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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS

FACULDADE DE DIREITO
DISCIPLINA DE DIREITO CIVIL III - CONTRATOS
PROFESSOR SILNEY ALVES TADEU

A APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA BOA-FÉ OBJETIVA NOS CONTRATOS


ADMINISTRATIVOS NO DIREITO BRASILEIRO

LUCAS DA COSTA CUNHA

PELOTAS
2009
LUCAS DA COSTA CUNHA

A APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA BOA-FÉ OBJETIVA NOS CONTRATOS


ADMINISTRATIVOS NO DIREITO BRASILEIRO

Trabalho apresentado para avaliação da


disciplina de Direito Civil III (Contratos),
ministrada pelo professor Silney Alves Tadeu.

PELOTAS
2009

2
A APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA BOA-FÉ OBJETIVA NOS CONTRATOS
ADMINISTRATIVOS NO DIREITO BRASILEIRO

RESUMO: O presente trabalho tem o objetivo de colaborar com o estudo da aplicação do


princípio da boa-fé objetiva nos contratos administrativos. Para tanto, o trabalho esmiúça o
conceito do princípio da boa-fé objetiva à luz da já solidificada doutrina referente ao tema.
Situa os contratos administrativos no direito brasileiro, enfrentando as diversas teorias
referentes ao tema apresentadas pela melhor doutrina. Por fim, entrelaça os dois conceitos
firmados, fazendo emergir a noção de imprescindível aplicação do princípio sub examine aos
contratos administrativos.

Palavras-chave: direito civil; princípio da boa-fé objetiva; contratos administrativos;


contratos; administrativo; teoria geral dos contratos;

3
SUMÁRIO

Introdução......................................................................................................................... 05
I. O princípio da boa-fé objetiva....................................................................................... 06
II. Contratos administrativos e seu conceito..................................................................... 10
III. A aplicação do princípio da boa-fé objetiva nos contratos administrativos no
direito brasileiro................................................................................................................ 12
Conclusão.......................................................................................................................... 15
Referências........................................................................................................................ 16

4
INTRODUÇÃO

O presente trabalho visa demonstrar a possibilidade de se aplicar o princípio da boa-fé


objetiva nos contratos administrativos no direito pátrio. Ressalte-se que este princípio tem
grande prestígio na esfera jurídica e deve ser abordado em todos os tipos de contratos, sejam
eles privados ou públicos.
Para tanto, à luz do ordenamento jurídico brasileiro, analisou-se o princípio da boa-fé
objetiva concatenando seu escopo principal aos contratos administrativos.
O trabalho foi dividido de forma que conceitue, de forma individual, cada instituto
intrínseco da pesquisa para que, ao final, possam eles ser considerados em conjunto,
apresentando, dessa forma, coerência lógica ao discurso feito nas linhas que seguem.

5
I. O PRINCÍPIO DA BOA-FÉ OBJETIVA

O conceito de boa-fé objetiva, largamente discutido entre os civilistas, é,


primordialmente, uma regra de conduta. Infere-se de tal conceito, por consciência moral, que
as partes envolvidas em qualquer tipo de negócio (seja ele privado ou público, jurídico ou
não) devam agir com lisura, honestidade, lealdade e qualquer outra forma de comportamento
aguardado por uma parte em relação à outra.
Buscando solidificar tal instituto, MATIELLO ensina:
“A boa-fé objetiva, por seu turno, não destoa da espécie subjetiva no concernente
ao mudus operandi exigido do contratante. Afinal, os deveres de honestidade,
lealdade, retidão, correção e tantos outros são comuns a ambas nas modalidades.
Diferenciam-se, sobretudo, no mecanismo de aferição do instituto, já que à boa-fé
subjetiva importa elaboração mental do sujeito, que crê em determinada coisa ou
ignora certos acontecimentos, enquanto a boa-fé objetiva atribui maior relevância
ao comportamento concreto do indivíduo. Sendo regra de conduta, o princípio da
boa-fé objetiva impõe a todos um proceder escorreito, isento de máculas e que
denote, por assim se ter consumado, o espírito translúcido que anima o agente.”1

Segue o douto professor enfatizando que, no plano contratual, os contratantes são


obrigados a conservar, do início ao fim do contrato, os princípios positivados no artigo 422 do
Código Civil Brasileiro2.
O princípio da boa-fé não somente denota um preceito de comportamento. Consolida,
também, os fundamentos morais orientadores da edificação jurídica do Código Civil.
Outrossim, à luz da interpretação do ilustre César Fiúza:
“A boa-fé objetiva baseia-se em fatos de ordem objetiva. Baseia-se na conduta das
partes, que devem agir com correção e honestidade, correspondendo à confiança
reciprocamente depositada. As partes devem ter motivos objetivos para confiar
uma na outra. O princípio da boa-fé contratual diz respeito à boa-fé objetiva. É
dever imposto às partes agir de acordo com certos padrões de correção e lealdade.
Este o sentido do art. 422 do Código Civil. O princípio tem funções interpretativa,
integrativa e de controle. Em sua função interpretativa, o princípio manda que os
contratos devam ser interpretados de acordo com seu sentido objetivo aparente,
salvo quando o destinatário conheça a vontade real do declarante. Quando o
próprio sentido objetivo suscite dúvidas, deve ser preferido o significado que a
boa-fé aponte como o mais razoável. Segundo a função integrativa, percebe-se que
o contrato contém deveres, poderes, direitos e faculdades primários e secundários.
São eles integrados pelo princípio da boa-fé. Em sua função de controle, o
princípio diz que o credor, no exercício de seu direito, não pode exceder os limites
impostos pela boa-fé, sob pena de proceder ilicitamente. A função de controle tem

1
MATIELLO, 2008. p. 35-36.
2
“Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como na execução, os princípios
de probidade e boa-fé.” Brasil. Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil Brasileiro.

6
a ver com as limitações da liberdade contratual, da autonomia da vontade em
geral e com o abuso de direito”.3

Uma apreciação moderna e esclarecedora, concernente ao princípio da boa-fé objetiva,


é salientada pela notável Cláudia Lima Marques, citada por CARVALHO E PEREIRA:
“Boa-fé objetiva leciona Cláudia Lima Marques, seguindo a nova concepção
social do contrato, significa “uma atuação refletida, pensando no outro, no
parceiro contratual, respeitando-o, respeitando seus interesses legítimos, suas
expectativas razoáveis, seus direitos, agindo com lealdade, sem abuso, sem
obstrução, sem causar lesão ou desvantagem excessiva, cooperando para atingir o
bom fim das obrigações: o cumprimento do objetivo contratual e a realização dos
4
interesses das partes.”

Nessa esteira, corroborando o supra afirmado, mostra-se coerente que o princípio em


comento está implícito no ordenamento jurídico pátrio, é um princípio não apenas dos
contratos, mas um princípio geral do direito. CAMPOS (2009), com muita propriedade,
demonstra: “A boa-fé supõe uma regra de conduta ou comportamento civiliter, uma conduta
normal, reta e honesta, a conduta de um homem comum, de um homem médio.”5 E prossegue:
“A boa-fé incorpora o valor ético da confiança. Representa uma das vias mais fecundas de
irrupção do conteúdo ético-social na ordem jurídica, e, concretamente, o valor da confiança.
(...)”6.
Importante observação deve ser feita ao artigo 422 do Código Civil Brasileiro. Extrai-
se, na exegese de tal dispositivo, que se trata de cláusula geral que obsta qualquer tipo de
conduta que afronte o viés de justiça pretendido pelo legislador.
Bem assim,
“cabe ao julgador verificar se a conduta objetivamente praticada pelo sujeito é
compatível com aquela que se lhe impunha nas circunstâncias, sopesadas as
normas de direito, ou usos e costumes do local da celebração (art. 113) e assim por
diante. Se o comportamento não se amoldar aos preceitos da boa-fé, o agente terá
afrontado a norma codificada e se sujeitará às conseqüências de estilo, que vão
desde a insubsistência do negócio até a supressão de cláusulas abusivas e a
exegese que melhor se adequar à situação analisada.”7

Nesses lineamentos, cabe ressaltar que desde o início das transações até o
encerramento de um negócio jurídico (contrato), inclusive em sua fase de adimplemento,
espera-se que as partes envolvidas procedam com honestidade, retidão, lealdade, decoro, isto
é, boa-fé objetiva.

3
FIUZA, 2003.
4
CARVALHO e PEREIRA, 2009.
5
CAMPOS, 2009.
6
Ibidem. Op. cit.
7
MATIELLO, 2008.

7
As condutas infectadas de má-fé não devem ser consentidas, e, quando desvendadas,
devem ser extirpadas da relação negocial. Isso devido ao fato de que a não aceitação da
cláusula geral em explicação (boa-fé objetiva) ser um afrontamento aos ditames prestados
pelo ordenamento jurídico pátrio.
Pertinente, também, o comentário de Fábio Ulhoa Coelho
“a virtude da boa-fé consiste em acreditar no que diz e dizer o que acredita. Quem
está de má-fé, mente; mas quem mente não está necessariamente de má-fé. No
clássico exemplo do cidadão alemão que, durante o nazismo, dá guarita ao amigo
judeu e mente a respeito para a gestapo, encontra-se a convergência da boa-fé e a
mentira. O cidadão alemão acredita, de verdade, que não há mal em enganar se
isso é necessário para salvar a vida do amigo, o que revela sua boa-fé. No mesmo
sentido, quem está de má-fé, engana; mas quem engana não está sempre de má-fé.
Isso porque age de boa-fé aquele que acredita no que diz, mesmo quando está
equivocado. Se alguém desconhece a verdade dos fatos sobre os quais fala, mas
acredita sinceramente ser veraz o que deles sabe, está de boa-fé. [...] Em razão da
cláusula geral da boa-fé objetiva, os contratantes devem-se, tanto nas negociações
como na execução do contrato, mútuo respeito quanto aos direitos da outra parte.
Condutas que denunciam ou sugerem o desrespeito – como a ocultação de vícios
da coisa – caracterizam a ausência de boa-fé. O descumprimento do dever geral de
boa-fé objetiva implica, pela lei, apenas a responsabilidade civil do contratante
faltoso, que deve indenizar todos os prejuízos sofridos pela parte cujos direitos
desrespeitou. Não há previsão legal que fundamente a revisão ou resolução do
8
contrato em virtude da má-fé do contratante”.

Para Maria Helena Diniz9, o princípio da boa-fé objetiva é cláusula que solicita
conduta leal e honesta dos contratantes, sendo inconciliável com qualquer comportamento
abusivo, tendo por desígnio provocar na relação obrigacional a fidúcia necessária e o
equilíbrio das prestações e da repartição dos riscos e encargos.
Outrossim, para Caio Mário da Silva Pereira10,
“a boa-fé objetiva não diz respeito ao estado mental subjetivo do agente, mas sim
ao seu comportamento em determinada relação jurídica de cooperação. O seu
conteúdo consiste em um padrão de conduta, variando as suas exigências de
acordo com o tipo de relação existente entre as partes”.

Diante do supracitado, no tocante à boa-fé objetiva, vê-se, claramente, que os ilustres


autores que foram relacionados convergem para um entendimento inequívoco, qual seja: a
cláusula geral – princípio – da boa-fé objetiva implica em um fazer por parte dos envolvidos
em um contrato, visto que é um instituto que pode ser analisado objetivamente, pois considera
o sentido do comportamento do agente. Melhor ilustração não há da que foi explicitada, nas
linhas retro, pelo douto COELHO. Demonstrando que há boa-fé objetiva inclusive em
condutas consideradas incompatíveis com a normalidade contemporânea, desde que para um

8
COELHO, 2007.
9
DINIZ, 2007.
10
PEREIRA, 2004.

8
fim altivo. O princípio da boa-fé objetiva – como cláusula geral nos contratos – serve para
indicar que tipo de comportamento os contratantes deverão guardar para com o outro.

9
II. CONTRATOS ADMINISTRATIVOS E SEU CONCEITO

Inicialmente, para fins explicativos, há de se tecer considerações gerais no que tange a


contratos genéricos. “Contrato é todo acordo de vontades, firmado livremente pelas partes,
para criar obrigações e direitos recíprocos.”11 Para BANDEIRA DE MELLO,
“[...] entende-se por contrato a relação jurídica formada por um acordo de
vontades, em que as partes obrigam-se reciprocamente a prestações concebidas
como contrapostas e de tal sorte que nenhum dos contratantes pode
unilateralmente alterar ou extinguir o que resulta da avença. Daí o dizer-se que o
contrato é uma forma de composição pacífica de interesses e que faz lei entre as
partes.”

Isto é, pressupõe-se um pacto consensual, de liberalidade das partes – que devem ter
capacidade para tal, para se obrigarem de forma válida.
No tocante ao tema, Hely Lopes Meirelles propõe que todo contrato (tanto os de
natureza pública, quanto os de natureza privada) é dominado por dois princípios, são eles: lex
inter partes e o do pacta sunt servanda, o da lei entre as partes e o da observância do
pactuado, respectivamente12.
Superadas as considerações iniciais no tocante aos contratos em geral, passemos ao
exame dos contratos administrativos.
Quanto ao tema, há inúmeras divergências doutrinárias, havendo, no mínimo, três
correntes a respeito da natureza dos contratos administrativos. Não obstante, não se faz
necessário, neste diminuto trabalho, esclarecer todas elas, mas, simplesmente conceituar tal
instituto sob o ponto de vista da melhor doutrina.
Para Maria Sylvia Zanella Di Pietro o contrato administrativo é espécie do gênero
contrato, salienta, a erudita autora, que o conceito de contrato não é exclusividade do direito
privado, “devendo ser dado pela teoria geral do direito13”. Prossegue, em excelente teoria,
afirmando que o contrato “existe também no direito público, compondo a espécie contrato de
direito público, [...]14”.

11
MEIRELLES, 2007.
12
Ibidem. Op. Cit..
13
Di Pietro, 2002.
14
Ibidem. Op. Cit.

10
Di Pietro apresenta, em seu curso, características intrínsecas dos contratos
administrativos, quais sejam: a presença da Administração Pública como Poder Público;
finalidade pública; obediência à forma prescrita em lei; procedimento legal; natureza de
contrato de adesão; natureza intuitu personae; presença de cláusulas exorbitantes (exigência
de garantia, alteração unilateral, rescisão unilateral, fiscalização, aplicação de penalidades,
anulação, retomada do objeto, restrições ao uso da exceptio non adimpleti contractus);
mutabilidade.
Para MEIRELLES, o
“contrato administrativo é o ajuste que a Administração Pública, agindo nessa
qualidade, firma com particular ou outra entidade administrativa para consecução
de objetivos de interesse público, nas condições estabelecidas pela própria
Administração15”.

Segue o primoroso doutrinador expondo “que o contrato administrativo é sempre


consensual e, em regra, formal, oneroso, comutativo e realizado intuito personae.” No
entanto, agregando ao conceito firmado, o que verdadeiramente torna típico e distingue o
contrato administrativo dos contratos privados é a participação da Administração Pública na
relação jurídica com supremacia de poder para fixar as condições iniciais do ajuste.
BANDEIRA DE MELLO não destoa das considerações acima expostas, lecionando
que contrato administrativo
“é um tipo de avença travada entre a Administração e terceiros na qual, por força
de lei, de cláusulas pactuadas ou do tipo de objeto, a permanência do vínculo e as
condições preestabelecidas assujeitam-se a cambiáveis imposições de interesse
público, ressalvados os interesses patrimoniais do contratante privado.16”

Salienta, ainda, o letrado doutrinador, que os preceitos a que se sujeitam os contratos


administrativos visam a afiançar a satisfação do interesse público, de tal sorte que se
submetem de forma sui generis ao vínculo para o pleno implemento do que se pretende.
Outrossim, foi o entendimento de MARTINS, qual seja: “contrato administrativo é a
denominação dada a todo ato administrativo bilateral, entendido como ato cujo conteúdo
seja fruto da manifestação de dois entes, sendo ao menos um deles um ente administrativo.”
Ante ao exposto, fica evidente a conceituação de contrato administrativo, ou seja,
contrato administrativo é todo acordo de vontades firmado entre a Administração Pública com
outro ente – seja ele privado ou não, que visa a executar uma pretensão do interesse público,
sob a invariável imposição de condições impostas pela Administração.

15
MEIRELLES, 2007.
16
BANDEIRA DE MELLO, 2002.

11
III. A APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA BOA-FÉ OBJETIVA NOS CONTRATOS
ADMINISTRATIVOS NO DIREITO BRASILEIRO

Ao desagregar a estrutura do conceito17 de direito administrativo brasileiro, Hely


Lopes Meirelles, ponderando cada elemento surgido de tal desagregação, chega, entre tantas
conclusões, a de que “a administração pública é regida pelo conjunto harmônico dos
princípios jurídicos”.
Nesse sentido, não se pode olvidar de um instituto tão importante como o princípio da
boa-fé objetiva, instrumento balizador e estrutural da teoria dos contratos.
Igualmente, face ao que já foi suscitado anteriormente, no tocante ao princípio da boa-
fé objetiva, emerge transparente uma ilação, qual seja: a de que seu aproveitamento ultrapassa
a área do direito privado. Após exaurimento dos complexos institutos sub examine, notório é
que o princípio da boa-fé objetiva, sendo relativo à esfera da Teoria Geral do Direito, não se
aplica tão somente na órbita da Teoria Geral dos Contratos, pois nada obsta em interpretá-lo
para o bem de quaisquer relações, haja vista que seu progresso aplicativo gera benefícios ao
direito como um todo, seja ele privado ou público.
Certo é que, no contrato administrativo, se reclama de ambas as partes envolvidas –
Administração Pública e particular, v.g. -, uma conduta de acordo com algumas pautas.
Principalmente no tocante à satisfação do interesse público, haja vista ser o principal escopo
dos contratos administrativos.
Corroborando o exposto, o artigo 54 da Lei 8666/93 dispõe que sejam aplicáveis os
princípios norteadores da teoria geral dos contratos sendo, por via reflexa, englobado o
princípio da boa-fé objetiva. Sendo assim, pacificado deve ser o entendimento de que o
princípio da boa-fé objetiva, como cláusula geral dos contratos que é, deve ser incluído na
interpretação de qualquer forma de contrato, seja ela pública ou privada.
Reza o artigo 54: “Os contratos administrativos de que trata esta Lei regulam-se
pelas suas cláusulas e pelos preceitos de direito público, aplicando-se-lhes, supletivamente,
os princípios da teoria geral dos contratos e as disposições de direito privado.”

17
“O conceito de Direito Administrativo Brasileiro, para nós, sintetiza-se no conjunto harmônico de princípios
jurídicos que regem os órgãos, os agentes e as atividades públicas tendentes a realizar concreta, direta e
imediatamente os fins desejados pelo Estado.” MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 33ª
ed. – São Paulo: Malheiros, 2007. p 40.

12
Outrossim, a Lei que regula o processo administrativo positivou, em relação ao
administrado, no artigo 4º, II: “São deveres do administrado perante a Administração, sem
prejuízo de outros previstos em ato normativo: II - proceder com lealdade, urbanidade e
boa-fé;”, enquanto, em relação à própria Administração, no artigo 2º, § Ú, IV: “A
Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da legalidade, finalidade,
motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório,
segurança jurídica, interesse público e eficiência. Parágrafo único. Nos processos
administrativos serão observados, entre outros, os critérios de: IV - atuação segundo
padrões éticos de probidade, decoro e boa-fé;”.
Diante do exposto, por se tratar de duas leis de inigualável relevância aos contratos
(acordos, atos, etc) administrativos, não restam dúvidas, por regerem praticamente todos os
atos decisórios da Administração Pública, que o princípio da boa-fé objetiva se aplica ao
Direito Público, mais especificamente aos contratos administrativos.
Nessa esteira, inigualável foi a conclusão de PEREIRA E CARVALHO:
“É forçoso reconhecer também que os contratos administrativos, como verdadeiros
processos formuladores de direitos e obrigações, devem se pautar sempre sob os
comandos e deveres impostos pelo princípio da boa-fé objetiva, entendido este
como um dever de conduta, capaz de ser objetivamente analisado e considerado,
pautado pela confiança, cooperação, transparência e lealdade.”18

É nesse significado que se sugere, neste breve trabalho, pelo menos o enfoque um
pouco mais prudente ao aproveitamento do princípio da boa-fé objetiva aos contratos
administrativos. Não como simples debate doutrinário, mas como instrumento a favorecer
uma melhor análise desses ajustes – contratos administrativos - que a toda hora são utilizados
pela Administração Pública. O importante, na verdade, é a proteção da satisfação do interesse
público; dessa forma, a aplicação do princípio em exame é imprescindível principalmente em
casos onde haja dubiedade ou distorção do requerido pelos indivíduos enquanto partícipes da
sociedade que são singularizados no ente chamado Estado.
CAMPOS, em seu excelente escrito, com relação ao posicionamento do Supremo
Tribunal Federal em relação à boa-fé objetiva e sua aplicação no campo administrativo,
conclui que:
“O Supremo Tribunal Federal, a partir do que se depreende de suas decisões,
chancela a presença e efetividade do princípio da boa-fé objetiva a orientar e
regular as relações contratuais no âmbito da Administração Pública, sendo certo
que o toma como um verdadeiro princípio jurídico, aplicando-o sempre a partir do

18
PEREIRA E CARVALHO, 2009.

13
cotejo e da ponderação com outros princípios regentes desta seara e que se
mostram aptos a incidir em um dado caso concreto;”19

Nesse diapasão, irretocável foi o entendimento, em decisão inédita, do Supremo


Tribunal de Justiça:
“ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. LICITAÇÃO. INTERPRETAÇÃO
DO ART.87 DA LEI N. 8.666/93.1. Acolhimento, em sede de recurso especial, do
acórdão de segundo grau assim ementado (fl. 186): DIREITO ADMINISTRATIVO.
CONTRATO ADMINISTRATIVO. INADIMPLEMENTO.RESPONSABILIDADE
ADMINISTRATIVA. ART. 87, LEI 8.666/93. MANDADO DE SEGURANÇA.
RAZOABILIDADE.1. Cuida-se de mandado de segurança impetrado contra ato de
autoridade militar que aplicou a penalidade de suspensão temporária de
participação em licitação devido ao atraso no cumprimento da prestação de
fornecer os produtos contratados.2. O art. 87, da Lei nº 8.666/93, não estabelece
critérios claros e objetivos acerca das sanções decorrentes do descumprimento do
contrato, mas por óbvio existe uma gradação acerca das penalidades previstas nos
quatro incisos do dispositivo legal.3. Na contemporaneidade, os valores e
princípios constitucionais relacionados à igualdade substancial, justiça social e
solidariedade, fundamentam mudanças de paradigmas antigos em matéria de
contrato, inclusive no campo do contrato administrativo que, desse modo, sem
perder suas características e atributos do período anterior, passa a ser informado
pela noção de boa-fé objetiva, transparência e razoabilidade no campo pré-
contratual, durante o contrato e pós-contratual.4. Assim deve ser analisada a
questão referente à possível penalidade aplicada ao contratado pela Administração
Pública, e desse modo, o art. 87, da Lei nº 8.666/93, somente pode ser interpretado
com base na razoabilidade, adotando, entre outros critérios, a própria gravidade
do descumprimento do contrato, a noção de adimplemento substancial, e a
proporcionalidade.5. Apelação e Remessa necessária conhecidas e improvidas.2.
Aplicação do princípio da razoabilidade. Inexistência de demonstração de prejuízo
para a Administração pelo atraso na entrega do objeto contratado.3. Aceitação
implícita da Administração Pública ao receber parte da mercadoria com atraso,
sem lançar nenhum protesto.4. Contrato para o fornecimento de 48.000 fogareiros,
no valor de R$ 46.080,00 com entrega prevista em 30 dias. Cumprimento integral
do contrato de forma parcelada em 60 e 150 dias, com informação prévia à
Administração Pública das dificuldades enfrentadas em face de problemas de
mercado.5. Nenhuma demonstração de insatisfação e de prejuízo por parte da
Administração.6. Recurso especial não-provido, confirmando-se o acórdão que
afastou a pena de suspensão temporária de participação em licitação e
impedimentos de contratar com o Ministério da Marinha, pelo prazo de 6 (seis)
meses.(REsp 914.087/RJ, Rel. Ministro JOSÉ DELGADO, PRIMEIRA TURMA,
julgado em 04.10.2007, DJ 29.10.2007 p. 190)”

Confirmando os argumentos supracitados e ponderados, fica claro que a aplicação do


princípio da boa fé objetiva nos contratos administrativos serve como instrumento para
aprimorar tais acordos, de tal sorte que seu bom emprego traz numerosos benefícios para a
relação contratual.

19
CAMPOS, 2009.

14
CONCLUSÃO

Dessa forma, conforme foi exposto no decorrer do laborioso escrito, conclui-se que:
1. O princípio da boa-fé objetiva é cláusula que solicita conduta leal e honesta dos
contratantes e deve estar sempre presente nos acordos firmados;
2. Depois de acertada análise, percebeu-se que o princípio da boa-fé objetiva é cláusula geral
que não se desprende de nenhum tipo de contrato, seja ele privado ou público.
3. O princípio da boa-fé objetiva está presente entre aqueles que compõem o Direito
Administrativo Brasileiro, especialmente como instituto informativo das contratações;
4. Tal instituto se aplica tanto ao campo do direito privado quanto à seara do direito público
(contratos administrativos, no caso em análise) sendo mais coerente dizer que tal princípio é
instituto típico da Teoria Geral do Direito, amplamente considerada, inclusive nos contratos
administrativos;
5. É evidente a inegável importância que exsurge da aplicação do princípio da boa-fé objetiva
nos contratos administrativos. O que é muito bem ratificado nas palavras de ALVES:
“A boa-fé objetiva tem ambiente fértil de aplicação no domínio dos contratos
administrativos. Aqui, o instituto em tela age com desenvoltura tanto como
princípio de Direito Público, haurido na Carta Constitucional, como de Direito
20
Privado, informador da nova teoria contratual.”

6. O princípio da boa-fé (objetiva), nessa conjuntura, é capaz, até mesmo, de dar uma maior
concretização a importância do interesse público (finalidade dos contratos administrativos);
7. Figura, tal princípio, como instrumento para ajeitar as incertezas e incoerências que se
apresentem nos contratos administrativos, dando, dessa maneira, maior credibilidade ao
acordo firmado.

20
ALVES, 2009.

15
REFERÊNCIAS

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Disponível em: http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=11783, acesso em: 09 nov.
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Disponível em: http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=7509, acesso em 10 nov. 2009.

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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8666cons.htm, acesso em 19 nov. 2009.

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CARDOSO, André Guskow. A garantia ao devido processo legal e o dever de boa-fé nos
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