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i 4 . A (ane MEMORIA DAS CIDADES . . cso igor Dog Lisboa Ultramarina 1415-1580: a invenicéo do mundo pelos navegadores portugueses Rucelt 1 da edict braslsira oO .ncisco josé Calazans Falcon > Deparamenso de Histra °C3 UFR Seuprofesoe ilar do Ceparamenta de Histon, FF santzado por Michel Chandeigrie Tradugdo: Lucy Magalhaes Nelma Garcia de Medeiros Volum iniiais da colegio: 34L5-15E0: A invengio do mundo LISBOA ULTRAMARINA, pelos navegadcres porcugueses Giganttbnve, crue sociale avant-garde: Jorge Zahar Editor f ebournasio cxtrame du modermadads Rio de Janeiro Lea Passos? O século glorioso PAUL TEYSSIER Um século de navegagies e descobrimentos. Cronologia da expansdo portuguesa SE cadena, esa personalidade quase {4 a sua morte, o principal impulsionador dos empreenai tos de descoberta, Era ele quem tomava as iniciativas, garantia a organizacdo das expedicées e, de sua residéncia em Lagos, no Al- garve, acompanhava-lhes © desenrolar. Confiava a diregio desses empreendimentas a homens que estavam a seu servigo. Gracas 8 sua imensa fortuna e aos bens da Ordem de Cristo, de que se tomou grdo-mestre, podia arcar com as enormes despesas que as expedicSes | 3B pear og u ‘soa Utramarina embora nunca tenha navegado pessoalmente (salvo { merecidamente chamado Flenrique, o Navegador. Madeira e Acores Os portugueses comecarim por ccupar as chamadas “thas adjacen- tes” isto €, a Madeira w os Acores, entdo desabitados. Coberta de grandes florestas (dai o seu nome), a ha da M desde o século XIV. Depois certamente na primavera de como pensam alguns, também tado no século XIV), por voita de 1427, por Diogo de Silves, da casa do Infante, com excecdo das ilhas das Flores e do Corvo, as mais foram reconhecidas em torno de 1452. O povoamen- to das primeiras ilhas comegou em 1439, sob 2 administracio de frei Gongalo Velho. Exploragio das costas da Africa até 1460 Por que razii o Infante empreendeu a exploracao das costas africanas? iio se poderia atribuir-the, nessa epoca longinqua,0 grande projeto” de contornar a 1 chegar is Indias. O mais provavel ¢ que, navegando © mais longe possivel para o sul, o Infante quisesse, por assim dizer, chegar a0 Marrocos pela retaguarda. Essas primeiras expedigdes faziam parte da mesma politica que levaria a conquista de algumas pragas fortes marroquinas. “saliente, proeminente”). O cabo que tem atualmente esse nome esta sittado a 26° 6’ de latitude norte. Mas, segundo alguns, 0 Bojador dos navegadores portugueses era na realidade o atual cabo ta marroquina, duzentos quilémetros mais a0 norte, Seja ‘abo Bojador #ra um lugar terrificante para os marinheiros fercado de enormes vagalhées, muitas vezes mergulhade em brumas, assinalava a entrada do "Mar Tenebroso”. O alfsio do nordeste sopra ali durante 9 ano toda, wwa-se que aquele que se artiscasse além do Bojador nunca mais voltaria. Praloge = 6 Durante doze anos, segundo o cronista Gomes Eanes de Zurara, 0 infante D. Henrique enviou embarcagdes com a missio de dobrar 0 Bojador. Mas todas desistiam. No décimo segundo ano, o Infante armou uma barca, cujo comande confiou a Gi Eanes, criundo de ‘Lagos, no Algarve, Novo insucesso. Mas no ano saguinte, em 1434, Gil Eanes foi, enfim, bastante corajoso para dobrar 0 cabo maldito. E viu, maravilhado, que o outro lade no encerrava mistério algum. Chegou mesmo 2 acostar, e colheu, perto da praia, para levé-las ao Infante, Alores “que neste reino charmamos rosas de Nossa Senhora” Foi como se uma maldicso tivesse sido conjurada. Algum tempo depois, talvez em 1435, Gil Eanes voltou ao Bojador com um navie de maior tonelagem, acompanhado por Afonso Gonsalves Baldaia, ena- vegaram mais para o sul, atingindo talvez a Angra dos Ruivos, a 24° 51’ de lasitude norte, Em 1436, Afonse Goncalves Baldaia prossegueo reconhecimento da costa, Passa diante de uma baia, que toma pela embocadura de um tio, dando-the 9 nome de Rio do Ouro, e atinge a Pedra da Galé, assim denominada por causa de sua forma. Houve uma pausa de quatro anos, que se explica pelas graves preccu- ‘pagies que tinha entioa monarquia portuguesa: fracasso da expedicéo contra Tanger (1437), morte do rei D. Duarte I (1438), disputa entre a rainha-mie eo infante D, Pedro, durante minoridade do seu sucessor, © futuro D. Afonso V. Mas era necessério também resolver certos problemas téenicos criados pelas novas condicdes de navegacdo. Até Entio eram usados barcos de pequena tonelagem, com vela quadrada, chamados bateis e barinels, Mas, para enfrentar mares mais terrivets, para navegar 0 mais possivel colado ao vento (condisao indispensé- vel para conseguir voltar), passou-se a usar um novo tipo de embarca- sfoia caravela. As caray ‘eram conhecidas ha muito em Portugal. ‘Eram barcos de pesca pequenos, providos de uma vela latina triangu- lar, Construiram-se caravelas de maiores dimensGes, mas conservou- se a'vela latina, que possibilitava navegar com precisdo, com o vento contra ou a favor. (O impulse foi rtomado com Nuno Tristio, também stidito do Infante, que em Ml atingiu o cabo Branco, hoje Nouadhibou, a nordeste da Mauriténia (21° de latitude norte), e chegou em 1443 a uma das dhas de ‘Anguim, na regio ainda chamada em nossos dias Banco de Arguim. Enfim, em 144d, o mesmo Nuno Tristio chegou a Terra dos Verdadeiros "Negros, isto 6, embocadura do Senegal, rio entio considerado um braco do Nilo. Ali se encontra a fronteira que separa os azenegues, ou zanagas, berberes de raca branca,.dos negros africanos. E a Terra des Negros, 6 Lisbon niraraina considerada em seu conjunto a partic do rio Senegal, que 0s portugus- ses chamavam de Guine. & Guine era em sintese a Altea negra. “Talvez no mesmo ano (144) um certo Dinis Dias atingea peninsula do Cabo Verde, assim chamada porque, a0 contrario das resides de- Serticas vsitadse als aquele momento, em recoberta de vepetacdo, Devembarea numa ila (em divida a atval Goria), situada na “angra de Bozeguiche” (Daca). E, om 1446, Nuno Trist#o penetra, 20 sul do Cabo Verde, num co que alguns acreditam serum Gos bracos do Sine ou do Salun” Ea, num combate contra oindigenas, que el? mocre, Citima de uma fecha envenenada, Mas a9 mesmo 270, um outro {apitno, Alvare Femandes, orginario da Madeira, avanga até a Guiné= Bissau, no atual sto Ge Konakay. Depois de uma nova pausa, as viagens de descobrimentos continuam ra década de 1450-60. Dois italianos a servico do Infante, Alvise da Cadamosto © Antoniotto Usodimare, assim como © portugués Diogo Gomes, explocamos stuiriose as has da regito que se chamava de Rios de Guns, na Guine Bissau de hoje, ou sei, 0 litoral desde a Gambia 20 Ho Geba, Enfim, em 1460, Pedzo de Sintra explorow o litoral desde © io Geba a Serra Leva, Fess, a despeito de outrasafirmacSeseem contzério, © ponta exierno que ae atingiy, no fim da vida do Infante (1460), Da Serra Leoa is proximidades do Cabo (1460-36) desaparecimento do Infante acarzetou uma interrupgao de alguns anos. D. Afonso V, que reinava desde 1438, interessava-se mais pelo Marrocos do que pela Guiné. Alcacar Ceguer fora conquistada em 58, Em 1471, corse a tomada de Arzila, logo seguida pela ocupacio de Tanger e Larache. Par causa do Marrecos, D. Afonso V foi cogno- minado o Africano, Masa outra Africa, a Negra, estava muito atras do Magreb em suas preocupacées. Ele confiara a responsabilidade das naVegac6es ao seu irmio, o infante D. Fernando, griio-mestre da Or- Gem de Cristo 2 mestre da Ordem de Santiago. Com autoridade sobre todasas has e terras descobertas, D. Fernando era, pois, o verdadeiro sucessor do infante D. Henrique. Mas seu interesse pela Guiné ndo era maior que 0 de seu indo. + Tinta sedorio Gebs, enldochamado de Rio Grande pelos navegadores. (NRT) Prelogo v Assim, a Coroa portuguesa enizegou a pasticulaces a reeponsabili- dade direta da exploragdo das costas da Africa além da Serra Leoa. Por tam contato asinado em aovembro de 1469,0 reiconcedia aum certo Ferndo Gomes, rico mercador de Lisboa, o dieito de navegar © comerciar nessa regiio, obrigande-se © mesmo a descobrir cer léguas de costa por ano (cerca de seizcentos quilémetros) durante ‘inca ans, e zentsegarao cei uma renda anal de duzentos mil is, Esse prazo foi depois aumentado para seis anos Femio Comes cumpriu sias obrigagées. Confiou 0 comando dos tarcoe 2 enarinheiros experientes, como Joke de Santarém, Pero de Escolar, Soviro da Costa, Fernando P6, Lopo Goncalves e Rui de Sequeira. Exploraram todo o contorne do gol da Gung, assim como as dhas, desde a Serra Leoa até o cabo Santa Catarina, situade a 2° ao Sui do equador (perto de Porto Gent no atual Gabo) Em 1474, D. Afonso ¥ dew a0 sew ftho mais valho, 0 principe D. Joao, que 0 sucederia em 1481 com o name de D. Jodo Il, a direcéo ccondmicae politica da expansdo portspzesa. Masmanifesta-s entio, durante varios anos, a rivalidade entre Portugal e Castela.O tratado de Aleacovas, em 1473, ue poe fim 8 guerra pela sucesso de Castela Soluciona assas quevelas, Delimita zonae de influéneia, como fara, Siguns anos depois, 0 Tratado de Tordesihas. Uma das cliusulas reserva a Portugal o golfo da Guiné Guando, em 1481, D. Joo II sobe a0 ton, a politica de expansto & retomada, ¢com ambigées muito maiores, Os anos de hestagio termi- navam. D. oto Zl alimenta um "grande projeto”, que se revela pouco pouco, e que consste em debrar a ponta meridional da Africa para atingira india. ‘Uma des primeiras decisbes tomadas pelo novo monarca jé 2m 1481, foi mandar consirar, sob a diregio de Diogo de Azambuje, a Fortaleza de Sio Jorge da Mina, cas costa do golfo da Guiné, a oeste da localidade atual de Cape Coast (Gana). Todo o material teve que ser rrazido de Portugal. Logo surgi ali, 4 sombca da fortaleza, uma povoagio que cbteve, em 1486, 9 status de cidade. Esse ponto de apoio fstrntegico,na regido.em ques efetuava boa parte do comérciodeouro africano, ficaria sob o dominio porkugués até 1637. 5 Jodo Il confiow a Diogo Cao 0 prossegrimento ds exploracio da costa alam do cabo Santa Catarina, Fota parts desse mor ato que 0s navegadotes porugueses passaram a levar consigo os padrées, que trigiam wm ceitos pontos para assinalar a sua passagem, Eram marcos {fe pedza, com uma cruz owo brasfo portgués,e uma inscrict0. ‘iogo Cio fez duasviagens. Na primeira (1482-83), chegou & embo- 18 LUstoa Utamasina cadura do Zaire, em abril de 1483, onde erguew cou primeiro padsio, umm local que ainda se chara Ponta do Padeio, e enviow emisaérios 0 vei do, Congo. Hfetivamants, encontrotnse conto = cingiienta quie lomettas da embocadura do Zaire, perto das cataratas de lelala, uma inscrigdo em portugués azcaico gravada num rochedo: “Aqui chega- ram 09 navios do ilustre rei de Portugal, Joao If de Portugal.” Léem-se a seguir varios nomes, entre o3 quais 0s de Diogo Cio, Pero Anese Pero dda Costa, Prosseguindo, Diogo Cio atingiu, a28 de agosto de 1483, 0 Cabo do Lobo, hoje Cabo de Santa Maria, na atual Angola (13° 26" de latiade sul). Ndo ultrapassou esse pontoe voltow a Portugal levando alguns negros. Em abril de 1484, chagava a Lisboa “Acontace entio um epissdio infeliz. Além do Cabo do Labe, ponto extremo de sua viagem. Diogo Cio acreitara ver a costa curvarsa para © sudeste. Tomando seus cesejos por realidade, pensou ter aingido a ponta meridional da Airca, pasagem para o oceano indica estava 20 aleance da mao! Comunicou 20 ri esta notiela sensacional, mas flea. E no ano seguint, 1485, o embaixador portigués em Roma, Vasco Fernan- dies de Lucena, mencionou ofatoem discurso publico, Pode-seimaginar 0 descontentamento do rei quando, mais tarde, soube a verdad. Jodo Tl tornou aenviaz Diogo Cio Aftia, na compankia de Pero de Escolar. Essa cagunda viagem ocorreu em 1485-85. Diogo Cao ultrapassa o Cabo do Labo, econstata que a costa continua em diregio a0 cul Erige dois padrdes, dos quais. segundo dew seu nome 20 Cabo do Padrio, hoje Cape Cross, a 21" 50" de latitude sul. Na primeira smetade de 1456, chega a um ponto a que chama Serra Pards,situado a 22° 10’ de latitade si, nde longe do trépica de Capricémio, Depois, perdese a sua pista, O que foi feito de Diogo Cio? Teria smorrido all? Voitou a Porvugal e caiu em deegrasa? Nao se sabe. A faganha que no conseguis realizar — a passagem do cabo — ¢0 2% sucessor Bartolomeu Dias quem a realizard. As viagen vestres de Afonso de Paiva sereste de 187. No se sabe 20 cero a carrera posterior de Diogo Cao (NRT) Pralogo, = Preste Jodo, que se comecava a identificar com a Abissinia. Desejava-se obter 0 maior numero possivel de informacées sobre essas regides, ©, além disso, estabelecer relagdes de amizade com o Preste Jodo, lider de juma comunidade cristi separada do Ocidente pelo Isla. Os dois ho- mens escolhides para 2 missio foram Afonso de Paiva © Pero da Covilha. Pero da Covilha é mais conhecido. Cumprira diversas misses na Europa, entrando em contato com grandes personagens, como o rei de Franga, Luis XI, 0 duque de Borgonka e os Reis Catdlicos. Também visitara a Africa do Norte, Perito am comércio, tinha, assim como 0 compantheiro, outra rata e preciosa habilidade: sabia a lingua érabe. Em suma, uniaa um temperamento deaventureiro um preparo téenico que o tornava vente apto a cumpriz a missdo — que incivla diplomacia e espionagem — que o rei ia Ihe conta ‘omens pattem de Santarém a7 de maio de 1487, pouco antes que Bartolomeu Dias deixe Lisboa para a sua grande viagem. Passam por Valencia, Barcelona, NapoleseRades, Depois,atravessamo marecheg: a Alexandria. A partir dali, ndo estfo mais em terra crist, e de disfarcar de mercadores, Atingem o Cairo e Suez, ¢ ch verso de 1488. La, ceparam-se: Afonso de Paiva vai pi da Cova paraa India, ‘Mas Afonso de Paiva cai doente,talvez de pes da Covilha levard o seu empreendimento a mongdo estava favorivel, Embarca em um dos depois Ormuz, na de mais de um navegacio ¢ 0 India, ‘contra dois judeus portugueses que D. Jodo II enviara fap seu encontro: um certo José, originario de Lamego, e o rabino ‘Abrado, Informam-Ihe a morte de Afonso de Paiva e entregam-Ihe tartas de D. Jogo TI, o rei ordenava-lhe que voltasse se sua missie estivesse terminada, mas, caso contrario, pedia-the que lhe comunicas- se sem demora todas as informacSesjé obtidas econtinuasse a viagem. 1sboa Utramarina Indigenas da Guine (Balthazar Springer, 1503) Prelogo Comoa mortede Afonso dea Bartolomeu Dias dobra o Cal Esperanca (1487-88) Pouco se sabe desse Bartolomeu Dias. Esse nome entreos homens do mar, ¢¢ diffeil identifica assim se chamavam. Entretanto, sabemos peqitena nobreza, sendo escudeiro da casa . Joie Il confiow-the ocomando de uma. das quais carregada de viveres, que partiu di 6 de janeiro de 1488, dia da festa dos montanha, que denomina, por essa raz Berg, na margem norte do Oliphant River. da costa, e um vento violento o empurra pa temido promontéria, Dobrara o cabo sem 0 perceber! Chama a esse ugar Baia dos Vaqueiros, porque li havia negros criadores de bovinos: 2 in Lisboa Utara fossel Bay, mais cu menosa meio caminho entre Cape Depois de se abastacerem de dgua, os portugueses voltam a0 mar, fem diresio ao leste. Esto agora no oceano Indico. Ba desejaria continuar, mas a equipagem esta cansada e quer voltar. A lomen Dias pequena frota vai até um curso d'agua, que @ batizado de Rio do fnfante, @ que atualmente 6 0 Great Fish River (a nordeste de Port Elizabeth). Bartolomew Dine volta dali. Um pouco antes, bre am grande rochedoligado & costa, erigira ui ultimo padrio, 0 Padréo de Sto Gregério, 0 local fot identificaco em nosios dias: exterochedo se cchama False Island. Em escavacSes fits em 1938 encontazem-se 0s restos do padrio ‘No camino de volta, Bartolomeu Dias seguiu a costa « pds enfin contemplar 9 cabo que, na ida, ultrapassara sem ver. © Cabo das Tormentas se chamart doravante Cabo da Boa Esperanga: dobrando-o co portugteses haviam eliminado o limo abstaculo qu thes imped © acessc aa octana Indico, « podiam, pois, tr toa esperargg de chogar Jogo as Indias. Bartolomeu Dias tambem constatou, nessa ocasiio, que 6 ponto mais meridional da Africa nfo era 0 Cabo da Boa Eeperanca. ‘as outro cabo, situade a sudeste deste, que hoje se chara Cabo Agulhas. Em dezembro de 1486, as rs caravelaschegavam a Lisboa. Ore. Jodo Tsoube que a ligagto maritima da Europa coma Asiners possive. O Tratado de Tordesilhas (1494) Os anos seguintes sio, sem duivida, 03 mais gloriosos na histria da expansio dos dois poves ibéricos. Agora, Portugal nfo esti mais «6. A Espanha, anida em uma s6 nagio pelo easamento do Tsabel de Castela ¢ Femando de Aragio, tera um grande papel nesea aventura, E Isabel sm patrocina a primeira viagem de Crist6vo Colombo (agosto de 2a marco de 1493), durante a qual ele descabre o que aceditava ser mas que, na tealidade, era a América, atracando, 2, sma das Bahamas. Tendo regressado a 15 de we, efetua sua segunda viagem, de setembro de 96. E pouco depois, como veremos, que portuguas Vasco da Gama liga a Europa a [aia (197-99) e que outro portugués, Pedro Alvares Cabral, deacobre o Brasil (1500). ‘Nessa corrida pela ocupagio das novas teras, a rivalidade devia ssurgirinevitavelmente entre Espana e Portugal. O tratado de Aleéco- Preloge 2 ‘vas (1469) estava ultrapastado, eos dois paises tinham que se entender novamente para delimitar as suas respectivas zonas de expansao, Iniciaram-se as negociacoes. ‘Em maio de 1493, 0 papa Alexandre VI, intervindo come suprema encarregada de uma espécie de magistério uni cot duas bulas, que fixavam como fronteira o meridiano si éguas a oeste dos Acorese do Cabo Verde: tudo 04 fa leste dese meridiano pertenceria a Portugal hido descoberto a oeste, a Espanha. Essa definigdo er 2 que se calculavam malas distancias m. o tei de Portugal entendeu que a fronts demasiadamente a leste, Os negociadores portuguese que ela fosse deslocada para oeste. E, finalmente, tratade assinado em Tordesilhas a 7 de juno de 1 ‘o meridiano que passa a trezentase setenta léguas a ovate do ai lago de Cabo Verde, Essa decisio levanta um problema. Mesmo le do-se em conta a dificuldade que existia ento de avaliar exat as distancias, o meridiano em questio incluia no dominio portu ‘ado 96 toda a Africa, mas também costa brasileira, da embocadi “Amazonas quase a0 Rio Grande do Sul.’ Ora, o Brasil 20 sera mente descoberto aeis anos depois, em 1500. Orei de Portugal jé teria conhecimento de sua exis buficientemente para oeste as fronteiras do seu dominio, garantir a posse do futuro Brasil? De qualquer forma, os limites de Tordesilhas, fue se prolongam de outro lado da Terra, definem uma partilha do mundo que tera consegiléncias consideréveis A primeira viagem de Vasco da Gama as Indias (1497-99) ‘A viagem a fndias pela rota do Cabo, que depois da facanha de Bartolome Dias parecia possivel,realizou-se no reinado de D Manuel 1 (1498-1583), sucestor de D. Joo M.D. Manel I eacolhet como comandante-emvchefe Vasco da Gama, ¢ 0 colocou a fre tuma frota de quatro navios, dos quais um, carregado de provis6es, cone destruige durante o pereurso, Pela primeira vez na historia dos +O meridiano passanaatual cidade de Laguna, no estado deSanta Catarina,onde Int um mommenso alusivo ao fate. (NRT) a os Lisboa Ultsmasina descobrimentos o comandante-em-chefe era encarregado de fun- iplomaticas. Levava uma carta dirigida ac Samo- ‘com quem D. Manuel I desefava estabe- lecer relacées politicas e comerciais. ‘A frota deixa Lisboa a 8 de julho de 1497. Durante algum tempo, & acompanhada por uma caravela, que conduzia Bartolomeu Dias a S50 Jorge da Mina, Os quatro barcos de Vasco da Gama eram o Sdo Gaériel, comando direto, o Sido Rafzel, sab o de seu irmao Paulo da 2 0 navie de viveres sob 0 de 0s pilotos haviam sido cuidadosamente escothidos sfael eraum dos mais célebces do seu tempo: Paro de Alenquer, que acompanhara Bartolomeu Dias em 1487-88, Havia qua~ tro mestres de equipagem, trés escrivaes de bordo, dois intérpretes — tins, que sabia arabe, e Martim Afonso, que vivera no guns religiocos, os marinheiros ecalafates indispensaveis manutensio, soldadas, e por fim alguns degredados, 19 4 deportacdo, que deviam ser atando- tegrar-se.a populacio local servie, mais, 0 da partida da rota? £ difcl pracisae.Talvez conto @ cingtienta a duzentos homens Entre eles, havia um certo Alvaro Velho, a bordo do Sto Raft. Ignora-se asa fungio exata, mas deve-seaeleum diaric de bordo que relata toda a viagem de ida e a viagem de volta até a Guiné. Essa aventura, Utiizaremos largamente esse texto, ‘A pequena frota pai alisio, passa ao largo coutins pelo nevoeiro, De ac pam-se em Cabo Verde, A27 todos o8cinea ancoram no parto de Praia (dizia-ce entio Pri Maria), aa ilha de Santiago. de Lisboa a 8 de julhe de 1497, Levada pelo se dirigir aSao Jorge ipreendem entio um longo péripio, que vai yembro, a um ponto da Africa austral stuado 1a Foperanga, Apesar do mistério relativo, e talvez voluntario, que eavolve essa travessia, sobre a qual o didrio de Alvaro Velho ¢ muito pouco explicit, todos Pralogo 3 oshistoriadores concordam que Vasco da Gama seguita roa que sera oravante a de todos 0s navios a vela que izdo do Cabo Verde a0 Cabo da Boa Esperanca:como no Antico su os ventos daminantes sopram. fom sentido antichordrio, é muito diffe, na ida, atingir ditetamente cabo; € preciso pois, uma vez atravessadas as ctimarasequatoriais Com todas av suas armacilhas, deixar-se lover muito longe para este, depois rumas para o sul, © enfim para leste, abandonando-se Leorrente do vento. Tal rota obriga a passar bastante perto das costas brasileiras,e compreende-se como.s partugueses deviam ser fatalmente levadoe a encontri-las, Paradoxalmente, 0 Brasil, na Soca da marina a vela, fava situado no caminko que condtzia da Europa a india. saa (01, portant, a rota seguida por Vasco da Gama, Na altura da Serta Leos, tomou a dizegio sudoeste, navegando em aproximadamente 0 34° ou 35° grau de longitude cest lo porta do Bras, inictou alonga bordada que devia recand- porta sul da Afica. Eevidente que, para eacother semelhante portugueses deviam conhecer com bastante preciso o regime dos ventos no sul do Ailiniico. Mas era necesséria uma Soragem singular para atirar-se assim & imensido do oceano com fs meios de que entio ce dispunha, © périplo da Vasco da Gama ¢ tim dos grandes feitos da historia da navegacto. ‘de novembro, Vasco da Gama avista as costasafricanas. A7 do ancora numa grande baia a que di o nome de Santa 1 como lembranga do vendaval de 18 de agosto, dia da festa dessa sania. A bala de Santa Heiena, que ainda conserva esse nome, encontra-se a ceste do cabo Columbine, acerea de cem milhas do Cabo da Soa Zeperancs. Depois de tls meses no mar aescala em Sania Felena tera 2 duraqio de oto dias Limpam-se os navios, cepa ame ao veia,recolhe-e madeira, Aparecem alguns homens, Tém a pele escura, «Alvaro Velho observa neles um detalhe estranho: 0 2 thvolucro peniano, “Cobrem-ze com peles",escreve ele em seu didcio, “cuusam bainhas em sas partes naturnia” Compra um dessesobjetos porumceitl, Apodera-se deum indigenaquecoletava mel selvagem Po levam 3forcaatéo comandante-em-chefe, que 0 convida para a sa mesa, manda vest e reconduzi-o a terra. Mostram 205 negros Canela, cravo, our « pequenas pérolac, mas cles parecem desconhecer fsces pradutos preciosos, Decididamente,afndinesuasriquezas ainda Sstio longo! Um certo Femao Veloso parte, cozinho, para a aldoia Siscana, Mas essa confmatemizagéo acaba mal, e, quando ele volta, stoura uma rixa entre os pormagueses © 08 negro, durante a qual “o 6 Lisboa Uiramarina ‘comandante-em-chefe foi ferido, assim como trés ou quatro homens”. Assim se deu 0 primeire contato dos europeus com os indigenas da Africa austra, A 16 de novembro, deixam a bala, ¢ a 18 aparece o Cabo da Boa Esperanca, Depois de varias cormagGes de rama, canseguem dobra-lo 4 22 de novembro, A. 25 cesse més, langam Ancora na Angra de Si Bris, talvez a “Bala dos Vaqueiros” de Bartolomeu Dias, atual Mossel “Ali, abastecem-se de dgua e destroem 9 navio de viveres, distri- buindo a sua equipagem e 2 seu caregamento entre os tris outros. Permanecem nesse local por doze dias. Os ind(genas mostram-se em grande nlimero. Sio criadores de bovinos, Como sio relativamente pacifices, o escambo funciona bem. Em sua narracio, Alvaro Velho conta o seguinte episidic: No sibado, vieram cerca de duzentos negros, grandes e pequenos, conduzinda umas deze cabaras de gado, bois evacas, equatro ou cincs cameiros. Logo que os vimos, descemos para terra, Imediatamente comecaram a tocar quatra ou cinco flautas. Uns tocavam alto e outros Dalxo, de modo aie, para aegros, individuos dos quais no se espera facam miisica, eles focavam muito bem juntos. Z dangavam como as ombetas, ©, nas chalupas, nds dancavamos eo comandante-em-chefe dancava também. ‘Quando a festa acabou, desembarcamos no mesma lugar que da outa vez, 2 la trocamos trés braceletes por um boi negro (si) e dele fizemos ‘9 nosso jantar do domingo, Era muito gordo e sua carne era saborosa como a dos bois de Portugal Depois de erigir um padrio, que os indigenas logo destruiram, 2 pequena frota, reduzida agora a trés barcos, faz-se ao mar a8 de dezembro. No sébado, dia 16, ela se encontra diante do Rio do Infante (Great Fish River), ponto extreme atingido por Bartolomeu Dias em 1488. E detida durante algum tempo por ventos e correntes contrarias, fepois retoma o seu percurso. A costa se curva para o norte. Estio mares em que nenhum navio proveniente da Europa havia interiormente, Natal, A 11 de janeiro de 1498, abaste- yenas sio acolhedores, e que fe ali a foz de am rio, que 19 atual Mocambique, ques. A 24 e 25 de janeiro, tada um pouco ao norte da sm o$ habitantes estimlam Prologe —ratacs u ‘9 prosseguimento da expedicio, ¢ dio a ease rio o nome de Rio dos Bons Sinais. Mas 0 escorbuto comesa a atingir a equiipagem. Relata Alvaro Velho: Ficamos neste slo tinta ¢ dois dias, durante os quais nos aba de Agua, limpamos os aavios e reparamos 9 mastro do Sid ‘muitos homens cafram doentes: seus pés emdos inchavam, a3 suas gengivas, atal ponte que no podiam comer, A2 de marco de 1498, ancoram perto da iha de Moca! que fravam 0 primeiro contato com o mundo mugulman Oriental. Alvaro Velho observa que os habitantes do lngar de Maome e falam como os moures’ (maneira de di arabe). O interprete para 0 arabe, Ferio Martins, os compree ro porto barces que pertencem a mercadores musulmanos, portam especiarias, ¢ também ouro, prata, pérolas peda! (Os portugueses deixam Mocambique a 11 de marco de sguiram um piloto muculmano, masa falta de vento os obri tem a Mocambique. As elagdes com os aut6ctones pioram, ha combates, 4.27 de marco, partem definiti ancoram perto de Membaca, no atual Quénia, lacdo local ¢ cada vez mais evides ‘maquinacSes decertos “mouros' ( para terra e matéclos. Partem de Mombaca a 13 de abril. No dia seguinte, 14, apoderam de uma embarcagio efazem prisionsirosas dezessete homens estavam, No mesmo dia, chegam &atual Melinde, no Quéni fera é bem diferente da que encontraram em Mombaca. recebe-os amistosamente e [hes fornece um tempo, acreditousse que esse piloto fosse o far tum dos melhores pilotes orientais do seu tempo, mas trabalhos recen- tes 1 ele havia deixado de navegar por volta de li “A 24 de abril, frota deixa Melinde, e, sob-a-dinecio d costas da india ene domingo, dia 20, langam Ancora per objetivo final da viagem. Ficam ali pouco mais detrés meses, Vasco d Semorim. Esse titulo, que significa “senhor do. mar soberano de Calicute, principal porto da costa do Mal muito freqlientado pelos mercadores arabes do mar V negociavam com especiarias. Vaseo da Gan carta de D. Manuel I, que Ihe propunha uma alianga e o estabel to de relagses comerciais com Portugal. Mas 0 soberano 8 (sb Uttara nciado pelos mercadores mugulmanos,s2 mastra evasive, Vasco yma @ 05 seus so retidos e ameacados. Conseguindo voltar a bordo, Vasco da Gama deixa Calicute 29 de agosto e chega a dha de wgediva, cerca de quatracentos e vinte quilémetsos mais ae norte. La, ta seus navios e permanece até 5 de outubro. rimeiro contato dos portugueses com os habitantes da india, que, como vimos, nfo foi muita amistoso, merece alguma reflexo. Os portugueses chegavam com a intencao de estabelecer relagSes comer- {inis, pr atrair para Lisboa otrafico das especiaraa, que se fizera até fentio exclusivamente através dos mercadores arabes. Além disso, {queriam fazer contatocomos crstioa da indi, que existam realmente, thas que eles imaginavam muito mais mumerosos do que eram. Enfim, os portugueses exam profundamente hostis aoe mugulmanos (que chamavam de “mouros”, come no Ocidents), que encantravam agora ‘mais uma vez no sou caminho, que, para cles exam a0 mesmo tMPO Jnimigos da fe concorrentes comers. ‘Alvaro Velho fez parte da escolia de toze homens que acompankow ‘Yasco da Gama em sua primeira visita ao Samorim. Ele deserve em seu diario todos os detalnes da cena: Vasco da Gama chega carregacio Sobre um palanquim, saguido dos treze pormugueses a pe, enh tama imensa muito observa esses estrangeiroe Sarbudes que gam do fim do mundo, Séoconduzidos am templo hinds, que oman Som hesitar por ma igeja, 0 conrencidos extavam de que sacha vam em tera eit Conduziram-nos entio a uma grande igreja, na qual havia ascoisas que se seguem. Primeizo, 0 corpo da igreya, que tem o tmanho de um ‘monasterio, construido em pedras talhadas em forma de tjolos. Ehavia ta porta principal um pilar de bronze, e no cume desse pilar estava um passaro que parecia um galo, eum outro pilar da aleura de um homem, muito grosso, Eno meio do corpo da igreja ests um campanaio toda ‘em cantaria, com uma porta bastante larga para que um homem possa passar, © uma escada de pedra, porque se subia através dessa porta, que je bronze. Ehavia dentro uma pequena imagem, que diziam ser da Ediante da porta principal da igreja, a0 longo do muro, pequends sinos. La, 0 comandanteem-chefe fez oragbes, dessa “igreja”. Os sacerdotes, 19, que descem de seu ombroesquer- “como a astola dos disconos", os ies dio “uma argila branea que os de colocarna fronte, no peito, em volta Wvaro Velho observa numerosos “santos” Prolog ca pintados nas parede quatro ou cinco bracos’ na ida, pois a estacio era desfavor Chegam a Melinde a 2 de janeiro racebidos pelo sultio local. Pas ‘queimam 0 Si Rafael 20 Bérrio, entre o8 quais sio distrib do, Partem outra vez 2 ancoram dia Masambique, onde Vasco da Gama A3 de margo, astio na Angra de Esperanca no dia 20. Empurrados pelo rapidamenteo golfo da Guiné em linha reta. na foz do Geba, na atual Guiné-Bissau. Aquitermi Velho. (Os dois barcos atingem entio 3 ‘9 mais depressa po: Lisboa, onde cheg: Gama, vendo seu imo Paulo gravemente doen nna qual volta a Portugal pela costumeira rota do: ‘Terceira com seu irmao moribundo, Congiara 0 Sa, que fora eserivio de borde do Sio Rafi ‘paca. Jodo de $a chega a Lisboa antes de 2 Gama, cuje imo morrera na ilha Tereeira, chega po difiell de precisar, talvez a 29 de agosto de 1499." Pedro Alvares Cabral descobre o Brasil (1500) Depois da volta de Nicolau Coetho, D. Manuel I decid ‘uma nova frota, muito maior @ mais poderosa quea di Dao seu comando a Pedro Alvares Cabral. Tendo ou trinta e és anos deidade, Cabral perte nobreza. Néo era marinheiro profissional; cer por suas qualidades de chefe guerreiro. com treze navios, ¢0 efetive total da equip: * Segundo alguns autores a chegada de Vasco da Gara desetembra: NRT) 20 {Usbea Utama Nunca semelhante armada navegara para to 10. Um des pilatos era o famoso Pero Escolar, que explo- iuiné no tempo de Femao Gomes e pilotara 0 Bérrio na, de Vasco da Gama. A frota deixa o Tejo a 8 ¢ 9 de marco de 1500. Passa ao largo das Candrias a 14 de marso, e de uma das ithas de Cabo Verde a 22 de marco. Canstatz-se no dia seguinte que uin dos navios desaparecera Reduzida a doze embarcacses, disige-se para sudoeste, inician- do a grande bordada que, no At Boa Esperanca. Fé entdo que, a 22 de abril de 1500, avistam terra. Cabral batiza-a ha de Vera Cruz. Era 0 Brasil! No dia seguinte, 23, Nicolau Coethe desembarca de uma chalupa com alguns marinheiro Depois,a frota procura melhor local para ancorar. Encontra-o a algu- mas léguas mais 20 norte, numa enseada que se identificou, em nossos dias, com a Bala Cabrilia (a 160" 17" delatitude sul), perto do rio Mutari (chamado outrora Ilacumirim), um pouco ao norte de Porto Seguro, na parte meridional do Estado da Bahia. Ficou ali até2 de maio. ‘Um dos navios, comandado por Gaspar de Lemos, parte no mesmo dia para Lisboa, a fim de anunciar 0 descobrimento. Leva uma longa carta, dirigida a D. Manuel I, redigida por Pero Vaz de Caminha, escrivdo de bordo de um dos barcos. A.carta esté datada de 1* de maio. Neste volume (p. 145) reproduzimos esse extraordinsrio documento. Eserita no momento exato do descobrimento, a carta de Pero Vaz de Caminha abre realmente “ao vive”, como dizem atualment listas da televisdo, a histéria do Brasil. Impressionam a simp! 3 naturalidade eo estilo pitoresca do relato. Narrando os principais ‘episédios que marcam a chegada dos primeiros europeus 3 terra do Brasil —o contatoa principio desconfizdo, depois mais amistoso, com 8 indigenas, 08 primeiros passos neste solo deeconhecido, o levanta- mento de uma cruz, e enfim a missa solene celebrada na praia, na sexta-feira, 1 de maio —, Caminha faz reflexes referentes & natureza homens. A natureza é acolhedora, risonha, colorida. Homens 2 (0 belos @ pacificos. Esto completamente nus, mas n30 m vergonha. Em suma, parceem viver na inoctacia da na~ 10 Adio e Eva antes da queda. Ninguém duvida de que ser 's. Acarta de Caminha ¢a primeira expresso deuma nsamento que, a0 se desenvolver, resultard, no Brasil e na idealizagdo da natureza tropical no tema do “bom 1 aoa quais est reduzida a frota de Cabral, deixam, Protege = 22 de maio de 1500, a" Bartolomeu, é separado do percuirso pata o oceano Indico. Os. partiram de Lisboa, chegam enfim & ind iam o Brasil? Os portugueses ja conh ‘Mas foi Cabral realmente 9 primeiro a atingir dam. A obstinagio com a qual o3 negoc que 0 meridiano de Tordesilhas fosse este, longe © suficiente pata que 0 teritor englobasse toda a costa brasileirs, do Amazonas 96 pode ser explicada, segundo eles, porque ji! dessa terra. J4 mencionamos esse Tordesithas. De acordo com essa hipétese, a Brasil seria simplesmente uma espécie de ence oficializar um descobrimento j realizado, ede proclam. terra pertencia a0 rei de Portugal. 6 documentos que atestassem a existéncia de viagens de dese mento ao Brasil antes de 3500 permitiriam comprovar wssa hij iizmente, nenhum dos arguments alegados é verdadeiram conclusive. Séo eles, no essencial, de dois tipos. Por um lado, tré2 navegadores espanhois — Alonso de Hojeda, Vicente Yanez Pinzén e Diego de Lepe — efetuaram, provavel antes de 1500, expedicdes na regio que é atualmente a costa se! tal do Bras. Trctaveu, peru te, de explorr oa ares vizinRoe da regido das Caratbas, onde penetrara Cristévao Colombo, ‘viagens, cuja existéncia levanta miltipios problemas, no uultrapassado a leste o estuario do Amazonas. Mais interessante & a hipotese relativa a uma expedi sido realizada em 1498, a0 longo das costas do Brasil, por gem fora do comum, 0 célebre Duarte Pacheco Pervit cosmégrafo, navegador e guerreiro, Duarte Pacheco pa exploracées do golfo da Guiné, e Bartolomeu Dias, vviagem, em 1488, o encontrara, doente, na tha do Principe, © para Lisboa. Era cavaleiro da casa do ri, ¢, quando das negociagoes, que resultaram no Tratado de Tordesithas, fizera parte da delegacao oe Lisboa Uiramarina pois inverossimil que D. Manuel To tenha encarre- e uma missao de exploracio nos limites ocidentais do ‘Mas foi alguns anos mais tarde que ele se distinguiu. para as Indias em 1503, ali ficou até 1505, e tornou-se lustre bates que opunham 02 portugueses a0 soberano de Calicute. tomnars, para os cronistas portugueses, 0 tipe do em suma, uma espécie de hersi nacional. Vol- jpreende, de 1505 a 1508, a redacdo de uma obra peauena frota, que derrota, ao largo do cabo de Finisterra, 0 corsario francés Mondragon. Em 1511, participa da expedigdo enviada para sovernador do castelo de Séo Jorge da Mina de 1518 fom desgraca e more em data que ndo se pode 5. Homem de acio e também de pensamento, segurando nas méos, como diz Camaes, a espada e a pena, Duarte Pacheco é uma persona- lidade muito caracteristica do tempo dos descobrimentos. A obra que ele deixou, 0 mencionado Esmeralio de situ orbis, &, & imagem do seu manuseritas foram conservadas. las foram redescobertas no século XIX, e 0 Esmeraido de situ orbis péde entio ser publicado. Trata-se de ‘ou inacabada ¢ nunca foi impressa na época. Duas copias uma exposicdo dos conhecimentos gaograficos (0 sobre o mundo. dda obra se encontra uma pagina que sempre chamou. num actimulo de suberdinadas, e 0 pensamento do autor. Pacheco jem de deseobrimento? Quer longo e abacuro period lé-s: ~ protoge = indo ao longo da dita costa, continuando [+o mesmo meridiano} sul], foiencontrada grande quant pprocurada como corante, de ond fuitas ousras coisas, das quais Mas aqui também o texto é ambigu ‘Duarte Pacheco? Por outros? Nao se sa pensam ques expedicio de deseobrime: que Duarte Pacheco foi o seu chee, #que destino as costas brasileiras. Se tiver sido assi bridor do Brasil ado seria Cabral, mas Pacheco. i duvidar. A América do Norte e 0 Labrador Existem muitos pantes obscures na historia dos descobriz nesse sentido, poder-te-is falar de Mar Tenebroso. Quem rancar todos os segredos ao oceano devorador de homens ¢ Vamos reencontrar esses mistérios ao deixar as costas brasil para a qual foi organizada, ja em 1501-02, uma expedicéo participou o florentino Américo Vespucio, que teve a gloria Abusiva de dar seu nome ao continente descoverte por Cristovao Colombo —,¢ evaminar o papel desempenhado pelos portugeses na cexploracdo do Atlantica Norte. ‘Um historiader descobriu no fim do séeulo passado, nos arquivos de um processo, a existéncia de dois personagens originarios da ill ‘Terceira, nos Agores, Jodo Fernandes Lavrador e Pero de Barcefos, que navegaram durante trés anos no Atlntico setentrional e atingzram a Groenlandia, Tratava-se na realidade de uma redescoberta, jé que todos saber que 08 vikings ali tinham pisado muitos séculos a Alguns mapas da épeca designam efativamente a Groenlandia home de Labrador, que ¢ 0 equivalente espanhal do Lavrador, Ease mesmo toponimo designara mais tarde a. canadense de Labrador. Se a existéncia dessa exp: vel, sua data € diffeil de precisar. Mas certos indici ela ocarmen entre 1495 ¢ 1498. Pouca depois houve outras exploragSes nas guas frias do Norte. Eias tiveram como autores dois irméos também originarios dos ot (Ustoa Uitmarina| Acores, Gaopare Miguel Corte Real. Em 1500, Gaspar atingiréa Groen lindia, Terra Nova, Canadé, © Sdo Lourenco e 0 Hudson. Partin ovamente no ano seguinte edesapareceu, Sewizméo Miguel vai entio 4 sua procura, em mao de 1502, e também desaparece. © que teria aconteciéo acs ieméos Core Real? Existe nos Estados Unidos um misterioso rochedo — o ochedo de Dighton — sitaado na fz do so Taunton, em Maseachusets, a0 norte da localidade de Fall River. Nesse rochedo, aparecem inscrigdes entrecruzadas, que data de diversas épocas, «que a ajdo da tempo e a erosio das mazés ‘omaram dificlmente legiveis. Alguns aczeditaram ter decifrado 0 ‘nome de Miguel Corte Real eas és palavra latinas hic aux ind forum} (“aqui cheie dos indianes"), Seria prova de que Miguel Corte Real “riven ali depots de sew naufzagio e qe se tornou chefe de uma tbo indigena, Na realidade, as inseicbes do rochedo de Dighton 840 td0 dificeis de le que nelas se pode encontrar tado o que se deseja. O im Gosirmaos Corte Real conserva seu misterio, Mas # uma bela historia A viagem de Magalhdes (1519-22) A viagem de Magalhaes ¢sem diivida um dos maiores feitos maritimos ddos descobrimentas, e talvez até de todos-os tempos. pois, embora navegasse sob © patrocinio do rei da ortugués. Caamava-se Fernao de Magalha- \duzicam como Hernando de Magallanes, Magellan, Nascido por volta de 1480, permanecera por longos anos, até Malaca. Travara conhe- responsivel pela feitoria das * Eolog do outro lado da Terra, e cuja integracio ao hemistério espankol em virtude do Tratado de Tordesilhas era contestada peios portugiteses. Possuimos seis relatos da viagem de Magalhies, feitas por homens ia tomaram parte, A mais longa ea mais detalhada ve devea um iano originario de Vicenza, Antonio Pigafetta. E nesse celato que nos inspiraremos, completando-o, quando necessirio, com 08 outros, particularmente com 9 de um pilota genovés andnimo. Todas concor- Gam no essencial, mas sio de extensio muito desigual e divergem em muitos pontes secundirios, especialmente quanto aos nomes de luga- res es datas ‘A frota deixa San Lucar 2 20 de setembro de 1919, faz eseala de alguns dias nas Canérias, passa ao largo das ilhas de Cabo Verde sem se deter, navega para Serra Leoa e depois tomaa diregao oeste, Durante ‘a travessia do Atlantico, um grave desentendimento, pesado de amea- (28 para o futuro, acorre entre Magalhges e um de seus principais comandados, Juan de Cartagena, que chefiava 0 San Antonio. Chegan- do ascostas brasileira, afrota percorre-a até a baia do Rio de Janeiro, onde faz escala de 13.2% de dezombro de 1519. Em seguida, parte em directo a0 sudoeste e chega ao Rio de la Plata, que estava situado a cceste do meridian de Tordesidhas, e, conseqitentemente, sob dominio ‘espanhol. Magalhies constata que é 0 estudrio de um rio e que ali nfo hha nenhuma passagem para este. Continua, pois, em diresdo ao sul, para em duas ilhas povoadas de pingilins e focas (que se chamavam enti lobos-marinhos) e chega a 31 de marco de 1520 ao local onde se fencontra atualmente 0 porto argentine de San Julidn, com a intencio de lé passar o inverno austral. Foi durante a escala em San Jullin que estourou um sérfo motim. Entre 0s eabecas do movimento encontravam-se alguns dos principais comandantes da frots, e em particular Juan de Cartagena de quem falamos ha pouco. Eles tinham tramado assassinar Magalhies e voltar | Espanha. O comandante-em-chefe identifica os culpadas e pune-o8 com extremo rigor. Aqui, as diversas narracées divergem, masconclui- 2 que alguns foram exccutados e outros abandonad ta, De- pois, Magalhies concede perdao, mas modifica a o comandos, Envia 0 Santiago para o sul,em misao de see barco naufraga, mas qutase toda a equipagem se salva. Em fins de agosto, Magaihies deixa San Julian, mas para de ida, dobra pera dois meses antes de reltomar a viagem. Em sey cabo que denomina Cabo das Virgens, pois era dia 21 da festa das Onze Mil Virgens. Ele encontra uma bal entrada de um estreto, Penetra ali prudenteme | none Plog ” 36 Ustoa Ultramarina Antonio © o Concepeién em reconhecimento, enquanto 0 Trinidad e 0 Victoria permanecem ancorados. Levanta-se uma tempestade, que poe os barcos em perigo. Entretanto,o San Antonio eo Concepeidn eumprem sta missio de reconhecimento, percorrendo uma série de baias que se comunicam através de estrvitos canais. A paisagem ¢ dominada por ‘montanhas coberias de neve. A Agua ¢ muito profunda, ¢ 36 se pode ancorar aproximando-se perigosamente da margem, (© Sar: Antonio e 0 Concepcion vam prestar contas dos resultados de sua exploracio, 20s quatro navios pencteam juntos na profindeza do ‘estreito. Chegando a uma tiltima baia, encontram diante de si duas passagens: uma é orientada para 0 suceste, a outra para o sudoeste, Magalhaes envia o San Antonio eo Trinidad para a primeira, ese dirige para a segunda com os dois outros navios. Ent, instigadoa por set piloto, os marinheiros do Sax Antonio se amotinam, aprisionam 0 seu comandante — Alvaro Mesquita, que era primo-irmao de Magalhies —e iniciam a volta a Espanha. Magalhaes, que ainda ndo sabe disso, 5 durante quatro dias. Aproveita esse tempo para enviar uma chalupa em reconheci- estreito, e que mas o San Antonio continua desaparecido. Magalhiies 0 supde per- dido, Entio, de acordo com as instrucSes recebidas para enfrentar tais situacdes, manda erguer cruzes nas elevagdes, aos pes das quaiscoloca mensagens dando todas as indicacSes necessirias sobre para alcangé-lo, Depois, parte com os trés barcos qui ‘chega enfim ao outro lado, num oceano calmo e pacifico, a0 qual da 0 nome de oceano Pacifico. (© Trinidad, 0 Victoria 2 0 Conespaitn levario quatro meses para atravescar essa imensidio, Nenhuma frata européia viera até entio a esas regives, ¢ Magalhdes ndo tem, para guiar-se, nem mapa nem roteito. A agua e 0s viveres logo escasseiam e muitos homens morrem de escorbuto, “O biseaits que comiamos”, escreve Pigafetta, "ado era ‘mais como um pao, mas uma poeira misturada com os vermes que Ihe haviam devorado toda a substincia. Além disso, essa poeira tinha um saportavel, porque estava embebida de urina de ra- ite longas semanas, no encontram terra, exceto duas Em margo de 1521, encontram uma ilha com habitan- chamam de “ilha dos Ladrdes” (era uma das Finalmente as Filipinas. de uma pequena ilha, que se pode identificar com Limassawa, ao sul de Leyte, O rei local recebe-o8 amistosamente, Um certo Henrique, escravo de Magalhies e originario de Java, compreen- de a lingua do pais, e servird de intérprete, No domingo de Piscoa podera abrir uma loja na vassalo de Carlos Ve aceita adotar a todo 0 seu povo otratado, queo ajudasse aconvencé: cedo, Magalhies, 4 frente de um di desembarea em Mactan e da comb: acaba mai. Magalhies ¢ oito de ventes debandam e abandoi companheiros. Depois desse revés, a situa: devia fazer jogo duplo, 0 rei d ‘uma aborninavel traigéo. Convida pa comandantes da frota e seus acompanhantes. Vinte e quatro pessoas comparecem. Durante a refeigio, todos afo massacrados, exceto 0 javanés ctimplice e Jodo Serrio, que, ferido, e arrasta até a praia, e que 9s colegas, apesar de suas euplicas, recusam-se a socorrer. Dos duzentos e sessenta ¢ cinco homens que deixaram a Espanhay 6 resta agora uma centena, que abandonam imediatamente a ilha maldita de Cebu, Fazendo uma escala perto de Bohol, queimam 0 Concepcién, cuja equipagem é distribuida entre o¢ dois navios que lhes restam, o Trinidad e 0 Victoria, Depois, comeca um longo cruzeiro através das ilhas ocidentais do arquipélago filipino, até Bornéu. O lal chegara até essas regides: encontram um rei “mouro” e tra carenas dos dois barcos, e obtém informagoes sobre Molucas. (Chegam enfim a esse arquipelago, produtores das “sspeciarias”, as me: frava to avida. Os portugueses tinham ccupavam ha varios anos a pequena ilha de Ternate, a oeste da grande itha atualmente chamada Halmahera. Ali cles comerciavam e se pre- 38 Laboa Ultamarina nossos homens se preparam pata Vi que o porio do Trinidad e que levara varios navio usa a “rota dos portugueses", como se dizia ent, isto &, a do Cabo da Boa Esperansa. Chega primero a Timor, onde fica, segundo Pigafetta, de 25 de janeiro a 11 de fevereiro de 1522. Elcano escatne em seguida um itinerdrio que passa pelo sul de Java e de Sumatra, a fim de evitar os portugueses. Pigafetta e nossas outras fontes nada 03 diizem sobre como 0 oceano Indico foi aravessado, Declaram. eatze- tanto, que a equipagem teria desejado fazer escala em Mocambique, pois havia uma terrivel falta de viveres. Mas tiveram coragem de renunciar a ieeo, para n4o ce dafzontar, mais uma vez, oma hostlida- de portuguesa. Sabemos tambem que ficaram nove semanas diante do Cabo da Boa Esperanca sem poder dobriclo, por causa das ventos , diz Pigafetts, “com a ajuda de Deus, wel cabo a6 de maio.” Navegando em linha reta para o noroeste, atingem as has de Cabo Verde a 9 de julho. Perderam vinte e um homens nessa tavessia, No dia seguinte, na escala de Santiago, perguntaram que dia era. Respon- deram-lhes: sexta-fira, 10 de ullto. Or, eles tinham contadowuicado- samente os dias desce a sua partida da Espanha, e, para eles, era quinta-feira, 9. Esse mistévi, diz Pigafetta, se explica muito bem, pois tendo navegado para oeste, na directo do sol, deviamos, a0 voltar 20 ‘mesmo ponto, ganhar vintee quatro horas em relagio aoe que fcaram, Basta refletiz para se convencer disto.” Nessa escaia de Santiago, que ¢ terra portuguesa, treze homens, que tinham ido se abastecer, foram detidos e aprisionados. Os de- sais retomam viagem. A de setembro de 1522,chegam enfimaSan Lucar de Barrameda © a8 estio em Sevilha. Dezoito homens volta- vam a pisar o solo da Espanha — e os primeiros que deram a volta 0 mundo. Entre eles ae encontrava italiano Antonio Pigafetta, que Fy smungas de camisa, com os pes ' igreja de Nossa ‘omo prometeramos de transportaros homens ea carga do Pac 20 Atlantica, ‘Como ndo dispomos do testemunho tiltima aventura, devemos confiar no: imo piloto genovée, mencionado anterior espanol chamado Gines de Mafra, ambos completando-os com um manuserito conservado em Li que certamente resume a narracio de outro sobrevivente, Acrescente mos a esses textos uma carta enviada ao rei. Joao II], em 1523, por “Antonio de Brito, comandante da fortaleza portuguesa de Te Molucas, que recalhieu of cobreviventes quando voltaram. Essas diver~ sas fontes divergem em alguns detalhes, mas concordam no essencial Pode-se, pois, reconstituir em linhas gerais, como vamos fazer, a aven- ura do Trinicad. Esse navio deixa a ilha de Tidore a 6 de abril de 1522, com uma eqaipagem de cerca de sessenta homens, sob a comando de Gonzalo de Espinosa, Saindo das Molucas, dirigem-se paranordeste ecomecam, a atravessar a imensidio, entio inexplorada, do Pacifico norte. Avan- am muito lentamente, por causa dos ventos desfavoraveis. A 11 de julho, atracam em uma das Marianas (talvez ailha de Guguan), onde fembarcam um indigena 3 forca. Em seguida, a extenuante travessia recomeca, sempre em direcio nordeste. Loge faltam agua e viveres. © varios marinheiros morrem. Chegam a latitudes situadas muito a0 norte, onde faz muito frio. Num determinado momento, vompreen- dem que nunca chegardo 20 destino. Entio — era o més de setembro —, decidem voltar &s Molucaa, de onde tinham partido hi aproxima- damente cinco meses. (Cnde se encontravam no momento em que fizeram meia-volta? : Ustoa Uitramarina Nossas diversas fontes concordam que tinham atingido 0 <0" ou 42° de latitude norte, 0 que significa, mesmo levando-se em conta imprecio das median ds pach, ue eave lu lugat entre o cul da iIha japonesa de Hokaid e o norte da distancia percorrida desde as Molucas era estimada et leguas, 0 que corresponde a mais ou menos trés mil milhas mariti- mas (cerca de 5.500km). Deviam, pois, encontrar-se no meio do Pacifico norte ‘A volta as Molucas foi mais répida que aida. Tornam a passar pelas, Marianas, onde o indigena que fora embarcado 3 orga foge. Quando chegam as Molucas s40 apenas vinte e quatro sobreviventes, tia wara~ quecidos que no conseguem lancar a0 mar 08 corpos de seus colegas icam sabendo que um destacamento portugués, comandado por AntOnio de Zrto, esti construindo ura fortaleza na lha ce Texna~ te, Espinosa envia-the o eseivao de bordo, portador de uina carta que um pedido de socorro, Em seu sofrimento, nosso expancis exque~ cem 0 conilita que opde as duas coroas ibricas Brito recebe a carta a 20 de outubro de 1522. Dé imediatamente a ordem de razero Trinidad a Temate, com o que resta de sua equipagem. Os sobreviventes si0 bbem tratados, salvo um deles, queé portugués, «que Anténio de Brito leva a julgamento. Flearam tres ou quatro meses em Ternate, esperando a volta da songio. Embarcaram entio para Malaca e para a India. All dispersa- ram-se. A maioria deles cabou seus dias nessa regiio,excto 0capitse Espinosa e um punhado de homens que voltaram a Europa. Zxte eles estavam @ andaimo piloto genovés ¢o eapanhel Gines de Mafra, que fizeram o relato dessa aventura. Rumo @ China ‘Quando 08 tltimos companheiros de Magalhies voltam, oo ha mais de cem anos que D. Jogo I inaugurow, com a conquista de Ceuta, 0 havegagio # das descobertas, Resta-nos mencionar a etapa a esse "século glorioco”, e que se refere eapecialmente & O esforso principal dos portugueses se dirigia para 1m estabelecido uma rede de praas fortes encar- comerciais, tendo como capital Goa, na portuguesa prosperou em toda essa “ira metade do século XVI. Os navios «a maior parte das costas e das ilhas do parte do m portugueses exploran Prolog oceano tndico e da Indonésia. Malaca fora conquistada em 1511 por ‘Afonso de Albuquerque. As iltimas pracas a leste eram as das Molu- as, de que acabaros de falar, respeito de Magalhaes. dim de Mainea, entre Borne, a3 Filipinas eo continente as se 0 mor da China. Os portugueses 38 penetaram ‘sua chegada a essa regides se fez por dus vias bem diferentes: coméreio ea propagacso da fécatélica, Foram assim 0s primeiros europeus a vsitara China 2 Japa. ‘A China era entio governada pela dinastia Ming. Osi ‘Ming mantinham o seu paie mem orgulhoso isolamento, recusando aos estrangeiros 0 acess0 20 seu torrtério, @ proibindo aos seus Suiditoo ab viagens longinquas. Depots da tomada de Malaca, em SLi, alguns mereadores pornagueses, como Jorge Alvares e Rafael Pereorelo, partem para a China por eonta propria, © rei D. Manel [ tonta estabslecerrvlagees oficsis. Envia um embaixador, © botiario ‘Tomé Pies, que chega a Canlio em 1517. O imperador o faz esperar treo anos, anies de autorizi-lo a ir a Pequim, onde ¢ muito mal recebido. Pode-se ler num dos capitulos da obra A procure de Catz, s desea misedo. Tratava-se, em summa, de um grande limpetador considerava a China 9 centro do min 1um principe estrangeiro pudesse enviar-lhe um embaixador a nao ser para Ihe prestar homenagem e reconhecer-se como seu vassalo. im de varios meses, Tomé Pires volta a Cantéo. Seus acompa com excecdo de dois deles, so massacrados. Ele proprio risionade. Morzera alguns anos mais tarde sem rever 0 320 a 1554, nfo Id mais nenhuma relagko oficial entre a eo estrangeizo. Os unicos suropeus no pais sio prisioneiros. Mas, auséncia de comeércio as claras, um trifico clandestino se orga Portugueses meto piratas, mefo comerciantes, se instalam em esta cimenios tempordrios, dos quais 0 mais conhecido ¢ Liampé (Qui Hai). Durante muito tempo, 0 imperador finge no ver 0 que aco tece. Mas em 1548-49, decide reprimir os metcadores estrangeiros, Liampé ¢ entio destruido. 8 nesse perfodo, em 155: Francisco Xavier tenta em vo entrar na China, pa Iho de evangelizaclo. Eobrigado a deter-se ds por itha de.Zang-Zhouen, que 05 portugueses chai situada diante do estuario do Rio das Pérolas ori ore 20 fim de tis meses. Em 1554, os portugueses so enfim autorizados a comerciar na provincia de Cantio, f nessa época que comecam a freqiientar Macau, 2 Usboa Ulramarina peninsula visinha dessa cidads. Em 1557, obtém o dizeito de “ Macas, em virnade de ima espécie de locagto perpensa, Mas Wt io passa de om ponto de encontro de mereadores: nao tern ‘ia em comum com 08 pontos de apoio fortfcados que 0 rei de Portugal poseui em outros locais da Asia. No mesmo ano de 1557, 0 dominicano Gaspar da Cruz também passa alguns meses em Cant. Evassim que os portugueses comeyam a entrar na China Ferndo Mendes Pinto e sua Peregrinagéo Devemes falar de um personagem bastante surpreendente, misto de aventureiro, traficante eescritor: Ferngo Mendes Pinto, Nascicio por volta de 1510, passou vinte e um anos na Asia, de 1537 a 1558, e morreu em Portugal em 1583, deixando um extenso relato da historia de sua vida, que foi publicadoapenasem 1614, como tituia dde Peregrinacao de Fernio Mendes Pinto. As experiéncias de Mendes Pinto, como ele as conta, sao em parte reais e em parte ficticias, de modo que temos um livro de um género bastante peculiar, meio autobiografia, meio romance de aventuras. Elenos dé uma imagem deformada da época dos descobrimentos, mas por isso mesmo significativa, Grande parte da estada de Mendes Pinto na Asia se passou no mar a China ¢ nas ihas e continentes As suas margens. No momento de sua chegada, e ainda por longos anos, essa regio de mundo fica fechacia 4 navegacio cegular 2 a0 coméreio normal, jé que a China, como vimos, mantém ento um orguihoso isolamento. Todos os mares situados além de Malaca, entre os continentese as ilhas, sdo uma zona que nenhuma poténcia organizada controla, um mundo cruel em que reinam o contrabando ea pirataria — terreno de-caca ideal para osque, como nosso Mendes Pinto, sonham com loucas aventuras e fortunas nos, em sua Peregrinacao, que, depois de participar de uma ia, & feito prisfoneiro pelos turcos. Vendido como resgatado pelas autoridades portuguesas, chega & servigo do governador de Malaca. Em 1539 e 1540, tleste, diversas missées diplomaticas em Sumatra ¢ lo-se posteriormente a pessoa de wm aven- erciante portugués chamado AntOnio de Faria. Este quer ve vingar de um pizata mugulmano, Coja Acem, que the roubou um. carregamento, Ele persegue o pirata por todas as costas do cudeste da Pogo a Asia e da China e, durante vario naubrigios e abordagens de junco: comparsas so afinal aniquilados. expedigéo de uma audacia inat Algum tempo depois, Anténio de Faria durante um tufdo, e ha apenas onze sobrevive 229, entre os quais Fernao Mendes Pi ‘Abandonados 3 propria sorte no porsugueses conhecem 08 mais terri humilhagses. Detides, presos, das, como o foram efetivamente, alguns europeus vi cidades do império. Fa época em que os tirtaros Nossos portugueses assistem a esse acontecimentos ‘artiria, Para terminar, acompanham uma delegacio tartaros envia ao wei da “Cochinchina’, pals que Jocal do atual Tonkin. Em seguida, o relato da viagem que Mendes Fi dois companheiros, Penetram primeiro na ha enfatiza que ele e seus compankeiros foram oa primeicos europ entrar no pais. Foram eles, em auma, os verdadeiros “descobridotes” do Japio. Voltando a China, Mendes Pinto revela aos mercadores insialados em Liampo que eles poderiam ter enormes lucros come Cando com o Japéo. Improvisam uma frota de nove jancos e partem para aquele pais, Maso episodio tem um mau desfecho: uma tempes- fade deste os juncos, « Mendes Pinto, com a8 potcos sobreviventes, Sjogado em uma das has Ryd-Kya, entre Formosa eo Japs. Desste Ge continuara viagern, volta & China e logo eaté em Malaca Depois, por ordem do governador portugues de Mal cama mised no reino do Peg atwal irmén‘a, assisted guereas que devastam entdo esa parte da Asia, e feito prisionero pelos home: dio rei dos Bramas, nimigo do tet do Pegu, 0 rei dos Beamas 0 en emmiseio “ate om prin Continente, auto dstante dal”. Esse misteroao Geisar de idensticar com o Tbe viagem se faz pelos sos, detalhe co no-se se ¢ possivel ir da China mer cumpre 4 Lisboa Uitrmarina Apds novas aventuras nas ilhas de Sonda e no Sizo, Mendes Pinto faz uma segunda viagem a0 Japgo, onde assiste a uma revolucio palaciana no reino de Bongo. Volta a Malaca, e lé encontra Francisco Xavier, 0 grande jesuita evangelizador da Asia, cuja figura vai dora~ vante dominar a narragdo. O apéstolo segue para o Japio para pregar o Evangelho. Efetivamente, sabemos que Francisco Xavier permaneceu no ceino de Bongo de 1549 a 1551. Mendes Pinto, que 5 pensava no ‘comércio, vai ao Japto pela terceira vez, e lé encontra Francisco Xavier. E como testemunha cular que ele conta na Peregrinecdo 0 fim da misao do jesufta, sua visita ao rei, sua disputa com os bonzos, Quando Francisco Xavier deixa o Japao, Mendes Pinto esta na mesma navio. De volta 2 Goa, 0 apéstolo quer evangelizar a China, e, como jé vimos, consegue apenas morrer abandonado por todos, diante do estuario do Rio das Pérolas, em 1552, Aigo seu encontro com Francisco Xavier, s6 conhecemos das aven- turas de Mendes Pinto o que ele proprio nos conta. Ora, muitas dessas aventuras sto inteiramente inverossimeis. Mas ao mesmo tempo & evidente que nelas existe uma parte de verdade, Mendes Pinto conhe- ‘eu esses paises, 2 As vezes nos di informacées precisas que tém toda a aparéncia de verdade. Assim, o leitor modemo fica perplexo, nko sabende onde tracara fronteira entre o real eo imaginario. Mas, a pastiz do encontro com Francisco Xavier, as aventuras de Mendes Pinto se inserem numa trama de acontecimentos que se pode datar e localizar. Nos os conhecemos principalmente pelos relatos dos jesuttas. Depois da confusio que envolve os capitulos precedentes, podemos agora ‘menos em parte, as narragSes do nosso herdi, © até nessa cidade, que éa capital da India portuguesa. Ele estd de partida para Portugal ¢ um rico negeciante que, endo feito fortuna, se prepara voltar ao ceu pals para nele passar em paz o resto dos ses dias, thiot, superior dos jesuitas na Asia, vai esperar no les Pinto acompanha-o, e depois as: welebradas em Goa, no funeral do santo. lor munca esperaria — é fulminado pela graca. Depois ‘iro espiritual em uma das casas da Companhia, Prelogo s pecador. Mendes Pinto nifo possui mais nada, Pede 208 jesuitas que © acolham, e é atendido, Mais ainda, far’ parte da delegacio de onze abril de 1554 para evangelizar 0 Japao. O ex-trafieante torna-se o irmio Mendes Pinto. A delegacdo 36 chegara ao Japao dois anos depois, Meses preciosos foram perdides 4 espera da mon Malaca, depois em Macau, E eis que enim nossos jest reino de Bongo. E entio que ocorre uma iiltima e definitiva reviravolta Mendes Pinto declars que, afinal de contas, n companheiros bruscamente ¢ volta a se tuaficante que fora por tanto tempo, Retors Gefinitivamente a Portugal. Ha de tudo nesse incrivel personagem. E impos: tudo o que ele conta, eao mesmo tempo éimpossivt nada, em razio das muitas informagées precisas v eal sobre a distante Asia. Mas justamente essas inconseqiiéncias & que s signifcativas. E ind, em nossa opinio, tentar mi quiseram fazer certos eriticos, para reduzir essa pei pla A unidade de uma tendéncia ou de uma paixio do: rele, por exemple e exclusivamente, uma especie de prearo ‘ou um escritor satirico, ou ainda um precursor do exotismo. FI que nao se pode rotular, simultaneamente traficante, soldado, pi Giplomata, jesuita, eseritor # sabe-se 1a mais o qué. Fenio Me: Pinio ¢ 0 aventureiro dos mares da China O Japio (OJapio,0 fabuloso Cipango, que Cristovio Colombo acreditava poder alcancar pela rota do oeste, estava, n0 inicio do sécuio X' quanto a China, Também ld os portugueses foram os p) ‘Acredita-se que eles comecaram a chegar por volta de 1543. Fe Mendes Pinto, como vimos, afirma ter si forma, os mercadores portugueses decider {que as relacées com a China estavam oficial Japio. Uma das mais antigas narracses, castelhano pelo pormgués Jorge Alvares, di igi de 1518, Depois 6 ‘soa Uivamarina abertura parcial da China, em 1554, e principalmente depois da con- ccessdo de Macau, em 1557, 0 intereimbio comercial com o Jape se torna mais intenso, io, ela ¢ durante muito tempo obra apenas dos jestuitas, entre os quais havia muitos portugueses. Francisco Xavier ¢ 99 primeiros missionarios chegam, como vimos, em 1549, O empreen- dimento ¢ um fracasso, e, em 1551, Francisca Xavier tem que voltar 4 india, morrendo no ano seguinte as portas da China, Em 1556, a nova '0 dos jesultas, aquela de que Mendes Pinto fazia part b a direséo do padre-mestre Belehior: outro fracasso. Mas, i pera comunidade crista: em 1581; havia no Japao duzentas iprejas e cerca de cento e cingiienta mui fis. Em 1583, dos missionarios, somando-se despertar no Ccidente um fesse pelo Japo. Ac mesmo tempo, esse pats aprenden a comhecer 0 Ocidente. Nesses primeiros contatos, 03 agentes principais, pelo lado europeu, foram os portugueses. Arnavepacto eos descobrimentos marcaram a historia de Portugal. Mas ao ampliar em tantasticas proporcées a conhecimento do mundo, sGo que o homem tinha de si mesmo, eles também téria universal. Todos os campos da atividade humana — relaces politicas e econsmicas, artes e téenicas, literatura, moral = religiio — foram afetados. A mensagem dos descobrimentos foi rece- bida em toda a parte ea tudo abalou, Citemos apenas um exemplo: a Utopia de Thomas More. Esse livro, escrito em latim por um humanista inglés e publicado em Louvain em 1516, que descreve asociedade ideal do "Pais de Parte Alguma”, toma como ponto de partida uma narracéo ‘imagindria que teria feito ao autor um marinheiro portugues, ex-com- panheiro de Américo Vespiicio. O mite da Utopia também & de certo modo, produto cos descobrimentos. ligrimas e sangue. Eé bom, apds quinhentos »mbranga. dificets de imaginar ainda hoje

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