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Yiterm 2 Eslordan doo cf Amer Ceiudlia Segoe ao, £® Colecao @ > @ gp Primeiros Passos 286 Ana Maria Alfonso-Goldfarb O QUEE HISTORIA DA CIENCIA editora brasiliense q h J i Copyright © by Ana Mara Afonso. Gear, 1994 ener parte dose pubiagin pd se rac "srnaconava om stoma evens, ocepads, reproouada por meio neediness cv ouos user ‘sen stage pre ae core Coon ne Sin tases ies ences tonto a) “= lence Se =e Tress paige aeons fn hss oe nes ‘smso ana memo) SUMARIO. Introdugo : wea Caminhos primeiros: uma imagem no ‘espelho da propria ciéncia..... 8 ‘Caminhos contemporaneos: espago independente de rellexao sabre a cléncia.. 68 Indicagdes para leitura a INTRODUCAO, Complicando 0 que parecia simples Nao deveria ser diicil entender do que trata a Histéria {da Ciencia, pois 0 proprio nome jf parece explicar tudo. At nal, Ciéncia @ Hisidria so formas de conhocimento sobre as quals quase todas t6m alguma intulpgo. ‘Voce pode no saber nada sobre Ciéncla, mas com- preende quando alguém diz que a cura para tale al doen ‘sid sendo cientifcamente estudada. Ou que nao existe ‘uma teoria cientifica para provar a telepatia. Enfim, mesmo ‘io sabendo dizer 0 quo 6 Ciéncia, vcd acredita que tooos 0s fermos @ ela relacionados — cientiicoa),cientticamen- te, cientista,cientiicismo,,. — 18m a ver com algo objetivo, sério, exato, © quase sempre importante © verdadoiro. FRaciocinio semelhante acontece quando alguém pergun- ta.0 que ¢ Historia. Embora na cabega das passoas exis- tam idéias muito diterentes sobre Historia, também, como no caso da Ciéneia, todos acrecitam saber por intuipgo 0 (ue seria Histéria. Vocé pode confundir Alexandre Magno - ‘com Carlos Magno. Mas, pele menos, voo8 deve saber que esses homens séo personagens histricas, que exitram de verdade e, portanto, diferentes das porsonagens de iogao, (problema € que intuindo 0 que @ Ciéncia © 0 que ¢ Histéria, mas nao conseguindo esclaracer, 0 mais provavel 4 que vocé consiga menos ainda exemplicar o que é His ‘ria da Ciéncia. Ooore que as coisas nd 80 to simples assim. Ou seja, ndo se trata de uma questao de saber ou ‘nao saber, e pronto! Nao basta juntar Histéria e Ciencia para que o resultado final provavelmente seja Historia da Ciéncia. E isso nao acontece 80 porque @ jungao ou a combinago de duas coisas diferentes quase sempre produz uma terceira com caracteristicas préprias, embora se parera com as que he ram origem. Isto é vardade para o caso de voed, seu pa f° sua mée; para a planta com enxerto do jardim; e também para a ligagdo entre teovias. Mas, no caso da Histona da Ciencia, a complicagae & ainda maior, porque a Historia da Ciencia, que se desenvolveu no interir da Ciéncia, ser pre esteve mais proxima da Filosofia (Légica, Epistemolo 4a, Filosofia da Linguagem), do que da Histia, Para falar 2 verdad, até tinta ou quatenta anos alrés, a Historia da CCiancia tha bem pouco de histéveo (dos métodos © dos, procedimentos da Histéria). Quando, finalmente, a Historia {a Ciéncia passou a usar pra valer métodes e procedimen- {0s préprios da Histéra, ela jd navia se desenvalvigo muito, com deteitos © qualidades proprias. [A Historia da Ciéncia foou assim duranto algum tempo, ‘como uma estranha no interior dos estudos historicas. Aos [pouces foi assimilando, ftrando @ adaptando elementos da Histéria, que combinava com outros elementos de Socioic: ia, da Antropologia @ de virlas cléncias humanas. A entra dda desses novos elementos no corpo da Histéria da Cién- ia deu também um novo sabor aos componentes da Cién- cia @ da Filosofia que de longa data combinavam-se para formar ossa drea de estudos. © resultado que temos hoje 6 uma Histéria da Ciencia complexa e com muitas faces, ‘sem com isso terse transtormado numa calcha de retalhos. Métodos e processos foram criadas para que a Histéria, da Ciencia pudesse adaptar, de maneira harmoniosa, es- Ses conhecimentos variados vindos das diversas areas. Formou-se assim um campo original de pesquisa com vida prépria e tudo 0 mais, e, a0 mesmo tempo, em constants ‘omunicagiio com essas dreas que emprestaram seus cO- nhecimentos & Historia da Ciéncia, ‘Acsa altura, voc® deve astar pensando que agara nto twrd como saber o que ¢ Histéria da Cigncia, No comogo parecia que o préprio nome ja explicava o assunto, Depois foi descobrindo que essa aparente faclidade no nome escondia quesioes muito complicadas. Como entender algumas dessas questées sem ter que ler moia biblioteca, ‘0u se transformar num especialista? Gomo sanar este pro- blema? ‘Vou contar uma histria: a historia da Histéria da Cién. «ia. Desse modo voré podera entender o iongo proceso histérico de transtormacao ¢ mudangas que justia a His: ‘6ria da Ciéncia levar esse nome. Com essa historia, vor tera a possibilidade de acompanhar os contornes do labi- Finto que foram formando a Histéria da Ciéncia, E, assim, quando um dia voc’ quiser ou precisar, sera mais fac o ‘contrat seu proprio caminho nesse labnint, Contando a historia de uma histéria Filosofia Natural, Magia Universal, Nova Ciéncla, Floso fia Experimental: esses foram alguns dos nomes com que 58 fentou batizar, entre os séculos XVI e XVII, 0 que hoje chamamos de Ciéncia Moderna, Muitas caras, além de muitos nomes, tove a Ciéncia naquela época, Ela estava nascendo e havia muita discussao e debates interminaveis ‘a respeito de quais seriam seus pontos de apoio, sous te mas principais et. Por exemplo, alguns achavam que a Cina deveria re {omar os conhecimentos cidssicos. Aqueles que surgiam ra Grécia antiga — por pensadores que vo de Tales de Mileto @ Arist6teles — © passatam para a civiizagao helenistica @ o mundo romano (dai que alguns estuciosos chamem esse periodo de cassico grecovomnano). J outros ppensavam que 0 melhor seria acabar com os conhecimen- tos classicos, comevar da estaca zero ouvit da propria natureza o que ela teria a conta, Entre esses dois casos extremos navia centenas de op bes intermedidrins, levantados por grupos — que normal mente chamamos covrentes, nhas ou escolas de ponca. ‘mento — ou apenas por um nico individuo, Eseas origens ccomplicadas da Ciéncia Moderna levaram a muitos deba- tas, em que todos queriam ter raza e Impor seu modelo para a Ciéncia que estava nascendo, Muitcs usavam histo Fas (ou estéias) bem singulares para justcar suas ideias ‘Outros contavam a histéra (oU a erénica) daqullo que esta vvam desenvolvendo em fermos de ciéncia, com isso acre- tava ter argumentos mais fortas no debate, ‘A Histéria da Ciencia nasce, assim, igada & propria Cin ‘ia, Muito mais do que uma historia, ela é uma justiicativa {da Ciéncia que ostava se formando, ¢ tem, poranto, o per {il do debate que estd gerando esta formagao. Entre os sécuios XVIll e XIX, 0 debate val chegando a seu final (pelo menos ofciaimente.., © vao se tormando também ofcials as “regras co jogo” em Ciencia, A Ciéncia val criando um perfil unico, cada vez mais parecido com aquele que quase todos conhecem agora. E no século XIX ‘que se cria o tormo ciéncia em seu sentido moderno (@ palavra ciéncia é muito antiga, tem origem latina, v quer dizer conhecimento em geral). E a palavra cientista passa 2 ser usada para nomear aquelas quo se dedicam a estu- os especies. Sao eles, portant, especialistas que no Podem ser confundides com filosoles ou tenicos que an- tes circulavam pelas dreas mais amplas e indefinidas da Filosotia Natural ou da Filosofia Experimental. E esses outros passaram a se relacionar sé Indiretamente com a itncia Modems, ‘A Ciencia desse perlodo jd sabia para quo veio e passa 2 influenciar desde a mucanga de curticul das escolas até ‘desenvolvimento das nagdes (quem nao tivesee uma boa CCiéncia — como até hoje... — percia 0 trem ca Hist). "Nessa fase a Ciencia nao precisava ser jusificad; els ers - oficial @ tinha 0 rosto do futuro do planeta, A Histéria da Cineia, sempre ligada a Ciéncia, passe também por essa, \vansformagdo, Novamente ela ndo sera uma forma de His- toria, mas Uma erénica interna da céncia. Essa espécie do erSnica serviria para ajudar os mestres que ensinavam Ciencia, tanto por meio de livras quanto 20 vive, a dar exemplos do que fora certo © do que fora errada no de- senvolvimento da Cigncia. E certo era tudo aquilo qué se transtormara na Ciéncia daquele momento; errado, tudo ‘aquilo que atrapalnou a Giéndia para chegar aquele estagio «2, pottanto, deveria ser evtado, ou ne minimo esquecido. ‘A Historia da Ciénca sera assim examplo ediicante para fs jovens estudantas e mative de orguiho para os cients. tas. Pois, por meio dela, era possivel saber como a ciéncia ‘2anhou muitas batalhas contr a igrorancia, a reigido € © nisticismo, seus terns inimigos. Mas come a Ciéncia era © futuro, esse passado gloroso fol ficando cada vez mais para tras, Como se fosse um enfeite, aquilo que os profes: sores chamam de perfumaria, a Histéria da Ciéncia foi se ‘tomando pouro importante para quem quisesse aprender cidncia de verdad. ‘Mas a Ciéncia que parecia um corpo de conhecimentos {quase prontos e acabados passou ainda por sérias trans tormacbes no século XX. Do lado de dentro da Ciencia, rnovas teorias que nao eram simplesmente © complement de anteriores surgam. E também do lado de fora aumen- tou a press. Guerras que se tomavam cada vez mais ter- fiveis com auxiio dos conhecimentos cintficas, a poluipo| ‘que aumentava com os avangos da Tecnolagia, tudo isso fazia com que fosse necesséria uma critica, uma revis8o 60s critérios da Ciéneia, Citicar, aliés, quer dizer analisar os efitérios (normas, ‘eqras, prineipios) de alguma coise. E se alguns desses cn tenos tiverem problemas, incu sugestBes para sua modi- ficagSo. Crier, portanto, nao 6 simplesmente pichar algo de que nao estamos gostando, Sendo assim, os instrumen: tos mais afiados para se fazer uma ertica da Ciéncia esta- vam com a Histria da Cidncia. Tendo convivido intimamen- o.com a Cléncia e suas transtormagses durante séculos, a Historia da Ciéncia conhecia como quase nenfuma oulra ‘rea de estudos os processos internos dela, Era preciso, agora, que a Historia da Ciéncia ganhasse uma dimensao verdadeiramente histérica para que ela pu- esse fazer sua critica ao longo processo, no tempo, vivido| pola Ciéncia. Contando e recontando as muitashistérias oe {ue se fez a Ciencia, foi possivel entender problemas, sal- tos e falhas que haviam ficado apagados pela aparente con tinuidade do progresso cientitco. [Embora envolva muitos problemas, gostaria que ficasse @ imagem de uma Histria da Ciencia complexa mas inte rossantissima. Inloressante porque recuperou conhecimen tos sobre a natureza que pareciam errados pelos cxiterios Cientifcos; porque recuperou outras formas de ciéncia que @ Ciéncia Modema apagara: porque recuperou para a Cién cia sou papel de connecimento procuzido pela cultura hu- mana. Um conhecimento especial, sim, mas que, como ‘outfos conhecimentos, fo! construido @ inventado pelo ser ‘human e, portanto,cheio de idas e voltas. Eda sora pre: ‘iso apagar aquela imagem da Ciéncia como um processo de grandes descobertas de grandes g6nios que pairam aci- ‘ma da capacidade dos pobres morals. + foram e no voltaram, prova CAMINHOS PRIMEIROS: UMA IMAGEM NO ESPELHO DA PROPRIA CIENCIA ‘Todos 0s caminhos levam Roma. ‘Todos os caminhos levam as Indias. Era uma vez uma Europa que, até 0 século XV, vvia _apertada entro sous mures. A oeldonte tinha o grande mar ‘onde ninguém se aventurava, que para eles devia ser o mite da terra, pols acabava no vazio, A navegagio até 0 século XIV era costeira. Ou seja, contornava-eo a terra por ‘mar, sem perder muito de vista a linha da costa. As histo. Has que hoje se contam sobre vikings que chegaram & ‘América @ chineses que navegavam em mar aberto antes {42 Colombo nfo eram nada conhecidas na época. Em com pensagao, ouviam-se muitas histérias de marinheiros que mente engoldes por algum ‘monstro ou pelo vazio do fim do mundo. A ovonte ® a su, espreitava 0 grande mundo drabe, as vezes mais de pero, fs vezes mais de longe, mas sempre uma fronteira dill {de conquistar. A norte, numa época em que nao havia ele- lWicidade nem radar, © os combustiveis eram so para. lamparinas, existiam os gelos eternos. Estou contando essa histéria porque foi no mundo euro peu, cercado por todos os lados, onde comegau a formen- {ar a5 sementes da Ciéneia Modema, Ninguém consegulu até hoje provar cam certeza se essas somentes da Ciencia Toram © que ajudou o¢ europeus a artebentarem seus mu- ros € se expandirem por todo o planeta. Ou se, a0 contra fio, por tetem comegad a arrebentar os muros, eles pude ram trazer, de outras partes para a Europa, as idéias (ou mesmo os materais e ow! metal) com que regaram o fize ram brotar essas sementes, Comega al o labirinto que 0s Fistonacores dla clénca, desicacos aos estudos das origens da Ciéncia Moderna, tem de enfrentar. 0 século XV, que € quando essa movimentagéo toda para dastrir muros co- mega a acontecer com forga, foi um século de descoberta ‘0s mais agitados na Europa. E um periodo de redesco- berta da cullura classica e de novas cultures ‘A redescoberta comeca a acontecer em grande escala quando, na meio do século XV, 0 Império Otomano (que era islamice) domina Bizancio (Impéric Fomano Oriental, que tera cristo). Os bizantinos que fogem para o ecidante euro- peu sabem traduzir detamente do rego cldssico para 0 latin, Acontece que hd muitos séculos 0 europeu ocidental tigha desaprendido a ler grego (as tradudes para o latim fram felas @ partir das tradupdes arabes dos textos cléssi cos). Entusiagmadas com essa possibiidade de acesso di- reto & cultura clissica, as europeus iniciam um verdadeiro festival de recuperacao de trabalhios perdidos ou esquect dos, © que um cia ja haviam feito @ gléna da Europa Essa retomada da inicio ao periode conhscido como Renaser ‘mento (porque renasce a cultura ciéssica), no qual vao tam bém acabar acontecendo muitas descoverias gualmente, a descoberta de navas culturas tem, de al ‘guma forma, a ver com o abalo das fronteiras europeias ‘com o mundo istémico, & rota para as Indias, por once en travam as maravihas do Oriente (sedas, porcelanas, espe. ‘iarias @ tudo mais) para a Europa, fo! um caminho conto. lado pelos muguimanas durante séculas. Os mugulmanos dominavam também uma parte da peninsula Ibdvica (Por tugal e Espanha) em teritério europe. Era um velho sonho {a Europa cristé tomar dos mugulmanos essas franteiras, E, se possivel, estender-se para além delas, procurando um ‘caminho proprio para as indias que hes desse riqueza © forga para competir com o munda istémico, s cristdos portugueses e espanhiis realizam esse du- plo sonho até finais do séoula XV. A rota luslana para as Indias desce pela costa africana (descobrinda lugares por tnde nenhum europeu hava pisado antes, nem mesmo 03 ‘bios antigos), eruza 0 oceano incico e chega a Calcut, fa india, A rota hispanica toma o caminho do mat aero & Seguindo sempre para 0 Oriente, chega as outtas Indias as Américas, De uma e de outra rota vla jotrarinimeras novidades Siante dos olhos surpresos dos evropeus. Para explorar ‘esse mundo que se abria, cheio de nova fronteiras, outtos Povos @ tantas novidades, era também preciso descobvit uma outra forma de conhocimonto: uma nova ciéncia. Acon- tece que, para alguns, essa ciéncia deveria nascer dos co: nhecimentes classicos, da ciéncia dos antigos. Atinal, a redescoberta dos antgos ja havia tazido muitas coisas no- vas @ talver fosse 56 adaplélas & novidades descobertas Para outros, prem, as novidades de um mundo com qual (0 antigos nao haviam nem sonhado deveriam ser conhe- Cidas de uma forma também inteamente nova, Mas era cic decidir quem estava com a razBo. Por um lado, de fato, as navegarbes, que vlo se intensificar muito ro século XVI, trazem para fod 8 Europa cada vez mais, ovidedes que os texloe dos antigos cldssicos no haviam previsto, Por exemplo, 0 oéu do hemistério sul, quia das ovas rotas maritimas por onde outros povos europeus: ald dos ibéricos vao se aventurar, nao constava em ne- ‘nhuma carta astronémica dos artigos. Também fol desco- berto que pessoas, animais e plantas exstiam em numero considerével nas zonas torridas da tera (na linha do Equa- dor), onde os sabios antiges acredtavam que, por causa do forte ear, nada pudesse vver. E das Américas chegavam noticias de povos, como os astecas, que, sem usar a roda, ou instrumenios de motal (bsicos para dar inicio as civil zagdes que os europeus haviam conhecido até enti), con- seguiram desenvolver enormes e complexas culturas, En- fim, tudo era tao inédito e dterente que, para poder entondé-lo, parecia necessiro inventar uma maneira tam= bem inéditae ciferente de conhecer as coisas, na qual pu- esse caber tanta novidade, or outro lado, os velhos « bons textos dos eldssioos, _apesar de no mencionarem nenhuma dessas novidades, our ersten oh oboe tam servido como guias para se chegar a ous inove- {80s gvaimento importantes, Algumae dlas asontecery am gue tose paceo sequercclocar um pé ton de Cae, ba, Por oxompo, os pitoresrenasconsas sero oravose fsiuioses das nomas da ate clase, mas whens pan dois ear noves formas do hero undo, [A pespectva, ete eu, fo uma vende dees: ua ‘éeniea para representa »prlundiade de une cons um objet pntados num ini plano No fm. a perepoctva acabou sendo muito mais do que uma simple Wenice e intra. Ela fo! waueando as pessoas a aharem pare ag Gnieas do uma torma clerente,E. assim, hoje vase oe bara uma foto (que tem a superice pana) « encore ave, Iatcamenle os ves plancs em que a casas lnmn rete Udas com a malor natraidade do mundo. Mos nas Sempre dessa ana, Pov ib eressris como ox ineses, os greg © os astaras no energavamern pectiva. - pe Talvez uma das maiores novidades que os textos css cos aldara a preci aprépria desecbora sa Ane ‘8, Parece que Coombe, lendo umn cesses entos, chee ‘Nconclusdo de que ravogando para o Oclens ele cnege tia 8 Orono (i nda), porque aera ora redonda, Fo fra algo em que poveos europous ac‘edtavem nagucla Spoca, mas que vatos pencasores anges a inh ae ginado. Colombo mou para as Inds e chegou Be Amant fas. Ero do cdl dos tmtos consuls pro? are, Ge que sim. Mas foram esses mesos lets que he eran Aden do vager que mudara para srpre os venos ln. tes do mondo Erados ou cons, mano oqu¢scarton 0 |4, 08 textos dos sabios cldesicas poderiam ser, pelo ‘mens, um bom comeco para um novo cenhecimento, facil perceber por que aqueles que retomaram o cami ‘ho iniciad pelos elissicos foram chamadas de antigas € 198 que buscavam novos connecimentas para a ciencia, ‘modemos. Porém, as vezes, os moderns no eram tao ‘madeinos assim nem os antigos to antigos, mas ¢0 mis turavam. € dessa maneira que, ene os séculos XVI e XVI val se formando a ciéncia moderna. E a historia da Cin: ia? Que ligagzo ela tem com tudo isso? Como ela surge Ro meio desse emaranhado de opydes? Que uso lazer ela antigos e modemos para justicar sua opgao” Normaimente, quando se fala de antigos © mademos, logo se pensa em exempios da historia da astronomia e da ‘mectnica e em nomes revolucionarios como Kepler, Galiau © Newton. Todavia, avez seja uma boa ocasiso para co- ‘megar por um exempio menos tracicional e possivelmente ‘le mais adequada para se ciscutr a queslio de antigos € ‘modemos: a medicina do século XVI, quando surge Pare Celso, uma figura das mais polémicas do periodo, Ronte- (que a medicina na época de Paracelso e um dos exer: plos mais complicados da Historia da Ciéncta, Mas, talvez als por isso mesmo, também um dos mais rcos para falar sobre a Histéria da Ciéncia (ou pelo menas sobre como ela | 21a usada naquote tempo). Trata‘s de um exempla com plieado na Historia da Ciéncia porque, desde os principios {da medicina cldssica, discutia-se se ela era uma técnica (oreocupada com as formas de cura) ou uma ciéncia (preo- cupeda em teorias sobre a doenga e sua ligavéo com outras| torias). Mais complicalo ainda porque poveas Breas do co- Vie V antes de nossa era. Teria sido Hipderates (c. 460 .C. -2) um dos seus principais inciadores e, séculos de- o's, com virias translormagies e mudangas, ela passaria 20 Império Romano, inftuenciando grandes obras médicas ‘como a de Galono (c. 130-201 4C.). Tambem para os istdmicos, na época de ouro da sua cultura, essa forma de medica ieve 2 maior imperténcia, gevando tabalhos como (0 de Avicena (980-1037 6. },cuja Wadugo do arabe para © Iatim era ainda usada pelos europeus na época de Paracelso (uma época em que $6 os textos originals gre Ges. atnce peeciam rv). Claro que essa longa tragiglo, que havia durado quase {bis mil anos, teve muitos opanentes e inimeras verses, variando de época para época, de cultura para cultura e, fs vezes, de autor para aulor. Mas, basicamente, ensinava {que a sade ora produto do oquiliprio entre os quatro humo: 125 0uTuidos do corpo: sangue,cataro, bis amarela e ne- gra. Cada um desses humores era o aquivalente, no orga- rismo, aos quatro principios materiais que — de acordo om 0s gregos — formavam o mundo: ar, agua, fogo tera. Os humores, assim como es principios materials, possulam qualidades (quent, tia, seca e umida) combina. das duas a duss." 0 sangue seria quent @ timido como 0 (4 gaa wa pnts ue a er th. ‘Score tivo weno eng, hos oee ners. evel, 6h Fomor iem apenas ume quakaae enqunto aro uta une eames ‘ie ingore quauises un chags sao a0 wargue com coarse tas Sas 5 Rds a Sempone tas actnet inne gen oo peters !nhecimento haviam avancado e se inttometido tanto no tet= ‘lero das ovtras eiéncias. Num processo que comegou mie tos séculos antes de Paracelso, saberes farmaculicos, iquimicos, astroiégicos/astrondmices (que eram equivalen. tes), @ até mineraldgicos e meteorolégioes, cresciam & som bra da medicina e pelas maos de msdicos, Essa mecicina exagerada — chela de conhecimentos ue, em principio, nao deveriam tazer parte, diretamente,, (sua dea de estudos —formava um leque de tendéncias 195 mais variadas. No século XVI, essa espécie de ciéncia feita de ciéncias nos oferece mosiras que v0 do caminho ‘extremamente mais antigo igado a dois mil anos de tradh G0 médica e flosética) até 0 radicalmente mais madera (que dizia ndo precisar dessa tradigao para coisa alguma). Este sitimo seria um caso extromo. E parece ter sido 6 de Theophrastus Bombastus von Hohenheim alatinade utoraimente Philpus Aureolus Theaphrastus Paracelsus {c. 1490-1641), ou simplesmente Paracelso, como gostava de sor chamado aquete que reeltou toda tracicao clascica ‘conhecida pelos europeus em medicina. Mas antes de qual uer consideragao precipitads sobre como a Historia da Citncia entrou ou deixou de entrar neste caso, sera neces. sério formar um rapido quadro de como cada um dos ca- 508 extremos (Paracelso versus dole mil anos de tvavigso) construiy sua medicina Pausa para contar uma bistvia sauddvel Costuma-se cizer que a medicina considerada classica nasceu entre os gregos, mais ou menos, entre os eéculos a; 0 catarro, fro @ Umido como a agua; a bilis amarela, quente © seca como 0 fogo; ¢ a bils negra, ria e secs como a terra, © aumento ou ciminuigao de uma qualidade em rolagtio 2 outra num humor, produzinds um desequilorio, gerava a dJoenga. Como a doenca era um desequilibrio interno do or ganismo, acteditava-se quo era da naturera Jo propio ‘tganisme combater tal desequitrio, Por exermplo, une ra Pida febre ou evacuagéo que quaimasse os excessos de lum humor, ou liquides e alimentos que repusessem os falta, Cada organismo tinha necessidades préprias, inclusive ‘uanto &idade, a0 sexo e & constitvigéo, para recuperapzo © manutengo do equilbrio, Por isso, recomendavacso sie. 1a, exercici © condigdes climsticas @ de sono individual zadas para auxliar 0 processo de cura. Sé em timo caso ‘© médico devera intervir, forgando a eliminagao de exces. ‘505 com um purgante, uma sangria ("lebotomia) ou minis trando remédios contriios & manitestacdo da doonga, Por exemple, uma doenga de manitestagsa quente era sinioma ge falta de fo n0 organismo; portanto, 0 remédio deveria ser do natureza fria.Da mesma forma, no caso de doen a5 que se manifestam imidas. os remécios deveriam Io. var & secura do organismo, Quase sempre essos remédios eram feilos de ervas ‘costumavam ndo ser muito fortes, pois, como jf diseomos, ~ objetivo era apenas auxiiar a organismo a enconira’ seu réprio equilrio. Tal foi a madicina humoral (que deriva da Palavra humor), que usava © método dos contrérios (remé- dios de quaicades contrvias & manifestagao da doenga) ara repor 0 equilbrio © a sauce do arganismo, Pois bem, Paracelso rejeitou essa longa historia, Alas, fez questdo de nunca conté-la, chegando mesmo 8 quei- ‘mar livros de Galeno e Avieena em praga publica para pro var que nao procisava de seus ensinamentos nem de sua tradiglo. Para ele, a sabedona seria encontrada apenas no lvro Sagrado (@ Biblia) © no live da natureza (com a obser vagao direta e atenia desta) ‘Segundo Paracelso, qualquer curandeiro deveria saber mais sobre as doengas que ocorriam em sua regia do que © grandes doutores do passado, ao afastados no tempo ‘eno espago dessas realidades. Atinal, nada estava escrito fas paginas dos classicos sobre os males que assolavam ' Europa naquele periodo, como a sills (que parecia entrar pola rota das inchas Ocidentais) ou os feimentes causados Por polvora (que se tomaram comuns nos campos de bata tha depois da invengao de armas portiteis no séoulo XV), Mais ainda Paracelso ndo acredtava que @ pouca eficién- cla da medicina cléssica na cura das doengas fosse s6 um Problema de metodo antiquado, A prépria nagao de doen, Pensava ele, estaria errada nesses textos, Nao seria © de ‘sequilibrio do organismo a causa da doenga, mas uma agressao extema, uma espécie de envenenamento que © corpo nao consequia combater. E, para um envenenamen to, nada melhor que um antota: uma pequena dose do proprio veneno. A idéia era dar ao corpo as mesmas armas {80 mal que ihe atacava, para que ele tivesse conic de vencer o combate, Portanto, iquais curam iguais — este era © principio ce medicina popular usada pelos curandeios, aH Paracelso acreditava que esta era‘ forma corrta de com bater e curar as doengas, @ nao a maneira de medicina humoral, na qual a cura via por meio des cantrarios. Romedios fortes, com base ern minerais (que eram con siderados pelos médicos da épeca como venenos que dviam ser evitades), foram usados por Peracelso, Algumas vezes 0 doente fava ainda mais envenenado ¢ mortia mas, em outras ocasibes, doentes que pareciam incuraveis experimentavam melhora..e até cura. Doentes com sii, or exemplo, eram tratados com merciio, uma das subs. Yanoias mais tarde usada no remédio que hoje cura esse ‘mal Retomando o fio da meada Ficou facil, por exemplo, perceder como os antigos (aqueles ligados & medicina clissica de dols mil anos) de- viam usar a histéria dessa tradigao para justifcar suas Iidéias. Ainda mais no século XVI, quando uma enorme |uantidade das obras cldssicas haviam sido traduzidas (ta dugdes das tradugdes arabes jd faziam parte dos estudos Universitéris desde os séculos Xl Xil), © seu estudo ta 2ia parte do curiculo das escoles de medicina Grandes trabalhos em anatomia foram felos nesse sé- culo, usando a dissecaedo do caddveres, mas sequindo idéias da medicina clissica para se justiicar, Enive ecses trabalhos, talvez 0 mais notével seja 0 tratado De fabrica ‘human’ corporis (1543), tet por Andreas Vesalivs (1514. 1564), médico belga que estudou em Paris ¢ lecionou em Pédua, figura representativa do periodo. Nas belissimas iustragses de seu De labrica, Vesalus corige alguns dos: Principals erros em anatomia que haviam chegado até sua p0¢a. Por exemplo, a falta de uma costela no sexo mas: cculino (gerada pela idéia de que Adio perdera uma caste. |a) ou @ presenga de cinco tibuloe ne figade humane (ge ‘ada a partir das dissecacses de Galeno em figados de pporco). Apesar disso, Vesalus continuaria senco um antigo (va nossa divis8o entre antigos © modemos). Sua maior ambigao no De fabrica era alualizat e aprimorar as obras de mestre Galeno. Assim, as idéias do grande médico do comago de nossa era no so erticadas mas corrigidas por Vesalius. Nas paginas do De fabrica essas iis s80 0 mo elo sobre © qual Vesalus justiica seus avancos (e até seus equivoces) em relagdo a uma tradesto médica malenar. Nessa mesma nha, um exemplo ainda mais explisto & © de Georgius Agricola (1484-1555) em sau De re metalic, publcado um ano apés a sua morta. Agricola (alids, uma |wadugdo latina, conforme a meda da época, de seu verdar eiro sobrenome: Bauer, ou soja, agriculloricamponés) tex tudes fioséicos em teras germficas e médicos, nas ita lianas, fxando-se depois na regio de Freiberg, entéo um {95 distitos mineifos mais importantes da Europa contal Ali, em meio a sua préica médica, Agricola aprendeu os Segredes dos trabalhos nas minas, E digo segredos porque, 416 enlo, pouco hava sido escnio ou publcado a esce tes peito. A no ser, & claro, que consideremos os trabathos os grandes cldssicos que, seguindo a orientagao da obra 1 Anstteles, costumavam dediear uma parte de suas teo- as sobre a materia para expiicar a formagto dos minerals {© 00 que chamavam materia sublerrinea, + assim, pois retomavam os antigos para explicar coisas r Agricola, de fato, leva em consideragao esses trabalhos. E, na soqdéncia de seus varios lvras sobre o tema, que ulmina com De so metalica, ele parte dessa tiadiga toot ca, conta mesmo um pouco de sua historia. para depois Imtrodueir novidades. Essas novidades (ou segredas dos mineires, que © piblico em geral nao eonhecia) cram as {formas de encontrar e trabalhar as minas {incluindo moto. os, instrumentos e gerenciamento), assim como separa. 40 purificagao dos metais ¢ até as doencas dos minei- fos. Algumas obras de Agricola falam lambém das guas © dos animais subterrineos, Mas em todas, de alguma ma. ?eira, seu didlogo com a cultura dos cldssicos est presen- te, E como se as novidades ganhassem mals peso Quando ligadas a uma longa tradicao. Para Agricola, assim como para Vesalus, os cldssicos foram a base teorica de uma Ciéncia que eles estariam ajudando a desenvolver @ api morar com observagies e priticas novas.. A istéia dessa ciéncia, sempre que contada ou iencio- hada por eles, justficaria suas novas idéias. As novidades por eles descobertas se encaixariam com perteicao nesse Velho, lango e bom caminho do conhecimento humana. se. ‘iam seu prolongamento, sua sequéncia e sua conseqden: ia natural Vesalius © Agricola S80, portanto, exemplos de antigos Porque retomaram caminho iniciad pelos cléssicos. Mas, Como a maioria dos antigos, eles no foram tao antigos almente novas. Afinal, essa forma de pensar que tinham, ‘essa vontade de atualizar 0 corigt os Cldssicos era, por si ‘mesma, algo de novo no hovizonte europeul A histéne da ciéncia, do conhecimento e da flosofia dos lassicos nao haviam servo, na Europa cris, para falar 0u justiticar a transformagio de coisa alguma no conhe- ‘mento: eram a prépriaciéncia,o proprio conhecimento, Pausa para contar uma histria as avessas Os renascentisas nao foram os primeiros a estudar os léssicos. Muito embora oles acreditassem que eram os primeiros, apés dez sécules, a entender de verdade essa ‘cultura e, portanto, os dnicos que podiam fazer com que ela renascesse. Até inventaram o taimo idade Média (tempo Intermediario ou tempo de espera) para dar nome, deforma ‘eo epreciatva, a esses mil anos que eles consideravam Indteis em termos de conhacimento © que se localizava lente a iuz da cultura greco-romana e @ luz de sua propria ultra. Isto porque os renascentistas consideravam que os bizantinos tinham apenas arquivado os classicos; os érabes hhaviam corrompido suas idéias; @ os europeus medievais ‘mal entonciao seus textos (pis usavam quase sempre ta ‘dugdes) e amarrado suas idsias com preceilos religosos. (© tempo revelou outra historia sobre a Idade Média que vale a pena confer). ‘Mas, conforme tive oportunidade de explicar anterior mente (p. 25), 08 mediovais europeus ja haviam estudado 08 elassicos e, pelo menos desde 0 século XI, um bom vo. lume deles. Acontece que a cultura medieval européia fo, quase sempre, uma cultura cris, organizada pela lorela Catdlica. Era, ponanto, uma cultura religiosa quiada pelo texto bibico em que estariam as verdades que deveriam ser ‘seguidas como leis. Qualqueridsia, qualquer teoria que t- vesse sido produzida fora dessa realicade devena ser ana~ lisada cuidadosamente para ver se ndo enirava em contito com 0 texto sagrado ou pelo menos devena ser adaptada 4 ele. Os cléssicos vindos de uma cultura pagi tinham que ppassar por uma espécie de selecto e encaree Verdadeiras maravihas e malabarisnos foram pratcados pelos mediavais para cristanizar varios desses trabalhos. Desta forma, Ariststeles, © grande sabia grego do seculo| WV aC., sofreu uma das obras de engenharia de cristani- ‘agao ¢as mais complicadas. A Terra que ele consiereva © centro do universo (aliés como a maieria dos greges) fo! associada A idéia bblca de que o ser humano era o certo {a criagao. Dai se concluiu que ela devia ser 0 cento do universo, como dissera Aistételes. Claro que sempre s0- bbravam alguns problemas. Por exemplo, Aristoteles no dra data para 0 comeco do mundo (ais, nc estava preo upado com nenhum tipe de cronolagia sobre a formacao {do mundo, mas no porque desse proceso}, enquanto para (08 cristdos a cronologia da cago era uma questao biblica fundamental, Mesmo assim, Aristételes fez enorme suces 80 entre 05 medievais. Com o tempo acabou por ser che ‘mado de O Filésofo, e seus texios considerados to dentro das normas que quase eram a propria le Geralmente em menor escala (porque a obra aistotélica conhecida pelos medievais teve especiais privilgios) a ‘questio da cristianizagdo dos chissicos oirou nesse exo Os fatos novos eram comparades a exempios dos textos classicos (perdendo assim seu cardter de novidade), que por sua vez eram comparados a exemplos bibicas que tam- ‘bém eram vordades etemas ¢ inlocaveis, Dai que, se toda ® verdade ja estava na Biblia @ os textos cléssioos sarviam ‘apenas para toma-ia mais evidente e comprecnsivel aos ‘omuns morta, chogamnos ao panto de paris. Esses textos ndo eram vsios como um processo de co- ‘Nhecimento com sua histéria de transformagées e possiveis fevolugées: eles eram o préprio conhecimento, a propria ciéncia. Suas paginas, escritas ha centonas ce anos, eram avidamente consultadas & procure de respostas para pro- blemas da época. Nas universidades, eram estudados © \ebatidos os sistemas de verdades deseas obras, mais do ‘ave suas questies especiticas, eos curiculos aumentavam ‘com teorias cssicas em geral. Em campos como a medi- ina, em que, além do mais, havia também que se traba- tharos sistemas das grandes autoridados maciess do pas- ado, 65605 aumentos eram um exagero, Os estudantes, salam versados numa verdadsiraciéncia das ciéncias,eram mais filgsofos do que cinioos @ (como a maioria no perio- {do) mais antigos Go que os pripnios antigos. Claro que esta ¢ uma especie de caricatura do medievo cristao, quando algumas das mais belas obras do pensa: ‘mento humano foram feitas, nom sempre sob a dlladura 0s classicos. Por exemple, no século XIV, satando as tac- figs aristotdicas (@ a reselvendo suas questbes problema: ticas), um grupo de pensadores crow teses bastante ongh ‘ais Sobre como 0 movimento podia continuar mesmo tendo \esaparecido a causa de sua origom (2 chamade teona do impetc). Assim, no caso do langamento de uma flecha (algo [pouco claro em Aristteles), o arqueira tera imprimide cer. to impoto que iria se gastando até acaba. O ale explicris 2 gradual diminvipao de movimento e @ queda ve fecha Esta teoria © vanas outras nesse sécula eriaram um movi. ‘mento que foi alé batizado como vie nova. Mas ha que se tomar cuidado com isto. Os autores de tais teorias tinham (0s olhos fixes na solugo de cenas questdes tcoldgicas para melhor entendimento do texto sagrado, nao na eriagae do tworias sobre @ natureza simplosmente para aumentar 0 ‘eonhecimento humano, Enxistiam, portanto, atigos verdadsiramente antigos, para uem a Histéria seria apenas para provar quai ignorante fra 0 Ser humano sobre as verdades divinas, Mas nao pen- ‘50 que foi S6 comegar 0 movimento renascentistae, num basse de magica, tudo mudou. Os primeitos renascertistas (também chamados humanistas) costumavam penssir que © modelo greco-romano era perfiio, © que dovia ser imita- 0 tale qual. Nada havia a corrigirou acrescentar se a tra updo dos orignaisfosse pereta. Alguns estudiosos cizom ‘que tetia ocorrido um deslocamento das verdades, da pla, ‘No divine para 0 plano humana, ¢ com ies os primeiros br: tas do conhecimento humano como proceso histénce ‘Sem ativide, na no periodo uma grande valorizacao do co. Ihecimento humano, mas esta questo cantinwa dilici! de sesolver. Prefro, assim, me refent aos humaristas ainda ‘como antigos no espetho. Ou seja: eles gostariam de po- er olhar@ imagem dos clssicos e ver sua propria imagem retletida. Com 0 passar do tempo, a imensidao de verda- es fol mudando esse enfoque. A medida que mais e mals textos antigos eram descoberios ¢ raduzidos, foram eres endo as evidéncias de que, talvez, as teorias ali presen. tes néo {ossem lio perfeltas assim, Na maioria das vezes, mesmo de posse de oxiginais completos e bem traduzidos, 10 era facil nem direto o uso dessas tearias para enten- ‘er as questdes de uma Europa a cada dia mais complica a, Talvez fosse o momento de viar a Historia 8s avessas ‘em ver de corrgir as antigas teotias, Retomando 0 fio da meada ‘A medicina, uma das dreas mals aletadas por essas ‘complicagdes — novas doengas, novas condigoes para ‘corpo humana até de nutrigao, de trabalho —, fol também luma das primeiras em que a necessidade de repensar as volnas teorias iré tomando forma, Até porque poucos devia estar mais bem equipados para esse trabalho do {que os médicos:‘ntimos dos cléssicos e curiosas de areas alneias havia séculos e séculos! Dai que Vesalus @ Agricola fossem tao bons exemplos de antigos que estdo comagan- do a se alastar da tradigSo. Corrigindo © atuaizando essa tradicho, esto dizendo que ela nao esté pronta e acabada desde a época dos clas- sicos. Mas que os conhecimentos ali contidas podem s0- frer um processo, podem ser complementados, podem se transformar com 6 tempo; tém uma historia. Uma histéria {que se move, aceita ¢ justiica novas descobertas, Enfim, ‘esses anligos nem to antigos do século XVI, 20 pensarem ‘assim, ajudaram a criar uma das primeiras formas modes nas de Histéria da Ciéncia conhecida pela Europa cnsta, ‘Agora, uma coisa era corrgi e cutra bem diferente ers contestar. E @ medicina, coma protetora da ciénoia que ve eacrever ura hitia doe cesses 0 grupo, S00 fotos e suas descobenas,E, de voz om quando, ora de Damsom od ness hts paguenas ei > re angamertes 6& epoca em que a nove cia no Grist, Elam isonasexteament sopcnds, algunas ‘ezes misturando épocas e porsonagens lendénas@ pe: Sonagons tetsu sei, pinta de clue para tustar outer beverent oe Pda er ampesnere Srcludas, ea Hata caquele po 0 Sociedade aia ne yatias © tinnam intenco de tra- ‘Vt obras quo, nessa epoca, tna tar areas ais gras da nc (astonomia, medica et) emesis esavona de ia das ssocaps enti icamente 0 caminho triton: o que terereava era scart Inado pela nova Geni! Embora deva ser lembrede que txcegbes eg exam e nem odos descarlaram 0 pos Sado om tnt facade Por exer, Jana Wikis (151 {e72), le prpt undador da Sovedae Real de Londres (ie ve vanes itr ron aca ce Cito) fer vba sxe sel a gr ue aaa grande populandade a orca Je sa obra €. de ota, equano epresenta a nova clés, alogar com o passa: So coma msiatae ponder do ue sr feo nos Stouls soguntes. Do to oposto, alguns tenavam owe eto de pe de diigo com © pasace, um digo Galle, em eve a gure de Simplico epresonando 0 pen- samenioatisttseo} 6 completamente ieianzada santo Ge nove cena 0 abrasador séoulo XVII, séoulo das luzes como é cha- ado até hoje, em que a Historia da Ciéncia quase foi ofs- cada, esti dretamente igado a esse modelo de ciéncia, Pausa para contar um pequena histéria om tempo A filosotia natural nascera como uma mistura de velhas {formas de explorar @ conhecer a natureza, Mas ao mesmo tempo era nova, porque nova era a mancira de montat @ Combinar esses antigos conhecimentes. Desde sempre 0 ser humano quis dominar @ conhecer o universe. Entretan. to, a exploragio das novas terras, as grandes viagone ¢ ‘uma sisputa entre as varias regides europdias para ver quem tomaria a dianteira nese processo exigiam que 0 dominio da natureza fosse muito bem organizado para se. tomar eficiente, pois 03 dads eram muitos. Essa eliciéncia, um dos pontes centrais da nova filosofia natural, seré também um dos pontos que i dstingula das lantgas ciéncias. Ela serd conseguida principalmente da lunido de trés antigas ralzes. Foram elas, proviso tdenica (do antigo antesdo, constrtor de lerramentas e explorador os meios naturals); 0 poder de previsso da astronomia {em que, por melo de céleuios, pocia-se prever, antecipar resultados sobre os fendmenos naturals); e a nevessidade de experimentar ou testar 0 novo (essa tem a origem mais siscutida até hoje; mas parece que as vethas praticas de ‘aboraterio dos alguimistas @ as operagoes da ainda mais antiga magia operativa estiveram por tr disso), Pracis8o, Previsso © experimentacdo gerando efciéncia: esse era 6 | | | | Mas serd na quimica onde vai rebentar © nove ponto oe ebulgao, Ndo de maneia tao forte e devastadore com fora fa astronomia e na mecanica. O séovio avancara e com ele 8 situag4o da fiosofia natural. Mas até por isso a quimica {Queria ganhar seu esparo. E qustia set independente da ‘medicina e se tomar também uma fiosotia natural, cam di ‘ilo @ usar seus métodos e a alcancar seus éxitos. Por isso, seus cronstas néo podiam se dar a0 lixo de esquecet © passado. O fiésofo natural inglés Flobort Boyle cieey. 1681) copia, inclusive, a idéia do cialago de Gatileu em ma de suas obras mais populares sobre a nova quimiea, Mas val além: dinamita ndo 6 Aristoteles como Paracelso. Ele Queria absoluta mocernidade para sua area. Depois dele, 44 na virada do novo séoulo, Hermann Boerhaave (1868. 4738), um renomado médico © proteseor Nolandés, vata & ‘carga. Chega mesmo a escrever uma histéria da quimica a qual seu reptidio ao atistotelismo € As idéias de Pa racelso fica claro, ‘As duas crénicas tém em comumm alguns pontos impor: antes. Ambas tm a intongo de mostrar a ignordncia do pasado a fim de destacar o conhecimenta to presente (oum momento crucial em que a quimica precisa muito dis 30). E esse madeto de crbnica passara aos séculosfuturos {citerentemente da de Wilkins). & segunda coisa em comum 6 que as duas sio feitas por quimcos mectnicos. O gue ‘serd uma heranga que o sucesso da mecénica acabana deixando a todas as futures cléncias: o modelo da cite {ue deu certo. E, portanto, nao precisa mais nada para ‘58 justficar, nem sequer da historia, v0 de Colombo descobente pela nova flesofa natural Desde 0 século XVII, quando esta citncia estava om fo: tmaplo, jd se sabia que ela era eonstiuida pelo velho per ‘samento humane sendo usado de uma nova mancina, Gory © tempo e a necessidade cada vez menor do justices cose sténcia, delnou de interessar se esse pensamento era gre- $0, chins ou ategane, Mas, também com o fempo, es pen. adores dessa nova ciéncia comegaram a actodttar que aus forma de desenvoiver 0 pensamento humano, apesar de. ‘nao ser a tnica, era a melhor. A melhor maneira de olhar ‘bara a natureza, a melhor maneira de arrancar seus segie, 05 e exprimir suas verdades. E como essas verdades fram regidas por leis etermas (0 Sol estava ai desde sem. Bre; 0 ouro sempre reagia com a dgua régia, 0 corarao ‘sempre pulsava sangue etc. etc), ato a nova ciéneia era ‘a melhor forma de entender essas verdades e explcar sus leis. Essas leis eram univ ‘qualquer lugar, a qualquer Cobr-las @ explicé-las, tessa: Acreditando ser a base, esonheciment, 2 ciéncia medema ero ciclo on ‘construgdo. Jé na. 15.25 regres: ara sua edicaglo-(RAOREPEEREGS qual cons | va aparéncia quande piel 2 Olapas desse baiico cientiico naturaimerisibebisaBlapa anferc. bern como indicava qual seria a olapa seguinte. Dai foi send iad a idéia de acumulardo e seqdéncie no conhecimen, to, Essa sida construcdo devenia ordenat e colocar de tor ‘ma cada vez mais ciara as verdades sobre a natureza Era esperado que seu material fosse retirado das obser: vag6es sobre a natureza e testado experimentalmente an-- tes de ser colocado de forma matemlica em seus mutes. Por isso ora solicitada procisdo @ coeréncia de seus cons- tnutores, pois a edicagdo devera ser feta de forma nigoro- 2 e l6gica, sem saltos ou falhas. Também era exigico d les objetividade e isengo (ou seja, ue fosser neutros a0 estugar um fenémeno}, pois estavam trabalhando numa ecdificagao de verdades sistemdticas e durdveis sobre a na- tureza. E estas oram born diferentes das cadticas e relati- vas verdades humanas. Em compensacao, 0s construtores do exilicio cientitico tinham a sensago de estar no ponto mais alto efieme do Cconhecimento. No estagio de conhecimento em que sua ‘p0ca Ines havia permitido chegar, se resumia © methor dos Saberes do passado e a melnor viséo do futuro. ‘O que garanta a continuidade acumulativa e linear des- ‘8 grande obra eram as sequintes hipdteses: 1, O ser hur ‘mano tinha uma capacidade quase infinita de ir conhecen- do cada vez mais © com maior preciséo a natureza; 2. ‘quando tomasse posse desses conhecimentos poderia ex: perimentar (testar) © prever. E, assim, teria instrumentos para planejar suas intervengées na natureza, seu controle ‘© uso dos, de manciraeficente e organizada ‘A equagao precisdo, experimentacéo, previsao = eficién- ia havia gerado o modelo da nova ciéncia ©, agora, gera- a0 ediicio cientifce que aproximaria o ser humano cada ver mais das verdades sobre natureza, Por tras do apa- rente caos des fendmenes, esse exitcio garantia que a na- ‘ureza funcionava de forma precisa, regular, previsivel e Uniticada, como uma maquina. As meemas leis que regiar ‘© movimento dos planetas deviam reger os mavimentos na {erra, Matéria e movimento, eis os dnieos prineipios univer. ‘sais, dizia Boyle. ‘A bem da verdad, esse modelo de mundo maquina ti nha sido retirado da mecanica. Aquele campo de conte ‘mento que havia rompido mais violentamente com © pas- 8800 @ langado a ciéncia para uma nova era. E, pottanto, 0 ‘modelo de ciéncia que mais rapidamante havia dado certo © que mais prometia sucesso future. Era natural que se uisesse estender esse modelo aos outros conhecimentos Sobre a natureza. Afinal, a prdpria imagem da natureza ti ‘ha sido ajustada a0 modelo da maquina © problema da ciéncia devia sar, entio, estudar os me: ccanismos dos seres vivos ¢ brutos. E aprender as leis de funclonamento, © conserto, o uso e @ canstrugao, como um bom relojosiro aprende com seus reldgios. A comparagag estd| um pouso simpiicada, mas passe garantir que gran. des pensadores da nova ciéncia entre os séculos XVII ¢ XVIII Giziam coisas parecidas. Por isso Boyle e Boemnaave 0 estorcam tanto para fazer uma quimica mocdinica, pols 6 assim ela poderia entrar para o ecifcio centico, A histéra acabou provando, no fim das contas, que essas ‘matrizes to bem ajustadas & mecanica nfo se adequavam ‘uit @ outros estudos sobre a natureza. Esse foi 0 cas a quimica e certamente o das ciéneias da vida, ente elas, ‘2 medicina, Entre remendes desse modelo adaptagaes a «le houve um longo processo (para umas ciéncias maior do ue para outras), 20 fim do qual a ciéncia se abriu para ‘outros caminhos. Retomando 0 fio da meada A ciéncia mecainica era moda na virada do séeulo XVII E todos queriam paticipar dessa moda, langada por Des- cartes mas depois trabalhada de varias maneiras por diver- 528 correntes do pensamento, Acontece que essa moda tr nha seus problemas, Enquanto isso, anova flosoia natural entrava no Sécu- fo das Luzes, impuisionada principalmente pela fisica. No interior da nova ciéncia ocupavam um lugar central a cha mada flsofia matemtica @ a fosefia expenmental, ¢ ia ‘cada vez mais para a pertenia a hstéria natural. A vowha Histéria da Natureza de Lord Bacon fol mudando de sent do até se transformar em algo bem diferente 20 longo do século XVIII. Uma rica e minuciosa ealegao de dados so- bre os 118s reinos da natureza (animal, vegetal 6 mineral), uma complex classiticarao desses dados e uma interes: santo discussio sobre eles (diterencas, separagao da ma- teria viva e bruta, origons da vida @ alé origens da terra) formavam a antiga histéria natura! Mas, epesar dos debates, apesar das novas descobentas nese campo, nao havia nel a orga floséfica e argumen- tativa da fsica. Expico: neste campo nao havia como into- {uzr facimento 0 modelo maternstico, nem como passar tom velocidade da observarao a exporimentagac, a exem- lo da fsica. & historia natural tratava de questées inn: eadas, como populagao de seres e coisas, ou vatlagses enormes, cificeis de serem flagradas, como um todo, no tempo @ no espace. Portanto, era também dtc tar Sela (grandes leis gerais, como na tisica, Para cada pequena familia de animais ov plantas estudadas, para cad pes £8 sobre as idades gooldgicas ou sobre os minerals povia ' qualquer momento surgir um contra-exemplo que dee ™montasse foda uma teona, Na segunda metade do século XVII, quando Antoni van Leeuwenhoek (1632-1723), tamoso e habil microscopista holandés, comagou a enxergar as minucias dos organisms es microscépios, pensava-se que o enigma tina 3130 re- Ssolvido. Talvez um padre pudesse ser encontrado no ane: rente caos dos seres dos reinos mineral, vegetal ¢ arirval Um padrao intemo que tivesse escapado da observagao a ‘alto nu @ que criasse uma relago matematica entre eles Seria possivel entio fugir das comparages que geravam {8 etemas classficagdes desde a época de Arsictelos. Mas © sonho acabou répido, 0 microscépio nao era lao possan. te, ou pelo menos nao era o suficiente para langar'a hist a natural no reno da flosofa matematica, Ela continuara ‘Sendo histéria, como crbnica, um longo e minucioso relate forganizado pela classiicagao, Nao obstante, a figsota na. tural queria modelos ¢ teorias matematicas, expenmentac Controlavets elas gorais, «Assim, apesar de esse século ter sido 6 da manumental lassiticagao de Car Lineo (1707-78), ou Linnaeus, como Sostava de ser chamado 0 grande naturalista suece, 0 ch. ™a do periodo estava mais para Newton e depois para Prrro Simon Laplace (1745-1827), Este dine, un bem conhecido maleate oo natal tances, eter de uma mecinia celeste to ptetamente previa dos fendmanos que, dase, no trha neceestde nom procera de Deus pera usar a exsncl do unverse, asta da Canela nas ude? Quo precaraala a uiicar a cibnl se nc haa nem sequer neces Gace de Deus par usta Cadaver mae Yalan do protamine candents da relade, «cca se erfogave te corpo alma para ser analiada pol tosofa Que por dora ais er de poblemes ue apeser ds muta \ezes vatarom da questa esparosamporal na isc) no Sinha ugar em hor ara acne? les eam uer Sat pom esa ecorend er unk oat d mue tem cunauer ca, Pata roar ans seraago, mals ou menos desde 0 meio deseo scl, anda va bt seu came, que tedoeacredtavam eto, lint pra tuto € aoa de progress que ela ce ermando ao carte e a sem volae sem nocesidado to pasado, Toda una rede teenotga val igando acon §moveridace nda que era um pote desdeoseclo omanaese ‘eadade no seo Por exemple a expeyao con thea da ealeinagto de unmet, desoberta esse sea, Pose abe perspectias de armorament dae eis ot meta, nim, um mundo novo esta sendo consid pela ierengo » cored ntvera Ea pla ore dence pocesso waa nda, ercisepéeie tance, gue ff n0 titulo titha os nomes ciéncias, técnicas e oficos,dise Cutie divulgava aos quatro cantos essas questées. Tendo também no titulo a expresséo dicianario raciocinado quan, 0 alguma migaiha historica escapava, ela ara rapidamen: te dovorada por um malabarismo flosdtic. Nesse periods, fambém as obras de grandes fiésotos nalurais (sobretudo ' de Nowion) erem escitas em verso e prosae traduzidas fom vérias linguas. Nao ha por que justificélas; © publica Pade por elas. Os comentiios diicilmente tém sabor de Crdnica histérica. Sao @ discussio pura e simples do pro ‘cess0 do conhecimento, e nda a historia deste processo A invasao da historia da Cigncia pela flosofia vinha dos 0.0 séoulo XVI. Isso foi acontecendo de maneita cada ver mais forte. E foi pir ainda nesse periodo em que a ciéncia ‘do precisava mais prestar contas, om que ala est para Ser coroada a rainha dos saberes. Nunca a fiosofa natural {oi to flosoia, e nunca mais na modemidade as duas tea, am tao juntas. Enno claréo dessa pura analise da raz8o cionifica a His {6ria da Cigncia se tomou praticamente invisivel. Na clen- Gia desse periodo quase nao havia espaco para se contar histérias, pois havia o sentimento de que a histéria estava Sendo fetta. Ha sempre as excegdes a regra, 6 claro. Na gumica do século XVII que estavalutando por um lugar 40 0, algumas historias foram feitas, sempce mantendo 0 tom da dea que esta se formando e quer se jusilicar Ter o escrito dois desses trabathos histcos, Antoine-Francore {de Fourcroy (1755-1809) gia que até bem entrado o so ‘culo XVII no se haviatentago dar um tratamento flosctice OU C Herona os coven « 4 quimica. E, porisso, 0 que existia até entéo eram conho- ‘imentos esparramados sobre a quimica. Foureroy tentava colocar em destaque sobretudo a chamaida quimica do ox! Ghnio, considerada como a verdadeira inttodugo Ua dren a cidncla modema, No entarto, Antoine Laurent Lavoisier (1743-94), principal descobridor dessa quimica, comentava ue meinor seria esquecer a Pistia quando se estivesse fazendo ou pensando a quimica, Ela era complicada 0 suf lente para que ainda por cima fossem acresceniades &s suas discuss6es 08 erros do passado... Eis ai um verda- {deo representante ciontfico do liuminismo, Interessante que, na virada para o novo século, na pro- bia flosofa ena historia de mangira geral estivessom een. 4o buscadas outras manciras de enxergar a humanidage © Seu processo histérico, complatamente diferentes da visto ‘luminista, Mas a Histéria da Ciéncia, merguhada e quase \desaparecida no corpo da ciénola, conseguiu passar prat ‘camente imune a essas idéias que marcavam época, Ou. {to seria o sistema fiosético a reanimar a Historia da CiBn Cia: 0 positivismo. Augusto Comte (1798-1857), seu autor, ‘acrecitava que a histéra pod ser dvcida em tes estagios, © rligiaso, o'flosdico e, caro, por titimo, 0 gloriose wets io cientiico. Essas seriam as etapas do desenvolvimento humane nas quai Principaimente ultima etapa, em que estaram incuidas as ciéncias da natureza, deveria sarvr como madelo para todas as outras formas de conhecimento. SO assim a so- ‘ledade poderia tomar o rumo certo do desenvolvimento, Que sia entteamentepancado. O cuoco@ quo, quan ce Conte lanou osas iis nom ogee as eerie stu, sayhtmeiro moment, esas iia rpereutm na pre eae iencia, embora nao se possa dizer que exstomine S585 0U 86 estas tnham ragado rime da ence E ae Seuundo momonto derivagBes dessas idias rellotrac cn ‘excegbes...), Portanto, serdo eles os mais autorizados, s¢- Fo eles os mais preparados para Ialar da sua propria dress ‘Surge entdo uma espécie de cientista-fldsoto ou ciertista historiador (na malaria das vezes sem saber muito de flo- sofia e absolutamente nada de histria) que decide mostrar © Glorioso camintio da ciéneia e/ou dar @ exemplo ediicante esta a novas geracies. Na cartiha positvista, e nas varias versbes trabalhadas 4 partir dela, rezava que uma boa rellexao histérica devia fevidenciar as etapas do conhecimento humano de forma cosrente. Ou seja: criando uma espécie de modelo dessa transformacao ou aprimoramento. E mai, isso deveria ser feito sobre © maior numero de dados empiricos possivel: documentos, orginais etc. Entretanto, tazer essa dupla ta- ‘eta mostrou-se dificil , na maioria das vezes, dependen- do dos documentos, impossivel. Desta forma, € muito co- mum encontrar nesse século verdadeiras erénicas da ciéncia (no pior sentido da expressac). Um emaranhado dé etahes, minucias ndo se sabe bem trades de onde e da- {dos que ndo se sabe para onde pretendem levaroletor S80 a tonica dessas obras. Mas, naturalmonte, sempre vai haver os que sabem co- smo executar a tarefa.O destacado quimico francés Marcelin Berthelot (1827-1907) publica entre 1885 ¢ 89 a tradugao de uma preciosa colegdo de manuscritos alguimicos anti- (905. Ha também longas notas © comentarios teitos por ele, com 08 quais até se pade no concordar mas ndio hd divi 19a de sua qualidade, Por outro lado, s80 também desse ‘século 0s manuais em Historia da ‘mais bem classificados como feo. Nenhuma documenta ‘40 deve ter passado polas mios desses verdadoiros en Guitetos de catedrais de areia. Mas seus dados que cao ura fantasia, € suas historias, que sao pura lenda, serdo ‘meontados com tamanha coeréncia, que, no fin, se tom un ‘modelo do provesso histérioo (pena que nao tenha sido real.) Outra vez, sempre ha aqueles que souberam como fazer parecer 0 modelo usando dados mais confidveis. Assim, © isco austriaco Emest Mach (1838-1916) iré apresoniay lum modelo de como teria ocortido 0 deserwolvirrente da ciéncia que foi muito respeitado, inclusive pelos cientistas do século XX. Mach procurava Klenifcar niicleos centrais {de conhecimento que teriam se mantide constantes através da historia, muito embora fossem sendo aprimorados 20 ongo do tempo. isso queria dizer que o conhecimento evo. {uta, mas em tomo de verdades sobre a natureza que eram ‘Sempre as mesmas, Toda ahistéra do conhiecimento, por tanto, converpia para o momento presente, que era a etapa ‘mais aprimorada, Mach tazia, sem dvida, uma Historia da Ciéncia bem fundementada, Mas, por estar com os oihos firmes nas teorias do momento em que vivia acabava sole, ionando s6 0 que considerava aceriose erfos do pasado {Que de alguma forma pudessem ser ligados a0 presente Um exemplo ainda mais primaroso, porque junta a eoe- ‘nela do modelo & documontagdo exginal, vai acontecer no ‘comero do século XX. Trata-se da obra historica 0 flosdt. a sobre a ciéncia realizada pelo tisico francés Pierre Duhem (1861-1916). Dunem, um homem de vasta cultura, Consegue encontrar e radu mantcritosoriginais antigos: @ medievais, como fizera Berthelet. Mas seu objetivo com este material ¢ provar uma tese sobre 0 processo do co. "shecimento parecida com a de Mach. $6 qua essa tese tem 2 preocupacio de demonstar a continudade nunca inter, ‘ompide do processo. Com isso, pela primeira vex na His- Yoria da Ciéncia, em époce modema, o conhecimento me. ‘ieval ¢ valorizado. E, erbora Duhem tonha feito também luma historia seletiva do que Ihe parecia ler gorado a cir, ‘ia modema (portanto, seu objetivo continua sendo a expi ‘cagao desta forma de citncia), a divida da fulura Historia 1a Ciencia para com ele sera eterna Existom estusiosos que consideram mais como filsofia {a cléncia do que como Histria da Citncia o que fol feito ‘esse periodo, iso porque os fates histGricos serviam so. mente para iustrar, muitas vezes de maneira apenas pito- resca, a discusso de como era produzido 0 conhecimento, Cientifico. Pertanto, pura reflexdo filosdfica a servigo da Cincia. Mas acho que eles se esquecem do valor @ da de- ‘inigo de historia que a prépria cincia tove desde sua or er. No uma histéria em goral, mas uma historia muito special, como especial era a propria ciéncia, Jusiicando, propagandeando, selecionando seus exemplos para a re: ‘texio cientiica, essa histdria muito especial era uma au Far da ci6ncia © nunca 0 contra A histéria em geral algumas vozes havia tentado até co- Par 0s métodos da ciéncia. Para que entiio mudar uma his. Toria que havia nascido afiada nesses métodos? Com isto 0S cientistas se esqueceram de que faziam parte de una Pistia maior, de que a ciéncia no comapava om Galteu ® Newton, “ “ = as no etaramos conaando agora o mesmo engano 20 consderarHistia da Cina nase ne ees set fea por nessos ontons «Gallows Nie stern Incisive deizando de entender porque scree te Gia tem a6 hoje uma cara rene das tung es vista? CAMINHOS CONTEMPORANEOS: _ ESPACO INDEPENDENTE DE REFLEXAO. SOBRE A CIENCIA AA cincia sempre foi surpreendente. Galle teria sido aconselhado por seu pai a seguir carrera mais segura € ‘com mais futuro do que pudessem ter as cléncias ern sua ‘epoca. Sécvlos depois, quando a ciéncia parecia um edi cio quase acabado, alguns protessores aconselhavam a ‘Seguir outras carreiras com mais fuluro’do que as eign Cas... onde estava tudo prante. Assim como no primeito 980, @ histéria do século XX mostrou que os conselhciros ‘do segundo também estavam enganados, ‘Quando tudo parecia estar se assentando, as primeiras \écadas do nosso século comegaram a arrebentar o edi. Cio cientiico por todos as ladas. Comecando pela teoria da ‘elatividade e pola quantica, e desaguando nas impressio- Nantes teorias da genética e da'robdtica, 0 sécula XX de ‘Senvoiveu maneiras novas de fazer ciéncia, Também foi um ‘século espremido por duas terriveis grandes guerras (e Duras guerras mais.) ¢inumeros desastres ambentais em {Que & ciéncia e tecnologia pareciam sempre ester env. vidas. Estava chegando para a ciéncia @ hora de so haver om a etica, com o pblico e consiga mesma. Chegou shar Yer Momentos de extroma tenséo para a céneia, om que ua respeitabilidade esteve por um fic. A ciéncia esiivs deixando de oferecer exemplos edifcantes, embora eaaie ‘uasse tendo grande presenta em quase todos os mormon. tos da vida doste século, annie fazer sua roavaliagao? Com que crtéios? De que Angulo els deveria ser othada? Se de dentro para tors {como vinha Sendo feito havia séculos), coma se 0 perige {de continuar como sempre. Se de fora para dentro, havin, risco de que a falta do conhecimento especitica de seus problemas @ sous critérios pudesse acaber causando mais estragos do que solugses. Por exemplo, alava-se jd ha muito tempo dos horores das quimicas com que a clones vinha bombardeando a humanidade. Mas que quimicas se ‘iam essas? Se vocé resolvesse fechar a boca para tude o gue tem quimica, com certeza ria motrer de fome. Ud que 2 quimica esta presente em todo 0 universo, o que inci 08 Produtos naturais. Enfim, quem estava preparado para fazer a critica & ciéncia? E para ser seu ouvidor dante da ‘Sociedade? A filosofia, sua antiga associada, ocuparia um lugar im. porlante nesse processo. Se bem que justamente esa ne Sociago tao préxima pocia trazer problemas, Ea hetorce A historia vinha sendo lembrada cada vez menos, Desde {Quando as novas teorias do século XX comegaram a armen, $F @ estrutura do ediicio cientitic, a Historia da Coenen ‘stava perdendo seu pape jd no muito grande. Havia pro- temas logos, ed fa manda ints, que qualquer mo. elo histérico parecia de pouca ajuda para sua solugac, A medida que as compicagées na eitneia, no correr a pr moira metade do século, foram aumentando, os exemplos Historcos foram dminuindo nas eiscussdes o textos dos que estavam preocupados com a reflexao cientition Outra vez, uma cifncia preccupads com o presente nfo precisava de passado.F a Historia da Ciéncia fol perdendo ale mesmo © pequena papel de auxillar que tinha junto & iércia. Ou pelo menos o pequeno papel ativo, Em deper tamenios @ escolas de ciéncias velhos cientistas davam aulas de Histéna da Ciéncia para estimuiar os joven ety, antes. Era uma espécie de prémio para antigos professo- ‘5, Pols se acredtava que ao alcangar a maturidade numa rea de estudos. se alcangava também o mérito de poder falar sobre sua historia. Caso semlhante acontecia com os Orandes cientstas, que, como Albert Einstein, publicavam textos ou davam as vezes contoréncias sobre a evolugao. os coneeitos cientificos. Mas tanto as aulas quanio os tex. tos ou conteréncias eram vistos apenas como curiosidade ou até mesmo pertumaria. Uma forma de descanso lustra. tivo para a vida dura do laboratério e da mesa de trabalho, onde a cléncia acontecia de fato, Mas a culpa pars o estado em que havia chegado a His ‘tia de Ciencia nao era excluswvamente das novidades ch entiticas ou da crise ontre ciéneia e sociedad. Ao contré- "io, tivesse a Historia da Ciéncia desenvolvide. uma esirutura robusta e propria, ela seria um espao dos mais £ £4 hietoria seria uma etema repeligao de Was vince, esaparecimentos o aparecimerios, conforme o cielo, momento da prépria cidncia. Essas quesioas jd era core Ssidoradas por alguns estudiasos desde as primerec doen, Fistérias ineares @ progressivas, acumulando grande nice ‘0d datas e nomes importantes. Eram, enfin, histéiee dar grandes descobertas © dos grandes génios cieniione ae figuras de Copémico, Galleu @ Newton continuavan beac’ 30 como exemplos matores, pois haviam conseguise eney 2 siéncia que servu como medelo as demais elgneine Aa, ‘Sim fosse qual fosse 0 topizo ovo campo da cibnein ate dado. nomes como © de Newton acabavem aparccerng quase obrigatoriamente. © modelo dafisica, como um tans tasma, assombrava todas as quiras historias da eee Continuava havendo, por eu lado, uma busca soletiva fm épocas antigas de idéias e teorias que tivessem evolu.» 0 até chegar & cléncia modema, Essas formas de conhe- Cimento sobre @ natureza seriam, portanto, pré-, proto. (quase) — ou pseudo-ciéncias (iéneias que ndo eram ver \Jadeiras). Para varar, alas serviam como exemplo dos er 10s que haviam atrapalhado 0 caminho até a ciéncla mo. 1se1na. Ou ainda como exemplas dos acertos que levarain 2 ciéncia moderna. O caminho histéleo, portanto, eva um 50 © conduzia alé a ciéncia moderna, pois s6 la consegui- ‘ia produzir 0 verdadeiro conhecimento sobre a natureza, ‘Documentos antigos que foram encontrados acabavar cor. Vindo sempre para colaborar com essa tese. Naturalmente Porque a forma de interpretar esses documentos era vem: re @ mesma. Ou sea: lla-se neles o que parecia estar re- lacionado com @ ciéncia moderna de algum modo e des- cartava-se 0 resto, Esse tipo de Historia da Ciencia fi chamado acertada- ‘mente, por uma pesquisadora contempordnea, de Historia. Pedigree. Pois nela se procurava os pas da ciéncia e, quan do possivel, os avées, bisavés ete. Por exempio, Newton seria 0 pai da fisica modema, Roger Bacon (que nfo é 0 Francis Bacon, mas um inglés do século Xl), @av6 da ex. Perimentagso; Eucides (matemstico grego do século IV 8.0), 0 av6 da malematica moderna. E Aistételes era um chaio que conseguiu atrasar, com suas teoria, em quase {dois mil anos a chegada da ciéncia modema....Se um Fis. toriador da medicina estudava a obra de Amaldo de ‘anova, varia pare debaixo do tapete suas possiveis obras feriam nem tocar no nome de algumas dessas ciéncias, ‘assim como em pré ou protociéacias. Era preterivel diecul Luma ciéncia incompieta, como a mecanica grega, que de- pois seria magistaimente completada pelos modemos, ‘uma balbvrdla come a algiia Por irs disso, estava também a iia de que a tisica (e Portanto a mecénica) era 0 modelo da ciéncia modema, Sabemos que a coisa toda fo diferente. Mas @ preciso lom: brar que quando eu conto essa historia, estou oferecenco uma versdo atual que demorou certo tempo para ser aceita pla Historia da Cidncia. Assim, os precursores da eiéncla ferem considerados aqueles que fizeram as toorias que ‘melhor puderam ser aproveitadas pelos modemos. Grandes linnas que salam dos gregos e chegavam ao século XVI ‘ram tragadas. Sobre os arabes macievais, por exemplo, 56 inleressava 0 que havia sido feito em astronomia, mate. Iatica e algo de medicina. Enquanto sobre civil2agSes como a chinesa comentava-se apenas seu avango téenico Que, diziam, infelamiente nunca pudera ser tarsformade fem cigncia. Ou seja:além de tudo. a verdadelracitneia vie nha da teoria e nao da pratica, Enfim, além de ser uma Mistona-pecigree, era também uma historia cuja origem estava na Europa. Apesar desse ltima no ter sido um problema exclusive da Historia da (Cidncia, 0 produto tinal Gesta forma de hist chega a ser Ccémico, Era como se toda a humenidade tvesse fato um Concurso para ver quom chegava primero & ciéncia moder: ne! Ou seja, essa ciéncia era e destino natural inevitdvel do ensamento humano e, para sorte dos europeus, eles ha Sobre slquimia. Ou ainda, o mais comum era que essas obras fossem qualficadas como apdcntas, ou seja, nee i [pham sido escritas por ele. Anal, como podria ua mec? ©° to brihante ter estudado tamanha bobeger? mesmo acontecia com a alquimia de Newton, ou com 0s estudos de magia de Francis Bacon. ld em casos some © de Cidudio Ptolomev, autor inegdvel de uma abre em o frologia, a desculpa era a segunts: ou se usavao argunen {0 de que antigamente astronomia ¢ astrologia eran men, ima coisa (0 que no deina de ser verdade, mas nic seve Como justficativa para o que se pretendial ou, pior amos Giza que tatava clareza aos antigos para cistingur to, talmente © errado do certo, uma clareza que 86 a iéneig moderna ina alcangar. Mas, de preferéncia, sempre que possivel, a imagem Gloriosa dos pais 6 dos awe da iin \dovia ser preservada Havia, por conta da questo de origem ou patermidade (las clénelas, um cistingto entre pré- ou provaoiéron o Asoudociéncia. As duas pimeiras perenciam A lnhagers das ciéncias que haviam dado certo (portant, se hansen (OU Err ok cnn am chogado pric. Mas esa clnciapalando acne des comuns moras era Nstamonte a tus orem rica acta ao rive! arma a ns monte choi de posses as @ way a tn Asin ess Hota de lca neal errs en aoe fesionais, ea que mudar mato ve queesen eo Para parca, dato no deat sabre ae sasoar oe tne como io acontece, Nos primes tt aos deste seve tram roduides 0 que poderames chara de obras moni ae te humane. Sto poucas as excegdes a regra nesse period e, ainda Assim, de maneira relativa. Lynn Thomaike, por exerple escreve uma obra também monumental (ote volumen) one fle levaré tnnta anes para conclu (entre os anos 20 ¢ os 50). Mas esta sera uma coletdinea panoramica ¢ rqutseima de documentos coriginais sobro a histéria da magia e ca experimentagao. Ou seja, ele esta tentando destacar 0 valor de cigncias que nfo sdo necessariamente tedricas © que do tm como modelo a fisica. Por isso © papel dos pre. cursores nao tem grande importancia nesta obra. Apesar de que Thorndike insiste em dizer que o conhecimento rogride © um exemplo disso a ciéncia experimental do século XVIL ‘Mas nao seriam essas poucas excegoes o que mudaria para velera Historia da Ciéncia a pari da década de 1930, Em primero lugar, os historiadores da cidncia passaram por luma discussao sobre como e em que medida a ciéncia era ‘nfivenciada por tatores sociais a sua volta. Tudo comegou pum congresso de Histéra da Ciéncia realizado em Londies ‘om 1931. Uma comitiva sovietca tocou nesses problemas aiticeis na apresentagao de seus trabalhos. Os cientistas, iziam, mesmo aqueles envelvidos com idéiastedricas alla, ‘mente ebstratas, nao tinham como dear de ser infuencia. {808 pelo meio social. E as necessidades, probigées ou dis cussbes dese meio acabariam se relletindo na obra erentifica. © proprio Newion foi usado como exemplo e 0 impacto sobre 05 jovens historiadores da ciéncia (principal. ‘mente 0s ingleses) fo! muito grande. Vans rabalhos loram Produzidos a partir desses idias, embora a nogao de que Fa uma linha de progresso cientilion desde a Antiguidade ‘enha sido o tom de quase todas no comego. Mas tambermn grandes @ solisticados trabalnos acabaram saindo dese ainda, tabalhos em ciéncia ou sobre clone Gia em civitzagoes do Extremo Oriente: iéncias ‘res, eiéncias mais completas e oe melhores © cléncias Ca, LeSeBh Needham, bor exemple, passou vnle anos na tn gerluance essa ciizagaoe teniando entender sa £70 de clénca ela haviaproduzido, Ads, uma torre ee Gencia ldo especial que os cidonias nem soquer a hacia econhecio como cléneia, £808 Sorente da Historia da Ciéncia chama-se exter {5'2 Ou seja: std preocupada em entender como tance Talvez, até por isso, um dos piimeiros a ce manitestar {nha sido um flésofo da ciéncia. Gaston Bacheland mre francés que, como tantos outros centslas-idsolos ds pi Imeira metade do século, estava no of do turacdo garde Plas questoes ciontiicas, E isso queria dizer, entre meres coisas, esquecer aparentemente a Indl Historia da Cin. a. Mas Bachelard comagou se perguntando, na década de 1830, se 0 conhecimento realmente acontecia de forma” ccontinuada @ acabou chamande em seu auxiio @ Historia dda Ciencia. Assim, de posse de alguns bons exemplos sobre @ histéria do calor, da astrutura da matéra etc, ela, ‘coneluiu que 0 conhecimento ocortia por melo de saltos. Ou Seja, no era aprimorando e continuando velhos saberes ue se chegava aos novas, Ao contrério, era preciso rom per com a forma de pensar anterior, que tivera seus pré- prios objetivos e limites, para produzi outras formas dé inci, Por isso, nem o antigo mago era um pré-cientista, ‘Nem o naturalista do século XVII, um pré-bilogo. Havia nestas idéias a nosao de que a ciéncia avanca (ainda que de forma descontinua), e mesmo assim fol mal 2ceito entre os fildsofos da época. Mas a questo da des- continuidade no pensamenta cient estava aberta e, oom la, © papel da Histéria da Ciencia precisava ser repenca. do. Pois, sem um bom trabalho histérico, nao se podia fac 26" um bom trabalho fiosGfico sobre a descontinuidade, N&O or acaso um de seus seguidores disse que a flosotia da cincia sem @ Histéria da Cidncia ¢ coga: e que a Historia a Ciencia sem a flosofia da eiéncia é init ‘Apesar da resisténcia a essas idéias, nas décadas de 1940 e 1950, varios fidsolos comegam a ver na Histéra da Ciencia um verdadeiro laboratorio para seus estudos sobre © brocesso do conhecimento, Esse fol 0 caso de Alexandre Koyré, um professor russo estabelecido em Paris quo se tomou famaso por sua obra sobre as origens da ciéncia ‘modema. Segundo sua tese, exstria uma descontinuidade ho conhecimento& media que cada epoca pany nto prctsore. Asim, por creme ee se ee flam aceitado o aristotelisme, ‘enquanto os renascentist: : © platonismo, Nao ha divida de que a Historic i gana espago com isso mace roraon Menstrava que «eiéncia vane meee forma descontnus, desde « aneseran Nos anos 80, um gtipe de Nstradres inglsostnta {uta 8 debates ntmatcmorentralinn es a nulkno muna sé de chs «ogee nt Mero da sciedade da ciéoa madara ges gute Ios val nace’ ainporante nog deere game adele do concato de evlusa cate Se Enfim: vida propria! Boa parte dos fldsolos e ponsadores da ciéncia havia \escartado a histéria da lista de priridades em seus estu dos, A explicapao teérica para iee0 ora que a transforma ‘20 das teories cieniicas deveria ser entendida dentro do Contesto da jusiicativa, em que se analiseva sua coerencia © estrutura légicas. Tratava-s@ de um processo acumula tivo, culo tempo era 0 1empo dos desanvohimentos legicos, 2 nao 0 da histéna, Ou seja, o proceso do eonhecionte se desenvolviaindependente do processo da Histéria, Aids, © Proceso da histéra vinha quase sempre atrapathar, com Svas guerras, suas histerias roligiosas ete, 0 procesco ma ‘ural do ser humano, que era Conhecer cada vee mais me. thor © universo. A histéria era o espapo somente da descr $80 do contexto das descoberias na ciéncia — um expayo eventual, exterior ao proceso naturale logico do conhe mento, Para encontrar uma brecha no continuism, alguns ft: Sof0s juntaram 08 dois contextos, 0 da justicativa © o de \descoberta, Tale? até encontrassem uma expicagao Wgica Por que as teoias no se acumulavam como mera seater: ‘ia umas das outras, como no modelo de evolugao cent 8 apresentado pelo fiésoto Sir Kart Popper. Umm models ‘ue, aids, inpirou Thomas Kun e toga sua geragdo, Mas Kuhn tisha também outras intluéncias,talvez mais radicns fm termos de descontinuismo, Assim, no comego da dace a de 1960, depois de uma série de outtos textos, Kuhn po Diiea a obra em que suas teses contra o continuism s8n explicadas, usando uma série de intressantes exemplos histéricos Esse estudo terd um tom radical @ apaixonanto e em ouco tempo alcangard um publica nao expeciatendy ne fellexao flosética da ciéncia. Mas que, por motivo obvicg hd tempo queria partcpar do debate. Gentamente nao sony ' preciso das ideias de Kuhn o que vai stair esoe publica Ae naovtlésofos e, sim, as implicagdes que elas langars Sobre os modelos da cidncia, Assim, apesar de ter dofrcos {dos mods mais varados o termo paradigme (0 que ¢ visto om horror pelos fdsotes), Kuhn consegue, por melo dex ‘2.n0G40 meto vaga, justicar a descontinuidade na ciéncia ‘Como algo que necessariamente ocorre. De uma forma geral (@juniando as varias definigoes de Kunn), paradigm sera 0 conjunto de teqras, norma, cen 8, bem como teorias, etc. que cteciona ciéneia com forme @ época e as comunidades ciontiicas envolidas ro Proceso, A ciéncin, de fato, avangaria e se acumularia Sofrendo aprimoramenios om toma de um doterminado Paradigm. E Kuhn chame esses periodos de ciéncia nor, ‘mal. Por exemplo, 0 modelo mecdnico (modelo de mundo. ‘méquina) poder ser considerado come um dos paraci. ‘as om tomo dos quais @ ciéncia se organizou por um Periodo desde o século xvi) Mas quando um paradigma comega a nao dar conta de + 2xplicar certos fenémenas, ou suas explicagies nao sho Salistatérias, esse paradigma vai entrar em erica, Essa cr 50 vai gerando instabilidades que poder se transtoimar em Verdadeiras revolugies na cléncia, Durante esses poriodos, {que Kuhn chama de revoluconéros, vatios noves paradig- ‘Bas concorrem na substiuigao do anterior. So paracigmas.« ‘ncompletos, pois ainda néo incorporam a série de normas e.explcagées que sé um paradigma estabelecido © aceite pela Comunidade cientiica vera ter com o passar do tern. Pe. Por isso a escotha de um entre es varios noves pas radigmas (ou meio paradigmas) aiz Kuhn, nio 6 tao certo ¢ Finear coma os livros diddticas ou os compéndios de Mists. ta da Ciencia tinham feito crer. Como todos sao incomple- tos, a escotha da comunidade vai ocorrer por motivos est. tices, emocionais, e até politicos, ou soja, raz6es nade 'gieas entram na escolha do novo paradigma. Quando @ rise passa, essa espécio de irracionalidade ¢ esquecia, E-8 histora, nando para 0 nove paradigma ja estabeleciso, {ue parece expicar mais @ melhor os fenémenos, acaba pot eolaborar com a impressao geral de que o conhecimento. Cientitico se acumula de uma forma continuada e natural. \Ledo engano,afirma Kuhn, pois @ novo paradigma ndo ‘explica mais nem melhor os fendmenos ja explicades pelo anterior. lis, ole no é nem maior nem melhor do que o Paradigma anteror. E ai entra uma questao que é nao so {9 precesso histonco, mas também do processa logico do onhecimento, Porque, no proceso de desmanche do am ‘igo paradigma, nao serio sé suas normas, seus exper ‘mentos, @ suas teorias que vio ser desmontadas, mas, ‘muitas vezes, a propria visio das fendmenos estudados ‘passa a ser outra! Por exemplo, 0 conceito de movimonte para um newtoniano nao é um aprimoramento, ou um aver. ©, sobre 0 conceita de movimento que tinham os ariste Thomas Kuhn teve que justiicar muito, éiante de sua propria comunidade, as iis poueo orlodoxas que hava Sugeride. Até vottou atrds em algumas dolas. Mas pars 2 Histéria da Ciéncia,ficava aberta a porta para vascwinar 6 assado © o presente numa nova busca, A busea de con, cada cultura, cada Comunidade cientiica e cada epcea consti, de acordo com seus objetivos ¢ suas forme a Yar 0 mundo, os eriérios das verdades que regeriam cus ciéncia. E se as ciéncias de vérias épocas e diversas cuine ‘a terim, cada uma, seus préprios ertérios do que fosse verdadeiro ou falso, a ciéncia madema deixava de ere a ncia entre muitas, nem ‘ritérios que the deram formaco, ‘Sem o peso da continuidade, a Histria da Ciencia del- x0u de fabricar seus enormes compéndios, suas eroniees os Nonordvels pals ov precursores da cnc, Podia age, {2 Se dedicar, sem med © com seriedade, a estudes oo, Dre o que fora a magia, a alquimia atc. Sabendo, por axern. plo. que em outras épocas © com outros eiténios estas Paviam sido expressdes do conhecimento sobre @ nature, i —— * tice para afinar os instrumentos tices. Trata-se de conceitos completamente diferentes Porque a visio do que fesse movimento mudeu completa monte. Para 08 arstoétcos era uma qualidade do corpo, ara 0s newtonianos, um estado deste. Eles no tém come, ‘Ser comparados, medidos um contra 0 outro: 8&0 incomen. surdveis. Nao se pode dizer qual é methor, pois o que pas. ‘Sou de um para outro foi apenas @ palavra movimento, mas 120 © sentido © as implicagées l6gicas desta. Assim sendo, Como numa revolugao social, nas revolugdes clentcas, « tinea corteza que fica é a da mudanca, Se esta mucianed {ci para methor ou para plor,néo serd através da logics (0 ‘quaso nunca através da histéria) que vai se poder avaliar, Umas vezes cumprindo seus objetivas revoluciondrios in: Siais melhor, outras vezes pior, a cifncia normal avanga, mais dentro de Seu proprio paradigma, ou do projet sree tragou para si Quando este projeto & desmentado, ninguém podera d- er para onde os novos objetives vao levar. Porque o nove Paradigma no engloba nem deriva do velho, nada nos ga. Fante a supetiordade de um sobre outo, Portanto, a cibnois moderna nao pode ser considerada como superior a ck Nascimento, C. A, Para ter Galiou Gales, Sao Paulo, EDUCINova Stella, 1390, = Rossi, P. A ciéncia @ a fasolia das modomos, tad, brasileira, Sdo Paulo, Ed, UNESP/inst. Cul liao. Brasiet, '0, 1992. 5 Vargas, Miton. Verdade e ciéncia. S80 Paulo, Lia tia Duas Gidades, 1981 J pales F. A. Oiluminismo rosaervz, tad. brasileira, ‘So Paulo, Culix-Pensamente, 1869, Ou ainda meu livto, Da alguimia & Quimica, S80 Paulo, EDUSP/Nova Stella, 1987, Como também as coletaneas de artigos de Stephen Jay Gould, que tém saido em forma de livros pelas eaorce, Martins Fontes e Compania das Letras Artigas em Histéria da Cigncia também podem ser encon- tados em revistas como Ciéneia Hoje e Superinteressanta Ou ainda, om revistas de sociedades e grupos cientiicns Que sempre reservam um espaco para o tema. Mas tom bém existem publicagdes especiicas como as Cadernos oo SOBRE A AUTORA ‘Ana Mars Alfono-Goldiar ascevna Espana © 3 fomnov Emrisicw dedicandose temo integral Wisin de Caro 41978 Realize eu exes de porraévgtestvecre an idee conates a0 Bra no ehesen Fol mbm gras 3 lienga sates 2 ela conceida plo ‘Programa de Semisticn que» preine to sade ee a om inns esto em fede const

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