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A actriz-escritora que cumpriu o seu sonho

Mário Lopes, in Público, 03.02.2010 - 09:51

Rosa Lobato Faria tinha 17 anos e queria ser actriz. O pai deu-lhe a escolher. Ou ia
para a faculdade em Coimbra, com tudo pago, ou para o conservatório, em Lisboa,
pagando o curso com um emprego. Aceitou a vontade do pai. Foi estudar
Germânicas. Isso quanto tinha 17 anos. Porque depois Rosa Lobato Faria, mulher
forte e convicta, foi mesmo actriz. E poeta, escritora, argumentista e compositora.
Quando questionada, respondia ser escritora. Mas, acto contínuo, acrescentava que
ser actriz não era muito diferente: criar personagens e dar-lhes vida.

Rosa Lobato Faria estava a escrever um novo


romance (Mário Santos/Porto Editora)

Rosa Lobato Faria morreu ontem num hospital de Lisboa, uma semana depois de ter
sido internada com uma anemia grave. Tinha 77 anos (…).

Lançando o olhar sobre a sua vida, sobressai uma presença, constante e


multifacetada. Começou a divulgar poesia na RTP, durante os anos 60, em
colaboração com David Mourão-Ferreira, e integrou o elenco da primeira telenovela
portuguesa, Vila Faia. Foi letrista com lugar reservado na história do Festival da
Canção, com Amor de Água Fresca, cantado por Dina, ou Chamar a Música, por Sara
Tavares, e uma escritora que, poeta há muito, chegou tarde ao romance. Aos 62
anos, com O Pranto de Lucífer, publicado em 1995. Chegou a tempo: dez romances e
um deles, O Prenúncio das Águas, distinguido em 2000 com o Prémio Máxima da
Literatura.
O seu editor, Manuel Alberto Valente, lamenta a "perda de uma grande amiga" e
"uma pessoa extraordinária" e recorda como o seu primeiro romance, aparecendo já
numa idade madura, "trazia para a área da ficção essa marca poética muito forte em
todo o trabalho dela".
"Tinha prometido entregar-nos brevemente o novo romance que queria publicar
ainda este ano", revela. "Não sei em que fase estava da escrita, mas vou agora tentar
saber junto da família."
Rosa Lobato Faria dizia que toda a poesia e literatura que escreveu partiu do Alentejo
das suas férias de infância - daquela paisagem, dos cantares das pessoas, da força da
tradição que ali pressentia. Também nisso era múltipla: mulher moderna e
cosmopolita, mas que nunca escondeu um imenso fascínio pela cultura popular.

Romancista, obviamente

O realizador Lauro António, que a filmou em Paisagem Sem Barcos (1983) e Vestido
Cor de Fogo (1986), recorda-a como "uma pessoa muito delicada, sensível, de uma
grande elegância, mas ao mesmo tempo muito intensa ao nível das suas convicções e
paixões". Destaca: "Deixa uma marca forte no mundo do espectáculo e da cultura
portuguesa." E acrescenta que "não sendo uma feminista militante, tinha uma
personalidade forte, ajudando a alterar a imagem da mulher em Portugal nos últimos
50 anos".
Ela, que como nos refere Herman José, "odiava que a reduzissem a "autora de letras
para cantigas"", deixou-nos no ouvido alguns dos momentos mais memoráveis no
humor da televisão portuguesa. Com Herman, precisamente.
São dela as letras dos genéricos de Casino Royale, Crime na Pensão Estrelinha e
Humor de Perdição. O humorista recorda a participação de Lobato Faria naquele
último programa, onde interpretava Dona Cândida, "senhora das avenidas novas, que
alugava quartos e se apaixonava por um boçal José Esteves": "Conquistou-nos a
todos com a sua alegria e a sua transbordante juventude e, na sequência da morte de
Carlos Paião, acabou por ocupar o espaço deixado livre na autoria de versos
humorísticos para os meus programas e canções." Porém, aponta Herman, "o seu
sonho foi sempre ser aceite como romancista".
No momento da sua morte, recordamo-la pelas letras das canções que escreveu, pela
presença na televisão e no cinema, pelo teatro e pela poesia compilada em volumes
como Os Deuses de Pedra (1983). Recordamo-la também, obviamente, como
romancista. O seu último livro, As Esquinas do Tempo, foi publicado em 2008. A sua
obra, como refere em comunicado a Porto Editora, "está traduzida em Espanha,
França e Alemanha e representada em várias colectâneas de contos, em Portugal e
no estrangeiro". Rosa Lobato Faria cumpriu o seu sonho.

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