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Artigo A Sobre o Dialogo e o Dialogico: O Encontro Como Dimensdo do Humano” Gabriel Marcel conta de um en- contro tardio com Buber - por volta de 1950 - onde o teria definido como um homem “comparivel aos grandes patriarcas do Antigo Testamento”. Para Marcel (1968) a linguagem de Buber é a mais clara das linguagens filos6- ficas atuais, chegando a consideré-la “teansparente” compatada com a de Heidegger. De fato, eu defino a linguagem buberiana como poética. E por esta via ~a da poesia — podemos acessat tranguilamente a esséncia do saber buberiano. Costumo dizer aos meus alunos (em especial aqueles que con- sideram a leitura do Ew e Tw dificil) que se deve ler Buber como se Ié um livro de poesia. “Toda arte é essencial- mente dialigica”, escreve-nos Buber (1982). ‘O que pretendo tragar nestas pou- cas linhas é uma pequena reflexio introdutéria acerca do sentido do di- aldgico ¢ de como 0 dialégico define o humano. O humano se encontra no huma- no. Parece que o que falo é dbvio e redundante, mas 0 que quero desta- car & que o fundamento da humani- dade se da na alteridade, na diferen- a. Nao ha rclagio com a igualdade. Quando destaco isto, estou me refe- tindo 4 problemitica da conscién- cia ¢ da intersubjetividade. F. isto se traduz em duas outras questdes - a meu ver priofitirias - que sio a constituicao de si ¢ constituigio do outro, temas fundamentais da Feno- menologia e furndamento basico para qualquer reflexio existencial. 6 Adriano Holanda”* “A relagio auto-consttutiva do mew “ea” nd subsiste sem 0 encontro com a outra instincia auto-consttutiva do ontra Isto significa que, de fato, nao ba “en” em si, tanto quanto nao bd um “outro” em si O “eu” ¢ 0 “outro” se consttuem relaco~ almente. E. aonde fea a “auto-constit- £40"? A rigor, nio ba esta “autoconst- tigdo”, dado que 0 processo constitutive se dé a partir da relagdo” (Holanda, 1999) Buber € rigoroso ao assinalar a dimensio relacional da existéncia humana. “No principia, éa relagdo”. A esséncia do humano no se fecha em simesmo, mas est contida na comu- nidade, ou seja, na unidade do ho- ‘mem com outro homem, “uma unida- cde que se apdia sobre a realidade das dife rengas entre o Bu ¢ 0 Tu” (Buber, apud Marcel, 1968:22). Queto reiterar a importéncia de destacarmos a realidade da diferen- 5a, pois somente nela é que se da a possibilidade da telagio. E o diflogo também se da sob diferentes formas. “Assio como 0 mais ardoreso falar de wm ara 9 oxiro no constitu: una conversa: ito (..) assim, por sha vex, uma conver. saga no necessita de som algun, nem se- quer de um geste. A linguagems pade re- rnunciar toda meditaio de sentidose ain- da assim €linguagen’” (Buber, 1982:35). © didlogo humano pode existir sem © signo, ou melhor, o didlogo transcende os limites do signo; se completa fora dos contetidos comu- nicados ou comunicavcis; se comple- ta “num acontecimento que & concreto no sentido esinito da palavrs, totalmente in- serido no mundo comune aos omens ¢ na segiincia temporal concreta” (Buber, 1982:37). que o dialégico nao prescinde € a reciprocidade da agio interior. “Dois homens que estio dialogicamente ligados devem estar obvianvente voltadas sun-paraco-outros, devern, portanto, -¢ néo importa com que medida de atividade on mesmo consciéncia de atividade ~ terse voltade wm-para-o-outro” (Buber, 1982:41) E este “voltar-se-para-o-outro”, & este movimento bisico o essencial para o encontro. Para Buber, hi trés maneiras de se perceber um homem aque esta diante de nés; sio trés atitu- des que se toma diante da realidade: ‘A primeira atitude é 0 modo do observador, Este esta inteiramente concentrado em gravar tudo 0 que observa, em anotar cada elemento. E uma atitude de perscrutagao ¢ de desenho: O outro lhe surge como um objeto constituido de tragos. Para 0 observador, “un rosto nada mais é do que una fisionomia, os morimentos nada mais sto do que gestes expressivo:? (Bu- ber, 1982:41). segundo modo & 0 do. contem- ‘plador. Este no se encontra absolu- tamente concentrado, mas se coloca ‘numa posigio onde vé 0 objeto livre- mente € aguarda 0 que se Ihe apre- sentari. E uma atitude de “espera”. Aguarda o advento do fenémeno, 0 surgimento do fenémeno. Nao ano- ta, nem se preocupa. Fa atitude dos grandes artistas. Nés nos esquece- mos desta, e somente a relembramos em raros momentos de paixio. Mas Maio/99 ainda no basta. “O obsertador ¢0 n= templador tem em comum 0 fato de os dois ierem a mesma posta, justamente 0 dese Jo de perceber 0 homem gue vive diante dos rnossos olbos; de nada a mais, este homem é para eles um objeto separado deles pri- prios ¢ das suas vidas pessoais, que justa- ‘mente ¢ apenas por isso pode ser percebida “de nma maneira corte”, 0 que tles expe- riencian: desta forma, soja ela uma soma de trapes, com acontece com 0 observador, ow um existincia, no caso do contempla- dor, nao exige deles nenbuma agi ¢ nem Uhes impie destino algum; pelo contrério, tudo se passa nos campos distantes da es tesid” (Buber, 1982:42). Jaa terceita atitude, Buber d4 0 nome de ‘omada de conscéncia intima. Eu me encontro com um homem que tem algo a dizer a mim, que transmi- te algo para mim. Ele me DIZ algo. Receber isto é totalmente diferente do contemplar ou do observar. Nao se pode retratar nem descrever 0 ho- mem diante de nés. © homem nto é meu objeto. Deste encontro surgiu uma palavra que merece resposta. E dai, o sentido verdadeiro do que é tesponsabiidade. “Aguile que tomo co- nbecimento intima no precisa se, de far ‘ma algume, um bomem; pode ser ume ani- ‘mal, uma planta, ama pedra. Nenbuma cesplrie de fentmena, nenbuma espicie de acontecimento & fundamentabmente exclu do do rol das evisas através das quais algo ime é dito todas as veges. Nada pode se recusar a servir de recipionte & palavra, Os limites de possibilidade do dialtgica sao os limites de possibilidade da tomada de conbecimento intimd” (Buber, 1982:43). “Conbego tris tipos de didlogo: 0 ane tint — nao importa se falado on silen- 080 — onde cada ume dos participantes tem de fato em mente 0 ontra ou as ontros na sua presenga e no seu modo de ser e a eles se volta com a intengo de estabelecer entre ches ¢ si pripria uma recprosidade viva; 0 Maio/99 A didlego thenico, que € movido smicamente pela necessidade de um entendimento obje- 100; € © monélogo dlisfergado de didlogo, onde dais ou mais bomens, remidas num local, falam, cada um consigo mesmo, por cansinhos tortuosos estranbamente entrela- dos ¢eréem ter escapade, contudo, a tor- mento de ter que contar apenas com os pré= prios recursos? (Buber, 1982:54). Podemos destacar que, na realida- de, a cotidianeidade é a dinimica dia- lética destes trés tipos de didloga A propésito, € comum observarmos 0 desejo, o impeto, a busca de terapeu- tas (principalmente os iniciantes) pelo didlogo auténtico na psicoterapia, Gostaria de lembrat as proprias pala- vras de Buber, quando este afirma que © didlogo acontece, pela graca. Mas, afinal, 0 que é 0 dialégi- co? E 0 “sair-de-si-em-diregao- ao-outro”, que desemboca num “alcangar-o-outro”, num “perma- necet-junto-2o-outro”. E ago, tensao. Concorde com Gabriel Marcel quando assinala: “Desde este escrito liminar', onde explode o génio no apenas filoséfico mas poético de Buber, este traz a luz a rensdo que existe entre 0 Eu e 0 mundo marca que 0 Eu nao € concebido sem esta tensio, Eu insisto desde 0 presente no termo “Spannung” (tensio), como preferivel, para mim, ao de “Beziehung” (rela- ‘¢Ho) que, como veremos, desem- penha um papel essencial nesta filosofia” (Marcel, 1968:19). O dialogico é essencialmente di- alético; nio é uma situacio ou um ‘evento, como muitos consideram. O dialégico é relacional. Como assina- | Marcel (1968), ““aguele que vive ser- dadeiramente 0 mundo, 0 vive como duali- dade”, Nao ha como vivermos a sin- gulatidade do fenémeno da relagio. Um Tu se torna irtemediavelmente um Isso, diz Buber. © dialégico € tanto Um quanto 0 Outro, ja que nfo hé Um sem um Outro e vice-versa. Parece confuso, mas é essencialmente corriqueiro. Fico sempre refletindo sobre as imen- sas dificuldades que nés, sexes huma- nos, temos de nos relacionar com nossos semelhantes. Se considerar- mos o dialégico sobre este prisma, no mais necessitamos temer as re~ lagdes. Mas as tememos ~ ¢ justa- mente pelo fato do dialégico ser dia- lético. Estamos acostumados a procurar tuma esséncia perfeita. Esta “perfei- cio” tem diversas facetas: saiide, 0 homem ou a mulher perfeita, o em- tego perfeito, auséncia de tensio, enfim, uma série de “desejos” (segu- ramente produto de toda uma histé- tia de construgio de nossas mentali- dades que cindiu o mundo em dois: um lado contra 0 outro). E sofremos duplamente com isto. De um lado sofremos por que € natural, cotidia- no € teal, sofrer. Por outro lado, so- fremos porque desejamos no mais softer. Assim também é com o dialé- gico. O dialégico € 0 diélogo auténti- co. O dialégico € o dislogo técnico. dialégico é 0 monélogo. O dialé- gico é cada um e todos, ao mesmo tempo. E também nfo é nenhum dos trés, sendo-os. Um paradoxo. “O pa- radoxco é a paixéo do pensamento; 0 pen- sador sem paradexe € como wm amante sem paisa, um sujeito medioer’” (Non Zuben, 1979), A dialética da relagio, no pensa- mento de Buber, se compreende atra- vés da distdncia — que define como © homem é possfvel (ou como colo- ca Sidekum (1979), o “distanciamen- to primitivo”) - e da relagao — que estabelece como © homem se realiza 1, SS (Friedman, 1986). A distancia é a pressuposicao da selagdo, Entra-se em relag&io com um outro que esteja distante de nds e se torne um oposto independente, “Nao se pode viver unicamente no pre- sente, ele poderia consumir alguém se nia estivesse previsto que ele seria rdpida ¢ radicalmente superada. Pode-s, no entan- 40, viver unicamente no passado, 6 somente ele que uma existincia pode ser realiza- da, Basta comsagrar cada instante a exspe- riéncia & utilizago que ele nd se consu- miré mais. E com toda a seriedade da ver- dade, ouca: 0 bomem nao pode viver sem 0 Isso, mas aquele que vive somente com 0 Isso nado & bomen’? (Buber, 1979:39). ‘Tememos as relagdes por no as- sumirmos os dois lados da moeda. ‘Tememos as relagdes por sabermos que elas cambiam, irremediavelmen- te, de um Tu para um Isso, Mas, fan- damentalmente, tememos as relacdes por sabermos que, para retomarmos 20 Tu, € preciso saitmos de dentro de nossos casulos ¢ enfrentar a reali- dade. Sair de dentro de si é agio-no- mundo. E agir-no-mundo no é fi il, nem totalmente prazciroso. E lé dentro de nossas mentes maniqueis- tas € hedonistas, li dentro de nossos coragdes enclausurados, optamos por primeiro nos proteger e somente de- pois abtir uma pequena fresta do nos- so set para, ai sim, vislumbrarmos a possibilidade e a perspectiva do dia- légico, do Encontro. O dialogico é esta cotidianeida- de; é 0 sentido do Vivido que é dado no dia-a-dia, nas particularidades. A psicoterapia é uma possibilidade de tesgatar esta cotidianeidade, dentro de uma circunscricao especifica onde © sujeito se permite viver mais inti- mamente, mais “protegido”, aquilo que tanto lhe assusta no real. E. como © humano se da no encontro com 0 8 ST Ay humano, a psicoterapia € 0 espaco deste resgate; resgate do encontro consigo mesmo, através do encontro com um Outro. Mas nfo tenhamos a ilusio da subs- tituigdio. A psicoterapia, como qual- quet outra forma possivel de relacto, no substitui o encontro verdadeiro. E 0 encontro verdadeito se da pelo jogar-se no mundo do ser total — com medos, receios, temores, desejos, bus- cas, anseios, alegrias, tistezas, enfim, um ser total. E a psicoterapia surge entio como uma relagdo educativa, tal qual a educagio que um pai dé 20 seu filha, permitindo-the caminhar sozi- ho, com suas préprias pernas, e en- frentar por si proprio a realidade tal qual surge diante de si Encerro esta pequena reflexdio res- gatando a poética do pensamento de Buber. E nada mais simples para res- gatar uma poesia senao através de outa poesia. Pois 0 encontro deixa mareas indeléveis, profundas c signi- ficativas. E é a partir destas marcas que continuamos a nossa jornada. “Quem conbece uma rosa, Nao esquece, nao adormece, ‘Mas sente o seu perfume, Guarda a sua cor e sua textura, Acaknta sen sentido, como une der no pita. Quem conbece tin pascarinko, Nao esquece, nao esmoreee, Enquanto sente sua plumagem, Owve 0 canto e passeia pelo campo, nba sempre cam 0 encanto de wma lira. Quem conbece uma pessoa, Nao ecquece, desfalee, Se nao encontra de novo, Se nao a sente em torno, Se nao a abraga de novo. ois quem conbace xa pessoa E esta se vat, Nao descansa Nao se cansa, fica a pront Esperando a sua volta?” (AE. Holanda) Notas: “Trabalho apresentado como Pales- tra no 1° Simpésio Mineiro de Ges- talt Terapia. " Adriano Holanda é Gestalt ‘Tera~ peuta ¢ Doutorando em Psicologia pela Pontificia Universidade Cato- lica de Campinas (PUC-Campinas). Fone: (019) 232 0103. +0 escrito a que se refere Gabriel Marcel é 0 livro intitulado “Daniel”, publicado pot Buber em 1913, sendo sum dos seus livros capitais. Refertncias Bibliogrificas BUBER, M. (1975). Eu e Tu, Sio Pau- lo: Editora Moraes BUBER, M. (1982). Do Dilogo do Dialégico, Sic Paulo: Perspectiva HOLANDA, AF (1998). Didlogo € Psicoterapia: Correlagdes entre Carl Rogers e Martin Buber, Si Paulo: Lemos Editorial, HOLANDA, AF. (1999). Consciéncia e Intersubjetividade na Fenomenolo- gia de Husserl, Encontro de Psi- cologia Humanista do Interior Paulista, Campinas, SP, 16 a 18 de abril de 1999. MARCEL, G. (1968). L’Anthropologie Philosophique de Martin Buber, In Centre National de Hiautes Etudes Juives, Martin Buber. Uhomme et le philosophe, Bruxelles: Edit cons de Institut de Sociologie de Université Libre de Bruxelles. VON ZUBEN, N.A. (1979). Introdu fo, In Martin Buber, Eu eT, Sio Paulo: Editora Moraes. FRIEDMAN, M. (1986). Martin Bu- ber. The Life of Dialogue, Chi- cago: The University of Chicago Press SIDEKUM, A. (1979). A Intersubjeti vida de em Martin Buber, Posto Alegre: EST/UCS, Maio/99

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