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CINEMA - Crítica

A fábula do horror

Adaptado do “best-seller” do irlandês John Boyne, “O Menino do Pijama


Listrado” narra o horror da 2ª Guerra Mundial através da comovente relação entre uma
criança judia e uma alemã separadas pela cerca de um campo de concentração.
PEDRO MARTINS FREIRE
Crítico de Cinema

“O Menino do Pijama Listrado”, lançado em 2006 na Inglaterra, em seguida


alcançou o “status” de “best-seller”, lançando seu autor, John Boyle, ao conhecimento
do mundo. A Segunda Guerra Mundial continua a ser fonte de reflexão, investigação e
análise, mesmo passado mais de 60 anos em que se inseriu na história da humanidade. E
deve assim continuar, não apenas por ser história, nem por ter sido a mais dolorosa de
todas elas, nem por ter a dimensão de um holocausto, mas simplesmente porque ainda
há quem diga que ela não aconteceu como a maior expressão da vergonha criada por um
homem. O nazismo não morreu com um louco chamado Hitler e seus asseclas. Ainda há
quem não entenda o sentido e a dimensão de estar vivendo neste planeta.
John Boyne criou a história de uma família alemã, cujo pai (David Thwlis), um
oficial nazista destacado para comandar um campo de concentração, leva a família
súbita consciência da realidade vivida pelo país. Como personagens, a mulher dele, Elsa
(Vera Farmiga), a filha adolescente Gretel (Amber Beattie) e o filho Bruno (Asa
Butterfield), de oito anos, além de um empregado, Pavel (David Heyman). Como cenário,
a “casa de campo”, sombria e isolada, separada do local de trabalho do pai por uma
pequena floresta. Como segredo, o fato de sob juramento, ele estar impedido de
revelar à família detalhes do foi fazer ali. Livro e filme não afirmam ser Auschwitz a
“fazenda” a qual ele vai comandar, mas lá era o único campo de concentração que tinha
chaminés – e as quatro de Auschiwitz estão nas imagens. O enredo centra os
acontecimentos na solidão de Bruno, o qual, sem ter com quem conversar, desobedece
às ordens, atravessa a floresta e se torna amigo de um garoto de sua idade, Shamuel
(Jack Scanlon), que do outro lado da cerca de arame farpado, veste um engraçado
“pijama listrado”. É o que se deve contar do enredo, apenas para contextualizar a
análise.
Boyne afirma ter escrito essa história de ficção em tom de fábula para falar da
Segunda Guerra Mundial para as crianças. “Para mim, um escritor irlandês de 34 anos”,
escreveu, “pareceu-me que o único modo respeitoso de abordar o tema era através da
inocência, com uma fábula contada do ponto de vista de uma criança bastante ingênua
incapaz de entender os horrores ao seu redor. Creio que esta ingenuidade é o mais
próximo que alguém da minha geração é capaz de chegar do terror daquele período”.
Houve quem criticasse o escritor pelo fato de usar crianças como personagens
principais de uma história fadada à tragédia, especialmente porque elas eram as
primeiras a serem executadas nos “campos”. E daí? Mesmo que nenhuma tivesse
sobrevivido, o fato se torna irrelevante. Não teve a história de duas crianças que
sobreviveram ao campo de concentração de Treblinka por terem sido designadas a
alimentar os patos de uma lagoa?
“O Menino do Pijama Listrado” dá condição para que o roteirista e diretor Mark
Herman (de “Um Toque de Esperança”, “Laura, a Voz de uma Estrela” e “Um Lugar Para
Sonhar”) exercite o cinema como a expressão da realidade. Não importa seja uma obra
de ficção. Herman desenvolve essa história de forma cativante, ao ponto de trazer o
espectador para dentro de seus acontecimentos, tendo por base a inocência de duas
crianças envolvidas pelos adultos – que as coloca como inimigas.
Herman, com isso, estabelece dois mundos distintos: o das crianças com sua
inocência, mas com a percepção de “estranheza” em relação ao que dizem os adultos; e
o mundo destes, moldado na intolerância, distorção da história e dos fatos, na geração
do ódio e na manipulação da educação e dos sentimentos. Bruno questiona o que
acontece, o comportamento do pai que tenta ser carinhoso, mas que esconde a
personalidade de um monstro, assim como jovem soldado Kloter (Rupert Friend), em
processo de transformação pelo mesmo caminho. Nesse contexto, Herman deixa por
conta do espectador a escolha de apontar qual dos três adultos nazistas é mais sórdido
e cruel: o oficial de Hitler, o jovem soldado ou o professor que incute as idéias
nazistas?
Para o pequeno Bruno, o encontro com Pavel , expressa uma outra variação do
mundo dos adultos. O servente da casa, que também usa o estranho pijama listrado, ao
tratar de seu joelho, diz-lhe ser um médico “que ainda está aprendendo”. O
desconhecimento da realidade e da verdadeira identidade das pessoas o leva a navegar
na “meia mentira”: “você não deve ser tão bom porque ainda está praticando”.
É nesse desenvolvimento narrativo que Herman conduz o espectador dentro da
história. Esse confronto com o mundo dos adultos se amplia no momento em que a mãe
de Bruno começa a perceber qual o verdadeiro trabalho do marido. É na construção da
dramaticidade entre a inocência das crianças e o conflito dos adultos que Herman
conduz o espectador para um momento de grande impacto. Um dos trunfos reside em
“prender” o espectador, nos últimos dez minutos, levando-o a antecipar os
acontecimentos e não lhe dando de evitar o impacto, o qual consuma a vitória final da
intolerância.
Humanista, poético, cativante, “O Menino do Pijama Listrado” faz o espectador
refletir. É assistir, se comover com este drama denso que impõe a reflexão. Um dos
melhores filmes lançados neste ano.

Mais informações
O Menino do Pijama Listrado (The Boy in the Stripped Pijamas, EUA-Inglaterra, 2008),
de Mark Herman, com David Thewlis, Asa Butterfield, Vera Farmiga e Jack Scanlon.
Multiplex UCI Ribeiro/Cinema de Arte. Hoje (sexta 24/04), 21h30; amanhã(25/04),
10h45; e na Faixa Nobre, 19h30, de segunda a quinta-feira. 14 anos.

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