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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

FACULDADE DE HISTÓRIA
DISCIPLINA NÚCLEO LIVRE –
SEXUALIDADE, RELIGIÃO E PODER NO MUNDO ANTIGO

ARTIGO

O MITO DE PERSEU E O RITO INICIÁTICO DO


HERÓI

Por

CAIUS CÉSAR DE CASTRO BRANDÃO

Goiânia, GO, Brasil


Novembro de 2009
Universidade Federal de Goiás
Faculdade de História
Disciplina Núcleo Livre –
Sexualidade, Religião e Poder no Mundo Antigo
Responsável: Profª Drª Ana Teresa Marques Gonçalves
Segundo Módulo – O Cotidiano das Religiosidades no Mundo Antigo
Responsável: Prof. Ivan Vieira Neto

Artigo

O Mito de Perseu e o Rito Iniciático do Herói

Por: Caius César de Castro Brandão


Graduando do Curso de Filosofia
Universidade Federal de Goiás

Resumo
O presente artigo tem como tema o mito do herói em sua jornada iniciática,
tomando como exemplo a estória de Perseu, um dos mais emblemáticos heróis da
mitologia grega. O propósito principal deste trabalho é a realização de uma breve
exposição sobre as teorias do Prof. Junito de Souza Brandão – estudioso de culturas
antigas, particularmente da Greco-Romana – acerca da relevância dos mitos para a
constituição da consciência individual e coletiva do homem. Neste percurso, também
serão feitas algumas referências a um dos mais renomados mitólogos de todos os
tempos, Joseph Campbell, com o intuito de demonstrar como o conceito de “arquétipo”,
da Psicologia Analítica de Carl Jung, pode ser aplicado à compreensão dos heróis
mitológicos.
Palavras-chave: mitologia; rito iniciático; herói; Perseu.

Abstract
The central theme of this essay is the hero’s initiation rite in mythology, taking
as an example the story of Perseus – one of the Greek mythology’s most symbolic
heroes. The main goal of this work is a brief presentation of Professor Junito de Souza
Brandão’s (a researcher of antique mythologies, particularly from Greek and Roman
cultures) theory about the importance of myths for the construction of mankind’s
individual and collective consciousness. Along this path, I also make some references to
one of the most renowned mythologists of all times, Joseph Campbell, as a means of
showing how Carl Jung’ analytical psychology concept of “archetype” can be applied to
the understanding of mythological heroes.
Keywords: mythology; initiation rite; hero; Perseus.
Introdução

Na primeira parte deste artigo, contaremos a estória de Perseu abordando as


passagens mais relevantes sobre a sua ascendência, nascimento, exílio e aventuras em
terras estrangeiras, retorno à cidade de origem, até a conquista do seu reinado entre os
homens. Em seguida, passaremos à análise interpretativa do mito, com base nas teorias
de Junito Brandão e Joseph Campbell. Por último, concluiremos o artigo com uma
sintética sistematização dos momentos cruciais da saga de Perseu, os quais refletem a
jornada iniciática deste herói da mitologia grega.

1 – O Mito de Perseu

A nobre linhagem de Perseu teve sua origem no Egito com a união entre Zeus e
Io. Várias gerações se passaram até o nascimento dos gêmeos Acrísio (pai de Dânae e
avô de Perseu) e Preto. Ambos eram filhos de Abas (descendente de Zeus e Io) e
Aglaia. Após longos conflitos entre os irmãos Acrísio e Preto, eles finalmente chegaram
a um acordo acerca de seus domínios na região da Argólia. Preto ficaria com o reino de
Tirinto, e Acrísio reinaria em Argos. Assim, eles estabeleceram a divisão da Argólia em
dois reinos distintos.
Fonte: (BRANDÃO: 1995, p. 75)
Ao consultar o Oráculo sobre seu desejo de vir a ter um herdeiro do sexo
masculino, o rei Acrísio ouviu a predição divina de que sua filha, Dânae, daria à luz um
menino que, quando adulto, o mataria. Então, tomado pelo medo de ser fatalmente
vitimado por seu futuro neto, o rei manda construir uma câmera de bronze no subsolo
do palácio real, onde trancafiou sua própria filha, ainda virgem, na companhia de uma
ama. Foi então que, tomado de compaixão pela bela Dânae, Zeus fez penetrar uma
chuva de ouro por uma fenda da câmera e engravidou a princesa virgem, que veio a se
tornar a progenitora de Perseu.
Incrédulo de que Zeus seria o responsável pela gravidez de sua filha, Acrísio
mandou matar a dama de companhia, acreditando que ela teria facilitado algum feito
malicioso do seu irmão rival, Preto. Logo após o nascimento de Perseu, o rei fez com
que ambos, a filha e o neto, fossem trancados num cofre de madeira e arremessados ao
mar. Arrastado pelas ondas, o container real foi parar em Sérifo, uma ilha sob o domínio
do tirano Polidectes. Milagrosamente, Dânae e Perseu sobreviveram às intempéries
marítimas, e foram resgatados pelo irmão de Polidectes, Díctis, quem se responsabilizou
pelo sustento dos dois. Sob os carinhos da mãe e a proteção de Dictis, Perseu se tornou
um belo jovem, forte e corajoso.
Eventualmente, o déspota Polidectes apaixonou-se por Dânae, mas Perseu
mantinha-se como incansável protetor de sua própria mãe, impedindo qualquer avanço
do tirano. Com o intuito de eliminar este obstáculo, Polidectes fez a Perseu um desafio
que, na verdade, era uma ameaça. Para evitar que o rei violentasse sua mãe, Perseu teria
que decapitar a Górgona. Em outras palavras, Perseu teria que oferecer ao rei a cabeça
da terrível Medusa: o único prêmio que poderia salvar a integridade física e moral de
sua mãe. Assim, o destemido jovem parte ao encontro do seu destino de herói.
Invariavelmente, os heróis recebem o auxílio de divindades na execução de seus
feitos extraordinários. No caso de Perseu, Hermes e Atená foram quem se encarregaram
de suprir os meios necessários para que ele obtivesse sucesso em sua empreitada
heróica. Se atendo às orientações celestes, Perseu partiu em busca das fórcidas, também
chamadas de Gréias, as únicas criaturas que conheciam e guardavam o caminho que
levava à Medusa. Além disso, somente esses três monstros, que compartilhavam um
único olho, sabiam como chegar a certas ninfas que possuíam determinados objetos
necessários para vencer a Medusa. Chegando ao esconderijo das “velhas”, Perseu
aproximou-se sorrateiramente de uma das fórcidas e lhe tirou o olho que segurava em
suas mãos. Prometendo devolvê-lo se lhe contassem como localizar as ninfas, Perseu
logo conseguiu a informação que necessitava. Ao se encontrar com as tais ninfas, elas
prontamente lhe ofereceram o que procurava: as sandálias com asas, a bolsa (quíbisis)
para guardar a cabeça da Medusa e o capacete de Hades, que o tornaria invisível. Além
destes itens mágicos, Hemes lhe deu uma espada de aço e Atená lhe emprestou um
escudo de bronze, polido o suficiente para funcionar como espelho. Agora sim, Perseu
estava com toda a parafernália necessária para enfrentar a Medusa.
Até o momento, nenhum mortal havia sobrevivido ao encontro com a Medusa,
que instantaneamente petrificava quem lhe fixasse o olhar. Perseu, todavia, usando a
espada e o escudo cedidos pelas divindades, conseguiu decapitar o monstro e guardar a
cabeça na quíbisis.
Vitorioso, Perseu partir rumo ao oriente e passou pela Etiópia, um país em vistas
de ser destruído pela ira dos deuses. Isto acontecia porque a rainha, Cassiopéia,
desafiando a vaidade da deusa Hera e de todas as nereidas, se pretendia mais bela que
todas elas. Indignadas, elas pediram a Posídon, deus do mar, que as vingassem. A
punição, todavia, seria contra todo o povo da Etiópia, subjugado por um monstro
marinho comandado por Posídon. Em busca da salvação de seu povo, o rei Cefeu
consultou o Oráculo sobre como poderia conquistar a piedade dos deuses. Como
resposta, ouviu que sua filha Andrômeda deveria ser sacrificada como oferenda ao
monstro marinho. Quando ainda se encontrava amarrada a um rochedo beira-mar,
Perseu a avistou e logo se encheu de compaixão pela jovem princesa. Imediatamente,
propôs um acordo ao rei, que prontamente concordou: Perseu tomaria a mão de
Andrômeda se conseguisse salvá-la. Usando de suas armas mágicas, Perseu conseguiu
destruir o monstro, mas, para sua surpresa, Cefeu não estava disposto a cumprir com sua
palavra, visto que já havia prometido a mão de Andrômeda para um tio seu, Fineu, que
reuniu um número de comparsas para assassinar Perseu e garantir, desta forma, o
casamento com a princesa. Perseu lutou e venceu mais de duzentos homens, mas já
cansado da peleja, petrificou, com a cabeça da Medusa, o restante de seus oponentes,
inclusive o rei e a rainha.
Perseu, agora casado com Andrômeda, voltou com a esposa para a ilha de Sérifo
para salvar sua mãe. Polidectes, no entanto, não havia cumprido com o trato que fizera
com Perseu e tentou violentar Dânae. Díctis, também perseguido pelo rei tirano, a levou
para os altares dos deuses, onde estariam protegidos contra a fúria de seu irmão. Mas a
vingança de Perseu foi impiedosa. Ainda de posse da cabeça da Medusa, o jovem herói
fez com que Polidectes e toda a corte se transformassem em pedras. Em seguida, em
retribuição à proteção que ele e sua mãe receberam de Díctis, lhe ofereceu o trono que
pertencia ao irmão.
Acompanhado pela mãe e esposa, Perseu retorna a Argos com o objetivo de
finalmente conhecer o seu avô Acrísio. Ciente da volta do neto, Acrísio, que ainda temia
o presságio do Oráculo, fugiu para Larissa, onde, por uma fatalidade do destino, não
escapou da morte pelas mãos de Perseu. Sem saber que o neto participava dos agônes,
Acrísio apreciava os jogos fúnebres organizados pelo rei de Larissa. Foi quando Perseu,
inadvertidamente, lançou o disco que vitimou fatalmente o seu avô. Ao invés de tomar o
trono de Argos, como era de direito, Perseu preferiu trocar o trono com seu primo
Megapentes. Assim, Perseu passou a reinar Tirinto.

2 – Análise Interpretativa do Mito

Junito Brandão caracteriza os heróis como aqueles que nasceram “para servir” 1.
Assim, os heróis mitológicos da Grécia antiga receberam daqueles que fizeram as
lendas uma origem que os diferenciam dos demais seres humanos. Geralmente, eles são
frutos da união de uma divindade com uma pessoa de origem nobre. Como vimos
acima, Perseu é filho de Zeus (o soberano de todos os deuses gregos) e Dânae, princesa
de Argos. Ainda recém nascido, Perseu sobreviveu à atrocidade do avô, que fez com
1
BRANDÃO, Junito. Mitologia grega. Petrópolis: Ed. Vozes, 1995, Vol. III, p. 15.
que ele e sua mãe fossem lançados ao mar numa arca de madeira. Para Campbell, “(...)
sempre houve uma tendência no sentido de dotar o herói de poderes extraordinários
2
desde o momento em que nasceu ou mesmo desde o momento em que foi concebido.”
Ainda sobre a condição sobre-humana do herói, Brandão afirma que a criança já nasce
com as virtudes próprias de sua natureza, a saber: a timé, ou seja, a “honorabilidade
pessoal” e a areté, que significa a superioridade sobre os demais seres humanos.
Citando Otto Rank, um psicanalista austríaco que floresceu no início do século
XX, Brandão interpreta a arca jogada ao mar com Perseu como sendo o ventre materno,
e que a exposição da criança na água representaria o nascimento ou mesmo um
“renascimento catártico”. Seguindo essa abordagem psicanalítica, a chuva de ouro com
a qual Zeus engravidou a virgem Dânae, representaria o “esperma do Céu” para
fecundar a Terra. Neste sentido, Perseu é considerado o filho da terra, concebido pelo
espírito divino.
Uma passagem de alta relevância simbólica para a compreensão do rito
iniciático do herói é a exposição de recém-nascidos. Em geral, o exposto é tomado
como bode expiatório de uma pólis que cometeu alguma impiedade contra os deuses.
Quando o exposto sobrevive à ira divina, dá-se a conversão do mesmo: de mal, torna-se
o bem da comunidade. No caso de Perseu, todavia, a exposição acontece em vista do
presságio anunciado pelo Oráculo de que a criança representaria uma ameaça fatal ao
rei-avô. Ademais, a salvação de Perseu anunciava, simbolicamente, que ele estaria
predestinado a grandes feitos heróicos. Nota-se que a exposição, em todo caso, remete
aos ritos iniciáticos de aceitação dos jovens na vida adulta. Tais ritos de passagem,
também chamados de efebia (morrer e renascer com outro nome), foi uma prática
largamente difundida na Grécia antiga.
É no exílio que Perseu dá continuidade às suas gestas iniciáticas, através das
quais ele alcança as glórias predestinadas ao jovem herói, tais como o casamento com
uma nobre donzela e a conquista de seu próprio reino. As vitórias improváveis do
guerreiro contra monstros e tiranos são marcas indeléveis do herói mitológico. Assim,
podemos compreender o significado das batalhas que Perseu travou contra a Medusa, o
monstro marinho de Posídon e o tirano de Sérifo. De acordo com Campbell:

“Da obscuridade, emerge o herói, mas o inimigo é poderoso e


conspícuo na sede do poder; é inimigo, dragão, tirano, porque
2
CAMPBELL, Joseph. O herói de mil faces. São Paulo: Ed. Pensamento, 1997, p. 309.
faz reverter em seu próprio benefício a autoridade que sua
posição lhe confere. (...) O período em que o herói, numa
forma humana, habita o mundo só se inicia depois que as
vilas e cidades se expandem pela terra. Muitos monstros,
remanescentes das épocas primevas, ainda habitam as regiões
que estão além e, por meio da malícia ou do desespero,
lançam-se contra a comunidade humana. Cumpre tirá-los do
caminho. Ademais, os tiranos da espécie humana, que
usurpam para si mesmos os bens dos seus vizinhos, começam
a surgir, provocando a miséria disseminada. É preciso
suprimi-los. As façanhas elementares do herói consistem em
limpar o terreno.” (CAMPBELL: 1997, p. 324 e 325)

Na mitologia grega, a vitória sobre monstros é um feito que torna o herói


digno da realeza. Neste sentido, as batalhas vitoriosas também remetem a antigos ritos
iniciáticos, aos quais todos adolescentes deveriam se submeter para conquistar o poder
adulto, tais como o direito à participação política na pólis (no caso de regimes
democráticos) e ao casamento. De acordo com Junito Brandão:

Vencer o monstro é a condição para a conquista da princesa e


com ela celebrar um hieròs gámos, porquanto, sendo a vitória
sobre o monstro a comprovação do fecho iniciático, o
casamento, o hieròs gámos simboliza a "maturidade" do
herói e da heroína, vale dizer, da que passou também pela
"prova", no caso a da exposição e cumpriu seu papel de
pharmakós, de "vítima emissária". (BRANDÃO: 1995, p. 84)

Joseph Campbell nos lembra que o feito heróico como requisito para o
casamento se encontra em todos os momentos da histórica, nos quatro cantos do mundo.
Após vencer bravamente a Medusa e o monstro marinho, Perseu conquista a mão da
princesa da Etiópia, Andrômeda, e, em seguida, o reino de Tirinto. Vemos, desta forma,
como o hieròs gamos habilita o herói ao reinado. Por outro lado, na visão psicanalítica,
a batalha vitoriosa do herói sobre o monstro marinho, o resgate da donzela e o
casamento com a mesma, podem ser interpretados como “a liberação da anima do
aspecto “devorador” da imagem materna” (BRANDÃO: 1995, p. 86).
Outra passagem da saga de Perseu que merece destaque aqui, em função de sua
carga simbólica, é o seu retorno do herói à sua pólis de origem. Após longo período no
exílio, o que Brandão chama de “formação iniciática” (ibid., p. 23) o herói deve
completar o ciclo da mandala. Tendo acumulado “energias suficientes para ajudar e
outorgar dádivas inesquecíveis a seus irmãos” (ibid., p. 23), Perseu retorna a Argos para
“comunicar a todos o conhecimento do caminho” (ibid., p. 25). Desta forma, todos
poderão usufruir do aprendizado conquistado pelo herói em terras estrangeiras.
Em suma, os heróis da mitologia grega se notabilizam por certas formas de
criatividade, representados no imaginário coletivo e individual como a “suma
probidade”, o sobre-humano que indica o caminho para o “valor superlativo da vida
helênica” (ibid., p. 52). Para Campbell, todavia, o herói não representa um exemplo a
ser copiado pelos simples mortais, mas um símbolo construído para a contemplação.
Portanto, o aprendizado não se resume em “Faça isso e seja bom”, mas antes “Conheça
isso e seja Deus” (CAMPBELL: 1997, p. 311).

3 – Conclusão

Com base na teoria de Campbell, podemos compreender como a tríade


separação-iniciação-retorno dos ritos iniciáticos sintetiza o caminho comum da gesta
mitológica do herói. Nas palavras de Campbell, “O percurso padrão da aventura
mitológica do herói é uma magnificação da fórmula representada nos rituais de
passagem: separação-iniciação-retorno — que podem ser considerados a unidade
nuclear do monomito” (CAMPBELL: 1997, p. 17).
É notória a influência do psiquiatra suíço Carl Jung (1875-1961) sobre a teoria
do monomito de Campbell. O conceito de monomito subjaz ao conceito junguiano de
arquétipo, que significa disposições psíquicas inatas, universais e pré-conscientes. Tais
disposições formam o substrato dos quais emergem os temas mais básicos da vida do
ser humano. Justamente por serem inatas e universais, suas influências podem ser
detectadas na forma de mitos, símbolos e atitudes psicológicas dos homens. Logo, os
arquétipos são componentes do inconsciente coletivo e servem para organizar, nortear e
informar o pensamento e o comportamento dos seres humanos. Com esta compreensão
e a partir do estudo das culturas e da mitologia dos povos do ocidente e do oriente,
Campbell propõe a unidade nuclear do monomito.
Referências Bibliográficas

BRANDÃO, Junito. Mitologia grega. Petrópolis: Ed. Vozes, 1995.

CAMPBELL, Josehp. O herói de mil faces. São Paulo: Ed. Pensamento, 1997.

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