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Este documento é uma resenha do livro "Pode o subalterno falar?" de Gayatri Chakravorty Spivak. A autora discute como o subalterno, especialmente as mulheres, enfrentam dificuldades para se fazerem ouvir devido à opressão e exclusão social. Spivak argumenta que a representação do Terceiro Mundo foi distorcida pelo discurso ocidental e que intelectuais devem ajudar o subalterno a se articular. Ela também critica a violência epistêmica que invisibiliza o Outro e question
Este documento é uma resenha do livro "Pode o subalterno falar?" de Gayatri Chakravorty Spivak. A autora discute como o subalterno, especialmente as mulheres, enfrentam dificuldades para se fazerem ouvir devido à opressão e exclusão social. Spivak argumenta que a representação do Terceiro Mundo foi distorcida pelo discurso ocidental e que intelectuais devem ajudar o subalterno a se articular. Ela também critica a violência epistêmica que invisibiliza o Outro e question
Este documento é uma resenha do livro "Pode o subalterno falar?" de Gayatri Chakravorty Spivak. A autora discute como o subalterno, especialmente as mulheres, enfrentam dificuldades para se fazerem ouvir devido à opressão e exclusão social. Spivak argumenta que a representação do Terceiro Mundo foi distorcida pelo discurso ocidental e que intelectuais devem ajudar o subalterno a se articular. Ela também critica a violência epistêmica que invisibiliza o Outro e question
Revista do Curso de Mestrado em Ensino de Lngua e Literatura da UFT n 3 2011-2
ISSN 2179-3948
Resenha de SPIVAK, Gayatri Chakravorty. Pode o subalterno falar? 1. ed. Trad. Sandra Regina Goulart Almeida; Marcos Pereira Feitosa; Andr Pereira. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2010. OS SENTIDOS DO PODER/SABER DIZER THE MEANING OF CAN/ BE ABLE TO SPEAK
Edna Sousa Cruz *
A pergunta trazida no ttulo do livro Pode o Subalterno Falar? da escritora indiana Gayatri Chakravorty Spivak traz em seu bojo algumas ambiguidades, possivelmente propositais. Ao analisarmos o ttulo original em ingls Can the Subaltern Speak? observamos que a autora, ao usar can e no may, deixa ao leitor a livre inferncia sobre o sentido do verbo modal can: queria ela perguntar se o subalterno pode ( no sentido de permisso) falar? Ou se esse subalterno pode no sentido de saber, ser capaz de falar? E mais, estaria ela surpresa ante a possibilidade de um subalterno falar? A traduo para o portugus dessa pergunta no nos leva a tantas outras, mas o titulo original da mesma leva o leitor a enveredar por um labirinto procura de pistas sobre a inteno da autora, as intenes do livro. A tarefa de se fazer entender atravs da lngua do outro um desafio que a escritora indiana deixa claro j desde o prefcio do seu livro, apresentado por Almeida. Tal tarefa segundo a autora mais rdua para o tradutor, o qual tem por ofcio o papel desconcertante de fazer falar o texto de outrem, em um constante processo de adiamentos, aproximaes e, sobretudo, negociaes (p.9). Ao ler esse pequeno mas, complexo volume, entende-se porque tais negociaes de sentido se fazem necessrias. Ao longo do texto a autora, utilizando-se de vocbulos da lngua inglesa e alem, busca aproximar-se do sentido atribudo palavra representao nos contextos poltico, econmico e social tanto para quem re-presenta, como para os que so re-
* Mestranda emLetras pela Universidade Federal do Tocantins; professora de Literatura Inglesa na Universidade Estadual do Maranho (UEMA).
Entreletras Revista do Curso de Mestrado em Ensino de Lngua e Literatura da UFT n 3 2011-2 ISSN 2179-3948
Recebido emsetembro de 2011; aceito emoutubro de 2011.
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presentados, bem como a questo da conscincia e da conscientizao da resistncia da/na subalternidade. Aqui se posta um dos objetivos da obra: re-discutir as implicaes da representao do sujeito do denominado Terceiro Mundo na conjuntura do discurso ocidental(-izado). Assumindo uma postura firme e corajosa, a autora chama para si e para os demais intelectuais ps-coloniais, a responsabilidade, de combater a subalternidade. No seu entender, tal ao se efetiva no falando pelo, mas criando mecanismo para que o subalterno se articule e seja ouvido. O sujeito subalterno na definio de Spivak aquele pertencente s camadas mais baixas da sociedade constitudas pelos modos especficos de excluso dos mercados, da representao poltica e legal,e da possibilidade de se tornarem membros plenos no estrato social dominante(p.12). Avanando no tema, e tendo como ponto nodal a histria de uma viva, duplamente impedida de se auto-representar, primeiro por ser mulher e segundo por sua condio de viuvez, a autora sustenta que esta situao de marginalidade do subalterno mais arduamente imposta ao gnero feminino, posto que a mulher como subalterna, no pode falar e quando tenta faz-lo no encontra os meios para se fazer ouvir( p.15). Spivak imprime um carter transdiciplinar sua obra ao abordar temas de cunho filosfico, literrio, histrico e cultural, luz das idias de Foucault, Deleuze, Derrida entre outros. Dos dois primeiros a autora critica a postura distanciada das questes ideolgicas e suas implicaes na histria , economia e circuito intelectual,enquanto que do ltimo, Derrida, ela v como positivo seu envolvimento mais direto ( que Foucault) nos assuntos polticos e as crticas ao risco de apropriar-se do Outro por assimilao. Outro ponto amplamente discutido na primeira parte da obra pela autora, refere-se violncia epistmica, cuja ttica de neutralizao do Outro, seja ele subalterno ou colonizado consiste em invizibiliz-lo, expropriando-o de qualquer possibilidade de representao, silenciando-o. Este silncio, que por muitos relegado a uma posio secundria [..] como resto de linguagem (ORLANDI, 2002, p. 12) para Spivak vai configurar-se como silncio que liga o no-dizer histria e ideologia (ORLANDI,2002, p. 12), ou seja, significa, no margem e tem implicaes ruidosas sobre a vida dos sujeitos. Ao discutir a ideologia do EU-ropeu, a autora questiona as manobras ocultas por trs da abolio britnica do sacrifcio das vivas ( p. 93) bem como a imagem do Entreletras Revista do Curso de Mestrado em Ensino de Lngua e Literatura da UFT n 3 2011-2 ISSN 2179-3948
Recebido emsetembro de 2011; aceito emoutubro de 2011.
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imperialismo como o estabelecedor da boa sociedade (p.98). Estabelecer as bases para a sobrevivncia de uma boa sociedade no contexto imperialista implica entre outras medidas proteger a mulher, quando conveniente, ou como de costume deix-la entregue prpria sorte. No quarto captulo, ao lanar mais uma vez a pergunta tema e ttulo de sua obra, Spivak fala diretamente mulher, especialmente pobre e negra(p.85) a qual preenche todos os requisitos que lhe conferem a condio de subalternidade: a da pobreza, a do gnero, a da cor, que fazem com que a mulher negra permanea no lugar demarcado ideologicamente e que lhe foi reservado.Um lugar que no central mas perifrico, no dentro do, mas fora do crculo. Desse modo, refletindo a situao da subalternidade feminina, a autora chama ateno para a marginalizao da mulher no cenrio da produo colonial dominado pelo gnero masculino, no obstante seu visvel desconforto quanto a posio subalterna que a mulher ocupa, Spivak no aponta caminhos para que a mulher liberte-se do estigma de subordinada. Em que pese a constatao do poderio masculino no mbito da produo colonial, a autora sinaliza que refletir sobre a mudez feminina no pode restringir-se a uma simples questo idealista, mas configurar-se um exerccio de fala e de reposicionamento da mulher no espao social. Nesse cenrio, portanto, silncio resistncia.
Referncias Bibliogrficas
ORLANDI, Eni P. As formas do silncio: no movimento dos sentidos. Campinas: Ed. da Unicamp, 2002.
Ansara, Soraia. (2012) - Políticas de Memória X Políticas Do Esquecimento: Possibilidades de Desconstrução Da Matriz Colonial. Psicologia Política, 12 (24), 297-311.