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ARTE & SOCIEDADE Actas das Conferéncias A baba mortifera dos Dragées de Komodo 170 Silvia Chicé Faculdade de Belas-Artes - Universidade de Lisboa Lisboa, 10 de Novembro 2010 ‘Um relato feito por dois jovens, minha filha Rita e Martim Mello, deu-me noticia dos dragdes de Komodo, animais necréfagos horrendos, que os dois viram e fotografaram na Indonésia. O processo predador sinistro destes dragdes de Komodo, imediatamente se me apresentou com enorme riqueza metaférica, em tudo ajustavel ao tempo que estamos vivendo. Aqui em Portugal, na Irlanda, na Grécia, para quem me quiser entender. Os dragdes de Komodo infectam as presas com a sua baba mortifera, baba venenosa, pelas bactérias que contém. Esperam perseverantemente que a infeccao se desenvolva, seguem a vitima até esta morrer, para depois a comerem ja morta. Obvio que um processo desses remete e imediato para o que est acontecendo ao nosso pais, cujo destino é, e sera, determinado por essa entidade quase abstracta para a maioria dos cidadaos, que séo os mercados.Entidades cuja légica se substitui a todas as espécies de sistemas politicos, mas, com conotagées e sinais que de algum modo nos recordam 0 fascismo. O nosso pais, periférico, pobre e limitrofe do espaco europeu, sofre perante essa sinistra entidade abstracta, que escapa as nomenclaturas de esquerda ou direita. O susto perante a divida, o futuro negro que se anuncia aos portugueses, com uma grande dose de sadismo pelos media e por muitos que tém o seu dinheiro a salvo, deprime 0 pais. Criangas pedem jé aos pais para no verem os noticiarios da televisio. Em hora de alarmismo e de neurotico comprazimento na permanente invocacao da desgraga, de acusagio a torto ea direito, e de todas as possiveis expressdes do medo, é tempo de reagir. Confesso que 0 caso dos dragdes de Komodo, metéfora tio poderosa, de inicio me fez pensar em organizar esta conferéncia sobre a emergéncia de uma arte que “grosso modo” podemos considerar dentro da familia dos milltiplos Realismos que estao surgindo no momento actual. Mas a verdade é que sinto a obrigagao moral, como professora e como m ARTE & SOCIEDADE 72 Figurat Fotografia de Martim Mello Agosto de 2010 Silvia Chied cidada, de combater o pessimismo, que grassa entre nés e que a comunicago social tem vindo, meticulosamente a estimular e desenvolver. E como se o pais, de repente, estivesse a viver um pesadelo, combatendo espectros que seriam impensaveis num passado recente, os da fome e da miséria. E como sabemos, “casa onde nao ha pao, todos yalham e ninguém tem razio” Muitas mudangas bruscas, demasiados factos desagradaveis nos rodeiam. Remetendo- -nos para 0 nosso campo, o universitario, verificamos, com muita preocupacao, que a mudanca de paradigma da universidade a vé compelida a uma produtividade que segue a logica comercial , baixando a qualidade do seu produto, em ordem a uma “facturacao” que tem de atingir valores estipulados por entidades exteriores, emanadas do campo politico, eventualmente subserviente e jogador, e frequentemente pouco culto. Compram- -se e vendem-se graus académicos a bom preco, os nossos vizinhos espanhéis esto bem conscientes desse facto, assim rentabilizando e financiando as suas instituigdes. Aqui, pedem-nos o mesmo, Os nimeros falam mais alto, e pela voz insensivel, inculta, obscena, dos burocratas, que pretendem ser os novos senhores da universidade, infelizmente dominando um bom mimero de incautos professores, que facilmente delegam poder, invertendo papeis ,assim facilitando a mudanga do paradigma universitdrio. O discurso da rentabilidade, qual baba mortifera, vai imperando, destruindo, matando, Mas basta de referir negatividades: é sobre 0 outro lado da questo, sobre a recuperacdo da confianga e do optimismo, sobre a consciéncia do privilégio que constitui a arte € 0 trabalho artistico - quer no fazer, quer no reflectir e teorizar - é sobre essa realidade vos quero falar. Por muito dificil que possa parecer, a arte constitui predominantemente um espaco de independéncia e liberdade. Situa-se acima, ao lado, onde quiserem, dos discursos dos governos e das entidades vigentes. Pode haver babas mortiferas, carreirismos universitarios e artisticos, produzidos pelos valores do comércio, pelas confuusdes da globalizacao, mas a verdade que os artistas funcionam e continuarao sempre a funcionar em regime de liberdade, e sem essa liberdade nao se apontam os caminhos do futuro. Ea dirigir-me aos artistas e estudantes desta Faculdade que tao bons nomes conheceu (lembremos que foi esta casa frequentada pela geracio actualmente mais prestigiada da cena artistica portuguesa), que os exorto a ndo enfraquecer as suas yozes a nao abandonar 08 seus projectos, por muito que vos digam que no ha futuro, que sois uma geracio “a rasca”, A arte fez-se sempre contra ventos e marés, mas sé pode vingar se a personalidade do artista for forte, nao se vergar a ditames burocraticos ou economicistas. Tantas vezes em soliddo em adversidade se fez a grande arte. Se nao vier 0 subsidio, fagam sem ele! Nao embarquem no pessimismo dos desiludidos da vida, no auto-comprazimento tio caro aos portugueses, que Ihes aufere a reputacao de gente tristonha e bisonha. Digo-vos, por muito que preze a figura de Almada Negreiros: Coragem portugueses, pois tendes muitas qualidades! 1%

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