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CADERNO DE EDUCACAO POPULAR E DIREITOS HUMANOS PROJETO E-DHESCA NIA € DIREITOS HUMANOS aberes BRASIL | 2013 iia Rouse Prosienta oa Replies Federatva do rast Michel Tener iee-resides da RepiblcaFederatva do Brasil aria do Rosrio Nunes Minit de Estado Chfe da Secretaria de Dirtos Humans «h Presiaincia oa Replica Patricia Bares Secreldia Exetuta de Setrtaria de Olts Humanos (i Prsisincin oa Replica ‘abr! dos Santos Rocha Seerelrie Nacional de PramacaoeDelesa des Deltas Humaras Marco Anno Jato Dirtor de Pragio dos Dries Humaras Salete M. Morera Coordenasora-Geral de Educaczo om Dirtes Humanes Giberto Carvalho Minstra-Chate Secretaria Geral ds Presiancia aa Replica Diogo de San’ Ara Secrtiic Execlvo da Seeretara-Geral da Presatnla da Replica Selvine Heck ‘Assessor Especial da Secetra-Geral da Pesca aa Replica Paulo Reberto Martins Maldos Secretario Nacion! Secretaria Nacional de Arieulagb Seca Vera Lila Lourdo Barreto Diretora Departamenta de Eduengia Popular e Mabilizagie Cad Exuipe asesores Tracer Ferrera de Moura Harel Franco rao Farah Willan Siva Bont Comes Nacional Regie Nore ‘Silvana Maria ds Santos Tomaz ‘eess de Feta Rocha Francimar Santos Jini Regio Nordese Mara Inés Matesline de Araijo Francisco Gilson Lucena ds Siva ‘Simone Andra Lourengo Regio Sudeste ‘Sandra Madalea Valentin de Souza Rosey Carlos Aususta Regio Centroeste Paulo Sérgio Mataso acquaine Chaves do Nascimento ego su Tamas Pol Sanchatene Giisclene Merle Ribeiro Faleso came Constho bitter Bernadete Mara Konzen Domingos Artin Aran Jaleo Sarts Siva Carne ‘Mauri Jost Vieira Cur Coarderadora de Prfetos Socials Daniela Telfo Ceorderador da Equipe Pedagéaica Jodo Werlang Equipe de Coordenagio Pesoséaca Claudia Andreae Maria Karam Eliane de Fata Jak CCADERNO DE EDUCAGAG POPULAR EDIREITOS HUNANOS Pradugia do Tent Calaboradaresas: ‘Alber Ribeiro Raines Beniris Gongalves Paria Beatriz Rosane Lang (ssa Regina Barbosa Carrara Araijo lala Isabe Lalkin Daniela Teo Dionéson Cio Eliane de Fata John Eurides Alves de Oliveira Eveline Olvera Hasling Fale Zanqueta Menequzi Isaura Isabel Conte Joao Werlang iKatiane Machado aa Siva cia Regina Brito Pereira Lui Felipe de Oliveira Texira Marc! Farah Marea Antoni Lite de Mello Maria do Carmo Ketan Mauri José Vieira Crue Miguel Enrique Alneia Stille Mila Cline Aivare Osvaldo Peralta Bones Paulo César Carborar Rosina Duarte de Duarte Selina Heck Tereza Maria West Veroe Vivian Misagia Wilian Bonin Edi Fina Joie Werang Maria Karam Eliane de Fata John ‘verse Comanicagio capa elusragses Fala Azevedo Fonte Dilgaggo Disgramagae Beto Fagundes Secret ide Diteitor Homanos da Presdénca da Replica Setar Comercil Sul | Quadra 9 ]Lote © dco Purge Cade Corporate| Tree A | 0" Salle DE (ceP-70308-200 Secretaria. Geral a Presidénca da Repsbli Praga don Tels Pode | Palco do Plaats | andar case raga Pare, 130] 3+ andar Porto Alegre RS Dados Internacionais de Catalagagao na Publicacao (CIP) Centro de Assessoria Multiprofissional Caderno de Educacio Popular e Direitos Humanos / Centro de Assessoria Multiprofissio- nal. Porto Alegre: CAME, 2013. 119». inclu bibliografia LDireitos Humanos 2.Educagéo 3.Direitos e deveres I.Titulo. DD 341.4 DU 342.7 Bibliotecdria Responsavel Cristiani Kafski da Silva CRB 10/1711 2013 Esta publicagio &financiada com recursos piblicos. Distribuigde gratuita Proida a verda “Tiragem de 8.000. Impresso ne Brasil 0 contaddo desta publicagio pode ser veproduzido para uso nie comercial por arganizagées da socledae civil e por instituigdespiblicas desde que hala autorizagdo das insttuigbes promtoras, parceiras « apoiadoras “Todo homem ~ ¢ toda mulher! - (em o direto de ser, em todos os lugares, reconhecido como pestoa perante ales. Independente do sexo, da cor, da idade, do credo, do pats, do grau de escolaridade ou até de grande cidadania, santos ‘0 criminosos, nenéns ou vovosinhas, sendo gente - apenas gente, todo homem e toda mulher sio pessoas, E devem ser reconhecidas como tais na vida de casa e da rua, na familia cena sociedade, no trabalho e no lazer, na politica e na religito, Também nos canaviais e nas carvosrias.Também, nas penitencigrias ¢ sob os viadutos, Diante dos olhos dos transeuntes ¢ ante as cimeras de televisio, Em todos os lugares, pois deste redondo planeta azul que éa Terra (..)~ rio é um cara; é uma pessoa, Nao é uma vagabunds; é uma pessoa. Nio é um mendigo (para brincar de fogo com ele!); ‘uma pessoa. Uma pessoa tenors Jalsa!” CASALDALIGA, 2002, p. 85 SUMARIO ApRaseNTAGho, wNOS: CONCEITOS E CONCEPGOES 3 - DOCUMENTOS UTLIZADOS KA CONSTRUGAD BO CADEBNO BINSTETUIGOES RELACIONADAS AO TEMA DOS DIREITOS HUMANOS__23 5“ EDUCAGAO POPULAR 05 DIREITOS HUMAKOS 5.1 ERDAINALIZAGKO DOS MOVINENTOS SOCLAIS~ PAULO CESAR CARBON " 5.2 DIRIITOS HUMANOS, UMA CONDIGAO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL, -MAURJOSE VIEIRA CHUZ, a 5.3 EDUCACAO EDIREITOS MUMANOS~ MARCO ANTOMO LIRIO DE MELO, a 54~ TERRA. TERRITORIALIDADE CONFLTOS~ MIGUEL ENRIQUE ALMEIDA STADILE “ piasi70 HMANO ACIBADE— Danaea YOLKO, ‘5:4 POLITICA NACIONAL DE EDUCAGAO POPULAR EM SACDE:CONTRIBUINDO COM A GESTAO PARTICIRATIVA DO SUS ~ OSVALDO PERALTA SONETTLE CASSIA BEGINA SARBOSA CARRABA ARADIO, 2 4.9 TRABALILO DIGNO? COM DIREITOS GARANTIBOM B REMUNERACAO ADEQUADA?~ALBEI AIBEIRO RAMI ‘ S12“ INTERAGKO DEMOCRATICA BNTRERSTADORSOCIEDADEGWIL-setvINoMEcR is 5.15-GARANTIA AOS FOVOS INDIGENAS DA MANUTENGAO ERESGATEDAS CONDICOES DE REFRODUGAO, ASSEGURANDO SES MODOS foweoisow cant a 5.24 IGUALDADE EPROTECAO DOS DIRHITOS DAS POPULACOES NEGRAS- m {:15- QUILOMHOE A RBStsFPNCLA DEM POVD LDctA REGINA BRITO PERERA 2 |: 8¢-LIMERDADE DE BXPRESSKO. CULO ERELGIAO ~MEATRUZ CONCALYES PaREERA, ” 5 1t-DIREITOS DAS PESSOAS COM DERCIENCIA ~ VIVIAW MISSAGUIA " S.19-VO7ES DE UMA GENTE VISVEL - ROSIN DUARTE DE DUAR LBVBLN DB OLIVEIRAHASLINGER HABIELE ZANQUSTA MENEGUZ2, ” s21-REFUGtADOS # TRAFICO DE PESSOAS REALIDADE E DEEAHOS CONTEMPORANEOS - BUIIDESAtV#s BE OLIVER, -DBSAHIOS PARA RFETVAGAO DOs DIRETTOS HUMANOS- BEATRIZ ROSANELANC 06 APRESENTAGAO amaradas, companheiros/as, educadores/as populares, hes apresentamos este caderno de edu- hptiew.mndh.o9.bef ‘Terra de Diritos hipyterradedireites.ors br ‘A Terra de Direitos atua na defesa e promogio dos direitos humanes, princpalmente dos direitos econémicos socials, cultuals e amblentals, A organizagao surglu em 2002 e trabalha com casos ‘encaminhagos por movimentos socials e organizagées da Sociedade civil que envolvam stuagées de Vilagée aos direitos humane. ‘A cauipe &farmada par assessors jurisicos populares, por uma assessoria de camunicacéo einte- ‘a colaboradores de outras areas de atuagae. ‘Onde estamos: a arganizacio incide nacianalmente nos dversos temas que trabalhae est presente na regido norte, cam atvisades em Santarér, Oeste do Para, em Curitiba eno interior do Paran, ‘e-em Brasilia, Distrito Federal Video sobre Criminalizagao dos Movimentos Socias: htipudwyoutube.convwateh?v=-roghIQuMow 5. EDUCAGAO E DIREITOS 5.2 DIREITOS HUMANOS, UMA CONDICAO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL' Mauri José Vieira Cruz* ¢ alguém te perguntasse quais so 0s direitos das pessoas, o que vocé diria? Pediria um tempo para pensar ou sairia desfilando um rosério de palavras como saiide, educagao, habitacao, tra- balho, lazer, cultura, desenvolvimento, respeito, participagao, entre outros tantos. A questio central é que definir e defender o que sejam os direitos das pessoas tém sido uma tarefa muito dificil ao longo da histéria humana, Isto porque, sejam quais forem os direitos humanos, 0s mesmos néo séo posto ai, na realidade, como se bastasse declaré-los ¢ exigi-los. As concepgdes dos direitos humanos sio uma construao histérica, que cada geragao, cada sociedade vai dando sua contribuigao, seu tom, e, porque nao dizer, vai alargando o conceito. Segundo o Professor Jacques Alfonsin, talvez a representagao mais sintética e completa do que se- jam os direitos humanos, ou direitos das pessoas, seja a realizacao de todas as condicées que respeitem garantam a dignidade humana, Fica muito claro para uma pessoa a nogao do que seja digno e, como conseqiiéncia, do que seja indigno. A exploragao de uma pessoa por outra, seja de que forma for, sempre ser indigna, porque uma pessoa se apropria, sem ter direito, daquilo que é, por direito, da outra. A acumulagao, da mesma for ‘ma, é indigna, porque nao tem 0 minimo sentido uns terem tanto que sequer usufruem de tudo 0 que ossuem ¢ outros nao terem o minimo para garantirem sua sobrevivéncia, desrespeito s diferengas por causas decorrentes da propria natureza como as caracteristicas de raga, de diferencas fisicas, de diferencas de capacidades ou de diferengas de género tampouco pode ser justificado como digno, Da mesma forma, nao se pode aceitar como critério de discriminagao as diferencas culturais ou de opgdes pessoais, que em nada atingem as outras pessoas, como sio as de credo, de orientacao sexual ou de modo de vida. Desde 1789, a humanidade vem realizando um esforgo de positivagao? dos direitos humanos. Nestes poucos séculos, tém sido conquistados avangos a passos de tartaruga. Um destes avangos € a compreensio da universalidade, integralidade e indivisibilidade dos direitos. Universalidade, porque 08 direitos sao para todas as pessoas, sem distingao; integralidade porque nao se aceitam direitos pela metade; einvisibilidade porque nao se aceita a realizacdo de uns em detrimento de outros. Isto é importante porque, nos paises capitalistas, com sua doutrina liberal, os direitos que sio defendidos pelo estado sao, preferencialmente, os direitos politicos, tais como votar, ser votado, ter di- reito 8 opinido, ter igualdade de tratamento perante o estado, entre outros. Para os paises de doutrina liberal, o mercado & quem deve proporcionar a garantia dos demais direitos. J& nos paises de doutrina social, a énfase & para os direitos sociais mesmo que, para garanti-los, seja necessério restringir os direitos politicos. Para enfrentar essa dicotomia, os lutadores ¢ defensores dos direitos humanos no mundo inteiro tem adotado 0 termo DHESCA, que significa direitos humanos, econémicos, sociais, culturais ¢ am- Tt produ ora Cadena de Foal de gees de Dacron do CAMP, 2 hoped scownbiental com epecazaao em Diets Humans pela UERGS e Excl Supertar de Minti od Undo ~ BSMPU ‘memins do Consla Diner do CAN Dear Regional da AbongRS {3 Pov mo ales juris, digi ase para 0 mun das norma, trae reps aria, Ode exerts &denominads de det oats dal ters potivar 4 5. EDUCAGAO E DIREITOS bientais, reforgando os principios da universalidade, integralidade e indivisibilidade dos direitos. Com o enfraquecimento dos estados nacionais e os fenémenos da globalizagéo que praticamente tornaram impossivel qualquer controle social sobre os grandes capitais, tem crescido muito a defesa do direito ao desenvolvimento sustentivel. Embora poucas pessoas conhecam, ja existe, deliberada pela Assembleia das Nagdes Unidas, a Declaragao sobre Direito ao Desenvolvimento, datada de 04 de dezembro de 19864 ‘Com apenas 10 artigos, a Declaracao do Direito ao Desenvolvimento trata de forma simples e cla- ra que 0 centro de qualquer processo de desenvolvimento é a pessoa e nao o lucro, que todos devem participar deste processo nao sendo tarefa apenas dos detentores do capital, e que o estado nacional é responsivel pela garantia das condiges para que isso acontega. Se bem interpretada, a Declaragao do Direito ao Desenvolvimento vai de encontro ao modelo internacional centrado no capital financeiro, no desrespeito as culturas locais e na centralizasio da acumulagio e do lucro como mecanismos de desenvolvimento, Porém, para um bom entendedor, é impossivel garantir direitos humanos, econd- micos, sociais, culturais e ambientais para as atuais ¢, principalmente, para as futuras geragSes com este modelo de desenvolvimento centrado nas grandes obras ¢ na supremacia do capital especulativo. A crise do capital - & importante que se dé este nome a atual crise porque os trabalhadores e tra- balhadoras vivem em crise social ha muitas décadas - colocou na pauta do dia dos governos de todo ‘o mundo aquilo que os movimentos sociais, através dos eventos do Férum Social Mundial, vem alat- deando desde 2001: & impossivel garantir direitos humanos com 0 atual modelo capitalista no qual 0 lucro & mais importante que as pessoas. ja, para a maioria da humanidade que tem seus direitos violados diariamente, é ampliar 0 processo de educacao politica, reforgar os lagos e aliangas entre os varios movimentos sociais de todo ‘0 mundo, produzir grandes mobilizagdes em todos os paises e nao aceitar, em nenhuma parte do glo- bo terrestre, qualquer violasao dos direitos de qualquer pessoa humana. Se a definiso do que sejam 6s direitos humanos é uma conquista histérica resultado da luta de vérias geragées, nés precisamos fazer a nossa parte. Boa luta d tod@s nés. “TGarna Forma de Agents de Deenbimcnto do CAME No Oh SAIBA MAIS. Instituto Chico Mendes de Conservacao da Biodiversidade - ICMBio 0 Instituto Chico Mendes de Conservacio da Biodiversidade é uma autarquia em regime especial. Criado dia 28 de agosto de 2007, pela Lei 11.516, 0 ICMBio é vinculado a0 Ministéeio do Meio Ambiente e Integra o Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama) Cabe ao Instituto executar as agées do Sistema Nacional de Unidades de Conserva- 40, podendo propor, implantar, gerir, proteger, fiscalizar e monitorar as UCs insti- ‘tuidas pela Unigo, Cabe a ale ainda fomentar ¢ executar programas de pesauisa, protegao, preservacao © conservacao da biodiversidade e exercer o poder de policia ambiental para a prt das Unidades de Conservagio federais. Fonte: http:jimwz.iemblo.gov.br/portal/quem-somos/o-insttuto. html Amigos da Terra Brasil 0 Nicleo Amigos da Terra Brasil (NAT/Brasil é uma Organizagao da Sociedade Civil com sede em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, que atua ha mais de 40 anos na defesa do meio ambiente Sua visdo & a de um mundo pacifico e sustentdvel, baseado em sociedades vivendo em hharmonia com a natureza, Visamos a uma sociedade de povos interdegendentes vivendo com dignidade, to- talidade e realizagio, na qual a equidade e 0s direitos, hhumanos e dos povos sdo cumpridos. Ministério do Meio Ambiente ‘0 Ministério do Meio Ambiente (MMA), criado em no- vvembro de 1992, tem como missio promaver a adocao de principios ¢estratégias para o conhecimento, a pro- tegdo e a recuperagao do melo ambiente, o uso susten- ‘vel dos recursos naturals, a valorizagdo dos servicos ambientais a inserco do desenvolvimento sustentavel ra formulagao e na implementagao de politicas pibli- cas, de forma transversal ¢ compartilhada, participa tiva e democrética, em todos os nivels e instdncias de ‘governo e sociedade. A Lei n® 10.683, de 28 de maio de 2003, que dispie sobre a organizacao da Presidéncia da Replica e dos rministéries, constitulu como rea de competéncia do ‘do Meio Ambiente os seguintes assuntos: ica nacional do meio ambiente e dos recursos hidricos; I~ politica de preservagdo, conservagae e uitilizacao sustentavel de ecossistemas, e biogiversidade e flores- tas; TIT proposigao de estratégias, mecanismos e instru- rmentas econémicas ¢ sociais para a melhoria da qua- lidade ambiental e o uso sustentavel dos recursos na- turals; IV ~ politicas para a integragdo do meio ambiente © produsio; V~polticas ¢ programas ambientals para a Amazénia, Legal; e VL zoneamento ecolégico-econémico, “ Tbama Tem como principals atribuigdes exercer o poder de po- licia ambiental; executar agées das politieas nacionais de meio ambiente, referentes as atribuigées federais, relativas ao licenciamento ambiental, ao controle da qualidade ambiental, & autorizagdo de uso dos recur- sos naturals e & fiscalizagdo, monitoramento e controle ambiental; e executar as acdes supletivas de competén- cia da Unido de conformidade com a legislagio am- biental vigente.”" (NR). Conforme Lei n® 11.516, de 28 de agosto de 2007, Cabe ao Ibama propor ¢ editar normas ¢ padrées de qualidade ambiental; 0 zoneamento e a avaliagao de impactos ambientals; o licenciamento ambiental, nas atribuigdes federais; aimplementagao do Cadastro Téc- nico Federal; a fiscalizagao ambiental e a aplicagao de penalidades administrativas; a geraglo e disseminagao de informacées relativas ao meio ambiente; 0 monito- ramento ambiental, principalmente no que diz respeito 2 prevencao e controle de desmatamentos, queimadas € incEndios florestais; 0 apoio as emergéncias ambien= tals; a execugao de programas de educacdo ambiental 5. EDUCAGAO E DIREITOS a elaboracio do sistema de informago e o estabelect- mento de critérios para a gestio do uso dos recursos faunisticos, pesqueiros ¢florestats; dentre outros. Para 0 desempenho de suas fungoes, o Ibama poder aluar em articulagdo com 0s éraaos ¢ entidades da ad- rministragao piblica federal, direta e indireta, dos Es- tados, do Distrito Federal e dos Municipios integrantes do Sisnama e com a socledade civil organizada, para a consecugda de seus objetivas, em consonancia com as, diretrizes da politica nacional de meio ambiente hntipy/awwwsibama.gow.be? Campanha permanente pelo fim dos agrotéxicos e pela vida’ htipiswww.contraosagrotoxicos.ora/ Campanha Contra os Agrotéxices e Pela Vida tem 0 objetivo de sensibilizar a populacdo brasileira para os riscos que os agrotéxicos representam, e a partir dal tomar medidas para frear seu uso no Brasil Hole Jd existem provas concretas dos males causados pelos agrotéxicos tanto para quem 0 utiliza na planta- {¢40, quanto para quem 0 consome em alimentos con- faminados. Ao mesmo tempo, milhares de agriculto- res pelo Brasil ja adotam a agroecologia e produzem alimentos saudavels com produtividade suficiente para allmentar a populagdo. ‘A Campanha Contra os Agrotbxicos ¢ Pela Vida luta por um outro modelo de desenvolvimento agrério. Por uma agricultura que valoriza a agroecologia ao invés, dos agrotéxicas e transgénicas, que acregita no campe- sinato endo no agronegécio, que considera a vida mais, importante do que o lucro das empresas. ‘A Campanha Permanente Contra os Agrotéxicos lan- {gou um abalxo assinado para banir do nasso pals 0s agrotéxicos ja banidos em outros pafses. E inaceitdvel {que 0 nosso pa's continue sendo a grande lixeira téxica do planeta, Por isso colabare: Assine a peticao virtual Balxe e Imprima o abalxo-assinade ¢ papel e comece a colher assinaturas Filme 0 Veneno esté na mes htips/www.contraosagrotoxicos.ora/index.phpifilme CCADERNO DE EDUCAGAO POPULAR E DIREITOS HUMANOS 44 5. EDUCAGAO E DIREITOS 5.3 EDUCACAO E DIREITOS HUMANOS Marco Mello! Espero encontrar-te bem ais uma vez, movido pela saudade de ti e dos teus, que teima em chegar nas horas mais inesperadas, com o coragio descompassado e a mio meio trémula, me debruco para es crever a tiesta cartinha modesta Envio daqui energias boas, desejando saiide, forca ¢ luz a todos e todas! Nao repare o jeito. Continuo escrevendo & mao ¢ s6 depois digito e corrijo! No fundo, creio que € uma tentativa de resistir & desumanizacao das méquinas ¢ uma certa nostalgia boa, para colocar os sentiments ¢ 0 afeto em um primeiro plano. Tenho pensado muito em ti, ¢ esse carinho que transborda em mais uma de nossas cartas certa- ‘mente sela nossa cumplicidade para reafirmar nossa amizade, nosso companheirismo, nossos sonhos € nossas aventuras comuns como lutadores do povo nas tantas fronteiras as quais temos desbravado, mesmo estando tio longe fisicamente. Sei que vais me responder com tuas ideias sempre instigantes e arguments generosos, com os {quais tanto tenho aprendido em nossos dislogos! Entao espero com aquela ansiedade boa tua carta. Hoje me detenho no tema da Educasio e tomo como ponto de partida sua afirmacio como um direito humano fundamental. Gostaria de saber o que pensas sobre os dilemas que vimos enfrentando nessa dura e dificil travessia Envio-te perguntas que tenho ouvido em encontros, formagdes ¢ rodas de conversas, de muitas pessoas, muitas delas simples, trabalhadoras, que nem sempre tém a polidez e a fluidez da fala articu- Jada ou palavras bonitas na ponta da lingua. Mas, veja lé, que sabedoria que elas transmitem em suas diividas ¢ inquietagoes! Nosso povo muitas vezes chega com medo escola, com um né na garganta, oolhar cabisbaixo, as ios torcidas, nervosas, com a alma despedacada e 0 coragao apertado, Mas, s6 porque as pessoas si0 pobres nao quer dizer que elas nio tenham capacidade de critica, que nao estejam gravidas de sonhos e sua alma nio seja rica em sentimentos e valores! Justamente elas, que deveriam estar no centro desse processo! Sio os deserdados da terra, os desvalidos da selva de pedra das grandes cidades, os nativos e mi grantes dos mangues, dos sertoes, das florestas, das varzeas, da periferia e do cerrado que percebem 0 quanto a escola esta longe do que precisam ¢ merecem os filhos e filhas da classe trabalhadora. Que educagao é essa em que pais pobres nas periferias das pequenas e grandes cidades se obrigam a deixar os pequeninos trancados em casa, sozinhos, em creches pagas, com avés, vizinhas ou em cuidadoras, na maioria das vezes sem formagao e estrutura adequada, por nao ter escola infantil para deixar seus filhinhos? Que educagao & essa que fecha aos milhares as escolas do campo, retirando o direito de campone- ses, ribeirinhos e quilombolas de ter o direito e o prazer de ler 0 mundo, desde o contexto de origem, ‘com as melhores lentes que a leitura da palavra proporciona? 1 Edad popular 5. EDUCAGAO E DIREITOS Que educacio é essa na qual professoras e professores nao tem sequer o direito assegurado a con- digdes de trabalho dignas, a0 piso salarial profissional da carreira, a realizarem concursos piiblicos, a horas para a formagdo em servico, a um bom plano de carreira, a comprar livros, airem a um cinema de quando em vez? ‘Que educagao ¢ essa que s6 quem tem voz ativa sao os diretores ¢ as secretarias de educagao, tao somente preocupados com indices e provas de desempenho? Que sé tem aparéncia de democritica, pois nega a palavra aos educandos, pais e comunidades locais, como se eles nao tivessem algo a dizer ¢ fossem meros objetos de vontades alheias. Que educagio & essa em que, as dezenas de milhares, nossas criangas s4o expulsas das escolas, sob a chibata impiedosa de contetidos initeis e desvinculados da realidade, empurrados por uma estrutu- raarcaica de uma instituigao envelhecida e ainda hegemonicamente voltada & producao e reprodugio da desigualdade? Que educacao é essa que faz progressdo automética dos alunos que chama de “defasados idade- -série’, como se nao tivessem o direito de aprender ¢ permanecer na escola? Alunos que, assim que completam os 15 anos, so encaminhados para a EJA, uma tiltima chance redentora, antes do trabalho duro e dificil a0 qual estao destinados os adolescentes pobres de nossas favelas, isso quando nio sto tragados impiedosamente pelo tréfico, pelas drogas, pela marginalidade Que educagdo é essa que rejeita a diversidade sociocultural e continua, de modo avassalador, a produzir a discriminagao e o preconceito de género, de orientacdo sexual, de pertencimento étnico- -racial, de geragdo, de culturas e religises? Que educagao & essa que rejeita as pessoas com deficiéncia porque presa a um ideal de “norma- lidade” inexistente, que nega o acesso, a permanéncia e aprendizado a milh6es de criangas, jovens € adultos, segregando-os e retirando-os do convivio social? Que educagio é essa que o proprio povo, em seu senso comum, cré ilusoriamente ser a redentora de todas as mazelas do mundo e meio de ascensio social individual, isolando a érvore do conjunto da floresta? Que concepsao é essa de achar que educacao integral & somente repassar recursos para ONGs ¢ 0 ‘Terceiro Setor, com voluntétios ¢ educadores terceirizados e precarizados, explorados e sem vinculo direitos assegurados, que muitas vezes fazem umas poucas atividades para gastar o tempo das crian- ‘688, sob o pretexto de “tiré-las das ruas"? Isso é o que chamam de Educagao Integral? Que educagao é essa, cada vez mais orientada pela falicia das parcerias piiblico-privadas, sob a condugao de empresas que pregam aos quatro ventos a “responsabilidade social’, o “empreendedoris- ‘mo’; 0 ‘protagonismo em direcao a empregabilidade’, que s6 se lembra da comunidade quando a quer para servigos subalternos sob o rétulo de “amigos da escola’? Que desenvolvimento econémico esse que cada vex mais engorda os ricos e penaliza os pobres? Esses que tém que se contentar com algumas migalhas que caem da mesa farta, sobre a qual se refes telam velhos e novos dominadores e exploradores, verdadeiros lobos, mal disfarcados sob o manto de cordeiros. Por que neste pais que viu nascer um Educador como Paulo Freire ¢ que faria 90 anos se ainda estivesse neste plano entre nés, ainda temos 14 milhoes de pessoas analfabetas ¢ mais 65 milhdes anal- fabetas funcionais, que nao conseguem escrever ou ler um bilhete? Veja s6: sao quase 80 milhdes de pessoas! Pessoas como eu e vocé, que sequer podem de forma singela trocar uma correspondéncia, Seremos menos humanos que os outros? Nao seremos dignos? Nao seremos gente? Nao teremos esse direito? 4s 46 5. EDUCAGAO E DIREITOS Perdoe-me pelo tom amargo ¢ por me alongar com tantas perguntas, mas elas gritam! E lutar com a palavra, com obstinagio e perseveranga continua sendo a sina dos intelectuais criticos. Nao creio que devamos desanimar, mas nao podemos tapar o sol com a peneira! £ preciso lembrar ‘que a educagao hegeménica que af esté tem servido ao capital. E ela nao nos serve. Nao queremos € nem precisamos da educacéo que a burguesia teima em nos oferecer: pobre para os pobres, orientada por métodos bancétios, cada vez mais mercantilizada e voltada & competividade, ao consumismo ¢ a0 individualismo, ‘Nao estamos s6s e tampouco essa luta comesou em nés. Lembrei-me de imediato da gloriosa Comuna de Paris. Recordas-te de nossos estudos sobre as origens da educagao socialista? Na breve, porém inesquecivel experiéncia francesa, em 1871, nossos companheiros, desiludidos pelas promessas nao cumpridas dos burgueses, instalaram uma experién- cia pioneira de um governo dos trabalhadores. Naqueles pouco mais de setenta dias, até que fossem mais uma vez sacrificados os revoluciondrios, pela primeira vez um programa de educagio publica, gratuita, aica, obrigatéria e profissionalizante foi apresentado & sociedade, a partir das ideias surgidas dos congressos da Associacéo Internacional dos Trabalhadores e das experiéncias protagonizadas por educadores progressistas de Paris. Portanto, a bandeira da educagéo universal, gratuita, laica e de qualidade nasce sob a marca da luta social e popular dos despossuidos, Passados quase 150 anos, é triste reconhecer, mas a burguesia, setores reformistas ¢ mesmo a esquerda mais comportada se apropriaram dela transformando-a em ‘um discurso vazio e liberal, distante da radicalidade na qual nasceu. Estou convencido de que precisamos aliar nossas forcas: educadores populares, educadores das redes piiblicas, associag6es e sindicatos de trabalhadores, movimentos sociais e populares, para que sob a bandeira da Educagao Popular critica, dialética e contra hegeménica, possamos dar mais uma volta vigorosa no parafuso, disputando a concepsio de educacao, tio necessaria para que avancemos na direcao de um projeto societario alternativo ao existente. Nos humanizarmos ao lutarmos por nossos direitos! His aqui uma grande ligo! Fazemos valer os Direitos Humanos toda vez que eles sio lembrados em lutas libertatias e emancipatérias, ¢ quando, sobre as miiltiplas bandeiras levantadas, alguém lembra: Direito nao é doagao, ¢ conquista! Educagao nao & mercadoria! Queremos uma Educagao que nos liberte! Precisamos de boas politicas puiblicas em educagéo. A Educagao & direito social basico, universal, vital e dever do Estado, Mas néo somos ¢ nem queremos nos confundir com o Estado. Por isso, preci- samos ter clareza na definigao de nosso projeto. Para tanto, penso que é sempre proveitosa a leitura ¢ 0 bom debate em torno dos clissicos da pe- dagogia e dos fundamentos da Educacao Popular: Anton Makarenko, Francisco Ferrér, Lev Vygotsky, Paulo Freire, Moisey Pistrak, Francois Babeuf, José Marti, Michael Apple, José Carlos Mariategui, Johann Pestalozzi, Florestan Fernandes, Bogdan Suchodolski, Ant6nio Gramsci e tantos outros. E preciso ainda conhecer as boas experiéncias que temos produzido na pedagogia de nossos movimen- tos: de mulheres, negros, indigenas, sem terra, atingidos, da juventude, de educadores, entre outros. E cultivé-las, reinventd-las, recrié-las, coerentemente Esse é um tempo que exige de nés sabedoria ¢ a0 mesmo tempo engajamento ativo. Alimentemos, portanto, a coragem rubra! Apesar de nossas dores, de nossas magoas, de algumas batalhas perdidas, sabemos que a educacao que almejamos ja viceja entre ensaios e ousadias cotidianas, em nossas mat- chas, em nossas misticas, em nossas ocupagdes, em nossos simbolos, na formagao de nossa base, em 5. EDUCAGAO E DIREITOS nossas escolas e movimentos sociais, em tantas salas de aula ¢ testemunhos daqueles que assumem a educagio como um ato de liberdade e transformacao social Nessas nesgas de futuro trabalhadores ¢ trabalhadoras de todas as idades, culturas e eredos tém se revigorado ¢ fortalecido através da redescoberta da importincia da organizacao coletiva e do respeito formacio humana. Ali, tém se alimentado do pio sagrado dos saberes ¢ da meméria ancestral ¢ re- belde de nossa gente e bebido da agua purificada da justica social. Nossa classe ja cunhou referéncias de que a Educagao que queremos & mais do que escola, que & mais que ensino, que & mais do que professor e conteiido no livro-texto, Mas ndo nos enganemos, somos espiritos antigos que trazemos conosco um pouco da humanidade e muito dos limites de nos- sa propria formagio, e educar para a superacio do egofsmo, do orgulho e da ignorancia é tarefa que atravessard ainda virias geracées. Havers oficio mais sagrado que esse? Educar pessoas, educar as gentes de nosso povo para “ser -mais’, em suas infinitas possibilidade de desenvolvimento e felicidade? Havers tarefa mais nobre (¢ ‘mais dificil) do que Educar pelo exemplo e pela prética? Educar para a apropriagio e producao de conhecimentos emancipatorios? Educar, desde cedo, os pequeninos para a justica social? Educar para uma nova consciéncia do viver em coletividade, através da cooperacio ¢ da autogestio? Educar para a sustentabilidade planetéia desde um outro modelo de desenvolvimento? Havers? Creio que nao! Quando termino esta carta, cai uma chuva prazenteira sobre o pampa. Estamos no inicio da pri- mavera, © cheito de terra molhada, o vento a balangar a copa das arvores aqui do patio, os sabids procurando um lugar para o abrigo seguro parecem sinais da transformagao que est em curso. Hi muito a fazermos no bom combate na diresio de uma Escola Piiblica Popular! Saudades de ti e do muito que ainda faremos juntos Forga e Luz Um abraco forte e acolhedor deste camarada que tanto te estima. a 48 5. EDUCAGAO E DIREITOS 5.4 TERRA, TERRITORIALIDADE E CONFLITOS Miguel Stédile! Verandpolis, agosto de 2013 Caros Amigos, screvo-lhes desde a minha casa, de perto da minha gente, desde aqui... da minha terra. "Minha terra” nao porque seja minha propriedade, porque seja “minha’. Ao contrario. E “minha terra’ porque eu que pertengo a ela, pois foi aqui que me criei, aqui que eu vivo, onde moram meus parentes, onde estio meus amigos. Para quem vive e sobrevive da terra, a terra é mais do que terra. Ela nao ¢ 0 espago entre duas ccercas, Ela nao é um pedago de chao. Pensem: quando uma familia de agricultores descobre que suas terras serdo alagadas para serem dadas a uma barragem de uma grande hidrelétrica ela estd perdendo apenas a sua terra? © pedago de chao ea casa nao s4o as tinicas coisas que sto alagadas, Esta familia perde a sua terra, o seu lugar no mundo. Uma comunidade quilombola nao sabe dizer onde comega e onde terminam suas terras. Nao é aque eles nao saibam dizer. E que ela nao termina. Para os quilombolas, tudo é parte da comunidade: a casa, o lugar de encontro, a mata que cerca, a vida no entorno. ‘Uma vez vi um jornalista perguntar a um jovem indio Guarani: “o que tu, que ¢ do Espfrito Santo, estés fazendo aqui no Rio Grande do Sul?” E o indio respondeu: “Para nés, nao existe Rio Grande do Sul, Espirito Santo, Paraguai, vocés que criaram fronteiras, levantaram cercas, disseram 0 que passa, 0 {que nao passa... para nés, nao, Para nds, tudo ¢ territério guarani’ Assim é para quem vive na terra ¢ da terra. Ela é mais do que um lugar, é um territério, ¢ uma comunidade. Ela nao pode ser apenas uma propriedade e ela nao pode ser, de maneira alguma, uma mercadoria, Algo que tem prego. Mas essa ideia entra em rota de colisto com o sistema que organiza e dirige o mundo, o sistema capitalista. Para o capitalismo, ao contririo, tudo tem seu prego, tudo pode ser vendido, tudo é mer- cadoria. A comida, a égua (ser que nosso avés imaginavam que nos nossos dias a 4gua seria vendida em garrafinhas por uma empresa de refrigerante?), as células-tronco, o sangue, 0 amor... imagine algo ‘e me diga se o capitalismo j4 néo pensou em uma maneira de vender e comercializar? E desta forma, tem sido com a terra. Nos iitimos anos, 0 Brasil tem sofrido uma espécie de ata- ‘que: muitos banqueiros estrangeiros tem comprado terras no nosso pais. Na maioria destas terras, nao produzem alimentos, mas produtos que interessam ao mercado internacional: eucalipto para fabricar celulose e papel, porque aqui eles crescem mais répido; cana-de-agticar para fazer etanol ¢ alimentar ‘08 cartos; soja, que é vendida tanto para combustivel como para fabricar rago para animais na Euro- pa. Nada disso ¢ alimento, nada disso fica aqui Na televisio, esta produgao aparece como algo moderno e poderoso: gigantescas mquinas co- Iheitadeiras atravessando o campo. Jé percebeu que nunca hi ninguém em volta? Porque nesta forma de organizagio da agricultura e da terra nao ha espaco para as pessoas, para os seres humanos. 0 a- 1 Nite do Movimenta de Trababadors Rais Sem Terra (MST) 5. EDUCAGAO E DIREITOS ‘minho para quem vive da terra acaba sendo a cidade. Quantos de nés nao viemos do interior, quantos dos nossos vizinhos nao passaram por isso, quanta gente teve que deixar a sua terra? Mas as consequéncias disto nao estio apenas no campo. Por pagarem tanto pela produgio destes produtos - celulose, soja ¢ etanol - estes banqueiros induzem os agricultores a investirem nestas areas abandonarem a produgao de alimentos, Em Sio Paulo, jé esté comprovado: as lavouras de feijao diminu- fram 50% e foram substituidas por canaviais para produgio de etanol, Mais combustivel, menos comida, Se perguntarmos, ficaremos surpresos ao descobrir que o arroz nosso de cada dia vem da China 0 feija0 do México, Nao somos mais capazes nem de produzir o que comemos. F um povo que depen- de de outro para comer é uma espécie de escravo. Essa forma de agricultura, chamada agronegécio, também utiliza pesadas quantidades de agroté- xicos. E por conta disso, o Brasil, nos iltimos anos, tornou-se o segundo maior consumidor de agro- téxico do mundo. E pior: pesquisas de universidades brasileiras encontraram residuos de agrotéxico até no leite materno! Ou seja, a comida contaminada da mae chega até ao filho. Mas ha quem resista a este modelo. Sao milhares de camponeses e camponesas, indigenas ¢ qui- lombolas que lutam para permanecerem nas suas terras e produzirem alimentos para os trabalhadores ¢ trabalhadoras. Por que temos visto tantas reportagens sobre a demarcacao das terras indigenas? Porque estas grandes empresas financiam deputados ¢ veiculos de comunicagéo para que os indios percam suas terras e nela o agronegécio possa produzir mais soja, eucalipto e cana. Por que as grandes hidrelétricas estao sendo construidas no norte do Brasil? Porque la estao as empresas de mineragao ‘que precisam de muita energia para transformar o minério em ago para exportaso. F 0 que fica para os brasileiros e brasileiras? Porém, quando os trabalhadores da cidade e do campo se juntam, é dificil segurar esta forca, ‘Vejam, aqui no Rio Grande do Sul, os camponeses ¢ os metalirgicos resolveram fazer uma luta con- junta: 0s agricultores exigiam melhores condiges para produzir e os metakirgicos exigiam refeitérios nas fabricas com alimentos organicos, sem veneno. Esta luta conquistou um projeto chamado Plano ‘Camponés que iré produzir e distribuir alimentos nos principais centros urbanos. Hoje, fruto desta unio, sio mais de 40 mil familias na regido metropolitana de Porto Alegre, organizadas nos Comités do Fome Zero ou pelo Movimento dos Trabalhadores Desempregados que ja recebem alimentos de qualidade e saudaveis produzidos pelos camponeses. Despeco-me pedindo que pensem em nds. Nao em nés que vivemos no interior, Em nds, traba- Ihadores do campo ¢ da cidade. De onde vem nossa comida? Que qualidade ela tem? O que nossos filhos vio comer? Ftanol, ragio, celulose ou veneno? Nossas lutas, nossos desejos so mais préximos do que imaginamos. Lutamos por isto, Soberania Alimentar, o direito de um povo decidir o que produzir e de que jeito, Porque aqui é a nossa terra, 0 nosso territério, e todos nés chamamos ele de Brasil, um lugar em que produzir e comer comida com qualidade deve ser um direito. Forte abrago, “0 50 5. EDUCAGAO E DIREITOS 5.5 DIRETTO HUMANO A CIDADE Daniela Tolfo! 0 Direito @ Cidade “.. é0 direito de mudar a cidade mais de acordo com o desejo de nossos corasées (...) a questo do tipo de cidade que desejamos é insepardvel da questao do tipo de pessoas que desejamos nos tornar. A liberdade de fazer e refazer a nds mesmos e a nossas cidades dessa maneira é um dos mais preciosos de todos, 0s direitos humanos.” (David Harvey, A Liberdade da Cidade, Revista Urbania chiip:liwwncirte-esferapibica.org/tpage_id=8>) udar o local onde vivemos de forma planejada & um atributo do ser humano, Podemos mudar, porque o lugar onde vivemos ¢ produto de nosso trabalho ¢ das relagbes hhumanas as quais, até hoje, foram e s4o pautadas pelos principios do capitalismo: lucro, individualismo, consumismo e exploragao do trabalho, Este sistema produziu, através de rds, as cidades, aglomerados urbanos cada vez mais densa e desigualmente ocupados. No caso brasileiro, as cidades foram produzidas através do modelo escravocrata, abolido ha apenas a 125 anos. Este modelo gerou e gera enormes ¢ miltiplas desigualdades. O autor Mike Davis, xa obra Planeta Favela revela: “Esses padres polarizados de uso da terra e de densidade populacional recapitulam légicas mais antigas de controle imperial e dominacao racial, Em todo o terceiro mundo, as elites pés-coloniais herdaram e reproduziram com ganincia as marcas fisicas das cidades coloniais segregadas. Apesar da retdrica de libertagao nacional e justiga social, adaptaram com agressividade ‘© zoneamento racial do periodo colonial para defender os seus préprios privilégios de classe cexclusividade espacial’. (p. 104) Segundo o Censo do IBGE 2010, 84,4% da populacio brasileira vive em Areas urbanas, Dados do Programa Habitat da ONU, revelam que 52,3 milhées de brasileitos ~ cerca de 28% da populagao - vivem nas 16.433 favelas cadastradas no pafs, contingente que chegaré a 55 milhées de pessoas em 2020. ‘Como mudar este cenario? Como qualificar a vida das pessoas nas cidades, principalmente dos {que vive em condigdes precérias sem saneamento bisico, em areas de risco, sem a posse do terreno, sem transporte publico ou reas de lazer? A historia da luta pelo Direito & Cidade no Brasil vem do periodo de redemocratizacao brasileira, partir de meados dos anos 1980, © Movimento Nacional de Reforma Urbana (MNRU) “possibilitou a rearticulagao de organizacoes da sociedade civil na luta pelo combate & exclusio e as desigualdades nas cidades em torno de uma plataforma da reforma urbana e do direito & cidade” (Revista FASE, artigo de FERREIRA, p. 36). © MNRU conseguiu incluir das Emendas Populares propostas 0s artigos 182 e 183 na Constituigao Federal, os quais garantiram dois principios fundamentais: a fungao social da propriedade e a fungao social da cidade 1 Gietita Scia eCaondenadora de Projets Soi do CAMP 5. EDUCAGAO E DIREITOS Entramos na década neoliberal, os anos 1990, com governos privatistas ¢ clitistas. Ea regulamentagio destes artigos - um detalhamento dos principios e das ferramentas para sua efetiva implementagao ~ s6 veio em 2001, com o Estatuto das Cidades (Lei n* 10.257) © Estatuto das Cidades define as diretrizes ¢ uma série de instrumentos legais para que os municipios planejem ¢ executem politicas urbanas com a finalidade de desenvolver as cidades de forma justa ¢ equilibrada, buscando minimizar as desigualdades produzidas até entao. O principal meio para isso é 0 Plano Diretor, que cada municipio brasileiro com mais de 20 mil habitantes tem a obrigagao de elaborar por meio da participagio direta da populagio. O Ministério das Cidades, criado em 2003, elaborou um Programa em 2005 que ratificou um dos principios da politica urbana: a participacao, através da Campanha Nacional “Plano Diretor Participativo: Cidade de Todos”. © Conselho das Cidades teve papel central na elaboragao do Programa, O objetivo foi incentivar as cidades a elaborarem ou reelaborarem seus Planos Diretores desde uma perspectiva participativa, introduzindo as ferramentas que viabilizassem a reforma urbana. Segundo Pesquisa do IPPUR (Instituto de Pesquisa ¢ Planejamento Urbano ¢ Regional da UFRJ) feita em todo ‘© pais com o apoio do Ministério das Cidades, os municipios introduziram principios e instrumentos recomendados, porém a implementagao segue sendo minima, inclusive pelo fato de que alguns instrumentos exigem posterior regulamentacao. © que percebemos diante deste cendrio? Uma das questées é a de que o Direito & Cidade obteve alguns avancos importantes no campo legal, mas vemos poucas mudangas de fato, Por isso, tanto movimentos e pesquisadores do tema colocam que ainda hi um enorme abismo entre a “cidade legal” ea “cidade real’ Ea realidade tem sido ainda mais dura para a “cidade real” nos iltimos anos devido ao inicio das obras para a realizacao de eventos como a COPA e as Olimpiadas. A execucio de grandes obras vidrias e estadios de futebol, por exemplo, tem atingido frontalmente o direito & moradia de quase 200 mil familias nas 12 cidades-sede da COPA. O que temos visto ¢ combatido: muitos governos tém aproveitado para “limpar” territérios de favelas e comunidades. O Rio de Janeiro ¢ um dos mais atingidos, visto que If ocorrerio COPA e Olimpiadas. O “Rio de Remogoes” esté em conflito constante. Muitas familias jé foram arbitrariamente removidas para locais distantes dos Morros até entio ocupados, como o da Providéncia, Tantas outras estéo morando de aluguéis sociais ou bolsa aluguel. Enfim, este contexto colocou em cheque imimeras conquistas legais, Por outro lado, a resisténcia e busca por direitos ampliaram-se ¢ eclodiram com forga em junho de 2013 quando milhares de brasileiros foram 4s ruas. A pauta inicial foi o Passe Livre no transporte piiblico, mas logo se ampliou para a critica aos enormes gastos com as obras da COPA e diminuigio dos investimentos em satide, moradia, educasao. Hoje, cada cidade sede da COPA tem um Comité Popular que organiza as mobilizagées frente as consequéncias das obras, cobra do poder publico a construsao de alternativas para a manutensio do direito & moradia ¢ & cidade dos atingidos, faz diagndsticos e abre processos junto aos Ministérios PAblicos. A mobilizacao tem sido grande, os resultados nem tantos. Um ponto importante neste contexto é a retomada do debate em torno de qual cidade queremos. Construimos uma legislac4o avangada, conquistamos alguns direitos, mas as cidades que temos nao estao sendo feitas com 0 coragéo, como nos disse Harvey. O motivador principal ¢ o bolso, o lucro, As mobilizagdes populares tém mostrado que a cidade que queremos deve ser pautada por relagies solidérias, nao mercantilizadas, Moradia néo pode mais ser mercadoria. 5! ‘CADERNO DE EDUCAGAO POPULAR E DIREITOS HUMANOS 5. EDUCAGAO E DIREITOS ‘Combater esta cidade voltada para os carros, para os shoppings, para o consumo ¢ oindividualismo passa por conseguirmos construir uma proposta de cidade focada no ser humano, na natureza, na valorizagao do bem piiblico, na diversidade da ocupacao dos espacos urbanos, entre outros fatores. Entretanto, temos claro que conseguir propor, cativar mais pessoas ¢ mesmo instituigdes para este outro modelo de cidade ¢ algo que precisa mexer com a cultura e com os habitos que nos foram impostos, ‘os quais a grande maioria da populagao sente como naturais. Desnaturalizar, problematizar, criticar a situagao vivida ¢ tarefa dificil, mas nao impossivel. A Educagao Popular, como uma metodologia que problematiza a realidade vivida, questionando as relagbes sociais que vivemos, nos oferece lentes ¢ ferramentas para isso, Articular a metodologia da Educacdo Popular com as lutas pelos direitos humanos aliada com as novas formas de organizacio, como a que se estrutura através de redes sociais, pode ser uma mescla que far o caldo da luta social engrossar. Momentos de crises so também oportunidades. Parece que estamos vivendo um momento assim novamente, entdo, avante e coragem! SAIBA MAIS Links: Portal Popular da Copa e das Olimpiadas: Dossié da Articulagao Nacional dos Comités Populares da Copa: tp /comitepopularifles.wordoress.com/2011/1afdossie_violacoes_copa_completo.pdf> Férum Reforma Urbana: DObservatdrio das Metrépoles: ‘Observatdro das Metrépoles/Pianos Diretores Participative: ~ltp:iwwa-observatoriodasmetropoles.netplanosdiretores!> tps:tavn facebook. convMovimentoPassLivrempl?fref=ts> 5. EDUCAGAO E DIREITOS 5.6 ALIMENTO, UM DIREITO HUMANO NATO Claudia Lulkin' ivemos um momento muito especial, quando estamos colocando em xeque a sociedade e nos empoderando como movimentos populares por direitos bisicos, ‘Todo cidadao tem direito a alimentar-se, uma condicio de sobrevivéncia ébvia. Porém no grande jogo de interesses econémicos conquistar esse direito basico depende de uma caminhada coletiva A soberania alimentar ¢ um principio que diz respeito ao direito que os povos tém de definirem suas politicas sobre o qué produzir, para quem, em que condicdes. Sementes livres, terra para quem ela trabalha, organizacdes associativas, solo e 4gua limpas que geram alimentos ¢ relagdes sociais saudéveis s4o os caminhos. Mas quando estamos sob o dominio da grande cadeia produtiva global que prope ao Brasil 0 papel de maior produtor de carne e da produgao de graos para a alimentagio dos rebanhos, grios produzidos em MONOCULTURA com alta carga de agroquimicos e transgenia, promovendo um ‘Cédigo Florestal que permite desmatamento de florestas ricas em recursos também alimentares e incentivando a massiva industrializagao de alimentos, é negada a0 povo uma alimentasao saudavel, limpa e realmente nutritiva. ‘A “estrangeirizacao” dos costumes alimentares cria uma contradi 10 cultural. Em vez do gostoso e utritivo arroz.com feijao, o macarrao instantinco, o cheeseburguer na correria, o suco de caixinha (0 paladar fica viciado pelos aditivos quimicos e as deliciosas frutas brasileiras, por exemplo, ficam perdidas na “roca’ Segundo Otacilio Alves Teixeira, Delegado do MDA em Goits, em palestra aos agricultores familiares em Campos Belos, nordeste goiano, no dia 8 de outubro de 2013, o Estado Brasileiro responde s pressdes dos movimentos populares criando politicas publicas mitigadoras para superar a “permanente contradig4o econdmica do Estado Brasileiro” ¢ apoia os pequenos agricultores, os extrativistas, os indigenas, os quilombolas. © PNAB, Programa Nacional de Alimentacdo Escolar, criado nos anos 30, um dos maiores programas do mundo em alimentasao escolar publica, com fungao de garantir parte das necessidades alimentares dos estudantes, tem hoje a Lei 11.947 de 16/06/2009 que garante que a compra de, no ‘minimo, 30% do valor repassado as escolas “deverdo ser utilizados na aquisicao de géneros alimenticios diretamente da agricultura familiar, priorizando assentamentos da reforma agraria, as comunidades tradicionais indigenas ¢ comunidades quilombolas” fortalecendo, entao a organizacao popula. Outro mecanismo importante é 0 PAA - Programa de Aquisi¢ao de Alimentos, pelo decreto 6447/2008, regulamenta o art. 19 da Lei no 10.696, de 2 de julho de 2003, que institui o Programa de Aquisigao de Alimentos. Art. 30 Grupo Gestor definiré: I~ as modalidades de aquisicao dos produtos agropecusrios destinados & formagao de estoques estratégicos e As pessoas em situagio de inseguranca alimentar, inclusive para o atendimento da alimentagao escolar, OPAA garantea compra de alimentos da agricultura familiar para projetos sociais, dando atengao T Nine svete edacadira ppoar€ presente do Conca de AlimentpanExla: Nutioiata na Serara de Eduapi profsoradocnto Cn Cerrado em Alto Pra de Gide Seufocodetraatho 0 stnal dorpaningto da aye fn pla Sepang Alen cal 53 8 g 2g z 3 38 5 3 2 2 8 3 3 s 8 9 2 3 3 5. EDUCAGAO E DIREITOS ‘0s grupos em inseguranca alimentar. Reconhecendo também 0 avanco dos movimentos ecolégicos ¢ da matriz.de producao agroecolégica, o Estado articula um modelo de produgio agricola agroecolégico ‘que nao seja um simples nicho de mercado, mas uma forma de sustentar as necessidades por alimentos das populagoes urbana e rural, com comércio justo, participagao popular, boas condigées de trabalho ‘eem harmonia com a natureza, ‘Também como resposta a precarizacéo do trabalho, fundamental para a obtengao da RENDA que permite a COMPRA DE ALIMENTOS, hé no Brasil um movimento pela Economia Solidaria, uma resposta social por formas alternativas de trabalho e renda, reutilizando a cooperagao eo mutualismo como valores sociais e democraticos, denominados agora de “economia solidéria’, Tema discutido no Forum Social Mundial de 2002, recebeu uma Secretaria Nacional de Economia Solidaria Ministério do Trabalho e Emprego, em 2003, Caminhando e cantando ¢ seguindo a cangao, vamos pelo Brasilzio trocando sementes crioulas, levantando bandeiras e semeando o chao, fazendo compostagem ¢ hortas nas escolas, aproveitando todo cantinho e colocando flores, chupando manga, mangaba, cagaita,limio, plantando o caramanchio de maracujés, plantando e colhendo o milho ¢ o feijao, tomando o chazinho com as bisas, rezando 0 Sao Francisco, ao Cosme ¢ Damiao, dangando nas rodas ¢ cozinhando nosso pao, nosso pinhao, sagtado, didtio, nas cozinhas-escola, nas cozinhas comunitérias, nos Restaurantes Populares, nas festas coletivas, coloridas, A BONITEZA das conquistas vai se dando no cotidiano. As certezas vem dos encontros nas caminhadas....no esquentar dos coracées. Sabemos desse BRASIL RICO, diverso em alimentos, em biomas, em florestas deslumbrantes, em pessoas, em culturas, em antigas priticas tecnolégicas simples e bem sucedidas, em palavras ditas com 08 sotaques diversos. E é a isso que nos dedicamos, buscando todo dia solucionar entraves que nos permitam comer ‘uma gostosa comida local, valorizando este rico solo e fortalecendo nossas ideias juntos com os amigos de caminhada. SAIBA MAIS. 0 Conselhio Nacional de Seguranca Alimentar e Nutricional (CONSEA): O Consetho Nacional de Sequranga Alimentar e Nutricional (CONSEA) é um instrumento de articulacéo entre governo e sociedade civil na propasigdo de diretrizes para as acées na drea da alimentagao e nutricdo. Instalado no dia 30 de janeiro de 2003, o Conselho tem cardter consultivo ¢ assessora o Presidente da Repiblica na formulagdo de pollticas ‘ena definigao de orientagies para que o pais garanta o direito humano & alimentagao. 0 CONSEA estimula que a sociedade participe da formulagao, execugéo e acompanha- mento de pollticas de Seguranca Alimentar e Nutricfonal. Considera que a organizacao da sociedade é uma condigéo essencial para as conquistas sociais e para a superagao definitiva da exclusio. A partir das resolugdes da II Conferéncia Nacional de Seguranga Alimentar e Nutei- cional realizada em margo de 2004, 0 CONSEA trabalha sobre diferentes programas, come a Alimentagéo Escolar, 0 Balsa Familia, a Aquisigéo de Alimentos da Agricultura Familiar, a Vigilancia Alimentar e Nutricional, entre outres. Site: htipyiwaw2.planalto.gov.br/consea 5. EDUCAGAO E DIREITOS 5.7 AGRICULTURA FAMILIAR E CAMPONESA E A AGROECOLOGIA Isaura Isabel Conte! objetivo deste breve texto & categorizar/situar a agricultura familiar e a agricultura camponesa, enfocando também a agroecologia. Assim, serio pontuados pontos de convergéncia e de divergéncia entre essas duas formas de fazer agricultura, desde ja sublinkando que ambas se inscrevem como pequena agricultura e, portanto, nisso divergem do sistema patronal/agronegécio, baseado em grandes extensoes de terra, em, geral tomadas por apropriacao ¢ grilagem, heranca do Brasil colonial que permitiu e vem permitindo a concentragio fundiéria, Em termos conceituais legais, o que se tem e é reconhecido majoritariamente é0 termo agricultura familiar, cuja delimitacao ¢ de até quatro médulos rurais fiscais, o que vale também para a agricultura ‘camponesa. Logo: em termos de programas e politicas que se destinam & agricultura familiar, lela-se que se destinam também para a agricultura camponesa, visto que este tiltimo conceito é rebuscado € reutilizado no Brasil pelos movimentos ¢ setores que compdem e apoiam a Via Campesina’, A agricultura patronal, baseada em trabalhadores assalariados, ora se inscrevendo como agronegécio, nao tem delimitagdo de quantidade de terra e essa é uma das lutas e das oposig6es entre a agricultura familiar e camponesa versus 0 agroneg6cio. De acordo com a Emater (2008), até a década de 1930, praticamente nao havia nenhum tipo de incentivo A agricultura familiar, entendida como pequena agricultura. Entre o perfodo de 1930 - 1965 foram criadas instituigSes como 0 Conselho Nacional do Café (CNC); 0 Instituto do Agiicar e do Alcool (IAA); a Carteira de Crédito Agricola (CREAN), pertencente ao Banco do Brasil e & Companhia de Financiamento da producao (CFP). ‘Todas essas foram criadas até o ano de 1943 ¢, percebe-se que so instituigdes voltadas majoritariamente para grandes produtores aptos a acessarem os sistemas de crédito existentes, Na década de 1950, foi fixado o prego minimo para produtos como arroz, feo, amendoim e girassol, e hi uma tentativa de se fazer reforma agraria por parte do entao presidente Joao Goulart, que é impossibilitado pelo golpe militar De acordo com a mesma fonte, entre os anos de 1965 a 1985, na chamada fase de agricultura de modernizacao — no periodo ditatorial ~ é investido fortemente em créditos/empréstimos inclusive para a pequena agricultura. Sao criadas a EMBRAPA e a EMBRATER e retirada a obrigatoriedade de ‘0 governo comprar a producio pela AGF (Aquisigao do Governo Federal). Nesse momento hé entrada 1 Dotoranda em Educa pola Universidade Federal dora Grande do Sul (UPRGS) na ln de psp Tabula, Fag « Movimentor Scns Bolata CNPQ.nauaconte@yaboa com be 2.0 ml rural aria eo longs do Bras cnforme pone predativa der Nos Estados do ul wn ml eo era fe ‘end exec maior em tert Amazoic rales aonde wn mul pode cag a matt de 120 ba 1-204 30ha, 53 Be asco Cot Martin Don 209 Va Campesine dR Grande dS sri "sfciaart” por cid prime im Sel Mn ‘al acon i havi els esableridr aa conta entre or maviments da capa No momenta aun tr seuintes Organizer, Movimento det Trabahadores Runs Sem Tera (MST) Moviment des Atingios por Baragens (MAB), Corie Patra da Tora (CPD) Moves de Mulerer Camponear (MMC) Msviment de Pequot Agios (MPA); Pastoral da faventude Rural (P78) ederao os esudantes de Agroomsa (FEAB) Val reso ue enquan Organiases de mera dos moviments ists quao do Movimento de eres Tabthadoras Ruri (MMTRIRS que vis ser © MAIC) hava acne de ae pata conus epcaiete pela Atala Nacional de -Muthere Tabathadoror ras ANTE), gual aguinve muhers de vie movimento populares canponere end enitentes no Bra dead tno de cada de 80. De cord co Rbes (2010, Via Capen ue movimento iternaial frdads om Mons ee, 1993, ue comet rgniarss orcas mulheres rua comunidades mdgenas da Ava Afi Americas Europa, Bem moviments past ormado por ogenasaes ss 56 5. EDUCAGAO E DIREITOS do pacote da Revolugao Verde no Brasil, amarrando o acesso a crédito & compra obrigatéria de insumos (adubos/fertilizantes ¢ agrotéxicos) junto a oferta de maquinas como tratores ¢ colheitadeiras com seus acessérios (pé-de-pato, grade, plantadeiras etc.) e a um sistema de assisténcia técnica perpassado pela ASCAR/EMATER. 0 Programa de fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAE) vai surgi no ano de 1996. Essas consideragdes situam a agricultura familiar, inclusive nao reconhecendo ¢ banindo o termo agricultura camponesa por parte da ditadura militar, por causa das lutas por acesso & terra, especialmente ocorridas no Nordeste entre as décadas de 1940 ¢ 1950. Desse modo, utiliza-se 0 termo agricultura familiar, e assim € que é reconhecida como categoria especial de trabalho dos ‘Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais na CF/1988, Com o neoliberalismo implantado no Brasil na década de 1990, seguem as politicas da agricultura familiar cada vez mais ditadas pelo Banco Mundial FMI, na tentativa de ‘inserir os agricultores aos mercados, via sistema de crédito, com um modelo de agricultura dependente de sementes hibridas desde a década de 1970 ¢ dos anos 2000 em diante, com a imposi¢ao dos transgénicos, especialmente soja ¢ milho na pequena agricultura Conforme jé pontuado, o termo agricultura camponesa é retomado pela Via Campesina por volta do ano 2001, rememorando as Ligas, mas também fazendo dura critica ao que se fez com a chamada agriculta familiar, que endividou ¢ expulsou milhares de familias do campo. Junto a isso, assume-se a luta direta contra 0 agronegécio, percebendo-se que a tentativa de conciliagao, entendida como modernizagéo da pequena agricultura, o agronegocinho ~ agronegécio em pequena escala - nao é viével para os pequenos, pois os poe como empregados de grandes induistrias e capitais no campo. Entdo: a agricultura camponesa faza critica ao agronegécio eao modelo de agricultura dependente. E baseada na diversidade da producao com mio de obra familiar, sem negar a insergao aos mercados, ‘mas nao mercados quaisquer e, por isso, sdo importantes os mecanismos estatais de regulacio. Afirma que embora nao sejam os mais empobrecidos, os Camponeses nao 0 sio. © termo agricultura familiar foi criado pelo BM rumo ao desenvolvimento do capital no campo ¢, em contraponto, a Via, foi construindo outro conceito na luta por ver que os camponeses iam em lum outro rumo, que nem todos produziam e produzem monocultivos para os mercados. Nem todos os agricultores sio capitalizados, integrados e bem sucedidos no sistema, como quer compreender ‘© conceito de agricultura familiar. Os camponeses centralmente produzem diversidade, buscando ampliar o modo de producao agroecoldgica, sendo que essa a produgao de alimentos, no somente de subsisténcia. Para a agricultura camponesa, a Reforma Agraria nao saiu e nao sai de pauta e é fundamental para a recampezinizacao. O desafio é construir a agricultura camponesa nio como reforma, mas como projeto, com participacao do Estado e, assim, é possivel ir deixando de lado a chamada forma “convencional” de produgao, baseada em agroquimicos e maquinaria pesada e, de outra maneira, fazer como sistema e modelo de produgao a agroecologia. A agroecologia, baseia-se em processos ¢ técnicas naturais para se fazer a produgéo, a0 contrério da chamada agricultura convencional que aposta em quimicos para forcar a natureza dar até aquilo que nao poderia, sugando ao maximo os recursos naturais, contaminando o ar em nome da quantidade de producao em vista do lucro. A agroecologia busca respeitar os ciclos da natureza ¢ seus componentes integradores, inclusive colocando os seres humanos como parte dependente e nao superior & natureza, Deste modo, trabalha-se sempre com formas integradas de produgao, pois o equilibrio do ambiente se da desta forma, na interdependéncia dos organismos vivos € nao vivos, conjugando plantas, 5. EDUCAGAO E DIREITOS nutrientes, animais, minerais, 4gua, solo, luminosidade (sol) ¢ seres humanos. Todos estes compoem abiodiversidade e, por este motivo, nao hé como falar em agroecologia se se aposta em monocultives. A agroecologia estabelece uma ética ecolégica global. Quem assume esse jeito de produzir alimentos precisa necessatiamente abandonar a moral utilitarista, individualista ¢ depredatéria, Assim, nos coloca na construcao de principios universais de justiga, solidariedade, respeito e partilha ‘como valores indispenséveis & nossa vida. Na agroecologia, a agricultura é vista como um sistema vivo e complexo, inserido na natureza rica em biodiversidade — virios tipos de plantas, animais, microrganismos, minerais e infinitas formas de vida que estabelecem relages entre estes ¢ todos os habitantes do planeta Terra. A agroecologia, entio, diz respeito 4 terra, a produgio, A preservagio do ambiente com responsabilidade social e também politica e econdmica. E um sistema de produgao que procura imitar ‘0s processos como ocorrem na natureza, evitando romper o equilibrio ecol6gico que da a estabilidade aos ecossistemas naturais. SAIBA MAIS Articulago Nacional de Agroecologia (ANA): ‘A criacdo da ANA deu-se em dezembro de 2002, ap6s 0 primeira Encontro Nacional de Agroecologia - I ENA, que foi realizado na cidade do Rio de Janeiro, em agosto desse ano. Esse Encontro refletiu a actimule de varias anos das organizagées da sociedade civil nna promocéo do desenvolvimento sustentével da agricultura A Articulagio Nacional de Agroecologia (ANA) retine mavimentos, redes e organizagées engajadas em experiéncias concretas de promocdo da agroecologia, de fortalecimento da producao familiar e de construcao de alternativas sustentveis de desenvolvimento rural (0 papel da ANA nao é o de formular executar estratégias de forma centralizada, nem 0 de substtulr, se sobrepor, coordenar au Interferir na autonomia das diferentes redes e oF anizacées. A existéncla da ANA exprime-se e justifica-se pela necessidade de interagdo fe mitua fecundagao entre essas redes e organizacbes para que, juntas, possam construlr crescentes capacidades de influéncia nos umes do desenvolvimento rural no Bras Site: CCADERNO DE EDUCAGAO POPULAR E DIREITOS HUMANOS ‘CADERNO DE EDUCAGAO POPULAR E DIREITOS HUMANOS 58 5. EDUCAGAO E DIREITOS Politica Nacional de Agroecologia: DEGRETO N° 7.794, DE 20 DE AGOSTO DE 2012. Em seu artigo 1°, institul a Politica Nacional de Agroecologia e Produgdo Oraénica ~ PNAPO, com o objetivo de integra, articular e adequar polticas, programas e agies indutoras da transigao agroecolégica da producdo organica e de base agroecolégica, contribuindo para o desenvolvimento sustentavel ea qualidade de vida da populagao, por meio do uso sustentavel dos recursos naturais e da oferta e consume de alimentos saudaves, Site: Programa da Agricultura Camponesa (Plano Camponés): ALIMENTOS SAUDAVEIS PARA TODOS/AS OS/AS TRABALHADORES/AS! No més de abril deste ano, centenas de campaneses © camponesas foram a luta no Rio Grande do Sule tiveram uma conguista importante: o Programa da Agricultura Campo- nes. Este programa prevé investimentos na agricultura camponesa que vai beneficiar © agricultor/a que produz alimentos no campo e o trabalhador/a da cidade que iré consu- mir comida saudavel, sem agrotéxicos. No Programa da Agricultura Camponesa, serdo investidos $100 milhdes na economia sgalicha exclusivas para produgao de alimentos, processamento, insures, criagdo de pon- ‘0s populares de trabalho, centros de distribuigao local de alimentos eestrutura logistic. Para as familias eamponesas, o Plano significa mais seguranca e investimentos na hora de plantar, na certeza de que a produgéo encontraré o seu destino: a mesa do trabalhador ‘eda trabalhadora, Para o trabalhador da cidade, significa alimento sem agrot6xico na sua refeicdo, mas também a possibilidade de mais emprega e renda, afinal as investimentos resultaréo em mais méquinas, ferramentas e transporte para fortalecer a agricultura camponesa gue precisardo ser fabricados e comercializados pelos trabalhadores urbanos. ‘A conquista do programa representa um passo importante para a luta dos camponeses/ as. [550 porque com o andncio do plane, o Governo gaticho reconhece o camponés © a camponesa como agentes do desenvalvimente, como principais produtores de alimentos para a populacéo. Ainda, coloca em cheque © agronegécio, um modelo de agricultura que 56 produz alimentos contaminados e para exportagao. Sendo assim, ao concretizar plano camponts, 0 gaverne apresenta outa forma de se produzir, pensando nos traba- lhadores e na satide das suas familias. ‘Mas a principal liga do Programa de Agricultura Camponesa, segundo a Via Campesina do RS, foi dada nas ruas, quando os trabalhadores/as do campo e da cidade juntamn-se em luta e pressionam os governos. 0 resultado disso so conquistas, néo sé para as catego- ras camponesa e trabalhadora urbana, mas também para toda a sociedade, Fonte: Jornal da Via Campesina/RS ~ abril de 2013, 5. EDUCAGAO E DIREITOS 5.8 POLITICA NACIONAL DE EDUCACAO POPULAR EM SAUDE: CONTRIBUINDO COM A GESTAO PARTICIPATIVA DO SUS Osvaldo Peralta Bonetti! Cassia Regina B. Carrara Araijo* Ministério da Saiide (MS), desde o ano de 2003, quando da conquista do Governo Lula, legitima ‘e reconhece o papel da Educagao Popular em Satide (EPS) nas priticas do Sistema Unico de Satide (SUS). Contudo, é a partir de 2009 que, por meio da implementagéo do Comité Nacional de Educagio Popular em Satide’, coordenado pela Coordenagao Geral de Apoio & Fducagao Popular em Saiide e & Mobilizas4o Social, que se inicia 0 processo de formulag4o da Politica Nacional de Educagio Popular em Satide no SUS (PNEP-SUS) Desde entéo, uma intensa agenda de mobilizacio e debate foi realizada, como oficinas, seminérios regionais de EPS, Tendas Paulo Freire nos congressos do setor, entre outros espacos configurados como espacos estratégicos dessa formulagio, que culminou na aprovacio da PNEP-SUS em 2012 pelo Conselho Nacional de Satide e sua pactuacao na Comissao Intergestores ‘Ikipartite do MS em 2013. Apés 10 anos de caminhada de institucionalizacao de ages e préticas de EPS no SUS, o setor satide encontra-se engajado na implementagio da PNEP-SUS, celebrando, assim, a possibilidade da construgao de novos cendris e préticas, uma nova cultura no fazer satide. A vivencia nos mostra que a insergio da EPS na politica de satide promove um certo “alargamento” do conceito de participagao e controle social, trazendo & cena saberes e praticas ainda invisiveis nos espacos oficialmente instituidos de participasao popular no SUS. Dentre os principios da EPS, podemos destacar a defesa intransigente da democracia em contraposi¢ao a0 autoritarismo ainda comum em nossa jovem democracia; a articulacio entre os saberes populares ¢ os cientificos promovendo o resgate de saberes invisibilizados no caminho de ‘um projeto popular de satide no qual haja o sentido do pertencimento popular ao SUS; a aposta na solidariedade e na amorosidade entre os individuos como forma de conquista de uma nova ordem social que implica a humanizacao do sistema, por meio do reconhecimento do outro em sua totalidade ce diversidade; a valorizagao da cultura popular como fonte de identidade; a concepgao de que aleitura da realidade 6 o primeiro passo para qualquer processo educativo emancipatério que vise a contribuir A conquista da cidadania. Nas suas mais diversas formas de expresso, a EPS congrega um conjunto de saberes e priticas {que possuem em comum 0 compromisso politico com as classes populares, com a luta por melhores condigées de vida e de satide. Apresenta-se diretamente ligada 4 valorizagao e & construgio da participagio popular, possuindo perspectiva histérica, reconhecendo os pequenos pasos € 0s movimentos das forgas sociais em busca do controle de seu proprio destino (Stotz, 1994). 'S nasce do comprometimento com as classes populares e da Se compreendermos que a El contrariedade com as desigualdades existentes em relagio aos direitos sociais no Pafs, perceberemos Enferm, Mase om Sate {A Mobango Socal SGEPIMS 2 Paksloa. Anata de Psticas Soca da Cardenas Geral de Apo a Bahco; Popular & Mblizaao Socio SGEPIMS 13 OCNEPS reine wm coletv de 26 membros inlrese seu respective splne, end ene represents da scedade i 9 movment ‘epulare «de movimento ropreentatines dt geores, coms tani, 9 represents: deen de governs, igade re tect do MS ¢ ties tiadas wo SUS pela Universidade de Bras Tavis Becca da Gooden Geral de ApoE Popular 59 60 5. EDUCAGAO E DIREITOS que sua relagio com a luta pelos Direito Humanos ¢ intrinseca 4 EPS, portanto, apresenta grande potencialidade para articular as ages ¢ politicas que as promovem. Neste sentido, falar em projeto popular na atualidade revela uma intima relacao com a luta pelos direitos humanos, pelo dircito & satide, mas respeitando-se a diversidade da existéncia, de género, racalcor e a luta contra a opressio ‘nas suas miltiplas formas, para o qual a multiculturalidade apresenta-se como um caminho potente. A implementacio da PNEP-SUS apresenta potencial para a conquista de uma nova cultura politica no SUS, ampliando a democracia participativa mais identificada e respeitosa com a diversidade da cultura popular brasileira, Construgdo ja em curso no campo, mas que agora poders ser capilarizada, ou seja, possibilitaré o alcance aos principios, valores e jeitos de fazer da EPS na vida cotidiana das pessoas. Agoes de EPS poderdo vir a contribuir com a promogio da satide e a qualificagio da educacio ‘em satide tradicionalmente realizada, fortalecendo vinculos emancipatérios para que o cidadao tenha cada vex mais autonomia de decisio no momento de se cuidar e, mais amplamente, no seu jeito de levar a vida. A andlise do processo de formulacio da PNEP-SUS nos leva a afirmar que 0 conjunto de saberes, préticas ¢ lutas oriundas do campo popular sao elementos que servem de inspiracao ¢ referéncia para os processos de construcao da EPS junto a gestio do SUS. Ademais, que as priticas € movimentos de EPS configuram saberes que vao muito além das questdes locais ou das éreas temiticas ‘onde se concentram. Por sua intencionalidade, sfo capazes ndo apenas de reivindicar, mas também de propor caminhos inovadores com consisténcia, qualidade e pertinéncia ao arcabougo do SUS, de modo a gerar dispositivos e novos marcos institucionais suficientes para fazer avangar seu processo de consolidacao, especialmente no que tange @ apropriagao de seu teor por parte da maioria da populagao. Com a PNEPS, espera-se articular o referencial da educagao popular em satide aos processos de gestio, formacao, controle social e cuidado em saide, buscando-se fortalecer a gestao participativa, contribuir com a formacio em saide em seus varios espagos de aco - profissional, técnica, bem como fortalecer os processos ja existentes no campo dos movimentos populares. Se, na verdade, ndo estou no mundo para simplesmente a ele me adaptar, mas para transformé-to; se nao é possivel muda- lo sem um certo sonho ou projeto de mundo, devo usar toda possibilidade que tenha para nao apenas falar de minha utopia, mas participar de préticas com ela coerentes, Paulo Freire 5. EDUCAGAO E DIREITOS 5.9 TRABALHO DIGNO?! COM DIREITOS GARANTIDOS?! E REMUNERACAO ADEQUADA?! Albenir Ribeiro Ramires! Qual o viés dessa prosa? ‘Vamos ficar bem atentos! ‘Veja bem meu camarada, Mais que gritar por direitos humanos ou a tal Trabalho digno é 0 que queremos dignidade, Por isso seguimos lutando , povo jd estd cansado de toda essa engrenagem, Contudo o trabalhador Ora estamos felizes, Ora estamos amargurados, ainda segue penando. E os direitos do trabalhador nao passam de simples legados Nao é de hoje, nem de ontem Eheranga do passado, Queremos trabalho digno trabalhar de sol a sol e muito bem remunerado, Sem ver um tostdo furado. © suor, 0s calos e a dor, isso nao se valoriza, ‘Mas espera ai meu amigo, ti havendo confusio, por isso ele se organiza, ‘Trabalho é pra ganhar dinheiro? pois precisa ser escutado. (Ou s6 pré sustentagao? Seja no campo ou cidade ‘Trabalho € coisa séria, é Direito em Constituigao Nas pequenas fabricas ou nas ro¢as, Trabalho é o que gera vida, que eleva essa nagio Domésticas ou pedreiros, ‘Trabalho é a semente, o fruto, a producio, camponés ou camponesa ‘Trabalho nao é emprego onde se tem um patréo, Nao importa o setor, ‘Trabalho pode ser poemar, escrever uma cangao viva o trabalhador Desde de que seja digno, sem injustica ou Na sua singela natureza exploracio, © Poeta do Avesso ~ Déko Ramires T Educa Poplar Poet Profesor oad en elo socal pele stato Brava Gente Pio ds pabes- Pol milan do MED ~ Mov ‘ment doar Tabalbadoreiae Drenprgudoien, SAIBA MAIS - — Forum Brasileiro de Economia Solidéria/Biblioteca cirandas.net/leidaecosol ~ Campanha Pela Lei da economia Solidéria cirandas.netirede-cfes ~ Rede de Centros de Formagio e Apoto & Assessoria Técnica em Economia Solidaria ~ Férum de Educacde de Javens e Adultos ~ Articulagao Nacional de Agroecologia - < ~ Secretaria Nacional de Economia Solidéria a 5. EDUCAGAO E DIREITOS 5.10 E POR FALAR EM LEI MARIA DA PENHA Terezinha Vergo! ‘Nem todas as mulheres so violadas, mas 0 medo a violagao influi e condiciona a vida de todas as mulheres Elena Larrauri (crimindloga feminista espanhola) Olé para as companheiras e companheiros da Recid, jui cutucada pela gestao pedagégica a tecer algumas ideias sobre a violéncia contra as mulheres. Do que estamos falando honestamente? Proponho comesar tratando sobre alguns dados da ‘violencia contra as mulheres (nao faz mal para ninguém, pode colocar nossos pés e nossas, mentes mais na realidade). A seguir, faco algumas reflexes que fazem parte do meu estudo sobre as politicas piiblicas de combate & violéncia contra as mulheres, ou seja, a implementagao da Lei Maria da Penha, no doutorado do Programa de Pés-Graduacao em Ciéncia Politica na UFRGS. Os tiltimos niimeros de registros nas delegacias de mulheres (DEAMs) no Brasil tém subido conforme os dados produzidos pelo Mapa da Violéncia de 2012. © que isto quer nos dizer: a cada 25 segundos uma mulher é espancada no Brasil, e no Rio Grande do Sul, j4 foram registradas as mortes de 61 mulheres até o més de agosto de 2013. Passamos a utilizar 0 conceito de feminicidio para nomear estas mortes. S40 mais de 130 criancas drfas de mae, s6 no meu estado, neste ano que ainda nao terminou. © que estes mimeros querem realmente nos dizer ou o que nds, homens ¢ mulheres queremos ouvir? A Fundagio Perseu Abramo, em 2010, publicou a pesquisa sobre Percepgdes de Homens e ‘Mulheres sobre a situagao das Mulheres no Brasil. Para a minha surpresa (o real fot confirmado pela pesquisa), 91% dos homens declararam que é errado bater em mulher em qualquer situagio, mas 48% conhecem algum homem que jé bateu em mulher!!! Alguém esté mentindo. O que vocés, minhas leitoras e leitores acham? Temos que refletir sobre isso. Compartilhamos, socialmente, uma ideia comum de dar a resposta adequada para certas perguntas, mesmo que as priticas evidenciem outra realidade. Quando pedida a opiniao as pessoas ~ homens e mulheres ~ sobre se bater em mulher é certo? ~ a ‘resposta correta ¢ ‘nao concordamos com a violéncia, mas esta opiniéo nao condiz com as priticas reiteradas de violencia doméstica contra Testa Seco pelo Programa de Pir Grado em Slope da Urivesidade Federal do io Grande do Sul (amino om 1958) Pov grado em Diets na mer niversdade tri ee 985) Atsu n movimento tude sends preridnt de Cents Aeadénico ‘Andre Roch, geste 19821988 Arwen no moves fennsta gaiho apart de 198. Foi embed Conse Estadual des Diets ‘de lhe (1991 1983) Adverts de mesa trata de tematic sobre o oder juris ea volncedosica contra mk Fs pate ‘4a Coordenadoria Eta da Mer ligada ao Gabinete do Governador (Bs Grande do Sl, 199-200), Sgt repansival por deserve ¢ tre ar polities plas de ener. Aton rede crs de Dirt els ENED 20052007 De 19991 2010 exer aden na terior A partir de 2010 labora com w ONG Clevo Fmunin Plural o Projet Eicola Lid de Dies Hamano, na corde ago regional de Campana Ponts Final a Volenca Mulee¢ Mena om também constr do Centr de Reference rt [Mutiere Vita de Vole Patria Eber Mans de CanadRS Ente 2011 2013 atuou na ONG CAME no Projets Bede de Educa (Cdad RECID. a onto de anesora edapien A pvt de 2012 apne como conse Conse Estadual des Dies da Mule! RS epeentands 0 Csletno Femina Pll, talent dotoranda do Programe de Pi Gradua em lca Pica do IFCHUUERGS, pespusedora do NIEM, pro de sues sobre mulher goer, ene GI Ava de Palas bay, Copy UERGS. 5. EDUCAGAO E DIREITOS mulheres, criangas, idosas ¢ idosos, praticadas em sua maioria por homens pais, maridos, filhos, netos, irmios e continua, Os movimentos de mulheres e feministas, desde final de década de 1970 ¢ inicios dos anos 1980, tém se debrucado em trazer para a visibilidade social a violencia doméstica que atinge as mulheres nas mais diversas formas. A violéncia fisica sempre foi a mais visivel, mas as demais formas de violéncia como a psiquica, a moral (com ofensas na frente de outras pessoas), os danos materiais, como destruigao de documentos, carcere privado com a falsa ideia de cuidar dos filhos ¢ da casa, tudo isto leva ao impedimento da mulher em exercer sua liberdade plenamente como cidada portadora de direitos humanos. O que me ‘evolta’é a nao percepsio de nés todas e todos de que esta mulher nao esta sozinha, em ‘uma ilha isolada com o agressor. Parentes, filhos, vizinhos, colegas de trabalho, todos convivem com esta mulher que sofre humilhagées e violéncias, em sua maioria, por agressores com quem mantém um relacionamento afetuoso. Com o fim do regime militar ¢ a necessidade de uma nova Carta Constitucional para o pais, 0 momento foi propicio para a expansio e difusio do ideério feminista densamente identificado na defesa dos direitos das mulheres como cidadas, junto as questoes de satide, emprego, maternidade creche para os filhos, além da forte bandeira de combate & violéncia contra a mulher. Seguindo esta trajetdria, com promessas bastante significativas quanto aos direitos de cidadania ¢ incluso das mulheres no contexto politico e social mais amplo, a Constituicéo Federal de 1988 plasmou uma nova etapa para os movimentos de mulheres e feministas (Trilhas Feministas, 2010). Com o retorno da vida politica democritica e do voto direto para presidente, governadores ¢ prefeitos e parlamentos, a agenda feminista se fez presente nestes diversos niveis, alcancando éxito em compromissos e legislades voltadas aos interesses das mulheres. © conceito de politicas piblicas surge neste contexto, a partir de 1990, como sendo a forma de se concretizarem as demandas sociais paraa gestio publica dos recursos humanos ¢ financeiros. Com a chegada de Luiz Inacio Lula da Silva 4 presidéncia da republica, um novo impulso ¢ dado com a reformulagio da Secretaria Especial de Politicas para as Mulheres, que passara a articular e potencializar as politicas em nivel nacional para a implementagao de diversas politicas puiblicas com corte de géneto (rilhas Feministas, 2010). De la para cé, através dos tempos, a roda girou sem parar ¢ ja estamos na terceira onda do feminismo com uma agenda que se apresenta como global, No entanto, as mulheres s6 resolverao seus problemas locais se compreenderem em que mundo esto inseridas; como dizia Paulo Freire, aleitura do mundo precede a leitura da palavra e assim a perspectiva de um mundo melhor (Valearcel, 2012) Da visibilidade e reconhecimento das diversas formas de violéncias praticadas contra as mulheres, chegou-se & Lei Maria da Penha, Em pesquisa divulgada pela Secretaria Especial de Politicas para as ‘Mulheres, do governo federal, 90% das pessoas responderam conhecer a lei. A Lei Maria da Penha trouxe a novidade das medidas protetivas que é algo novo também para 0 Direito no Brasil. As medidas protetivas tornaram-se muito populares, pois se tratam daquilo do que mais se fala e também se critica. A assessora da SEPM, Aparecida Gonsalves, lamenta que mulheres estéo ‘morrendo com a medida protetiva na mo. Entao, néo concuo nada ainda, mas proponho que é hora dos movimentos de mulheres todos aliados voltarem-se para a sociedade ¢ colocar o dedo nesta ferida que no para de ctescer. A sociedade tem um discurso contra a violéncia, mas pratica todo dia atos de violéncia, nio sé agindo, como também se omitindo, o que considero mais grave, pois mostra a hipocrisia presente na nossa sociedade. a 64 5. EDUCAGAO E DIREITOS Com a implementacio das politicas publicas com recorte de género, de acolhimento, protecao ¢ defesa das mulheres, irdo se cruzar varios ‘fios’ que formam uma rede, nao s6 de atendimento, como também de uma nova compreensio acerca dos desafios encontrados no enfrentamento violéncia contra as mulheres. Ao criarem-se mecanismos que garantam ¢ protejam os seus direitos, experiéncias vio sendo compartilhadas entre os diversos servigos que se colocam como verdadeiros atores politicos no tocantea formulagao de agendas comuns e a busca de recursos piblicos, com enfoque na cidadania nos direitos humanos das mulheres. A opgio por uma ‘metodologia feminista’ de atendimento nos centros de referéncias para mulheres em situagdo de violéncia (aspectos que estdo presentes nas normas de implementacao de delegacias e outros servigos para as mulheres em situagao de vulnerabilidade), também incorpora a dimensio da necessidade de constituigio de relagdes mais horizontais e dialoga em uma perspectiva de aprendizado continuo e miituo (entre quem atende e quem é atendida, em um acolhimento que promova a autonomia das mulheres). Esse processo é continuo, dialogando com as pessoas que esto dos dois lados do ‘balcao. £ um esforgo de aprendizado cotidiano, como dizia Paulo Freire “ninguém ‘educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, homens [e mulheres] se educam entre si, mediatizados pelo mundo” (Freire, 1979, p. 56). Ao falar em politicas publicas de género, ¢ preciso mencionar o papel importante desempenhado pela teoria feminista para a elaboragao deste conceito. O feminismo se constr6i do lugar de uma teoria social critica. Como a filésofa espanhola Célia Amorés sugere, o feminismo ¢ 0 “filho nao querido do Tuminismo” (Amorés, 2008). Consideramos esta visio pertinente no sentido de que o feminismo é histérico, politico e social, constituido nos marcos dos ideais dos séculos XVIII e XIX, que foi sendo gestado por mulheres com acesso e capacidade de visio critica sobre sua exclusio da vida politica/ piblica da época. Sua critica era enderecada as ideias da filosofia politica que excluiam as mulheres e buscavam © desvelamento mais profundo sobre a condicao de desigualdade, subalternidade, discriminasio preconceito vivenciados. Estas pioneiras mulheres feministas, localizadas durante a primeira onda do feinismo (Varela, 2005), batem de frente com as ideias ditas inovadoras, surgidas da Revolugio Francesa e nos ideais liberais de liberdade, fraternidade e igualdade, simbolos de uma sociedade que bbuscava 0 progresso do qual as mulheres estavam ‘naturalmente’ ausentes. Devolvo a cutucada para a turma da Recid, O que a rede esté refletindo ¢ fazendo acontecer para transformar esta realidade? Ja aprendemos nestes poucos anos de vida democritica e com a constitui¢ao de um Estado mais vocacionado para o atendimento das demandas sociais, através da implementagio de politicas publicas, que s6 isto nao basta. A cutucada é dirigida para a sociedade também. As mulheres que passam por situagoes de violéncias nio esto fora de nossas casas, nossas rruas e bairros. Estao bem pertinho de nds. O que podemos fazer? MUITA COISA, BASTA COMECAR! Um abraco a todas ¢ todos da Recid, Terezinha Vergo 5. EDUCAGAO E DIREITOS SAIBA MAIS HOJE RECEBI FLORES Hole recebi flores! Nao é 0 meu aniversévio fu nenhum outro dia especial; tivemos a nossa primeira discusséo ontem & noite, tle me disse muitas coisas cruéis que me ofenderam de verdade. Mas sei que esta arrependido e ndo as disse a sério, porque ele me enviou flores hoje. Nao é o nosso aniversavio ou nenhum outra dia especial Ontem ele atirou-me contra a parede e comegou a astixiar-me. Parecia um pesadelo, mas dos pesadelos nés acordamos: f descobrimos que nao é real Hoje acordei cheia de dores e com golpes em todas lados. Mas eu sei que est arrependide porque ele me enviou flores hoje. E ndo é Dia dos Namorados ou neahum outro dia especial Ontem & noite bateu-me e ameagou matar-me. Nem a maquiagem ou as mangas compridas poderiam ocultar ‘0 cortes e golpes que me ocasionou desta vez. Nao pude ir ao emprego hoje porque néo queria que se apercebessem, Mas eu sei que esté arrependido porque ele me enviou flores hoje. E nd era Dia das Mldes ov neahum outro dia Onter & noite ele voltou a bater-me, mas desta vez foi muito pior Se conseguir deixé-lo, 0 que & que vou fazer? Come poderia eu sozinha manter os meus filhos? 0 que acontecera se faltar o dinheiro? Tenhe tanto medo dele! Mas dependo tanto dele que tenho medo de o detxar. Mas eu sei que esté arrependido, porque ele me enviou flores hoje. Hole é um dia muito especial: & 0 dia do meu funeral Ontem finalmente ele conseguiu matar-me, Bateu-me até eu morrer ‘Se ao menos tivesse tido a corager e a forca para o deixar. Se tivesse pedido ajuda profissional. Hole nao teria recebido flores! Autorfa desconhecido LET MARIA DA PENHA, nimero 12.340, disode sobre mecanismos para coibir a vieléncia doméstica e familiar contra a mulher Programa Mulher, Viver sem Violéncia hhttp:l/mulheres. gov.brimulher-viver-sem-violencia/Mulher-viver-sem-violencia- apresentacao Consiste em servigos pialicos de seguranca, jusiga, sade, assisténcia social, aco- Ihimento, abrigamento e orientacdo para trabalho, emprego e renda que passaro a ser integrados por meia do programa ‘Mulher, Viver sem Violéncia’. Coordenada ‘CADERNO DE EDUCAGAO POPULAR E DIREITOS HUMANOS 66 5. EDUCAGAO E DIREITOS pela Secretaria de Politicas para as Mulheres da Presidéncia da Repdblica (SPM-PR), 4 iniciativa propée estratégias para melhoria e rapide2 na atendiment as vitimas da violéncia de gBnero. Reforca a rede existente de servigos publicas do governo federal, ‘estados, Distrito Federal, municipios, tribunais de justiga, ministérios e defensorias pa blicas por meio do Pacto Nacional pelo Enfrentamento a Violéncia contra as Mulheres. Em dois anos, serdo investidos R$ 265 milhées, sendo RS 137,8 milhées, em 2013, ¢ $ 127,2 milhdes, em 2014, 0 total serd aplicado da sequinte forma: R$ 15,7 milhdes ra construgao dos prédias e nos custos de equipagem e manutengio, RS 25 milhdes na ampliagio da Central de Atendimento & Mulher- Ligue 180, RS 13,1 milhées na huma- nizagao da atengao da sade piilica, R$ 6,9 milhoes na humanizacao da pericia para aperfeigeamento da coleta de provas de crimes sexuais e RS 4,3 milhBes em servigos de fronteira, A prevengio é uma das prioridades do ‘Mlulher, Viver sem Violéncia’, contando com cin- co campanhas educativas de conscientizagdo com aporte de RS 100 milhdes. O montante ‘do programa corresponde ao aumento de 20% em relagdo aos valores repassados pelo governo federal a estados e municipios, no periodo de 2003 a 2012, RS 219,8 milhdes por meio de pacto federativ. Apresentacao do programa em slides: hutpslmulneres.gov.br/mulher-viver-sem-violencia/apresentacao Casa da Mulher Brasileira - Espago que reuniré os sequintes servigos: delegacias espe- Ciallzadas de atendimenta & mulher (DEAM), juizados e varas, defensorias, promotorias, ‘equipe psicossocial (psicélogas, assistentes socials, socl6logas e educadoras, para Iden- tificar perspectivas de vida da mulher e prestar acompanhamento permanente) e equipe para orientagio ae emprego ¢ renda, A estrutura fisica tera bringuedoteca e espago de convivéncia para as mulheres. 0 custo médio & de R$ 4,3 milhdes cada uma, incluindo construgao financiada pelo go- verno federal, aqulsigao de equipamentos, mobilidrio e transporte. A provisdo 6 atender cerca de 200 pessoas/dia, 6.000 por més e 72.000 ao ano. O acesso aos servigas de sade (Institutes médicos legals, hospitals de referéncia e unida- des basicas) e de abrigamento seré feito pela logistica de transporte gratuito, vinculada ‘a0 Ligue 180 e & Casa da Mulher Brasileira, ‘Transformagao para Disque 180 — A Central de Atendimento & Mulher ~ Ligue 180, da ‘SPM, passard a ser um disque-dentincia com aclonamento imediato das policias milita- res de todo o pals, como jé ocorre com situagdes de tréfico de mulheres, com ativagdo de urgéncia para a Policia Federal, © de cércere privado, para o Ministério PUblico. A partir do "Mulher, Viver sem ViolEncia, em atengimentos classificados como urgentes, © Ligue 180 fara encaminhamento direto para o Servico de Atendimento Mével de Ure géncia (SAMU), pelo 192, ou da Policia Militar, pelo 190. SUGESTAO DE FILMES QUE TRATAM DO TEMA: Terra Fri htt: gooale.com.br/imares?imgurl = httpi4. bp. blogsot.comy_xN- CChkkk2Sw/S_xuNYmQnvi/AKAARAAABS8/0Bebhp7091 1/51 600/Terra%2B ria ipg&imgrefurl= http:/capasdeflimesbr.blogspot.com/2010/05/terra-frla-pedido.ntml&h 1073 w= 16008s2~397 &tbnid=rqlll HM UPSaECM:&tbnh=90&tbnw= 1348200 ‘usg=_1E18LZ82hF WZvZildg2MMVESVZE = &docid-=AbYxMRNi25XScM &s ‘a=X&ei=Cmal/ Uo7AKuWbygHx64HYDwv&ved = OCDKQIQEWAQ Sinopse e detalhes ‘Apbs um casamento fracassado, Josey Aimes (Charlize Theron) retorna & sua cidade natal, no Minnesota, em busca de emprego. Me solteira e com dois flhos para susten- tar, ela € contratada pela principal fonte de empregos da regio: as minas de ferro, que sustentam a cidade hd geracoes. 0 trabalho & duro, mas o saldvio 6 bom, o que compensa © esforge. Aes poucos, as amizades conquistadas no trabalho passam a fazer parte do dia-a-dia de Josey, aproximando familias e vizinhos. Incentivada por Glory (Frances MeDermand), uma éas poucas mulheres da cidade que trabalha nas minas, Josey passa a trabalhar no grupo daqueles que penam para arrancar o minévio das pedreiras. Ela est preparada para o trabalho duro e, &s vezes, perigoso, mas a que ndo esperava era sofrer cam 0 assédio dos seus colegas de trabalho. Come é ignorada ao reclamar do tralamento recebido, decide levar & justica 0 caso. Anjos do sol: httpi/lwwwzyoutube.comwatch? Sinopse e detalhes Maria (Fernanda Carvalho) & uma Jovem de 12 anos, que mora no interior do nordeste brasileiro. No verde de 2002 ela 6 vendida por sua familia a um recrutador de prostitu tas, Apés ser comprada em um leo de meninas virgens, Maria é enviada a um prostibu: lo localizado perto de um garimpo, na floresta amazdnica. Apés meses sofrendo abusos, cla consegue fuglr e passa a cruzar o Brasil através de viagens de caminhio. Mas a0 chegar no Rio de Janeiro a orostituigao volta a cruzar seu caminho. BBWOyseFes Notvas do Cordeiro: httpuwwweyoutube,comwatch?v=QvA6Z3rj7E0 Narrado por Lya Luft, Noiva do Cordeiro conta a histéria do povoade em MG, que por ‘anos viveu Isola e estigmatizado. Acexcéntrica fami Sinapse e detalhes Em uma pequena vila holandesa uma matriarca relemibra momentos marcantes de sua Vida e os curiosos personagens com quem conviveu. Apés o fim da Segunda Guerra Mun: dial, a independente Antonia (Willeke van Ammeiraoy) voltou & cidade natal acompa- ‘nhada da filha. Assim teve inicio uma saga familiar que atravessou geracies. de Antinia:htto:/imyayoutube.comywatch?v=rTTSIYmIFLS, Documentario Rosas ~ Grupo Atitude Feminina: httpswwwyoutube.comwatch?y=VhekFVN70GM 5. EDUCAGAO E DIREITOS CCADERNO DE EDUCAGAO POPULAR E DIREITOS HUMANOS 5. EDUCAGAO E DIREITOS 5.11 DIREITOS SEXUAIS E REPRODUTIVOS: UMA LUTA PELA AUTONOMIA SOBRE O CORPO E VIDA DAS MULHERES Mirla Cisne! temitica dos direitos sexuais e reprodutivos ganha visibilidade politica por meio de ativistas feministas, constituindo-se como uma luta fundamental para a conquista de autonomia para a mulher sobre o seu corpo e sua vida. A primeira importancia que essa luta apontou foi o contraponto & concep¢ao limitada de “planejamento familiar’, a qual se fundamentava na preocupacdo governamental com a chamada “explosio demogrifica’, considerada equivocadamente uma determinacio central da pobreza. Essa ogica do “planejamento familiar” estava, portanto, muito mais voltada para 0 controle sobre o corpo 2 vida das mulheres do que para afirmar sua autonomia e poder de decisio sobre querer ou nao ter filhos(as) e quantos(as) gostaria de ter. Outra importincia dessa luta empreendida pelo feminismo é afirmar que existem direitos nao apenas reprodutivos, mas, também, sexuais. Com isso, a mulher passa a ser percebida para além da maternidade, ou mesmo de nao limitar a relagao mulher-sexo a uma dimensio meramente reprodutiva, Assim, a luta pelos direitos sexuais vem no sentido de afirmar que as mulheres tém direito a sentirem prazer sexual independentemente da procriagio ¢ com quem desejar, ou seja, com liberdade de orientacao sexual. Sobre os prineipais direitos sexuais e reprodutivos, destacamos: Direitos sexuais + Direito de viver e expressar livremente a sexualidade sem violéncia, discriminagoes imposigdes e com respeito pleno pelo corpo do(a) parceiro(a); + Direito de escolher o(a) parceiro(a) sexual; + Direito de viver plenamente a sexualidade sem medo, vergonha, culpa e falsas crengas; + Direito de viver a sexualidade independentemente de estado civil, idade ou condisao fisica; + Direito de escolher se quer ou nao ter a relagao sexual; + Direito de expressar livremente sua orientagio sexual; + Direito de ter relacio sexual independente da reproducio; + Direito ao sexo seguro para prevencio da gravidez indesejada e de DST/AIDS. + Direito a servicos de satide que garantam privacidade, sigilo e atendimento de qualidade e sem discriminagio; + Direito & informagao ¢ 4 educagao sexual e reprodutiva Direitos reprodutivos: + Direito de decidirem, de forma livre e responsivel, se querem ou nao ter flhos, quantos filhos desejam ter e em que momento de suas vidas. + Direito a informagdes, meios, métodos e técnicas para ter ou nao ter filhos. + Direito de exercera sexualidade e a reprodugio livre de discriminacao, imposigio e violéncia. Outra forte bandeira defendida no campo dos direitos reprodutivos é a da legalizacio do aborto. Primeiro, é importante destacar que o aborto é uma realidade concreta, presente no nosso cotidiano, TT Austen Soi tote pegusadra fini, prefer da Universidade do Eads do Rio Grande do Note (VERN Cont: mlaciespna com ry 5. EDUCAGAO E DIREITOS seja nas nossas casas, de nossas familiares, de amigas ou conhecidas. Ou seja, todo mundo conhece pelo menos uma mulher que j4 fez aborto. Pensemos: essa(s) pessoa(s) deve(m) ser presa(s) por ter(em) abortado? Seguem algumas reflexdes: 1. A deciséo do aborto nao ¢ facil para uma mulher. Ninguém mais do que ela sofre por tomar essa decisio. A culpabilizacao ¢ julgamento moral sobre a mulher acentua o sofrimento psiquico pelo qual passa em situagao de abortamento. 2, Sempre que debatemos sobre a polémica do aborto, é importante lembrar que, ao nosso lado, thé uma grande probabilidade de existirem mulheres que j4 abortaram, Por isso, cuidado em proliferar a ideologia de que aborto crime. Acusar uma mulher de criminosa é legitimar a legislagio que leva mulheres 8 prisio por abortarem ilegalmente. 3. Onde estéo os homens no debate da criminalizagio e consequéncias do aborto ilegal? Quem vai presa por abortar? Quem é culpabilizada e julgada por religiGes, pela familia ¢ por diversos moralismos que permeiam a sociedade? Onde esto os homens? 4. A legalizagao do aborto nao aumentara 0 niimero de abortamentos. Ao contrario, somente pela legalizagao poderemos diminuir 0 ntimero de abortamentos, como ocorreu em todos os paises que legalizaram o aborto. 5. A legalizagao possibilita a criagao de uma rede multiprofissional protetiva e de atendimento 4 mulher para acompanhé-la na decisio do aborto. Ao serem atendidas, as mulheres passam a ser acompanhadas com apoio psico-social de forma a evitar, inclusive, que uma nova gravidez indesejada ‘ocorra. A ilegalidade do aborto torna essas mulheres andnimas. 6. B importante lembrar que a legalizag4o do aborto impede que mulheres que nao queiram abortar sejam obrigadas a fazé-lo. Ou seja, por meio do atendimento, poder ser identificado se a mulher esta sendo coagida a fazer 0 aborto contra a sua vontade, algo nao téo incomum na nossa sociedade patriarcal. 7. Muitos sao os motivos que levam a uma gravider.indesejada. Porém, nos chama atencao o fato de que as mulheres casadas, com faixa etaria entre 25 a 30 anos, sejam o maior percentual de mulheres que abortam. Isso nos leva & hipétese de que a relagdo desigual de poder entre homens ¢ mulheres faz com que muitas ndo consigam, por exemplo, negociar o uso da camisinha ou mesmo rejeitar uma relagao sexual, seja por falta de desejo, seja por estar no periodo fértil e nao querer engravidar. 8. As pessoas tém 0 dircito de serem contra o aborto, mas ndo de julgar, tampouco, criminalizar quem 0 faz. Mesmo na ética da religido, as pessoas tém o direito ao livre arbitrio e nao temos o direito de decidir 0 que é certo, bom ¢ justo para 0 outro(a). 9. Mulheres em situagio de abortamento devem ser atendidas com servicos de qualidade e Por profissionais que orientem a sua atividade pelos principios que regem os cédigos de ética e as regulamentagoes legais de suas profissGes e nao por adesdes morais e\ou religiosas de cardter individual 10. Na polémica do aborto, hé um forte debate sobre a vida. Pergunto: qual a nossa preocupacio com a vida das mulheres? © aborto esté entre as primeiras causas da mortalidade materna no Brasil. Somente as mulheres pobres, com destaque para as negas, sofrem sequelas de satide pelo aborto inseguro, muitas chegando a morrer. 11. A ilegalidade sustenta uma “industria do aborto”: que engloba desde a venda ilegal de remédios abortivos até as clinicas as quais mulheres com poder aquisitivo recorrem para fazerem aborto com condigées de seguranga, 12.0 projeto de legalizacao do aborto regulamenta que o mesmo deve ser feito até a 12* semana oo 5. EDUCAGAO E DIREITOS de gestacio, quando se inicia o sistema neuroldgico; até entio, o feto nao tem como sentir dor, a0 contrério das imagens sensacionalistas que mostram bebés formados sendo decepados. 13.A legalizacao do aborto nao é para “matar criancas” como se propaga ideologicamente, é para evitar que uma vida se forme quando a mulher nao se sente tem condicao de ser mae. E para evitar que mulheres pobres morram! A luta pelos direitos sexuais ¢ reprodutivos continua ndo apenas atual, mas necessiria para 0 fortalecimento da luta por liberdade, autonomia e autodeterminagao das mulheres. Nesse sentido, continuamos ecoando a palavra de ordem do feminismo dos anos 1960: “Nossos corpos nos pertencem”! Bem como, a palavra de ordem da atual década: “Seguiremos em marcha até que todas sejamos livres’ SAIBA MAIS. Direttos Humanos para Ativistas de Direitos sexuais e direitos reprodutivos. Disponivel em: htto:/iwmw.catolicasonline.org.br/uploads/arquive/Direites%20Huma- rnos*420para%20ativistas.pdf Resolugdes da 3* Conferéncia de Politcas para as Mulheres - 2011 (0 Pleno do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM) referendou as resolucées aprovadas na 3% Conferéncia Nacional de Polticas para as Mulheres, realizada de 12 a 15 de dezembro de 2011, em BrasiliayOF CEDAW - ONU, 1979 Essa Convengéo estabelece uma agenda de agdes para acabar com a discriminagio con- tra a mulher. Apresentacdo de Silvia Pimentel. CConvengéo de Belém do Paré- OEA, 1994 Define que a violéncia contra a mulher & uma violagio dos ¢iretos humanas e éasliber- ddades fundamentals das mulheres. Apresentagao de Lella Linhares, Conferéncia do Cairo - ONU, 1994 ‘A partir dessa Conferéncia, a questéo dos direitos repradutivos tornou-se um pardmetro para 0 debate sobre politicas populacionais. Apresentagao de Tania Patriota Conferéncia de Pequim- ONU, 1995, ‘Série de recomendagSes aos governos signatarios para a adogao de politicas para a promogio da equidade entre homens e mulheres. Apresentagao de Maria Luiza Ribeiro Viatti Declaragao do Miléni ‘A Declaragéo do M pafses membros até 2015, ONU, 2000 das Nacées Unidas define olto metas a serem atingldas pelos Conferéncia de Durban — ONU, 2001 Declaragao e Programa de Ago adotados na III Conferéncia Mundial de Combate a0 Racisma, Diseriminagdo Racial, Xenofobia e Intolerancia Correlata. 70 Declaragao Mundial dos Direitos Humanos — ONU, 1948 Enumera os direitos humanas e liberdades fundamentals e recomenda aes pa(ses mem. bros a adacao de medidas para garanti-los. Conferéncia de Viena - ONU, 1993, Define que as direitos humanos das mulheres e meninas si inalienéveis e constituer parte integrante e indivisivel dos direitos humanos universais. Direitos das Mulheres na Legislacao Brasileira Pés-Constituinte ~ Cfemea, 2006 Essa publicagao faz a levantamento e analisa a lesislagao sobre os direitos das mulheres entre 1988 a 2005. II Plano Nacional de Politicas para as Mulheres ~ SPM, 2008 Documento organizado em temas prioritarios e agBes a serem implementadas para redu: zir a desigualdade entre as mulheres ¢ homens brasilelros. Carta dos Direitos dos Usudris da Satide ~ MS, 2007 Informa os principlos para assegurar ao cidadao seu direite bisico ao ingresso digno nos sistemas de saide, pdblicos ou privados Politica Nacional de Atengao Integral & Satide da Muther ~ MS, 2004 Esse documento define as ages de salide para garantir as direitos humanas das mulheres reduzir a morbimortalidade nor causas preveniveise evitiveis. Politica Nacional de Saude Integral da Populacdo Negra - SEPPIR, 2007 Essa politica visa garantir maior grau de equidade na efetivagdo do diveito hurnano a salide, com foco nas doengas de maior prevaléncia na populagde negra, Trabalho, Familia e Vida Pessoal - OIT, PNUD e SPM, 2009 ‘A conjungao entre trabalho ¢ vida familiar cria problemas de renda ¢ estabilidade no emprego e afeta a qualidade de vida das mulheres, das hamens e das pessoas em seu entorne. Retrato das Desigualdades de Género Raga - IPEA, 2008 om base nes indicadores da Pesquisa Nacional por Amostra de Domictlas (PNAD), do IBGE, o estude apresenta dados sobre a situagdo de mulheres e homens, de nearos ¢ brancos no Brasil Convengéo 100 e 111 - OT ‘A Convengaa 100 da OIT trata da igualdade de remuneragéo e a Convengo 112, da dliseriminagao no emprego e acupagio. Convengao 156 - O1T ‘A Convencio 156 da OIT trata dos diteitas de trabalhadoras e trabalhadores com res ponsabilidades familiares Articulando a Luta Feminista nas Politicas Piblicas ~ Cfemea, 2009 Producée do Cfemea, er conjunto com a AMB e 0 SOS Corpo, o objetivo 6 divulgar as reflexBes sobre a questao da implementagao das polticas piblicas para mulheres, apon. tando os desafios para os movimentos de mulheres 5. EDUCAGAO E DIREITOS Banco de dados sobre trabalho das mulheres no Brasil ~ Fundacao Carlos Chagas Trata-se de um banca de dadas sobre o trabalho das mulheres no Brasil, com séries historicas a partir de 1970 que apresentam estatisticas sobre o crescimento do trabalho feminino, a relagdo entre a familia o trabalho feminina, escolaridade e trabalho, o Iu gar ecupade pelas mulheres ne mercado de trabalho e a qualidade do trabalho feminine. Banco de dados sobre creches no Brasil - Fundacao Carlos Chagas 10 banco de dados retine textes e documentos referentes & histéria da creche no Brasil, desde seu aparecimento, em 1899, até a década de 1960, periodo que caracterizamos como de lenta expansdo da instituigao. 0 banco inclui também o material coletado pelo projeto de pesquisa “A expansio da rede de ereches ne municipio de S30 Paule durante a década de 1970" FONTE: Agéncia Patricia Galvéo Disponivel em: http:/ivwwucatolicasonline.org.br/bblioteca/conteudo. aspicod= 27 &a 20 anos de pesquisa sobre aborto no Brasil, Disponivel em: httpi/fovsms.saude.gov.br/bvsipublicacoes/ivreto.pdf H& muito tempo ferinistas e sanitaristas ecoam a tese de que o aborto ilegal e inseguro 6 uma questio de sade piblica. 0 significado dessa tese é alarmante: urna em cada cinco mulheres aos 40 anos jé fez, pelo menos, um aborts. Metade delas necessitou fi- car internada para finalizé-lo, o que repercute imensamente na assisténcia publica em sade, Outra metade das mulheres fez uso de medicamentos cuja procedéncia, seguranca ou dosage desconhecemos. Entre 0s 18 e 0s 39 anos, so mals de 3 milhes de mulhe- res que, em algum momento da vida reprodutiva, realizaram um aborto. Elas temeram pela sate, pela f€ e pela prisdo. O CFM quer ajudé-las a ndo mais ter medo da morte. E preciso agora que o Senado Federal entenda que manda-las para a prisia no 6 uma medida de sate publica, Fonte: ESTADAO ‘CADERNO DE EDUCAGAO POPULAR E DIREITOS HUMANOS 5. EDUCAGAO E DIREITOS 5.12 INTERAGAO DEMOCRATICA ENTRE ESTADO E SOCIEDADE CIVIL Selvino Heck! CARAS E CAROS COMPAS uando eu, frei franciscano, morava na Lomba do Pinheiro nos anos 1970 e anos 1980 (faz tempol), a gente reunia os Grupos de Reflexio da Biblia nas casas das familias e falava sobre a fé ¢ a vida, e nas sedes das Associagdes de Bairro conversava sobre os problemas do transporte (a Lomba fica a mais de 20 km do centro de Porto Alegre), a falta de um posto detaide na parada 13, Vila $0 Pedro. Dona América e seu Sabino, seu Cantilio ¢ dona Maria, seu Adio e dona Zulma, o Zé da Lomba ¢ a Alba, Renato ¢ Edenir, a fria diziam que era preciso se organizar, ir na prefeitura no centro ¢ colocar direto para o prefeito todas as reivindicagbes da comunidade. Foi o que fizemos, Enchemos a sala de reuniGes da prefeitura e registramos tudo devidamente no jornal O Lomba, que citculava no conjunto de vilas populares da Lomba do Pinheiro. Foi nossa primeira experiéncia de lidar com um governo € uma parte do poder. Como dizia Paulo Freire em sua pedagogia libertadora, partiamos da realidade concreta, dos problemas que o povo vivia, construindo as propostas no didlogo, construcio solidaria e coletiva. Aprendemos na pritica a lidar com a politica, o Estado, os poderosos (no caso, os donos da empresa de énibus que servia, mal, as comunidades) e os governos, mesmo os daquele tempo, nao eleitos pelo povo. Nos anos 1990, fui trabalhar na Prefeitura de Porto Alegre, no Orgamento Participativo: Assembleias em todos os bairros, também na Lomba do Pinheiro. © governo municipal escutava 0 povo diretamente, construindo o orcamento de cada ano, atendendo os mais pobres eos trabalhadores, dando-lhes vez e voz, garantindo seus direitos mais fundamentais - vida digna, alimentagao, servigos piiblicos de qualidade -, respeitando suas decisdes, construindo uma cidade humana e democritica Anos 2000, novo século e milénio, governo Lula, Frei Betto convida um grupo de educadoras/as populares de todo Brasil, dentre os quais eu, ¢ diz: “E preciso matar a fome de po, em primeito lugar. Barriga vazia nao faz revolusao. Mas é preciso, junto e ao mesmo tempo, saciar a sede de beleza, de direitos, de cidadania, de participasao social, construir a partir de baixo um projeto de Brasil popular, partir do povo pobre, dos/as trabalhadores/as e de todos/as aqueles/as que sonbam com um pais € ‘uma Nagio com justica, igualdade, soberania, distribui¢ao de renda e de terra, politicas piblicas com participacio popular. Além do que, governo é como panela de feijio: s6 na pressio” Participar, compas, é conquista. £ dircito. E luta didria que eu, muitas e muitos fazemos hé mais de 40 anos. Digo a vocés. Dircitos no Brasil s6 se conquistam com luta. Foi assim sempre e desde sempre. Quando ¢ como os negros tiveram reconhecidos seus direitos? Quando e como as mulheres comegaram a ser vistas como gente e parceiras? Como ¢ quando os trabalhadores deixaram de ser meros escravos dos patrdes ou buchas de canhio produtores de lucro? Paulo Freire dizia que a consciéncia dos direitos é um trabalho de todas e todos: nas associagoes de bairro, nos sindicatos, nas pastorais de igrejas, nas Redes, até nos governos. Conscientizando-se, as pessoas comesam a ver o mundo de outro jeito, descobrem que podem mudé-lo. Quando reencontro Tar Epil Secretaria Geral da Pena da Repti, Cnordevador do Departamento de Educarao Popular + Mobilise Cia Rede de Bucard Cad Secretaria Naina de Arial Socal Secretaria Geral de Pesidncia da Repblice B 5. EDUCAGAO E DIREITOS Dona América, ainda lutadora pelos direitos dos moradores da Lomba do Pinheiro, ela me diz: “Como foi importante aquele tempo em que a gente se reunia na tua casa ¢ da Marta e lia textos dos livros do Paulo Freire, eu ouvi falar de Marx, soube quem era Frei Betto! Aprendi muito ¢ levei isso pra vida. Me tomnei gente, sei o que ¢ ser sujeito de direitos. E fizemos, juntos, a histéria de um povo. E um Brasil um pouquinho melhor para nds, nossos filhos ¢ netos.” Abragos, caras e caros compas. A luta continua, Agosto de dois mil e treze SAIBA MAIS Politica e Sistema Nacional de Participacao Social ~ PNPS httpu/onw.participa.br http://edemoceacia.camara.gov.briweb/acoes-ogp/forum-2/-/message_boardsimessa- 9e/1229342 Reforma Politica: htipiwww.reformapolitica.org.briartigos-e-colunas/44-artigos/711-articulacao-entre- conselhos-e-conferencias-rumo-ao-sistema-de-participacao.html 0 que é uma Conferéncia? Uma Conferéncia € uma instincia de partcipagso socal, qeralmente convocaca pelo paver pilico federal, que tem por objetivo institucionalizara paticipagio da sociedad ras ativiades de planelamento, controle gestéo de uma determinada politica ou de um conjunto de poiticas pleas. & um espago de debates por exceléncia, no qual um Conjunto de pessoas se reinem para diseutr acerca de temas espeifcas ‘Uma conferénciaacontece em niveis municipal, estadual e nacional. No municipio, as pessoas discutem eelaboram, segundo eixesespecifcas,propostas de politica relaciona- das a0 ema da Conferénela, pasteriormente envadas & etapa estadval. Além disso, de- ver elegeraqueles que ido ines representar na préxima etapa —o chamadosdelegados. Nas conferénciasestaduas, st eleitas as propostas que sero enviadas& etapa nacional 1 novos delegados sho escolhids pelos partiipantes. Por fim, na Conferéncla Nacional, tsclhern-se as propostas fins daquela Conferénca, htpiveconsocialbhwordoress.convabauto-que-e-uma-confeenciat REFERENDO E PLEBISCITO 0 referendo é um processo de consulta popular para levantamento da opinido da socie- ‘dade sobre determinado assunto ou decisdo politica de determinado pals ou regio. E uma maneira do cidadao ratificar ou nao ratificar uma determinada proposta de lei ou deciséo do Estado. Para participar de um referenda, o cidadao precisa ser cadastrado come eleitor pleno em seu pats. 0 referendo & um meio democratico que ocorre por sufragio direto e secreto. No Brasil 0 referendo é aplicado a partir de expedigao de decreto legislativo no Senado ou na Ci mara dos Deputados. Plebiscito ~ Convocado e aplicado antes da criagao do ato legislativo ov administrativo; visa & aprovagao de uma lei a ser criada. Referendo — Convocado e aplicado depois da criagdo do ato legislative ou administrati- vo, par meio do qual o cidadao pode ratificar ou rejetar a proposta de lei visa & apro- vvagio de uma lei jd criada; ‘Ammbos devern ser aplicados para a decisdo de questées relevantes para o pals, mediante decreto legislative. Os dois instrumentos de consulta popular esta previstos na Consti tuigio Federal no artigo 14, regulamentades pela Lei n° 9.709. Na Constituicae do Brasil, 0 referendo depende da convocacao do Senado e da Camara de Deputados, o poder Executivo somente pode sugerir a aplicagio do referendo para ratificagdo de uma lei ou narma de interesse nacional ou do préprie governo. Ou seia, tanto o plebiscito quanto o referendo dependem da aprovagao e da convocacao do Poder Leaislativo. hip: infoescola.com/sireto(diferenca-entre-referendo-e-plebiscito! Leis propostas pelo cidadéo ‘J&a inicfativa popular 60 direito que os cidadaos brasileiros tém de apresentarem proj tos de lel para serem votados © eventualmente aprovados pelo Congresso nacional. Para os cidadios apresentarem um projeto de lei € necessdvia a assinatura de 1% dos ele'tores do pais (cerca de 1,2 milhdo), distibufdos em pelo menos cinco Estados brasileiros. hnttp://educacao.ual.com.br/disciplinas/cidadaniafreferendo-plebiscito--iniciativa-popu- lar-o-nova-se-manifesta.htm FIQUE ATENTO/A! Alguns plebiscitos populares ja foram feitos no Brasil. Exemplo disso, nos iltimas, 10 anos foram realizados o da Area de Livre Comércio das Américas (ALCA) e do Limite da Propriedade da Terra. Ambos partiram de uma iniciativa popular organizada através de Movimentos ¢ Organizagbes Socials. Depois, coletaram-se assinaturas (ALCA atin glu 1 milhdo e 500 mil) ¢ encaminhou-se para o Congresso para que virasse projeto de Lei. A populagéo nao conseguiu a Lei, mas 0 processo da ALCA estagnou no Brasil e na América Latina, 5. EDUCAGAO E DIREITOS 1s CCADERNO DE EDUCAGAO POPULAR E DIREITOS HUMANOS 7% 5. EDUCAGAO E DIREITOS 5.13 GARANTIA AOS POVOS INDIGENAS DA MANUTENCAO E RESGATE DAS CONDICOES DE REPRODUCAO, ASSEGURANDO SEUS MODOS DE VIDA Dionédison Candido! ato Grosso do Sul, de acordo com pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica (IBGE/2012), é o segundo estado com maior populasao indigena do Brasil de uma estimativa populacional de 63 mil indigenas distribuidos em sete etnias: ‘Terena, Guarani Kaiowé, Guarani Ndandeva, Guaté, Kadiweu, Ofayé, Kinikinau Atikum. Desde 0 period da colonizacao europeia, os povos indigenas vém sendo massacrados pela forma mais brutal sob as ferramentas mortiferas denominados de “genocidio” de “etnocideo” A saber, no Brasil, no periodo das invasées das coroas portuguesas ¢ espanholas, somavam-se cerca de 6 milhées a 10 milhdes de individuos nativos ¢ uma diversidade linguistica de 1300 Iinguas propriamente nativas. Somos partes dos povos que aqui resistiram ¢ resistem aos massacres continuos, em torno de 200 mil sobreviventes. Mato Grosso do Sul torna-se um dos estados que compéem povos indigenas na tegiao. Todas as etnias que aqui vivem e tentam sobreviver softem uma pressio muito forte por parte dos capitalistas, na tentativa de expandir a exploragao das terras indigenas, fortalecendo desta forma seus negdcios com 0 apoio do Governo do Estado e representantes politicos, apontando claramente que seus interesses estdo diretamente ligados ao agronegécio. Diante dessa facanha, fica explicito para os indigenas que 0 “boi vale mais do que a vida’, e essa acdo também deslegitima seus direitos assegurados na Constituigao de 1988 no que tange o direito as terras indigenas. A questio de terra é de vital importincia para estes povos, tendo-se em vista que todos, sem excegio, constroem seu préprio sentido de pessoa ¢ de mundo. A relagio com 0 territério é condigao indispensavel para a reprodugao fisica e cultural. No entanto, para garantir aos povos indigenas a manutengao fisica ¢ cultural, é preciso urgentemente a concretizacéo da demarcagio de suas terras tradicionais que, de certa forma, foram-lhes arrancadas pelo préprio Estado e cedidas aos fazendeiros paraa povoagio na formagao do Estado do Mato Grosso, no periodo de sua formagao. E necessario que ‘© Governo Brasileiro faga acontecer, em carter emergente, as demarcagdes das terras reivindicadas comprovadamente pertencentes aos indigenas para garantir-Ihes a sobrevivéncia, Entendemos que enquanto houver a negasao dos direitos a posse e sua reintegrasao, sempre havera derramamento de sangue das nossas liderangas, sendo elas o alvo quando buscam fazer valer seus direitos. Havendo demarcagao das terras indigenas, pode se iniciar 0 processo de reconstrusao de vida e da manutengao de sua cultura as quais, durante décadas, tém sofrido perda da identidade devido as “cercas” impostas, limitando e encurralando sua liberdade. Este ato resultou no confinamento e falta de perspectiva de vida. E necessério reeducar para mudar a postura da politica atual do Brasil que visa somente a investir nas grandes induistrias capitalistas gananciosas, a copa do mundo, o agronegécio, ‘com consequéncias na precariedade da saiide, educagao, reforma agréria ¢ outros. A populagio indigena necessita de uma Politica Publica que venha ao encontro de suas reais necessidades, projetos de sustentabilidade a partir de ages concretas, respeitando sua diversidade titra wigenaivena, Eucado Popul -RECID -MS 5. EDUCAGAO E DIREITOS Ainica, crengas e tradigao, que visem a projetos eficazes de sustentabilidade nas aldeias, iniciados com a demarcagao das terras, pois sem as demarcacdes nao ha possibilidade de se libertar da vida oprimida ¢ de confinamento. ‘Trata-se de garantir a Educacao Escolar Indigena nas escolas Municipais Estaduais no intuito de ensinar os alunos a valorizagao da cultura dos povos indigenas a partir dos saberes tradicionais a0 ado dos conhecimentos cientificos. Saberes vindos da nossa tradigao presente em nossas “bibliotecas vivas’, nossos ancides, liderancas tradicionais e professores indigenas. Nos iltimos anos, temos percebido a perda da identidade, da lingua materna conhecida como a lingua de origem, por falta de incentivos nas escolas piblicas. Quanto 4 saide, vivenciamos um momento caético e precério quanto ao atendimento, Médicos e enfermeiros nao estéo preparados para atender a populagio indigena. A lingua tem sido um fator agravante para a comunicacao entre médicos e pacientes. Com a falta de um tradutor, 0 paciente acaba retornando sem atendimento e mesmo tentando recorrer 4 medicina tradicional, mas sem encontrar o suporte devido A falta das ervas, j& que as matas esto praticamente destrufdas. Alguns casos foram ao ébito. Para tanto, a mé qualidade da alimentagio consumida ocasionam doencas que se tornaram comuns nas aldeias, tais como, o cancer, a diabete, a hipertensio, desnutrigao ¢ outros. A falta de producdo nas aldeias devido & falta de terras levam ‘os indios a se alimentarem de uma forma que acarreta problemas de sate, pois esses alimentos s80 industrializados, enlatados, com alto colesterol, o que foge da sua alimentacao tradicional. ‘A auséncia de politicas puiblicas nas aldeias € muito grande, pois muitas aldeias nao tém acesso 0s beneficios do Governo Federal, como, por exemplo, bolsa familia, vale renda, geragao de renda, direitos da juventude, direitos da mulher e até mesmo o projeto Mova para as pessoas que nao tiveram oportunidades para concluir seus estudos. Também ficam privadas do direito do idoso, direito da infincia e do adolescente, seguranga nas aldeias. Com todos esses fatores, hd o risco de se dizimarem indigenas de sua pr6pria cultura, sendo expulsos dos seus espacos territoriais. Sobre estes fatores, é necessério reafirmar o fortalecimento da Educagao Popular nas comunidades indigenas, garantindo sustentabilidade para as agSes realizadas e, partir dessas aces, buscar ages unificadas com os movimentos sociais tais como MST, CUT, CIMI, CDDH e outros. Mantera unificacao dos povos indigenas de Mato Grosso do Sul, bem como a dialogicidade entre as outras organizagdes sociais, comunicacao ¢ principalmente mobilizar-se ¢ liberta-se contra as ordens opressoras “6 uma missio a cumprit’. n 78 5. EDUCAGAO E DIREITOS 5.14 IGUALDADE E PROTECAO DOS DIREITOS DAS POPULAGOES NEGRAS Luiz Felipe de Oliveira Teixeira! Porto Alegre-RS, 09 de setembro de 2013. "Ser negro nao é uma questao de pigmentagao, ‘mas 0 reflexo de uma atitude mental” Steve Biko ‘Companheiras (os) da Recid! dez anos da Rede de Educagao, escrevo esta carta na busca de uma reflexio sobre ‘© tema “Igualdade e protecio dos direitos da populagio negra’. Este & um tema vasto € complexo, por esta razio, abordo resumidamente alguns dos discursos que promoveram, sustentaram e hoje reproduzem a desigualdade racial em nosso pais. Desde jé, coloco-me & disposi¢ao dos companheiros e companheiras para dialogar e debater este tema. © Brasil forjou sua sociedade a partir da invasio colonialista e da exploracio do trabalho escravo, principalmente com a Didspora dos negros ¢ negras Africanos, modelo que se transformou e que modernamente pauta seu crescimento econémico na légica capitalista neoliberal, que se traduz no aumento da acumulagio ¢ impulsiona o aumento da exclusio social ¢ racial. O discurso baseado no mito do progresso tem promovido politicas que incentivam o crescimento ilimitado e a qualquer custo, o que resulta em aumento das desigualdades raciais e de género. Para Nogueira (2004), a globalizagdo, ou a mundializa¢ao contemporinea, apresenta-se como ‘uma continuidade do processo neocolonial de ocidentalizagao do planeta, através da imposigao de ‘uma tinica proposta politica, ideolégica, econdmica e cultural, centrada na mercadoria e no capital predatério, capaz de invadir a sociedade com suas concepgoes cientifico-filoséficas, préprias do desenvolvimento irresponsavel associado ao pragmatismo do pensamento euro-ocidental Os diversos povos afficanos transladados para o Brasil trouxeram modelos tecnolégicos ¢ conhecimentos essenciais para a construcio do pais, a exemplo da mineracio, da siderurgia, das téenicas agricolas e da construcio das cidades, além das préticas médicas ¢ alimentares tradicionais. Este arcabouco tecnolégico, preservado e praticado nos territérios tradicionais constituidos pela descendéncia africana no Brasil, nas areas rurais ou urbanas, tem sido tratado de maneira ambigua pelo capital e pela ciéneia moderna. £ transformado em propriedade cientifica privada quando Util a0 capital ¢ ao seu modelo de produgao, mas é negado, invisibilizado ¢ desqualificado quando contraditério ao interesse do projeto hegeménico de desenvolvimento. A utilizagao de ervas medicinais, de hidroterapias e de outras priticas, adjetivadas no passado como “primitivismo” ou “feitigaria’ hoje so incorporadas ao que ha de mais moderno na medicina alternativa, e até mesmo da medicina ortodoxa. Paradoxalmente, o que antes estava solidariamente TT Manes do movimento Nera, Cones do CODENE (Conslho Eadual de Partopaco « Desesalviments da Coridade NeralR),-Edsador Papalr ex itegrant da Como Nacional (CN/RECID. 5. EDUCAGAO E DIREITOS disposicao do coletivo, passa a ser monopolizado pela indiistria farmacéutica e pelas leis de patentes, expropriando comunidades inteiras dos seus conhecimentos tradicionais. Também o racismo institucional persiste expresso na sub-representagao de mulheres ¢ homens negros nos postos puiblicos € nos parlamentos. A negagio dos direitos humanos bésicos, préprios do modelo hegeménico de desenvolvimento, precariza as condigdes de habitabilidade ¢ expe a populagio negra a falta de saneamento basico, & poluigio do ar e dos mananciais, tipificando o racismo ambiental. Nos tiltimos dez anos, os programas sociais do governo brasileiro, como 0 PROUNI na educagao ‘ow a transferéncia de renda através de beneficios como aposentadorias, “bolsa-familia’ e assisténcia social, proporcionaram a mais de 40 milhdes de brasileiros sairem da situag4o de pobreza extrema, assim como melhoraram os indices na saide e outros setores. No entanto, a populagio negra ainda permanece em desvantagem. De acordo com o Censo Demogrifico de 2010, a populagao brasileira extremamente pobre esta estimada em 16 milhdes de pessoas, das quais 71% sio negras, embora a populacao negra (negros ¢ pardos) represente hoje 50,6% da sociedade brasileira. Na educacdo, na tiltima década, a taxa de analfabetismo diminuiu, passando de 12,3% em 1999, para 9,7% em 2009, para o total da populac: no entanto, a populagao parda ¢ preta ainda tem o dobro da incidéncia de analfabetismo observado na populacao branca: 13,3% dos pretos ¢ 13,4% dos pardos, contra 5,9% dos brancos sio analfabetos. As mortes por assassinato entre jovens negros no pais séo, proporcionalmente, duas vezes e meia maior do que entre os jovens brancos. Em 2010, o indice de mortes violentas de jovens negros foi de 72 para cada 100 mil habitantes, enquanto entre os jovens brancos foi de 28,3 por 100 mil habitantes. Na comparasio com os ntimeros de 2002, a taxa de homicidios de jovens brancos caiu (era 40,6 por 100 mil habitantes), jé entre os jovens negros o indice subiu (era 69,6 por 100 mil habitantes), © racismo, em sua articulag4o com o sexismo, produz.a estigmatizacao da identidade feminina negra, com repercussao em todas as dimensdes da vida, Frente a esta dupla subvalorizacao, racial e por género, é possivel afirmar que se as mulheres negras atingissem os mesmos niveis de desigualdades cexperimentados pelas mulheres brancas, isso significaria alcancar uma extraordindria mobilidade social Os afrodescendentes resistiram através de lutas, revoltas, da organizacdo nos quilombos, através de sua cultura e religiosidade perpetuadas na forga da ancestralidade, nas ages do movimento social negro ¢ da educacao popular, Entretanto o racismo permanece incrustado em nossa sociedade, por isso ha necessidade de se resistir ¢ reverter este quadro também, A reversio desta realidade & uma tarefa para o Brasil, pois as desigualdades raciais na sociedade brasileira tém graves consequéncias na cultura, na politica e no desenvolvimento da nagio. Fsta tarefa esté, especialmente, em nossas méos enquanto educadores/as populares e militantes dos direitos humanos. Todavia, precisamos ter a clareza de que a simples temética dos direitos humanos nao dara conta desta tarefa, E preciso o recorte étnico-racial, com foco nas ages afirmativas. Consciente ¢ compromissado com esta tarefa, acreditando na premissa que “Negro jé nasce militante’, pois, para 0 povo negro, nascer é um ato de resisténcia ¢ luta devido & exclusio sofrida também na rea da satide, participei com muitos outros companheitos e companheiras do movimento negro, de alguns processos, destacando a conquista da lei que garantiu cotas para afrodescendentes nos concursos piblicos na prefeitura de Bagé, aprovada, sancionada e editada no ano de 2002, Em 2004, nos dias 27, 28 ¢ 29 de abril, no gindsio Militio em Bagé, realizamos o 1° Encontro das ‘Comunidades Remanescentes de Quilombos da Regido da Campanha, juntamente com o Talher/RS, n 5. EDUCAGAO E DIREITOS Conselho Negro de Bagé, Associagao dos Remanescentes de Quilombos de Palmas, Centro Memorial de Matriz. Africana 13 de Agosto e outros parceiros. Atualmente, compondo o governo do Rio Grande do Sul como assessor na secretaria da seguranca piblica, juntamente com outros companheiros ¢ companheiras negros/as, instituimos 0 Grupo de Trabalho da Igualdade Civilizatéria na Seguranga Publica, no qual, dentre as tantas atividades € processos realizados, mesmo diante das dificuldades da burocracia estatal, considero importante destacar 0 trabalho realizado no sistema prisional, com foco na participagao das religides de matriz africana dentro das casas prisionais. Uma das agGes foi a realizagao de um axé de limpeza de fim de ano para as mulheres em situacao de prisio da Penitenciaria Feminina Madre Pellettier em Porto Alegre. Namesma Penitenciéria, apartir denossamotivasao, as mulheresem situagio de prisao planejaram, organizaram e realizaram em novembro de 2012, um semindrio sobre o més da consciéncia negra e no dia 12 de julho de 2013, uma plendria da II Conferéncia Estadual de Promocio da Igualdade Racial com o tema: “Democracia ¢ Desenvolvimento Sem Racismo: por um Rio Grande Afirmativo’, onde foram cleitas duas mulheres negras em situacao de prisio como delegadas a etapa estadual, realizada nos dias 24 ¢ 25 de agosto de 2013 ‘Companheiros/as, j me alonguei demais, muitas outras ages teria a relatar, porém, encerro com ‘0 compromisso de continuar a luta pelo e com o povo negro, pelos direitos humanos e pela educagao popular Axé a todos e todas. 5. EDUCAGAO E DIREITOS SAIBA MAIS Filme KIRIKU e a feiticeira httpsfuwu.youtube.com/watch?y=fFti74F TPQ Estatuto da igualdade racial http:/fbd.camara.gov-br/bd/bitstream/handle/bdcamara/4303/estatuto_igualdade_racial paf?seauence=1 Campanha juventude viva, httpufwen juventude.gov.br/juventudevivafo-plano 0s homicidias sao hoje a principal causa de morte de jovens de 15 a 29 anos no Brasil e atingem especialmente jovens negros do sexo masculina, moradores das periferias e reas metropolitanas ds centras uroanos. Dados do Ministério da Saiide mostram que mais da metade (53,3%) dos 49,932 mortos por hamicidios em 2010 no Brasil eram jovens, dos quais 76,6% negres (pretos parddos) © 91,3% do sexo masculine. Em resposta a esse desafio, 0 Governo Federal o Plano Juventude Viva. Sob a coordenagao da Secretaria-Geral da Presidéncia da Repiblica, por meio da Secretaria Nacional de Juventude, & da Secretaria de Politicas de Promocao da [gualdade Racial, 0 Plano Juventude Viva éfruto de luma intensa articulagao interministerial para enfrentar a violéncia contra a juventude brasileira, especialmente os jovens negros, principais vitimas de homicidio no Brasil LET No 10.639, DE 9 DE JANEIRO DE 2003 — Ensino da Histéria e Cultura Afro-Brasileira na rede piblica de ensino, httpsfaueu.planalte.gou.br/ecivil_03/leis/2003/120.639.htm Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembra de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educagio nacional, para incluir no curriculo oficial da Rede de Ensine a cbrigatoriedade da tomatica “Histéria e Cultura Afro-Brasileira’ A partir desta Lei, nas estabelecimentos de ensino fundamental e méeio,oficiaise particulares, torna-se obrigatério o ensino sobre Histéria e Cultura Afro-Brasileira. Ainda, © calendério escolar inclulrd o dia 20 de novernbro como “Dia Nacional da Consciéncia Negra’ OUTRAS SUGESTOES: “Sou”, Documentério dirigide por Andréia Vigo, 2019, 26min. VICENTINI, Paulo G. Fagundes; RIBEIRO, Luiz D. Teixeira; PEREIRA, Analiicia Danilevicz. Breve Histéria da Africa. Porto Alegre: Leltura XXI, 2007. CRESTANI, Luclana Maria. Sem vez e sem voz: 0 negro nos textos escolares. Passo Fundo, UPF, 2003, DAVIES, Nicholas. Livro didatico: apoio ao professor ou vilo do ensino de hist6ria? Leitura tooria e pratica. Porto Alegre, ano 15, n. 28, 1996. TEIXEIRA, Luiz Felipe de Oliveira. Educago Formal e Educacéo Popular Na Construgéo dda Identidade dos Afro-Brasileiros. Trabalho de Conclusio do Curso Realidade Brasileira Ufrgs, 2009. Disponivel em . aI a 5. EDUCAGAO E DIREITOS 5.15 - QUILOMBOS A RESISTENCIA DE UM POVO Liicia Regina Brito Pereira’ resistencia ao sistema escravista foi uma agdo constante do africano e descendentes. Em 1740, reportando-se ao rei de Portugal, 0 Conselho Ultramarino deu a seguinte definicao para quilombo: “toda habitacao de negros fugidos, que passem de cinco pessoas, em parte lespovoada, ainda que nao tenham ranchos levantados e nem se achem pilées nele’. © quilombo mais conhecido no Brasil foi o de Palmares, situado na Serra da Barriga, em Alagoas, que durou quase cem anos, do século 17 a0 18, ¢ cujo lider foi Zumbi dos Palmares. Os negros fugidos do sistema escravista procuravam lugares distantes e de dificil acesso para recriar uma forma de vida diferente daquela do cativeiro, Nesses locais eram livres, a terra pertencia a todos. Nela os quilombolas plantavam uma cultura de subsisténcia e comercializavam o excedente com os fazendeitos vizinhos por outros produtos de que necessitassem: armas, pélvora, ferramentas etc. Também nesses territérios organizavam téticas de guerrilha para enfrentar as investidas das forgas oficiais e capities do mato incumbidos de destruir esses espacos que se constituiam em uma grande ameaga ao sistema escravista, No Brasil, a restrig40 a0 acesso & terra ocorre com a Lei de Terras de 1850, que estabelece a propriedade privada, determinando que sé poderia permanecer na terra quem por ela pudesse agar, ou apresentasse registro de compra. Junto a ela igualmente é oficialmente extinto o tréfico transatlantico, As implicagdes dessas duas determinagoes iriam afetar o acesso & terra no pais por duas razdes. Primeiro, porque desalojou significativo nimero de africanos que ocupavam terras devolutas ¢ que naquela época eram livres em funcao da Lei Diogo Feijé, a chamada lei “para inglés ver” que dava essa condigao aos africanos desembarcados no Brasil apés 1831. Em segundo lugar, sera responsivel pelo desalojamento de populagses tradicionais, indigenas e negras, que foram expulsas das terras que habitavam. Esse proceso deu inicio 4 ocupacao, por esses grupos, de terras distantes, isoladas e de dificil acesso para fugirem da opressio do sistema escravista. Mais recentemente, em centros urbanos, a ocupacao ocorre através da formagio de favelas e vilas, espagos em principio nao interessantes & especulagio imobilidria Atualmente existem novas definigdes sobre quilombos, elaboradas a partir do Artigo 68, do Ato das Disposigées Transitérias da Constituigao Federal de 1988, reconhecendo oficialmente as terras ‘ocupadas por comunidades negras através de compra, doagio ou ocupacio, a fim de que Ihes seja assegurado o direito de posse sobre as terras onde vivem. Assim se refere o citado artigo: “Art, 68. Aos remanescentes das comunidades dos quilombos que estejam ocupando suas terras ¢ reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-Ihes os titulos respectivos” As definigoes atuais se diferenciam daquelas do perfodo colonial e imperial, dando autonomia para as comunidades tanto rurais como urbanas de se autorreconhecerem como quilombolas. As comunidades hoje identificadas como quilombolas se formaram a partir da ocupagio de éreas consideradas devolutas e impréptias &s atividades produtivas dominantes, ou se constituiram através da compra de uma rea, cujo pagamento se dew através do trabalho ow ainda através de doagio. Segundo dados da Fundas4o Cultural Palmares de outubro de 2013, 0 nimero de comunidades T Downe om Hit POCRS, profes dr rede ada ma ipl de Pos Age 5. EDUCAGAO E DIREITOS quilombolas mapeadas atualmente no pais gira em torno 3.524 ¢ de acordo com outras fontes esse niimero pode chegar a 5 mil. Destas, 2007 possuem Certidées de Autodefinigio ¢ 290 comunidades estdo em fase de processo de certificacao. No mesmo perfodo constam 549 comunidades identificadas, mas, que nio possuem proceso de cettificagao aberto, pois nunca solicitaram a emissio da Certidéo de Autodefinigao, conforme o Decreto Presidencial n°, 4887/2003, Dados da Secretaria de Politicas de Promogao da Igualdade Racial (SEPPIR), coordenadora do Programa Brasil Quilombola (PBQ), informam que 207 comunidades foram tituladas perfazendo ‘uma dea total de 995,1 mil hectares, beneficiando 12.906 familias. Fssas sao assim definidas porque 0 processo histérico-antropologico foi finalizado, concedendo-Ihes, desta forma, oficialmente, a posse definitiva da terra © marco legal instituido na Constituicao através do Artigo 68 tem caracteristicas importantes, pois, sinaliza o reconhecimento oficial destes territérios como legitimos e pertencentes is comunidades ‘que, por longa data, habitam estes espagos. Por outro lado estas reas guardam uma histéria ancestral nos modos de viver, que remontam ao tempo de chegada dos africanos no pais. Em 12 de margo de 2004 foi lancado, o Programa Brasil Quilombola cujo objetivo & consolidar ‘os marcos da politica de Estado para as areas quilombolas. Como seu desdobramento foi instituida a Agenda Social Quilombola (Decreto 6261/2007), que agrupa as aces voltadas as comunidades em varias éreas, conforme segue: Fixo 1: Acesso a Terra - execugio e acompanhamento dos trimites necessérios para a regularizacao fundiéria das éreas de quilombo, que constituem titulo coletivo de posse das terras tradicionalmente ocupadas. © processo se inicia com a certificasio das comunidades e se encerra na titulagdo, que é a base para a implementacio de alternativas de desenvolvimento para as comunidades, além de garantir a sua reprodugao fisica, social e cultural; Eixo 2: Infraestrutura ¢ Qualidade de Vida - consolidagio de mecanismos efetivos para destinacao de obras de infraestrutura (habitago, saneamento, eletrificagao, comunicacao e vias de acesso) ¢ construcéo de equipamentos sociais destinados a atender as demandas, notadamente as de saide, educagao e assisténcia social; Eixo 3: Inclusio Produtiva ¢ Desenvolvimento Local - apoio ao desenvolvimento produtivo local e autonomia econdmica, baseado na identidade cultural ¢ nos recursos naturais presentes no tertitério, visando a sustentabilidade ambiental, social, cultural, econémica e politica das comunidades; Fixo 4: Direitos e Cidadania - fomento de iniciativas de garantia de direitos promovidas por diferentes drgios publicos e organizagées da sociedade civil, estimulando a participacao ativa dos representantes quilombolas nos espagos coletivos de controle e participasao social, como os conselhos ¢ féruns locais e nacionais de politicas publicas, de modo a promover 0 acesso das comunidades ao conjunto das agbes definidas pelo governo e seu envolvimento no monitoramento daquelas que sio implementadas em cada municipio onde houver comunidades remanescentes de quilombos. A coordenacao geral do Programa é de responsabilidade da SEPPIR, que atua em conjunto com 5 11 ministérios que compdem o seu Comité Gestor. Contudo, cabe ressaltar que as ages executadas por diversas vezes extrapolam a competéncias desses drgios, Nesse sentido, conforme necessario sto estabelecidas parcetias com outros érgios do Governo Federal. A Gestéo Descentralizada do Programa 83 4 5. EDUCAGAO E DIREITOS Brasil Quilombola alem da articulacdo com os entes federados, sua gestio estabelece interlocugéo com “rgios estaduais e municipais de promogao da igualdade racial (PIR), associagSes representativas das comunidades quilombolas ¢ outros parceiros no-governamentais. ASEPPIR tem acompanhado ¢ estimulado a instituigao de Comités Gestores Estaduais, sendo que, até o presente momento, foram iniciados processos de constituicio dessas instancias estaduais, sendo algumas ja formalizadas por decreto do Governador, em 05 estados: Alagoas, Amapa, Goids, Paraiba, Parani, Os estados do Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul S40 Paulo esto em fase de conclusio desse proceso, Nessa perspectiva foram criados os Seminsrios de Agdes Integrado Programa Brasil Quilombola visando & consolidagao dos Planos Estaduais de Acdes Integradas do Programa. A seguir é importante demonstrar 0 quadro atual da Politica de Regularizacio de Territérios Quilombolas no Instituto Nacional de Colonizagio e Reforma Agréria, bem como, os passos que definem o proceso de reconhecimento, certificasao ¢ titulacdo dos territérios quilombolas. Processos Abertos Trata-se da abertura do processo administrative no ambito do INCRA, devidamente autuado, protocolado e numerado. O proceso podera ser iniciado de oficio pelo INCRA ow a requerimento. de qualquer interessado, das entidades ou AssociagSes representativas de quilombolas. Pode ser feito pela simples manifestagao da vontade da parte, apresentada por escrito ou verbalmente, caso em que sera reduzida a termo por representante do INRA. Na atualidade existem de 1.264 processos abertos em todas as Superintendéncias Regionais, a excesio de Roraima, Marabi-PA e Acre Relatério ‘Técnico de Identificagao e Delimitagao - RTID £ um relatério técnico produzido por uma equipe multidisciplinar do INCRA, criada por Ordem de Servico, Sua finalidade é identificar ¢ delimitar o territério quilombola reivindicado pelos remanescentes das comunidades dos quilombos. © RTID aborda informagées cartograficas, fundidrias, agrondmicas, ecoldgicas, geogréficas, socioecondmicas, histéricas ¢ antropolégicas, obtidas em campo ¢ junto a instituigdes publicas e privadas, sendo composto pelas seguintes pecas: relatério antropoldgico; levantamento fundiario; planta e memorial descritivo do perimetro da rea reivindicada pelas comunidades remanescentes de quilombo, bem como mapeamento € indicag4o dos iméveis e ocupagées lindeiros de todo o seu entorno; cadastramento das familias remanescentes de comunidades de quilombos; levantamento eespecificagio detalhada de situagoes em que as areas pleiteadas estejam sobrepostas a unidades de conservagao constituidas, a dreas de seguranga nacional, a areas de faixa de fronteira, terras indigenas ou situadas em terrenos de marinha, em outras terras piblicas arrecadadas pelo INCRA ou Secretaria do Patriménio da Unido e em terras dos estados e municipios; parecer conclusivo, Apés a sua conclusio, o Relatério deve ser aprovado pelo Comité de Decisdo Regional - CDR ¢ ser publicado na forma de Edital, por duas vezes consecutivas nos Diatios Oficiais da Unido € do Estado, assim como afixado em mural da Prefeitura. Na atualidade existem 157 Editais de Relatério Técnico de Identificagao ¢ Delimitagao publicados, totalizando 1.649.499,6783 hectares em beneficio de 21.628 familias. 5. EDUCAGAO E DIREITOS Portaria de reconhecimento do territério Apés a publicagdo do Relatério Técnico de Identificagao e Delimitaso decorre um prazo para o recebimento de eventuais contestagdes de interessados particulares ou outros érgdos governamentais, Caso haja contestagdes, estas serdo analisadas ¢ julgadas pelo Comité de Decisaio Regional, ouvindo os setores técnicos ea Procuradoria Regional. Da decisio contréria, cabe recurso a0 Conselho Diretor do INCRA. Se forem procedentes, 0 Edital publicado precisa ser retificado ¢ republicado, caso contrétio, o Relatério Técnico de Identificagao ¢ Delimitagio é aprovado em definitivo, A partir dai, 0 Presidente do INCRA publica Portaria reconhecendo ¢ declarando 05 limites do territério quilombola, A Portaria de Reconhecimento do Territério Quilombola é publicada no Didrio Oficial da Unio e do Estado, Na atualidade, existem 73 Portarias publicadas, totalizando 302.885,1252 hectares reconhecidos em beneficio de 6.552 familias, Decreto de Desapropriacao por Interesse Social. No caso do territ6rio se localizar em terras piiblicas, esta etapa é desnecesséria. Em sendo terras da Unio, esta sera titulada pelo INCRA ou pela SPU. Em sendo terras estaduais ou municipais, a titulagao cabe ao respectivo ente da federacao, Por outro lado, no caso da érea quilombola estar localizada em terras de dominio particular é necessério que o Presidente da Repiiblica edite um Decreto de Desapropriagao por Interesse Social de todo o territério. A partir dai, cada propriedade particular pertencente a nao quilombola da area devers ser avaliada por técnico do INCRA, apés © que seré aberto o respectivo procedimento judicial de desapropriagio e indenizagio do(s) proprietirio(s). A indenizagio se baseia em prego de mercado e ocorre em dinheiro, pagando-se o valor da terra nua e das benfeitorias para os titulos vilidos e apenas das benfeitorias no caso de titulos invalidos ou area de dominio sem titulo correspondente. ‘Titulos Emitidos Na regularizacao fundiéria de quilombo, esta é a dltima etapa do processo ¢ ocorre apés os procedimentos de desintrusio do territério. © titulo é coletivo, pré-indiviso e em nome das associagdes que legalmente representam as comunidades quilombolas. Nao hé nus financeiro para as comunidades e obriga-se a insergao de cléusula de inalienabilidade, imprescritibilidade e de impenhorabilidade no titulo, o qual deverd ser registrado no Servico Registral da Comarca de localizagao do territério. Devido as diferengas de normatizagao, alguns titulos emitidos antes de 2004, pela Fundagao Cultural Palmares, ainda se encontram na fase de desintrusdo, Na atualidade existem 139 titulos emitidos, regularizando 995,009,0875 hectares em beneficio de 124 territ6rios, 207 comunidades e 12.906 familias quilombolas, assim distribuidos: De 1995 a 2002 foram expedidos 45 titulos regularizando 775.321,1193 hectares em beneficio de 42 tervitérios, 90 comunidades e 6.771 familias quilombolas. Estes titulos foram expedidos pela Fundagio Cultural Palmares, pelo Instituto Nacional de Colonizagio ¢ Reforma Agréria-INCRA € por instituigdes estaduais e municipais. - De 2003 2 2010 foram expedidos 75 titulos regularizando 212.614,8680 hectares em beneficio de 66 tertitérios, 99 comunidades ¢ 5.147 familias quilombolas. Estes titulos foram expedidos ~ De 2011 a 2012 foram expedidos 19 titulos regularizando 7.073,1002 hectares em beneficio de 17 territérios, 18 comunidades e 988 familias quilombolas. Na atualidade existem 53 Decretos publicados, desapropriando 515.456,0822 ha em beneficio de 6.080 familias 8s a6 5. EDUCAGAO E DIREITOS As comunidades quilombolas nao se localizam apenas em areas distantes ou nas zonas rurais, Nas cidades também encontramos estas comunidades como € 0 caso do Quilombo da Familia Silva, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Este foi o primeiro quilombo urbano do pais a receber a sua titulagao em 2009, Os espacos quilombolas guardam uma forma peculiar de organizasdo familiar e cultural onde ha a preservasdo de uma cosmovisio de mundo propria que garantiu a existéncia destes grupos. Isto esta presente nas manifestagdes religiosas e também nas maneiras de produzirem o seu sustento. A resisténcia também é uma dimensio importante a ser destacada. Seja no enfrentamento ao sistema. Seja no confronto direto com posseiros ¢ fazendeiros lindeiros que nao admitem devolver a terra apropriada indevidamente a quem de direito elas pertencem. Dai 0 processo demorado de titulagio. A oralidade & um aspecto importante nestas comunidades, pois através dela a meméria ¢ as historias se preservam e se revelam, Este aspecto em muito fica em oposi¢io ao institucional, pois sem documentagao oficial o reconhecimento se torna mais longo. Para dar andamento ao processo de reconhecimento, de certificagio é imprescindivel que haja ‘uma representacio oficial da comunidade. E essa certificagao s6 é possivel apés a instalacdo de uma Associagao que represente a vontade de auto conhecimento da comunidade como quilombola. Importante também é salientar que, se voce reside em uma érea com estas caracteristicas faga um levantamento sobre a ago dos programas governamentais na regio, observe se a comunidade esta sendo atendida pelo Programa Brasil Quilombola. Caso ocorra a nio atendimento deste Programa em alguma area, veja com a comunidade da possibilidade mobilizar os érgios competentes para a efetivagao das politicas ausentes na sua comunidade ou regio.x Apés estas informagées, pesquise no texto as palavras que vocé nao entendeu. Pesquise na sua regido se ha lugares com estas caracteristicas seja na érea rural ou urbana. Faca uma pesquisa em jomnais veja se ha alguma area em conflito ¢ quem séo os envolvidos, Organize com sua escola, ou turma um passeio a. uma comunidade quilombola e observe a cultura, a produgio, as condigdes das pessoas residentes no local, Lembre, estes espacos sao locais de preservagao de identidades, de resisténcia, de culturas, portanto, os residentes merecem ter seus territérios reconhecidos e ser assistidos nas suas necessidades a fim de que a equidade e os bens garantidos constitucionalmente sejam de fato implementados em beneficio do desenvolvimento sustentavel do pais. 5. EDUCAGAO E DIREITOS 5.16 LIBERDADE DE EXPRESSAO, CULTO E RELIGIAO Beatriz. Goncalves Pereira ¢mos falar do inicio da histéria: a chegada do povo negro no Brasil foi marcada por inimeras torturas para que eles no expressassem sua cultura, seus cultos, sua religio. A condicao de escravos a qual foram submetidos Ihes tirava tudo, menos a fé. E este pensamento, articulado com as aces do colonizador portugués, também oprimia e massacrava os filhos desta terra, os indios. A tio sonhada liberdade de expressio foi sendo conquistada com muito sangue ¢ suor, pelos mais diversos povos que por aqui passaram, viveram e morreram. A forca interior de cada um ea crenga nas divindades sagradas advindas todas da Mie natureza lhes dava a certeza de que ‘outro rumo ela daria em seus caminhos. Os cultos eram realizados as escondidas, as dangas, as ervas ‘ram utilizadas para a cura dos seus, as comidas, os cantos ¢ os louvores. No entanto, o colonizador ‘esqueceu que mesmo em um pais distante, longe de tudo que foi nosso, nos tirando a liberdade, jamais tiraria nossa capacidade de guardar em nossa meméria nossas riquezas culturais e religiosa. Nos organizamos em quilombos, em grupos e montivamos familias sem nem sequer saber de onde vinham aqueles que ali se instalam, Essa era a tinica maneira de sobreviver. Quando ainda nos restava a vida, as fugas eram constantes, pois era desumano a maneira como o povo negro era tratado, No entanto, considera-se que a unidade de pensamento era tio forte que mesmo muito distantes ‘uns dos outros, sem saber ler ou escrever neste pais, fomos passando (contando) nossa histéria pela oralidade para as criangas que conseguiam ficar vivas, e para aquelas que nao eram arrancadas de suas mies, bem como aos jovens que sobreviviam &s torturas ¢ & devasta de suas vidas que eram ceifadas pelo prazer do colonizador de se sobrepor diante do diferente, do desconhecido... ¢ tudo isto era feito em nome de Deus e do poder dos homens diante & ganancia materialista do capitalismo. Nao pense que a situagao hoje ¢ diferente! © povo negro ainda sente o peso da escravidao! Ainda lutamos pela liberdade de expresso! Nao se usa mais 0 chicote, o agoite ¢ a matanca dos nossos ovos no tronco, mas o chicote transformou-se nas leis que s4o construidas nao para nds, 0 agoite da criminalizagao dos nossos rituais e a morte das nossas criangas, adolescentes, jovens, mulheres € homens negros. Mas a triste constatagio da morte do nosso povo nao nos faz recuar, pelo contrério, Iutamos na busca de politicas afirmativas para a nossa gente na saide, seguranga alimentar,territério, desenvolvimento sustentavel e cultura © nosso cultuar aqui no Brasil, por muitos anos, foi misturado com o sancretismo. Esta foi a mancira inteligente de utilizar imagens da crenca do povo branco para que a nossa sobrevivesse. Ao longo do tempo, nossa base de sustentacao foi nossa religiosidade. Mas somente isso nao nos bastava. Fomos is ruas ¢ exigimos respeito ao nosso sagrado, politicas voltadas para base e defesa do ovo negro, espagos territoriais historicamente tomados do povo negro, exigindo a visibilizacao de nossa existéneia numérica no IBGE. Assim fomos caminhando através de uma chamada maciga aos religiosos de matriz africana utilizando a frase “QUEM E DE AXE DIZ QUE £” e tivemos avangos, que ainda nao estdo perto do que deveria realmente ser. A exemplo disso, temos a distribuigao de alimentos através do programa da SEGURANGA ALIMENTAR com a participagio do MDS, o que foi muito complicado para 0 nosso povo, Ficamos nos afirmando enquanto sujeitos de direitos o tempo T Ma Bie de Yoman Educa i Atwist do movimento MONABANTU mera do Comte de Badal de pov d Perera. 87 a8 5. EDUCAGAO E DIREITOS inteiro para o governo federal e recorremos a SEPIR (Secretaria de Politica da Promocao da Igualdade Racial), propondo estadualmente a criagao de um forum especifico para o povo de tradigao de matriz africana, a fim de viabilizar caminhos para que estes, finalmente, fossem contemplados com cestas bisicas que estavam sendo oferecidas pelo programa. E assim foi construido o Forum Nacional de Seguranga Alimentar ¢ Nutricional dos Povos Tradicionais de Matriz Africana (FONSANPOTMA). Por meio desses relatos, quero dizer que nos tiltimos dois governos federais avangamos muito no processo de direitos para o povo negro, Mas nao basta somente o esforgo do mesmo, Nota-se que ainda gritante o racismo no imaginério da sociedade e nas instituigbes piblicas que veem a populagao negra como os insignificantes ou ainda, relacionando o negro, o preto com aquilo que é ruim, ‘A nossa caminhada continua, Temos uma missio a cumprir com nossa ancestralidade! E, LBERDADE... de expressio, de culto, de religiao, de vida cidada, pois, “verds que um filho (a) teu nao foge é luta’, nunca! Beatriz Goncalves Pereira 27 de setembro de 2013 SAIBA MAIS Hoje, somente no Rio Grande do Sul, existem 62mil terreiros, Hino da Umbanda Refletiu a luz divina com todo seu esplendor 6 do reino de Oxalé onde hé paz e amor uz que refletiu na terra luz que refletiu no mar luz que veto de arvanda para tudo iluminar ‘a umbanda é paz e amor, 6 um mundo chelo de luz a forga que nos dé vida e a grandeza nos conduz avante filhas de (€ coma a nossa lei ndo ha levamos ao mundo inteira a bandeira de Oxalé levamos ao mundo inteira a bandeira de Oxalé 5. EDUCAGAO E DIREITOS 5.17 DO DIREITO E DO DEVER DE VALORIZAR AS PESSOAS IDOSAS' Katiane Machado da Silva ‘os Idosos dos Movimentos Sociais do campo e da cidade pela experiéncia vivida e percebida, € por terem me proporcionado intensos processos de formagdo humana. Porto Alegre, 27 de agosto de 2013. serevo saudosa is pessoas idosas como as Matias, os Joaos, os Josés, as Zeferinas e tantos/ as idos@s desse pais continental que nosso Brasil. Um pais que vem se transformando demograficamente a cada periodo, no que diz respeito & sua populagao, ou seja, que em menos de um século passou de pais jovem para um pais com um mimero cada dia maior de pessoas idosas. Atualmente, vivemos um processo de mudanga social intensa com uma reestruturacao do capital «, principalmente, no que diz respeito ao que trouxe como titulo desta carta. Vivemos em tempos em que tudo se transforma em mercadoria. Escrever em direito e valorizar pessoas idosas em tempos 4speros significa nao ser simplista, nem demagogo, significa comprometer-se com a meméria social ¢ coletiva, jf que sabemos que os pessoas idosas sio pilares no que se constitui como cultura, histéria e meméria das lutas sociais populares. Esta carta as pessoas idosas surgiu a partir de didlogo com sujeitos fundantes do que hoje se constitui a Educacao Popular. Foram as condigdes do nao acesso que levaram educadores como Paulo Freire, Alvaro Vieira Pinto ¢ outros/as a se debrugarem a construir uma concepeao metodolégica de educagao popular voltada as classes populares que historicamente vivem na periferia social Reconhecer as pessoas idosas como sujeitos dessa historia que caminha 4 margem, mas que constitui as experiéncias que fortalecem os que caminham. Compreender 0 sentido profundo da experiéncia, esta como um grande aspecto que nos forja e nos constitui como lutadores populares. Qual seria o trabalho, papel, funcio das pessoas idosas na Educagio Popular? Os vejo como seres sociais, concretos, hist6ricos, animadores, comunicadores, contadores de hist6ria, contadores de suas experiéncias vividas e percebidas, sujeitos homens ¢ mulheres, seres humanos inacabados inconclusos, seres de contradicao, os vejo, ao lado, com e junto. Esse é0 real sentido de os valorizarmos. ‘Transformar/mudar o que se estabeleceu e se estabelece hoje como um modo der ser idos@, ou seja, que, ao envelhecer, nos aposentamos como se estacionéssemos, como se deixéssemos de ser produtores de histéria ¢ vida. Compreender o sentido da experiéncia acumulada ¢, junto com as pessoas idosas, sermos os educadores/as dessa ¢ das novas geragdes. Desenvolvendo um trabalho de “ombro a ombro” de aprendizagens, de saberes e de didlogos compartihados. Temos uma divida histérica e cultural com todas pessoas idosas. Trabalhar incansavelmente com um rigor, para mudar a crueldade social em que historicamente T Bie tad parasite do or de eal Bree Pelagia da ndignagio De dia edever de madar oman 2 Fcadora Ppa 89 5. EDUCAGAO E DIREITOS vivemos ¢ que os coloca ¢ nos coloca dentro da relagao de valor de uso ¢ troca da contradigio central centre capital e trabalho. Nao os jogar no isolamento, nos locais inadequados, ao contrério, construir espagos de aprendizagem e socializacao desse saber, desses conhecimentos, dessas experiéncias, dessa historia, enfim, de vida. Para isso, temos o desafio de tomar a consciéncia de que a crianga de ontem é ‘0 jovem e adulto de hoje e, consequentemente, o idoso de amanha, enfim, SER Idoso é ser sujeito, ser capaz, ser em possibilidade. ‘Como Mésziros coloca nas premissas de uma nova ciéncia em A Educagao para Além do Capital “A Aprendizagem é a nossa prépria vida, desde a juventude até a velhice” B.as pessoas idosas sto parte integrante dessa totalidade da aprendizagem da vida Os deixo esperancosa coma grandeza de que, enquanto ha vida, ha possibilidade e potencialidade de mudar o mundo... E dificil, como diz Freire, mas nao é impossivel. Um forte abrago e partilho um carinho, uma poesia que fiz quando comecei a estudar e a compreender mais esse tema ¢ essa fase de vida que é envelhecer. (Os Sujeitos Idosos ‘Nada é mais belo do que a vida A vida como um conjunto de momentos, situasaes, agées, que produzimos. ‘Que ao longo do tempo se solidificam em semblantes, gstos, sentidos que falam por sis. Sao pés descalgos, rostos cansados ¢ perflados, tristes ou alegres, esperangosos, enfim, homens ¢ mulheres que movem o desejo de libertar-se. Que fazem do sonho, wm pedago de terra, que ao longo vai se fertilicando. Aos poucos alguns se perdem, outros conseguem em meio a muitos desafios continuar seu enraizamento Eles sdo homens e mulheres com dificuldades, com sonhos, muitos marcados pela sombra, muitos tomados pela alegria de viver. Alguns se sentem como uma drvore seca, outros como uma drvore cheia de frutos, enfim, cada um tras consigo 0 desejo de mudar, de construir, de criar, um espago com sonhos, com sementes para amanha Buscar nestes semblantes 0 que eles fem a nos ensinar,o que o actimulo de vida, muitas vezes intensa, pode contribuir para o nosso crescimento, enquanto sujeitos. Olhar os diferentes momentos de vida e como se ‘manifestaram? Como a vida acumulada contribui para o comego de muitas novas outras vidas? Um sujeito simples, mas cheio de mistérias, ow entdo, momentos que a vida fez deste um sentido para calar- Parece que em seus olhares, nos falam em muitas linguas que nés ainda ndo conseguimos interpretar. Buscar em cada gesto, roto, sentido, aforca para seguirmes adiante Othar para todos os rastros deixades ¢ fazendo destes um instrumento para achar respostas. Por muitos {eitos, mas por ainda, poucas encontrados. 0 que, de fato, faz cada um continuar caminhando e ensinando? Persistindo e resistindo? Continuar vivendo com muita satisfagio e acreditando na vida? ‘Mostrar para cada um, um velho e ao mesmo tempo novo jeito de caminhar. 28-01-03 Inverno de agosto, tarde chuvosa e nublada, num frio intenso. 90 SAIBA MAIS Estatuto do idoso: httpufuwu.sesa.pr.goubriarquives/File/pagina_saude_do_Idoso/estatuto_do_idoso.pd ‘A CAmara aprovou, 0 Senado aprovou e o President® Luis Inacio Lula da Silva sancio nou em 1° de outubro de 2003 0 Estatuto do Idoso, que define medidas de protecdo as pessoas com idade igual ou superior aos 60 anos. 0 texto regulamenta os direitos dos idasos, determina obrigagées das entidades assistenciais e estabelece penalidades para uma série de situagdes de desrespeito aes idosos Politica nacional do idoso: htip:/iwwolanalto.gov.br/ccivil_03/leis/laeaz.him Lei Federal n° @.842, de 0 de janeiro de 1994, regulamentada pelo Decreto Federal n® 1.948, de 3 de julho de 1996. A politica nacional do idoso tem por objetivo assegurar 0s direitos sociais do idoso, criando condigées para promever sua aulonomia, integragio e participacdo efetiva na sociedade. Considera-se idoso, para os efeitos desta le, a pessoa maior de sessenta anos de ida ‘A lel também prevé a criagdo de conselhs do idoso no Ambito da Unido, dos Estados, Distrito Federal e municipios, com 9 objetivo de formular, coordenay, supervisionar & avaliar a politica nacional do idoso, FORUM NACIONAL PERMANENTE DA SOCIEDADE CIVIL PELOS DIREITOS DA PESSOA IDOSA, criado em 25 de novembra de 2010, por ocasido do I Encontro Na. cional de Féruns Permanentes da Sociedade Civil de Defesa dos Direitos da Pessoa Idosa, doravante denominado FORUM NACIONAL, é uma articulacdo de seus respectivos féruns permanente, coordenados pela sociedade civil Esta articulagdo constitu um esforga coletivo de féruns coordenados pela sociedade civil de cardter permanente constituidos como espacos iiblices legitimos de reoresentacao, mobilizagao, participa. {gio social e pratagonisme no processo de conquista e defesa de direitos; um espace de afirmacdo de autonamia e do fortalecimento da sociedade civil, garantin do sua legitimidade enquanto movimento social ede independéncia em relagao a0 Estado ou as iniclativas privativas de qualquer instituigdo, na perspectiva de dinamizacao dos {aruns permanentes existentes e apoio politico a criagdo de navos féruns permanentes ern regides, estados, municipios e demais localidades; ~ 0s féruns permanentes sao espacos adblices que contam com uma coordenagao exclu siva da sociedade civil que se redmem com regularidade tratando das politicas ¢ que relativas & pessoa idosa LISTA DE FILMES SOBRE 0 TEMA DO ENVELHECIMENTO 1A Balada de Narayama (apo, 1983) Dir. Shohel Imamura 2.Morangos Silvestres (Suécia, 1957) Dir. Ingmar Bergman 3.Conduzindo Miss Daisy (EUA,1989) Dir. Bruce Beresford 4,Perfurne de Mulher (ITA, 1975) Dir. Dino Risi 5.Calcha de Retalhos (EUA, 1995) Dir. Jecelyn Moorhouse 6.Copacabana (Brasil, 2001) Dir. Carla Carmu 7.Chuvas de Verio (Brasil, 1978). Dir. Cacé Diegues 2.0 Outro Lado da Rua (Brasil, 2004) Dir. Marcos Bernstein 9.Ensina-me a Viver (EUA,1995) Dir. Charles Matthau 10.0 Filho da Noiva (ARG, 2002) Dir. Juan Jose Campanella, 11.Duplex 12, Recordacées ¢ algumas Mentiras que seus Amigos deixam passar (EVA, 1993) Dir. Randa Heines

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