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aia MeMORIAS DO cATIVEIRO que se estendeu pelas primeiras décadas do século XX, hot ve, na regio em questéo, uma populagao de libertos, seus f Ihos € netos, que encontrou dificuldades em se fixar com parceiros ou posseiros estveis. A mudanga constapte ocup boa parte do relato dessas senhoras e, fora uma ou outra f zenda considerada “boa”, o relato da mudanga marca um di curso repleto da meméria de privagdes, injustica e violénci que discutiremos mais adiante. © processo que envolvia os deslocamentos, que invari velmente inclufa todo o grupo familiar (no necessariament nuclear), foi descrito de maneira bastante semelhante pe entrevistadas. Foi, porém, o depoimento de Nininha o contundente. © grupo juntava as poucas coisas que entendi ‘como necessarias — panelas ¢ ferramentas de metal, roupa: ‘© que possufssem de tecido e animais a que tivessem direito assim como mantimentos —¢ deria dutar dias, para o novo local, Este novo local era gerall mente conseguido por algum parente, que, ld chegando, o} auxiliava a, se necessério, erguer a nova casa. Com todo 4 grupo trabalhando, a casa, de sopapo e chao batido, podia se erguida em um dia. Nininha guarda imagens vividas de mudangas, que ho) se confundem em sua meméria, Boa parte das mudangas fo ram partilhadas com a familia de seu tio Francelino e seus ci filhos. Jorgina, um dos filhos, divide com a prima, Ninit parte dessas memérias. Em sen relato, chegaa dizer que “ama nhecia em uma cama e dormia na outra”. Em dia de muda s, acordavam as trés horas da madrugada, recolhiam o pertencese partiam. Alguém, geralmente uma crianga, seguia na frente carregando a imagem do santo da casa. Ao chega n, primeira providéncia era construit 0 fogio da nova casa, pois, enquanto parte do grupo erguia a casa, Clotilde tran- lyiva esteiras para dormir. Para as duas, Jorgina e Nininha, criangas, os motivos das mudangas eram obscuros. a diz. que “papai brigava com o fazendeiro ¢ ia embo- Ja Nininha diz simplesmente que a mae “cismava” que que it. Em suas palavras: “Minha me chegava do servi- {yo ¢ dizia, nés vamos mudar, af arrumava aquelas trouxas, € ‘ids ndo sabfamos aonde famos mio. Mas ela sabia e 0 santo ia ia mao.”* , Clotilde tinha tragado limites claros sobre o que pode- ‘in suportar da conduta de fazendeiros. Qualquer agressio Ifsicaa seus filhos seria insuportvel. Nininha diz que era esse ium dos motivos que poderia acionar a mudanca, ainda que acrescente ter a mae uma mao bastante pesada com os pré- prios filhos. Que outro tipo de violéncia ou abuso teria de+ joncadeado como resposta a mudanga ndo sabemos. Jorgina {oi ainda mais vaga quando falou sobre o que levava o pai a jo mudar. Uma das vezes foi por um desentendimento a res je uma casa que possufa uma cozinha, almejada por ino, ¢ que 0 fazendeiro se recusou a dar. ‘A casa precdria permanecia geralmente como foi erguida, yom melhoramentos, durante o perfodo de ocupagio, Clara- ite nao valia a pena investir tempo e trabalho numa habi- temporéria, o que nao quer dizer que a casa no fosse nportante, Pelo contrario, o fato recorrente nas entrevistas «lo apontar sua precariedade mostra o inconformismo com esse {ipo de moradia, ¢ qualquer detalhe que fugisse a essa preca- *Depoimento de D. Nininha e sua prima Jorgina...MC, Labkoi-UFF, 200 204

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