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Apresentagiio A interrelagio e a interagio classe, género e raca/etnia como elementos de andlise da vida social Fatima Identidade Feminina Sueli Cameiro Nés e as Outras Maria Aparecida Bento_ ‘A Edueagio da Mulher Negra Edith Piza 30 A presenca da Mulher Negra na luta anti-racista e feminista Matilde Ribeiro Oficina: Mulher Negra e Identidade 37 Avaliagao género classe ¢ raga APRESENTACAO Os textos que publicamos foram apresentados no Seminario Género, Classe ¢ Raga, realizado no perfodo de 28 a 30 de janeiro de 1994, O proceso de organizagiio desta publicagao foi feito logo apés © semindrio, no entanto, a impressio s6 foi possivel agora, em 1997, gragas a0 financiamento da SILANCE, Avaliamos como de extrema importincia Jevarmos adiante este projeto, pois as reflexGes contidas nos textos so ainda atuais e persiste a caréncia dle materiais que registrem a produgao politica e tedrica das mulheres negras. Desde as primeiras atividades realizadas pelo Coletivo de Género, foi registrado por muitas participantes a critica em relago & insuficiéncia da abordagem da questo racial ¢ da realidade de vida das mulheres negras, Ao avaliar cada aividadle percebjamos a importincia de aprofundamento do tema, tendemos que para analisarmos as desigualdades sociais é fundamental a consideragio das desigualdades relacionadas a género, classe social e raga, Nao os tinicos referenciais, porém sao fundamentais na estruturagaio da sociedade. Ser trabathadora/trabalhador, mulher ou homem, negro ou branco siio fatores que determinam lugares a serem acupados e condigdes de vida, Por isso, aceitamos o desafio de organizar 0 semindrio Género, Classe ¢ Raga, ute teve como objetivo central contribuir para a formacao, subsidiando a agao individual e coletiva das participantes. Acreditamos estar contribuindo para dininuit a distancia entre a reflexio e prética dos diversos setores do movimento social, no que se refere &s temiticas abordadas. Pasticiparam do semindrio 65 mulheres brancas € negras, vindas dos seguintes Estados: Espirito Santo, Mato Grosso, Piauf, Parand, Rio Grande do Sul, Rio Grande do Norte, Séo Paulo, Rio de Janeiro. Vérios eram os setores de militancia: movimento de mulheres, negro, sindical e partidério. A heterogeneidade do grupo possibilitou momentos muito ricos de debate ¢ troca de experiéneia, Aprendemos e apreendemos muito com as falas, gestos, sorrisos & com 6 relato das préticas cotidianas. Esperamos que este trabalho desperte e/ou preserve o desejo de aprofundar os conhecimentos ¢ contribua para uma maior compreensfo da realidade, mas, acima de tudo, que alimente a busca coletiva de construgao de um mundo mais solidirio e igualitiio. género classe e raca JONTANDO ESFORCOS... A crescente participagéio das mulheres nos movimentos sociais, nos partidos & nas instituigdes, tem colocado, cada vez mais, a necessidac 10 Qge, de programas de formagiio voltados para a temifica Relag& i xo OS StanelGn) asus on cncas erage, ountir de 1990 e chegou A implantagao do Projeto "Relagix iais de. ero" * tu2_1992, para responder a uma demanda de formaco que levasse emcontan Curt | TAO ansilise das relagdes de género nas diferentes praticas sociais. Dolo IG Pact nsealizagiio das atividades foi formadolum Coletivo de Género.composta % * be pels seguintes entidades:) - ELAS (Blisabeth Lobo Assessosia: Trabalho e Politicas Pithlicas);- - CNMT- CUT (Comissdo Nacional da Mulher Trabalhadora da CUT), 5 INCA Onstituto Cajaman\— Qelaceo lili CO- ) Coletivo de Género fe onsolidou Jomo um grupo de trabalho que elabora, FA Bove a aot a, executa e avalia as atividades realizadss. Mantém uma relagio politica 7? baseada numa concepgio de_trabalh res wns./garantindo a punrr~Oe dv ulonomia dé cada entidade, Tem sido um trabalho muito importante, na medida, Cove er : Cinque possibilia a roca de experiéncias e a reflexiio sobre as estralégias para a heCr0PaMho formagiio na drea de género. - ey erdtnte © resultado desse esforgo tem sido uma preocupagio maior com a formagao nesta CAaverv> + ienudtica, traduzida na reprodugao de atividades nos diversos estados ¢ na awipliago de novas parcerias com universidades, outras ONGs e entidades que’ se dedicam do estudo das relagées entre homens e mulheres. Com ofpbjetivo de unificarhs propostas e otimizar tempo e recursos foi formado un grupo especiico para realizagio deste seminario, composto pelo Projeto “Relagdes Sociais de Género” do Inca, SOF (Sempreviva Organizacéo Feminista) <-Sesouain Nacional de Muiheres do nao meditos esforgos para garairg parlicipagiio do maior mimero de grupos, movimento ¢ entidades interossadas em, discutir o tema, O resultado foi uma presenga nao apenas numerosa mas bastante ‘gpresentativac plural género classe e raca A INTERRELACAO E A INTERACAO CLASSE, GENERO E RACA/ETNIA COMO ELEMENTOS DE ANALISE DA VIDA SOCIAL WAtima Oliveira! :0 primeiro pressuposto de toda a histéria humana é natwralmente a existéncia. Mle individuos Tiamanos vivos*( *O primeira aio histbrica destes individuos, pelo qual se Tinguen dos animais, nfo & o fato de pensar, mas_o de produzir seys meias-devida). O primeiro fato a constatar ¢, pois, a organizapdo corporal destes individuos, e por meio disto, sua relupdo dada com o restante da natureza (..) toda historiografia deve partir destes Fituctamentos naturais de sua modificagde no curso da histéria pela agio humana.” (KARL MARX E FRIEDRICH ENGELS)? Apresento-Ihes um ensaio. Uma tentativa de sistematizagéio, ainda inicial, Esta recheado de citagdes, De certa forma € um "mosaico”, uma "colcha de retalhos", de idéias de muitas pes: © raciocinio que apresento neste texto foi construfdo tendo como alicerce alguns pressupostos: =r A oe, oft? 1° - Humanas ¢. seres i ‘Na vida em sociedade, através dos temps, estabelecerani simbolizagées, convengées, regulamentos morais ¢ éticos orais e/ou legais, construiram e sedimentaram habitos e costumes. Criaram J culturas. Tudo isso constitui as relages sociais. Ag relagGes!sociais, enquanto ge construgées culturais so diferentes « mutiveis. 7 ak? 2" - Do que se conhece das sociedades de classes (escravismo, feudalismoe | capitalismo) e tomandé como parimeiro o predomino, - nestas sotiodades - dos 9 * gl” privilégics masculinos, as mulheres enquanto conjunio so desprivilegiadas e . imleriores em relagiio aos homens. ‘f Ye 3° - Alyuns agrupamentos populacionais: judeus, negros, indios, ciganos etc. a subordinagio_¢ sob _o SO, imposigfo cultural e politica_de_outrc - ‘Sgmpamentos humanos considerados superiores. Estes agrupamentos vive ‘7 of” ie uma situagio de desigualdade social. Isto ¢, ha privilégios para um agrupamento_ Tumano, enquanto outros so desprivilegiados e até inferioriza y 4” ~ Que as_mulhetes e os agrupamentos populacionais raciais/étnicos estfio distwibuidos nas classes sociais, No esiudo da histéria da humanidade, do que se conhece até agora, podemos dete m_cada peri ico varios _ti le relagdes sociais ao mesmo fempo, entretanto consideramos como caracteristica de uma_dada epoca as Diz-se assim que estas sio_relacSes sosiais predominantes. género classe e raca 7 As velagées sociais : tipos e caracteristicas piece chatece peeet bike tE Para analisar ahist6ria humana, pertindo da afirmativa daf'iarx e Engel de que i “o primeira. € pois, a organiz: das pessoas ¢ por mio disto, sua relagaio com 0 restante'da natureza", € preciso que se perceba como em cada momento da hist6ria, que se pretende analisar, est estabelecida esta "dada relagio com o restante da natureza". —D he. Atualmente, em minha opinio, fas contradigdes mais mail podem ser’ percebidas em todE—a-si giobalidade quando iMleneamos entrelagamos tésltipos de relages sociaisJas de produgio, as entre og sexos ¢ as aciaisleinieas © HUROUALAS | ere, nd Aa.cds it M4cO> Cabe destacar que as duas tiltimas, \acontecem" tendo como sustentiiculo ou motor, cde-sua realizagio as relagdes sociais de produgdo ¢ nunca ao contrétio, De onde se” deduz que é importante nfo desconsiderar do ponto de vista das lutas imediatas ¢ das bandeiras reivindicatérias pontuais ou especificas (téticas) e da perspectiva da superagao (estratégia) destas contradigdes que, muito embora no haja uma ordem hierarquizante entre estas relages e cada uma possua caracteristicas e dindmicas s ja. da humanidade é prodiga em demostrar que, dentre elas, ae” i ~werminat fansformagbes na sociedade-e a possibilidade de, ao muda Fr | ‘modificagGes nas demais relagdes sociais,. pee wrdoe Jeo AAO? \ As relagses|sociais de produgio |“ _— ceunt Gang) toda a hist6ria da humanidade 4a hist6ria de como ela resalveu io vs seus problemas relativos 4 alimentacio, habitagdo, vestudrio e & cultura, desde os 2s primdrdios, Toda o restante estd voltado para isso". Em outras palavras, Gort’ 2 i significa que em linhas gerais a histéria da humanidade nada mais é do que Le histéria de como ela tem criado as condigdes de vida material da sociedadc, MVE ot. re eee que ela cria a vida material (instrumentos, experiéncias ¢ habitos de trabalho - 6 isso que se chama de forgas produtivas) {Forgas produtivas ehtabelecem assim QO modo de obteneao da vida material d 2: ug agin pod — Sisgbex_sociais- de jue_podem ser: de _colab ave. bao pai sais drdonnanilepoegio , nlp as “ Podemos dividir a Hist6ria da humanidade de acordo com a base econdmica, 4 jucdominante em cada épaca. Base econdmica, grosso_modo, sio as forcas fof daror proturivas e as relagées de ‘piodugao. Assim temospas seg d Comuna primitiva - relagdes. sociais de colgboragao/complementariedadey fa hare + EScravismo- relagoes sociais de dominagio/exploragaio; Feudalismo - relacies is de dominagdo/exploragao; Capitalismo - relagées de gas? soe a dominagSo/exploragao; Socialismo - sociedade de classes Us poder politico é do Ss ban & 909% proletariado. WONOTWCR } Adv Go Vo Lar poor Br 4.00- ee modo Loans Tt ae ‘As relagées sociais entre os sexos S Ae ode ae : ito "De acordo com o fstudo da vida (Biologia) } espécie humana (Homo sapiens) Hee se divide em dois grandes grupos: 0 sexo femninino eo sexo masculino. Esta € a Tp i género classe © raga uma divisfio da natureza. Mais prec! samente, esta é uma determinagio genética. Sexo é uma categoria bioldgica” e o determinante di s_biolégit QoL. bur’ \ desempenhados s ns. propria vida. aa Coo isto- Gieniilico que a contribuigao estritamente biolégica € igual para ambos os séxos. OC i “Que €diferénteS que _a mulher nfo apenas guarda e nutre a deseendéncia da Spite, mas culuralmente € aespons espns ay ciao vezes dea pela 7 735th ea . Condigo esta que coloca para as mulheres indmeros the conflicas, ou sanificaivas reperoissties na sue qualidade de vida, nos mais quol fy diferentes aspectos da vida privada © publica, mesmo quando, ifdependente do DD motivo, ela nfo desempenhia este papel no proceso reprodutivo. Estes suo, k7rd7d clementos de grande peso quando se considera a opressfo da mulher, nfo pela” pyre . verlente da condigho biolégica em si, mas pela desvalorizacio que esta. io. ‘iigrente_A_natureza_adquiriu_ao_sofrer agdio cultural pressor, As sociedades de, classes se server desta Rondicia bioldgicale situaga joder de. opressdo.e exploracia, edt © que & importante resgatar aqui é que houve um proceso crescente de > u desnaturalizagio ou_“desprivatizaciio" da procriagao, que ainda esté em curso. ha Tada vez mais a geragao da_descendéncia deixa de ser uma questiio sobr lohan 4s pessoas (mulheres € homens) podem livremente decidir. Vide as politicas de a. populacdo em suas|versGes natalistas ¢ anti-natalistas,Jo que implica na falta de Tiberdade para definir se as pessoas querem ou no procriar, a panto de que hoje > o-ZQLeoe podemos afirmar que atualmente esta “decisdo" esta submetida ao controle das classes dominantes ¢ se di basicamente por sua intervencio abusiva sobre as - coxpos das mulheres. Toma-se muito explicita a inversio de papéis do Fstado O/ 7) ano a agio de "euidados" referentes A sua populagao.[Caberia ao Estado a responsabilidade pela garaptia das condigdes de sobrevivencia: trabalho, inbiiagao,escolasatidsielg JContraditoriaments ests sf0, quest6es privadas no anual modelo de sociedade, enquanto que a definigdo de procriar ou néio, que leveria serum direito inaliendvel das pessoas, é controlada pelo poder piiblico. Reside na‘quebra desta inversao de papéis a dimensfo revolucionéria da luta pela re-privatizagiio da procriago para atingirmos de fato a liberdade reprodutiva. As yglaches sociais entre os diferentes agrupamentos yasiais ¢/ou étnicos Em minha compreensio 0 qu: z que sioffagas humanas]sio variagdes do POCO 47 Oe sempre um significa , embora nao possua o fatalismo genético de faye, sex0 e ndo seja uma categoria biolégica, A enciclopédia Barsa.(16* — edigiio, ano 1979) diz. que “aca é um grupo humano que se distingue de outros congéneres pee é caracte) gs fisicas hereditariamente transmissiveis," a ‘éuma concepeao cultural e significa wn ula determinagao se levam em consideracdo os os Cracieres Jusnanos, sejam somdticos (aparéncia fisica), linglisticos ou culturais, WELreee, Grading Un lembrete importante & que lem todas as elasses sociaig existem}mulheres ¢ karo homens de diferemes ragas¢ de ierentesettins. Do aue se conhece atualmente py (lw OO Sehistévirdu aumanidace podemos afirmae que 6 rcismo anterior ao slo XV. inka eomd{qotivagi a sings eeontimen Quando falo opressio racial/émica (e eu prefiro a expresso opressio étnica por género classe e raga consideré-la mais completa), refiro-me & opressfio que st abate sobre. os no 4) Qui LOO 8; negros, indios ¢ mongélicos em geral, mas também sobre ciganos, jcdeus e demaiseifag brancas discriminadas e consideradas povos inferiores. PE a woo Ap PPO? sorpoders Jahlee?, 7 C pi civan 1 4forw OOF one? e © poder de mando, a dominacao fpermeia ds i, de tal : arelagao LLU ee ol. modo que podemos dizer que todas estas relagdes sociais enc de poder politico. Q que 6 ay pec no Ambito das grandes questdes que envolvem o poder politico. ma decorréncia direta do "controle dos meios de produgia," Isso _YO- ye More “xé explica porgue a luta econdmica (por melhores condigées de vida, trabalho, Bor lh = mais e melhores saldrios etc) e a Juta pela ampliagio e a garantia de direitos sto, fnsuficientes, quer ae queitig-da Tua de < oda Iuia de classes, quanto das relagdes fo *wsihexfnomen, quanto das relagdes racials. OO Te » conseigncia significa o-conhecimento real do_papel-de-classe, de gener e~7= ‘acfaVETnica n0 combate is opressées. Mas consciéncia nao é tio somente 0. ~ sy qv ‘Mlexo da situagio real, © € por est razio que_nem_todas_as pessoas i OP Tassuidas, nem todas af nem todas a mulheres e nem todas mle Shrimldas raciale einicamente, percebem que 9 sio. Para muclar ndo basta 36 & consciéncia, € necessario querer mudar, querer transformar de forma radical. isso que se chama consciéneia revoluciondia. Pog 7, Litas piace onde | [i ininsin pret) Pi floma pormon gruel ‘ vivéncia da opressio ¢ uma.conseqiiéncia direta da dominagiior de classe, ox de CUnISecrkor on de un das acas, HiLuma supremacia opressora dos ricos, dos.) homens e dos brancos. No mundo! _» Sabe-se que estas fglacies d |dominagao/opressig} nao se deram e niio se Cén'tio sem luta, As pessoas oprimidas desenvoTvem mecanismaes de resistencias 2 Tis ou explicités, a nivel Individual e/ou a nivel eoletivo, préprios para o embate Em cada uma destas opress6es. Ag relacSes de dominagio de cTasse, dé genero e ‘Gras ragafetna, emo posstam Ginmieas de ala speci fade @ aparentem nada . Tera ver uma com a outra, na verdade formam um. todo orgainico. a [Ganceitos|e feoxiag das tutas das pessoas a, : S Pe | 1 - AeFebvia Protetaria ~ o fonccito de classd ea feoria ad , pita de classes| ‘marxismo + andlise da vida weme por Ka Mame Geerback, 0 Tcl ndo por hase a [Feuerbach co inaterialismo}: 0 i ocialismo Utép ances de Saint-Simon, Robert FourrienJe Qwenfe a Robot Fourie x ‘Economia Politica inglesa de David Ricardo ¢ Adam Smith. O Marxismo compde~ (sac.obome) se de (és partes: a Filosofia Marxista, a Teoria do Socialisma Cientifico ¢ a = Daria género classe e raga Falar de modo de producio significa falar de qualquer forma de quem possui os meios de produc ede quem prosuz. Implica também em dizer que existem Gossuidor e despossuido. Assim compreende-se que é necessério que se diga que quanto ao modo de produgao existe uma est jas classes sociais, que segundo Lénin so ‘Wea peo Jato de que ocupam lugares produc.” npygte see oe Nesse sentido & que os cissicos do macxismo puderam afimmar que desde a Poy LUO OL surgimento das classes soviais, desde 0 eseravismo, a historia da saciedade € & ee Ti e fiansformagio da sociedade, HMO, Ae Jooc. t dade Yor 2 {A Teoria Feminists) z a Kathu AX Luda Como concepeao geral da Juta da mulher pelos seus direitos o feminigmo abriga diversas tendéncias. E um amplo movimento democriitico a nivel mundial, cujo ‘Sgistko HIsIOTICO Pode ser feito considerando-se quatro grandes tases: © 4 - Buse listérica da oposigdo intelectual & opressio da muther, através de manifestacbes isoladas ou pessoais Podemos afirmar que duraute o escravismo eo feudalismo se esbogou uma oposigdo intelectual & opressaio da muther nas sociedades mais evoluidas gregas e romanas. No Idade Moderna (fim do feudalismo e inicio do capitalismo) estas manifestagdes de protesto pessoal ocorreram com mais destaque na Franga. Iduito embora a oposigio feminina, enquanto movimento organizado, & condigito de inferioridade imposta as mulheres 35 demonstre organicidade perceptivel no capitalismo, é importante especular se a Caca as Bruxas nao tepresentou também. wma forma de_desbaratar certo nivel de organizacdo uinina, que o saber de curandeiras e parteiras representavam. Ser curandeira ‘ou parteira, tanto no escravismo como durante o feudalismo, era uma forma de poder razodvel, em épocas que os conhecimentos biolégicos e médicos eam insignificantes comparando-se com a atualidade, Penso que curandeiras ¢ parteiras representavam uma forma de organizagéo das mulheres, uma confraria poderosa, cujos saberes e poderes eram passados de geragéo & weragdo, Talvez_curandeiras e parteiras tenham sido os embrides das. } - Fuse histéricu da oposicdo a opressito da mulher através de oxganicagbes de mulheres > A conseiéncia mais coletiva da situagio de inferioridade social da mulher e consegiientemente uma organizagéo feminina para lutar contra este estado de desigualdade, & possibilitada, e surge, com a nova ordem social e politica imposta pela sociedadle capitalista, O capitalismo para se implantar enquanto formagdo econdmico-social e fazer ascender a sua classe dominanie, a burguesia (..) soube tirar proveiio de duas situagBes culturais chaves: smovimentos + a quebra da hegemonia do eristianismo, a domindncia dantes exercida pela Jgreja Catélica e ~ a retivacda paulatina da producéo do interior da familia, ou seja, estabelece a género classe e raga divisiio entre trabatho doméstico e trabatho piiblico, desagregando assim a unidade de produedo familiar. Fatos que se consolidam com o desenvolvimento das ditas sociedades urbano-industriais e que arrasta a mulher para a produgdo publica. O trabalho das mutheres muda de lugar. Criam-se assim condigées de ‘que sintam a exploragiio de classe e que se encontrem e pensem coletivamente © registro histérico patente destas condigdes se insere nos marcos da Revolugao, Francesa (sé. XVIII), na formagao das sociedades urbano-industriais na Alemanha e na Inglaterra € também em grande medida na América (EUA) do séeulo XVI e XVII (...) Assim temos em um mesmo contexto histérico, de luia pela consolidagéo do capitalismo, o aparecimento de lutas e organizagées pelos direitos da mulher na Franca, América, Inglaterra e Alemanha." ‘Tudo isso nos permite afirmar que o feminismo emerge, com esbogo de uma tweorizagiio ¢ organizagio inicial, em meio as mulheres da classe média européia, Em relagfo a isso é ilustrativo 0 que nos diz Erick Howbsbawn : "A primeira vista, pode parecer absurdo estudar a historia da metade da raga bumana da nossa época inserevendo-a no contexto da historia das classes médias ocidentais, um grupo relativamente pequeno mesmo no interior destes paises de capitalismo “desenvolvido" ou em desenvolvimento. Contudo isto é legitimo, na medida em que os historiadores concentra sua atengdo nas mudangas e transformagées da ‘ondigéio feminina; a mais impressionante destas a "emancipagéo feminina" foi, cturante essa época, inteiramente restrita ao estrato médio e - em forma diferente - aos estvatos superiores da sociedade estatisticamente menos significativos (..) Na condigéo da grande maioria das mulheres do mundo, das que viviam na Asia, na rica, na América Latina e nas sociedades camponesas do sul e leste europeu, ou mesmo na maioria das sociedades agricolas, ndo havia ainda nenhuma mudanca, Havia ecorrido uma pequena mudanga na condicdo da grande maioria das mulheres das classes trabalhadoras em toda parte, exceto, é claro, sob um aspecto crucial. De 1875 em diante as mulheres do mundo “desenvolvido" visivelmente comecaram a ier menos filhos.” Realmente, tanto a contradig&o como as condigSes para entendé-la, ¢, a busca da saida estava muito mais colocada, e até amadurecida, para as mulheres daqueles setores, do ponto de vista da elaboragio de uma politica mais...talvez, universalizante. Entretanto existem ainda muitos momentos, fases, pedagos € particularidades da histéria das mulheres, a nivel mundial, que nao se conhece bem ou que ainda ndo foram devidamente analisadas. E 0 caso das mulheres negras brasileiras, especificamente das quilombolas, A face mulher negra das lucas contra a escravidao, notadamente a participagao politica, em nivel particularmente consciente, de nao dar descendéncia numerosa ao senhor de eseravo. A utilizago massiva do aborto como arma politica de considerdvel poder, pois eausava prejuizo ao escravista que as negras nflo fossem tao proliferas ‘© quanto eles gostariam. ~ Nio pesquisamos ainda com o devido rigor a vivéncia destas mulheres. Pelo menos nés mulheres negras do Frum Estadual de Mulheres Negras de Sio Paulo, reconhecemos esta atuagio das mulheres negras como uma atuagio feminista organizada € que ela talvez anteceda & Revolugio Francesa e 8s outras hutas européias. scuccassaica pcmcia género classe e raca © - Os estudos sobre a mulher - 0 surgimento de género 0 feminismo se espalhou, se desenvolveu, se tingiu também de peculiaridades regionais € até locais, enfrentou muitas crises e polémicas internas e externas. Ressurgiu na década de 60/70, Em meados da década de 80 se firma nos meios académicos como uma temtica importante: so os estudos sobre a mulher, a elaboragio do conceito e da teoria de género, "Da década de 80 para cd, na terminologia das ciéncias sociais 0 vocdbulo género tem sido utilizado em substitui¢do da palavra sexo, particularmente para se referir & opressdo feminina. Genero nif é ftcil de ser interpretado. Depende inclusive da compreenstio de mundo de quem interpreta. (Isso é muito evidente quando se analisa as inimeras (in)compreensées do conceito e da teoria de sgénero que esto na "praga", Existem desde género no abstrato; género centrado Go somente nos corpos das pessoas - € aqui o caréter relacional diz. respeito apenas as relagdes mulher/homem - até que género € "algo" indefinfvel, no ar, acima ¢ & parte da vida!) Existem dificuldades, incompreensées e drividas conceituais. Genero é um novo método de andlise? Ou uma nova teoria com um conjunto de métodos? O seu arcabougo ideoldgico se opée ao patriarcado ‘enquanto reflexiio? Ao marxismo? Ou a ambos? Ou é complementar? Afinal 0 que é mesmo género? (...) (0) "Ao se substituir ou juntar ao termo sexo 0 conceito de género, o que pretendem as feministas é demonstrar que o ser mulher e 0 ser homem sao construcdes sociais, poltticas ¢ ideoldgicas. Ao que acrescentam os marxistas, feita em um tipo de sociedade, sobredeterminada por relacées entre as classes. nido 0 ser feita mulher em cada tipo e pertodo de realizagdo de um sistema social ganha conotagées particulares (...) Classe e género sito categorias que.se entrelacan, mas género'se realiza em uma sociedade de classe, sendo portanto este 0 conceito abrangente - posigdio que defendo e que ndo é aceita por todas as feministas". (Mary Garcia Castro, In Relagdes Sociais de Classe ¢ de Sexo).” Quando falo opressiio de género, refico-me & opressio feminina enquanto construgto sécio-cultural, politica e ideolégica, que se da no interior da sociedade de classes. Portanto percebo a opressio de género como algo que, embora seja comum a todas as mulheres, é uma experiéncia diferenciada, de acordo com a alocagao de cada mulher nas classes sociais. A qual se agrega ainda a vivéncia da opressio racial/étnica. Desta maneira, rejeito a idealizagho conporativista de uma "irmandade das mulheres", Isso nunca existiv. Aliés, Bebel (marxista, autor de A Mulher e 0 Socialismo, 1890) j4 dizia que " era impossivel a solidariedade total entre as mulheres, por causa da divisdo da soviedade em classes sociais", e agora nés acrescentamos, de acordo com a elaborago complementar de Suely Cameiro’ :" por causa também do racismo". d- 0 coneeito e a teoria do patriarcado Antes de se falar em género nos meios feministas 0 conceito e a teoria do patriareado era uma grande proposta teérica e pretendia dar conta de explicar a opiessio feminina e 20 mesmo tempo indicat 0 caminho da luta. Hoje jé perdeu parte substancial do seu gas. Mas ainda é uma visio, embora sem muita forga. P triareado foi utlizado como um conceito e uma teoria, polémicos, para se } referir ao poder do homem, do macho da espécie, na sociedade e na familia. Era sim uma alusfo aos patriareas que detinham o poder da vida ¢ da morte sobre tudo e todos. Tudo podiam e em tudo mandavam. Mencionava-se assim 0 poder patriareal, Dizia-se também que o patriarcado (enquanto esse tipo de_poder.do macha).teria existido em todas as sociedades ¢ que independeria dos sistemas sociais. Esta é uma generalizagao que agora ndo se matém segundo intimeros estudos antropolégicos, mesmo daqueles que dizem que o matriarcado é um engano, nifo existiu historicamente, Falava-se muito em capitalismo patriarcal, que as_sociedades de classes eram inerentemente patriarcais. Como no caso de género, aqui também existiam, diferéntés Vers6es para esta terminologia, e muitas controvérsias. Outras formulagdes enfatizavam a simbiose capitalismo-patriarcado-racismo, como sistema.de dominagaio/exploragio com graus de hierarquia. Descontados os excessos € os equivocos, consider que a uso do termo patriarcado é bom & simbélico, Diz bem sobre o poder do macho, dos privilégios masculinos. E uma sinibolizagao adequada, sem outras pretenses tedricas. Quando falo em patriarcado, em sociedade patriarcal, fago mengao.ao poder masculino-em-Coilas-as-esferas-da. sociedad. ¢_posiciono-ime contra qualquer sociedade na qual os homens tenlnam privilégios como os patriarcas. S - O conceito de raga e de.etnia e a Teoria da luta anti- racista no Brasil Nio hé entre os cientistas sociais e.nem-entre-especialistas nas ciéncias biolégicas um conceito consensual sobre raga, sabre o seu significado biolégico e nem sobre einia. Nés.do Movimento Negro no-Brasil também nio temos nos detido neste debate. Parece que ele nfo se apresentow ainda como importante para nés. Pelo menos nos tiltimos 20/30 anos, no fizemos esta discussao. B ela precisa ser feita, por varias razSes. A principal delas é dizer qual a nossa posi¢ao frente & utilizagio racista dos novos conhecimentos da Genética Molecular e das torizagdes da Sociobiologia, que busca os genes da maldade, da bondade, ete. & por tabela, a associagiio de todo e qualquer “gene de Caim" as ragas/etnias discriminadas, ‘Temos concentrado nossas energias em denunciar 0 racismo; em aumentar 0 nivel de conscigneia das pessoas sobre as maneiras como o racismo opera; em querer impor como a tinica verdade as opinides do nosso grupo ou partido. Um pouco como se cada agrupamento fosse o “eleito" de todos os deuses ¢ orixds. E nos Ultimos tempos hé forte tendéneia em querer impor ao conjunto do movimento que o inimigo principal acende pelo nome de “esquerda branca’ Junto a tudo isso se faz muilo presente também a intolerfncia ¢ o destespeito As opinides das "outras” pessoas. Por outro lado é preciso ter em conta que a “intelectualidade negra brasileira” é muito pequena. E ideologicamente dividida, em um espectro que vai da extrema direita & extrema esquerda. Além do que esta intelectualidade nfo pode ser considerada no seu conjunto como "intelectual orginica" do Movimento Negro Brasileiro. Pengo que a insuficiéncia e as vezes a falta de explicitar mais estas preacupagées tedricas, alé mesmo mais académicas (como dizem.os muito), & uma género classe ¢ raga subestimagio que nos traz, prejutzos. O principal e mais grave deles € que nfo temos conseguido elaborar tma produgio do MINB, ¢ mesmo da luta anti-racista geral, e um corpo de teorizagHo que informe melhor nossa luta, O feminismo conseguiu isso. Cada grupo, organizagao, entidade, na verdade "acha" alguma coisa e tem a sua perspectiva de futuro. As vezes estes objetivos assumem rumos 140 variados que a gente fica em diivida onde se encontra mesmo a luta anti-racista em muitas destas propostas, O embate ideol6gico € muito acitrado, e € aqui que a gente percebe bem como nfo existe a "irmandade" dos negros, muito embora a diseriminagio racial seja uma constante na vida de todos. Dadas as condigdes reais do Brasil, a situaco politica nacional e internacional, 0 saque imperialista crescente a que estamos submetidos enquanto populagio de um pais de capitalismo dependente, com classes dominantes nacionais entreguistas ¢ ‘hd mais de cem anos no poder ¢ sem nunca terem conseguido de fato responder as necessidades mais prementes do conjunto do povo (como educagdo, emprego, safide, habitagtio, alimentago etc.), as classes populares - e conseqiientemente quase todas as pessoas negras - ficam cada vez mais miseraveis e marginalizadas do mercado de trabalho e de consumo. Como continuar a “achar" que 0 combate 20 racismo se faré, com chances de resolutividade, fora do leito da uta popular e democriitica ¢ sem alianga com a esquerda? Estado brasileiro, suas classes dominantes, no é s6 explorador como ideologicamente é também escravocrata ¢ machista. O.racismo € o machismo esto. impregnados nas préticas politicas cotidianas de todo aparato. institucional govenamental ¢ langa seus tentéciilos em toda a vida da sociedade. E nfo poderia ser diferente, uma vez que as classes dominantes atuais so em grande parte as mesmas do perfodo da escravidao, como sempre chama a atengao 0 socidlogo e prof. Clévis Moura. As cepercussBes, destas ideologias atitudes, na vida das pessoas sfio cruéis. Basta refletirmos sobre o recorte racial do acesso & terra, do analfabetismo ¢ da baixa eseolaridade, E neles pensemos na varivel sexo. Para exemplificar "ao vivo", basta que pensemos que apés um século do fim oficial da escravidao niegra, a maioria de nés esté exclufda do acesso A cidadania minima. Isso se expressa de forma bem evidente quando analisamos que nos centros urbanos a maioria de nés sequer atingiu a condigo operiria, Os —mecanismos racistas em nossa sociedade esto institucionalizadas ¢ isso é de tal porte e est tio fundido as praticas sociais, notadamente nas relagGes sociais de produgaio, que aparenta ser "natural eno ser racista, — ~~ Como entender fora desta realidade’o cerne anti-racista de propostas tais como Partido Negro; stevibikismo (entreajuda - entre negros exclusivamente. O que em sié uma distoredo flagrante da contribuigao incomensuravel de Steve Biko, tanto teériea quanto politica); renascimenta da quilombagem; indenizacao pelo periodo

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