como ainda ocorte na / por acordo ticito, costumeito (caso do Bras Em suma, considerada a sociedade brasileira, os termos sio em- ~— Pregados no presente estudo com os seguintes sentidos: ~ Racismo (brasileiro) ~ afirmagio da superioridade da “raga” branca em relacao as outras, ¢ das pessoas de coloragio mais clara em relagio as mais escuras (c de cor). ~ Preconceito— sentimento latente, caleado em crengas estereoti- Padas a respeito dos “diferentes”, dos “outros”, Nao afeta fortemente a vida dos negros, mas é dado relevante nas suas relagdes com os brancos, cme pra fol de Ris poranay no esa examin. Ete stema de apartheid legal na Aties do Sel

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