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PINTO, R. M. spuese 1V — stelo XVII. Sto Pasi: Ata, 1988, ragao hisérica da Vingua portuguesa. Rio de IRA BUENO, F. da. A fe Janeiro: Academica, 1955. SPINA, S. Histéria da lingua portuguesa III — segunda motade do séeulo XVI e séenlo XVIT, So Paulo: Atica, 1988. ‘TEYSSIER, P. Historia da lingua portuguese. S8o Paulo: Matin 997. VASCONCELOS, ©. M. Lipdes de filologia portuguesa, Lisboa: Revista de Portugal, sd VILELA, M, Estudos de lexicologia do port Soimbra: Almedina, 1994 182 a VARIAGAO LINGO[STICA: DIALETOS, REGISTROS E NORMA LINGO{STICA Marli Quadros Leite E apenas através da enunciagio que a lingua toma contato com a comunicagio, imbui-se de seu poder vital e toma-se una realidade. As con- digaes de comunicagtio verbal, suas formas e seus métodos de diferenciagio sto determsinados ‘pelas condigdes sociais e econdmicas da época. Minwat, Bakierin & YouesTin VoLocHitoy, 1988 CONSIDERAGOES INICIAIS B LucaR-COMUM a afirmagio de que é préprio A lingua mudar, evo- luir, Auroux (1992), por exemplo, diz que a mudanga é um proces: $0 tio natural das linguas vivas que, se nao existir, a lingua morre- 14, Portanto, 0 raciocinio a se fazer para compreender 0 constante movimento da lingua é simples: o uso propicia variagdes ling decorrentes da constante renovagto da vida social, ¢ estas vigoram Joua que saamos 183 por certo tempo, o que gera 0 fendmeno conhecido por mudangas lingitésticas. Tal situagio pode assim ser representada gua vive = mudanga constante, inovagies,dinamismoy lingua morta = conservacio, parlisagio, estatismo Néo faltam, porém, aqueles que se insurgem contra o fato de a lingua varlar, Para estes, ela € entendida como uma entidade monoliti cuja tinica face é aquela desctita nos manuals de gra- mitica tradicional e nos dicionérios. Desse ponto de vista, a lingua idade de realizagao, ¢ as divergéncias a tal Fica, assim, a impressao de que existe apenas uma norma linglisticat possvel, imutivel, aquela pre- vista na gramética. Isso, porém, nfo é verdade, e, 0 que ¢ pior, essa norma da gramética nfo é efetiva e cabalmente realizada por nenhumn falante. O que realmente existe € um mosaico de normas, tum leque de possibilidades de realizagio da lingua, © entre essas posstbilidades hé uma realizagfo, flada ou eseita, que se aproxima mais do que prescreve a gramética normativa. [Em primeiro luger, para a compreensfo do problema da varie- dade, é proviso fazer uma reflexao répida a respeito de dois conce- tos fundamentais: lingua e comunidade lingittica. Uma lingua pode ser entendida? como o meio de comunicagao verbal usado por um corpo social. A expressio “meio de comunicaga0” é bem ampla: sig- nifica o cédigo lingiistico,o sistema e todas as suas unidades (fone mas, morfemas, sintagmas), em suas infinitas possibilidades de combinagio, e também os modos convencionados pelos falantes que dominam esse sistema para sua atualizagao a cada interago (o* lay (1974, PP géneros do discurso, as normas lingtisticas), estando englobadas af todas as variagdes inerentes & realizago dessa lingua, 0 que signifi ca que un gua é um continuo de variedades. Esse conceito de lingua leva a0 de comunidade lingiiftica, que pode ser entendida como “um grupo de homens que se consideram a si mesmos falar a mesma Iingua’, ou seja, que se compreendem mutuamente (Halliday, 1974, p. 100). Esse método, como ressalta o autor, refle- te a “atitude dos falantes em relagio 2 sua Itngua e, com isso, ao mo como a usam", OS USUARIOS E OS DIALETOS; OS USOS E OS REGISTROS Posto isso, passemos a comentar algumas fontes da variagéo lingifs- tica, Tomando como ponto de partida para andlise ofalante, o usué- vio da lingua, podemos dizer, conforme explica Halliday (1974, pp. 111-23), que as variedades linglitsticas séo devidas tanto a fatores inerentes 0 proprio usuério como aos dados devidos @ situagto de comunicagéo em que ele se encontrar. Desse modo, ha varidveis proprias do falante, que so sua origem geogrdfica e sua clase social, gue conforma o que se pode entender por dialeto. Outros dados, no entanto, sio tipicos dos diversos contextos de comunicagzo em que se integea 0 ustidrio a0 longo de seu dia. Esses so, ento, cha- mados registros ou nfveis de fala, e se configuram pelo maior ou ‘menor grau de formalidade ou informalidade nos contatos soc ‘Como esclarece Kenyon (1948, p. 31), 0 termo mivel, na acep- 0 de estilos de linguagem, uma metifora que sugere a idéia de “posigdo mais alta ou mais baixa”, o que pode lever &idéia de “melhor ¢ pior”, e isso ndo € pertinente no ambito da linguagem. Por isso, alguns autores, como Halliday, preferem o termo regis. Mesmo A tiwoua que eanamos 185 Mi assim, neste texio 0 termo nivel de linguagem poderd ser empregs- éo.como ‘onimo de registro, pars designar as categorias incomen- surdveis de nfveis culturais (formals ¢ informais) da linguagem, jé ‘vel de linguagem” uma expresso corrente no ambito da LingOistica brasileira Ressaltamos, contudo, que @idéia de melhor « piot, ov mais alto e mais batxo, que poderia sugerir a expresso nivel, esté descartada. que Os prineipais motivos da variagao linghstica so expicaveis ¢ tam duas origens bisicas: 0 usuério e 0 uso que ele faz da lingua, conforme explica Halliday: Emm determinada dimensfo, a variedade de uma lingua que um indir fdyo usa 6 determinada pele que ee €. Todo falante aprendew, como sus L}, uma particular variedade da lingua de sua comunidede Tin- aistcne essa pode ser diferente erm algum, ou er todos os nivels de cutras variedades da mesma lingua apreendides por outros falantes ‘como sua Ll. Tal variedade, ‘entificada segundo essa dimensio, cchama-se “dialeto” (Halliday, 1974, p. 105). Conforme Preti (1994, pp. 26-30), os fatores ligados 2o falan- te, que determinar/influenciam a fala de um individvo, sto: idade, sexo, raga, profissao,posigao social, grau de escolardade, local em que reside na contunidade. J4 os fatores pertinentes 2 situagao de comu- nicagto sto, principalmente: ambiente, tema, estado encional do falante, pra de intimidade enre os interactantes. De acordo com a terminologia de Halliday (1974, p. 114), 05 registros distinguem-se quanto ao campo do discurso (évea de operagio da atividade lings: tica, o assunte), o modo do discurso (Fala e escrita), 0 estilo do dis- ‘curso (coloquial ou polido). Em todos os géneros do discurso, @ ratureza e a finalidede da interacéo sto decisivos na selegio do registro a ser utilizado. 186 Mats Qua Leite Fica clara, entio, a existéncia de dois eixos basicos de variaco .gua: 0 usuério, com sua configuragéo sociogeografica, que dé rigem a0 que se denomina dialeto, ¢ o uso, com todas as nuangas dle variagdo de situagdo, que dé origem 20 que se denomina registro ‘ou nfveis de linguagem, formal ou informal. Essas duas ordens de variagio da lingua se superpdem sempre quando a lingua é atu vada, isto 6, qualquer falante seré sempre originério de uma regio X, de uma classe social/culturalY, inserido num contexto de forma- Tidade ou informalidade que repercutiré em sua linguagem, se ele quiser estar adequado @ situago de comunicacto. No Brasil no hé uma lingua padrao” em moldes rigidos, come existe, por exemplo, na Inglaterra. Aqui nfio se ensina uma prontin- cia padro e também no hé diferensa de valor quanto a usos rego pals, relativamente 2 gramética e a0 léxico. O gue hd, eo lado de todas as normas praticadas pelos falantes, é um pedrio ideal de lin- quagem, a que todos almejam aleangar, que tem apenas como parle ‘ictro uma norma tradicional, também denorsinada preseritiva ow explicita. Os dialetos e registios sfo avaliados, entto, @ partit do seguinteeritério: se mais distante dessa norma, menor prestigi; se ais préximo, maior prestigic. A NORMA LINGUISTICA: PERSPECTIVAS ‘Quanto & norme lingufstica podemos, em linhas getas, dizer que hi idades te6ricas para explicé-la, entre as quais podem- se escolher, por exemplo, as perspectivas lingiiistica, pragmética e antropolégica? A primeira vern da teoria de Coseriu (1987), que acrescentou a nogio de norma & dicotomia saussuriana lingua/fala, explicando 3. Cf, Lei 98), A uinaua que varanos 187 que essa norma lingitistica é“ m sistema de realizagdes obrigadas, de imposig6es sociais e culturais, varia segundo a comunidade”.* ‘A norma é aquilo que jé se realizou e, teoricamente, sernpre se rea- lizard no grupo social; é a tradigGo 8 qual todos estao subrnetidos obedecem, sem sentit, A qualquer tentativa de rupuura dessa tradi- gio, hd reago. Vejase a representagio desse ponto de vista no esquema abaio: {SISTEMA NORMA FALA Compbo-se de entidades | Tem indole consuliva, Gon- | Realdade conerets que co » estruturedo de a hecemes, porque com cbs les reat, prescritivas. | nos comunicamos, tentee os quals € posse ¢ | reaiagBo coletiva do sso a cxcaha, rma, 0 que se disee tradi ‘onalmente se iz numa comune. Nao € est ce, mas consereadora pot cexclinci {A perspective lingifstica é importante por, de um lado, explo- rat, € tentar explicar, 0s recursos do sistema da lingua e, de outro, or tentar demonstrar, de certo modo, como a Iingua é “uma insti- vuigdo social”. Essa tentativa revela 9 contraparte social da lingua, 8 norma, que determina o sistema; ela ainda precisou ser comple- mentada, ou mais explorada, porque @ referéncia & norma, de modo eral, nao foi suficiente para explicar como a lingue é regulamenta- da pela pritica, pelo uso que dela fazem os falantes,j4 que parale- ma jéhavia sido introduzida na lings mov a reflexio do linguista dinamarques para influencia 18 Lei lamente & pressio da prética natural de lingua, isto é, @ pressdo de falar como todos falam, como se espera que se fale em cada intera- 20, ofalante sofre a pressio de uma norma que se materializa ¢ € explicitada em manuais, chamados “gramaticas notmativas” # Como se sabe, para cada lingua hist6rica, ao lado de todas as suas realiza- es diletais e de registro, hd uma norma que parece estar numa posigo bierérquica superior as outras, por ser 2 unica codificada que € abjeto de ensino e que representa e lingua perfeta’, 0 "bon usage” 0 qual todos os falantes que quiserem "falrfescrever bem’ “deve usor.. Por isso, é importante refletir sobre tal questio, a pat- tir da consideragio da existéncia dessa norma, jé que 6, de alguma aneira, representativa para 0 falante, Voltemos, por enquanto, ® proposicdo de Coseriu, para demonstrar como o sistema é “um conjunto de possibilidades de realizagéea", e a notma, “um conjunto de entidades preseritivas, ¢ isto e no aquilo”. Por meio de exeinplos, do campo da moxfologia, podemos verificar alguns casos de palawras bem formadas pelas regtas do sistema, mas que sfo “julgadas” diferentemente, a partir de seu emprego na situacio de comunicaglo. Vejamos: Emprego de deverbais Embora o sistema possibilite a formagdo de muitos substantivos estruturados a partir de uma base verbal + um suflso nominalizador (-¢30, -mento, -ncia ete.), como, por exemplo, receber, recebimen- to e recepcao, e salvar, selvamento e salvagdo, a norma obriga © 6, Hoje entendemos que toda realizagéo da lingua esté submetida # uma norms & tanto, tudo € normative, A denominagio “gramatica normative’, todavia, mace a urna certa visio de Iiagua, # que julga haver wma norma “mals per feita" que as demais, uc a norma ¢claborada @ partir da descrgfo de textos titios, de diversas fases da histria da lingua, considera [alante a select sat um ou outto para dado contexto, Por exemplo, 6 aceitavel usar: Vou entrogar ema mensugem para voed wa recepeio do hotel; mas nilo é aceitével —— eVou deixar na mensagem para voeé 10 recebimento do hotel. Do mesmo modo, a fase O salads forum salsemento hoje ‘éaceitével, masa frase *0 selvavies for uma sawapio hoje, nee © comando para que o falante escolha uma ou outta forma igual- mente, de norms. Se o falante, inadvertidamente ou Por desconhe- verano da norma, emprege urna forma pela outa recebers de igam modo, uma sanglo pelo emprego inadequado Plural de palavras terminadas em -&0: © plural das palavras terminadas em -B0 oferece, com freqiiéncio, SGioldades para os folantes. Como, dessas formas, 0 plural eis produtiv € 0 /-Bes, por anaogia 0s falantes, especialmente aque- 10" e a realizar Tes menos escolarizados, tendem a ignorar a tradi tordos os plurais na base -2o / -Ges. Por exemnplo* _- cidadao / cidadses, por cidadsos; _— pio / pies, por pas: — alemdo / alemées, por alemaes. 4 sabre ess xs lela-se Camara J (1976p. 85}:“Case,ararentenine mais Se pemas de singular em io, nico ou kono, © sinus new i Mantas, ou antes, uma estrtura de toma em -€€ OWTR, Ue fessor Dino Pret Emprego de qualificativos: Ls indmeras possibilidades, em nivel de sistema, de formagto de ajetivos, pela adjungéo de sufixos a uma base nominal, Por exem- plo: base nominal + -e2; -€ jgmo; -ice; -ura; -i)dade; -itude. Mrecim, sfo bem formados, do ponto de vista do sistem, formas ‘como branquice, branqueze, branquismo, ao lado de outras come braneura, branquidade, branquicento, brancacento. 4 diferenss cre estas « aquelas € que as primeiras nfo tem a chancela da teadigSo, é que, embora ouvidas na boce do povo, no aleangarsm prestgiosuficlente para receber registro nos “Instrumento> dalin- gus" os diciondios e as graméticas. Desse modo, vemos, Por exemplo: « estupldex — forma consolideds na tradigio da lingua, con- siderada culta; « estupideza — forma marginal, sem registro nos diclonérios, considerade popular; mas « malvadez.e malvadeza — ambas dicionarizadas, sem registo sociolinglfstico que estigmatize a segunda."? Cutros exemplos da possiblidade de formacio de novas pala vras podem ser conhecido, que fot tnotivo de polémica na imprensa: o #mexvel. Depois de muitas dis- itados, mas vejamos um, ™m creates entre conservadores (que abominaram a nova eriagto) © 9, Ver Auroux (1998) 10. Cf Rerrira (1986) ph uiwoun us pauamos 19T inovadores (que viram a nova palavea como uma forma possivel da ico Evanildo Bechara" publi Iingua), 0 professor, linguist cou sua opinio sobre a formagao € o uso da palavra, depois de t@- testes: la passado por al lidar Imexivel teré assim passado por dois testes importantes que qualquer palavra do léxico a servigo do texto: a observincia das regras de formagio de palavras ¢ sua adequada expressividade de comuni- cago. Nao ter sido usada ainda [.] € prova salutar de vida, de dina- mismo, da comunidad que fala o portugués e que esté apto a buscar ‘ termo proprio. O argumento de que no consta nos di frios 60 de menor peso, jé que 0 dieionério ndo é a lingua, mas wm aspecto dela, aquele de lingua jé feta, j produzida, 0 seu lado estdtic. Esse € um exemplo de pelavra que, embora de acordo com as possibilidades de formagéo vocabular oferectdas pelo sistema, na Gpoca em que foi usada pelo ento ministro Rogéslo Magri (da equi- pe do governo de Fernando Gollor de Mello), estava em desacordo com as possibilidades da norma tradicional, culta, em vigor. Hoje, como se pode observar em diversas situagdes de comunicagio, inclusive em certas emiss8es da midi falada,"” 0 vocébulo é empre gado na linguagem coloquial, embora conserve o estigma de “seu criador”, Vale ressaltar, contudo, que 0 Vocabulério Ortogrifico da Lingua Portuguesa (VOL), da Academia Brasileira de Letras, edigS0 de 1998, incorporau a palavra, Desse modo sto explicados alguns fen6menos linghisticos rela- tivos & norma, pela perspectiva lingifstica. publicado no jornal D.O. Leiture, em 9 de junho de 1990, p. 8. $80 iptenst Oficial do Estado de So Paula, 12. Radio en. 192. Marl Quates Leite A segunda perspectiva, a pragmética, estrutura-se sobre a con- copeio da Iingua em uso, isto é, de sua pritica, Assim, de acordo com Rey (1972), que parte da reflexto sobre os sentidos dos termos normal normativa, hé a norma do falar objetivo, da lingua efetiva- mente realizada nos diversos grupos sociais, chamada norma objeti- ‘va, segundo a qual entendemos que cada grupo tem sua prépria norma e que, conseguentemente, hé tantas normas quantos grupos sociais houver. Além disso, esse autor reconhece a existéncia de outro tipo de norma, a norma prescritiva, cujo objetivo & 0 de impor um uso extrafdo da lingua literdria de épocas sempre anteriores & dos falantes contempordineos. Essa norma, por estar codificada sera de maior prestigio na comunidade linguistica, 6a tnica que se presta a realizagao dos objetivos politico-pedagdgicos da escola Finalmente, hé a norma subjetiva, que € 0 ideal de lingua a que todos os falantes aspiram, e, nesse caso, a norma ndo é propriamen- te um comportamento, mas uma atitude diante da Iingua.! ‘A diferenga dessa teoria (Rey) em relagao & anterior (Coseriu) reside, por exemplo, no reconhecimento da existéncia de normas lingotsticas (no plural) ¢ no somente da norma (no singular), como Eugénio Coseriu a explicou no texto clissico “Sistema, norma fala”, E bem verdade que o mérito de Coseriu fot introduzir, mais claramente," a nogdo de norma linghisti posicionando-2 como o 13, Emborso autor aime a existéneia de uma suposta “norma subjetva’ {8s openosidealzado e nunca pratcads, entendemes sr tal enominago mp Pri, porque um uso x6 pode ser constderado norma porter sid adotado por urna comunidade lingdistica. Se nunca fo usado, no é norma, Como disse Hjelmslev (1943), o uso precede a norma, Accitamos, conto, que 0 conhecimento da oema presertva, ov dé um emprego mis elaborado de lingua, desperte em alguns falants (tanto em selagdo a oraldade quanto desrita) um Senkimento de ico, caso no consign realizar uma linguagem pelo menos préxma dle que consideram ideal 14. Nao se pode esquecer de Hjelmslev (1942), que havia falado em esquerna~ a deixar mais bem enter igo social. Rey, 10 soc nogio da lingua como uma L sntroduz na teoria lingufstica, além disso, a nogao d tiva, 2 norma que representa a tradigéo escrita litersria da li s embora no tenha estudado mais a fundo 2 representatividade da Singua, 0 que vel yr sua ver, norma preset dessa norma para a sociedade. Esse estudo veio a ser feito, dena, 1 partir do ponto de vista antropolégico no estud da norma lings: tica, como passaremos a comenter. ‘A terceira perspectiva, a antropolégica, adotada por Aléong (1983), configura-se a partir do ponto de vista de que a lingua € um im vefculo simbélico que, portanto, no pode ser anali- ‘A premissa dessa pers fato soc ue se att sada fora do ambiente em que se a : pectiva éa de que a lingua obedece a “normas soriais ¢ esquem de comportamento” e s6 pode ser estudade a partir de sua inser- 7 : im, esse autor, do na sociedade, na cultura de que fa pate. Asst, esse a tivo, reconhece tecorrendo também ao par opositvonormal/normatv, recone como normal o que é frequente nos comportamentos observados, @ como normativo 0 que se impée por meio de um c6digo rigido, ‘escrito, elaborado a partir de certos valores de beleva € pers Aléong propde, desse modo, a distingdo entre as ae jimnpl \as — propras de cada grupo sola, atualizadas pelos falantes (0 que diz respeito & oralidade e 2 escrita) por exigencia de nun : sociais prprias de cada interacto — 2 norma explicit, codes: dae divulgada por um aparelho de referéncia,"* integrado, sobre tudo, pela escola, graméticas e dicionérios, tho de eferén- corre’, da lingua, me i Along (1983), norma 15.Come ro ma,» pr ig, are Sar fea guerre ei SEE ee pls gmat, pls odie «por ors 88S sidan edna pssst dos dialetos praticados pelos falantes, so sempre prejudiciais & vociedade pot deixar confuso quetn busca esclarecimentos sobre problemas de uso da lingua. Podemos, por exemplo, ecorer 30 pensamento de Bakhtin para comentar essa id A #0 da lingua efetua-se em forma de enunciados (ras ¢ sscritos),coneretos € sinices, que ermanam dos integrantes dumma € Mlouta esfera da atividede humana. O enunciadoreflete as condligoes texpectfcase a Finaldades de cada uma dessasesferas, nfo Por st “conteddo (temético) e por seu estilo verbal, ou se, pela selegto ope" ada nos recursos da lingua — recursos lexical Fraseologicos ¢ ga ‘maticais —, mas também, e sabretuxdo, por sua construgio compost al Estes trés elementos (contesido temitico, estilo € construgso compesicional) funder-se indissoluvelmente no todo do enunciado, todos eles so marcados pela especifcidade de Qualquer enunciad consideradoisoladamente €, claro, individual, sas cada esfera de utilizaglo da lingus elabora seus tipos ee cis de enunciados,sendo isso que denominamos genes da isourso (Bakhtin, 1992, p. 279 — erfos do autor. Isso quer der que € a propria sociedade que configura “0 ave « como” se espera que se digalescreva, em cada interacio, De um lado, sea interagdo exige um registro em que ofalante utilize recur sla a sua complexidade, 2" 08 lexicais, fr: de vista da tradig ao da lingua, ica “obrigado” a praticé-lo, fe, se ndo o fizer, poderd softer algum tipo de “sanedo” social; de outro, s¢ a interagSo exige um registro mais desligado da tradigio, mnais préximo da linguagem atualizada diariamente, o falante fica, do mesmo modo, “obrigado” a praticé-lo, sob pena, também, de softer uma “sangio" social, caso noo pratique. Isso quer dizer que, do mesmo modo que & perda de tempo “a pregagio” da prética tinica de um registro lingustico elaborado, cuidado, que reproduz a tradigdo, em todas as interagoes, ou situagbes de comunicagzo, é também indtil a“pregacio” da pritica exclusiva de registro que no leva em conta a tradicZo, exigida em algumas situagdes. Por isso, a critica dos autores citados, Rey (1972) e Aléong (1983), quanto & atitude dos lingtlistas — por deixarem “de lado" as questées relat as A pesquisa e ensino do que se pode entender por norma preser tiva, ou explicita, ou, ainda, tradicional — é pertinente, porque hi na cociedade uma preocupacao com uma prética discursiva que se relaciona a este tipo de norma, e, portanto, enquanto ela existi, sera abjeto de atengao por parte de quem participa de eventos comun- cativos em que essa norma seja exigida. Conclui-se, entio, que, mesmo sendo a norma prescritiva parcial e sem representatividade de registro ou de dialeto efetivamente praticado, Ja est configura- ‘da materialmente, ocupa um espago determinado, cultural, nas sociedades letradas e exerce influncia sobre as normas implicitas. ‘A NORMA CULTA E A NORMA POPULAR Diante de um quadzo como o apresentado acima, devemos nos inda- gat se € pertinente a “qualificagao da norm", como, por exemple, estas: norma culta ¢ norma popular. Existe, mesmo, essa oposigo?” 17, GF. Leite (2003). Poderlamos dizer que somente ent termios esses conceitos so aceitiveis, porque 0s pr6prios conceitos do que seja culto e popular sto de dificil fixagao. Quanto a lingua, tem-se que, em geral, nas sociedades letradas, © que se configura como a tradigo € 0 que icou registrado, nos “instrumentos lingifsticos”, como prética pres- tigiosa da lingua, tomado assim como um pardmetro para o “julga- mento” de todos os enunciados lingo icos, falados e escritos. Desse modo, todos os enunciados que estiverein mais préximos da tradigdo sto considerados “ct 05", todos os que dela se distanci rem so considerados menos cultos ou “populares”. Isso dé origem 2 dicotomia norma culta/norma popular, Sabemos, todaviz, que pessoa alguma praticaré uma lingua exelusivamente culta ou popu- lar. H4, porém, o que se pode quslificar como um wso normal para ‘grupo dos falantes que conhecem mais a tradigéo, e v 1W30 nor- ral para o grupo dos falantes que conhecem menos a tradigio. Esse é o fato que ctia as diferengas — culto versus popular — e hie- rarquiza os falantes. De acordo com Canguilhem (2002), a norma niio se redux. & média, mas por meio dela se traduz. O resultado, portanto, do sso lingiistico de um dado grupo de falantes constitui “o normal", ¢ é de certo modo, preservado, © que nko significa estatismo e fixagto, pois a Ja vai-se modificando ao acompanhar © movimento social, mas 0 conhecimento da tradigo 6, digamos, um freio nas ovagies, 1esmo sem jamais conseguir paré-las. ‘Assim, um falante que tem conhecimento da tradig&o da lin- gua, que, em iiltima inst€ncia, esté configurada como norma pres- ita (Aléong) poderé, a depender das impos aela. sima das imposigbes ¢ regras da norma explicita de sua lingua, e, de ‘outro, apresentard, em termas de léxico ¢ gramética, um repert6rio aque, se nao for erudito, também nao seré vulgar. Essa médie traduz © que se entende por norma culia e que, em tese, apresenta as seguintes caracteristicas, conforme Preti (1999): 1. é a variante de maior prestigio social na comunidade; 2. realizada com relativa uniformidade pelos membros do grupo social de padrdo cultural mais elevado; 3. €a que cumpre o papel de impedit a fragmentagto 4, é ensinada pela escola; 5. € usada na escrita em generos de discurso formal; etal; 6. a que mais se aproxima dos padrées da prescrigo da gra- mitica tradicional; 7. 6 a mais empregada na literatura; 8, é empregada pelas pessoas cultas, em diferentes situagdes de formalidade. Vale lembrar que as normas implicitas nio sto, exceto por lin- gitistas, objeto de estudo, nfo séo suporte para o ensino de lingua, nem contam com “um aparelho para a sua divulgacso” (Aléong, 1983). O conhecimento de suas caracteristicas dé-se por meio das icamente, com 0 objetivo tinico de desere- ver as variedades da lingua, para que se possa mostrar como so, como funcionam e como so suas regras. Em linhas gerais, as caracteristicas lingufsticas das normas comumente denominadas culta e popular, para a modalidade escri ta do portugues, conforme resume Preti (1994), sao: A vinous que reramos 199 NORMA CULTA, "NORMA POPULAR bnero, nimero © pesso = vto de todas 2s com excegdo,talvez, da 2 do ph Jegada & linguagem dos ser aes; «+ emprago de todas os modos ve bats: «= comelagéo verbal de tempos © modes, «= coordenagae ¢ subordinagio; «= riqueea de construgio sintétien, ago da vor passive 4 largo empreg de preposigdes nas rege ‘+ organizagan gramatical cuidada da frases «+ voriedade da construgao da frase areas de wénero, «reduc dos pessoas gramaticats do verbo; « mistuca da 2° com a 3* pessoa no singular tenso da. exp cm lugar de on © nds «= redugia dos tempos da futuro do presente e do pretérto, do mais-que-pesfeito, no indicat: vo; do presente do subjuntivos do «fala de correlagio verbal entre os tempos: + reducio do processo subordinetivo ‘em beneficlo da frase simples ¢ d= coordenagio; 1 maior emprego da vou ative em lu ger da passive; «+ predominio das rognciss diretas nos verbos: « simplifcagia gramatieal da frase, femprego de "borddes” do tipo “enti, "af ete; + emprego do pronomes pessoas re tos come objetos. Para a lingua falada, esse quadro € bem diferente no que con- cceme a0 dialeto culto. Em primeiro lugar, porque a fala apresenta ccaracteristicas que Ihe sio tipicas, tanto em relagSo 2 estrutura do at Leite 200 Mart Qu texto, seu modo de organi2agao, por meio de turnos e tépicos, como 1 propria organizago do ennnciado linghistico, porque nessa, em decorréincia de ter planejamento paralelo & produga elementos como pauses, preenchidas ou ndo, ¢ marcadores da conversagio, que tanto podem ser lex porque, conforme ex lizados como no lexicalizados. fm segundo, ica Preti (1999, p. 33), de acordo com pes Giza realizada a tespeito do discurso oral culto, os falantes cultos “até em situagdo de gravago consciente revelaram wi jinguagem que, em geral, também pertence a falantes comun: ‘A pesquisa de Preti (1999, p. 25), realizada a partir do corpus do Projeto NURCISH,! revelou a existencia de uma Finguagens wrba- ‘ta comum, caracterizada por marcas de linguagem culta ¢ também de linguagem popu Tanto que, embora raramente, aparecem “oconréncias tépicas da linguagem de usuarios de baixa escolaridade, ‘como 6 0 caso de “enguanto nao chegou naquilo é deixado os nego ‘uuarem & vontade’, presente em um dos diélogos do Projeto 10 Brasil — Projeto iio del Habla Culta de las Principales esades de Hispancaméries, apresentado por Jun M. Lope Blanche, da Uninersidade AutBnoma do Mético, que tnka 0 abjetive de estudar as normas li fuisticas dos principals ciades do There-Ararca, Assim, no Brasil o NURE Fo! aoe, em 1968, para estudar a rma lingistica das principe eidades bra vena abet, Bio de Jancio, Sio Paul, Belo Horzonce, Porto Alegre e Recto, cam 0 objetivo de “doc rover a norma abjetiva do portugues falado ‘eulto, isto 6 0 eto secil pratieado pela classe de presigio cul 64). Arualinente, 0 Projeto Mune, cm seus rvcleos nas capitals citada, tem eebalhado ser Cornndo geral, © NUNCISHo Paulo, ndeleo USF, coordenado pel professor Ding Pa ncitn como alguns outros nfcleos, tem, sistematicamente, publicado suse pesglaae desde 1986, Atalmente, a série Projtos Paralelos J& conta com $35 volumes de importin {6 coshecimenta, de modo especifico, da a culta de Sio Paulo ral, para oesclarecimento de questdes fun- smentais que dizem respe lade © escrita A -ucua que Fauanos 201 ‘um engenheito, de idade entre 25 ¢ 35 anos. O resultado da referi- DIALETOS, REGISTROS E NORMA da pesquisa indicou que o discurso oral culto apresenta as seguin- LINGUISTICA: ANALISE DE EXEMPLO tes marcas ‘As diferengas lingiiisticas existentes entre os varios dialetos e regis- 1. vocabulério mais amplo, de menor uso na linguagem co- tros, todavia, ndo so estanques, pois os usos populares poder ser mum e mais preciso em sua significagao: incorporados & norma culta. Com o passar do tempo, a “marea” de 2. estruturas que lembram as normas da gramética tradicionel, popular pode ser completamente apagada, e os falantes de outta remetendo, portanto, 2 formagio escolar do falante; sineronia no terao a “meméria” da marca anti 3. alias c vocdbulos de intensificagao expressiva, de efeito © texto abaixo mostra um caso de escolha de dialeto/tegistro hiperbélico; inadequado & situagto. Trata-se de uma sentenga proferida pelo juiz, 4 mistura de tratamentos gramaticais tulvoce José Geraldo da Fonseca, da Quarta Junta de Conciliago e 5, forrnas irregulares do futuro do subjuntivo confundidas com Julgamento do TAT da 1? Regigo, que usou o registro lingifstico das 9 infinitivo; partes para redigir sua sentenga, o que criou um efeito de sentido de 6, formas onomatopaicas; humor. A “graga” no é prépria da linguagem reproduzida na senten- i 7. italianismos da linguagem italo-brasileira de Sao Paulo, tipi- ‘5a porque ela € tipica de milhares de brasileitos, e n6s a escutamos | co marcador conversacional, ainda muito em uso em certos diatiamente nos enunciados dos falantes que residem nas regides contextos falados (... nfo sei o que traré... pega e man- rurais ¢ que, além disso, nao tém escoleridade. O humor existe pela dam...); ruptura da norma exigida nesse género do discurso: 0 esperado, 8. discordancias entre verbos e sujeitos posposto: nesse caso, seria o emprego de uma linguagem culta propria para a 9, regéncias de verbo de movimento com preposigao emt atualizagao do discurso juridico. Leiamos um trecho da sentenga: Vale lembrar que essas caracteristicas sto referentes a0 dialeto Contexto: Agio trabalhiste ajuizada pelo trabalhador rural Wander paulista cult, de falantes que estavam em situagl0 de relative for- da Silva Marins contra seu empregador, Luiz Coelho, proprietério de imalidade, porque travavam um dislogo cujo tema geral tinha sido um sftio no Rio de Janeiro previamente determinado e, também, porque tinham conhecimen- to da gravagio, Sentensa ao Processo n. 1.806/97 “Wanderlei da Silva Marins ponhd questa contra Luiz, Coelho assuntana qui cum eli trabaid di trabaiad6 rurar di meadu di 8 abrir di 97 sem fiché mnsistia nu parté du gadu i pastorié uns cabrito carnéro cucio ga wat poreu gansu i Otras cria- cun que ratawos 203 ao wle ingordé ¢ eurné i dispois vendé sem criava peu contd us leite us quéjo i que pelejava du canté dus galo 3s sete da minha inté w pid noite dia péis dia sem dis ( juiz observou, primeito, que “us dereito anterior a 4/6/92 tio priseritu’, Por outto I reconhecen que “inguanto u patrio trabais- va ne cidadi cunsertano us carro dus granfino u recramnante partava us boi jus cabrito nu sftio#tratava dus poreu i dibuiava w mio pas gain { pras ganst i pur conta disso ricibia tint rear pr sumang cum u réa mémo cunfmna ele propio di viva vis sem cuacdo nem malogro quan det falagdo dispois ci muinta priguntado’. Além disso,“ tis timunha da pio cunfirma qui minina tinha mde méinta pobsi i smitintus frmao tuda piquinininhu gorradu na sala da mde mai num ere yadiu mulanbentu distrambeiadu nem arma pirdida pridileta duns infernu feitu essiscuitadin di cidadi que Deus vird as costa (© juz levou em conta também que o réu “num tem prova sigura dus hordrio i trab6io du recramante pru mode qui us dipoimentu das tistimunhe du impregadu. lo cunfusu i prisso memo num procédi hora extra nem discansu sumanar rimuneradu’. Mas, “trocant mito procéai us pididu di avsu previo (qui args fla avo “breve” Feria dt 1/6/92 pa cd (dobrano as di 92/93, 93/94 594/95) criscidu di um terse proporcionar (11/12) eriseida dum tergu maf Fos erseidu di rmurta (408) cinco parcela du siguru-disimprego t mai murta du artigu 477 da CLT”. O PIs, segundo 0 juiz, “num cabe pruqué isbarra nu arti ge 10 da Lei Cumprimentar 7/70. Os honordrn tamém nur cabi pq u pido num i sistido di sindiato mum é pobri nus temo da - sentenciou (Guia Juridico, Ditheiro Vivo, 26/1/98 2 1/2/98, n. 4) ‘A avaliagio dessa atitude do juz, no mefo jurtdico, nao foi post tiva, por exemplo, por parte do diretor da Associagao dos Magis: Jos Brasileiros, Lourival Gongalves, que alirmou: “Sentengas como esta séo criticadas pelo mau gosto, além de atrapalhar 0 sis- tema judiciério”. Mas 0 juiz defendew-se dizendo que, além de no hhaver qualquer impedimento legal para decisdes como essas, em forma de “tirades bem-humoradas’, elas servem para “relaxar @ ten- so e evitar que 0 coragao pife de tédio ou enfarte ‘Aobservagio da mudanga de registros, praticados pelo felante, a0 longo de seu dia, revela a competéncia que © falante ter para adaptar-se a todos os gneros discursivos configurados pela socie- dade. A selegao de umn registro inadequado a uma dada situagio de comunicagto pode gerar sérios problemas d interagao e, até mesmo, comprometé-la, Quando isso ocorre, hé uma ruptura de expectati- va que pode criar diferentes efeitos de sentido, que vao da critica € ironia a0 humor, como € 0 aso do exemplo citado. CONSIDERAGOES FINAIS Pode-se, enfim, dizer que as duas grandes fontes de variagio lin- aiiftica sio, de um lado, ousuério, com a sua configuragio geogré- fico-social, e, de outro, o uso, af incluida toda a complexidade da pritica dos diversissimos generos do discurso. Vale ressaltar que ambas so indissociavei isto que um falante, de origem geografi- cco-social X, estard sempre em uma situago de comunicagto Y. A deserigio linguistica dos dialetos e registros ¢ posstvel de ser rea Tizada, mas seré sempre parcial, em razio, primeiro, da variago constante da Iingua, e isso significa que, quando uma descri¢d0 é publicada, a lingua no é mais aquela deserite; segundo, porque 2s situagées de interagio so infinitas ¢ inapreensivels na sue totalide de. Disso se conclui que os dialetos se prestam melhor as descr es, e que os registros so mais fugidios porque, se em cada inte- rago um genero dado do discurso ¢ praticado, a sua realizagso Avincua que racamas, 205 lingaistica tem nuangas individuais dificeis de serem enquadradas ‘em termos de “caracterisicas gerais’, comuns ao grupo social. Tudo {sso representa pontos de dificuldade para a elaboracao da descri- ao da norma lingistica, no que diz respeito a qualificago que @ ‘la se atribui, em correspondéncia & dos grupos sociais que a prati- [Em geral, os grupos sociais sao hierarquizados pelo poder aqui- sitivo (o que é comum nas sociedades capitalistas) e pelo nivel eul- tural (entenda-se, de acumulagza de conhecimente).!” No que diz respeito & qualificagio lingtistica, o julgamento do falante seré feito, em primeito higor, por seu conhecimento dos recursos da Iin- gua, de modo geral, e da tradigio da lingua, de modo particular ‘Assim, diz-se que um sujeito é praticante de uma norma culta se ele domina mais recursos da lingua, isto 6, se sabe explorar mais pro- fandamente os recursos do sistema ¢ das normas que estdo & sua disposigio, praticando-os quando a interaglo assim o exigit; e dize se que 6 sujeito 6 praticante da norma popular se ele domina menos ‘os recursos da Iingua, sabendo explorar o sistema da lingua, mas ‘sem domfnio de outras normas lingiifsticas, senfo a que aprendeu zno ambiente familiar, o que o obriga a praticar a mesma norma, com variagdes de registro, em quase todas as interagSes, Por esses enité- rios o falante & julgado e hierarquizado lingdisticamente. Esse jul- gamento refere-se, enfim, 20s dots modos de realizagao da kingua, conhecidos como duas normas, culta e popular. ‘A anélise de dados lingaisticos pode revelar, também, a exis- téncia de uma “zona de intersect” entre as normas culta e popur lar: sfo fatos do léxico e da gramética que aparecem, indistintamen- te, tanto na fala culta como na popular, Isso cria uma espécie de 19, No Brasil, de modo geral, o primero fator tem condicionado o segundo; no é tao raro, contudo, encontrar pessoas de baixo poder aquisitivo, mas de elte afvet cultural 206. Marli Quadros Leite continuum entre os dois pélos da norma, o que dé origem ao que Preti (1994) denomina linguagem comum, origindria do cruzamen- to de papéis lingatico-sociais dos falantes de uma comunidade, 0 que implica a incorporagao de meios de expresso tanto do falante de boixa escolaridade em relagto ao de alta, como o contrétio. Essas reflexées visaram 2 mostrar como é complexo tratar dos problemas relativos & norma lingtifstica porque, se de um lado 0 ideal para a pesquisa lingdistica € estudar os corpora para revelar 1 lingua em seu pleno funcionamento, de outro hé certos fatos sociais que tem acdo direta sobre a pritica discursiva e, por isso, tam se ser levados em conta por todos que se interessam pelo real estudo da Iingua. Auincun que eetamos 207

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