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Boletim Geografico Ano II | JULHO, 1944 | Ne 16 Kditorial Dicionario Geografico Brasileiro Ao organizar o seu plano de campanha, tendo por objetivo o Recensea- mento Geral do pais, para cuja realizacdo foi especialmente constituida, a Co- misséo Censitéria Nacional sugeriu ad Conselho Nacional de Geogratia, mediante Resolucao de 9 de dezembro de 1938, a elaboracdo de um Diciondtio Topo: nimico Brasileiro, que arrolasse nao sé as localidades e explicacées etimoldgicas das “respectivas denominagées, como também o maior mimero possivel de atidentes. geograticos. Lembrada em momento oportuno, a indicacéo mereceu a melhor acothida Por parte do Diretério Central que, sem tardanca, a incluiu entre os encargos indéclindveis do. Conselho, de que é érgao deliberative. Assim prescreveu a Resolugéo n° 12, de 3 de janeiro seguinte, acompa- nhada de outra, a de 8 de fevereiro, que atribuiu ao Servigo de Coordenacao. Geogfafica, hoje denominado Servigo de Geografia e Estatistica Fisiogtatica, as responsabilidades da trabalhosa incumbéncia, cuja execucéo progressiva inspitou diretrizes sisteméticas, estipuladas pela Resolucéo n° 36, de 18 de abril. O esquema,'em que. se delineou, nesse lance, 0 programa do Dicionario Geografico e Toponimico Bratileiro, indica 0 método adotado na elaboracao, que permite propicia flexibilidade nas indagacées, libertas da exigéncia de en- volvimento simulténeo e integral dos variados assuntos, cujo ‘patcelamento, sem prejuizo.da visdo.panoramica ulterior, apressa o agrupamento dos verbetes em colegées a que nao falte algum elo comum. Para Ihes facilitar as pesqitisas e ao mesmo tempo tornar utilizéveis os resultados parciais obtidos, em qualquer fase das operacées previstas, o plano entéo ideado cuidou de racionalmente decompé-las, por marieira que se apresentasse cada grupo.com a sua valia prépria, de teor varidvel, conforme 0 grau de aproximacao que.o distinguisse, independente do conjunto a que por fim se destine. Sumario déste niimero EDITORIAL: Diconério Geografico Brasileiro — Eng.° VIRGILIO CORREIA FILHO. (pig. 395). COMENTARIO: Os Fatos Fundathentais da Geografia — EVERARDO BACKHEUSER (pég. 300). TRANSCRIGOES: Mapd Vlonstal do Brasil — 11 — GONZAGA DE CAMPOS (née. 400). — a Gegrafia Cultural do Brasil — Dr. B. BRANDT (pag. 420). RESENHA E OPINIOES: Notas relativas a evolugio das paisagens rurals do Estado de Sio Paulo (pég. 428), — A grafia de Itapecura (pig. 430). — Carvio (pig. 431). — Cruzando 0 Brasil em tadas as direcdes (pag. 433). — Fatdres geograficos (pig. 437). —- Uma publicagéo til (pag. 438), — Estados Unidos da América (pig. 439). CONTRIBUICAO AO ENSINO: Os ‘Territérios “Federals Recém-criados \e Sets Novos Limites <~ GIORGIO MORTARA (pig. 446). fe TERTULIAS GEOGRAFICAS SEMANAIS: Sexagésima primeira tertilia, realizada a 18 de abril de 1944 (pag. 445). — Sexagésima segunda tertilla, realizada a 25 de abril de 1944 (pag. 458). + Sexagésima terceira tertilia, realizada a 3, de maio de 1941 (pig. 465). — Sexagésima quarta tertiilia, realizada a 9 de maio de 1944 (pig. 471). — Sexagésima quinta tertéllia, realizada a 16 de maio de 1944 (pag. 477). NOTICIARIO: CAPITAL FEDERAL — Prpsidéncia da, Repiblica (pig. 404). — Instituto Brasi- Jeiro de Geografia e Estatfstica (pég. 487). — Ministério da Agricultura (pig. 493). — Ministérlo da Educagio e Satide (pag. 496). — Ministério da Guerra (pag. 497). — Ministério Wa Justica © Negécios Interiores (pag. 497). — Ministério das Relagées Exteriores (pag. 498). — Ministério do Trabalho, Indistria © Coméreio (pig. 498). — Ministério: da Viagio © Obras PUblicas (pig. 498). — Prefeitura do Distrito Federal (pég. 499). — INSTITUIQOES PAR- “ TICULARES — Academia Brasileira de Ciéncias (pig. 499). — Academia Brasileira de Letras (pag. 499), — Academia Carloca de Letras (pig. 500). — Centro de Cultura Afro - Brasileira (pig. 500). — Companhia Rodovidtia ‘Transbrasiliana (pég. 500). — Instituto Histérico. e Geosrafied Brasileiro (pég: $00), — Sindicato de Engenheiros do Rio de Janeiro (pig. 501). = Sociedade Brasileira de Antropologia e Etnologia (pig. 501). — Sociedade Brasileira de Economia Politica (pag. 501). — Sociedade dé Geografia do Rio de Janeiro (pag. 502). — "Sociedade de Amigos de~Alberto Torres (pég. 502). — Sociedade Mitieira de Geégrafos ¢ Estatisticos (pag. 502). ~ Touring Clube do Brasil (péis. 503). — CERTAMES — 4.8 assem- biéia Anual. do American’ Congress of “Surveying and Mapping (pig. 503). — — UNIDADES FEDERADAS — Bahia (pag. 504): — Espirito Santo (pig. 604). — Golds (pig. 505).. — Minas Gerais (pig. 505). — Paraiba (pag. 508). — Parand (pig. 508). — Pernambuco (pég. 508). — Rio Grande do Sul (pig. 308). — So Panlo (pag. 509). — Terri- torlo do Amapa (pag. 512). — Territério do Guaporé (pig. 512). — Territério de Ponta Pord (pag. 512). —Territério do Rio Branco (pag. 513). — MUNICIPIOS — Aracaji (pig. 513). Campinas (pig. 513). — Campos (pag. 513). — Cordeiro (pig. 513). — Crato (pig. 12). — Gilbués (pig. 514). — Tavera (pag. 514). — Maceié (pg. 514)..— Manaus (pig: 514). — Morretes (pig. 514). — Porto Alegre (pig. 514). — Raill Soares (pg. 514). — Rio Branco (pig. 515). — Salvador (pég. 515). — Sao Cristévao (pig. 515)..— EXTERIOR — Inglaterra (ig. 518). 394 BOLETIM GEOGRAFICO BIBLIOGRAFIA: Apontamentos bio - bibliogrificos — MATIAS GONCALVES DE OLIVEIRA ROXO (pag. 517), — REGISTROS H COMENTARIOS BIBLIOGRAFICOS: — Livros (pag. 23). — Periddicos (pég. 526). — Mapas (pag. 527) — CONTRIBUICAO BIBLIOGRAFICA ESPECIA- LIZADA — Achegas para uma bibliografia sdbre o petréleo — I — (Letras A a L) (pag. 528). LEIS E RESOLUCOES: LEGISLACAO FEDERAL — Ementério dos decretos-leis baixades no més de junho de 1944 (pag. 536). — integra da legislacdo de interésse geografico (pag. 540). — ‘Atos diversos (pig. 563). — LEGISLAGAO ESTADUAL — integra dos deeretos, decretos-leis ¢ demais atos de interésse geogratico — Bahia (pég. 577). — Mato Grosso (pag. 583). — Pard (bag. 504), — Paraiba (pag. 586), — Parand (pig. 586). — Pernambuco (pig. 585). — Piauf (pig. 587). — Rio Grande do Norte (pig. 580). — Bio de Janeiro (pag. 589). — Sergipe (pig. 590). — LEGISLAGAO MUNICIPAL — integra dos decretos, decretos-leis demais atos de interésse geogrifico — Belém (pig. 591). — RESOLUGOES DO INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA — Conselho Nacional de Estatistica — Junta Exccutiva Central — integra das Resolucées de interésse seosrifico aprovadas em 1937 (pag. 692). — Consetho Nacional de Geosrafia — Assembléia Geral — integra das Resolucées ns. 114 a 120 (pig. 596), — Diretério Central — integra das ResolucSes m.° 114 2 120 (pag. 600). — DIRETORIOS REGIONAIS — Santa Catarina’ — integra das Resolucées ns. 6 a 10 (pag. 606). 396 BOLETIM GEOGRAFICO De acérdo com as normas entao prescritas, por trés etapas, de penetracdéo crescente, deserivolver-se-do as investigagdes necessdrias, desde a primeira, de simplicidade extrema, na qual os verbetes apenas contém. breve definicéo do ‘ acidente a que se refiram, até o estudo minucioso, para o Grande Dicionério, que deveré comportar o preparo de monografias, quando cabiveis, ilustradas com fotogratias, mapas, quadros estatisticos.. £m grau intermedidrio, 0 Pequeno Diciondrio admitird descrigdes mais amplas que o Vocabulario inicial, em que seja mencionada a etimologia do topénimo, sempre que possivel, @ explicagéo da sua ocorréncia. Escalaram-se, pois, as fases progressivas de indagacées, independentes umas das outras, embora tédas as trés se subordinem A exigéncia bdsicd de locali- zacéo por municipio. Dai decorre a necessidade premente de consulta aos mapas municipais, por meio dos quais se conjugam os esforcos valiosos dos informantes. regionais, consideréidos fidedignos em seus ensaios cartograticos. Destarte, mantém-se, por um lado, 0 principio da coopetagéo produtiva, a que deve o Conselho Nacional de Geogratia 0 maior quinhao de seus éxitos: ‘Por oittro, adquire realce a contribuicéo dos colaboradores dispersos pela imensidéo territorial, que apresentaram 0 retrato dos seus municipios, com ‘as localidades mais importantes, os rios, as serras e demais peculiaridades regionais. Désse mariancial, opulento de informes em misnicipios iniimeros, ou escasso de topénimos, em muitos outros, passam para as fichas os verbetes a que dao causa, /acompanhados de esclarecimentos resumidos sobremaneira. Nada mais sera, pois, 0 Vocabulario que sucinta escrita interpretativa dos mapas municipais, cujo grau de aproximacao, de rigor varidvel, conforme os elementos disponiveis em cada caso, nao é para ésse fim cotejado. Nos periodos imediatos, porém, de investigacées mais profundas, em que se basearé a elaboracdo do Pequeno, e, com mais forte razao, do Grande Di- ‘cionério, as forites informativas j4 se constituirao de: 1° 2° pig 42 Livros e publicacées existentes na Biblioteca do Conselho Nacional de Geogratia. Mapas distribuidos 4 Seccéo de Cartogratia e 4 Mapoteca, Informagées do Arquivo Corofratico, Contribuigées dos diretérios regionais e municipais esponténeamente enviadas, ou solicitadas de propésito, mediante questiondrios especiais. EDITORIAL er Os dados recolhidos de semelhantes procedéncias iréo permitir'a descricaéo mais minudenciosa de cada topénimo, de acérdo com a importancia que merece; pela sua propria caracteristica fisica, ou pela relevancia que the resultou da ocupacdo humana das circunjacéncias. E quando particular circunstancia a extreme entre as parceiras, caber§ ao Grande Dicionério expland-la em proporcdo, com amplos informes. Néo foi, todavia, ssmente em rélagdo as pesquisas que se manifestou & orientagao divergente'dos processos habituais de efaboraco de obras andlogas. No tocante ao arranjo dos elementos colhidos, para a devida apresentacao, com intuitos de aproveitamento imediato, em qualquer fase das investigac6es. em andamento, também ocorréu singular propésito dé flanquear dificuldades. retardativas da ultimagdo pelos procéssos costumeiros. As pesquisas ordenam-se por espécies ou pela amplitude terrjtorial a que se relacionam. +. Quem pretender arrolar, por exemplo, os:topénimos brasileiros referentes as elevagées, qualquer que thes seja a variante vocabular, nenhum resultado poderd exibir, antes de, considerar 0 territério inteiro, em suas particularidades orogrdficas. _ Ese, depois, quiser tratar de outro acidente, como os’ cursos.d’égua, de vario calibre, ser-Ihe-A mister, sem divida, repetir andlogas averiguagées, vol~ tando a manusear os mesmos documentos ou mapas, tantas vézes quantas forem as espécies analisadas. E. assim prosseguiré, sempre rétomando as caminhadas anteriores, até o temate das investigacGes. Essas idas e vindas, todavia, poderao ser evitadas, pelo registro simultaneo de todos os topé6nimos da regido analisada, Tal processo, porém, tornaria o prazo de termmacao dependente da coleta &eral dos verbetes, demorando, em conseqiiéncia, a sua utilizagéo parcial. Com intuito de obviar famanho inconveniente, 0 programa concebido pelo Conseiho Nacional de Geografia admitiu processos de pesgutisas. parceladas, por maneira que apenas englobem alguma espécie, de répida averiguacao e localizagéo, como as cidades e vilas, relacionadas em documentos oficiais, que 1hés mentionem as. categorias ¢ interdependéncia, quando haja, ou limitem o campo de pesquisas das: muiltiplas espécies pelas divisas estaduais. No primeiro caso, 0 Vocabulério, que inaugurou a série, abrange tédas a8 capitais de Estados, as suas sedes municipais, obrigatoriamente classiticadas como cidade’, e as distritais, qualificadas de vilas. Constitai 0 volume I, do qual: a Biblioteca possiti um exemplar, dactilo- érafado. 398 BOLETIM GEOGRAFICO Depois, para nao incidir na demora acima apontada, as preferéncias con- vergiram para o parcelamento metédico do campo de investigacoes, de modo que s6 féssem examinados, de cada vez, os top6nimos de uma sé unidade territorial. Com essa providéncia, jé foram organizados doze Vocabularios, em volu- mes especiais, referentes a outros tantos Estados, além de preparadas as fichas para os restantes, em grau-variével de andamento. Terminada a série de Vocabulérios, ou simulténeamente, se houver conve- niéncia, seré elaborada a referente ao Pequeno Dicionério Geografico Brasileiro, ¢, em seguida, a do Grande Diciondrio Geografico Brasileiro, com que se rema- taré o empreendimento cuja execucéo foi confiada a Primeira Seccéo do Servigo de Geogratia e Cartogratia. : Eng© Vircitto CoRREIA FILHO Chefe da SecoSo de Documentacio Googrifica do Servigo de Geogratia e Estatistica Fisiografica Comentario Os Fatos Fundamentais da Geografia ‘EvEeRARDO. BACKHEUSER Professor da Faculdade Catélica de Filosofin’ e Consultor Téenico do Conselho ‘Nacional de-Geografia Ha na geogratia miriades de fatos*, dos mais simples aos mais complexos: um ‘rio que placido corre em largo vale, uma cultura que se: intensifica em -virtude de novos adubos. Cem mil outros. Alguns, porém, séo mais gerais‘e mais amplos e por isso mesmo tomam carater de fundamentais, H4 um _conceito fundamental da geografia — 0 da localizagaio, — que com certa largueza de linguagem pode -ser considerado um de seus fatos basilares: Considerar a localizacéo como o fundamento mesmo da geografia 6 assurito que j4 néo comporta mais discusséo. Os adeptos de tédas as escolas, os. vete- tanos e os nedfitos, os partidarios dessa ou daquela doutrina, os técnicos da ciéncia, e os que a olham de fora, todos, undnimes, acertam sem debate que a “localizagao € a esséncia da geografia”. De fato. Sd-passam a ser considerados Geograficos os fendmenos passiveis de fixacdo em: certo e determinado lugar. Esse lugar pode ser grande ou pequeno, 2 superficie da Terra ou a area de um simples coro, néo importa, o fundamental para a geogratia é que haja um Tocal. Inversamente, desde que n&o suporte localizacdio o fenémeno hab entra no campo da geografia. Aceita por téda gente, esta. nogéo basilar pode ser considerada de doutrina Pacifica. Levantara logicamente 0 edificio da geografia quem a tomar como alicerce da sua doutrina e dela for deduzindo em virtude de cerrados raciocinios, 9s: demais conceitos e fatos geogréficos. Estes aparecerio portanto como. coro- larios do principio fundamental, que ¢, em geografia, o da localizacdo. . .° que o principio da localizacdo é evidentemente aplicavel tanto a, isica quanto & geografia humana, e em qualquer dos miltiplos setores’ de ambos, o que mostra sua generalidade. Por isso mesmo, é o mais proprio a Ihe servir de. alicerce quando se considera ‘a geografia como ciéncia dedutiva e unitaria, na qual os parcelamentos sucéssivos sao antes-de ordem diddtica qué de natureza filoséfica. A localizacio é pois, mais do que um’ principio basilar. da geografia porque é a sua mesma esséncia. Parecera que estou a enunciar truismos, de tao aceitas sio as verdades, que venho repetir. Ver-se-4, porém, dentro em’ pouco, que nem todos os gedgrafos (e aludo aos grandes. gedgrafos, aos mestres da geografia) fazem suas doutrinas fluir-sensatamente désse dogma basilar da. geografia. ‘ Tomando-o por ponto dé. partida entremos.a laboré-lo como se ninguénmi, ‘antes de nés, o houvesse feito (e ignoramos se alguém o féz como vamos tenté-lo) . : Raciocinemos como se estivéramos em face de uth teorema de matematica de cujos resultados desejassemos nos aprofundar, tirando conclusées e conseaiiéncias. Ok Se a localizacio'é 0 conceito, quase posso dizer, o fato fundamental da coe cumpre avangar. um pouco a frente e fixar a esséncia-de sua carac- terizagéo. * Dado o dinamistno das ocorréncias geogrificas podem os fatos ser chamados fendmenos ou acontectmentos, e, alguns déles,, filosdficamente falando, tomam As véses a felgsa abstrata de-conceitos. Para’ facilidade do discurso essas varids expressOes serio usadas como sinonimas. 400 BOLETIM GEOGRAFICO Imaginemos, como exemplo, um caso muito simples e muito banal, o de um lote de terreno dentro de uma cidade. A escritura que for passada para sua venda ‘diré, caracterizando-o, que se trata de um terreno situado a rua tal a uns quantos metros de distancia da esquina da rua qual e tendo tantos metros de frente por tantos de fundo, Poderao a seguir ser figuradas outras caracte- risticas: sobre confrontantes, natureza do terreno, sua ondulacdo, algum bem que 14 exista, etc. Estas tltimas caracteristicas sio, porém, complementares. Essenciais, apenas as indicadas-em grifo, porque estas séo’ as que localizam / © terreno. Sem elas as demais se tornariam supérfluas. __. Vejamos o que cientificamente significam as condigdes do trecho grifado. HA néle duas indicacées insubstituiveis. Uma é a referente & situacdo ou posicdo do terreno, em relacéo a conheeido sistema de coordenadas: certa rua e a distancia a detérminada esquina. Esses dois numeros sao abscissa e ordenada, ou seja, latitude e longitude. A outra indicacdo alude & forma e tamanho do terreno, quer dizer, a um certo espago. ‘Vé-se por ésse singelo exemplozinho, que a nogio de localizacio se subdivide tmediatamente em duas outras, posicdo e espaco, sem as quais seria impossivel sequer imaginar a existéncia de qualquer lugar na superficie da Terra. Um continente, um oceano, um pais, uma provincia, uma bacia hidrografica, uma cidade, um bairro, um quarteirio nao podem ser concebidos sem que disponham de um’ certo espaco e sem que estejam situados em dado ponto do Globo. Quem admitir pois ser a localizacio 0 conceito fundamental da geografia (e j4 vimos que é verdade com foros de pacifica) ha de forcosamente chegar ao ‘corolirio imediato, isto é, que os fatos fundamentais dessa ciéncia sdo o espaco e a posicdo, por isso que os dois em concomitancia séo predicados essen- ciais da localizacao. Zisse segundo passo, fatal conseqiiéncia da primeira noedo, nao é todavia dado por todos os geégrafos. Alguns, abandonando a estrada real dos raciocinios sadios, preferem, principalmente em geografia humana, embarafustar pelos fnvios caminhos ‘das mintcias secundarias. Tomar de fato, para fundamento essencial da antropogeografia os géneros de vide da populacdo ou a maneira, produtiva ou improdutiva, de aproveitar o solo, é visivelmente erigir o particular, poderiamos mesmo dizer, o particularissimo, em geral e comecar 0 edificio. do telhado para as fundacoes. Ratzel foi aquéle que sagazmente compreendeu a necessidade de conferir As nogées de espaco e de posicdo ou situacdo o carater de pedras angulares da gedgrafia, Admito a possibilidade de discordancias na maneira de desenvolver, em geografia, as teorias correspondentes a essas nocoes fundamentais; néo percebo, porém, que se as possa por de lado e se deseje levantar o arcabouco do edificio geografico prescindindo delas, esquecendo-as voluntariamente pela simples cireunstancia de haverem sido postas em foco por determinado autor com o qual por outros motivos se antipatiza. -_E, no entretanto, a meus olhos, quando os estudos geograficos, sejam os tebricos e filosdficos, sejam os estudos de dada regiio ou de exploracao no campo, sao feitos orientados por aquelas duas determinantes basicas — espaco e posic¢éo — adquirem ipso facto mais légica e mais método, e, portanto, mais clareza e mais concatenacao. Prossigamos, porém, no encadeamento dos fatos fundamentais da geografia, examinando isoladamente cada um désses dois primeiros conceitos fundamentais. ak ok Seja em primeiro lugar o espago. Retornemos ao exemplo do lote de terreno. O espaco ai foi caracterizado imaginando o terreno como um retangulo com x metros de frente por y metros de fundo. As formas dos terrenos podem evidentemente ser outras e muito mais, complicadas que a de um simples retangulo. Haverd, nos casos de maior compli- cacao, necessidade de juntar a planta do terreno, o que, em geografia, corres- ponde a anexar a carta da regiao ou pais, carta essa que permitira melhor carac- terizar geométricamente o terreno ou regio. Dar-nos-4 a compreensao conjunta de sua jorma, tamanho e perimetro. COMENTARIO wor © espaco’ geografico se. subdivide assim em trés novos fatos’ todos trés dé grande importancia em geografia,. quer -fisica, quer politica. A jorma. peritagonal da Franca, ‘retangular dos\Estados Unidos, a faixa aloni gada do Chile, etc. tem caracteristicas faceis de perceber até mesmé por leigos. As regides de forma’ mais complexa de traducdo inaccessivel a ne6fitos, revelam e desvendam, 56 por si, muita, coisa aos especialistas. O perimetro é afinal a linha de fronteiras terrestres ou-maritimas cujo valor geografico nao é necessario sublinhar pois est4 no conhecimento de todos. Igualmente o tamanho do lote 6 importante conhecer pois déle -decorrem possibilidades de maior ou menor importancia. O conhecimento désse espaco geométrico, que alguns, ndo sei porque, tém denominado “espago em si”, é de consideravel eficiéncia em geografia. Com- péndios e tratados, de fato, descreveme examinam os varios espacos terres- tres e maritimos, embora muitas vézes o fagam sem usar. nome tao claro e tao sugestivo. ‘A noc&o de espaco. assim compreendida globalmente e’ nas subdivisées pro- postas, que sio de si evidentes, comporta exame em ambos os setores da, geografia. No da geografia fisica quanto. avaliagio das areas, descricio das fronteiras, conhecimento do solo, ete. No da geografia humana, desde que se imagine ésse' espaco povoado e ‘organizado. politicamente. Tudo. quanto diga, pois com a quantidade de densidade demografica é matéria de estudo nesse. setor, Igualmente o estudo da estrututa da populacdo sob os miultiplos aspectos, raciais, culturais e espirituais, que ela apresenta, entra na.esfera do mesmo fato geografico.a.que se vem fazendo alusio, o espaco: Os interessantes problemas de “conquista de espaco”, quer dizer de “modos de conquistar terras” 6 também, embora de saber. histérico, fato geografico do mesmo setor. Igualmente o siste- ma circulatorio, que 6 como o sistema arterial e venoso dos organismgs.animais. Percébe-se por ésse ligeiro esquema, quanto, em superficie e profundidade, pode ser explorado. neste sé campo -geografico’ resultante do primeiro aspecto do fato geografico fundamental da localizacéo. : Caberia a propdsito da noedo de espaco aludir incidentemente aos programas de geografia do curso secundario em vigor desde 1942, mas isso'nos levaria.longe porque o autor do programa deu ‘a espaco apenas carater fisico e em seu conceito incluiu assuntos que absolutamente nao Ihe pertencem (clima, por exemplo) . Debater e esclarecer essa questo consumiria um novo comentario déste Boletim. Adiemos a questio: eke ‘0’ segundo’ setor a ser examinado ‘em se tratando de localizagio é aquéle que Ratzel denominou Lage, palavra que, em portugués corresponde ao ‘mesmo tempo & de posicdo (isto €, de localizagao segundo as coordenadas geograficas): e & de situacdo, ou seja de localizacao, por exemplo, em altitude, du segundo a distancia ao..mar, ou em relacdo a outro pais. : As quatro indicacées aludidas no periodo acima sugerem. a primeira subdi~ visio, de carater fisico, que o conceito basilar de posicdo ou situacdo comporta. Ha‘ de fato em geografia, como classifica Supan em Politische Geografie, quatro’ sortes de Lag a) ‘“posig&o em relacio ao equador; b), situagio em relagéo ao nivel do mar; ¢) situacdo segundo a istancia as grandes massas d’Agua; d) _situacéo politica, ou de um Estado ou regido em rela¢aéo a outro Estado ou regiao; Conhecimento sdlido da situacéo geogratica hé de ser portanto precedido do estudo do relévo, que constitui assim, a bem dizer, o primeiro capitulo na geografia fisica, nesse novo e grande setor da localizagaéo. Em segundo lugar, o clima. Realmente as condigdes de temperatura, umidade e ventos de cada regiao estao diretamente influenciados pela latitude, relévo-e proximidade das massas d'4gua. Conseqiiéncia do relévo e~do clima ‘edo as_bacias hidrograficas, 102 BOLETIM GEOGRAFICO outro grande capitulo portanto da situagdo. As aguas correntes geram fatos geograficos e déles sio conseqiiéncia. Embora contidos no espaco de dada regio sic, no ponto de vista’ filosdfico, como se vé, parte’ do setor .situacdo. ‘A isto também nao atendeu o programa atual do curso secundario, que embara~ thando idéias evidentemente claras em ciéneia geografica de bom quilate, impée tratar sob 0 titulo nogées que a outro pertencem . Paralelamente a geografia fisica, a geografia humana, explora também, e fecundissimamente, os problemas situacionais. Ratzel os aprofunda exaustiva- mente. Igualmente Maull Hettner e tantos outros dos grandes. mestres da geografia. E dentro désse campo (situacio geografica) que se agita, a bem dizer, toda a antropogeografia dos autores franceses. Ao passo que o aprofundado exame do espaco leva 4 geografia politica, éste outro, da situacio ou posicéo, conduz & geografia social, isto 6, a geografia que tem as preferéncias de Vidal de la Blache, de Deffontaines, de Vallaux e de outros mestres ilustres. Os fenémenos geograficos decorrenfes da posicio fornecem & geografia humana os mais controyertidos dos seus problemas. & de fato facil tombar em exagerado determinismo téda vez que se empresta subordinacao muito rigida dos fatos geograficos 4s imposicdes do chamado meio fisico, meio fisico que afinal nada mais é que modalidades variadissimas de circunstancias situacionais Alguns, como Montesquieu, {4 se.deixavam impressionar por éle antes de Darwin. A corrente se acentuou porém, depois que o sabio inglés expés suas revolucio- narias doutrinas. Taine e Demolins, em Franca, Huntington e outros autores norte-americanos sao corifeus da teoria. O proprio Vidal de la Blache nao conse- guiu fugir a ésse determinismo assoberbante, como se pode ver lendo Principes de Géographie Humaine. Ratzel tem sido violentamente acusado de determi- nista, vitima como outros, dessa doenca que grassou em todos os campos cien- _ tificos em fins do século XIX e ainda tem carater epidémico nos Estados Unidos. Ratzel, porém, instituindo a sua fecunda teoria das posigdes politicas, conse- guiu habilmente furtar a antropogeografia As desastrosas conseqiiéncias de um darwinismo exagerado. Os acerbados criticos do grande pensador teuténico pouco aludem a ésse aspecto de sua doutrina, aspecto que é acaso o mais belo e o mais profundo do setor em que éle aborda os fatos correlatos com a posicéo -geografica. Ao passo que fisicamente cada pais (ou cada regiao, ou até, cada coro) quase independe dos demais, circunvizinhos ou distantes, cada sitio est4 segundo a teo- ria da posicdo politica, influenciado, de modo permanente por muitos outros sitios particularmente os mais proximos, os vizinhos. Cada estado é como um astro que percorre sua orbita no firmamento. Seu movimento é a cada passo comprometido pela aproximacao de outros. corpos celestes que exercem atracdes multiplas. Isso quer dizer que em geografia humana as forgas fixadoras dos fenomenos de posicao so de multiplicidade e variabilidade a bem dizer infinitas. Dai a instabilidade e de certo modo a surprésa dos fatos humanos em geografia, fatos humanos ésses na maioria dos casos subordinados ao fenémeno basilar da situagdo em geral e da situagdo politica em particular. Bisse campo da “influéncia das situacdes politicas” 6 de grande uberdade. Foi, quando 0 arava com intensificado esforeo em nossas meditacdes antropo- ‘geogrdficas, que formulei a lei “do nivel de cultura” (divulgada em 1926 ‘em Notas Prévias) lei que, como dito entZo e se vé do exposto neste comentario nada mais é do que um corolario do pensamento fundamental de Ratzel. Verifica-se, assim, que a teoria da posicdo politica, apanagio da geografia ratzeliana, é a melhor prova da nao subordinacag estreita a um determinismo ferrenho, por parte do criador da geografia humana. eR A ésses dois fatos geograficos — espago e situagdo ou posicdo — esclare- eedores do conceito fundamental de localizagdo, é licito ajuntar um terceiro, complemento daqueles. Quando, para relembrar ainda uma vez o exemplo apresentado, quando se passa a esctitura de um terreno, depois de localiza-lo, pela sua situagao e pelo ‘seu.tamanho, em regra se o descreve e se o individualiza indicando o que COMEN TARTO: 408 -possui, Essas riquezas, que’ sio o valor mesmo da terra, formam em conjunte 0s dominios do proprietario. Constituem, portanto, fato, geografico de- rele= vancia, por-serem inerentes aquéle dado. pedaco de ‘terra. De longa data j4 a geografia tomara conhecimento dos fatos dessa tercéira categoria, pela qual Kjellén, em feliz inspirac&o, sistematizando-a, cémpletou as outras idéias da’ concepcao ratzeliana. Assim € que de longes dias a geografia fisica estuda a natureza geolégica do solo, o revestimento- vegetal, os acidentes de perfil dos rios que geram.as quedas d’dgua, essa hoje em dia importante fonte de energia. A geografia humana, por seu lado, também de tempos afastados, inclui no rol de suas medita¢des os fatos geogréficos de dominio. Sob o: titulo de geografia econémica é. que ésses conhecimentos vém sendo estudados pelos téenicos'da nossa ciéncia. A subdivisio do setor dominio est4 pois claramente indicada pelos trés reinos naturais: mineral, vegetal e animal, acrescidos de um quarto capitulo Feferente as fontes de energia que sio também riqueza territorial de natureaa especifica. Os fatos geograficos: de industria, de agricultuta, de pecudria, de mineracio,- de comércio, deixam-se incluir dentro do fato mais géral de.dominio geografico. Os fatos gerais de circulacéo qué como dito acima, devem sem dtivida figurar como peculiares ao espaco, pois sio movimentos de populacdo, podem ser também sumariados, quando se os encara pelo lado econémico, como uma das importantes parcelas do fator dominio. eo Como tera visto o leitor dentro dos tré$ conceitos acima aprésentados: espace, posicéio ou situagdo.e dominio, se encorporam todos os fatos da geografia. Dentro da légica-e do bom raciocinio, so portanto, considerados ‘como os con- ceitos fundamentais da 'geografia, como ésses trés conceitos correspondem a um certo numero de fatos, podemos, forcando um pouco a expresso, chama-los de fatos fundamentais da ciéncia da localizacdo, isto é, da geografia. Correspondem, além disso, 4s.trés grandes chavés de classificacio-da antro- pogeografia, habitualmente aceitas pelos tratadistas. Os fatos dé espago equivalem, em linhas gerais aos da geograjid politica. Os fatos de posicéo ou situagéo correspondem, em sua’ maioria, & geografia social, isto 6, Aquilo a que muitos reservam o nome de geografia humana pro- priamente dita. 08 fatos de dominio sio, quase sempre, de gedgrafia econémica. BRR , 5° Brcclsar do alguma informasio sdbre a geografia do Brasil, diriia-se ao Conselho Nacionat de Geografia, que o atendera pronta e satisfatoriamente. | — Mapa Florestal do Brasil * Gowzaca DE Campos Ir CAMPOS _A cér amarelo-clara representa a vegetacdo campestre. A palavra campo, no seu sentido mais amplo, significa para nds todo o terreno que nao tem mata. Assim compreenderia também as areas em que a mata tem sido destruida. O mapa, entretanto, para aplicar a.cér convencional exige outra condicdo: que © terreno nunca tenha sido revestido de mata. A grande variedade de climas, de solos e de outras circunstancias tem determinado um grande nimero de tipos de vegetac&éo campestre, imprimindo a cada um déles uma fisionomia especial. Procuraremos apontar alguns dos principais que foram incluidos na convencao de campos. . _ a) — As campinas Este grupo compreende as areas em que predomina a végetacio de gra- mineas e plantas herbaceas, sem .contudo mostrar na maioria das espécies os earacteres de adaptacao ao xerofilismo. A mor parte séo campos de varzea ou inundacao; distribuem-se’ pelas baixadas ao longo dos rios mais volumosos @ acham-se incluidos como manchas de menor ou maior extensdo nas areas das grandes divisdes dos grupos A, B, Ce D das florestas da primeira convencao. Muitas vézes constituem estreitas faixas por detras das matas ciliares. Quando maiores, sio cercados de mato na periferia. Nas enchentes, no geral, ficam co- bertas de agua, com pequenas elevacées (tesos), para onde foge ‘0 gado. Entao, freqiientemente, néles entram as plantas aquaticas que vém descendo arrastadas pelas grandes correntes: agua-pes, mururés e damas-do-lago. Nas vazantes a mor parte desta vegetacio fenece; e entao vingam os capins, quer bravos, quer de pasto, os juncos, as aningas. : Os exemplares mais desenvolvidos e tipicos désses campos de inundacio encontram-se ao longe do curso do Amazonas até a sua foz na ilha de Marajo, nas proximidades das costas do Para e do Maranhao. Sao caracterizados no geral pelo pequeno niimero de espécies vegetais, em contraposi¢ao com a flora varia- dissima dos campos secos dos planaltos do Brasil. Como principais désse tipo apdrecem no mapa: as campinas entre o Jutai e o Jurua, entre o“Coari e o Purus, entre o Ituxi e o Madeira, as que ficam a leste do baixo rio Negro, as da barra do Jamunda, as da boca do Trombetas e as que ficam entre os cursos inferiores do Trombetas e do Jatapu, as da barra e curso inferior do Tapajos, e as do Uatuma, do Paru, do Jari e as da boca e paixo curso do Xingu, as do Araguari, e as que se estendem pela costa da,Guiana brasileira até o cabo Orange; as vastas campinas da ilha de Marajé, as da foz e parte baixa do Tocantins e algumas de menores dimensdes nos pequenos + N.R.: Q Boletim n.° 9, ano J, referente ao més de dezembro de 1943 estampou aL parte do presente trabalho em que © auto? estuda “As Convencoes” e “As Matas”. A parte final sera publicada no Boletim n° 17, ano Tl, correspondente ao més de agésto proximo. TRANSCRICGOES 405, rios que vao'ao mar na costa paraense. No Maranhao as campinas do Pericuma, do rio Aura e do baixo Pindaré, as compreendidas entre o baixo Mearim e 0 baixo Itapicuru-e as que se éstendem entre o rio Monim e 0 rio Parnaiba. Considerando as matas de varzea do Amazonas, vimos’como estas se-dife~ rentiavam: no. curso baixo do. rio, com ‘as aluvides nfais volumosas é ricas for- mavam.as pestanas dos rios-e igarapés com suas matas..ciliares, indo apenas os sedimentos, mais finos de areia e argila contribuir-para 0 aterramento vaga- roso, das depressdes. laterais onde se desenvolvem as eampinas. Vimos ainda como, com 0.divagar das grandes correntes, se formam os grandes lagos laterais, E se considerarmos que ésses mesmos fendmenos se repetem em larga escala para todds os afluentes, principalmente perto das embocaduras, onde vao con- tribuindo para elevar o nivel da grande depresséo pantanosa, teremos mais ou menos explicada a origem das campinas, cuja vegetacdo especial também, segundo os botanicos, esta de acérdo com ésses fatos. As campinas ocupam as grandes depressées laterais, antigos leitos, que os rios estéo aterrando ou tém aterrado. Se as areas do leito abandonado sao estreitas, 08 germes da floresta se propagam, e se desenvolvem as matas alagadicas. Se ‘a faixa destacada pelo novo curso é muito grande, a mata so sé pode desenvolver em térno e.a grande area de insolagao e de inundagdo repetidas sé permité.a vegeta¢ao da campina. © professor J. Huber assim explica essa formacdo especial. Estudando ‘os campos dos pequenos rios da ‘costa do Para a, leste do. Amazonas, nota nos do- alto Coatipuru, que em imuitos-pontos ainda avancam éles’em continuidade até a margem do tio; em outros pontos; porém ja se formou a. pestana coberta prin- cipalmente de juquiri, embatiba, faveira, trapid, munguba, mamorana, jurubeba. No tempo-das chuvas: as campinas inundadas estéo cobertas de plantas aqué- ticas. Na séca, o capimi de marreca é 0 mais abundante e quase o Unico, a excecio do barba-de bode (Eragrostis reptans)*. A pobreza dessas campinas,em espécies vegetais déve-ser atribuida 4s repetidas queimas e freatientacdo pelos animais, de modo que apenas resistem as que se reproduzem. pelas raizes vigorosas e as qué com espinhos se defendem dos herbivoros. -Testemunhas oculares afirmam que antigamente ésses campos eram ricos de‘¢apins. altos, abundando'o arroz Bravo (Oryza sativa) € 0 andrequicé (Leersia hexandra) .~ No baixo Coatipuru os.campos tém conservado melhor as associacdes vegeta~ tivas naturais; ha capins altos de um metro e outras monocotiledéneas. Encon- tram-se’ ali grandes plagas cobertas de junco, carid, aruma-rana (Thalia geni- culata), espadana (Typha domingensis).. * : No referido trabalho, que: estamos resumindo, os Drs. ,K. von Kraatz- Koschlau- e“ Jacques Huber-chegam a interessantissimag cohclusdes dos’ seus estudos em-relacao a ésses campos que vimos enumerando ao longo e no estuario do Amazonas. : : ‘Bsses campos, cuja formacdo data da época tercidria, e ainda hoje conti= nuam a subsistir e a desenvolver-se, ocupando os lugares. abandonados pelos antigos leitos da drenagem, correspondem As-savanas do curso inferior das cor- rentes da Guiana; os pampas, da boca do rio da Prata, tem a mesma origem e os, Uanos, da Venezuela, drenados pelo Orinoco e seus afluentes, devem caber no mesmo grupo. : + ‘Também os campos-cerrados, campos altos, campos do planalto do Brasil Central podem ser admitidos como campinas' das varzeas e das embocaduras dos rios provindo das-matas pela secura crescente do solo, e gradual empobre- cimento das florestas.* Mas éstes sao de idade geolégica mais antiga. E assim se explica a relativa pobreza em espécies yégetais dos campos. de rios que recrutam as suas espécies nos remanescentes da vegetacdo ja reduzida das margens, enquanto’ que os campos'do planalto tém sya flora variadissima, como resul- tante das trarisformacées da riquissima e complexa constituigéo das florestas, durante um periodo muito mais longo. 2 Msses campos’ de dimens6es relativamente pequenas, em melo da regifio das metas nia. figuram no mapa. e 2 Temos sempre empregado os nomes vulgares dos vegetais. Aqui. coplamos maquinalmente alguns nomes botanicos, quando a nomenclatura vulgar ¢ essenclalmente local e confusa. ~ ,~ \ sipdim abono, citam Warming — On the vegetation of Tropical Amerlea-Botenieal Gazette 406 BOLBTIM GEOGRAFICO Warming, na sua Flora da Lagoa Santa, admite uma diferenga essen- cial entre os pampas do sul e os Zanos da norte de um lado, e os campos do Brasil Central do outro. Os primeiros, muito mais planos, despidos de arvores, tém uma vegetacio graminacea também muito mais pobre; parecem agora acusar um certo enriquecimento; cita Sachs e Sievers observando que os Uanos de hoje mostram mais arvores e até, em pontos, tendéncia para matas, enquanto que eram despidos no tempo de Humboldt. “Estou mais inclinado a admitir que o solo dos Hanos que num. periodo geo- Jdgicamente pouco remoto certamente era fundo do mar, ainda esta em formacéo hatural e progressiva, e que incessantemente se enriqueceré com Arvores, até ser aleancada uma certa densidade como nas savanas da Guiana e nos campos brasileiros”. Comparando as descri¢des de Schomburgk das savanas guianenses, Warming encontra a maior semelhancga com os campos do Brasil Central. “Designo as savanas da Guiana e os campos do Brasil como duas espécies, floristicamente de certo diferentes, mas de uma e mesma formacao vegetativa — a formacao das savanas”. Estudando a flora da ilha de Marajé, 0 Dr.’ Huber encontra um tipo um tanto diferente na vegetacdo, uma. influéncia notavel da flora das Guianas. Enquanto nas Guianas as floras do litoral e dos campos interiores se desta- cam. acentuadamente, na ilha de Marajé aparece uma formacao intermediaria entre essas duas, mostrando infiltracéo dos elementos campestres provindos das Guianas. S&o também campinas inundaveis, admitindo vegetacdo aquatica nas cheias. Na séca, essa vegetacdo limita-se as baizas, que ainda conservam alguma agua. Nos ¢esos, ondulacées mais altas que nao sofrem a inundacio, bem como a margem dos rios e igarapés a vegetacio concentra muito maior numero de.arbustos € de arvores. Nos campos cita, entre muitos outros: Arroz-bravo (Panicum ?), Capim de marreca (Paspalum conjugatum. Bere.) , Paspalum pusillum Vent., Junco-bravo (Cyperus nodosos, Willd.), Capim de rosa (Cyperus surinamensis. Rottb.), muitas espécies dos generos Cyperus, Eleo- charis, Rhynchospora e Scirpus, Arapari (Vouapa acaciaefolia. Benth.) » Muruci (Birsonima crassifolia, Kunth.), alguns Paepalanthus, diversas. espécies de Jussioea, algumas Schuiteria, Cargueja (Hydrolea spinosa, L..), Gerardia hispiduia, Mart, algumas Herpestis, Perpétua do campo (Borreria scabiosoides. Cham. e Schlecht.), Limnossipanea spruceana, Hook.), etc. - Nas baixa: Partasana (Typha domingensis, Pers.), Arroz (Oryza sativa, L.), Canarana (Panicum amplesicaule. Rudge.), Panicum appressum. Lam., Capim da Colonia (Panicum numidianum, Lam.), Capim de Angola, que também chamam Cana- rana, (Panicum spectabile. Nees.), Canarana (Paspalum repens. Berg.), Piris, Juncos e outras ciperaceas dos géneros Eleocharis e Scirpus, Aninga (Montri- chardia arborescens. Schott.), Mururé (Pistia stratiotes. L.), Eichornia natans. Beauv.), Arumd-rana (Thalia geniculata, L.), Juqueri-manso (Neptunia olera- cea. Lour.), ete. . Nos tesos e beiras de rios: . Grama_ (Dactylostenium aegiptiacum. Willd.), Capim_membeca (Andro- pogon virginicus, L.), Eragrostis Wahli. Nees.), Taboca (Guaaua angustifolia. Kunth.), Capim da terra (Panicum) , Paspalum paniculatum. L., Arroz do campo (Trachypogon polymorphus), Capim manso (Poepalanthus Lamarckit, Kunth.) , Heliconia psittacorum. L., Embatiba (Cecropia leucocoma, Mig.), Apui Curupita (Urostigma), Ariticu (Anona palustris. L.), Cupuda mitda (Couepia bracteosa, Benth.) Uchi-rana (Couepia), Ingé de fogo, Juqueri (Mimosa asperata, L.), Mandubi (Cassia diphyla. L.), Mata-pasto (Cassia marginata. L.), Jutai-rana (Crudia parivoa. D. C.), Morcegueira (Andira inermis H. B. K.), varias Cen- trosema, Canaria (Crotalaria maypurensis. H. B. K.), Mucund (Dioclea lano- carpa Mart.), Aturid (Drepanocarpus lunatus. Mey.), Anil (Indigofera anil L.), TRANSCRIGOES 407 Pitomba (Simaba guyanensis. Aubl.), Brew branco (Protium heptaphyltumt; Aubl.), varias espécies de Murici, Cajucara. (Stigmaphyllum), Ortiga (Jatropha urens.'L.), Curupité (Sapium biglandulosum. Aub.), Timbo (Paullinia pinnata. L.), Algoddo bravo Hibiscus furcellatus.“Desr.), varias espécies de Sida, Suma ma’ (Ceiba ‘pentandra. L.),-Munguba.(Bombax munguba. Mar.), Mamorana (Pachira aquatica.’ Aubl:)' Jeniparana (Gustavia augusta. L.) ; Laranja do mato (Cassipourea giujanensis.. Aubl., Tatajuba do campo’ (Cassipourea), Folha dourada (Aulomyrcia cuprea. Berg.), diversas espécies de Eugenia, Cuia-rana (Terminatia tanibouca. .Smith.), Murta (Mouriria guyanensis..Aubl.) e outras: melastomaceas. Macaco- cipé (Marsdenia),..Batatéo (Ipomoea_ pentaphiylia. Jacq.) € outras Ipoméias, Parapard (Cordia umbraculifera: D. C.), Tarumd @ diversas outras Vitex, Sdlvia de Marajé e-diversas espécies de Hyptis, Purui, varias espécies de. Alibertia; Papa terra, varias espécies de Basanacantha. - * ‘No Maranhio os.campos da regiéo dos lagos compreendida entre os rigs Turiacu e Pindaré, denominados campos de S40 Bento, de Pinheiro, de Cajapié, de Viana, sao campinas da mesma natureza e formacdo vegetativa. Inundain na época das chuvas, ficando apenas descobertos alguns tesos com sua vegetacao arbustiva e arborescente fraca, mas, com o chao revestido. de gramineas e dé ervas que fazemi o recurso para o gado ne&se tempo. Nos campos sao principal- mente capins, juncos e tabuas, com .a vegetacio muito proximamente a mesma descrita para as campinas do vale do Amazonas. Os campos de“Anajatuba, perto da foz-do rio Mearim, sio também campos inundaveis, onde um lencol d’agua de dois a trés metros de-profundidade -permite navegar por. grandes extensoes. Na séca, a argila depositada forma. espéssa camada, que, pela retracao apresenta grandes fendas entrecruzadas, destacando paralelepipedos que constituem a torroada. Onde com a argila sedimentou-se grande proportao de humus, desenvolve-se rapidamente a vegetacdo, principal-- mente de gramineas tenras (capim mimoso), qué constituem excelentes pastagens. Ao lorigo de todos os grandes rios, quer na zona de terras mals baixas que sé aproximam -da costa, quer fo planalto, desde que os seus cursos se’ estendam em planicies, abrindo-se em grarides varzeas, reproduzem-se tais condicées de’ sedimentacao e forniam-se as campinas. © rio Doce, depois. de entrar no Espirito Santo, para baixo de Pérto do Sousa, principalmente entre a barra do rio Pancas e Linhares, percorre uma zona. aplainada, onde ainda’ subsistem numerosos lagos e lagoas, tda.coberta de campinas dessa natureza. O mesmo: acontece, ‘no baixo Paraiba, desde Sao Fidélis até:para baixo de Campos. Outra.regiao caracteristica,.porém j4 no planalto, é a depressio quase niy slada, posta entze as duas muralhas da Mantiqueira e da serra do Mar. Ai, na mesma calha mas com direcoes ‘opostas, correm os vales’do alto Paraiba ¢- do. alto Tieté por sobre a’ extrema varzea cujo terrapleno comecou na era tercidria e o trabalho de aplainamento vem-se prolongando até hoje. Os lagos‘onde se depositaram ja5 argilas, os calcéreos, os’xistos betuminosos e as areias do tempo terelario, estdo hoje cobertos de campinas..No Paraiba comecam estas em Bocaina e ¢hegam até Jacarei na volta brusca em que o rio toma orientacad oposta, & que trazia. No Tieté vao desde Mogi das Cruzes até & zona das cachoeiras que principia junto & vila de Parnaiba. Em alguns lugares a varzea inunda.com a expansdo das enchentes; ai se encontra entao a vegetacio. caracteristica das plantas aquaticas, dos juneos, das: tabuas. No geral séo os campos cobertos de vegetacio herbacea e de sub-arbustos. Nos tesos e nas pestanas’do‘rio é a vegetacao arborescente de tipo especial, ara formando capdés no meio do campo, ora as matas ciliares. & nas depress6es. dessas varzeas que iltimamente se tem feito com a maior vantagem a cultura sistematica e em larga escala do arroz. = Em getal o°solo mais ‘ou menos tmido esta coberto de um tapéte de gra- mineas'e de vegetagio herbacea.. As gramineas, além das verdadeiras gramas deitadas, consistem principalmente de diversos tipos dos géneros Paspalum, Panicum Andropogon; nas margens das, estradas e nas lombas 6 muito fre- qiiente o capim barba-de-bode. (Aristida), Martius cita, entre as ervas, arbustos’e sub-arbustos das campinas do Paraiba: Compostas: Wedelias, Vernonias (assa-peize), Bidens: (picéo), Ambrosia artemisiae-folia, e outras; Melastomaceas: Rhezias e algumas herbaceas; Eufor- bldceas: Cnemidostachys, Tragias, Crotons (Velame); Rubidceas: diversas es- 08, BOLETIM GEOGRAFICO pécies de Declieuzia, e muitas outras; Papiliondceas: Sweetias, Clitorias, ete Mimosaceas (sensitivas); Malpigiaceas:. muitas espécies de Banisteria, Gat dichaudia e outras; Asclepiadaceas: Oxypetalum; Apocindceas; Verbendceas; Umbeliferas; Ocndceas; Araliceas e dé muitas outras familias. E refere entre as arvores esparsas nas campinas, ou reunidas em capées, ou mas margens do rio: Melastomaceas; Mirtaceas (psidium); Voquisidceas:, Vochysias, Qualea, Sal- vertia; Anondceas; Malpigiaceas;, Ternstroemiaceas: Laplacea (pau de séo josé), 6 outras; Anacardiaceas; Schinus (aroeira): Mirsinaceas; Mimosaceas; Casalpinaceas e muitas outras. Desta curta relac&o, vé-se que aqui j4 se apresentam alguns tipos, como as Voquisidceas, caracteristicos dos campos secos (campos-cerrados) dos planaltos do Brasil Central. Dois outros rios importantes, 0 Araguaia~Tocantins, e o Paraguai, com grande nurero de seus afluentes orientais, tém vastas extensdes dos respectivos cursos em zonas aplainadas e de pequena altitude. Nas suas margens abrem-se grandes campinas que .pertencem a formacado que vimos descrevendo. Nestas porém 0 aterramento vai mais atrasado; durante cérca de meio ano ficam quase total- mente debaixo d’Agua: sio os pantanais, indicados no mapa por uma conven¢ao especial; e assim déles trataremos separadamente. b) — Campos do sul © tipo de vegetacio campestre mais desenvolvido é 0 dos campos-cerrados, com suag variedades. Em todos os planaltos da vasta regido central do Brasil tropical estende-se em largas reas essa formacao vegetativa em que predo- minam antes os arbustos e as arvores ands. A medida que se. avanca. para sul passando da regio tropical para sub-tropical, sofrem os campos uma grande diferenea: 0 nimero de plantas lenhosas diminui, e mesmo os individuos tor- nam-se de mui pequeno porte, ao mesmo passo desenvolvem-se as gramineas toraando-se predominantes, nao pelo ntimero de espécies, que é muito mais reduzido, porém pelo numero de individuos, e também pela altura déstes. A contar da parte sul e sudoeste de Si0 Paulo comeca esta transformacao que val crescendo para sul até apresentar-se tipica na campanha do Rio Grande do Sul. Lindman estudou profundamente a flora do Rio Grande do Sul, levow sua penetrante observacio pela Argentina, principalmente pelas provincias de Corrientes ¢ Entre-Rios, pelo sul do Paraguai e pelo Gran-Chaco. Das suas descrigdes tomamos os seguintes apontamentos sucintos. , ‘A transformacao da regido campestre do tipo tropical para o tipo temperado & caracterizada pela grande redueao do numero de espécies. Lindman cita 0 género Aristida, reduzido & quarta parte, e o género Paspalum a quinta parte do mimero das espécies existentes nos campos tropicais. Em compensagao 0 niimero de individuos e o seu desenvolvimento crescem muito. Ha diversas associacdes floristicamente distintas dentro dessa formacéo meridional. Porém mais importante, e que pode ser tomada como tipo, é a dos campos paledceos, caracterizada pela abundancia de gramineas plumosas e de Compostas, com elementos que se distinguem por grande soclabilifade, formando grupos purds, como nunca se os encontra nos campos tropicais. As gramineas sdo altas e rigidas e distribuidas em grandes soqueiras de andropogondceas. Sao os campos de palha (espécies grandes de Paspalum), e de macega (espécies de Erianthus) . © resto da vegetacdo herbacea e de sub-arbustos mostra o tipo das vassouras; sdo plantas ramosas de félhas muito pequenas ou sem folhas guaxumas, carquejas, quinas do campo (Sida, Baccharis, Discaria) . Lindman distingue outro tipo de campo, o sub-arbustivo, acusando uma vege- ta¢ao muito mais pobre. As gramineas, ervas e sub-arbustos sao todos de tipo muito pequeno, em geral de colmos e caules deitados, formando um tapéte duro de caules e folhas aderentes ao chao; dai levantam-se caules e colmos erectos, mas que raramente atingem a altura’ de 30 centimetros. As gramfneas principais si0: Andropogons, Aristida, Briza, Eragrostis e Paspalum; ocorrem freqiientes Juncdceas € Ciperdceas. Entre as ervas e sub-arbustos sobressaem.as Amaran- tdceas, Compostas, Rubidceas, Melastomdceas minusculas e outras. Os érgaos TRANSCRIGOES 409° subterrfneos séo relativamente muito: desenvolvidos, constituindo’ tubéreulos ‘é troncos duros, que.lembram de algum modo os zilopédios dos campos-cerrados. Também 0 solo onde vingam ésses campos 6 de uma argila dura e séca, abun- dante em pedregulho, em pontos de um batro areento muito endurecido. Os'campos.sub-arbustivos desenyolvem-se de preferéncia nas encostas e nos altos mais: secos. das lombadas; os paledceos nas baixadas compreendidas entre ‘as lombas e principalmente em tédas as.extensdes mais aplainadas e. protegidas do, vento, onde as sementes dos capins plumosos se conservam e’ disseminam. E, como’a campanha.do Rio Grande é mais aplainada para a parte de sul © de sudoeste, é justamente para ai que dominam, os campos paledceos, tie cons- tituem 0 verdadeiro tipo_predominante’ naquelas regides. -Principalmente na parte'mais meridional do Estado, na zona compreendida entre os rios Jaguaraio e Piratinim, encontra. Lindman 2 maior semelhanca com os pampas da Argen- tina, semelhanca esta igualmente acusada em''todos os campos’ paledceos. Os yentos: mais intensos no Rio Grande sao o& que _vém do sul e-de sudeste. Por éssecaminho teriam vindo os-germes da vegetacio dos pampus até as planicies baixas do Rio Grande, Assim, os campos do sul ficam limitados em ‘sud idade & das formacées. dilu- viais pampeanas: Se nfo sio tao novos como as campinas ainda hoje em cons- trucao continuada, nfo podem por modo algum aspirar 4 idade madura dos campos-cerrados do planalto. Campos da ,Vacaria — .Arrojado Lisbga- descreye os campos do planalto sul.de Mato Grosso que ali constituem uma grande area de excelentes pasta- gens, 0s campos. da Vacaria, onde a criaeéo do gado prospera com as maiores vantagens desde muitos anos. Comecam ‘éles em faixa estreita no meio dos eerrados que revestem os altos divisores entre o rio’ Parané ¢ o Paraguai, cérca de Campo Grande.. Desenvolvem-se para sul ganhando ‘em “expansao pelas en- costas dos vales, & medida que o terreno se vai tornando: mais baixo e aplai- nado, ficando. entao somente nesgas de cerrado. nos ‘estreitos espigdes mais elevados. De espaco a espaco, encontram-se nos espigdes pouco acentuados ranchas de campos em parque, os campos arbéreos, que lembram muito 0 tipo go fari- nal nos Estados do Sul: sébre um chao revestido de gramineas levantam-se Arvores de bom ‘porte,e grandes copas,—.capitdo, paratudo, barbatimdo, ete. Os Campos da Vacaria séo formados de gramineas deitadas ou asceriden- tes, ervas ¢ sub-arbustos, com todos os caracteres dos campos sub-arbustivos que Lindman’ estudou na .campanha do Rio.Grande do Sul. Os verdadeiros campos paledceos tém»aqui.menor importancia; s6‘se encontram atualmente nos lugares mais altos abandonados pelo.gado. Entretanto devia ter sido ésse © tipo primitive do campo. Com a freqiientacio ‘pelo gado, e as repetidas quel- mas, visando estabelecer melhores pastagens, os: campos paledceos se foram transformando em campos sub-arbustivos de-gramineas mais tenras. Tem ha- vido ali uma certa acéo do homem.no aperfeicoamento das ‘pastagens. Os criadores da regio consideram.o.capim flecha e a macega como tendo sido a primitiva coberta désses campos, depois complejamente destruida ¢ substituida principalmente pelo capim branco felpudo, e mais tarde pelo. mimoso, que nas terras fortes, @ nas proximidades das -habitagdes, ou nos lugares mais prote- gidos, dé lugar as gramas. Também no Rio Grande do Sul os campos paledceos trabalhados e trafe- Gados pela criacio passam aos sub-arbustivos de forragens mais macias. Na regido da Vacaria a graminea predominante e a mais resistente 6 0 capim branco felpudo (variedade de Andropogon); vem depois 0 capim mimoso Panicum capillaceum. Lam.) muito mais valioso, porém menos resistente as sécas e's queimas. A.estrutura geolégica’da exténsa regiio é de grés tridssiéd- em alternacdo com trapps que’ fornecem, em pontos, grandes manchas de terra roxa; mas os campos da Vacaria’ desenvolvem-se principalmente ‘sdbre um solo: aluvionar resultante da mistura dos detritos do grés e da rocha eruptiva. Assim pois ésses campos devem ser incluidos no grapo'dos campos do sul. Representam ainda ds tracos de influéncia da vegetacdo: dos pampas. Seria. o extremo mais avangado para norte (cérea do paralelo de 21°) até onde a. in- 410 BOLETIM GEOGRAFICO fiuéncia da vegetacdo sub-tropical se faz sentir invadindo os dominios de maior aridez das formacoes tropicals mais antigas dos campos cerrados. E as cir- cunstancias mais favoraveis para isso so: o clima temperado da regiao; as chuvas regulares e bem distribuidas durante a ano, donde uma abundante réde hidrografiea de cursos perenes e de regime pouco’ variavel; e a constitui¢do do solo enriquecido pelos produtos da decomposicao do trapp. Por todas essas condigdes, aquela regiio se apresenta de grande riqueza na atualidade para a criagdo, e de um futuro ainda mais auspicioso para a exploracio agricola de uma série de produgdes, entre as quais a do trigo se acha indicada como das mais prometedoras. ‘Campos gerais — Esta denominacio tem sido aplicada a diversos tipos de campos, estendendo-se aos campos limpos e mais elevados, de Minas Gerais como aos da Bahia e de quase todo o interior do Brasil. Aqui nos referimos to sdmente aos campos sub-arbustivos que ficam para sul do tropico. Vimos que desde 0 sul de S40 Paulo comeca a modificacdo no tipo dos campos: diminuiedo em nfmero e tamanho das plantas lenhosas e aumento em nimero de individuos das gramineas, com uma tendéncia geral para a for- macio de associagoes mais puras, tendéncia que alias se manifesta em tda a vegetacio. es ‘Com o decreseimento das plantas lenhosas, vingam cada vez mais os campos paledceos e os sub-arbustivos. & prineipalmente no Parana que esta formacéo dstenta grande desenvolvimento. Uma faixa extensa, que, ocupa o primeiro planalto do Estado, limitada a leste pela serra do Paranapiacaba e pelos altos a serra do Mar, ea oeste pelas elevacdes da serra das Furnas e pelas encostas da serra da Esperanca, vem desde as divisas de S40 Paulo, até encontrar com as matas do rio Iguacu. Os planaltos dessa regido, com a altitude-de 700 a 1 000 metros, com o seu clima famoso pela benignidade, receberam especial- mente o nome de campos gerais. Infelizmente nfo temos ao alcance nenhum trabalho especial dos bota- nicos modernos e somos obrigados a recorrer as observacées vallosas do notavel Saint-Hilaire. ‘Sao as gramineas que formam _o conjunto dessas pastagens naturais. AS outras plantas variam naturalmente entre diversas localidades. Sobressaem, entretanto, Verndnias, Mimosas, uma Convolvulacea, a Composta vulgarmente chamada charrua, uma Verbendcea, uma Cédssia e uma Labiada, um Eryngium e outra Composta. O nimero de espécies nos campos gerais é antes bem limi- fado, Ha algumas que nao se encontram na zona tropical. Por cima da serra das Furnas (Fazenda de Caxambu), hé campos-cerrados como em Minas € Goids: entre as ervas e sub-arbustos désses cerrados ha muitos que sdo comuns aos da zona tropical. Pode-se dizer que a flora dos campos gerais tem algu- mas relacoes com as da campanha do Rio Grande do Sul, porem as tem mais intimas com a dos campos mais para norte. Descrevendo a viagem por Sao Paulo, até Sorocaba encontra campos-cerrados. Dai para sul, até os limites de $0 Paulo, no Rio Grande do, Sul, Uruguai e Buenos Aires, sio somente campos herbaceos. Comparando as floras de Golds e do sul de Sao Paulo, encontra nesta muito mais Papilionaceas. Em Sao Paulo predominam: Compostas ¢ Papiliondceas; em Goids: Compostas, Mirtaceas, Labiadas, Acantaceas e Melastomaceas. Em todo caso, ésses campos gerais estendem-se para sul através de Santa Catarina, até o planalto que constitui a metade setentrional do Rio Grande io Sul. Para esta Ultima regido temos os estudos de Lindman, a que sempre recorremos. Os campos do planalto sio muito mais acidentados do que os da campa- nha; mas as condigées climaticas so proximamente as mesmas, talvez um tanto mais chuvoso o planalto. A zona mais chuvosa é a faixa escarpada leste- oeste que descarrega volumosas 4guas nos rios Jacui e Ibicui e ¢ toda coberta de matas. Na ‘barra do Rio Grande a média de nove anos acusa 911 milimetros de precipitacdo, sendo que as chuvas de inverno foram sempre muito mais fortes que as de verao. , TRANSCRIGOES an As observagées em Pelotas indicam uma grande irregularidade: de 691 a 1-330 milimetros. Em Cachoeira, em 1890, 1 047 milimetros, em 1891, 1 463 milimetros; ¢, além disso, grande irregularidade na distribuigéo pelos meses do’ ano. ~ Em ‘1887, observou-se: mm. Barra do Rio Grande 886 Pelotas . 691 Bagé . 156 Cruz Alta . 2 021 Cruz Alta fica em cinia da serra, j4 no meio do planalto, na altitude de:46& metros. Nesse ano predominaram as chuvas da primavera'e do verao. “‘Tais irregularidades, diz Lindman, originam-se,provavelmente da situacéo do Rio Giande entre uma regio ao norte, com chuvas estivais predominantes:e outra ao sul (Uruguai-Argentina) com chuvas hibérnais. Dentro da regido cam~+ pestre as chuvas continuadas ja aparecem as vézes em Yhaio, provocando gran-" des enchentes. nos rios e inundando grandes extensGes das planicies. A diferenca de altitudes é bastante considerdvel entre a,campanha e 6 pla- nalto. Na campanha a cota de 400 metros aparece como raridade, apenas em’ algumas das elevacoes a sul'e a sudeste; pode-se dizer que todo o territério fica’ abaixo de 200 metros. No planalto, principalmente na metade oriental, as alti- tudes vo de'500 a 1 000 metros; para. geste vai éle descaindo muito até a costa do rio Uruguai. “Entretanto essa difereri¢a de altitudes nao basta para: produzir disseme- Thanga entre as respectivas vegetagées, pelo menos em relacéo aos campos cuja vegetacdo por sua natureza 6 propria para suportar as mudangas atmosféricas, . Vento, luz, séca;-geada, etc., dentro de limites muito latos. A grande diferenca que possa existir entre'o planalto e a campanha ‘provém da situacao de cada um em relac&o as regidés circunvizinhas, tao profundamente diferenciadas. A cam- panha tem por tras de si as grandes planicies.dos pampas e o planalto tem todo © Planalto brasileiro com sua superficie acidentada e grandes matas que, como uma réde com grandes malhas, se estendem sdbre éle por, entre consideraveis ex- tensdes de campos.’ Déste territério 0, planalto do Rio Grande é ‘uma continua- cdo direta, manchado como é com grandes aglomeracées de matas virgens (parte de arvores de fothas, parte de Araucdria), que na campanha sio representadas apenas por capées, Mas as formacdes camipestres combinam com as da planicie, tanto pelo seu carater e fisionomia como pela esséncia de espécies comuns”. No planalto riograndense.encontram-se, como na baixa os campos paledceos. A macega (Erianthus) e a carqueja (Baccharis genistelloides. Pers.), em tou- ceiras e moitas densas e altas, constituem ‘entio os elementos mais conspieuos. Os Andropogons e as Compostas (Eupatoriuns, Vernénias, Asters), diz Lindman, sio por tal forma preponderantes que, se todas as outras ervas e sub-arbustos fossem eliminados,’as planicies conservariam ainda a sua fisionomia-e natureza. Perto de Cruz Alta (em mareo) os campos.estavam cobertos por grupos de Com- postas em flor, ostentando diversas c6res, como roxo, réseo, branco, amarelo, ete. Tais grupos cram formados ‘de carquejas (Baccharis),” Pterocaulons, macela (Achyrocline) , Stevia, charruas (Eupatorium) . Algumas espécies dos dois tiltimos géneros (charruas e cambards) dio a cor geral a campos inteiros com os seus capitulos vermelhos, roxos e brancos. Algumas espalhavam a grande distancia perfumes de camomila, de baunilha, do zimbro, ete. Algumas macegas enchem os campos com uma vegetaedo cerrada, de um metro a metro e meio de altura, quase impenetravel. Outras gramineas, palhas brancas e santa-fé (Paspaluns @° Panicuns) formam: também grupos compactos, enchendo as baixadas e lugares famidos, ou mesmo os brejos. Maior disseminac&o tém os campos sub-arbustivos com a: sia grande varle- dade de vegetacio. Em certos lugares ha verdadeiras matas mintisculas de.car~ quejas ¢ vassourgs (Baccharis) ;zoutras de mirtaceas, abundando a: guabiroba do campo’ (Campombnesia cyanea. Berg.) ; outras de atecrim (Baccharis dracunculi- folia. D, C.), que & borda. das matas é um arbusto de dois a trés metros de altura,. mas ali'no campo nao excede de meio até um metro, Mesmo nesse tipo dos campos sub-atbustivos ainda aparecem as touceiras de macega, “entremeadas com as moitas de vassouras, que caracterizam os campos paleaceos. a2 BOLETIM GEOGRAFICO Assim parece que os cainpos paledceos primitivos do sul passam gradativa- mente aos campos gerais (sub-arbustivos), nao somente sob a acio do homem com as suas queimas e com o trafego do gado, mas também e principalmente, & medida que se caminha para o norte, onde o ntimero e variedades de espécies vio se enriquecendo sob a influéncia das causas que determinaram os campos-cerrados e até chegar ao predominio absoluto déstes. ¢) — Campos-cerrados No interior do Brasil uma grande Area interposta a regiao de florestas da zona equatorial, e & das matas da encosta atlantica, é de terrenos cobertos de vegetacdo fraca e rasteira apresentando aqui e ali mancha de vegetac&o arbores- cente. Esse tipo caracteristico dos planaltos interiores de clima medianamente séco, oferece muito mais desenvolvimento do que as outras diferentes formacdes vegetativas que aqui enumeramos nas vegetacoes campestres. Ocorre por grandes extens6es em quase tédas as chapadas e planaltos interpostos as principais correntés do interior do Brasil. As chapadas do Maranhao, entre os vales do Tocantins e do Parnaiba; og tabuleiros da bacia do Parnaiba, no Piauf; os chapaddes que se estendem do Sao Francisco, no oeste da Bahia, até o Tocantins e o Parana, no leste de Golds; todo o planalto de Minas, incluindo a bacia do Sao Francisco e a do rio Gran- de, até vertentes do rio Doce para leste e as do Paranaiba para oeste; todo o sul de Goias, compreendendo as vertentes do Araguaia, do Maranhéo, e as do Paranaiba; todo o planalto de Mato Grosso, com os seus divisores primarios e secundarios, quer separem aguas do Parand e do alto Araguaia das que vio ao Paraguai, quer facam o grande divortium entre os afluentes setentrionais da Paraguai e os meridionais do Amazonas, quer avancem para norte fazendo as divisérias d’Agua entre éstes tltimos, sdo'regides tédas caracterizadas por ésse tipo de vegetacdo, E ainda avanca éle, bem que com menor desenvolvimento, pelos quatro Estados meridionais, ocupando Areas considerdveis nas chapadas inter- postas as linhas de drenagem que vao aos rios Parana e Uruguai, dentro de 40 Paulo, Parana e Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, na metade seten- trional do Estado, até onde o terreno desce em escarpa para a campanha. Sébre uma drea tao extensa 6 de presumir que as variacdes de clima e solo tenham imprimido ao tipo geral da vegetacio uma grande variedade, quer na associacio, quer na predominancia das espécles. Entretanto, & proporedo que se vao fazendo estudos mais completos das floras regionais para a respectiva eomparacéo, parece antes que a diferenciacdo nao é tao grande, havendo a pre- dominancia de certos géneros e mesmo de espécies caracteristicas. Em todo easo duas circunstancias predominantes sio de geral observacio: a secura relativa do ar e do solo, acusada por caracteres. de xerofilismo muito generalizados, e a idade avancada dessas formacées, atestada no grande ni- mero de espécies que todas tiveram de sofrer adaptacdes prolongadas. Bem poucos so ainda os dados climatolégicos sobre a vasta regiéo. Consi- derando a. parte da drea descrita compreendida, entre 5° e 30° de Jatitude, poderiamos ter uma média de chuva anual de 1 200 milimetros. Nao é, por- fanto, uma zona séca. Mas o periodo das chuvas é bem destacado do tempo séco, que assim vai, conforme as localidades, de quatro até oito meses. A esta- edo séca prolongada e, principalmente a contextura fisica do solo, no geral bastante permeavel, constitui os principais fatéres a imprimir os caracteres da vyegetacdo especial dos nossos campos-cerrados. E, se ajuntarmos a maior in- tensidade da evaporac&o, provocada pela irradiacdo em superficie descoberta, aumentada pela acao dos ventos muito mais velozes; e ainda as queimas anuais que mais ressecam e endurecem a camada superficial da terra, teremos a expli- cacaéo do cunho‘raquitico e enfezado da vestimenta campestre. O Dr. E. Warming, que féz 0 estudo, seguramente o mais completo, de uma flora regional campestre na Lagoa Santa, em Minas, inclui os campos-cerrados do Brasil entre as savanas tropicais e aponta-Ihes em resumo os seguintes ca- racteres: salvo poucas excecées, todas as plantas séo perenes. As anuais pere- cem na luta com as plantas perenes de conformacao mais alta e mais densa, devendo contribuir muito as queimas dos campos que destroem as sementes @ plantas em germinagao. TRANSCRIGOES a3 Plantas bulbosas, tuberosas e as verdadeiras suculentas sio muito’ raras nos campos. E a-razao é ‘que o grau,de secura e de calor dos campos nao é tao, grande que’ obrigue as plantas a um lorigo periodo de repouso, para, o qual tenham necessidade de armazenar a agua. # justamente essa a distingdo entre os campos brasileiros e os estepes e desertos verdadeiros.- Os capinis, que-fazem a massa ‘principal da vegetaciio, sio cespitosos;. porém, em geral nao sao estolhosos. As félhas sio em gerai estreitas, duras, asperas, piloy sas, algumas vézes incrustadas.de céra e algumas séo tunicadas. As ervas perenes, bem como muitos dos arbustos @ sub-arbustos mostram um tipo especial de desenvolvimento; produzem debaixo do solo corpos lenho- sos irregulares (xilopodia), que aparentemente tonsistem em caule e raiz, mas so principalmente da natureza do caule, dos quais sé erguem rebentos nume- rosos, em geral sem galhos, ou .com poucos. © desenvolvimento cespitoso é também muito comum entre as’ espécies Jenhosas: um s6 arbusto pode estender-se sobre a’ 4rea de muitos metros qua- drados. A Andira laurifolia, pode, segundo Warming, ocupar uma 4rea até do. 10 metros de diametro. 0 Anacardium humiile (caju.do campo), que apenas mostra & superficie um verticilo de trés. ou quatro félhas de 020 a 030 de altura, derrama-se As vézes por grandes Areas, simulando individuos. destaca- dos, mas que inferiormente estao todos ligados: por ‘rgaos subterraneos, caules’ ou. raizes, de grande desenvolvimento: Liais cita-o caso. de cavar’ a profun- didade de seis metros para extrait um désses trongos. Em todo caso, 0 grande desenvolvimento dos. érgios subtérrineos da ve- getacio campestre é um fato caracteristico. Nos cortes das estradas, feltos através dos cerrados, é muito comum ver, até & profundidade de dois a tréd metros, um verdadeiro rosario de grandes tubéreulos de raizes lignificadas. Loefgren cita em Sao Paulo. a aroeirinha rasteira (Schinus _ Wein~ mannioejolius. Engl.), que raramente atinge a um metro acima do. chao é cujas raizes descem até cinco e sels. metros. As rvores s&o sempre de -porte balxo. Mesmo nos campos de vegetacdo arbérea mais densa, elas no excedem em altura & comum das arvores fruti- feras dos pomares. Sio sempre de troncos e galhos tortuosos. Este cardter. provém evidentemente da falta de umidade indispensdvel para o desenvolvi- mento dos brotos novos, causa que é multas vézes agravada pelo fato de ‘que os brotos se desenvolvem antes das chuvas. As queimas sio também de grande influéncia, carbonizando os raminhos e obrigando a novas. orientagdes o desen- yolvimento dos brotos novos. A casca é geralmente espéssa e rachada, ¢ esté muitas vézes tisnada pelo fogo."Em_todo caso a espessura da corti¢a deve estar em relacdo direta com a séca, no sdmente a inerente & natureza campestre, mas também com a in- tensificagio pelas queimadas. As félhas das plantas dicotiledéneas mostram alto grau de xerofilismio na dureza. Sdo tio duras que chocalham com o vento. A Salvertia (bananeira do’ campo), muitas outras Voguislaceas, Rubléceas ¢ Bombceas fazem ésse ruido. Outras vézes as folhas sio flexivels, mas tomam outros meios de defesa: so. tomentosas ‘em ambas as faces. No. geral sio muito pilosas e, quando glabras, cobertas de-céra ou de laca. Tipos pindides e eriedides quase nao exis- tem. Entretanto, ha muitas.espévies com félhas finas. Por sua natureza as gramineas e ‘as ciperdceas,-que constituem a maior percentagem, sao ja de folhas. estreitas. Muitas Compostas (Vernénia, Brickelia, etc.), Rubiaceas e Asclepiadaceas, tém freqiientemente-félhas finas. E’ mesmo ésse um. carater con- tra-distintivo “entre as espécies da mesma familia, segundo habitam a mata ow o*campo. Do género Manihot (manicobas) as espécies rigidula e triphylla sao campestres, as de folha larga séo florestais. Oleos etéreos sAo’freqiientes numa série inteira ‘de plantas: Verbendceas, Labiadas e Mirtaceas. Liquens, musgos e algas faltam completamente no chio: dos campos cerr: dos; e sio-muito raros nas pedras.e nos troncos das arvores. Também os cipds e as epifitas, tao abundantes nas matas, desapareceram completamente das ar- vores dos campos-cerrados. BOLETIM GEOGRAFICO A fisionoinia désses. campos -€ sujeita a. grande variedade nao" sdmente. quanto 4 altura.da vegeta¢ao, como-também quanto.4*maior ou menor propor- edo das .gramineas e plantas: herbceds perenes para as Arvores.e arbustos. Ha as vézes: grandes manehas de’ campo limpo em que as’ aryores e arbus- tos ndo aparecem;' outras em’ que as-arvores, intercaladas numa. vegetacio de 60 centimetros até um metro de altura, séo, to juntas que parecemi constituir, uma. espécie de. floresta,. mas insolada, ou'com pouca, sombra, e permitindo « um cayaleiro correr em todas. as direcdes; 'sio 08 ‘campos-cerrados, ou simples- mente cerrados. As diferencas. provém. as’ vézes da, composicao originaria ‘do solo, mais. freaiientemente, porém, do seu relévo, Nas encostas dos morros onde as. erosbes carregaram. grande. quantidade do material fino do solo, deixando maior proporcao de pedrepulho e detritos Yothosos, deserivolyem-se os campos Timpos: hao hé GrVores rem” mesmo arbustos; predominam as gramineas e as plantas herbiceas. em moitas e: touceiras.esparsas, deixando, ver entre si-man- ehas de. solo. desnudado..'Também a “altura da .coberta_vegetativa. raramente excede de 40 4.50 centimétros. Nos terrenos: mais planos, isto 6, nas baixas e nos altos das chapadas, a camada do solo mais espéssa ceria. maior densidade em rvores e arbustos;-e. ainda a vegetacio que-tapeta todo o chao, bem que proximamiente a .mriesma do‘ ¢ampo-limpo, encorpa, escondendo 0 solo € ise le- vanta as vézes até a aitura’de um. metro a um metto:e nieio. Ha verdadeira- mente pequenas. diferencas floristicas entre a vegetacio rasteira’ do. campo- impo ¢ a ‘do cerrado: Certas Orquidaceas e’ Melastomaceas -preferem os pri- meiros. Entretante, rio’ deixam de. constituir a mesma-e continua unidade. ~. Warming estudou_o' tipo caracteristico dos cerrddos na Lagoa Santa. Se> gnindo para sul, até Barbacena, encontrou’ maior soma de campos-limpos,com vegetacao mais baixa.e'tala, ¢ com menor numero de drvores. Acredita, que a vegetacio mais aberta provém da maior altitude ¢ maior: secura: as condicdes do terreno: séo um pouco. mais alpinas. Lund, caminhando. para norte} até Curvelo, observou cerrados cada.-vez, mais altos ¢ bonitos: Os éerrados da ‘Lagoa Santa cobrem‘um solo, de argila vermelha ‘resultante. da‘ desagregacao' de: xis- tos argilosos, de que, alguns sAo caleiferos. Loefgren,.em S40, Paulo, também encontra fortes'diferengas na composicio floristice’ dos campos’ e certados “conforme, a natureza~ geolégica. do solo-e & respectiva altitude. Moore, estudando gs’ campos. da chapada aleste e nordeste de” Cuiaba; onde 0 terreno € de grés'devoniano, de estratifieagéo quase horizontal, encontra a8 ‘mesmas condicoes dependentes da topografia. Na,chapada é um ‘bom’ tipo.de cerrado; nas encostas de grés vermelno-pre- domimam antes os campes_limpos; no fundo dos vales hé bons matos.ao longo das. correntes, que, muitas ‘Vvézés,.em agosto, éstao sécas. Mais para norte em’ Mato Grosso, no divisor entre o Pataguai e 0 Amazo- nas, pelas cabeceiras. do Cuiaba, pela’ do rio. das Mortes ¢ do Araguaia, pelas do Arinos e pelas do’Xingu, as éxpedicdes “dos Von..den Stéinen: fazem a mesma Gescricdo. Sobre, um. chao de grés ém estratos horizontais, éstendem-se os cha- padoes cobertos de cerrados; ‘fas encostas sio campos limpos, deixando ver ‘por espagos’o solo ow a propria‘rocha; nofimdo dos vales'sio’as matas ciliares com maior ou menor largura e pujan Assim. apresentam-se as ;condigdes' topograficas com grande “predominaricia na distribuic&o dos vegetais. Parece que'a condicdo essencial para a_existéncia do cerrado é haven uma forte, espessura de. um solo mais ou. menos. permedvel, onde “as plantas possam desenvolver 0° seu longo aparelhamento subterrineo para captacdo de Agua e da umidade de que, se embebe a-camada em t6da essa profundidade; o lencol de agua desce muito; e/a planta é obrigada a: ir-buscar hem fundo.a untidade que a evaporacdo lhe toma rapidamente na camada ‘su- perficial. E preciso que-a; Agua’ se embeba lentamente ‘durante.o tempo das chuvas, e qué a espéssa camada sirva de depositario.avarento para o supri- ‘mento da nutriedo: Se a camada terrosa’é muito pouco espéssa, imediatamente’ sobreposta: a tocha, 0 suprimento apenas pode -bastar a vegetacio fraca das gramineas e plantas herbaceas; formam-se os campos limpos..No caso em .que éxista uma ¢amada impermedvel’a uma profundidade conveniente para acumilacao da Agua, os cerrados' seréip mais vicosos, podendo mesmo passar a. cerraddes. TRANSCRIGOES. as: # notavel que apesar da enorme rea ocupada pelos campos-cerfados nos planaltos do Brasil central, na qual ocorrem grandes variedades ‘de clima, de formas topograficas e dacomposicao do solo, ofereca esta. formacio vegetativa vm alto grau de uniformidade nao somente nos seus caracteres gerais, como até mesmo na composicao floristica. As antigas e valiosas observagdes de Martius, passindo por Sao Paulo, Minas e Bahia, as de Saint-Hilaire por Minas, Golds, Bao Paulo e Parana, e os mais recentes e completos estudos de Warming, em Minas, de Loefgren,.em Sao Paulo, de Moore, em Mato Grosso, coincidem de modo admiravel quando descrevem a fisionomia e a vida désses campos, e: até mesmo quando descem.& enumeracio dos grupos.e espécies vegetais néles' mais predominantes. ae . © Dr. E. Warming diz: “Extensbes ‘vastas dos Estados interiores do Brasil, principalmente Minas Gerais, Séo Paulo ¢ Goids (a regido oreadica de. Martius) - sfio campos: idénticos aos. de Lagoa Santa, com o mesmo aspecto que éstes e muito concordantes também’ nas condicées floristicas, Saint-Hilaire, por exemplo, diz “Les plantes ligneuses éparses au_miliéu des herbes appartiennent aux mémes espéces..& Goias et 4 Minas”. © diario de Lund, e as suas colecdes de Sio Paulo, Gojas e Minas, e.as de Locfgren, de Sio Paulo, tem-me mostrado igualmente as gran- des. analogias floristicas sObre essas extensdes, ao passo que varias espécies, “que nado existém em Lagoa Santa, naturalmente aparecem e-representam papel saliente em outros lugares”, ‘A relacéo mais completa @ perfeita désses campos féz Warming na .Flora :da: Lagoa Santa, que Loefgren pos ao nosso aleatice traduzindo para o portu- gués. Dai tethos extratado e estamos respigando estas notas, lamentando deye- ras nao poder alcanc4-las sendo superficialmente. Nos campos-cerrados Warming estuda minuciosamente os trés andares da vegetacdo; o, inferior das ervas € sub-arbustos, 0 médio dos arbustos, e-o supe- rior das arvores. No primeiro avultam pelo mimero de individuos as gramineas.. Séo em geral capins baixos e em pequenas moitas: Andropogon Paspalum, Panicum; mas também ha mesmo, entre ésses tipos mais elevados (macegas) como og sorgos e'0 capim flecha; outros de grande desenvolvimento em’ Area, como Aristida (barba de bode), que pela grande resisténcia vegeta nos terrenos mais secos.e duros e, pela grande facilidade de dissemtinacao, levado pelos ventos por dilatadas zonas. Entre as Ciperdceas, que n&éo tém de modo algum analogia nem no ntmero de individuos nem na de espécies, cita os géneros Scirpus e Rhynchospora, : A segunda familia, em importancia pelo ntimero de individuos e‘pelo’'de espécies, 6-adas Compostas. Salientam-se principalmente: Verndnia (assa- peize), Eupatorium, (cambard, charruas), Baccharis, (carquejas, alecrim, erva-santa, vassoura), Isostigma (cravos do campo), Eremanthus, Wedelia, Aspilia, etc. : Imediatamente depois vém “as’Leguminosas: ‘Lupinus, Camptosema (tim- 68), Eriosema, Clitoria (espelina falsa, feijdo bravo) , Phaseolus (fetjao) , as Con- volvulaceas, grande nimero de espécies Ipomoea (batatas, boa-noite, salsas, vela- mes).-e de Evolvulus (hera). ‘As Labiadas, com grande numero de individuos, quase todos de espécies do género Hyptis (marroio, aljazema brava, poaia do campo), e algumas. espécies de Sdlvia. Acompanham-n’as as Verbenaceas: Lippia (cidrilha, cha de pedes- tre), Stachytarpheta (gervdo), e Casselia. Eujorbidceas (velames, pé de per- diz,’manigobas), com espécies pequenas, poucos.individuos e pouco. salientes As Orquiddceas tomam, muito maior importancia: Cyrtopodium, Episte- phium, Habenaria-e Spiranthes. Também muito salientes pelas flores as: Apo- cindceas: Dipladenia (jalapa vermelka), Macrosiphonia (jalapa branca, ve- lame), Rhodocalyx; as Asclepiadaceas séo muito representadas (painas do cdm- po, cipd-sapo, ete.) Das Genciandceds hd poucas: Dejanird (copo d’dgua, centéurea, gencia- na). Das, Eserofulariaceas ha duas mais salientes: Estherhazya, splendida (im- diri). e Escobédia scabrifolia. a6 BOLETIM GEOGRAFICO SAo muito, numerosas as Amarantaceas:: Gomphrena (paratudo, infalivel, perpétuas,.macela) , ‘AS Acantaceas:' Dipteracanthus, Ruellia, Calophunes. Das Melastomaceas, sobressaem Candbessedesia; Tibouchina (flor de qud- resma), e Pterolepis. As Iridaceas, tao’ impressionantes, pela suas belas flores, Ao em geral pouco, numerosas: Lansbergia (maried, ruibarbo do campo), Si- syrinchium,-Alophia. As Umbeliferas, com grandes rosetas que tapetam 0’ chao ®; pedineuio até de um metro, com’as inflorescéncias, tem um género muito abundante: “Eringium (lingua ‘de tucano, caragoatd falso). Menores : dimen- sdes tem ainda a tnica. Eriocaulacea campestre: Poepalanthus Claussenianus..- As Bromeliéceas com: duas espécies: Ananassa (anands do mato), a Bro- melia bracteata (caragoata) . Poligalaceas, plantas ‘minusculas com flores, em cachos, roxas. ou brancas: Monina, Polygala® (powia) . As: Rubidceas .Decliewxia: (cruzeiro, seté-sangrias),. Borrerias” (poaia ‘do campo, rubim). Uma pequena Ramndcea duas Oxaliddceas, (azedinha do Pa- vonia, carrapicho): Uma Aristoloquia (ciné mil-homens) .’ Uma, Comelinacea: Algumas Gesneraceas (batata do campo). Duas Passifloriaceas -(maracuid). Uma ‘nica espécie de samambaia é.0 Adiantum, alids ‘bastante taro: No’ andar médio dos arbustos predominam Mirtaceas, Malpigidceas e*Me= Jastoméceas. Og arbustos das Mirtdceas ‘sio ‘baixinhos, de meio até um metro, muitas ‘vézes.em touceiras,e de flores candidas: Campomanesia (giabirobas) , ‘Eugenia (do tipo das vaias, cambuis, ete. Myrcia. (cambuis), Psidium

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