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RESENHAS A FAMILIA COMO ESPELHO: UM ESTUDO SOBRE ‘A MORAL DOS POBRES Cynthia Andersen Sart Sao Paulo: Editora Autores Asociados, 1996. 128 p. Com sua escrita lave, Sari nos conduz a uma prazerosa iaitura, algo raro em lamas sociolégions, nos quais a 6°- tiedade esté normalmente associada & sisudaz. ‘Organizado om cinco capitulos, cada um deles ‘com varias subdivisées, a leitura do livro flul ao sabor das feflexdes da autora. Assim nos leva @ acompa- har toda a trajetiria da pesquisa iniciada em 1979 para a dissertagdo de mestrado: desde 0 convivio om alguns moradores da periferia de S40 Paulo (S80 Miguel Paulista) alé &s quostoes que instigaram & continuidade da tese de doutorado: entender quais as ategorias morais com que os pobres organizam dao sentido ao mundo social, do qual fazem parte. AAs familias investigadas compéem um grupo bastante especitico, de adultos migrantes, muitos de origerm ru- ral, e de jovens e criangas nascides © eados em Sao Paulo, Caracterisicas estas que, com certeza, marca lum certo tipo de conviio, cujas relagdes socials ciferem de outros grupos pobres. A condigdo de migrante, neste ‘caso, é um forte componente na tessitura das relagées sociais. De um lado, no amparo dos familiares j& resi dentes na grande cidade; de outro, na reconénda a Uma rede de relagées interpessoais oom seus iguais que garantiré sua Integracde ao meio urbane. ‘Apesar da recorréncia da categoria “tamilia pobre" no singular, Sarti esta se referindo, a parti de um de- ferminado ponto de vista, a um grupo especifico de pobres. Deixa claro 2s diferentes nuangas que vem ‘envolvendo essa temdlica nas ciéndias socials © neste sentido, a0 resgatar os sujeltos pobres, tvaz uma im- Portante contribuigdo aos estudos sobre pobreza, que, como ela mesma dz, tradicionalmente, enfatizam a ‘condigéo social dos pobres ou a partir da exploragio do trabalho polo capital ou pela auséncia de reconhe- cimento de seus direitos. O resultado desta tpo ce abordagem 6 a “desatenco para a vida social ¢ sim- bética dos pobres no que ela representa enquanto po- sittvidade concreta, a partir da qual se define o hori- zonte de sua atuagdo no mundo social © @ possibil- dade de transposigao desta atuagao para plano pro- priamente poiiice” (p.18). Com isso nos alerta para a felatividade da categoria pobreza, para a impossibll- dade de aprisioné-la a um eixo de classificagao un voro. Sarti procura, ao longo do seu trabalho, se con- trapor a uma recorronte abordagem do pensamento sotial brasileiro que reduz a pobraza e seus sujltos a.uma dimenséo negativa, como, por exemplo, a idéla de dependéncia em relacéo a uma “elte lluminada’, ‘cujo saber modemo age em beneficio dos excluides. Para ela, a permanéncia de valores tradicionais dos pobres nao se configura em obstéculo & mudanga: su- gore apenas uma maneira propria de se relacionarem frente & sociedade. ‘Sendo assim, a familia surge para os pobres come ‘© meio pelo qual’ a adaptagdo ao mundo social so viax bilza, sondo “o proprio substrato de sua identidade so- tia? {p.33). As familias pesquisadas por Sarti revelam a permanéncia de valores tracicionais e padrées patrlar- cals, padres que ‘Teafimam @ autoridade masculina pelo papet central do homem como mediagio com 0 mundo extemo” (p.87) € que sugerem 2 rallerago de uma hierarguia enire o homem e a mulher, entre 08 ‘adultos © as criangas. As familas pobres de Sao Miguel Paulista parecom indicar um padréo de pemmanénca dos papéis sexuais na organizagao familar, que pres- ‘supde 0 homem (como esclarece a autora, pode niio estar centrado na figura do pal, mas na de urn filo mais ‘velho, por exemplo) como chefe provedor, donatério da autoridade moral, @ 4 mulher como dona de casa, numa aparente rolagio de complementavidade. Isto ndo significa que a familia pobre se constitua ‘em um niicleo, Pelo contrério, suas relagdes se esta: bbelocem em “(..) ramificagSes que envolvem a rede de parentesco como um todo, configurando uma trama. dé ‘brigeodes morais que enreda seus membros, num du- plo sentido, ao dificutar sua individualizacao ©, ao mes: tno tempo, viablizar sua existéncia como apoio © sus: tentagio basicos” (p.40). Nessa trama de obrigago morais, os filhos ocupam um lugar de destaque: eles Conferem sentido propria existéncia da fami, definin- Cad. Pesq., Se Paulo, n.97, p.90-93, maio 199 do moralmente os papéis familiares. As criancas so também, muitas vezes, 0 elo que tece a rede de solida- riedade ‘parental, especialmente diante da necessidade do arranjos familiares no cuidado com os fihos. © trabalho &, além da familia, outro elemento constitutive da identidade do pobre ro mundo urbano. E por meio dele que a vida familiar se viabiliza, pois 2 trabalho 6 “concebido como parte complomentar das atribuigdes famifaros, segundo a légica do obrigagSes quo caracteriza as relacdes familiares" (p.73). Estabo- lece no universo simbdlico do pobre uma distingao po- sitva com o “outro”, que, neste caso, pode tanto ser © vagabundo pobre, sem disposi¢ao para trabalhar, ome 0 rico/patrdo que apenas compra.a forca de tra: balho. Contudo, seguinda a légica das atribuigdes es- Pecfficas aos papéis sexuais nestas familias, uma mesma moral do trabalho adquire diferentes significa- dos para homens e mulheres. Sarl nos mostra quo © trabalho de provedor é préprio da fungdo mascutina, Ja © trabalho da mulher & referido a partir do lugar dela no universo familiar. Ito no significa que estas ‘mulheres nao exergam algum trabalho romunerado, este se insiiui na logica das obrigacdes familiares — ue esto em primoiro pleno. Nesia perspectiva, 0 tta- balho remunerado no se configura, segundo Sart, ob- ‘igatoriamente em um meio de atfirmagao individual pata ‘8 mulher. O proceso de individuac&o destes sujitos & dependente de uma rede de relagdes, O mundo do tra- batho tanto de homens quanto de mulheres pobres so ode, entio, ser compreendido se for levade em con- siderago seu valor moral, a partir de um modelo de relagées de obrigaptes préprias ao universo familar: ‘A pesquisa de Sati vai mais além das relagdes intrafamiliares. Buscando compreender a forma como © pobres se situam no mundo social, pracura "ise cut como os moradores da periferia constroom fron teiras simboticas de diferenciagdo entre si e cue sen tido tem esta construgdo” (p.90). Caracteristicas como @ confianga © a solidatiedade séo fundamentais no esiabelecimento de relagdes, inclusive om detrimento de parentes consanglinoos. Estes vinculos, traduzi- dos em obrigagdes morais, tomam-se, em certas con- digdes, mais importantes do quo os élos de sangue. Resenhas... No entanto, “solidariadads ¢ rivelidade néo caminham juntas’, uma vez que seu vizinho, tal como um espe- {ho, alua como parémetro de identitieacao positiva e negativa, reflexo de uma sociedade que também é constituida por contrastes © desigualdades. ‘Sem divide, trata-se de um trabalho que nos leva a refletir sobre algumas teses hd muito enraizadas nas ciéncias humanas, em espacial nos estudos sobre as familias. Para tais estudos, 0 debate promovido por esta pesquisa seré agitado, porém fecundo. Sandra Ridenti GENERO E SAUDE Marta Jilia Marques Lopes, Dagmar Estermann Meyer @ Vera Regina Wakiow (orgs.) Porto Alegre: Artes Médicas, 1996, 156 p. Génoro @ Satide rete trabalhos de autores com for- magio nas éreas da educagio, sociologia, histéria, psl- ccologia, enfermagem @ servco social no Brasil, América do Norte e Europa. A obra divide-se em duas partes A piimaira, composta da quatro capituos, discute ole mantos teéricos sobre a questéo de género, A segunda parte apresenta seis capitulos quo artculam género, satide e trabalho através de rolatos de pesquisa, Este trabalho € 0 segundo de uma série de tras livros das organizadoras. O primeira, Maneiras do oui- dar, maneiras de ensinar, voltava-se especialmente para abordagens hist6ricas, socials ¢ culturais do sa ber e do fazer em enfermagem no Brasil © que caracteriza 0 tivo aqui comentado é uma abertura para um debate maior, qual seja 0 de géne- ro, poder, satide @ trabalho om cstintos cantextos So cials @ culturais. © vio nao se resiringe a uma con- cepeso nica de feminismo e gBnaro, mas lida com a pluralidade destes referenciais, sem’ perdar sua ar- ticulaggo teérica. Do ponto de vista da soctologia da saiide, seu principal mérito & romper com as abordagens “médi- co-centiistas” que fazem com que em alguns paises,

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