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+ Gerd Bornheim + Antonio Candido thaui + Jorge Coli + Jurandir Freire atherine Darbo-Peschanski + José Arthur ia Rita Kehl + Celso Lafer + Nelson Loraux - Scarlett Marton + Adauto Novaes + Nelson Brissac Peixoto - José Américo nha « Paulo Sérgio Pinheiro « Renato Janine io Paulo Rouanct + José Miguel Wisnile ESTADO E TERROR™ € 0 mais belo verso da teoria politica? oenanis without the sword are but words. Os acordos, os pactos sem expadas sio meras palaeras,for- ju um dos pais da modema concepgio do Estado, Thomas ono Levan em 1651.Temos de entender os modos como da fica dissimlada ou, se desembainhada, como pode ser olada. Poiso Estado funciona numa dindmica contra Por mais que se aprofundea delegacio dos cidadios invest- do poder soberano, os ros de sangue que estio na fonte do Jp eustam a secur jamais o Estado consegue transfigurar-se eto em protetor da paz, como estava prometido no pac- Paulo Sérgio Pin ‘ComPxrmOTAs! Que uma desconfianga necessiria no ahandone jamais. Refleti sempre sobre os meios de conf mar essa liberdade que nio se adquire senso por rios de san gue ¢ da qual um instante somente pode vos encentar, Di zem-vos que vossos mandatérios, revestides desse poder, adquiriram em virtudle dessa delegagio e do poder de ci leis e daquele de sancionar les, isto 6, oomaram-sjuizes en causa prOpria, Voltemos um instante os olhos para tris ve jamos o que os tiranos fizeram: nao ha dividas, o abuso da poder confiado.' iolencia pode irrompe subiamente,osoberano pode fe) tno dela de repent. Se preferrem urna mesifora psquit amos der que o Eaado moderne paece de uma es ia fndamental, mais eontroladn nas democracis mas fata nos regimes ators, © Estado um grande diss V7 dor qo conseguealterar a pesuaso © o controle social violence aberea)Paraexaminarmer a rages en- |) O Fro eo’ Teror,devemos entender qais 30 as ambi finde do Fstado moderno — sabe ae | itd a partir do secufo xvi — estas conseqaéncas, |? 3 megueesamotear a viléncia fica so a al | Gearencar danas serindo ao interes comum a todos os | [Essas idgias foram apresentadas pelo marqués de Sade em 2 de novembro de 1792. E ecoa até agora essa descontianca fun= damental em relagio ao Estado. Aceicemos 0 repto do marq voltemos os olhos para tris, a fim de indagarmos o que os tic anos fizeram e 0 Estado faz, pois o Estado muitas vezes € o Ter= ror. O Estado € uma construgio fascinante porque consegue dis slur om rr fii lg que no se ga nl "Desde sua constivigSo, a violéncia eo terror estio na pr6- 2 ‘atureza do Fstado, A maquinara destinada violencia tor- s intensamente industrializada. Producto e destruicio slo desse Jano, Mas, am da esealada internacional dos con- fexternos, da guerra — a qual as mquinas de matarvoltam iamente, como vinios na Guerra do Golfo, na qual Born- is teoricamente cnirgio das Forgas aliada erraram 70% alvos no Iraque e no Kuwait —, os Estados tém se volado * Ea te ¢ uma revi de meus potaments pr concn i das to Pro Carn Heo Horne Bran cis "se ANE ‘fcr dua peas em cops seem dene 20 vio. Londo ol {Sono pris esas ae ole dre ahs mle pet ar prea {msn gue dora, Em comet, val como get aetna er st sn pl kn cn ‘lexis date, provocoas pris tray erncoes on "Oi a Cie rasnnn Enso cone um ao rangers oh ea, Que fa violéncia interna. Massacres, campos de concentragio, decers rs Nony Card do Niko de tod Ven (2 ts, plhagens sio momentos emblemticos do teror do Es- teers cs Mans Bn embln don, pla cdr a | Bapeticulos de luz e som que desvendam com extraordi- 268 269 niria clare o tirano. No Terror, ob a Revolugio Francesa, nl vtimas pereceram. Entre maio e junho de 1793, mais de inl pessoas foram guilhotinadas. Sob onazismo, mais de 1,3 m thio de judeus foram executados por meio de fuilamentos eg ros na nuca, Cerca de 2,7 milhies de judeus e 1 milhio den judeus morreram nos campos de exterminio de Sobibor, Bel Chelinno, Treblinka, Auschwitz-Birkenau, Maydanek. Jud prisioneiros de guerra poloneses erussos eram expostos & des fmanizaglo mais completa c seriam de alvos de experimentags Eram infectados com gangrena, com tifo, alvejados com bi de veneno, forgados a saciar a sede com dua salgada, Para rem exwviados 3s cdaras de gs e crematérios. 'Na Unio Soviética, entre 1930 ¢ 1953, a populagio este submetida a um reino de terror em que qualquer critica era fofensa contra o Estado. Centenas de milhares de pessoas texterminadas nos gulags e milhares morreram em conseqiénel ‘de politcas do Estado, o qual, sob o stalinismo, tomou-se um i tema para repressio ¢ exterminio. Desde 1945, calcula-se que em confltos politicos interno politics, de 68a 16,3 milhoes de vitimas pereceram — zo enorme se comparado aos 3,5 milhdes que pereceram em g ras internacionais entre 1945 e 1980, sem inchuir aqui a gue Id-Traque. Naqueles contlitos politicos estavam envolvidos, tre outros, Unio Sovitica, China Indonésia, Paquisto, B desh, Camboja e Afeganistio, Somem-se a estas aquelas qu poderiam ser classificadas de guerrascivis e coloniais, comoad Indochina e a guerra civil da Nigéria e terfamos mais 3,13 Ides de mortes. Enfim, qualquer que seja a mancira pela qu se classfiquem as matangas do Estado, cerca de trés quartosd ‘mortes por ele provocadas foram causadas pela morte de se roprios cidadios em politics: HE claro que, se quisermos refleti sobre o Estado ¢ 0 Terra «esses extruordindrios momentos no podem passar em branes hnuvens. Mas aqui no seri dada énfase a essas manifestagh ‘mais abertas da trania. O que nos move € uma inspegio de a ‘0s momentos em que o Leviat distiplindo, domad, mas & 20 permanentemente desembainhada, se abate sobre os ‘no exerccio dfrio da violéncia do Estado, sem que o espingue necessariamente sobre as vests do principe. ue o Evade, consttucinal ov autoritrio, qualquer que sea» ie givern,sgregapermanentemente unt regime de exes.) emocritico dos Estados é sempre regime de excegio es eontingentes. Loucos, prostituas, prisioneiros, ne- hispinicos, érabes, curdos,judeus, ianomamis, a sexual, travesti, criangas, operirosirio nascer e morrer zm conhecido o comedimento do Levit. As graves vio~ dos direitos humanos pelo Estado revelam a rotina do pe no cotidiano das populagdes. m quase todos os paises esa excegio se traduz elas mani- es de violencia egal do Estado. Podem ser tomadss como Pos indicadores dessa excegio as graves violagdes de diei- gras brman right lations: coreara € outros tata- 9s ou catigos crucis, inumanos ou degradantes; detengo gala sem acusagio, desaparecimento em conseqiéncia de stro, detencio clandestina ou outras violagbes dos direitos liberdade e seguranga da pessoa Bm muitos Estados, e especialmente naquees patses que re- mm 20 reyinse democratco, prevalece cera passvidade em feobro 3 violencia ileal. Esse foi o caso do| Peru, em 1987, 10 depois de Alan Garcia ter assumido o poder, ainda que fo do pats tena alguma especifcidade (como também bia) pelo enfrentamento da guerrilha do Sendero La~ Mas o niimero de assssinatos, desaparecimentos, tor- € outros crimes, cometidos pelo governo e pela guerilha, ea o Peru nos primeiros lugares entre os pases ca América ‘onde a violencia produz conseqigncias trigicas. O go- mo peruano, em face das Hagrantes volagdes do direto, nio em controlar a ages da polica e dos militares encar- os de conduzir as operagdes de contra-insurgéncia Na encina, a violencia legal 6 uilizada para lidar con suspeitos 3, muitas vezes resultado na morte destes. A polit imatar como rotina, sem motivo. No ano de 1990, vé 2m tos oficiais de policia foram suspensos e condenados por to rar e maltratar pessoas suspeitas de atividades criminosis, ‘México, no mesmo ano, houve assassinatos de aivista de d tos humanos e, em alguns casos, os suspeitos no foram pre nem acusados. Nos estados ruras, as violentas disputas pela ‘2 resultaram em execugdes extralegais, Bandos paramilia a policia local, controlada por chefetes e grandes propri de terra, ameagaram ¢ mataram ativistas rurais. Houve casos de espancamento por parte da Policia Judicial Federal, resultaram em morte. Segundo a Comissio de Direitos Hum nos das Nages Unidas, hi 270 pessoas desaparecidas no Mg co. Apesar de a tortura ser proibida pela Constituicao, os po ciais em geral torturam no periodo que se segue imediatamer A prisio. Na Venezuela, onde estio vigentes direitos ¢liberd ds individuais, as principais violagées naquele ano incl terriveis condigdes de prisdes, detengdes arbitriias, abuso pesos, execugdes extrajudicias por parce de policiais e res, corrupcio e ineficiéncia no sistema juridico. Na India, democracia consolidads, muita das rensdes sio conseqiénd ‘de conflitos étnicos. Os problemas variam segundo a regio, mi no set conjunto incluem: excessos das forcas de seguranca eon tra civs, asassinatos politicos e seqiiestros,espaneamentos pal policia, deteng3o incormunicivel por longos perfodos nio st rizada pela legislagio em vigor, abuso de presos. ESTADO F VIOLENCIA ara entendermos a regularidade com que essas gras i rights violations se repetem rotineiramente em todos 08 p precisamos mostrar como a violéncia constitui o Estado dl \| sua fundacio ¢ como grupos sociais muito numerosos pass 4 consiver sob a pacificagio imposta pelos aparelhos do Estad Quem sabe para dar alta dramaticidade a soas palavrss, (Weberinuma conferéneia na Universidade de Munique, er 193 “Politica como voeagio", no contexto do armisticio entre oi 2m Wi oceiicm ¢ A U Hlemdo c 0 governo soviético, chega a citar Leon Trotsky®™ ussOes em Brest-Litovsk, para com cle concordar queC4 aco esti fundado na forca”, A forca nio é 0 meio normal "Estado, mas € o meio especifico a0 Estado: a relagio |! ado ea fora &exremamente ftima. O que perni= Jogo formular que o Estado é uma comunidade hu- fue dete, com sucesso, 0 monopslio do uso legtima da fo'na propria definicio do que & o Estado em termos, jo espectfico que Ihe é peculiar, a saber, o uso da violéncia \qui estamos interessados no Terror, concentraremos tengo no elemento da violéncia fisca aberta. Mas & evi- je Weber nio foi o primeiro ou 0 tnico a se dar conta des- to. Antes ce aquela definicio realeara violencia, Niets- entre outros autores, havia apontado brutalmente que ‘Ja consolidagio de uma mulidlo até entio disforme e onirolivel numa forma firme nlo foi somente insti orm ato de voléncia, mas também levada até a sua real senio por atos de viléncia.. O mais antigo “Estado apareceu como uma tirana femida, como uma maqui- ‘opressivae plena de remorsos, funcionando para que smatéria-prima de povo e semi-animais foss afnal nio mente amassada e subjugada mas tamabém formads.” Borigens do primeiro Estado para Nietsche fo extavamn eontrato, mas antes na dominagio.de povos patficos por le povos guerteitos. O termo Eada a principio sigaiica- Siiuigio na qual “um bando de feras louras de rapina, conuistadora e dominante que organizada para a guer- om habilidade para se organizar, sem nenhuma hesitagio € suas terriveis garras sobre um povo talvez tremendamen- gerior em mimero, mas ainda sem forma e nomade” * Alémn todas as relagSes contratuais e legais que vieram a fazer da sociedade civil, Nietasche entendia que haviam se ori 2 uso contingente — legal e legal, ou melhor, nfo legal — da a Mas aimplantacio da violéncia aberta como instrumento da Tene ouverte. Nessa desi, a violence doce significa no apa do Estado nem sempre espera a tansformagio do rie as sueoriades¢ o sistema de dominagia, mas também sin ucional em ditadura, As revotas de 1922/1024 ¢ a fia violncia fisica, que € experimentadae em de ser pre rests jutiftaro a escalada. da repressio do Estado ta pelos dominados" Assim, a viléneia doce, que mas conta os disidentes politicos e outros Fevoliosos, no sei proprio funcionamento, nao deve ser percebida ‘contra os desclasrificadas da cidade, como se dizia 8a tina forma mais moderna do opostoracional 3 violéncia dis eon a ps, mer 2 violencia simbélica somente etun pela presenga perma prosuutss. Desde as Tes de expulsto dos extangeitos violencia bruta que ela simbolia : Ges primeiras dads, abrem-se na pritia da repress do > Bsa nogio é crucial para se entender o funcionamento ido espacos cada vez mais ampliados de arbitrio e de ilega- do terror, O Estado jamais renuncia a qualquer de sts con : situacio que permite formular um apontamento de vali {as em termos de violencia. O eassetete de borracha, os chogu eral, resita nao apenss 20 Brasil, mas vericivl em ou pléticos eo pade-arara, usados no Bra como instrument es, de que a legalidade do aumento da reresdo chamada ‘de tortura nos distritos policiais, vieram para ficar. Nio imp: implica wma contrapartda de maior ilegalidade no funciona tt a sofisticago progresiva das otras formas de controle presi ao conto da popula, expecaliente spores, ‘ovo desenvolvimento das compensagOes simbslicas que 0 ib indigent. do conseguiu desenvolver desde o final do século XIX. Com leis de excecio flagrantemente inconstitucionais, como drag leis de cxpuls de estrangeirose de repressio déncas no Bras, eliminaram-se progresvament as liber- (© REGIME DE EXCEGAO REPUBLICANO ‘previstas pela Constituicio de 1891 e construiu-se pouco 2 ‘um regime de exvegao contra a Constituigio. Os procedi- A observagio do caso brasileiro durante o perfodo republ nos legais postos em pratica durante toda a Primeira Repi- no permite compreender melhor alguns dos tragos aqui enuncs os desterros, 0 recolhimento em,col6nias penais ¢ 3s dos, Desde o inicio da Repiiblica, a ansiedade das classes gover Bes de estrangeiros — foram utilizados indiseriminada~ nantes foi intensifieada pelas supostas ameagas das diss Fe tanto contra dssidentes polidoos e opertrios quanto con- no movimento operirio ou das poitcasvinculadas a movime laglo pobre, nfo fazendo valer as agéncias do Estado as tos semelhantes no exterior, ea dos anareo-sindiealistas, sea da Tee cocro contingana: Petenidh-oe dealt comunistas apés a Revolugio Russi de 1917. Esse sentin Fnsatisfetos, tinha-se a ilusio de que o fermento da revol- em que se misturavam encenagfo e genuino sentimento de in Eictzninado. seguranga — agravada pelasrevolas militares dos anos 20 30 Quanto populagio atingida por essa vagus de repressio, além dos movimentos urbanos mas grandes cidades — gue Pectativa de sobrevivéncia era bainssima, jamais tendo se ‘nos grupos dominantes do poder e no Estado a necessidade da Je= mado em uma questio no debate piblico ou na pesqui- gislagio-de excegio, E esse empenho na criminalizagio do dit= eadémica. Nao se conhecem manifestagées de indignacio por senso, da oposigio, do protesto pode ser considerado como dda opinio piblica em relagio as operagbes regulares de manifestagio mais evidente do terror do Estado em periodos or para limpeza dos bairros populares das cidades. Desde 0 co- constitucionsis go da Repiblica, izeram-se deportagies para as zonas de 280 23 fronteira do Amazonas, do Pari e para a regito do Oiapog na fronteira com a Guiana. Depois da Revolta da Vacina 1904, no Rio de Janciro, fizeram-se deportagbes em massa pay a Amazinia, nao se sabendo até hoje o paradeiro de mila de individuoslargados a0 abandono, sem alimentagao nem sisténcia meal ‘Acre, na época jf considerado mortfero, Na maior promisa dade, criangs,velhos, negros em bom nimero ebrancos amon toavam-se nos pores dos navios com eriminass, dorian, dries babtuas. Enece as 946 pessoas enviadas em 1924 pata campo de internamento da Colonia Cleveland, na regiao do ©} pogue, 44 morreram no ano seguint em conseqiéncia ds om digbes de vida do lugar de desterro. © pinico em relagio as manifesagdes populares e ot \\_ como procetimento usaldoaparelhopolcal par ren \\ mento das populagées urbanias e rurais obrigaram o governo, \ Servet cea nndpds de sonra dar milan \ prisio policial, sem processo e por tempo ineterminado, ag ‘ada pela aplicacio sswemavea ds toreura, tomou-secorriqk 13, Data das duas primeiras décadas do século 0 emprego d «ano de borracha no espancamento de presos pela vantagem de ‘magoar mais profundamente sem produzirestigmas evides [A pritica das blitzen policisis, sem mandado legal, nos bairmas populares e nas favelas surge no inicio do século como imp tante (¢ineonsticucional) operagio de prevencio ao crime. ‘As motivagies para as reformas realizadas antes e depois de’ 1930 no aparelho repressivo tém o mesmo contetdo discrimic natério, E, entretanto, tanto num periodo como noutro, i hie via a mesma ambigidade contraditéria entre aperfeigoamento da ‘ioléncia sca e aprofundamento da violencia dece, no relaiond- mento com os trbalhadores urbanos. Nunca é demais lembrat «que durante o governo Artur Bernardes — quase todo transcot Fido sob extado dest, ou sea, sob ura vireal regime de exces — foi enunciada a maioria dos principios contidos na legislagio ‘abalhista depois de 1930; jornada de trabalho, regulamentagio 4 trabalho feminino, descanso semanal,feras, previdéncia 3 an ‘comuns € aos desdassfcada prescindia dese regime de ex- definido legalmente, pois todas as classes populares estar metidas no seu cotiiano & aterrorizacdo policial, sem Jes, como atesta a pritica sistematica de destetos. nfm, durante toda a Repaiblica no Brasil as priticasrepres- sparelhos de Estado foram caracseriadas por um alto Je ndependentemente da exisncia ou no de: iiomais. Os pobres, os miserveise os indigentes, constitairam a maioria da populacio, nunca dexaram sob um regime de exeegioe de terror, que se manteve em 2s formas de regime politico, constitucionais ou autortrias dase tortendois, na expressio de Graham Greene, sempre m submeticas a una maior ilegalidade do que aquela normal de exeydo republican & independente do regime politico sensu definido legalmente, Nenhuma das chamadas trans- democriticas, seja depois da ditadura do Estado Novo, seja is dos diversos governos militares entre 1965 ¢ 1985, aferou ilmente esse regime de exegio. ‘Durante os periodos de democracia constitucional, 1934-7 946-64, apenas 23 anos em 103 anos de vida republicana — da que a existencia da Constituigio nunca tenha significado ntias legais para a maioria da populacio —, esse regime de foi disfarcado porque a repressio fisica ilegal foi com- da por outros mecanismos mais dissimulados de controle igbes de trabalho dos trabalhadores urbanos fo- mmelhoradas, os salrios em alguns momentos foram até au- dos no seu valor real ¢ uma politica de bem-estar social foi da mediante os mecanismos da previdéncia social. Todavia, ‘periodos de autoritarismo de fato, como durante a Primei- pablica, ou de autoritarismo legalizado, esse disfarce desa- ce; a necessidade de ajustar as contradigées no interior dos pos dominantes exige o alargamento da repressio para ou- {grupos sociaisalém das classes populares, com a suspensfo 283 —— t—™ das formas (mesmo ilusérias) de paticipagio, ¢ as Fronteiras {re a repressio politica e a repressio comum vem abaixo, Os ap relhos de repressio continuam aagir, sem controle ou limita completamente istrumentalizados pelos grupos no poder, mo terror aberto nesses periodos de excecio revela na p ‘2.0 que em periodos democriticos estava disfargado: 0 ver deiro cariter do terror do Estado e da violencia Fisica ileal” essa revelagio nose limita ao caso brasil: Paises cy 4 Colémbia ou o Pero, onde o Kstado enfrenta a insureigiod grucrilha e onde os aparelhos repressivos desenvolvem agdesd contraguervlha, apesar da democraca, as graves violas de d reitos humanos atingem a maioria da populagio pobre e th Ihadora. Nos pases de democracia consolidada, como os Fstada Unidos e os europeus, os imigrantes, especialmente 0s reside tes com documentacio ilegal,sfo alvo,além da disriminad de priticas repressivas ilegas. ahaior parte dos Estados compartitha altos nivels de vie~ dia, prevalecendo as instituiges da vionca, como a tortura € ccugaes extralegais. A ameaca velada da violencia, prome~ pelo soberano dentro dos fimites do Estado, nunca fois recso recorrer diretamente a0 terror. Mesmo que & peactsiva Tory de govern, nos regimes comstuco- sto implantadas\dreasde terro,© mantidas e reproduzidas najoria dos Estados. O arbitro policiale a intimidae Tio parecem ser mais uma carateristica somente das dita- ‘ssi prticis ocupam tm lugar conspfeuo para o enfren- ento da insatisfcio e do dissenso. Mesmo naqueles paises | eas graves violagdes dos direitos humanos so menores, tis de terror, ainda que mais localizadas, podem ser facilmen~ Jentifieadas, agora ¢ no passado recente. Porque é da nacureza do Estado, especialmente oiberal ter cia a democracia formal e por prtica a intervengSo erada, em tese. Na realidade, os governos contemporineos 1m com rigor (para s¢ dizer o minimo) mediante a | Gio da ordem peli policiae pelo exérito, A-aparéncia € sariainente aparenca da essencia ea estncla,esséncia da , como formulow lapidarmenteo filsofo Frangois Ch 271 uma contradigio aida de um Estado liberal que se re- sem ambigdidade, 4 sua aparéneia de controlador da cia fisca aberta, pois na existéncia do soberano esti da ua pritica em si mesma autoritiria do direito-de-pa- Apesar dessa presenga quaserotineira do terror, o regime de- itieo continua sendo ainda atnica forma de governo capaz mitaro arbitrio do Estado, permitindo que da mera aparé possa transiar para realieagbes da esséncia cada vez mais das e duradouras.” Para que o Terror possa ser controlado, éindispensivel fazer BO aqui, onde tentamos entender as relagdes entre Estado © éncia, entre Estado e terror. Para que a mais completa trans- -Esses limites da vigéncia do estado de direito e dos iret ‘humanos em todos os paises, especialmente aqueles que tran taram recentemente para a democraca, indicam que as possb lidades de transformagio efetiva da organizaglo dos apa do Estado — aqueles encarregados da violencia fisica — si muito estreitas. Fsses limites io dados pela prOpria natureza\ se i plant Bra dependa da pet manéneia dagujls que, como suger Ni chamar-se de rede etatal paralela. Rede, porque atravessi 08 d | _versos ramos do Estado, no sé limitando as poicias, mas ab sgendo outros setores dh administracios paralela, porque fu na por tris da fachada das aparelhos de Estado que a dissiml cuidadosamente — a insituigd da violencia (a expressio & de Fea 0 Basaglia) da tortura nos distitos policiais brasileiros € bom exemplo; e staal, porque, embora geralmente pare a, € um recurso permanente de que se valem as classes do tes para permanceer no poder: 0s esquadrdes da morte. em El Staion Guntonala Ton ¢ eat 30 ram explo. paréncia possa ser imposta a esses lugares do Estado onde ad Simulagao c o segredo sio a regra. Todas as imposigdes éticas tama lgica da paz para enfrentar a ameaga do Terror sempre pre sente, na vasta construgio de um sistema internacional de tegdo dos direitos humanos e do direito humanitirio, tm td r wezes fazer recuar o-arhtto estat (O esforgo nessa diregio tem alargado as condigies de auto sa legal do cidado diante do soberano e do’ Terror, contrbuind para reconstitair 0 equiltbrio do monopolio da violencia fis 4o Estado em favor do cidadio, *Pois Sati nto é necesirio", como disse um dia Primo L ‘que 0 encontrou face a face em’ Auschwitz NoTAs 1 Sade, Salem de spt desi" Bi pai, Pasi Pa tins p 0, pad Hen Lele, De Pt, 4 Le cenuiiwde e dee deta Et, Pat 1018, 197. Par eine conten, yer Willan Prd, “Torin and the Sa ‘ep. Mein Pedy Tread eS rig of anion Jar iors York. Prager, 1989 Sle o blocs, ver Honey Gyno ‘Moni de barn, Sio Pvt, Nova Slap, 190. 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A eterna ampulheta da exis ia sera sempre virada outra vez —e tu com cla, pocitinha 1" — No te langarias a0 chio e rangerias os dentes rias 0 deménio que te falasse assim? Ou viveste 1 vez um instante descomunal, em que Ihe responde~ fas: “Tu és um deus, ¢ nunca ouvi nada mais divino!”. Se esse pensamento adquiisse poder sobre ti, assim como cle te transformariae talvez te eriturasse; a pergunta, ante de tudo e de cada coisa: “Quero isto ainda uma vez € iniimeras vezes?” pesaria como o mais pesado dos pe- sobre teu agir! Ou entio, como terias de ficar de bem con- ‘mesmo ¢ com a vida, para no desejar nada mais do que ‘ikima, eterna confirmacio ¢ chancela?" im esereve Nietasche na Gaia céncia. Ena forma de {ue introd, em sua obra a ideia do eterno retormo. A da verdade, a ela ja faz referéncia nos escritos de 1873 so- Ula na en tigi des grees. Ao reseever a histria cerita, €em Flerclito que juga encontr-l. A seu ver, endo o mundo enquantocriagio e destruigio permane 288 259

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