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V ENEC - Encontro Nacional de Estudos do Consumo | Encontro Luso-Brasileiro de Estudos do Consumo Tendéncias e ideologias do consumo no mundo contemporaneo 15, 16 e 17 de setembro de 2010 - Rio de Janeiro/RJ “Gato” de energia elétrica: do publico ao privado, do “jeitinho” ao crime Hilaine Yaccoub PPGA/UFF' Resumo © trabalho visa demonstrar dados de uma pesquisa realizada sobre um fendmeno s6cio-técnico cam dimensdes culturals abrangentes em nossa saciedade: os chamados "gatos" — ligag6es irregulares — para obtenc&o de energia elétrica. No estudo tratou-se de observa-lo a partir de sua relacao direta com o aumento do consumo de bens duraveis € a mudanca de estilo de vida de um determinado grupo social. Na condic&o de funcionaria de uma empresa concessianaria de energia elétrica realizei um trabalho de campo em um bairro popular no municipio de S40 Gongalo no Rio de Janeiro, onde residi por cita meses. Como maradora, pude analisar os habits de um grupo de moradores considerada “elite local", que, aquela época, fazia parte de um contingente da populacdo brasileira que estava adquirindo visibilidade publica, sendo denominado pela midia como "novos consumidores". A partir da etnogratia realizada péde-se avaliar como a energia elétrica e suas ligacdes irregulares — os “gatos” tiveram suas representacdes transtormadas apés a privatizacao do setor elétrico brasileiro Palavras-chave: “gato” de energia elétrica, energia elétrica, consumo Introdugao O “gato” é uma giria (categoria nativa) utilizada para fazer referéncia a qualquer tipo de ligago clandestina nos mais diferentes setores, desde energia elétrica, TV a cabo, agua e internet. No futebol, assume um significado diverso, mas também de carater ilicito: relaciona-se 4 falsidade ideolégica. € um artificio utilzado para driblar a diviséo dos jogadores em faixas etarias, que consiste em falsificar a documentagao de um jogador para que ele seja apresentado como mais jovem do que de fato é. Em termos de desenvolvimento muscular, na adolescéncia, as variagdes so muito bruscas nesta fase, portanto um jogador de 17 ou 18 anos em meio a jogadores de 15 anos, ou um de 19 ou 20 anos em meio aos de 17 anos aufere grandes vantagens dessa assimetria? * Mestre em Antropologia — UFF. Doutoranda do Programa de Pés-Graduagio em Antropologia — UFF, ‘pesquisadore essociade ao LeMetzo Leboratério de Etografie Urbane do IFCS/UFRJ. hilaine@emeil com * Segundo o verbete gato da Wikipédia: “O caso de gato talvez mais conhecido no Brasil é o de Sando Hiroshi. Em 1999, descobriu-se que o atacante havia mentido @ sua idade e tina documentos falsos. Outros casos so o de Rockigo Gral, que omitiu dois anos de sua real idade, ¢ de Anailson. Mais atuelmente, dois jogadores do Figueirense foram "desmasceredos". Carlos Alberto, que havia reduzido sua idade em cinco anos, ¢ Michel Schmoller, que dizie 1 No caso da energia elétrica, as agdes para apropriacdo ilicita da energia elétrica so desenvolvidas de duas maneiras basicas: por meio da ligacdo direta na rede elétrica no poste € da manipulacéo do medidor (também conhecida como “relégio"), fazendo com que esse registre consumo menor do que o real. O usuario que se vale dessa pratica obtém uma vantagem indevida a partir da apropriacdo da energia sem 0 pagamento correspondente N&o ha relaco causal direta e exclusiva entre o “gato e pobreza. A pratica é encontrada em qualquer setor, residencial ou comercial, sejam industrias ou botecos, um carrinho de pipoca ou um cinema de shopping center em area nabre. Segundo reportagem de © Globo on fine publicada em 18 de fevereiro de 2008, 0 entao diretor de Relagdes Institucionais da Ampla afirma que no caso da empresa, "40% dos furtos de energia so praticados pelos pequenos e médias comerciantes 15%, por consumidores de alta renda.” Ha “gatos” em todas os setores, porém ha uma diferenciaco do tipo de gato que se faz — uns mais adotados por ricos, outros mais adotados por pobres. Este ultima é 0 que a empresa tem combatido com mais afinco pois s40 mais faceis de serem percebido e “pegos” Segundo uma reportagem publicada no boletim da Fundacéo de Amparo a Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) em outubro de 2009", dois engenheiros especializados no assunto declararam que o "gato" nao se limita as familias pobres. Apontam que a pratica ilicita também é praticada “por familias de classe média e alta, que contam, em suas residéncias, com diversas aparelhos elétricos de grande consumo de energia, como ar-condicionado € freezer." E mais, afirmam que mesmo cam a fiscalizacao de técnicos qualificados e peritos, tais ligagées so dificilmente detectadas, uma vez que os “gateiros” estéo cada vez mais preparados para as acdes. Telles € Hirata (2007) ao estudar as fronteiras entre 0 ilicito, 0 informal € 0 ilegal na cidade, se utilizam de um personagem, a Dona Doralice, uma senhora de 40 anos que tem uma vida familiar complicada e luta pela sua sobrevivéncia. Vende CDs piratas. receitas de remédios no mercado negro, e quando aparece uma “oportunidade’ problema algum em colocar pacotes de cocaina em sua bolsa € cruzar a cidade para entregar em outro panto da cidade Doralice nao encontra nenhuma raz4o moral para recusar 0 servico que Ine € propasto... Camo ela diz “nao estou tazendo nada de errado, no roubo, nao mato” — apenas esta se virando como pode como tantas outras circunstncias em sua vida. (TELLES; HIRATA, 2007, p.4) ter 18 nos quando tinha 20; por este motivo, Michel foi cortado da Selecéo Brasileira sub-17 nos Jogos Pan. americanos de 2007.” Disponivel http /pt wikivedia orghvililGato (Futebol) Acesso 5 de janeizo de 2010 ? Reportagem “Medidor antifraude evita roubo de energia elétrice” de 14 de outubro de . 2009Disponivel em http /Arww faperj brfooletim interne phimI?0bj id=5828. Acesso 12 de dezembro de 2009 2 A personagem descrita pelos autores nao vé o que faz coma crime, isso nao esta claro para ela. Apenas “se vira’ coma pode para sustentar a familia € ganhar “um a mais". O limite entre o informal, o ilegal € o ilfcito, segundo os autores, se fundem ¢ confundem, assim como 0 “gato” de energia elétrica. Antes, era algo informal, um “jeito” para conta de luz chegar mais barata. Nao era tido como algo ilegal, criminoso. A vitimizagéo, como aponta Doralice, condiciona a nocéo @ percepcéo de estar cometendo um crime. Ela alega nao estar matando nem roubando, 0 que nos remete @ conclusdo de que a nocdo dela — ¢ de muitos de seus semelhantes — de “crime” envolve a idela de vitima. Seja um corpo caido sem vida, uma pessoa sendo agredida em um assalto. Se virmos os exemplos citados, ela desconhece toda a cadeia produtiva “misteriosa’dos CDs piratas que vendem, assim como quem ira vender ou consumir a droga que esta tranquilamente transportando. Da mesma maneira temos o “gato" de energia elétrica. O Estado, anteriormente, ¢ a concessianaria, atualmente, so atores sem rosto. Para o senso comum, no ha vitimas, e, portanto, nem crime Nao ha uma conex4o entre as praticas de controle, de fiscalizac4o ou represséo da empresa concessionaria € do Estado com 0 modo de entendimento da saciedade acerca das nogdes de crime. Enquanto nao houver esta conex4o, no havera mudanca, 0 problema nao sera resolvido. Persistira a tatica, o mercado paralelo da venda de “gatos” de energia eletrica, visto como algo “normal”, conveniente — todo mundo sempre fez ¢ nao vé mal em continuar fazendo. © usuario tem responsabilidad na medida em que adere a pratica ilicita, mas so existem “gatos” porque ha quem realize o servigo. Esse é 0 furo do sistema, como demanstrarei mais a frente Transformagées do “gato”: do publico ao privado, do jeitinho ao crime © que nés conhecemos coma “gato” de energia elétrica foi objeto de transtormacdo. Sofreu varias mudangas de suas representacdes no decorrer do tempo, especialmente do ponto de vista juridico em carater a privatizagdo do setor, e também do panto de vista tecnolégica, uma vez que a partir de inovagdes adotadas pela empresa com o intuito de combater a “ilegalidade” também maaificou a maneira de se fazer 0 “gato’ Ao ter a possibilidade de conviver nas dois campos, na condi¢4o de funcionaria de uma empresa concessionaria de energia elétrica (empresa privada) ¢ de moradora de um baitro popular por 8 meses (campo do “quase pubblico"), me permitiram realizar uma pesquisa de campo sem relagao de assimetria com meus “natives” e adentrar seu mundo moral € ético. Somado a isso, o resgate de matérias jornalisticas desde 1996 até 2009 sobre o assunto, me

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