Sei sulla pagina 1di 7
Revista de Economia Politica, vol. 13, n¢ 3 (51), julho-setembrol1993 O Colapso da Modernizagaio — Da derrocada do socialismo de caserna & crise da economia mundial Robert Kurz Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1993, 2? edigio. Entre as obras que tratam da derrocada do socialismo, destaca-se de maneira {mpar este livro de Robert Kurz. Mediante um método de andlise arrojado e inovador, 0 autor apresenta conclusdes {que ao mesmo tempo acalmam os espiritos, a0 pro- piciarrespostas a assuntos até ent3o mal resolvidos, © provocam o repensar de vérias outras questdes, mesmo para aqueles que ainda se dizem marxistas, Enquanto outros autores enfatizam que a débicle se deve a problemas de gestio derivados da ineapacidade do planejamento centralizado de dar conta de uma economia complexa ¢, por isso mes- mo, de responder as necessidades dos consumido- res, Kurz afasta-se da discussio mercado vs. plar Jamento/Estado e analisa 0 proceso ocorrido nos paises do Leste sob a perspectiva do sistema mun- dial de produgio de mercadorias. Para ele —e esta € a questdo-chave para entender seu raciocfnio—as economias socialistas nunca deixaram de fazer parte do sistema mundial de produgao de mereadorias, estando nelas presentes toxlas as categorias funda- mentais do capitalismo, isto &, salétio, prego e mes- mo luero, sob a forma de ganho das empresas. Dessa forma, a Revolugio de Outubro nao dew inicio a ssubstituigdo do sistema produtor de mereadorias por ‘outra forma histérica, e sim a0 desenvolvimento do prOprio sistema produtor de mereadorias. E esta tarefa s6 poderia ser realizada pelo Estado e em nome dos trabalhadores em pafses comoa Rissia de 1917. O trabalho abstrato, principio que rege a produgio de mercadorias, nao s6 foi adotado na economia sovitica como levado a seu extrem, Em outras palavras, o tempo hist6rico da su- peragio da sociedade do trabalho ainda nao havia chegado. SO se faria presente quando as Forgas produtivas permitissem abotira classe trabathadora, isto &, “o desligamento da reprodugio social do sistema de dispéndio abstrato e em massas de forga de trabalho". Assim, a Revolugdo deu surgimento a um moderno sistema produtor de mercadorias, subs- tituindo no entanto a concorréneia pelo comando estatal. A aboligio da concorréncia interna era con- digo necesséria para que uma nova economia in pendente resistisse & concorréncia dos pafses dese volvidos do inicio do sécuto XX. Tal fato,entretanto, introduziu uma contradigio no regime sovitico. Se nas primeiras décadas 0 crescimento extensivo via- 150 bilizou resultados surpreendentes, levando a crer quea URSS pudesse superaraseconomiascapitalis- {as o desenvolvimento mais recente das Forgas pro dutivas destas economias, em especial a microele- twSnica, deixou claro que as economias socialistas etvificadas” no conseguiriam mais acompanhar © Ocidente. Isso porque na expansio soviética 0 aumento da produtividade do trabalho foi baseado 1a intensificagio extrema do trabalho, sendo o sta- chonovismoacontrapartida dos método: abolida, viabilizou a sobrevivéncia do regime num primeiro momento, colocou-aem xeque mais tarde Embora Kurz faga mengio i Pax Americana do p6s- guerra como condigao para oflorescimento ulterior daconeorréneia no mundo ocidental, deixa de enfa- tizar que a expansdo soviética ocorrew exatamente em perfodo de grande conturbagio econdmica € politica dos patses capitalistas. Superada essa fase, a dindmica do sistema produtor de mercadorias se imps, apontando os limites da economia de coman- do. O padrio de produtividade que emerge de um sistema cada vez mais mundial ndo permite a coe- xisténcia de economias que nio privilegiem 0 em- prego de novas tecnologias. A ruina das economias de comando era inevitavel Atéesse ponto, Kurzse diferencia dos autores que apontam os problemas de gesto como causa da crise das economias socialistas, niio porque desco- nhega a importincia desse fator em sua derrocada, mas porque, acima de tudo, considera que elas faziam parte do sistema mundial de produgio de mercadorias. E somente por isso os padres mundi- ais da concorréncia se fizeram sentir soberanos sobre elas, Mas sua andlise nfo se encerra af. O potencial hunca antes visto de automatizagdo em todos os setores de atividade estaria finalmente criando as ccondigdes para a superagiio da sociedade do traba- Iho. O aumento de produtividade é tal que, pela primeira vez, se evidencia a redugdo do niimero absoluto de trabalhadores, indicando que o tempo socialmente necessario para a produgao da riquezs material vem se reduzindo significativamente. Nes- se sentido, a derrocada do socialismo estaria pre- rnunciando uma crise maior, a de todo o sistema mundial de produgio de mercadorias. O irdnico dessa situagto & que as condigdes para a superagdo da sociedade do trabalho — que engendrou o siste- ma produtor de mercadorias € o movimento operd- rio organizado — surjam exatamente quando da eliminagdo tendencial dos préprios trabalhadores. ‘A classe trabalhadoraestaria, portanto, impedida de negar o sistema, Por outro lado, a tendéncia a eliminago do trabalho tomna indtil o retorno das economias socia- listas ao mercado. Para clas, assim como para outros pafses, 0 Gnico lugar reservado nos estertores do sistema mundial de produgdo de mercadorias ser 0 ‘da marginalizago e empobrecimento. Tal situago, bem como a crescente exclusio de setores dentro © Colapso da Modernizacio — Da crise da economia mundial Robert Kurz Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1992. *(..)amodema sociedad do trabalho como um todo esté no fim e, com isso, também 0 esto suas ccategorias bésicas da forma-mercadoria e forma-di- nheiro" Um livroem que se encontram afirmagdes que se afiguram to extemporiineas — ¢ tio definitivas — como esta pode ser levado. sério? Deve ser resenhado ¢, eventualmente, recomendado para leitura? Ou, a0 conirério, motiva esta pergunta que poe em davida de imediato a seriedade do escrito uma leitura corrente, mas profundamente distorcida, dos fatos histéricos rucentes? O que se viu cair diante dos olhos de todos ‘nfo foi 0 socialismo e, junto com ele, uma visio premonitria de um certo futuro-em que ninguém mais acredita? Nio foi, para recolocar a questio de modo ‘mais direto,o capitalism que venceu? ara Robert Kurz, quando se pensa 0 colapso do socialismo real como resultado final de um con- flito entre sistemas opostos, é-se levado a concluir, sem grandes davidas, pela afirmativa, Porém — {questionaele—nao teriam ais sistemas, que apenas, aparentemente excluem um a0 outro, um funda- mento comum? Nio seriam eles diferenciagdes de um mesmo movimento constitutive de sociedade que se iniciou na modernidade e agora vai chegando 0 fim? Para além da oposigo abstrata entre merca- do e Estado subjacente a visio centrada no conflito de sistemas, ele identifica uma mesma natureza: tanto o capitalismo concorrencial quanto 0 socialis- ‘mo real so, em seu entender, sociedades baseadas nna acumulagio de trabalho abstrato. Assim, 0 con- dos préprios pases desenvolvidos, indica um movi- mento no sentido da desintegragio social do siste- ima, No plano material, no entanto, a extrema soci lizagdo das forgas produtivas eria, no dizer de Kura, a base sobre a qual a humanidade pode finalmente construir 0 “comunismo das coisas”. Como visto, Kurz critica o Marx da luta de classes e do papel dirigente dos trabalhadores na transformagio da sociedade burguesa, mas ao mesmo tempo resgata, com extrema énfase, 0 Marx do fetiche da mereado- ria, Sua ireveréneia € enganadora, muitas vezes cocultando o sentido profundo de suas colocagbes. E um liveo de leitura obrigat6ria. Rosa Maria Marques Pontificia Universidade Catblica, Sao Paulo. derrocada do socialismo de caserna 4 ceito marxiano de alienago ganha amplitude, obri- gandoa uma mudanga de enfoque. Tanto uma como outra forma social passam a ser enxergadas como ‘maquinas que consomem forgade trabalho, ou seja, ‘como sistemas governados pelo mesmo prinefpiode desenvolvimento infinito, cujo nome é, como bem se sabe, relagdo de capital. [Nesse sentido, ele se vé, em primeiro lugar, repetindo uma intuig%o bésica de Thomas Mann, que, jéem 1919, escreveu oseguinte: “...adiferenga Gtica entre o capitalismo e o socialismo & insignifi- cante, porque ambos consideram o trabalho o prin cipio supremo, o absoluto”. E, em segundo lugar, ‘como alguém que se esforga para atwalizar as idéias de Marx, por meio da amplificagdo enfética de sua critica & forma-mercadoria e, em conseqiéncia, a0 fetiche da mereadoria, Para ele, no Leste europeu se desenvolveu apenas um "mercado planejado”, que no eliminou as categorias fundamentais do ca lismo, tais como salério, prego e lucro. Além de ineficiente diante de seu competidor concorrencial, © sistema de planejamento af institufdo nio tornou ‘menos cego 0 erescimento econmico. Por isso, 0 socialismo real entrou em crise inesperadamente, surpreendendo tanto os estrategistas americanos quanto os burocratas soviéticos; esta percepgio Ihe permite pensar que se trata, tal como a economia concorrencial real, de uma sociedade que nioé dona de si mesma e engendra as condigdes de seu proprio aniquilamento. 151 Nesse caminho de escarpas abruptas, Kurz encontra razdes para criticar 0 préprio Marx, No ceme de sua teoria hd, segundo ele, um dilema nio superado, 0 qual convém que seja dito em suas préprias palavras: “a afirmagao do movimento ope- rio, por parte de Marx... na verdade inconcili vel com sua propria critica da economia politica, que desmascara precisamente aquela classe trabalhado- ra... como categoria social constituida... pelo capi- tal", Ao contrério do que pensara Marx, nio se encontra latente no movimento operério a forca social que permite superar o capitalismo. Os traba- thadores como classe, tal como os capitalistas, no podem ultrapassar a condigaio do que denomina de ““ménadas-dinheiro”, mesmo com a ajuda do “mar- xismo do movimento operdrio”. Neste, ali, ele também aponta graves limitagdes hisi6ricas. ‘Ainda que uma resenha no venha a ser uma critica, nio ¢ adequado deixar de assinalar aqui que, nessa argumentacao, a dialética, que ele ndo recusa, parece se paralisar: vai the faltar 0 sujeito hist6rico ‘emancipado. Entretanto, mais importante que anun- ciar eventuais falhasem sua argumentagio€ mostrar ‘os resultados a que ela conduz. Mesmo se mantendo na dindmica do pensamento de Marx, Kurz ndo ma que a contradigao basica do capitalismo con- siste na contradigtio entre o cariter social da produ- $0 € 0 caréter privado da apropriagdo e que esta se resolve por meio da luta de classes. Para ele, a contradigio basica da modernidade vem a ser a contradigao entre a socializagio direta dos homens no nivel da produgao e a socializagao indireta, me- diada pela mercadoria e pelo dinheiro, no nivel da circulagio, a qual instaura uma dindmica de cresci- mento € uma légica de exclusio avassaladoras. Se a tarefa hist6rica positiva da sociedade do trabalho é 0 desenvolvimento das forgas produtivas €,assim,a destruigdo das formas pretéritas da produ- io social e sua unificago numa rede global de divisio do trabalho, sua tarefa negativaé a “aboligao do trabalho”. Assim, com 0 desenvolvimento da produtividade, a capacidade do sistema de absorver trabalho que cria valor se reduze a forga de trabalho disponivel torna-se cada vez mais desnecessiria Dai o desemprego, 0 subemprego € 0 emprego supérfluo (do ponto de vista sistémico) crescentes. ‘O resultado do processo é a crise global: “a socieda- ‘de mundial capitalista” — segundo ele — “esti se aproximando assim de sua prova de resisténciae sua ruptura, pois tem que chegar a um ponto... em que ‘suprimird o trabalho abstrato em sua aptido de ser 1a substincia social do valor econémico”. E essa crise, segundo Kurz, j6 comegou: a propria quedado ‘comunismo hist6rico faz parte do processo: 0 Ter- ceiro Mundo que afunda na inflagao, no endivida- 152 mento € na desindustrializagao é sua primeira vii ma, De qualquer modo, em seu desabalado movi mento tem emergido 0 que denomina de “socieda- des de colapso”. Nessa perspectiva, contra a tese do “fim da hist6ria”, ele conclui que nao € a “paz etema’” o que ¢ sistema mundial produtor de mercadoria finalmente unificado, pode esperar. Aocontririo, seu futuro“reve: Ja-se como visio de terror de uma guerra civil mundial ue est por vir, guerra em que j ndo haverd frentes firmes, mas apenas surtosde violénciacegaem todos os niveis”. Os exclufdos do sistema, privados de toda possibilidade de vida material espiritual, minardo 0 terreno em que uma minoria de integrados € bem- sucedidos continuardo a levar & frente, cegamente, 0 proceso atual de eriagio destrutiva, Se Kurz vé a modernidade entrando numa era de trevas em que fica ameagado, inclusive, 0 futuro do homem, ele ainda acha que pode esperar luz de um movimento social amplo eapaz de romper 0 dominio do valor econdmico abstrato. Nao é & toa, contudo, que deixa para uma nota de rodapé uma consideragio importante: “Constitui, no entanto, uma eondigao prévia a circunstincia de que esse rompimento apenas pode ser o resultado de uma mobilizagdo bem-sucedida de grandes massas em favor de uma alternativa social nova e consciente- mente formulada, que primeiro tem de ser elabora- da", Tal como Marx, vem a ser de uma figura da radio centrada no sujeito que ele espera o trabalho de panto, A classe operéiia atual, porém, no parece ter condigées de gerar aquilo que, segundo seu entendimento, se afigura comonecessirio. Kurz, em conseqiiéncia, torna-se incapaz de fundar essa figu- +a num corpo social bem definido. De passagem, vale mencionar: 0 beco sem safdaem que se mete o autor talvez possa ser consi- derado um apoio inesperado A tese habermasiana de que é preciso abandonar o conceito de racionalidade ‘como posigio do sujeito. O defeito maior de © Colapso da Moderniza- ‘io € no conter uma boa explicagio econdmica do processo da crise. Na falta de uma argumentagio mais apurada nesse sentido, é-se levado naturalmen- te adesconfiarde seu catastrofismo. Trata-se de boa cigncia ou de ret6rica vazia? Entretanto, na medida em que seu discurso parece se adequar em linhas gerais aos grandes movimentos da hist6ria recente, tem-se de apreciar e discutir seus argumentos, Eles alertam, sem divida, para alguma coisa. Porém sera mesmo nei rio passar pelo infemo para chegar enfim ao paraiso? Eleutério F. $, Prado Faculdade de Economia e Administragio da Universidade de So Paulo, Ensaios de Economia Monetéria Fernando Nogueira da Costa Sio Paulo, Bienal, 1992. Este livro & uma colegio de cinco ensaios, escritos, conforme informa 0 autor, durante um perfodo de quase trés anos. Os trabalhos sto prece- didos por uma introdugdo de Luiz Carlos Bresser Pereira. Os ensaios tém diferengas importantes de ambigdo e estilo, tratando de varias escolas de ma- croeconomia e atacando temas, predominante mas no exclusivamente, de teoria monetéria, Por todos (08 ensaios, porém, perpassa um tema comum: a relago entre quantidade de moeda e pregos ¢ a determinacdo da oferta de moeda. © primeiro ensaio volta-se para a critica da teoria quantitativa da moeda. O autor faz a teoria quantitativa de moeda se definir pela aceitago de trés axiomas: (i) funcionalidade, pelo qual a moeda se define por sua fungio de meio de pagamento, excluindo a fungdo de reserva de valor; (ji) eausali- dade, em que a quantidade de moeda determina nivel de pregos; e (ii) controlabitidade, em que a oferta de moeda nfo € apenas dada exogenamente, ‘mas também assumida como controlavel pelas auto- ridades monetirias. Nogueira da Costa concentra suas erfticas nos dois dltimos axiomas, contrapon- do-Ihes a visio kaldoriana de causagdo reversa (dos precos para a quantidade de moeda) e moeda end6- gena, Pode-se questionar se a axiomatizagio de Nogueira da Costa nao é excessivamente restritiva (por exemplo, como enquadrarfamios quantitativis- tas como Wicksell nesse esquema?); mas, aceitos os axiomas como representativos, encontraremos uma discussdo bastante meticulosa das teses erfticas kal- dorianas, ainda que, aqui e ali, nos deparemos com proposigdes algo obscuras (por exemplo, na distin- gio entre moeda e dinheiro, nas pags. 39-40, rema- nescente de debates markistas, mas estranha as te0- ias ke ynesianas). Vale notar,em contraste, asucinta ‘mas bastante clara e satisfat6ria contraposicao entre as abordagens de novos keynesianos ¢ novos cléssi- £05 (pigs. 34-35). No segundo ensaio, 0 autor parece mais livre € ousado, defendendo posigdes teéricas com mais vigor e clareza. Nele procede a uma eritica da visio marxista ortodoxa de moeda que faz.da teoria mone- ‘Gria um ramo menor da teoria do valor e acaba por se perder nas armadilhas do valor trabalho © da moeda-mercadoria. O autor defende uma visio"pés- marxista” em que a teoria do valor seja primordial- mente uma teoria da validagdo das decisdes privadas € de uma teoria monetéria em que a moeda aparece como o principal instrumento dessa validagio. Jécensaiode ntimero és padece de um estilo esquemético e autocontido, Na verdade, trata-se, talvez, do mais didético dos cinco artigos da coleti- rhea, mais um guia de estudos que um ensaio te6rico. E impossvel ao leitor nio se ressentir da quebra de ritmo que representa, Por outro lado, o letor adver- tido para a mudanga de estilo e de intengSes pode se valer desse trabalho para organizar uma primeira incursio 8 literatura p6s-keynesiana ali sumarizada, ensaio, alids, cobre mais t6picos que 0s outros capitulos, introduzindo a macroeconomia (mais que a teoria monetiria) pés-keynesiana. © quarto ensaio € possivelmente 0 mai portante do livro, no sentido de que nele aflora & superficie 0 tema que evidentemente mais atrai 0 autor: as formas de politica monetéria na presenga de uma oferta de moeda endégena, Nogucira da Costa é, assumidamente, um endogenistae apresen- taneste capitulo 0s fundamentos teéricos e os prin- ais antepassados dessa posicio. Parece hesitar, por vezes, entre a visio mais radical de Kaldor e Moore, para quem, como esereve, “o banco central info possui 0 poder de nio ser acomodatfcio quanto 4 quantidade de moeda” (pig. 95), definindo a cha- mada visio horizontalista, © versGes mais nuanga- das, que reconhecem certa capacidade de agéo do bbanco central, como sugerido por Wray (pigs. 108- 9), So posigdes bastante polémicas, que as vezes no escapam a tautologias. (Por exemplo, qual 0 sentido da afirmagio de que "ndoexiste uma *moeda nil desejada’: ou é convertida em ativo ou empre- gada em liquidagao de passivo”, na pig. 96? Nao é atentativade se livrarde algoa propria marca de que teste algo esté em excesso de oferta?) No mais das vvezes, porém, o autor conduz com firmeza a apre- sentagdio das teses centrais do endogenismo moneté- rio.Fica a nos dever discussio igualmente ampla da segunda “perna” do endogenismo, adiscussio da fi- xagio da taxa de juros que transcenda a mera decla- ‘ragio de que sio fixadas pela autoridade monetéria. Por fim, no quinto ensaio, Nogueira da Costa discute os conceitos de poupanca, distinguinde em particular as nogdes de poupanga real e financeira, ‘mostrando que a primeira nada tem a ver com a determinagio do investimento. J4 a relagdo entre poupanga financeirae investimento € mais comple- xae fica a merecer discussio mais detalhada, com 0 ‘exame do papel e das formas de intermediagio fi- nanceira, darelagiocoma preferéncia pelaliquidez, da determinagao da estrutura das taxas de juros etc. 153 (0 prefaciador do livro faz algumas cobrangas a0 autor, especialmente no que se refere & omissi0, de autores latino-americanos. A demanda & justa, embora se devesse desenvolver em um sextoensaio, Jf que os cinco publicados tem fronteirasclaramente delimitadas pelo autor. Por outro lado, isto é certa- mente uma qualidade, 0 livro induz o leitor a se perguntar permanentemente por temas correlatos € por outras correntes tedricas que 0 autor poderia ter considerado, levandoa aguardar novas incursdes de Nogueira da Costa na teoria € politica monetéria, autor declara, em sua introdugdo, 0 cariter exploratério do trabalho, organizagdo de reflexes em diferentes estigios de amadurecimento, apre- sentadas com vigor e rigor diferenciados. Produzido © ensaio, esperamos dele agora o desenvolvimento mais completo de seus temas. Fernando Cardim de Carvalho Universidade Federal Fluminense. A Luta pela Sobrevivéncia da Moeda Nacional: Ensaios em homenagem a Dilson Funaro Luiz Gonzaga de Mello Belluzzo/Paulo Nogueira Batista Jr., orgs., 1992. O livro A Luta pela Sobrevivencia da Moeda Nacional, organizado por Luiz Gonzaga de Mello Belluzzo e Paulo Nogueira Batista Jr. em homena- gem a Dilson Funaro, retine dez ensaios bastante instigantes sobre diversos aspectos relacionados & problemética da estabilizago monetéria. A leitura do material revela-se altamente compensadora, no s6 pela quantidade de artigos, que permitem compor uma visio realista e abrangente da crise brasileira, mas sobretudo pela preocupagio — que perpassa todo 0 livro— em estender o debate para além das fronteiras da teoria econdmica convencional. artigo de Jodo Manoel Cardoso de Mello— “Panorama da crise brasileira” — discute o dilema econdmico dos dias de hoje: recessio ou destruigao da capacidade de coordenagdo macroecondmica do Estado, o que levaria o pafs a hiperinflagdo. A argu- mentagao central & que s6 nos resta uma estratégia defensiva, que nos permita proteger a nagio dos “efeitos destrutivos da crs Em “A crise da divida e suas repercussdes sobre a economia brasileira”, Luiz Gonzaga Belluz- 20 € Jalio Sérgio G. de Almeida identificaram as origens da crise financeira do Estado: a brusca inter- rupgdo da oferta voluntéria de recursos externos em 1982 as politicas adotadas para sanar 0 desequiti- brio do balango de pagamentos. Os autores conclu- ‘em que, no atval contexto de inflagao alta e crdnica € na auséncia de uma revisio em profundidade dos termos da divida externa, a reforma fiscal se revela, por si s6, insuficiente enquanto concepeao de poli tica de estabilizagio, O artigo de Arno Meyer, “As negociagdes da divida externa brasileira no Ambito do Clube de Paris", analisa as causas da deterioragao recente do problema do endividamento junto as agéncias go- vernamentais e discute as op¢des para o tratamento 154 dessa parcela da divida externa brasileira. O autor conclu que 0 Brasil pode reduzir substancialmente as transferéncias liquidas a esse grupo de credores.. Luiz Carlos Bresser Pereira, em “A ldgica perversa da estagnagio: divida, déficit e inflagdo no Brasil", argumenta que, “enquanto ndo se encontrar uma solugdo definitiva para a crise da divida e para a crise fiscal a ela associada, a inflago nao seré controlada no Brasil”. Na indisponibilidade de re- ‘cursos externos para o financiamento do déficit pa- blico, o govern, segundo o autor, recorre ao endivi- damento interno e & emissio primaria de moeda, A primeira alternativa agrada a situagdo por conta de sua pressiio sobre os juros;a segunda valida ataxade inflagao vigente, que tende a se tornar inercial ou auténoma, Nesse contexto, compde-se um mecanis- mo enddgeno de aceleragio da inflagdo que, sujeita a choques exdgenos, tend a ser cada vez maior. Carlos Eduardo Carvalho, em"Liquidezecho- ques antiinflacionérios”, discute as condicionantes impostas pela presenga de um elevado estoque de moeda indexada na implementagdo de um programa de estabilizagZo. O autor argumenta que a liquidez dos haveres financeiros foi 0 fator predominante para explicar o fracasso dos planos Cruzado ¢ Ve- 0, 0 mesmo nao se verificando no plano Bresser. “Alta inflagdoe hiperinflagio: uma visio pés- keynesiana”, de Fernando J. Cardim de Carvatho, fornece-nos um referencial te6rico para a anilise dos processos inflacionarios. A idéia bisica é que os agentes econdmicos esto conectados no tempo por contratos em moedas, “criando perfis de obrigagdes que organizam os fluxos materiais necessérios & ‘operagiio da economia”. Nessa perspectiva, o autor procura demonstrar como esse sistema de contratos € corroido pela inflagio, transformado pela alta inflagdo e destru{do pela hiperinflagao. © antigo de Paulo Nogueira Batista J nes ea estabilizagio do marco alemao nos anos 20”, representa um dos pontos altos do livro. A partir da reconstituigdo alemd e da politica de estabilizagio do marco, © autor apresenta as contribuigdes de Keynes sobre o debate e extrai importantes ligdes dessa experigncia hist6rica. Dois aspectos merecem

Potrebbero piacerti anche