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Recensão Crítica
“As cruzadas vistas pelos árabes”, MAALOUF, A.
O livro sobre o qual nos vamos debruçar é “As cruzadas vistas pelos
árabes”, de Amin Maalouf, publicado pela Aliança Editorial, sendo esta
segunda reimpressão do ano de 2005. A tradução ficou a cargo de Teresa
Gallego e Maria Isabel Reverte.
Antes de se iniciar qualquer trabalho de recensão crítica sobre um
determinado livro, é necessário perceber-se quem o escreve, para determinar da
sua autoridade sobre o tema.
Amin Maalouf é por formação um jornalista libanês, tendo viajado pelo
mundo “oriental” para cobrir muitas vezes histórias de guerra. Daí que esteja
tão bem informado sobre a sociedade oriental.
No entanto, tem também estudos em sociologia e economia, pelo que se
percebe que é um homem com uma formação bastante ampla e variada. Os seus
romances têm em comum o facto de a sua escrita ser romanceada, quase a meio
caminho entre a crónica e o romance histórico, introduzindo elementos que à
partida não seriam susceptíveis de se encontrar num livro sobre matéria
histórica. Isto valeu-lhe em 1933 o “Prix de Goncourt” pelo seu romance “The
Rock of Tanios”. Outras obras de referência deste autor são, por exemplo, “The
first century after Beatrice”, ou “Balthasar's Odyssey”.
Mas em relação ao livro em questão, “As cruzadas vistas pelos árabes”, o
que se pode dizer?
Em primeiro lugar, há a ressaltar o facto de tratar um tema, que
tradicionalmente é visto pela óptica ocidental, sob a óptica árabe. Este facto, só
por si, faz com que sejam “descobertos” pormenores que nós, ocidentais, por
vezes rejeitamos ou colocamos em segundo plano. E é um aspecto fundamental,
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“As Cruzadas vistas pelos Árabes”, Recensão Crítica por Ana Rita Faleiro
pois todas as histórias têm duas faces, e até hoje só se tem estudado uma delas.
De facto, este livro vem deitar abaixo o mito muitas vezes concebido, segundo o
qual os cruzados cristãos combatiam apenas em nome da sua fé. Este pequeno
livro, de fácil leitura, vem mostrar o lado político, económico, mas também
estratégico de tais guerras “religiosas” cristãs. Parece-me ser quase uma
tentativa de “jihad” cristã – se bem que no fundo, por vezes o elemento
religioso esteja tão escondido que quase podemos esquecer que são de facto, e
na teoria, guerras religiosas. Por isso mesmo, do lado árabe, as nossas
“cruzadas” não são mais que autênticas e puras invasões francas. São na
verdade nada mais que uma agressão sem justificação a uma sociedade que
ainda por cima começava nessa altura a sua época de decadência. É imperioso
que nós, Ocidentais, conheçamos qual o nosso verdadeiro passado bélico no
que respeita às Cruzadas.
É impossível, ao se ler este livro, não pensar numa falta de carácter por
parte do Ocidente, ao aproveitar um momento de fraqueza por parte do mundo
muçulmano. Será que isto pode ser “desculpado” com o argumento de que a
Europa entrava nesta altura, também ela, num período de decadência, e em que
necessitava de novas terras e novas fortunas? Isto é normalmente um dos
argumentos usados para defender a aparição das cruzadas neste início da idade
média em vez de aparecerem noutra altura. Por outro lado, podem ter sido uma
reacção ao domínio árabe no Ocidente (al-Andaluz); mas se fosse este o caso,
porque razão esta reacção tardaria tanto em aparecer? Mais uma vez, voltamos
ao ponto de partida, têm que existir motivos políticos e não apenas religiosos
detrás das cruzadas, mas o que é facto é que, coincidência ou não, se
aproveitaram de um mau período político, social e memo económico do mundo
árabe
Isto é de facto verdade, tanto mais se nos lembrarmos que por esta altura
(os primeiros cruzados chegam a Jerusalém em 1096) o mundo muçulmano se
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“As Cruzadas vistas pelos Árabes”, Recensão Crítica por Ana Rita Faleiro
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Apesar de eu dizer “ainda”, a verdade é que praticamente desde a morte do Profeta os vários
grupos que querem aceder ao poder se degladiam entre si. Basta relembrar a matança omíada, levada a
cabo pelos abássidas, e cujo único sobrevivente foi o que se converteu em Abd al-Rahman I, fundador do
emirato andaluz de Córdoba.
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Pois não nos podemos esquecer que eram executados logo no momento. No fundo, creio poder
afirmar-se que se está a ver o gérmen do terrorismo suicida, que nos últimos anos tem sido apontado
como característica do mundo muçulmano.
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“As Cruzadas vistas pelos Árabes”, Recensão Crítica por Ana Rita Faleiro
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Pg. 153 do livro comentado.
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“As Cruzadas vistas pelos Árabes”, Recensão Crítica por Ana Rita Faleiro
estranhar todas as alianças puramente políticas que surgem entre estes diversos
grupos.
No entanto, temos que referir algo importante. Maalouf não se limita a
fazer uma descrição das cruzadas e das suas consequências ou antecedentes. Ou
seja, apesar da sua obra se intitular “As Cruzadas vistas pelos árabes”, o que o
autor faz é na verdade uma análise da sociedade islâmica – que sofreu com este
movimento iniciado pelos ocidentais. É uma análise política, social, religiosa...
no fundo, tal como já foi anteriormente dito, uma análise a todos os níveis.
Uma das muitas partes em que esta característica melhor se vê é na
“epopeia” de Nur-al-Din (considerado como um rei e um homem santo) e
Saladino (o seu sucessor).
Nur-al-Din foi de facto um homem importante não apenas para a
questão religiosa mas também para a questão social (ainda que esta esteja
indelevelmente ligada, na sociedade islâmica, à religião). Para comprovar isto,
basta-nos pensar por exemplo nos meios que usa para defender a sua fé (Islão
sunita): tratados, poemas, cartas, livros e ainda sessões públicas de leitura disto
em mesquitas e escolas. A meu ver, é bastante importante que o autor tenha
referido este facto, pois mostra a preocupação pela instrução da sua população.
No fundo, apesar de o fazer com um carácter propagandístico, isto não pode
deixar de nos mostrar a preocupação pela instrução e educação das pessoas,
para que compreendessem melhor o que se passava e assim melhor se
pudessem defender.
Também sobre Saladino o autor não se limita a fazer uma cronologia das
suas acções; na verdade, introduz aspectos biográficos, de índole quase íntima
de Saladino, a quem apresenta como um homem sem dúvida bafejado pela
Sorte e que levou a que por isso fosse considerado e apontado pelos
contemporâneos como “arrogante”.
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“As Cruzadas vistas pelos Árabes”, Recensão Crítica por Ana Rita Faleiro
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“As Cruzadas vistas pelos Árabes”, Recensão Crítica por Ana Rita Faleiro
Bibliografia
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“As Cruzadas vistas pelos Árabes”, Recensão Crítica por Ana Rita Faleiro
http://www.lapaginadefinitiva.com/historia/biblioteca/maalouf
.htm
http://cuantoyporquetanto.com/htm/libros/libros_lascruzadasv
istasporlosarabes.htm
http://www.criticanarede.com/lds_cruzadas.html
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