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Rosa Lobato Faria tinha 17 anos e queria ser actriz. O pai deu-lhe a escolher. Ou ia
para a faculdade em Coimbra, com tudo pago, ou para o conservatório, em Lisboa,
pagando o curso com um emprego. Aceitou a vontade do pai. Foi estudar
Germânicas. Isso quanto tinha 17 anos. Porque depois Rosa Lobato Faria, mulher
forte e convicta, foi mesmo actriz. E poeta, escritora, argumentista e compositora.
Quando questionada, respondia ser escritora. Mas, acto contínuo, acrescentava que
ser actriz não era muito diferente: criar personagens e dar-lhes vida.
Rosa Lobato Faria morreu ontem num hospital de Lisboa, uma semana depois de ter
sido internada com uma anemia grave. Tinha 77 anos (…).
Romancista, obviamente
O realizador Lauro António, que a filmou em Paisagem Sem Barcos (1983) e Vestido
Cor de Fogo (1986), recorda-a como "uma pessoa muito delicada, sensível, de uma
grande elegância, mas ao mesmo tempo muito intensa ao nível das suas convicções e
paixões". Destaca: "Deixa uma marca forte no mundo do espectáculo e da cultura
portuguesa." E acrescenta que "não sendo uma feminista militante, tinha uma
personalidade forte, ajudando a alterar a imagem da mulher em Portugal nos últimos
50 anos".
Ela, que como nos refere Herman José, "odiava que a reduzissem a "autora de letras
para cantigas"", deixou-nos no ouvido alguns dos momentos mais memoráveis no
humor da televisão portuguesa. Com Herman, precisamente.
São dela as letras dos genéricos de Casino Royale, Crime na Pensão Estrelinha e
Humor de Perdição. O humorista recorda a participação de Lobato Faria naquele
último programa, onde interpretava Dona Cândida, "senhora das avenidas novas, que
alugava quartos e se apaixonava por um boçal José Esteves": "Conquistou-nos a
todos com a sua alegria e a sua transbordante juventude e, na sequência da morte de
Carlos Paião, acabou por ocupar o espaço deixado livre na autoria de versos
humorísticos para os meus programas e canções." Porém, aponta Herman, "o seu
sonho foi sempre ser aceite como romancista".
No momento da sua morte, recordamo-la pelas letras das canções que escreveu, pela
presença na televisão e no cinema, pelo teatro e pela poesia compilada em volumes
como Os Deuses de Pedra (1983). Recordamo-la também, obviamente, como
romancista. O seu último livro, As Esquinas do Tempo, foi publicado em 2008. A sua
obra, como refere em comunicado a Porto Editora, "está traduzida em Espanha,
França e Alemanha e representada em várias colectâneas de contos, em Portugal e
no estrangeiro". Rosa Lobato Faria cumpriu o seu sonho.