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0 “DISEGNO” DO RENASCIMENTO, DONDE SE ORIGINOU A PALAVRA PARA TODAS AS: OUTRAS LINGUAS LIGADAS AO LATIM, COMO ERA DE ESPERAR, TEM QS DOIS CONTEUOOS ENTRELACADOS. UM SIGNIFICADO E UMA SEMANTIC, DIVAMICOS, QUE AGITAM A PALAVRA PELO CONFLITO QUE ELA CARREGA CONSIGO AO SER A EXPRES- ‘SAO DE UMA LINGUAGEM PARA A TECNICA £ DE UMA LINGUAGEM PARA A ARTE. Vilanova Artigas, “0 desenho™ Estas palavras de Vilanova Artigas esto numa modesta edi¢ao, porém fun~ damental, publicada pelo grémio da FAU-USP em 1975, denominada Sobre desenho,' contenda, além de Artigas, pequenos ensaias de Mario de Andrade ¢ Flavio Motta. A leitura constante desses ensaios sobre desenho, ao longo de todos esses anos, aliada a falta de bibliagrafia especifica a respeito, despertou o desejo € a necessidade de termos, em maas, mais reflexbes ¢ apontamentos sobre a natureza dessa linguagem. Dai a proposigao presente no livre Disegno. Desenho. Designio - lugar possi- vel para.a composigdo de diferentes acessas € experiéncias com € a partir do desenho -, projetando percursos inusitados para uma linguagem, tao antiga ¢ to permanente, em continua resolugao, Tal como o fluxo. continuo do rio de Herdclito, nunca se desenfia a mesmo desenfia, nunca o trago da fina sere igual. Em permanente mutago, a natureza do desenho € sempre a mesma € sempre outral Atendendo aos contetidos embutidos dentro da palavra “desenho” que Ar- tigas aponta em seu ensaio, Disegno.Desenho.Designio reine textos inéditos escritos por profissionais que representam distintas areas de conhecimento ~ lancnArigns “0 dees, em Soe dese, et Centr de sds Bracos do Gitmo da FAU-USP, a inagrslprunesets na FAU-USP em 2087 Paul arte, ciéncia ¢ téenica -, agenciando suas atuagdes no mundo junto com 0 desenho, afrmando a vocacdo intersemiotica que o desenho transporta em suas linhas de fuga. Os textos aqui presentes sio espethos de experiéncias, indices de singularidades tracejadas por palavras que imprimem maltiplos sen~ tidos ¢ diresbes para a natureza, 0 crcuito ¢ as modalidades do desenho. Projetos, lustragbes, esbogos, partituras musica, poesia visuals, enogra~ fas, corcografias, plantas arquitetonicas, mapas astronémicos, geologicos, ana~ tomicos, equacdes matemiticas, cartografias ou apenas sinas "desinteressa- ds", que dancam no espaco branco do papel, sugerem mais um estado do que luma condicio para que o desenho posse manifestar-se em plenitude. Sequer ‘algumas paiavras de Valéry, aue aqui ganham um contorno extenso: Parece-me ter tragado uma linka de fuga. Segue, rompe-s,retoma, une-se ddenovo ou se enrol; ese entrelaga consigo mesma, dando-me a imagem de um capricho sem inalidade sem comeso nem fim, sem outro signiticado que 0 ‘a iverdade de meu gesto no ngulo de meu brago.? De todo modo, 0 conjunto dos registros grificos que eaistem por ai ~seja ‘uma anotagio no canto do papel pare fixar rapidamente uma informagdo,seia tum desenho mais elaborado em razio de uma demanda funcional, seia um esboco de um projeto de instalacao ou rabiscosleatéros -,enfim, estes, entre tantos outtes, so 05 sinats se uma linguagem que se evidencia em territérios distintos, geando uma regio espagosa de possiblidades, arco extenso que vai da ciéncia a arte. Esta publicagae nao pretende dar conta dos contornos vigor0s0s ¢ porosos que a lina ~ estrutura dssea do desenho ~ capta, dene, designa, ara, ar- rasta, puxa, traceja, lange, plane, projeta como vetores de acdo que se esten= dem dos tragos do pensamente, Radiografar a transitividade do desenho que percorre os tettérios da arte, da téeica eda ciéncis, costurande percepcbes € conceitos, engatando linhas ativas que se langam no espaco, instaurando rmados de fazer € pensar, certamente seri uma tarefa infindivel Todos os textos presentes foram produzidos especialmente para esta put casio, atendendo a um convite direto e informal Agiadego a todos que esto participando desta empreitada pela prontidao generosa, compartihando 0 entusiasmo que anima € movimenta os significados embutidos nesta palavra: deseo. A palavra do desenho UMA OCASIAO PERGUNTAMOS A UM CAIPIRA NA CIDADE DE JAMBEIRO (ESTADO DE ‘SAO PAULO): COM QUEM ELE APRENDERA A FAZER “FIGURINHAS’ DE BARRO PARA 'PRESEPIOS: QUEM LHE DERA OS MODELOS; QUEM LHE ENSINARA. RESPONDEU, DIANTE DE UNtA PEQUENA ESCULTURA ~ "0 DESENHO MEU MESMO: Flvio Motta, “Desenho €emancipagéot No decorrer do ensaio "Deseniho © emancipago" Flavio Motta relata esse fato acordando um campo de sentidos para 0 ato de desenhar, E um relato singelo que atvaliza um imagindrio mitico e aparentemente distante personi~ ficado pela figura de um caipira iletrado, de pés mo chdo, parecendo viver em uum tempo fora do tempo historieo. Talvez, por isso mesmo, tal como Flavio Motta aponta neste ensaio, justamente por viver num tempo parado € que aquele homem se configura como um dos herdeiras andnimos “do sentido da palavra ‘desenho’, de praveniéncia anterior & Missio Francesa", conservando € nos devolvendo “uma significago mais rica e mais humana. 0 que se perdeu dda palavra em boa parte se perdeu do homem’ ‘A primeira leitura desse texto causou em mim um efeito simultaneamente devastador € restaurador, imprimindo urn tom quase missionério & tarefa, su- ‘gerida por Flavio Motta, de recuperacéo de um sentido origindrio para a pala via “desenho” e suas recorréncias que se impregnam no ato de desenhar, pre sentesna arte contemporanea que apreende 0 desenho também como atitude, {endo somente como “apenas coisa de lapis ¢ papel", formulagao j@ indicada no ensaio de Mario de Andrade intitulado *Do desenho"* que compe a edigao anteriormente mencionada. E daquele exemplo significative ainda desdobram-se experiéncias 20 vivo, ro presente, como um presente. Exgeriéncias que, nascidas das letras impres- sas de uma pagina carcomida do que ainda sobra da modesta pubic per rmanecem como uma atualidade intrigante. Aira isso porque pude compartlhar de uma situagao similar, em julho de 2001, que, talvez por “designio dos deuses*, aconteceu a tempo de participar tal experiéncia neste livro. Foi numa roda de fogueira na dobra de uma monta~ ‘nha mineira, Na roda compareceu o senhor Tido Ferreira, pessoa respeitada na comunidade do Matutu, aparéncia de 60 e tantos anos, ki nascido e Id perma- necido. No decorrer da noite, seu Tido Ferrera inicia uma performance reci- ‘tando versos que ele inventa ¢, nfo sabemos como, guarda vivamente nia me~ moria, Sendo analfabeto, nao registra no papel as imagens poeticas que Ihe surgem em forma de palavras, no fixa suas idétas de maneira visive! por meio da escrita. Da necessidade de transmitir imagens e da incapacidade de seu registro pela palavra escrta, seu Tido desenvolveu a extrema habilidade da ‘transmissto oral, que tem, em si, uma natureza flutuante, impalpavel,intermi= navel, Fluida e, 20 mesmo tempo, guarda uma repetic#o, exaltando a qualidade da meméria Dois jovens paulistanos que se encantaram com a forga da tradicao oral personificada por aquele homem tao singular, eiletrado, se dispuseram a edi= ‘ar um livro de poesias, gravando € transcrevendo seus versos° Um livro de poesias que nasce da fala e, sendo livro, torna-se abjeto de permanéncia. Os ‘vetsos, agora escritos, atvalizam e retém a experiéncia da tradicdo oral que se desdobra no tempo eno espaco: ponto nevraigico de transicdo da efemeridade da fala para a permanéncia do registro. Perguntel a0 seu Tigo, naquela mesma noite, qual o titulo que ele daria ao seu futuro livro de poesias, querendo detectar que vibragdes € sentimentos aquela experiéncia inédita estava provocando naquele homem. E ele respon- du, com naturalidade, fluéncia e rapidex: Desenho, no singular. Imediatamente esse titulo provacau, em mim, um campo de ressonancias, ja sinalizadas pelas palavras de Flavio Motta, delineando as marcas, 0s vest «gos, 0s sinais de um pensamento em continua resolugdo. Nao me contive © Perguntei a raz3o desse titulo, tio inesperado e sofisticado, tratando-se de um livro de poesias vindo de um senhor tio simples, Prontamente seu Tido Ferreira respond, de maneira clara edireta, em nenhuma diva a respeito:“é par- que fieo imaginando os versos na cabeca, fico desenhando na cabeca para nao esquecer!" Essa resposta apreende um significado emergente, nascido daquele encon- ‘ro casual, dada a constatacio da repeticdo de uma mesma historia, aquela {que Flavio Motta narra sobre o caipira da cidade de Jambeiro, porém com personagens ¢ lacagées dstintas, num intervalo de 26 anos. A reincidéneia do ‘ato afiema a poténcia de um desenho vivo, a0 vivo, designando, por um lado, uma tonalidade atenporal, dada a natureza do desenho enguanto linguagem ‘expressva € funciona, sempre presente, que atravessa a hist6ria ~ das caver nas 3 informstica-, €evidenctando, por outro lado, as singularidades, dadas as pregndncias da realidad dos lugares nagulo que o desenho atrai e na forma como projeta seus percursos. A atualidade do relato de Flavio Motta, que identifica, na figura daquele caipira do Vale do Paraiba, um dos herdeiros de um sentido mais potente para 1 palavra“desenno”,ecoa até hoe por pessoas como 0 seu Tio € multas outras figuras andnimas encravadss nos confins do Brasil ~ desde as paisagens rurais 4s urbanas, nos centros e nas periferias =, multiplicando-se os portadores de ‘um conjunto de experiéncias humanas anteriores eserita, eifrando uma visso talvez mais expandida da poténcia que o desenho almeja ser. Uma iia de desenho alga vios maiores do que ser “apenas cosa de kipis papel" essa formulacHo, jé mencionads, Mario de Andrade soma outras fir- rmagBes, com propriedade, convergindo para a nogio de que *o verdadeiro limite do desenho nao implica de forma alguma o limite do papel, nem mesmo pressupondo margens", sugerindo a qualidade expansiva que 0 deseniho assu- ‘me enquanto linguagem extensiva aos pensamentos, aos desejose is atuagbes no mundo, Pois foi a partir da leitura constante daquela publicacao, que caiu em mi- rnhas mos em 1979, quando ainda era estudante de artes plisticas na Faap, ‘mas frequentadora assidua da FAU — lugar que por muitos e muitos anos aten- dew 2 uma vocagdo humanista, protagonizando uma corrente produtiva nas- ceente na paisagem cultural -, que pude vislumbrar a possibilidade de cons- truirmos a fundago de conceitos sobre, para e com o desenho, realgando seus Percursos inusitados ¢ transitives. As palavras de Flivio Motta engatam um conjunto de experiéncias acumuladas dentro da propria palavra “desenho", estendendo os horizontes perceptivos € conceituais que no mais se conten- tam em compreender 0 desenho apenas como coisa de lapis e papel Em *Desenho ¢ emancipagao’’ Flavio Motta desfia as sutis transformagbes| semanticas, sociais e culturais que a palavra “desenho" foi absorvendo dos confronts sofridos pelo processo de colonizagio que o Brasil viveu ¢ talvez ainda viva. Sequndo Motta, dos contornos historicos herdados da cultura eu- ropéia, precisamente os vinculos inicialmente estabelecidos com a vinda 20 Brasil da Missdo Francesa, em 1816, que trouxe em sua bagagem a experiéneia nevelassica no modo de produzir, criar e pensar a arte.a ciéncia a téenica, esenho igualmente incorporou as experiéncias dos povos de lingua inglesa que formataram a Revolugdo Industral. €, dentro desse eampo de forcas, que Flavio Motta aponta estar presente na origem da palavra desenho, também indicado no ensaio de Vilanova Artigas, o texto de Matta abre espago as vores rigindrias, embora por vezes ocultas, que na palavra “desenho" ainda latejam vivamente. O desenho da palavra DDESENHOS SAO PARA A GENTE FOLHEAR, SAO PARA SEREM LIDOS QUE NEM POESIAS, SRO HAICAIS, SAO RUBAES, SAO QUADRINHAS E SONETOS. Maro de Andrade, “Do desert Tanto pela afirmacao do caipra do Vale do Paraiba - “o desenho & meu mesmot" ~ diante de sua Figurinha de batro quanto da de Tido Ferreira, que di 0 titulo Desenho ao seu lio de poesias, so equacionados os percursoshisté= ricos do desenho, tornando igualmente sensiveis as hipdteses formuladas por Mario de Andrade. A constatacio da partcipagio efetiva do desenho na o em da escrita evoca as qualidades mentais eabstratas do pensamento que se coneretiza nas eserituras de um mundo sem legends. ‘AS primeiras grafias se originaram do desenho, tal como varios pesquisadores ‘enuiciam em seus estudos. Jean Bottéro atribui aos sumérios a origem da eserita: Para fazer esto descoberta bastou-lhes desenvolver os pracessos de seus artis~ ts € seus contodorese trar dai, num rasgo genial sorsado ao acréscimo de diversas figuragdes convencionais, uma coleca ampliada de desenhos efigu- ‘as esquemticas. Ese snaistnham tragads uniformes o suficente para pet= rmitir ume identifi € distribu, de transmit, fbando-as, todas as mensagers, todo 0 contedido do penssmenta? imediataeeram virtualmente eapazes, or seu numero Da interseegao entre a representagao grifica que fixa e a fala fugaz que escapa,a escrita foi sendo elaborada ao longo das primeicas tentativas hua nas por meio de registros visuais em direcao a formalizagio do conhecimento, O desenho do signo, 20s poucos, foi se desencarnando da imagem-figura para adquitir um valor fonético, abstrato, universal. Mas, em seus primdrdios, 0 desenho da palavra - os pietogramas, 0s hierdglifos, os ideagramas, escritas analdgicas ¢ visuais - explicita sensivelmente a natureza mental ¢ inteligive! do desenho como ato € extensio do pensamento. Segundo a experiéncia cr tiva do artista, dramaturgo, poeta e cineasta Jean Cocteau, que alavancava um leque amplo da eriacao, “escrever, para mim, é desenha, entrelacar as linhas de ‘maneira que se fagam escritura, ou desentrelagé-las de um jeito que a escritu- '2 vire desenho",® evideneiando as fronteiras sutis entre desenhar ¢ escrever, A constatacao da recorréncia da palavra “desenho" em textos de naturezas dlistintas, seam poéticos, floséticos, cientificos, politicos, econdmieos, téeni 0s, constata a sua presenca em varios territorios de conhecimento, explicitan- do os indices de um arco de significados ¢ experincias humanas que na pala- ta “desenho* realmente esto embutidos. Os ensaios que esta publicacdo apresenta podem ser compreendidos como lum convite ao reconhecimento da presenga miltipla do desenho ~ do c “Asie 8 forma delete ra Mops ai’ om Cour pemsanent era Bia Pane en 28 1 ens Fan crete puna in ee arin dache”em ae dP Catena 10 8s fruigbes poéticas, do funcional ao devaneio, do conhecimento téertico a0 gesto desinteressado, da necessidade de respostas ao enigma dos desejos. Este livro nao pretende dar conta do mapa e do territério absolutos que o desenho capta € projeta como possiblidades da presenga humana num mundo a ser decifrado, porque esses mapas € territrios ndo existem a priori - sio extensi- vos aos caminhos da existéncia humana, Apenas flagramos o desejo de radio arafar a transtividade do desenho que percorre os dominios da arte, da técnica € da ciéncia,costurando percepgdes e conceitos, dinamizando a inteligibilida- de © a sensibilidade de pensamentos ¢ ages engatados nas linhas que se pro- jetam no espaco do mundo, provocando tessituras de significados sempre emer- gentes ¢ em transite. Cada autor relata, de modo singular € Unico, suas experiéncias com o dese- rnho. E em cada texto as eflexdes ¢ 05 conceitos sobre o desenho so apresen- tados da maneira como sio vividos e formalizados de acordo cam as necessi- dades € os desejos que cada érea de atuagdo demanda. 0 conjunto dos textos compde um objeto multifacetado, sempre o mesmo e sempre outro. 0 desenho & aqui, protagonizado por artistas, cientistas filésofos, que o reconhecem de ‘maneiras distintas, em suas formas € contetidos como fundante do pensamen- to e suas extensdes no mundo por meio de seus fazeres. A convivéncia dessas faces e interfaces se soma, configurando contornos mais fluidos para @ compreensio de experiéncias to distintas, porém compar= tilhaveis: 05 modos de o desenho figurar a interpretagdo, a criagao e a produ- ‘¢40, em sutil cumplicidade com a mao que imagina, 0 olho que deseja, a mente que projeta, 0 corpo que atua, designando mundos de sentidos em novas € otras linhas de atuagao. Disegno. Desenho Designio: um eanto-coral, no em unissono, mas em uma composigao de ritmos, singularidades e intensidades variantes: o descnho & meu mesmo!

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