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Natal Jorge
L. M. J. S. Dinis
Teoria da Plasticidade
Teoria da Plasticidade
1. Introdução
2. Problemas Uniaxiais
σ σ
atrito
σ σ
σ
atrito
σ
atrito
σ σ
σ
atrito
45 45
L 1 2 3
x, Δ1
P, Δ2
Considere-se que as três barras são constituídas do mesmo material, cujo módulo de
elasticidade vale E, apresentam igual secção, A, e a carga de rotura, isto é, a força uniaxial
(compressão ou tracção) a que corresponde um estado de tensão coincidente com a tensão
de cedência obtida no ensaio de tracção, é Pc. Admita-se ainda que, uma vez atingida a
tensão de cedência o material pode deformar-se infinitamente mantendo-se contudo o
estado de tensão constante. Pretende-se determinar qual o valor da carga de rotura da
estrutura, Pr, em função de Pc.
EiAi/Li×cosθi
EiAi/Li×cosθi×senθi
cosθi
EiAi/Li
×(cosθi)2
Li
θi
x
Fig. 7-Esforços normais numa barra.
Teoria da Plasticidade 5
3
Ei Ai
K 21 = ∑
i =1 Li
× cos θ i × senθ i = K12 (1)
3
Ei Ai
K 22 = ∑
i =1 Li
× sen 2θ i
ou explicitando:
⎛ cos 2 45o cos 2 90o cos 2 135o ⎞ 2 EA
K11 = EA ⎜ + + ⎟ =
⎝ L1 L2 L3 ⎠ 2 L
⎣⎢ ⎝ 2 ⎟⎠ ⎦⎥
O esforço normal em cada uma das barras pode ser calculado por:
Ai Ei AE (4)
Fi = cos θ i × u + i i senθ i × v
Li Li
⎡ cos θ1 senθ1 ⎤
⎢ ⎥
⎧ 1⎫
F ⎢ L1 L1 ⎥
⎪ ⎪ ⎢ cos θ 2 senθ 2 ⎥ ⎧u ⎫
⎨ F2 ⎬ = AE ⎢ ⎥×⎨ ⎬ (5)
⎪F ⎪ ⎢ L2 L2 ⎥ ⎩ v ⎭
⎩ 3⎭ ⎢ cos θ 3 senθ 3 ⎥
⎢ ⎥
⎢⎣ L3 L3 ⎥⎦
(
F2 = Pc = 2 − 2 P ) → P′ =
Pc
2− 2
(7)
× ⎛ P′2 ⎞ =
L L Pc L
v′ = × ⎛ 12 ⎞ × = Pc (8)
EA ⎜⎜1+ 2 ⎟⎟ EA ⎜⎜1+ 2 ⎟⎟ 2 − 2 EA
⎝ ⎠ ⎝ ⎠
Pc
F1 F3 A carga de rotura é atingida quando os esforços normais F1 e F3
igualarem a carga de cedência, Pc. A equação de equilíbrio
vertical permite escrever:
P (≡Pr) ∑F i
v
= 0 → Pc + F1 cos 45 + F3 cos 45 − P = 0 (9)
45 45
L 1 3
Pc
x, Δ1
P∈[P′,Pr[, Δ2
P
×Pc
1+ 2
1
1+ 2
1 2 ×LPc/EA v
σ
P
B
A tensão limite elástico
tensão limite proporcionalidade
O ε p εe ε
σ
limite superior da
tensão de cedência
patamar de cedência
O ε
σ A
A″
O A′ ε
Fig. 12-Gráfico tensão-deformação com descarregamento e carregamento.
Teoria da Plasticidade 11
σ D
σ Y0
T
O G ε
σ Y0
C
D′
P
σ A
P′
A′
B
O C ε
Fig. 14-Curvas tensão-deformação em equilíbrio dinâmico e quase-estático.
O t
Fig. 15-Variação da taxa de deformação com o tempo.
Realizando-se vários testes para níveis de tensão diferente obtém-se a curva OP′,
denominada curva quase-estática de tensão-deformação, enquanto a curva OP é designada
por curva de tensão-deformação dinâmica. O descarregamento realizado a partir do ponto
A na curva de equilíbrio dinâmico, sendo feito com uma velocidade finita, segue o
percurso ABC, e em que apenas, do ponto B para C se verifica uma variação linear,
observando-se uma deformação plástica entre A e B.
Teoria da Plasticidade 13
Quadro I
Valores de r para as seguintes reduções em altura
Metal
10% 30% 50%
Alumínio 0,013 0,018 0,020
Cobre 0,001 0,002 0,010
Quadro II
Valores de r para as seguintes reduções em altura
Metal Temperatura (ºC)
10% 30% 50%
18 0,013 0,018 0,020
Alumínio 350 0,055 0,073 0,088
550 0,130 0,141 0,155
18 0,001 0,002 0,010
Cobre 450 0,001 0,008 0,031
900 0,134 0,154 0,190
O ε
Fig. 16-Definição de Fluência.
fluência
secundária
fluência
primária
curva de fluência a baixa
temperatura e tensão
O t
Fig. 17-Curvas de fluência típicas para os metais.
Para elevadas temperaturas e tensões a fluência primária mostra uma dependência
logarítmica ou potencial de acordo com uma das seguintes leis [24]:
Teoria da Plasticidade 15
ε c ∝ ln(t ) (12.1)
ε c ∝ tα (12.2)
em que α toma valores entre 0 e 1, designando-se por lei de fluência de Andrade para
α=1/3.
Segundo Nadai [29], a fluência descrita pela lei da potência pode ser obtida a partir
duma fórmula que relaciona a tensão, a deformação de fluência ( ε c ) e a taxa de
deformação de fluência ( ε& c ):
σ = C ( ε c ) (ε& c ) (13)
n r
Esta relação é normalmente conhecida pela lei de Bailey-Norton [24], verificando-se que a
expressão de Nadai (13) descreve esta mesma lei tomando n=0 e r=1/q. Uma aproximação
utilizada para o cálculo da deformação de fluência como função do tempo e para uma dada
temperatura é a seguinte:
ε c ( t ) = ε 0c + ε&min
c
t (15)
em que ε&min
c
é a taxa de fluência mínima, e ε 0c é um valor fictício definido pela intercepção
da recta tangente à curva de fluência num ponto pertencente à zona em que a taxa de
fluência é estacionária.
Todavia, para muitos materiais e a diferentes temperaturas, a deformação inelástica é
insignificante quando o nível de tensão é inferior à tensão de cedência. Um modelo simples
que descreve este efeito é o modelo de Bingham:
⎧0, σ < σ Y0
⎪ (16)
ε = ⎨⎛ σ Y0 ⎞ σ
&
⎪⎜1 − σ ⎟ η , σ < σ Y0
⎩⎝ ⎠
Teoria da Plasticidade 16
ε
Fig. 18-Dependência da tensão de cedência com a temperatura [24].
funções, baseada na equação de Arrhenius [24], foi proposta por Sellars-Tegart [23][37],
permitindo analisar a influência da temperatura e da taxa de deformação em simultâneo:
Z = ε& × exp ( Q
R (T + 273) ) (18)
em que K f0 é um coeficiente que depende do metal, tomando por exemplo para o aço
inoxidável valores compreendidos entre 153 e 303, enquanto os restantes parâmetros são
funções com a seguinte forma:
KT = A1 exp ( −m1T ) (20.1)
Kε = A2ε m2 (20.2)
Os parâmetros Ai e mi diferem de acordo com o tipo de metal. Por exemplo, para o aço
inoxidável tomam os seguintes valores [17]:
A1 = 17, 07 m1 = 0, 00284
A2 = 1, 647 m2 = 0, 217 (21)
A3 = 0, 789 m3 = 0,104
Existem ainda outras expressões que tentam combinar os vários efeitos que os
diferentes parâmetros possam provocar nas características de resistência, e que foram
estabelecidas para um determinado tipo de metais, como por exemplo a expressão de
ALSPEN, que é adequada para as ligas de alumínio [12]:
σ = c (α 0 + 0.001) ε& m
n
(22)
4. Lei da Decomposição
σ σ
σ Y = f (ε )
σY σ = σ Y0
σ Y0
σ Y0
ε ε
εp εp
a) b)
σ
σ Y = f (ε p )
σY
a) carregamento/descarregamento,
σ Y0 b) modelo elasto-perfeitamente plástico,
c) modelo elasto-plástico com
endurecimento.
ε
εp c)
E
σ Y0 atrito
σ σ
(1 + ε e ) L1 (1 + ε p ) L2
ε = ∇ su = 1
2 ( ∇u + ( ∇u ) ) T
(26.1)
ε ij = 1
2 (u i, j + u j ,i ) (26.2)
1 X X
1 u
2 X Δu
2 u
3 X
1X
X − 2 X Δu
ε ′′ = 3 = (33)
1X 1X
ou seja, obteve-se o valor da extensão total calculado como se de uma só fase se tratasse.
A multiplicação efectuada em (30) designa-se por lei da decomposição
multiplicativa, enquanto que a adição efectuada em (34) é denominada de lei da
decomposição aditiva. Deve-se notar que o cálculo da extensão, ε″, só é válido para
pequenas deformações, pelo que em pequenas deformações pode-se aplicar a lei da
decomposição aditiva, enquanto que para grandes deformações pode ser vantajoso utilizar
a lei multiplicativa [31][32].
Teoria da Plasticidade 22
Fazendo coincidir a primeira fase com o domínio elástico, vindo a segunda fase a
ocorrer no domínio plástico, ter-se-á formalmente para o Tensor das Deformações ε , e
para o gradiente de deformação, F:
F = FeF p (35.a)
ε = εe + ε p (36.a)
5. Funções de Cedência
F ( σ, α ) = f ( σ ) − σ Y (α ) = 0 (38)
em que f (σ ) é a função de cedência. Esta função pode tomar várias formas analíticas com
representação geométrica no espaço distintas. Tratando-se de uma função de tensão pode
assumir-se como espaço para a respectiva representação geométrica, o espaço de tensões
de Westergaard [3], em que três eixos mutuamente ortogonais são coincidentes com as
direcções principais de tensão (ver Fig. 22).
σ3
P O′
P″
P′
O σ2
σ1 f (σ )
σ1 =σ 2 =σ 3
Considere-se um ponto material com um estado uuur de tensão representado pelo ponto P
e resultante de um incremento traduzido pelo vector OP . Este vector é decomposto num
uuuur
vector com a direcção OO′ ( OP′ ), que coincide com o eixo em que as três tensões
principais tomam o mesmouuuur
valor, e num outro cuja linha de acção se encontra sobre o
plano normal a OO′ ( OP′′ ). No caso de se admitir que a pressão hidrostática não tem
qualquer efeito na uuuu
cedência
r
do material, esta dependerá somente da intensidade, direcção e
sentido do vector OP′′ , ou seja, das tensões de desvio.
Admitindo que a função de cedência é independente do referencial escolhido ndim
,é
então possível expressá-la em função dos três invariantes das tensões:
I1 = tr ( σ ) = σ ii (39.1)
Teoria da Plasticidade 24
I2 = 1
2 tr ( σ 2 ) = 1
2 σ ijσ ji (39.2)
I3 = 1
3 tr ( σ 3 ) = 13 σ ijσ jkσ ki (39.3)
sij = σ ij − 13 σ kk δ ij (40.b)
J3 = 1
3 tr ( s3 ) = 1
3 sij s jk ski (41.2)
Com base nestes dois invariantes é possível estabelecer um outro, cuja interpretação
geométrica se verá adiante:
1 ⎛ 3 3 × J3 ⎞ ⎡ π π⎤
θ = sen −1 ⎜ − ⎟ ; θ ∈ ⎢− , + ⎥ (42)
3 ⎜ 23 J ⎟ ⎣ 6 6⎦
⎝ 2 ⎠
σ3
σ1 σ2
Teoria da Plasticidade 25
∂f
∂f
∂σ
∂σ 2
∂f
∂σ 1
σ1
Um dos primeiros critérios a ser estabelecido, até pela natureza do estado de tensão
existente no ponto central da secção média do provete utilizado no ensaio de tracção, foi o
critério da tensão normal máxima. Segundo este critério a cedência ocorre quando o estado
de tensão num ponto material conduz a uma tensão normal máxima que iguala o valor da
tensão normal máxima verificada para o ponto de cedência no ensaio de tracção. Em
termos de função de cedência, este critério equivale à seguinte função:
F ( σ, α ) = σ 1 − σ Y (α ) (44)
σ3 σ1 =σ 2 =σ 3
O σ2
σ1
I1 2
F ( σ, α ) = + J 2 × sen (θ + 23 π ) − σ Y (α ) (45)
3 3
σ 1 − σ 3 ≤ σ Y (α ) = Y (α ) (46.2)
σ 2 − σ 3 ≤ σ Y (α ) = Y (α ) (46.3)
em que Y(α) é uma função característica do material obtida com base no ensaio de tracção
uniaxial, e que depende da deformação plástica. Esta variação pode ser quantificada em
função do parâmetro de endurecimento, α. Num ponto material, que se encontre no estado
elástico de deformação, deve-se verificar todas as condições (46) com o sinal de
desigualdade, enquanto que em regime plástico se deve verificar a igualdade para uma ou
duas das proposições. Graficamente, as expressões (46) definem, no espaço das tensões
principais, um prisma hexagonal regular e infinitamente longo, cujo eixo σ 1 = σ 2 = σ 3 é
perpendicular ao plano do desviador, Π, representado pela equação (ver Fig. 26) [35]:
σ1 + σ 2 + σ 3 = 0 (47)
Teoria da Plasticidade 28
Plano do
Desviador
σ2
σ1
σ1 =σ 2 =σ 3
σC σT
σ
τ = φ (σ ) τ 0 = φ (σ 0 )
τ τ0
σ3 σ σ0 σ1 σ
τ 0 = φ (σ 0 ) (49)
( )
2
τ = φ (σ 0 ) 1 + ∂φ
∂σ 0
(50.1)
∂φ
σ = σ 0 + φ (σ 0 ) (50.2)
∂σ 0
(σ 1 − σ 3 ) − ⎛⎜ c × cosψ − (σ 1 + σ 3 ) × senψ ⎞⎟
1 1
F ( σ, α ) = (53)
2 ⎝ 2 ⎠
σC A B C σT
σ3 0 σ1 σ
D E
H
G
F
σT σ1 + σ 3
CB = C0 + 0B = − (55.3)
2 2
σT σC
CA = C0 + 0A = + (55.4)
2 2
Pela semelhança dos triângulos CBE e CAD obtém-se a seguinte relação:
BE CB (56)
=
AD CA
ou, em função dos valores de tensão
Teoria da Plasticidade 32
σ1 − σ 3 − σ T σ T − σ1 − σ 3 σ1 σ (57)
= ⇒ − C3 = 1
σ −σ
C T
σ +σ
T C
σ T
σ
De notar que nesta expressão os valores limites σ C e σ T entram em valor absoluto
enquanto as tensões principais relativas ao estado de tensão tomam o seu valor algébrico.
O critério de Mohr-Coulomb é utilizado para representar o comportamento dos
materiais granulosos dotados de atrito interno, tendo-se no entanto verificado que estes
materiais atingem em geral um estado de cedência plástica à tracção antes de se ter
atingido a superfície de Mohr-Coulomb. Com o objectivo de ter em conta estes resultados,
Prandtl propôs em 1921 uma superfície de cedência obtida a partir da de Mohr por
substituição do vértice da pirâmide por uma superfície parabólica, conhecida por superfície
de cedência de Mohr-Prandtl e que se pode representar matematicamente pela seguinte
função:
1
1 ⎛ 1 ⎞ 2
2 ⎝ c ⎠
ε ijd = ε ij − ε mδ ij (61)
bem como aos conceitos de tensão de desvio (s) e tensão média ( σ m ), obtém-se por
intermédio da lei de Hooke as seguintes relações:
Teoria da Plasticidade 33
σm (62)
εm =
3k
sij
ε ijd = (63)
2μ
E
k = (65)
3 (1 − 2ν )
Substituindo (62) e (63) em (61) obtém-se o tensor das extensões em função da tensão
média e do tensor das tensões de desvio:
sij σm
ε ij = + δ ij (66)
2μ 3k
Beltrami apresentou em 1885 [4] um critério de cedência que estabelece para o início
da deformação plástica o estado de tensão que corresponde a um valor crítico da energia de
deformação elástica por unidade de volume:
1 1
F ( σ, α ) = J 2 + σ m2 − U 0 critico (70)
2μ 2k
Teoria da Plasticidade 34
Este valor crítico pode ser obtido para uma estado de tensão uniaxial, resultante do ensaio
de tracção:
σ Y2 (α ) σ Y2 (α ) (71)
U 0 critico = +
6μ 18k
Von Mises formulou um critério de cedência em 1913 [46], sugerindo que a cedência
ocorre quando o segundo invariante das tensões de desvio J 2 atinge um valor crítico:
J2 − 1
2
Φ (α ) = 0 (73)
σ3 σ 2 -σ 3
von Mises Tresca
(J2=constante) (τmáx=constante)
σ 1 -σ 3
θ
σ1 σ2
(a) (b)
Fig. 30-Representação das projecções das superfícies dos
critérios de Tresca e de von Mises.
Existem duas interpretações físicas possíveis para o critério de von Mises. Uma,
dada por Nadai (em 1937), que introduziu o conceito de tensão de corte octaédrica,
τ oct = 2 3 J 2 , que é a tensão de corte nos planos do octaedro regular, cujos vértices
coincidem com os eixos principais de inércia [13]. Outra interpretação, dada por Hencky
(em 1924), mostra que a cedência ocorre quando a energia elástica de distorção atinge um
valor crítico [18].
A interpretação de Hencky percebe-se rapidamente se se atender à expressão (69)
para o cálculo da energia de deformação elástica por unidade de volume. De facto, nesta
expressão, que contém duas parcelas, a primeira estabelece a energia de deformação
associada à energia de deformação elástica de distorção, enquanto a segunda estabelece a
energia de deformação associada à dilatação. Substituindo (65) em (69) resulta:
Teoria da Plasticidade 36
1 3 (1 − 2ν ) 2 (76)
U0 = J2 + σm
2μ 2E
Combinando (75) com (77) obtém-se a seguinte expressão para a tensão efectiva:
σ = 3J 2 (78)
concluindo-se deste modo que o critério de von Mises é uma caso particular do critério de
Beltrami e aplicável a materiais cuja energia de deformação volúmica se pode considerar
desprezável.
Da figura anterior, pode-se verificar que os critérios de Tresca e von Mises
apresentam a sua máxima diferença para o caso do corte puro ( σ 3 = −σ 1 , σ 2 = 0 ),
resultando da aplicação de cada um dos critérios:
σ Tresca = σ 1 − σ 3 = 2σ 1 (79)
σ von Mises
= 1
2 ( (σ − σ )
1 2
2
+ (σ 2 − σ 3 ) + (σ 3 − σ 1 )
2 2
)= 3σ 1 (80)
Combinando estas duas expressões, pode-se concluir que a tensão efectiva calculada por
aplicação do critério de Tresca pode ser 2 / 3 ≈ 1,15 vezes maior que a obtida pelo
critério de von Mises, permitindo concluir que, o critério de Tresca é mais conservativo
que o de von Mises.
(
F = 3ασ m + J 2 − k ′ = 0 (81)
(
em que os coeficientes α e k ′ são constantes do material e que dependem do ângulo de
atrito interno (ψ) e da coesão (c):
( 2 × senψ
α = (82.1)
3 × ( 3 − senψ )
6c × cosψ
k′ = (82.2)
3 × ( 3 − senψ )
Para materiais com fendas interiores ou materiais porosos, Green apresentou uma
superfície de cedência que é função do coeficiente de porosidade do material [16]:
2
( ( ))
( 2 ⎛ (
⎞
σ + 3 × ⎜ 3− 2×3 (β ⎟ J 2 − σ Y (83)
4
F = 3
× ln β 2
2 m 3(1− β )
⎝ ⎠
(
em que β é o coeficiente de porosidade sendo definido do seguinte modo:
( volume de vazios
β = (84)
volume total
6. Regra do Encruamento
εp= 2
3 εp :εp = 2
3 ε ijpε ijp (85)
∫( dε ijp dε ijp )
12
ε = ∫ dε = ∫ dt = 2 (86)
p p
3
0
dt 0
W = ∫ σ : dε = ∫ σ ij dε ijp
p p (87)
0 0
Segundo Nayak e Zienckiewicz [30] para o caso dos materiais em que seja possível
aplicar o critério de von Mises, os dois modelos de endurecimento descritos são
equivalentes, ou seja, as curvas obtidas no ensaio de tracção conduzem ao mesmo nível de
encruamento.
A variação da superfície de cedência pode ser classificada, de acordo com três
modelos elementares [18]:
¾ Se a superfície de cedência subsequente, provocada pelo incremento de
deformação plástica, é exclusivamente uma expansão uniforme da superfície de
cedência precedente, o modelo de encruamento é designado de isotrópico [22].
Para o caso bidimensional, exemplifica-se na Fig. 31(a). Este modelo, proposto
por Odquist [33] apresenta como principal vantagem, a sua simplicidade, não
conseguindo, no entanto, reproduzir determinados aspectos reais da deformação
de alguns materiais, como por exemplo o efeito de Bauschinger [9].
Teoria da Plasticidade 39
Superfície τ Superfície τ
de cedência de cedência
corrente corrente
Superfície de Superfície de
cedência inicial cedência inicial
σ σ
(
F ( σ, α′ ) = f σ − σ b ( ε p
) ) − σ (ε ) Y
p
= 0 (89)
Com base em (89), importa definir as leis para o encruamento isotrópico e para o
encruamento cinemático. Para o encruamento isotrópico, pode-se admitir uma função,
dependente simplesmente, do valor de início da plastificação σ Y0 e, de uma função
unicamente dependente da deformação plástica efectiva [35]:
σ Y = σ Y0 + h ( ε p ) (90)
em que:
σ k = σ − σb (95)
σ Y = σ Y0 + β ′H ε p (96.1)
K ′ = (1 − β ′ ) H (96.2)
dσ ET
dε p dε e
dε
σ Y0
E
τ
Importa agora mostrar que para além da relação entre σ 1 e ε1p , o mesmo gráfico
também representa a relação entre os valores efectivos do estado de tensão e do
correspondente estado de deformação, ou seja, σ -ε p .
No ensaio de tracção tem-se, por hipótese, σ 1 ≠ 0 e σ 2 = σ 3 = 0 , vindo a tensão
média σ m = σ ii 3 = σ 1 3 . As tensões de desvio segundo as direcções principais são:
Teoria da Plasticidade 42
s1 = 2
3 σ1; s2 = s3 = − 13 σ 1 (97)
Utilizando o critério de von Mises e por conseguinte, substituindo estas tensões de desvio
na expressão para o cálculo da tensão efectiva (74), obtém-se:
σ = 3
2 ( s1 s1 + s2 s2 + s3 s3 ) = σ1 (98)
εp= 2
3 (ε ε + ε 2p ε 2p + ε 3p ε 3p ) = ε1p
p p
1 1
(99)
Então, para que a expressão que relaciona σ -ε p , seja válida para σ 1 -ε1p , pode-se
relacionar facilmente σ 1 com ε1p , e assumir essa relação como válida para o caso geral
σ -ε p , isto é [35]:
dσ dσ 1
H ′ (ε p
)= = (100)
dε p
d ε1p
dσ 1e
E= e (103)
d ε1
que para um ensaio de tracção (estado uniaxial de tensão) podem ser representados pelo
gráfico da Fig. 33.
σ
εp >0
σ =0 σ <0
σ >0
σ <0
σ =0
σ >0
εp <0
dσ ij dε ijp ≥ 0 (107.2)
(σ − σ ) *
dε p ≥ 0 (109)
(σ − σ )*
⋅dε p ≥ 0 (110)
dε p
σ
σ -σ *
σ*
Para que o produto interno (110) possa ser válido para um estado de tensão elástico
inicial arbitrário, o vector correspondente ao incremento de deformação plástica dε p , deve
ser normal ao plano tangente à superfície e com o sentido a apontar para fora da superfície.
A descrição acabada de descrever é conhecida como a regra da normalidade [22][24].
No entanto, como se pode verificar na Fig. 35, se o estado de tensão inicial se
encontrar do outro lado do plano tangente a inequação (110) é violada. Deste modo, toda a
região elástica se encontra do mesmo lado do plano tangente, pelo que se pode concluir
que a superfície de cedência é convexa.
σ*
dε p
σ -σ *
σ
Lévy (1871) e mais tarde von Mises (1913) propuseram que o incremento total de
extensão se relaciona com o respectivo estado de tensão da seguinte forma:
dε = dγ s (112.a)
dε = dγ sij (112.b)
dW p 3dW p (115)
dγ = =
2J2 2σ 2
De facto, segundo Hill [18], a extensão da expressão de Lévi-Mises (112) para problemas
planos e em que o processo de deformação incluísse no respectivo incremento ambas as
componentes (elástica a plástica) deve-se a Prandtl (1924), tendo posteriormente Reuss
(1930) efectuado a generalização para problemas tridimensionais.
Admitindo que o incremento de deformação elástica é desprezável, quando
comparado com o incremento de deformação total, a partir de (113) pode-se calcular o
incremento de deformação total do seguinte modo:
dε ij = dγ sij (117)
dε
dε yy =
σ
(σ yy − 12 (σ zz + σ xx ) ) (118.2)
dε
dε zz =
σ
(σ zz − 12 (σ xx + σ yy ) ) (118.3)
3 dε
dε xy = τ xy (118.4)
2 σ
3 dε
dε xz = τ xz (118.5)
2 σ
3 dε
dε yz = τ yz (118.6)
2 σ
∂Q
dε ijp = dγ (119.b)
∂σ ij
em que o escalar dγ, é uma constante de proporcionalidade maior que zero, denominado
multiplicador plástico.
Do mesmo modo, como se fez na validação do incremento da tensão de recuperação,
assume-se também aqui uma lei da plasticidade associativa, isto é, a função de cedência
coincide com o potencial plástico, Q ≡ F .
A lei associativa do escoamento plástico também é referida como condição de
normalidade, pois o gradiente ∂F / ∂σ , designado correntemente por vector fluxo, é normal
à superfície de cedência em qualquer ponto do espaço das tensões.
Para os metais, a utilização da lei associativa origina resultados concordantes com
observações experimentais [3][39]. No entanto, pode-se mostrar que a lei associativa do
escoamento plástico e a lei associativa do encruamento cinemático, são equivalentes ao
princípio da máxima dissipação plástica [18][25][26], o que torna a utilização da lei
associativa aceitável do ponto de vista termodinâmico [38]. Na Fig. 36 representa-se
geometricamente a lei associativa e não associativa.
Teoria da Plasticidade 51
σ2
σ2
Q
∂F
∂F ∂Q ∂σ
≡
∂σ ∂σ ∂Q
∂σ
F≡Q
σ1 σ1
F
a) b)
Note-se que, para outros materiais, como por exemplo, em solos, a aplicação de
regras de escoamento plástico fazendo uso da lei não associativa em simulações numéricas,
conduz a resultados mais realistas [45][50].
No presente texto, a aplicação da lei associativa aos metais, significa que as funções
de cedência de von Mises e de Tresca são também potenciais plásticos.
8. Anisotropia Plástica
Nos itens anteriores admitiu-se que o material apresenta propriedades com carácter
isotrópico, sendo usual efectuar-se a generalização e designar-se o material por isotrópico.
De facto, muitos materiais não apresentam propriedades isotrópicas, mesmo quando
sujeitos a estados de tensão em domínio linear elástico (por exemplo os materiais
compósitos). No entanto, outros materiais, embora apresentando características isotrópicas
em regime elástico, em conjugação com determinadas aplicações envolvendo plasticidade,
ou são fortemente anisotrópicos, ou adquirem anisotropia ao longo do processo de
deformação plástica.
Teoria da Plasticidade 52
Rolo
RD
1
TD
3
2
F ( 0 − 0 ) + G (σ − 0 ) + H (σ − 0 ) = ( G + H ) σ 2
2 2 2
(121)
Teoria da Plasticidade 53
Igualando (120) ao segundo membro de (121) obtém-se a tensão equivalente para o critério
de cedência de Hill (em função das tensões principais)
F G H
(σ 2 − σ 3 ) + (σ 1 − σ 3 ) + (σ 1 − σ 2 )
2 2 2
σ2 = (122)
G+H G+H G+H
De notar, que para um material que apresente as constantes F=G=H=1/2 o critério de
cedência de Hill coincide com o critério de von Mises (como se pode confirmar com (80)).
Como se referiu anteriormente, uma das aplicações do critério de Hill envolve
componentes em chapa, e portanto, peças em que uma das dimensões (no caso da chapa é a
espessura) é muito inferior, quando comparada com as outras duas. Neste tipo de
componentes é usual admitir-se que uma das tensões normais (a normal ao plano tangente
à superfície média da chapa) é desprezável (tome-se σ 3 ≈ 0 ). A tensão equivalente
correspondente ao critério de Hill vem então
F G H
(σ 1 − σ 2 )
2
σ= σ 22 + σ 12 + (123)
G+H G+H G+H
Fazendo uso da lei associativa, tomando portanto para potencial plástico a própria
função de cedência e utilizando a expressão (119) para a regra de escoamento, obtém-se
para os incrementos de deformação plástica (segundo as três direcções principais):
∂σ
dε1p = dγ (124.a)
∂σ 1
∂σ
dε 2p = dγ (124.b)
∂σ 2
∂σ
dε 3p = dγ (124.c)
∂σ 3
Resultando para uma estrutura tipo casca a partir da derivação de (122) (e não de (123)) e
tomando posteriormente σ 3 ≈ 0
dγ Gσ 1 + H (σ 1 − σ 2 )
dε1p = (125.a)
σ G+H
dγ Fσ 2 + H (σ 2 − σ 1 ) (125.b)
dε 2p =
σ G+H
dγ Gσ 1 + Fσ 2
dε 3p = − (125.c)
σ G+H
em que σ toma o valor proveniente de (123).
Teoria da Plasticidade 54
B RD A
TD β
Para um provete cuja direcção longitudinal coincida com a direcção TD (provete B),
coeficiente de anisotropia segundo a direcção TD vale:
dε RD
p
dε11p (127)
RTD = =
dε esp
p
dε 33p
Para uma direcção arbitrária, definida pelo ângulo β, o coeficiente de anisotropia resultará
do cociente entre a componente do incremento de deformação dε ⊥pβ , ocorrida no plano da
chapa e medida na direcção perpendicular à direcção de tracção, e a componente do
incremento de deformação verificada na direcção da espessura ( dε 33p )
dε ⊥pβ (128)
Rβ =
dε p
33
Teoria da Plasticidade 55
Rβ =
1
2 ( dε p
11 + dε 22p ) − 12 ( dε11p -dε 22p ) cos ( 2 β ) − dε12p sin ( 2 β ) (129)
dε p
33
dε TD
p
dε 22p F σ 2 + H ( σ 2 − σ1 ) H (130)
Rβ =0 = R0 = p = p = − =
dε 33 dε 33 F σ 2 + Gσ 1 G
Para o caso em que o provete é executado de modo a que seja esticado segundo a direcção
TD tem-se: σ 2 = σ , σ 1 = σ 3 = 0
dε RD
p
dε11p G σ 1 + H σ 1 − Hσ 2 H (131)
Rβ =90 = R90 = = =− =
dε 33 dε 33
p p
Fσ 2 + G σ 1 F
o que é impraticável. Como aproximação, utiliza-se o valor resultante da média obtida com
base nos coeficientes R0 , R90 , R45
R0 + 2 R45 + R90 (133)
R=
4
Um segundo parâmetro utilizado para considerar a variação de R com β é o seguinte [47]:
R0 − 2 R45 + R90 (134)
ΔR =
2
∂F ∂Q
aij =
∂σ ij
; (a )Q ij =
∂σ ij
(137.b)
(138)
aQ = 2
3 aQ : aQ = 2
3 (a ) (a )
Q ij Q ij
e atendendo às expressões (85), (119), (137), e (138), o incremento da variável interna, isto
é, da deformação plástica efectiva, pode ser exprimido como:
dε p = dγ aQ (139)
aplicando ainda a lei de Hooke à parte elástica e, substituindo (139) em (140), obtém-se
para o estado de deformação total:
dε = C−41 : dσ + dγ aQ (141.a)
dε ij = Cijkl
-1
dσ kl + dγ ( aQ ) (141.b)
ij
(
dσ ij = Cijkl dε kl -dγ ( aQ )
kl
) (142.b)
dF = aij dσ ij -H ′d ε p = 0 (143.b)
1
dε p = a : dσ (144)
H′
Atendendo a (139), vem:
1
dγ aQ = a : dσ (145)
H′
e substituindo (142) em (145), obtém-se:
1
dγ aQ = a : C4 : ( dε − dγ aQ ) (146)
H′
Daqui é possível estabelecer uma expressão para o multiplicador plástico:
⎛ 1 ⎞ 1 (147)
dγ ⎜ aQ + a : C4 : aQ ⎟ = a : C4 : dε
⎝ H′ ⎠ H′
1
a : C 4 : dε a : C 4 : dε
dγ = H′
H′= (148.a)
H ′aQ + a : C4 : aQ H ′aQ + a : C4 : aQ
aij Cijmn dε mn
dγ = (148.b)
H ′aQ + aij Cijmn ( aQ )
mn
em que:
C4 :aQ ⊗ a : C4
4 = C4 -
Cep (150.a)
aQ H ′+a:C4 :aQ
Este tensor é usualmente conhecido [8][40][41] como módulo tangente contínuo e, pode
ser expresso em função das constantes de Lamé, μ e λ:
Teoria da Plasticidade 59
s s
⊗
s:s s:s
4 = kI ⊗ I +2μ ( I - 3 I ⊗ I ) − 2 μ
Cep 1 (151)
H ′+K ′
1+
3μ
Note-se, que pode não ser um tensor simétrico, sendo a simetria verificada apenas para a
lei associativa, ou seja, Q≡F ⇒ aQ = a.
Particularizando, para o critério de von Mises, tem-se aQ =1 [30], sendo para o
critério de Tresca aQ = 2
3 , enquanto que para os critérios de Mohr-Coulomb e Drucker-
Prager, aQ não é constante, dependendo do estado de tensão na superfície de cedência.
resultando então:
dσ Y
H ′aQ = σ :a (155)
dα
Recorrendo ao ensaio de tracção uniaxial, sabe-se que:
dα = σ Y dε p
(156)
H ′aQ = H ′ ⇒ aQ = 1 (159)
Conforme foi notado por Nayak e Zienkiewicz [30], a análise de (159) permite
concluir que o encruamento por deformação só coincide com o encruamento energético,
para os materiais que obedecem ao critério de cedência de von Mises, relativamente aos
quais se verifica aQ =1 .
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