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HOJE COMPREENDENDO OS LIMITES TRAGADOS PARA AS PESSOAS E PARA A SOCIEDADE ~ A LEI MORAL DE DEUS CONTEUDO Limites: Porque Té-los? v..sesssssesssssssssssseesesssseesssessesseesen 9 Capitulo 1 - Os Trés Aspectos Distintos da Lei Capitulo 2 - Os Dez Mandamentos e a Graga de Deus Capitulo 3 - O Cristao e os Dez Mandamentos Capitulo 4 - O Primeiro Mandamento Capitulo 5 - O Segundo Mandamento Capitulo 6 - O Terceiro Mandamento Capitulo 7 - O Quarto Mandamento . Capitulo 8 - O Quinto Mandamento . Capitulo 9 - O Sexto Mandament0 ......s.ssescesseesecsssseeessvenseesesees Capitulo 10 - O Sétimo Mandamento Capitulo 11 - O Oitavo Mandamento . Capitulo 12 - O Nono Mandamento .. we Capitulo 13 - O Décimo Mandament .......sssssessseessessseeseeeevess 159 Limites: Porque Té-los? Nao, nao e nao!!! Essa foi a chamada aos leitores, com letras vermelhas garrafais, colocada numa capa da revista semanal brasi- leira de maior circulagio. Com menos de quatro meses de interva- lo, dois artigos dessa revista — um de capa — foram escritos com intimeros depoimentos de especialistas, sobre a necessidade de imposigiio de limites, nio somente na educagio de filhos, da parte dos pais, como na sociedade como um todo.'! Num dos textos, salienta-se que um dos livros mais vendidos internacionalmente tem como titulo: “Dizer Nao — Por que isso é importante para vocé e seu filho”. Numa era em que temos nos acostumado a ler a defesa total da auséncia de limites, essa énfase chega a surpreender. Ser que descobrimos uma nova metodologia de educag&o e controle? O reencontro deste principio, conforme os artigos, “é 0 assunto do momento entre especialistas em educag&o no mundo inteiro”. Pais bem-intencionados estao descobrindo que nao basta apenas amar e explicar e orientar. E preciso “dizer niio”. Nas tiltimas trés décadas, muitas escolas encontraram-se na si- tuagdo de serem obrigadas a criar “servigos especiais para atendi- mento de alunos com problemas de disciplina e falta de parimetros de comportamento”. Instituigdes de ensino que se consideravam “modernas” e “liberais” por terem abolido as regras e as exigénci- ' Revista Veja. Artigo: Nao, Nao e Nao!!!! Por, Alice Granato, na edig&o de 16-06-1999; ¢ A Boa linha dura, de autoria de Thais Oyama, na edigdo de 13- 10-1999. 10 A Lei de Deus Hoje as, que acreditavam ser anti-educativas e repressoras, observam agora que os alunos nao estao “‘cooperando”. Deixados a seguirem a sua prépria vontade, tornam-se adultos sem as habilidades aca- démicas, artisticas ¢ sociais que as escolas pretendem lhes propor- cionar num ambiente livre, amoroso e descontrafdo. Muitos nem chegam a se formar e os que recebem o diploma, freqiientemente, so mais iletrados e mais inseguros emocionalmente do que seus pais. A conseqiiéncia dessa verificagao prdtica est4 sendo o retorno dos conceitos de “infragaéo” e “punigao” e as tio desdenhadas e abominadas “proibigdes”’. Nao cabule as aulas. - Nao fume nas dependéncias escolares. Nao fique ouvindo seu discman nas aulas. Niio desrespeite o professor. Nao chegue na classe sem ter feito o dever. N§o use roupas que estiio “fora dos parfimetros estabelecidos”’... Nesse sentido, coloca um dos artigos, os pais sao orientados a reforcar as proibigdes escolares e a criarem os seus préprios limi- tes: Niio fique acordado a noite toda. Nao quero saber de vocé participando de tal atividade em tal lugar... Nao fique grudado na Internet por .., horas em seguida. Nio infernize a vida dos seus familiares com o volume da sua misi- ca, com seu desrespeito, com sua falta de higiene... Surpreendentemente, discute-se agora “quando” e “como” se deve usar a palavra “nao”, e nao se ela deve fazer parte do voca- buldrio educativo — tanto no lar quanto na escola. Isso se aplica igualmente a muitas outras palavras que na era atual j4 estavam descartadas, abominadas e vituperadas. Esses artigos enfatizam que proibig6es, orientagdes e incentivos novamente devem conviver lado a lado — complementando-se. Um dos especialistas citados Limites: Por Que Té-los? i diz, “E preciso ser sempre muito claro e até intransigente quanto as regras e condutas que devem ser seguidas”. Nao, ndo e nao!!! Sera que j4 nao ouvimos isto antes? Hé mi- lénios atras, houve um outro pai, o Pai Supremo, que resumiu a sua vontade para o comportamento dos seus filhos com uma “im- posigio de limites” bem clara. Nao, néo e no!!! Nao ters outros deuses diante de mim... Nao matards.... Nao adulterards.... Nao furtards... Nao dirds fal- so testemunho... Nao .... Referimo-nos aos Dez Mandamentos— dados a Moisés e ao povo de Deus e repetidos em muitas ocasides e em diversas maneiras durante os séculos seguintes. Naesfera pessoal, a natureza humana pecaminosa nunca acei- tou de bom grado esses limites. Na esfera social, as sociedades constitufdas sempre apresentaram tendéncias de irem desviando os seus limites éticos e de controle desses referenciais tragados por Deus. Mas 0 ataque aos limites talvez nunca tenha sido tao intensos quanto na Ultima metade do século XX, quando o humanismo desenfreado encampou as grandes correntes filos6fi- cas e politicas, e a cultura popular foi sendo liderada cada vez mais para longe desses principios estabelecidos na Palavra de Deus. Um fildsofo e psicdlogo contemporaneo disse: “... a nogao de que existe uma verdade absoluta gravada nos céus eternos, como ensinaram a muitos de nés, nao é apenas uma falsidade, mas também uma ameaga ao desenvolvimento humano”.? Na re- alidade, esse conceito, esse afastamento de Deus e de seus prin- cipios é a verdadeira ameaga ao desenvolvimento harménico das pessoas e da sociedade. ? Herbert Arthur Tonne, The Human Dilemma: Finding the Meaning in Life (0 Dilema humano: encontrar significado na vida) citado por David A. Noebel, Understanding the Times (Colorado Springs: ACSI, 1992),395. 12 A Lei de Deus Hoje O mundo crist&o deveria ser 0 guardiao das verdades divinas, proclamando ao mundo e as sociedades decadentes os limites e a justiga de Deus, entretanto, vem sucumbindo a formas de pensar que minam a visio biblica da Lei de Deus. A fé crista j4 se encon- trava sob grandes ataques internos desde o século 18, com o surgimento do liberalismo, gerado nos grandes centros académi- cos cristéos da Europa. Com um racionalismo questionador da veracidade da Revelagao Divina, na Biblia, o liberalismo procura- va, em esséncia, criar uma teologia e uma pratica religiosa na qual o sobrenatural, nas Escrituras e na mensagem, fosse secundario ou, até, totalmente desnecessdrio. Esse ataque precedeu desvios, talvez até mais sérios ~ pela sua sutileza ~ encontrados mais tarde dentro do campo conservador. O novo ataque comegou no final do século 19 e no século 20, gerando também desprezo pela Lei de Deus. Tivemos a formagio de varias correntes teolégicas que fo- ram se distanciando da teologia reformada e da sua énfase na uni- dade do plano soberano de Deus, contida no Antigo e no Novo Testamento. Isso ocorreu no seio dos que eram, supostamente, “teologicamente conservadores”. Talvez muitos evangélicos contemporaneos nfo se apercebam disso, mas entre as correntes teol6gicas que passaram a fragmentar erroneamente a Palavra de Deus, destaca-se o dispensacionalismo*. Esse método teolégico foi, desde 0 inicio, marcado pela sua rejei- ¢4o do conceito de uma Igreja formada pelo Povo de Deus redimido, em todas as eras; pela sua distingio de varios “processos” de salva- ¢4o, ao longo da histéria; e pela sua divisdo confusa entre lei e 3 Corrente teolgica desenvolvida a partir dos conceitos de John Nelson Darby (1800-1882) e do seu trabalho, no Reino Unido, com os Plymouth Brethren (Os irmdos). O dispensacionalismo foi popularizado pela Biblia de Scofield em todo o mundo, que ensina a divisio da histéria da humanidade em etapas distintas e bem delineadas (geralmente, sete), nas quais Deus administra de forma diferenciada o plano de salvag&o e o seu relacionamento com o seu povo. Limites: Por Que Té-los? I3 graga, retirando toda a validade da Lei de Deus ao presente e colo- cando os crentes sob diretrizes totalmente subjetivas e fluidas. In- felizmente, o dispensacionalismo veio a servir de base e alicerce a grande parte do evangelicalismo em todo o século 20, até os dias de hoje. Nesse campo fértil dispensacionalista, desenvolveu-se também 0 movimento carismatico. Abragando o subjetivismo e o misticis- mo em sua teologia, rejeitando as ancoras e limites criados por Deus, os evangélicos foram, portanto, presa facil dos pensamentos humanistas contemporaneos, Juntamente com 0s fil6sofos, psicd- logos, pedagogos e outros especialistas da tiltima metade do Sécu- lo 20, muitos cristéos também sentiram-se traumatizados com o “negativismo” da Lei Moral de Deus. Num mundo pés-moderno e pluralista, dizia-se, ninguém mais tinha o direito de impor certas diretrizes. Os “parametros de com- portamento” se tornaram relativos. “A sua verdade pode nao ser a minha verdade”. “O que é certo para vocé, niio é necessariamente certo para mim”. “A vida é minha, vocé nao tem 0 direito de man- dar em mim”. Muitos ficaram achando que o nosso Pai celestial devia estar ainda “meio por fora” na época em que registrou a Sua Lei. Talvez Ele ainda estivesse aprendendo a lidar da maneira certa com seus filhos. Foi firmando-se 0 conceito de que Jesus, por outro lado, j4 sabia explicar bem melhor o que Deus tinha em men- te. Nao tinhamos muito mesmo que recorrer ao Antigo Testamen- to, pois estavamos na dispensacao da graga e do amor. Conforme anunciava uma célebre cangao dos Beatles — tudo que vocé precisa éoamor.. E os evangélicos, desprezando as bases dos limites divi- nos ea visdo global da justiga de Deus, passaram a ecoar somente essa mensagem. Essa passou a ser a t6nica do ensinamento nos anos 60 e€ 70. “Ficou-se sabendo que amor e s6 amor, era a formula infalivel para 14 A Lei de Deus Hoje que uma crianga crescesse feliz e emocionalmente estdvel.” Pare- cia encaixar direitinho com os ensinamentos de Jesus. E 14 fomos nés, reescrevendo 0 “espfrito” da lei moral de Deus e tirando os “negativos”. Falamos de “direitos humanos” e “respeito” mas pas- samos mais tempo ensinando como assegur4-los para si mesmo do que como ser instrumento deles. Os outros é que tinham as obriga- gGes, nds é que tinhamos os direitos. Os crentes ficaram tao empolgados com os conceitos dos espe- cialistas do mundo que também pararam de dizer “niio” aos filhos com medo de serem denominados “caretas”, “intolerantes”, “repressores”, “ditatoriais”... A tinica coisa que era proibido era “proibir’. Era proibido dizer nao. A tarefa dos pais era apenas a de orientar, esclarecer e AMAR. O resultado seria garantido. Logo comegamos a desconfiar que era “quase garantido”. Depois vimos que havia-se perdido a base tanto do comportamento e da ética pessoal, como dos limites impostos por Deus a sociedade. Os crentes, agora, sio envergonhados quando descrentes che- gam a conclusGes que eles j4 deviam saber h4 muito e deviam estar proclamando em alto e bom som: Nao, néo e néio!!! Mas, junta- mente com a vergonha, devem ter a percepgao de que os descren- tes tateiam, no escuro, pressionados pelas repetidas falhas de suas filosofias. Nao possuem a base para suas conclusées. Por exemplo, um outro artigo, de uma revista internacional de grande importén- cia, intitulado “Distinguindo o Certo do Errado”, comentando a onda de assassinatos infantis e juvenis nas escolas norte america- nas, diz que “os administradores das institui¢des e os pais, em to- dos os lugares, esto discutindo como fazer com que uma crianga saiba, em sua mente e sinta em seu corag&o que a mentira, o roubo, acola, o ferir alguém e — especialmente — 0 assassinato, sio agdes moralmente erradas”.* Mas o que é realmente errado? Como os 4 Revista Newsweek. Artigo: “Learning Right from Wrong”, por Sharon Begley and Claudia Kalb, edig&o de 13 de marco de 2000, pp. 30-33. Limites: Por Que Té-los? 15 descrentes vo poder definir 0 moraimente errado? E aquilo que é aceitdvel socialmente? E aquilo que me faz feliz? O artigo fala de consciéncia, culpa, vergonha, desenvolvimento moral, raciocinio moral, mas todos esses temas s6 fazem sentido quando relaciona- dos com a Lei Moral de Deus. Néo, néio e nao!!! Nao significa desprezo ao amor, mas a com- preensio correta de que o amor significa a aplicagao desses limites € 0 respeito por Deus e pelo préximo. Depois da sua ultima ceia, Jesus teve uma conversa muito especial com seus discipulos, regis- trada em grandes detalhes no evangelho de Joao, 0 “apéstolo do amor”. O relato de Joao (capitulos 13-17), se encerra com a ora- ¢&o sacerdotal de Jesus na qual ele orou nao apenas pelos discfpu- los que estavam presentes, mas também por aqueles que viriam a crer nele — entre os quais se encontram, esperamos, aqueles que agora pegam este livro para ler. Como vamos ver, a compreensio dos limites significa a maior demonstragio possivel de amor. Se amamos, cumprimos mandamentos. No Evangelho de Joao, 17.17-26, lemos, “Santifica-os na ver- dade; a tua palavra é a verdade... a fim de que todos seja um...: a fim de que sejam aperfeigoados na unidade...; a fim de que o amor com que me amaste esteja neles e eu neles esteja... para que 0 mundo creia que tu me enviaste...” O nosso Senhor Jesus pede por aperfeigoamento na unido e a presenga visfvel do amor. Unido amor. Esse € 0 sonho de todos os seres humanos. Esse sonho é preenchido somente pela mao poderosa de Deus, quando ele nos resgata da lama do pecado e nos dé uma nova vida e nova visio através de Cristo Jesus. Os limites das Escrituras devem ser conhecidos e proclamados pelos crentes. Nao podemos mais ignorar a Lei Moral de Deus, sob pena de enterrarmos nossa vida e de fragmentarmos mais a nossa sociedade. Ser sal da terra e luz do mundo envolve nao so- 16 A Lei de Deus Hoje mente o viver corretamente, mas a conviccio extrafda da biblia de que a Lei Moral de Deus é para nés, para a nossa era, para HOJE. E nesse sentido que escrevemos esse livro e oramos para que Deus ilumine 0 entendimento dos leitores, pela Sua Palavra, fazendo-os prezar, em agées de gragas, a preciosidade da Lei Mo- tal de Deus. A Lei de Deus Vax Os trés aspectos . 'S,Honnanksao distintos da lei “Entdo, falou Deus todas estas palavras..”. Bxodo 20.1 Os Mandamentos na Antiga e na Nova Alianca. A pergunta dos fariseus. Sl 119.73 — “As tuas mGos me fizeram e me afeigoaram; ensina-me para que aprenda os teus mandamentos”. A Lei de Deus é um dos temas mais presentes nas Escrituras e, possivelmente, um dos mais mal compreendidos pelo Povo de Deus. Mesmo com 0 extenso tratamento que Paulo dé ao assunto, nos primeiros 8 capitulos da carta aos Romanos, muitos crentes com- preendem a Lei apenas como uma expressao da atuagao de Deus no Antigo Testamento, com pouco significado para os nossos dias. Nio se disputa que a Lei de Deus contrasta com 0 pecado, mas existe uma atitude quase de desprezo, quanto a sua aplicagao con- temporanea. Precisamos dar a devida importancia a esse tema tio precioso. O salmista Davi 0 0 considerou tao importante que 0 colocou como pedra fundamental de todo o Salmo 119. Nesse sal- mo a Lei de Deus é mencionada sob varios sinénimos em pratica- mente todos os seus versiculos. Necessitamos encontrar 0 papel da Lei na nossa vida didria e descobrir nela a misericérdia e graca de Deus para cada um de nos. Ela aponta a trilha correta a ser segui- da, em nossa vida, e representa a expressao concreta do nosso amor para com ele. Somos todos pecadores. Mas pecadores redimidos pelo sangue do nosso Senhor Jesus Cristo devem reconhecer que a Lei de Deus 18 A Lei de Deus Hoje enfatiza tanto a sua santidade como a nossa insuficiéncia perante ele. Além disso, temos na Lei 0 caminho tragado por Deus para demonstrarmos amor a ele e ao nosso préximo. Nao podemos con- seguir a salvagao seguindo leis, mas no devemos desprezar essa dadiva graciosa de Deus para nossa instrugio. Ou seja, é verdade que no podemos conseguir a salvagao seguindo a Lei. E igual- mente verdade, entretanto, que demonstramos amor quando obe- decemos os mandamentos de Deus (Jo 14.15, 21). Uma das dificuldades no nosso entendimento desse assunto, é que a expressio “Lei de Deus” é bastante abrangente e pode ter varios significados e aspectos bfblicos. O nosso propésito, neste livro, é estudar especificamente aquilo que conhecemos como a Lei Moral de Deus. Mais precisamente, queremos examinar 0 re- sumo dessa Lei Moral apresentado pelo préprio Deus nos Dez Mandamentos e também por Jesus Cristo, na sua resposta aos Fariseus (Mt 22.34-40). Iniciaremos com um exame de como a Palavra de Deus nos apresenta os diversos aspectos da lei. Em seguida pesquisaremos 0 propésito e as limitagdes da Lei de Deus, nas nossas vidas. Depois, vamos estudar os Dez Mandamentos, mandamento por mandamen- to, verificando exemplos biblicos de obediéncia e desobediéncia a cada um deles. Finalmente, partindo da aplicagao das diretrizes da Palavra de Deus, queremos explorar a postura ética dos cristaos em varios assuntos contemporaneos que representam a diferenga entre um testemunho da fé crist& coerente e dinémico e uma postu- ra apatica e contraditéria. Os trés aspectos da Lei de Deus. Voltemos, portanto, 4 pergunta — o que é a Lei de Deus? Deus proferiu e revelou diversas determinagdes e deveres para o ho- mem, em diferente épocas na hist6ria da humanidade. Sua vontade Os Trés Aspectos Distintos da Lei 19 para o homem, constitui a sua Lei e ela representa o que é de me- lhor para os seus. Quando estudamos a Lei de Deus, mais detalha- damente, devemos, entretanto, discernir os diversos aspectos, apre- sentados na Biblia, desta lei. Como devemos classific4-la e entendé- la? Muitos mal-entendidos e doutrinas erradas podem ser evitadas, se compreendermos que a Palavra de Deus apresenta os seguintes aspectos da lei: 1. A Lei Civil ou Judicial — Representa a legislagao dada 4 sociedade ou ao estado de Israel, por ex.: os crimes contra a pro- priedade e suas respectivas punicées. 2. A Lei Religiosa ou Cerimonial — Esta representa a legisla- Go levitica do Velho Testamento, por ex.: os sacriffcios e todo aquele simbolismo cerimonial. 3. A Lei Moral—Representa a vontade de Deus para com 0 homem, no que diz respeito ao seu comportamento e seus deveres principais. Mas como devemos entender a validade desses aspectos da lei? Sao todos vdlidos aos nossos dias? Quanto 4 aplica¢4o da Lei, devemos exercitar a seguinte compreensio: 1. A Lei Civil: Tinha a finalidade de regular a sociedade civil do estado teocratico de Israel. Era temporal e necessdria para a época a qual foi concedida, mas foi especffica para aquele estado teocratico. Como tal, nao é aplicével normativamente em nossa sociedade. Um exemplo de erro de compreens&o é encontrado nos Sabatistas (Adventistas do Sétimo Dia). Eles erram em querer apli- car parte dela, ao nosso dia-a-dia, mas terminam em incoeréncia, pois nunca vao conseguir aplicd-la, nem fazé-la requerida, em sua totalidade. 2. A Lei Religiosa: Tinha a finalidade de impressionar aos ho- mens a santidade de Deus e concentrar suas atengdes no Messias 20 A Lei de Deus Hoje prometido, Cristo, fora do qual nao ha esperanga. Como tal, foi cumprida com Sua vinda e nao se aplica aos nossos dias. Mais uma vez, como exemplo de falta de compreensiio desse aspecto da lei, temos os Adventistas, que erram em querer aplicar parte dela nos dias de hoje (como por exemplo as determinag6es dietéticas) e em misturé-la com a Lei Civil. 3. A Lei Moral: Tem a finalidade de deixar bem claro ao ho- mem os seus deveres, revelando suas caréncias e auxiliando-o a discernir o bem do mal. Como tal, é aplicdvel em todas as épocas e ocasides e assim foi apresentada por Jesus, que nunca a aboliu. Neste caso, os Adventistas acertam em considerd-la valida, po- rem erram em confundi-la e em mistura-la com as duas outras, prescrevendo uma aplicagao confusa e desconexa. O gr4fico a seguir apresenta este entendimento da Lei e pode nos auxiliar na visualizagao da aplicabilidade das Leis de Deus, ao periodo atual em que vivemos: TEL re 5 i Lei Moral —> | Lei Civil on Religiosa ou} (Resumida Intensidade Judicial nos Dez ff |i da Validade 1 Validad® Cerimonial | fandamentos) {| f HISTORICA = Como entender o eréfico? Note que os Dez Mandamentos, ou a Lei Moral de Deus, possui validade total, isto é: tanto histérica — esté entrelagada na histéria da revelagdo de Deus e da redengao Os Trés Aspectos Distintos da Lei 21 do seu Povo; como diddtica — ela nos ensina 0 respeito ao nosso Criador e aos nossos semelhantes; como reveladora — ela nos revela o carter e a santidade de Deus, bem como a pecaminosidade das pessoas; como normativa — ela especifica com bastante clare- za 0 procedimento requerido por Deus a cada uma das pessoas que habitam a sua criagao, em todos os tempos. Por outro lado, a Lei Religiosa ou Cerimonial, no c6Omputo geral, possui validade parcial, isto é: A validade histérica é total — estd igualmente entrelacada na histéria da revelagao de Deus e da redengio do seu Povo; a validade didatica também é total — cada detalhe dela demonstra a insuficiéncia dos sacrificios repetitivos e a intensidade dos pecados individuais que nos separam de Deus; sua validade reveladora € também intensa (bastante), mas menor do que as duas precedentes — ela era mais reveladora para os santos do antigo testamento, apontando para o Messias, do que para nds, que contamos com a completa descrigdo histérica da vin- da do Messias prometido, Jesus Cristo; Sua validade normativa, entretanto, nado existe aos nossos dias — a Lei Cerimonial, tendo sido cumprida em Cristo, nao tem validade normativa para aqueles que existem em nossa era, apés a vinda do Messias prometido. Os Dez Mandamentos. Na dadiva das “Tabuas da Lei”, ou seja nos Dez Mandamentos (Ex. 20:1-13), Deus resumiu a sua Lei Moral apresentando-a for- malmente, e registrando-a, sucinta e objetivamente, para o benefi- cio do seu povo. E necessério atentarmos para 0 contexto histérico da ocasiao. Foi a primeira vez que Deus falou coletivamente ao Seu Povo. Existiram intmeras preparagGes necessarias para ouvi-lo. Essas es- tao todas relatadas em detalhes a partir do infcio do capftulo 19 do livro de Exodo. Quando nés lemos os dois capitulos (19 e 20) cuidadosamente, procurando nos colocar na situagdo atravessada 22 A Lei de Deus Hoje pelo Povo de Deus naquela ocasiao, verificamos como o texto trans- mite o temor do povo perante a santidade de Deus. Isso é impres- sionante! Apés ouvir ao Senhor e a Moisés, inicialmente, 0 povo suplicou a Moisés que intermediasse este contato com Deus, tama- nho era o temor (20.19), perante a majestade do Deus soberano. O incidente da dédiva da Lei, e os acontecimentos que se segui- ram, evidenciam a fragilidade do Povo de Deus e do Homem, em geral. Apés tal demonstragio de poder e santidade, logo se esque- ceram de suas obrigagées e, evidenciando ingratidao, cafram em idolatria, adorando o bezerro de ouro (Ex 32). Isto mostra o des- prezo do ser humano, caido, pela Lei. Os Dez Mandamentos estabelecem obrigagGes e limites para 0 Homem. O seu estudo aprofundado mostra a sabedoria infinita de Deus, bem assim como a harmonia reinante em Sua Palavra. Reve- la também nossa insignificancia perante Ele, nossa dependéncia e necessidade de redengio, em virtude do nosso pecado. O Homem pecou em Adio e desde entio é incapaz de cumprir a Lei de Deus. Os Dez Mandamentos, reforgam nossas obrigagdes para com 0 nosso Criador, e para com os nossos semelhantes, em todos os sentidos. Os Dez Mandamentos e o Amor — A Pergunta dos Fariseus. Um incidente bfblico reafirma a validade da Lei Moral de Deus em todos os tempos, tanto na antiga como na nova alianga, e refor- ¢a o relacionamento da lei com o amor. Referimo-nos ao trecho encontrado em Mt 22.34-40. Os Fariseus nao estavam inquirindo em sinceridade, mas queriam, como sempre, confundir a Jesus. Perguntaram a ele qual o maior dos mandamentos. Eles se entrega- vam a esse tipo de discussao continuamente e geravam grande con- trovérsia, com a defesa de um ou de outro mandamento. Nesse sentido, pensavam que qualquer que fosse a resposta de Jesus, iri- Os Trés Aspectos Distintos da Lei 23 am indisp6-lo, com um grupo ou com outro. Jesus, entretanto, nao cita nenhum mandamento especiffico do decdlogo, mas faz referén- cia, conjuntamente, a dois trechos conhecidos das Escrituras (Dt 6.5 e Lv 19.18), fornecendo um resumo dos dez mandamentos. Os dez mandamentos podem ser divididos da seguinte forma: V. 37 - Amards o Senhor teu Deus de todo o teu coragdo, Mandamentos 124 | “ Go toda a tua alma, e de todo o teu entendimento. lV. 39 - Amaras 0 teu préximo| Mandamentos § a 10 como a ti mesmo. Jesus apresenta exatamente esse entendimento da Lei, em Mt 22.37-40: Nossas obrigagdes para Mandamantos 1 a4 com o nosso criador Deus Nossas obrigagdes para Mandamentos 510 | com o nossos semelhantes Jesus Cristo, portanto, nao descarta a lei. Ele foi o exemplo de cumprimento dela e aqui ele a resume, utilizando declaragdes do préprio Antigo Testamento. O seu ensino expande 0 entendimento anterior que se possuja da lei. Deus estd interessado nao apenas no cumprimento externo da lei — naquele evidenciado aos circuns- tantes, mas naquele cumprimento que procede de uma profunda convicgao interna: do amor tanto por Deus como pelo préximo. Esse é o cumprimento que surge de uma vida transformada, tocada e operada pelo Espirito Santo de Deus. Temos nos acostumado a considerar “amor” algo intangfvel, indescritivel, totalmente subjetivo, abstrato. Mas 0 conceito bibli- co do amor é bem diferente. Ele é tangfvel — somos recebedores e experimentamos o amor de Deus e temos a capacidade de amar a 24 A Lei de Deus Hoje Deus e aos nossos semelhantes; ele é descritivel (1 Co 13); ele é totalmente objetivo, mas, sobretudo, o verdadeiro amor se demons- traem ag6es concretas que agradam a Deus, pelo cumprimento de suas diretrizes (Jo 14.15 — “se me amais, guardareis os meus man- damentos”’). Assim o amor se relaciona com a lei. A forma de de- monstrarmos amor a Deus é pelo cumprimento de seus manda- mentos, principalmente dos primeiros quatro, que representam nossas obrigagées diretas para com ele. A forma de demonstrar- mos amor para com o nosso préximo € demonstramos respeito através do preenchimento de nossas obrigagGes para com os nos- sos semelhantes — ou seja, pelo cumprimento dos tltimos seis mandamentos. A Lei de Deus Hoje. Qual a nossa compreensio da lei de Deus? Estamos negligenci- ando o seu estudo? Estamos desprezando a sua validade, como um instrumento de direcionamento as nossas agdes? Seré que temos sentimentos de auto-justiga e estamos insens{fveis quanto 4 nossa pecaminosidade e quebra dos preceitos divinos? Vivemos numa era que despreza absolutos. Hoje em dia a filo- sofia “da hora” é dizer que nao existe uma verdade, mas miiltiplas “verdades”, algumas dessas contraditérias entre si. Podemos ver como esse pensamento é contrario ao Deus vivo e verdadeiro e a sua revelagio? Podemos ver que, na sua lei moral, ele indicou ver- dades absolutas que estabelecem a linha de demarcacao entre 0 certo e o errado? Podemos entender, quando Jesus Cristo se apre- senta como “o caminho, a verdade e a vida”, que o pluralismo de opinides, nas doutrinas cardeais da fé crista, € uma idéia nociva a igreja de Deus? Nosso grande desafio, em nossa era, é a apresentagao de uma filosofia de vida que é absoluta e exclusivista em sua esséncia. A fé crista verdadeira tem todas as suas premissas basicas estabelecidas Os Trés Aspectos Distintos da Lei 2s na objetiva palavra de Deus, escrita para 0 nosso conhecimento real e verdadeiro e para o direcionamento dos nossos passos. Lembremo-nos das afirmacées biblicas sobre Deus e nosso media- dor, Jesus Cristo: “Ouve, 6 Israel, o Senhor vosso Deus, € 0 tinico Deus...” ¢ “... ninguém vem ao pai, senao por mim...” O ensinamento do Catecismo Maior de Westminster (pergun- tas 91 a 98): Pergunta 91. Qual é o dever que Deus requer do homem? Resposta: O dever que Deus requer do homem é obediéncia 4 sua vontade revelada. Ref.: Dt 29.29; Mq 6.8; 1Sm 15.22 Pergunta 92. Que revelou Deus primeiramente ao homem como regra da sua obediéncia? Resposta: A regra de obediéncia revelada a Adio no estado de ino- céncia, ¢ a todo o género humano nele, além do mandamento especial de nao comer do fruto da arvore da ciéncia do bem e do mal, foi a lei moral. Ref.: Gn 1.27; Rm 10.5 e 2.14,15; Gn 2.17 Pergunta 93. Que é a lei moral? Resposta: A lei moral é a declaragao da vontade de Deus, feita ao género humano, dirigindo e obrigando todas as pessoas 4 conformida- de e obediéncia perfeita e perpétua a ela— nos apetites e disposigdes do homem inteiro, alma e corpo, ¢ no cumprimento de todos aqueles deve- res de santidade e retidaio que se devem a Deus e ao homem, prometen- do vida pela obediéncia e ameagando com a morte a violagio dela, Ref.: Dt 5.1, 31, 33; Le 10.26-28; Gl 3.10; 1Ts 5.23; Le 1.75;At 24.16; Rm 10.5 Pergunta 94, Ba lei moral de alguma utilidade ao homem depois da queda? Resposta: Embora nenhum homem, depois da queda, possa alcan- gar a retidao e a vida pela lei moral, todavia ela é de grande utilidade a todos os homens, tendo uma utilidade especial aos nao regenerados e outra aos regenerados, Ref.: Rm 8.3; Gl 2.16; 1Tm 1.8 26 A Lei de Deus Hoje Pergunta 95. De que utilidade é a lei moral a todos os homens? Resposta: A lei moral é de utilidade a todos os homens, para os instruir sobre a natureza e vontade de Deus e sobre os seus deveres para com ele, obrigando-os a andar conforme a essa vontade; para os con- vencer de que sao incapazes de a guardar e do estado poluto e pecami- noso da sua natureza, coragdes e vidas; para os humilhar, fazendo-os sentir 0 seu pecado e miséria, e assim ajudando-os a ver melhor como precisam de Cristo e da perfeigio da sua obediéncia, Ref.: Lv 20.7,8; Rm 7.12; Tg 2.10, 11; Mq 6.8; SI 19.11,12; Rm 3.9, 20, 23 e 7.7, 9, 13; Gl 3.21,22; Rm 10.4. Pergunta 96. De que utilidade especial é a lei moral aos homens ndio regenerados? Resposta: A lei moral é de utilidade aos homens nao regenerados para despertar as suas consciéncias a fim de fugirem da ira vindoura € forgd-los a recorrer a Cristo; ou para deix4-los inescusdveis e sob a maldig&o do pecado, se continuarem nesse estado e caminho. Ref.: 1Tm 1.9,10; G1 3.10, 24; Rm 1.20, 2.15. Pergunta 97. De que utilidade especial é a lei moral aos regene- rados? Resposta: Embora os que sao regenerados e crentes em Cristo se- jam libertados da lei moral, como pacto de obras, de modo que nem sio justificados, nem condenados por ela; contudo, além da utilidade geral desta lei comum a eles e a todos os homens é ela de utilidade especial para lhes mostrar quanto devem a Cristo por cumpri-la e sofrer a mal- digo dela, em lugar e para bem deles, e assim provoc4-los a uma gra- tid&o maior e a manifestar esta gratidio por maior cuidado da sua parte em conformarem-se a esta lei, como regra de sua obediéncia. Ref.: Rm 6.14 e 7.4, 6; Gl 4.4,5; Rm 3.20 e 8.1, 34 e 7.24,25; Gl 3.13,14; Rm 8.3,4; 2Co 5.21; Cl 1.12-14; Rm 7.22 e 12.2; Tt 2.11-14. Pergunta 98. Onde se acha a lei moral resumidamente compreen- dida? R. A lei moral acha-se resumidamente compreendida nos dez man- damentos, que foram dados pela voz de Deus no monte Sinai e por ele escritos em duas tabuas de pedra, e esto registrados no capitulo vigési- mo do Exodo. Os quatro primeiros mandamentos contém os nossos deveres para com Deus ¢ os outros seis os nossos deveres para com 0 homem. Ref.: Dt 10.4; Mt 22.37-40. A Lei de Deus VAX Os Dez Manda- S.Honnapds x0 Turnektue mentos e a Graga eu Git Marans, ‘7.Nko de Deus “Entao, falou Deus todas estas palavras...” Ex 20.1 SANTIFICAR, Porque Deus deu os Dez Mandamentos? A conversdo e 0 ensinamento de Paulo. SI 119.4 — “Tu ordenaste os teus mandamentos, para que os cumpramos @ risca”. Os Dez Mandamentos representam a forma objetiva de Deus indicar o que espera de cada um de nés. Deus nao nos deu uma religiao subjetiva, cujas doutrinas dependem da cabega de cada um, mas ele nos escreveu objetivamente a sua palavra. Nessa pa- lavra, na Biblia, ele nos revelou a sua Lei Moral — sua vontade eterna as suas criaturas, refletindo a sua majestade e santidade. Nos Dez Mandamentos conhecemos nossos limites e nossas obrigagdes. Comparando nossa vida, nossos desejos e inclinagdes com a Lei Santa de Deus, compreendemos a extensiio de nossa pecaminosidade e verificamos que a salvacio procede sé de Jesus, pelo seu sacriffcio supremo na cruz do Calvario. J& vimos como Jesus resumiu os Dez Mandamentos em amar a Deus e ao préximo. Muitos tém procurado dissociar essa afirma- ¢o de Jesus do carater objetivo dos Dez Mandamentos. Afinal, dizem esses, Jesus est4 falando simplesmente de amor, um senti- mento subjetivo, e naio do simples cumprimento objetivo da lei. Um autor inglés, Joseph Fletcher, desenvolveu toda uma visio éti- ca construfda em cima do que poderiamos chamar de “casuismo cristéo” (tomou o nome de ética situacionista). Fletcher defendeu 28 A Lei de Deus Hoje que nao existem regras absolutas mas 0 comportamento certo ou errado depende da situag&o. Em sua filosofia, 0 tinico ponto de aferigao a ser seguido é — “aja de forma a demonstrar 0 m4ximo de amor possivel”. Essas palavras, que parecem boas e cristas, sao extremamente perigosas, pois cada um passa a ser juiz de suas préprias agGes e sempre poderé racionalizar comportamentos pe- caminosos apelando para uma ou outra suposta forma de amor demonstrado, nem que seja o amor por si préprio. Contrariando essa filosofia, 0 conceito bfblico de amor se ex- pressa em obediéncia e abnegagao. Essa obediéncia nao é a uma lei intangfvel, indescritivel, ou subjetiva, dependente da interpretagdo individual de cada um, mas & lei objetiva de Deus. E 0 proprio Jesus que esclarece e determina, em Joao 14.21: “Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é 0 que me ama...” Neste capitulo, vamos estudar 0 que aconteceu com Paulo e qual o seu ensinamento, conforme os relatos do livro de Atos (8.1- 3 e 9,1-22) e pelos seus pronunciamentos, no livro de Romanos (capitulos 3 e 7). A visdo de Paulo, antes da sua conversao. Do seu préprio ponto de vista, Paulo, antes de sua conversio (na ocasiao ainda chamado Saulo), acreditava que estava zelando pela lei de Deus, perseguindo os cristdos. Sua visdo da lei era uma visio distorcida, fruto de uma religiio equivocada. Sem ter sido ainda tocado pelo Espirito Santo de Deus ele estava cego, espiritu- almente. Atos 7.54-8.1 relata esse tempo conturbado da vida daquele que viria ser 0 apéstolo dos gentios e o grande expositor biblico. Sua visio anti-crista 0 levou a cometer muitos crimes. Ele partici- pou do apedrejamento de Estevao e foi um ativo perseguidor de muitos cristos, como lemos em Atos 8.3 e 9.1-2. Os Dez Mandamentos e a Graga de Deus 29 A compreensio da lei de Deus de todos aqueles que esto sob o dominio de Satands, envolvidos com falsas praticas religiosas, € uma visio distorcida. Ela serve de desculpas para as praticas mais absurdas, amorais e cruéis. O préprio Paulo escreveu, sobre as pessoas sem Deus, em Romanos 1.22 “...inculcando-se por sdbios, tornaram-se loucos”. Ele tinha convicgio disso na sua propria pele, havia experimentado quiao Satands é enganador e usurpador da légica espiritual. Convicto de exercitar zelo, havia perseguido inocentes, mulheres, criangas — aqueles devotados 4 adoragiio verdadeira, ao culto ao Deus soberano. Somente a gra- ¢a, 0 amor e a misericérdia de Deus poderia cobrir essa multidao de pecados e apagar a amargura profunda dessa lembranga. E assim ocorreu (Fl 3.13). A falta de visto de Paulo, durante a sua conversao. Deus arrancou Paulo do pecado através da experiéncia relatada no livro de Atos (9.3-19), a qual bem conhecemos. Durante trés dias ele, que havia sido cego, espiritualmente, foi acometido de cegueira fisica — talvez simbolizando o seu estado espiritual. Nes- se periado ele teve bastante oportunidade para meditar. Foi, poste- riormente, orientado por Ananias. Mas Deus transformou Saulo em Paulo. De um perseguidor, ele tornou-se 0 grande apéstolo, propagador e defensor do Evange- Iho, Podemos imaginar a confusaéo em sua cabega: todas as suas convicgées estavam sendo subvertidas. Todas as suas premissas estavam sendo demonstradas falsas. Todos os seus objetivos de vida estavam sendo modificados. O texto biblico nos diz que o Senhor enviou Ananias para que Paulo recuperasse a vista e ficasse cheio do Espirito Santo (9.17). Era o Espirito Santo, agora, que, além de recuperar a visdo de Paulo, iria coordenar todo 0 conhecimento que ele havia absorvido 30 A Lei de Deus Hoje ao longo das prioridades verdadeiras da vida. Era o Espirito Santo que 0 iria instruir, possivelmente utilizando os “dias com os disci- pulos” (9.19), nos detalhes da fé verdadeira que agora abracava. Era 0 Espirito Santo que o iria inspirar a escrever suas cartas, nas quais somos instrufdos sobre a compreensao correta da lei de Deus. A nova visio de Paulo, depois de sua conversdo. Se estuddssemos apenas 0 registro histérico da conversio de Paulo, nio chegarfamos a compreender a importancia da Lei de Deus, nesse processo e durante toda a sua vida. Entretanto, quan- do Jemos 0 que Paulo escreveu posteriormente, passamos a com- preender muito sobre qual era a visio paulina a respeito da Lei, visdo essa que enfatiza a validade da lei moral de Deus a todas as eras. Por exemplo, em Romanos 3.20, lemos “... ninguém serd justi- ficado diante dele por obras da lei, em razdo de que pela lei vem 0 pleno conhecimento do pecado”. A primeira validade da lei € for- necer 0 “pleno conhecimento do pecado”’, condig&o necessdria ao arrependimento verdadeiro. Em Romanos 7.7, Paulo reforga a va- lidade da Lei para nos levar 4 uma conscientizago plena do peca- do e de nossa dependéncia da misericérdia do Deus Criador: “que diremos, pois? A lei € pecado? De modo nenhum. Mas eu nio teria conhecido 0 pecado, senio por intermédio da lei; pois niio teria eu conhecido a cobiga, se a lei no dissera: Nao cobigards”. Além da validade revelativa, sobre a nossa natureza pecamino- sae sobre a santidade de Deus, Paulo ensina que a lei nao é anula- da pela fé. A lei moral de Deus providenciava 0 rumo 4a vida de Paulo, e assim deve ser para nds. Em Romanos 3.31 ele antecipa as indagagées de seus leitores e faz a pergunta retérica: “Anulamos, pois, a lei pela fé?”; respondendo a seguir com uma negativa enfa- tica: “Nao, de maneira nenhuma, antes confirmamos a lei”. Os pre- Os Dez Mandamentos e a Graga de Deus 31 ceitos eternos de Deus, a sua lei moral, reflexo de sua santidade e infinita retidao, continua sendo a nossa biissola, a forma objetivae explicita de relacionar os nossos deveres para com Deus e para com 0 nosso préximo. Nao é de admirar que Paulo chegue a uma conclusio que difere bastante da falta de apreciacio da lei de Deus que encontramos na teologia de tantos movimentos contemporaneos. Em Romanos 7.12 ele fecha 0 que vem expondo e desenvolvendo desde o capitulo 3; “Por conseguinte; a lei é santa; e o mandamento, santo e justo ¢ bom”. Nao € descartando a validade da lei moral que vamos nos apro- ximar mais de Deus. Nao é substituindo a objetividade da lei por um subjetivismo nocivo e aleatério, supostamente fundamentado em um grau maior de espiritualidade, que vamos agradar a Deus. Estaremos compreendendo a visdo que Paulo, inspirado pelo Espi- rito Santo, quer transmitir, quando comegarmos a enxergar os pro- blemas em nés préprios e nao na santa lei de Deus. Assim podere- mos exclamar, como ele, em Romanos 7.14: “Porque bem sabe- mos que a lei é espiritual; eu, todavia, sou carnal, vendido a escra- vidio do pecado...” A Lei de Deus Hoje — Afinal, estamos sob a lei, ou sob a graca de Deus? Muitas interpretagdes erradas podem surgir de um falho enten- dimento das declaragdes biblicas sobre esta questéio. Com efeito, Paulo ensina que “néo estamos sob a Jei mas sob a graga” (Roma- nos 6:14). Mas o que quer dizer “nao estar sob a lei de Deus?” Perdeu ela a sua validade? E apenas um registro hist6rico? Estamos em uma situacio de total desobrigaco para com ela? Vamos ape- nas subjetivamente, “amar”, sem direcionamento ou agGes concre- tas que comprovem este amor? 32 A Lei de Deus Hoje Devemos relembrar os miltiplos aspectos da “lei de Deus”, con- forme jé estudamos no capitulo anterior: Lei Civil ou Judicial, Lei Religiosa ou Cerimonial e Lei Moral. Se considerarmos que os trés aspectos apresentados da lei de Deus sio distingdes biblicas, podemos afirmar: * No estamos sob a Lei Civil de Israel, mas sob o periodo da Graga de Deus, em que 0 evangelho atinge todos os povos, ragas tribos e nagées. + Nao estamos sob a Lei Religiosa de Israel, que apontava para o Messias, foi cumprida em Cristo, e ndo nos prende sob ne- nhuma de suas ordenangas cerimoniais, uma vez que estamos sob a gtaga do evangelho de Cristo, com acesso direto ao trono, pelo seu Santo Espirito, sem a intermediagao dos sacerdotes. * Nao estamos sob a condenacao da Lei Moral de Deus, se fomos resgatados pelo seu sangue, e nos acharmos cobertos por sua graga. * Nao estamos, portanto, sob a lei, mas sob a graga de Deus, nestes sentidos. Entretanto... + Estamos sob a Lei Moral de Deus, no sentido de que ela continua representando a soma de nossos deveres e obrigagGes para com Deus e para com o nosso semelhante. « Estamos sob a Lei Moral de Deus, no sentido de que ela, resumida nos Dez Mandamentos, representa a trilha tragada por Deus no processo de santificagao, efetivado pelo Espirito Santo em nossas pessoas (Joao 14:15). Nos dois tiltimos aspectos, a prépria Lei Moral de Deus é uma expresso de sua Graga, repre- sentando a objetiva e proposicional revelagao de Sua vontade. E verdade, portanto, que, nos sentidos acima, nado estamos sob a lei, mas sob a gracga de Deus, Devemos cuidar, entretanto, para Os Dez Mandamentos e a Graga de Deus 33 nunca entender essa expressao como algo que invalida a lei de Deus aos nossos dias. Mais importante, ainda, devemos cuidar para nao transmitir conceitos falsos e nao biblicos, estabelecendo um con- traste inveridico entre a lei e a graga, como se ambos nao proce- dessem de Deus. Teologicamente, chamamos de antinomianismo, a filosofia que expressa total independéncia das pessoas para com a lei de Deus; que declara a invalidade dela para os nossos dias. Muitos ensinamentos no campo evangélico sAo, na pratica e em esséncia, antin6mios e totalmente subjetivos — ou seja, desprezam a lei de Deus, negam a sua validade e colocam a interpretacao subjetiva de cada um acima das determinagées objetivas reveladas por Deus, na Biblia. Quando os reformadores defenderam a expresso Sola Scriptura — somente as escrituras — estavam reafirmando exata- mente isso, que devemos sempre nos prender a objetiva revelagao de Deus em sua palavra, e nao nas especulagées ou tradigdes dos homens. Quando examinamos a lei de Deus sob esses aspectos, muitas perguntas sao pertinentes e devem ser individualmente respondi- das, Sera que temos a percepgio correta de nossas obrigagGes para com Deus ¢ para com 0 nosso préximo? Sera que prezamos ade- quadamente a lei de Deus? Ser4 que estamos utilizando 0 fato de estarmos “sob a graga” como desculpa para desprezarmos a lei de Deus? Sera que a nossa compreensao é aquela abrigada pelos pa- drdes confessionais, como nas perguntas do Catecismo Maior, que temos estudado? O que diz o Catecismo Maior de Westminster (pergunta 99)? Pergunta 99. Que regras devem ser observadas para a boa com- preensGo dos dez mandamentos? Resposta: Para a boa compreensdo dos dez mandamentos as se- guintes regras devem ser observadas: 34 A Lei de Deus Hoje 1. Que a lei é perfeita e obriga a todos 4 plena conformidade do homem inteiro 4 retid&o dela e a inteira obediéncia para sempre; de modo que requer a sua perfeig&o em todos os deveres e profbe o minimo grau de todo o pecado. Ref.: SI 19.7, Tg 2.10; Mt 5.21,22 2. Que a lei é espiritual, e assim se estende tanto ao entendimento, & vontade, aos afetos ¢ a todas as outras poténcias da alma — como as palavras, as obras e ao procedimento. Ref.: Rm 7.14; Dt 6.5; Mt 22.37- 39 e 12.36,37. 3. Que uma e a mesma coisa, em respeitos diversos, € exigida ou proibida em diversos mandamentos. Ref.: Cl 3.5; 1Tm 6.10; Pv 1.19; Am 8.5. 4. Que onde um dever é prescrito, o pecado contrrio € proibido; e onde um pecado € proibido, o dever contrdrio é prescrito; assim como onde uma Promessa esta anexa, a ameaca contraria esté inclusa; e onde uma ameaga est4 anexa a promessa contréria estd inclusa. Ref.: Is 58.13; Mt 15.4-6; Ef 4.28; Ex 20.12; Pv 30.17; Jr 18.7-8; Ex 20.7. 5. Que o que Deus profbe nao se hd de fazer em tempo algum, e 0 que ele manda é sempre um dever; mas nem todo o dever especial é para se cumprir em todos os tempos. Ref.: Rm 3.8; Dt 4.9; Mt 12.7. 6. Que, sob um pecado ou um dever, todos os da mesma classe sio proibidos ou mandados, juntamente com todas as coisas, meios, ocasi- Ges e aparéncias deles e provocagées a eles. Ref.: Hb 10.24,25; 2Ts 5,22; G1 5.26; Cl 3.21; Jd 23. 7. Que aquilo que nos é proibido ou mandado temos a obrigagao, segundo o lugar que ocupamos, de procurar que seja evitado ou cum- prido por outros segundo o dever das suas posicdes. Ref.: Ex 20.10; Lv 19.17; Gn 18.19; Dt 6.6,7; Js 24.15. 8. Que, quanto ao que é mandado a outros, somos obrigados, segun- do a nossa posicao e vocagio, a ajudé-los, e a cuidar em nao participar com outros do que lhe é proibido. Ref.: 2Co 1.24; 1Tm 5.22; Ef 5.11.

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