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A empresa viva

A elevada taxa de mortalidade corporativa pode


ser combatida com mudanças nas prioridades e a
incorporação de alguns traços comuns a
organizações centenárias. Por Arie de Geus

O que explica a diferença entre algumas companhias que existem há mais de 100 anos e a
média de vida das empresas1 que não supera 20 anos? Uma equipe da empresa Royal
Dutch Shell, que tinha entre seus integrantes o vice-presidente Arie de Geus, hoje da
London Business School e do MIT, encontrou respostas para a questão em um estudo.
Muitas empresas morrem jovens porque suas políticas e práticas enfatizam a produção de
bens e serviços, de acordo com esse estudo, esquecendo que são comunidades de pessoas
que fazem negócios para permanecer vivas. Em contraposição, as “empresas vivas”, que
funcionam como se fossem um rio segundo o autor, têm outras prioridades: valorizar as
pessoas, flexibilizar a direção e o controle, organizar-se para aprender e criar uma
comunidade. Além disso, elas compartilham algumas características, como conservadorismo
na gestão das finanças, sensibilidade ao ambiente externo, consciência de sua identidade e
tolerância a novas idéias. O estudo em que se baseia este artigo focalizou 30 organizações
na América do Norte, na Europa e no Japão com mais de 100 anos de idade, forte
identidade corporativa e destaque em seu setor de atividade. Entre elas, DuPont W.R.
Grace, Kodak, Mitsui, Sumitomo e Siemens. Ele é relatado integralmente no livro A Empresa
Viva, de Geus, publicado no Brasil no ano passado pela editora Campus.

No mundo das instituições, as empresas maiores empresas listadas pela revista Fortune
comerciais são membros recém-chegados. Elas em 1970 havia sido adquirido ou desmembrado
existem há apenas 500 anos - uma minúscula ou fundido com outras empresas.
fração de tempo no curso da civilização Como sabemos que muitas dessas mortes são
humana. Nesse período, têm desfrutado um prematuras? Porque temos provas de que as
enorme sucesso como produtoras de riqueza empresas podem durar muito mais. A
material. Foram responsáveis pela explosão Sumitomo, do Japão, tem origem em uma
populacional mundial, fornecendo os produtos e fundição de cobre aberta por Riemon Soga em
serviços que tornaram possível uma vida 1590. A empresa sueca Stora, atualmente uma
civilizada. grande fabricante de papel, celulose e produtos
Quando analisadas à luz de seu potencial, no químicos, começou como mina de cobre na
entanto, muitas empresas comerciais ainda têm região central da Suécia há mais de 700 anos.
um longo caminho por percorrer Elas estão em Exemplos como esses sugerem que a
uma fase primitiva de evolução; desenvolvem e longevidade natural de uma empresa poderia ser
exploram apenas uma pequena fração de seu de dois ou três séculos, ou mais.
potencial. Analisemos sua alta taxa de mor- As implicações dessas estatísticas são
talidade. Em 1983, cerca de um terço das 500 deprimentes. A diferença entre a longevidade de
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uma Sumitomo ou uma Stora e a vida efêmera Nossa equipe descobriu 30 organizações na
da empresa comum representa um potencial América do Norte, na Europa e no Japão que
desperdiçado. As pessoas, as comunidades e as atendiam àqueles critérios. As empresas tinham
economias são afetadas - e até destruídas- pela de 100 a 700 anos e 27 delas - como DuPont,
morte prematura de empresas. A alta taxa de W.R. Grace, Kodak, Mitsui, Sumitomo e Sie-
mortalidade empresarial não parece natural. mens- dispunham de excelente documentação.
Nenhuma espécie viva apresenta tal discrepân-
cia entre sua expectativa máxima de vida e a Expectativa de vida: 20 anos
longevidade média que alcança. E são poucas as
instituições de outros tipos - igrejas, exércitos A primeira coisa que aprendemos foi que a vida
ou universidades - que apresentam o recorde média de uma organização é muito menor do
terrível de mortalidade da empresa comercial. que sua vida média potencial. Já tínhamos
algumas indicações a respeito nas listas das 500
As empresas morrem jovens maiores empresas da revista Fortune, e
conseguimos confirmar esses dados em registros
Por que tantas empresas morrem jovens? As públicos da América do Norte, da Europa e do
provas acumuladas indicam que as empresas Japão.
fracassam porque suas políticas e práticas se Na maioria desses lugares, a lei exige que a
baseiam predominantemente no pensamento e abertura e o fechamento de firmas sejam
na linguagem da economia. Em outras palavras, registrados. Pelo estudo desses dados
as empresas morrem porque seus executivos se conseguimos obter estatísticas "populacionais" e
concentram exclusivamente na produção de três informações valiosas: índice de empresas
bens e serviços e se esquecem de que sua fundadas, índice de empresas encerradas e a
organização é uma comunidade de seres população total. Assim, pudemos calcular a
humanos que trabalha em uma empresa - de expectativa média de vida das organizações,
qualquer tipo - para se manter viva. Os que, no Hemisfério Norte, era bem inferior a 20
executivos se preocupam com terra, trabalho e anos. Somente as grandes empresas que
capital e negligenciam o fato de que “trabalho” estudamos e haviam começado a se expandir
significa pessoas de verdade. depois de sobreviverem à infância - período em
O que há de tão especial sobre as empresas que a taxa de mortalidade é extremamente alta -
duradouras? As que eu passei a chamar de continuaram ativas por outros 20 a 30 anos, em
“empresas vivas” têm uma personalidade que média.
lhes permite evoluir harmoniosamente. Elas Aparentemente a empresa é uma espécie com
sabem quem são, entendem qual seu papel no uma expectativa máxima de vida na casa das
mundo, valorizam novas idéias e novas pessoas centenas de anos, mas com uma expectativa
e administram o dinheiro de uma maneira que média de vida inferior a 50 anos. Se essa espécie
lhes propicia controle sobre seu futuro. fosse o Homo sapiens, poderíamos afirmar com
Resumindo, as empresas vivas produzem bens e toda certeza que ainda estaria na era de
serviços para ganhar seu sustento exatamente Neanderthal - ainda não teria realizado seu
como nós fazemos por meio de nossos potencial.
empregos. A segunda observação extraída do estudo da
Antes de discutir as características da empresa Shell é que as empresas vivas são muito
viva com mais profundidade são necessárias eficientes na "gestão para a mudança", como
certas informações históricas. Em 1983, um dizemos hoje. A Stora, exemplo mais expressivo
grupo da Shell do qual eu fazia parte decidiu de nosso estudo, sobreviveu à Idade Média, à
aprender mais sobre a longevidade empresarial Reforma, às guerras do século XVII, à
estudando companhias mais antigas que a nossa. Revolução Industrial e às duas grandes guerras
Como naquela época a Shell já tinha cerca de do século XX. Durante a maior parte de sua
100 anos, decidimos analisar empresas que já existência, dependeu de mensageiros, cavaleiros
existissem nos últimos 25 anos do século XIX, e navios para transmitir ou receber mensagens,
fossem importantes em seu setor e ainda em vez de usar telefones, aviões e redes
possuíssem uma forte identidade corporativa. eletrônicas. O ramo de atividade da Stora
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mudou do cobre para a exploração florestal, passaram do vapor para a combustão interna,
fundição de ferro, energia hidrelétrica e final- depois para a eletricidade e para o microchip. E
mente papel, celulose e produtos químicos. Ao a Stora continua a se adaptar a um mundo em
longo do tempo, suas tecnologias de produção permanente mudança.

A Stora tem vida longa porque se adapta a um


mundo mutante. Passou dos cavalos para os
aviões, da extração de cobre para os químicos,
do vapor para o microchip.

Os traços comuns das bem- distâncias, e mesmo assim conseguiam reagir de


sucedidas forma oportuna às condições então existentes.
Eram competentes em aprendizagem e
O que as empresas extraordinariamente bem- adaptação.
sucedidas têm em comum? Nosso grupo
descobriu quatro traços de personalidade em • Consciência de sua identidade.
comum que poderiam explicar sua longevidade.
A despeito da extensão de sua diversificação, os
• Conservadorismo nas finanças. funcionários dessas organizações se sentiam
partes de um todo. Os casos estudados
Essas empresas não arriscavam gratuitamente demonstram repetidamente que a sensação de
seu capital. Entendiam o significado do dinheiro pertencer a uma comunidade é essencial para a
à moda antiga e sabiam como era útil ter longevidade da empresa. Os executivos das
reservas em caixa. Com dinheiro na mão, empresas vivas que estudamos eram, na maioria,
podiam agarrar oportunidades que seus provenientes da própria firma, e todos se
concorrentes não conseguiam. Não precisavam consideravam servidores de um empreendi-
convencer financistas externos sobre a mento duradouro. Sua maior prioridade era, no
atratividade das oportunidades que desejavam mínimo, manter a instituição tão saudável
explorar Essa reserva de caixa lhes permitia quanto no momento em que assumiram o cargo.
governar seu crescimento e evolução.
• Tolerância a novas idéias.
• Sensibilidade ao ambiente externo.
As empresas longevas de nosso estudo
Independentemente de terem construído suas toleravam atividades que ocorriam à margem:
fortunas com base no conhecimento (como as experiências e excentricidades que expandiam
inovações tecnológicas da DuPont) ou em seus conhecimentos. Reconheciam que as novas
recursos naturais (como o acesso da Hudson firmas criadas não precisavam estar inter-
Bay Company às peles das florestas relacionadas com as existentes, ou seja, que a
canadenses), as empresas vivas de nosso estudo diversificação de atividades não precisava ter
foram capazes de se adaptar às mudanças que um controle centralizado. Desde o início, a
ocorriam no mundo à sua volta. No vaivém de W.R. Grace estimulou a experiência autônoma.
guerras, depressões, tecnologias e políticas, A empresa foi fundada em 1854 no Peru por um
sempre primaram por manter os sensores imigrante irlandês e comercializava guano, um
ligados em tudo que estivesse acontecendo em fertilizante natural, antes de passar para os
torno. Em termos de informações, às vezes ramos de açúcar e estanho. Acabou fundando a
dependiam de meios de transporte terrestre e Pan American Airways. Atualmente fabrica
marítimo que precisavam percorrer longas basicamente produtos químicos, embora tam-
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bém seja uma das grandes prestadoras de das empresas que vêm funcionando com sucesso
serviços de diálise nos EUA. por centenas de anos. Dada essa personalidade
Por definição, uma organização que sobrevive básica, quais as prioridades que seus executivos
mais de um século atua em um mundo sobre o estabelecem para si e para seus subordinados?
qual não pode ter expectativas de controle. O executivo de uma empresa viva entende que
Nesse sentido, as multinacionais são dar continuidade à sobrevivência da empresa
semelhantes às empresas longevas de nosso significa entregá-la a seu sucessor com, no
estudo. Atuam em um mundo muito grande, que mínimo, a mesma saúde que tinha quando ele
abrange várias culturas, e é inerentemente assumiu o cargo. Para isso, precisa deixar as
menos estável e mais difícil de influenciar do pessoas crescerem dentro de uma comunidade
que um ambiente nacional confinado. As que se mantém coesa devido a valores
multinacionais, como as empresas duradouras, claramente definidos. É preciso, portanto,
precisam estar dispostas a mudar para ter colocar o compromisso com as pessoas antes
sucesso. dos ativos, o respeito pela inovação antes da
devoção às políticas, a desordem da
Prioridades aprendizagem antes dos procedimentos
ordenados e a perpetuação da comunidade antes
Esses quatro traços formam o caráter essencial de todas as outras preocupações.

Valorizar as pessoas em vez dos ativos. Isso


explica por que todas as 27 empresas longevas
mudaram completamente de ramo de atividade
pelo menos uma vez
• Valorizar as pessoas, não os ativos. equipamentos, considerados a essência de sua
existência.
Essa inversão das prioridades tradicionais de
gestão é comprovada por uma descoberta • Afrouxar a direção e o controle.
surpreendente de nosso estudo: cada uma das 27
organizações longevas mudou completamente Se a saúde a longo prazo da empresa e a
de ramo de atividade pelo menos uma vez. A sobrevivência por sucessivas gerações exigem
DuPont, que tem cerca de 200 anos, começou uma disposição para mudar de ramo de
como fabricante de pólvora. Nos anos 20, era a atividade, os executivos precisam levar em
maior acionista da General Motors e hoje conta as opiniões e experiências de outras
especializa-se em produtos químicos. A Mitsui, pessoas. A organização precisa dar aos
com cerca de 300 anos, era uma loja de tecidos. indivíduos um espaço para o desenvolvimento
Transformou-se em banco, depois em de idéias e certa liberdade em relação ao
mineradora e, no final do século XIX, entrou no controle, à direção e à punição por fracassos.
setor de fabricação industrial. Em outras palavras, é preciso colocar em prática
Essas histórias indicam que tais empresas estão o princípio da tolerância, assumindo riscos com
dispostas a descartar os ativos para sobreviver as pessoas e procurando novas idéias em novos
Para elas, os ativos - e os lucros - são como lugares. Talvez a melhor maneira de ilustrar
oxigênio: necessário para a vida mas não a essa idéia seja a metáfora do cultivo de rosas.
finalidade da vida. A Stora explorava cobre para Toda primavera os jardineiros precisam decidir
existir; não existia para estar no ramo de cobre. como podar as roseiras. Podar muito significa
Essas empresas sabem que os ativos são apenas deixar cada roseira com três ramos, escolhidos
meios para ganhar seu sustento. Uma firma que entre os mais fortes, e cada um deles com três
segue um modelo diferente de gestão descarta as brotos. Essa técnica força a planta a canalizar
pessoas para salvar sua fábrica e seus todos os seus recursos para um número
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relativamente pequeno de brotos. E por que Algo mais acontece ao podar da minha maneira
podar as roseiras dessa forma? Para ter as por vários anos seguidos: surpresas. Em dois ou
maiores rosas do bairro no verão. três anos, alguns dos ramos novos crescem
Eu não costumo podar muito, porque essa é uma muito mais fortes e começam a produzir brotos,
estratégia de alto risco. Eu moro em um lugar na e alguns dos ramos antigos param de produzir
montanha onde minhas rosas podem sofrer rosas. O que podemos fazer? Remover os caules
muito. As geadas noturnas são comuns até antigos e estimular os novos. Uma política
meados da primavera e os cervos, que adoram tolerante de poda renova gradualmente o nosso
os botões, vivem livremente. Se eu podar muito, portfólio de rosas.
se houver geada e se os cervos estiverem A metáfora do cultivo de rosas também ajuda a
famintos, posso chegar ao verão sem nenhuma resolver um dos dilemas atuais da gestão de
rosa. Portanto, eu deixo de cinco a sete ramos empresas: como diversificar sem "dar sopa"
em cada pé, e de cinco a sete brotos em cada para o desastre. Uma política de tolerância
ramo. Assim, a roseira pode dividir seus permite que a rosa e o meio ambiente se
recursos entre muitos brotos. Eu nunca tive as integrem continuamente sem colocar em risco a
maiores rosas da vizinhança, mas não passo um capacidade de crescimento da roseira.
verão sem rosas no jardim.

É exatamente quando a empresa está


totalmente organizada que as circunstâncias
externas podem mudar. Ela precisa se organizar
para isso.
• Organizar-se para aprender. marketing, seu portfólio de produtos, sua
organização e o local e a maneira de produzir
Há ocasiões em que o know-how, o portfólio de bens ou serviços. Uma vez adaptada ao novo
produtos e as relações trabalhistas de uma ambiente, a organização deixa de ser o que era;
organização estão em harmonia com o ambiente ela evolui. Essa é a essência do aprendizado.
externo. As situações são conhecidas, a empresa Como uma organização - diferentemente de uma
está bem estruturada e os funcionários estão pessoa - aprende? Os pássaros podem ajudar a
treinados e preparados. Nesses períodos, os responder a essa pergunta. Analisemos o
executivos não precisam desenvolver e trabalho de Allan Wilson, professor já falecido
implementar novas idéias. Sua tarefa é destinar de bioquímica e química molecular da
recursos para promover o crescimento e o University of California de Berkeley, nos EUA.
desenvolvimento, canalizando o capital e as Segundo a hipótese de Wilson, uma espécie
pessoas para aquelas áreas da organização que inteira pode melhorar sua capacidade de
estejam mais bem posicionadas para receber os explorar as oportunidades do ambiente. São
benefícios da situação presente dos negócios. necessárias três condições. Primeira, os
Essas áreas se tornam, então, maiores, mais membros da espécie precisam ter e usar a
sólidas e mais poderosas. capacidade de se movimentar e precisam se
Mas é exatamente quando a empresa está deslocar em bandos em vez de permanecer
totalmente organizada que as circunstâncias sozinhos em territórios isolados. Segunda,
externas podem mudar. Novas tecnologias alguns deles precisam ter potencial para inventar
entram em cena, os mercados mudam, as taxas novos comportamentos - novas habilidades.
de juros flutuam, as preferências dos Terceira, a espécie precisa ter um processo
consumidores se alteram e a empresa precisa estabelecido para transmitir a habilidade de um
entrar em uma nova fase de vida. Para indivíduo para toda a comunidade, não
permanecer sintonizada com o mundo exterior, geneticamente, mas por meio da comunicação
ela precisa ser capaz de alterar sua estratégia de direta. Segundo Wilson, a presença dessas três
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condições acelera o aprendizado na espécie inovação. Os tordos-vermelhos não tinham esse


como um todo, aumentando sua capacidade de tipo de sistema social. Obviamente, os tordos
se adaptar rapidamente a mudanças profundas cantam, são coloridos e têm mobilidade, mas
no ambiente. são pássaros fundamentalmente territoriais.
Para testar sua hipótese, Wilson recorreu a um Quatro ou cinco tordos moram em meu jardim,
caso bem documentado sobre o comportamento e cada um tem seu pequeno território. Eles se
dos chapins e dos tordos-vermelhos na Grã- comunicam muito entre si, mas em geral só para
Bretanha. No fim do século XIX, as garrafas de dizer aos outros: "Fora do meu território!" Os
leite que os leiteiros deixavam na porta das chapins também adoram meu jardim. Vivem em
casas não tinham tampa. A nata chegava até a pares durante a primavera e no meio do verão
boca da garrafa. Dois pássaros de jardim muito começam a voar em bandos de oito, dez e 12.
comuns na Grã-Bretanha, o chapim e o tordo Eles voam de jardim para jardim, brincam e se
vermelho, começaram a comer a nata. alimentam.
Nos anos 30, depois de os passarinhos Os pássaros que se congregam aprendem mais
saborearem a nata por cerca de 50 anos, os rapidamente. O mesmo acontece com as
britânicos passaram a fechar as garrafas de leite organizações que estimulam seus funcionários a
com uma tampa de alumínio. O que aconteceu? se congregar. Em qualquer organização com
No início dos anos 50, a população total centenas de pessoas certamente existem
estimada de chapins do Reino Unido, que algumas suficientemente curiosas para abrir
chegava a um milhão da Escócia à Cornualha, caminho para novas descobertas, como os
havia aprendido a furar as tampas de alumínio. chapins que descobriram como furar a tampa do
Os tordos jamais adquiriram essa habilidade. leite. Todavia, ter algumas pessoas inovadoras
Por que os chapins conseguiram uma vantagem não garante o aprendizado institucional. A
na concorrência interespécies? Lembremos as organização precisa estimular essas pessoas a
condições necessárias apontadas por Wilson interagir com as outras. Os skunk works (bolsões
para que o aprendizado ocorra em uma de espaço organizacional reservados para
população: um grande número de indivíduos grupos de pessoas que trabalham sem a
com mobilidade, alguns deles com capacidade interferência do restante da organização) são um
para inovar e um sistema social para propagar a exemplo desse fenômeno.

Os pássaros que se congregam aprendem mais


rapidamente. O mesmo ocorre com as empresas
que estimulam seu pessoal a se congregar; pois
uns puxam os outros.
Os programas de desenvolvimento gerencial organização e reúne pessoas oriundas de
também são uma excelente oportunidade para ambientes culturais diferentes e de diversas
que as pessoas se congreguem. A Shell, por áreas profissionais e acadêmicas. E comum os
exemplo, gasta cerca de US$ 2.400 por participantes dos cursos comentarem: "Não foi
funcionário todos os anos em treinamentos que tanto o que aprendi nas sessões formais, o
os ajudam a progredir em seus campos de importante foi o que aprendi com os colegas
atividade, mudar para outras áreas e desenvolver durante os intervalos".
novas habilidades. Mais significativo ainda, a
grande maioria desses treinamentos é feita em • Criar uma comunidade.
grupo. É muito importante para equipes
formadas por indivíduos completamente Os executivos precisam decidir como posicionar
diferentes passar juntas por treinamentos o elemento humano em sua empresa. Podem
periódicos intensivos. Esse tipo de experiência optar por produzir riqueza para um pequeno
ajuda a disseminar o conhecimento na círculo de dirigentes e investidores, ou
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desenvolver uma organização que seja uma de água - uma série de pingos de chuva reunidos
comunidade. Os que querem construir uma em uma cavidade. As gotas permanecem no
organização que consiga sobreviver por muitas fundo. Quando chove, mais pingos se juntam à
gerações colocam o desenvolvimento dos poça e seu raio de influência se expande,
funcionários acima de qualquer outra encharcando o chão à volta. Mas os primeiros
consideração e atribuem prioridade a questões pingos permanecem no meio da cavidade. A
do tipo "como devemos nos preparar para estagnação pode levar à vulnerabilidade. As
garantir a continuidade de geração para poças de água não sobrevivem ao aquecimento.
geração". Quando o sol aparece e a temperatura sobe, a
Nas organizações em que apenas alguns poça começa a evaporar. Até mesmo as gotas
recebem os benefícios acumulados, todos os que permaneceram no meio da poça correm o
demais são estranhos, não membros, De acordo risco de se transformar em vapor.
com o contrato implícito firmado com a Uma empresa cujo objetivo é a sobrevivência se
empresa, esses estranhos trocam seu tempo e parece mais com um rio. Ao contrário da poça
experiência por dinheiro. Como demonstram as de água, o rio é um elemento permanente da
inúmeras evidências colhidas pelas ciências do paisagem. Se chover, ele pode subir. Se fizer
comportamento organizacional, esse tipo de sol, pode baixar. Mas somente uma seca
contrato não inspira as pessoas a ser leais ou a prolongada e grave fará o rio desaparecer Da
se sentir leais à organização ou a seus perspectiva dos pingos de água, o rio é muito
executivos. Elas entendem que devem trabalhar turbulento. Nenhum pingo permanece no meio
tendo sempre em mente que, mais cedo ou mais do rio por muito tempo. De um momento para
tarde, sairão da empresa. outro, a água de outra parte do rio sofre uma
Em minha opinião, uma empresa cujo objetivo é mudança. Novos pingos substituem os antigos, e
produzir riqueza para alguns é como uma poça todos seguem a correnteza.

Uma empresa cujo objetivo é produzir riqueza


para alguns é como uma poça d'água. Quando
chove, se expande. Quando o sol aparece,
quase seca.

A vida do rio é muito mais duradoura que a vida desenvolvem os funcionários, avaliam seu
dos pingos de água. O rio é uma comunidade potencial individual, seguem as normas de um
autoperpetuadora com garantias próprias de contrato humano e estabelecem políticas para
continuidade e movimentação da água em seu que os profissionais deixem a organização com
leito. Ao instituir regras de continuidade e dignidade.
movimentação para seus funcionários, uma
empresa pode imitar a longevidade e a força do Confiança mútua
rio.
A empresa viva é exatamente como um rio. Na empresa viva, os membros entendem o que
Nesse tipo de organização, os executivos significa "nós" e têm consciência dos valores
consideram que a otimização do capital não comuns. Eles sabem a resposta à pergunta
passa de um complemento necessário para a fundamental sobre identidade corporativa: "O
otimização das pessoas. Para construir uma que valorizamos?" Quem não conseguir
empresa rentável e duradoura, tomam o cuidado conviver com os valores da empresa não pode e
de criar uma comunidade. Existem processos não deve fazer parte dela. A sensação de fazer
que definem os membros, estabelecem os parte do todo une até seus mais diferentes
valores comuns, recrutam as pessoas, integrantes.
A essência do contrato implícito na empresa
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viva é a confiança mútua. Os profissionais dinheiro acima do limite de remuneração


sabem que, em troca de seu esforço e suficiente não as motivará a dar mais de si. Para
compromisso, a organização os ajudará a que isso aconteça, os membros precisam saber
desenvolver seu potencial. O dinheiro não é que a comunidade está interessada neles como
considerado um motivador positivo em uma indivíduos, e eles precisam estar interessados no
empresa que funciona como um rio. Se o destino da empresa. Entidades e pessoas
dinheiro é insuficiente, as pessoas ficam precisam se preocupar mais umas com as outras.
insatisfeitas. Entretanto, aumentar a quantia de

O dinheiro não é considerado um motivador


positivo em uma empresa viva. O essencial é a
confiança mútua, a preocupação com o outro.
Parte dessa preocupação é garantir que os entrar em territórios menos conhecidos. Mesmo
profissionais entrem e saiam da empresa as firmas que não se expandem acabam vendo o
entendendo corretamente as coisas. Os novos mundo externo invadir seus territórios. Na
funcionários precisam saber que são avaliados aldeia global, é cada vez mais difícil descobrir
tanto com base em sua adequação aos valores e nichos ou se esconder atrás de barreiras. Em
princípios da empresa como por sua capacidade resumo, as empresas que funcionam como ma-
de atender às exigências técnicas do cargo que quinas de fazer dinheiro correm o risco de se
vão ocupar Em uma empresa viva, os indivíduos tornar espécies em extinção que só conseguem
contratados sabem perfeitamente que estão lá sobreviver em reservas protegidas.
para desenvolver seu potencial. Isso não
significa que têm um contrato de trabalho para
toda a vida. Quando não unem suas forças ou Conhecimento e sucesso
partilham os valores da comunidade, não podem
permanecer na empresa. Além disso, quando As empresas vivas que aprendem têm uma
chegam a certa idade, devem se aposentar. A chance maior de sobreviver e evoluir em um
liderança nas empresas vivas é exatamente o mundo que não controlam. Elas fazem sentido
oposto daquela ilustrada em uma antiga charge principalmente porque o sucesso hoje depende
que mostrava 12 diretores idosos concordando da mobilização do maior nível possível de
com a proposta do presidente de aumentar em conhecimento. Os altos níveis de tolerância que
mais um ano a idade para aposentadoria. existem em uma organização viva criam espaço
Muitos acionistas e altos executivos não estão para mais inovação e mais aprendizado. Criar
interessados em construir uma comunidade de esse espaço é vital para as empresas ricas em
trabalho que se autoperpetue. Preferem que a conhecimento e pobres em ativos, como as
empresa permaneça como uma máquina de fazer firmas de advocacia e de contabilidade, as
dinheiro para o beneficio de um pequeno administradoras de cartão de crédito e as
círculo. É uma preferência perfeitamente consultorias financeiras, cujo sucesso depende
legitima, mas é preciso ter consciência de que da qualidade da sua comunidade interna. Mas
essa decisão tem conseqüências sérias. até mesmo aquele antigo tipo de organização
Cada vez mais as empresas funcionam em um rica em ativos, como as empresas petrolíferas e
mundo que não controlam. As chances de que as montadoras, precisa embutir muito mais
uma organização possa influenciar o mundo conhecimento em seus produtos e serviços hoje
atual em seu beneficio são cada dia menores - do que há 20 anos.
como os bancos, as seguradoras - as empresas A empresa viva tem maior chance de durar mais
de telecomunicações e os fabricantes de «'e reduzir o hiato entre as expectativas média e
software estão descobrindo. Por quê? Porque a máxima de vida da "espécie". Isso é importante,
concorrência global está forçando as empresas a porque a morte de uma empresa não ocorre sem
sair de seus nichos regionais ou nacionais e custos. Todos perdem: funcionários,
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fornecedores, empresas contratadas, comunidades e acionistas.

Saiba mais sobre Arie de Geus


Arie de Geus é professor da London Business School e um dos diretores do
centro de Aprendizado Organizacional da Sloan School of Management, escola de
administração do Massachusetts Institute of Technology (MIT), de Cambridge,
Illinois, EUA.
Geus entrou para o Royal Dutch Shell Group em 1951 e se aposentou em 1989
como vice-presidente. Durante pela sua passagem pela Shell, trabalhou nos Países
Baixos, na Turquia, na Bélgica, no Brasil e no Reino Unido. Também é diretor do
Nijenrode Learning Centre, nos Países Baixos (Holanda). Seu best seller The Living
Company foi publicado no Brasil em 1998 pela editora Campus, com o título A
Empresa Viva – Como as Organizações Podem Aprender a Prosperar e Se
Perpetuar.

© Traduzido e reproduzido com autorização da Harvard Business Review. Este artigo foi
originalmente publicado com o título The Living Company, pela Harvard Business
Review, em março-abril de 1997. Copyright 1997 do presidente e dos membros do Conselho
do Harvard College. Todos os direitos reservados.

HSM Management 13 - março-abril 1999

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