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F I C H A TÉCNICA
Director
VitalMoreira
DirectorͲAdjunto
PedroGonçalves
SecretáriadeRedacção
AnaCláudiaGuedes
Proprietário
CentrodeEstudosdeDireitoPúblicoeRegulação
(CEDIPRE)
Editor
CentrodeEstudosdeDireitoPúblicoeRegulação
(CEDIPRE)
Morada
FaculdadedeDireitoda
UniversidadedeCoimbra
PátiodaUniversidade
3004Ͳ545CoimbraͲPortugal
NIF
504736361
SededaRedacção
CentrodeEstudosdeDireitoPúblicoeRegulação
(CEDIPRE)
NºdoRegistodaERC
125642
ISSN
1647Ͳ2306
Periodicidade
Bimestral
S U M Á R I O
Apresentação....................................................................................3
Actualidade.......................................................................................5
Contrataçãopúblicaefundoscomunitários..................................................5
BERNARDOAZEVEDO|AssistentedaFaculdadedeDireitodeCoimbra
BrevesnotasapropósitodonovoregimedaRAN........................................9
CARLOSCARVALHO|JuizDesembargadordoTCAN
OcontratodeprestaçãodeserviçosnaLei12ͲA/2008,de27deFevereiro:
umregimecontrárioàConstituiçãoeaoDireitoComunitário...................17
LICÍNIOLOPESMARTINS|AssistentedaFaculdadedeDireitodeCoimbra
Umcasoexemplardedegradaçãodaautonomiamunicipal......................23
PEDROGONÇALVES|ProfessordaFaculdadedeDireitodeCoimbra
Restriçõesàparticipaçãoemprocedimentosdecontrataçãopública........27
RODRIGOESTEVESDEOLIVEIRA|AssistentedaFaculdadedeDireitodeCoimbra
Doutrina..........................................................................................35
ContrataçãoPúblicaaduasvelocidades:atransposiçãodaDirectiva
2007/66/CE..................................................................................................35
ADOLFOMESQUITANUNES|Advogado
Notassobreaantecipaçãodojuízosobreacausaprincipal
(umcomentárioaoartigo121ºdoCPTA)...................................................55
DORALUCASNETO|JuízadeDireitodoTACdeLisboa
Aindemnizaçãoporsacrifício......................................................................63
FERNANDOALVESCORREIA|ProfessordaFaculdadedeDireitodeCoimbra
PublicidadeeSegredonoConselhodeEstado............................................77
J.C.VieiradeAndrade|ProfessordaFaculdadedeDireitodeCoimbra
Oprincípiodemocráticosobapressãodosnovosesquemasregulatórios.99
J.J.GOMESCANOTILHO|ProfessordaFaculdadedeDireitodeCoimbra
Onovodireitodourbanismo....................................................................109
SUZANATAVARESDASILVA|AssistentedaFaculdadedeDireitodeCoimbra
Informações.................................................................................121
www.fd.uc.pt/cedipre
Odireitonãoéumanarrativa,todavia,mostraͲsetambémpelanarrativa.
Nos dias de hoje, o direito é narrado fundamentalmente através de três
grandeseixos:anarrativalegislativa;anarrativajurisprudencialeanarraͲ
tivadoutrinal.Éestanarrativadoutrinalquenosinteressanestemomento.
AdoutrinadodireitotemͲsefeitoatéaostemposdehoje,sobretudodepois
deGutenberg,atravésdessacoisamágicaquesechamalivro(sendocerto
quea“revista”oupublicaçãoperiódicanadamaisédoqueumoutronome
paraolivro).Noentanto,ascoisasmudaramradicalmenteequandosediz
radicalmentenãosequerfazerfiguradeestilo,masantestraduziraessênͲ
ciadascoisas.Ainformação,osaber,veiculaͲse,hoje,jánãopeloclássico
suporte físico a que chamamos papel mas, muito particularmente, pela
dimensãovirtualqueosfluxosinformáticossãocapazesdetraduzirnoecrã
domaisremotoeincógnitodoscomputadores.
um dos seus Institutos, se perfila na vanguarda da utilização de um dos
Página
meiosmaispotenteseuniversaisdelevaracaboaespecíficanarrativado
direitoqueadoutrinacristaliza.
OPresidentedoConselhoDirectivo,
JosédeFariaCosta
ʹ
A P R E S E N T A Ç Ã O
Temosogratoprazerdeapresentarumanovarevistajurídicaportuguesa,
criadaeeditadapeloCedipre–oseunomeéRevistadeDireitoPúblicoe
Regulação.
Apesardeserumcentroacadémicoedeinvestigaçãoaindajovem,oCediͲ
pre já apresenta um curriculum preenchido, sobretudo nas matérias em
que, nos últimos anos, o direito público português sofreu mutações de
maior significado: regulação pública, justiça administrativa, contratação
pública e emprego público. Quer através da realização de cursos de pósͲ
graduação, quer mediante a edição de várias obras de investigação e de
estudos,decarácterindividualoucolectivo,oCedipretemprocuradoconͲ
tribuir para o fortalecimento e o enriquecimento da ciência do direito
público em Portugal; de um modo particular, temͲse revelado activo e
empenhadoemmobilizaresforçosemtodosossectoresemqueasalteraͲ
çõeslegislativasvêmreclamandoumamaiorexigênciadeadaptação.
No início do ano de 2009, entendeu a Direcção do Cedipre dar mais um
passo,destaveznosentidodacriaçãoenaediçãodeumperiódicoquese
ocupedealgumadasvastasquestõesdedireitopúblico,decaráctersubsͲ
tantivoedecarácterprocessual,quetodososdiassecolocamnasadminisͲ
trações públicas, nas autoridades reguladoras, nos tribunais, no ensino
universitárioounapraxisdosescritóriosdeadvogados.Épreocupaçãoda
novaRevistadeDireitoPúblicoeRegulaçãolevaressaseoutrasquestões
paraoespaçopúblicoeabriratodososinteressadosumaplataformade
partilhadepontosdevistaedeconcepçõessobretemasdedireitopúblico
eregulação.
3
Opanoramaeditorialportuguêsnosectordosperiódicosjurídicos–e,em
Página
especial,emcertasáreasdodireitopúblico–apresentaediçõesdegrande
qualidadeeinteresse,que,aliás,muitotêmcontribuídoparaaevoluçãoe
divulgação do pensamento jurídico. É nessa mesma linha, de qualidade e
de sucesso, que a Revista tem a pretensão de se inserir, reivindicando, à
partida,aoriginalidade,noquadroportuguês,detercomosuporteaediͲ
çãoelectrónica.
ARevistatemumapublicaçãobimestral,éeditadaonlineeficaalojadana
webpáginadoCedipre.ApublicaçãodetextoséabertaatodososinteresͲ
sadospelostemasdodireitopúblicoedaregulaçãoe,namedidadopossíͲ
vel,osautoressãodesdejáincentivadosaadoptaremumestiloinformal,
directoepragmático.Nesteponto,oobjectivoéde,pelomenosnumaparͲ
tedaRevista,seassentarnumparadigmadiscursivoque,obviamentesem
cederaosimplismo,serevele,paraosleitores,acessíveledirectoe,para
osautores,deelaboraçãosimplificadaeinformal.
ARevistacontacom3secções:i)uma,intituladaActualidade,queseocuͲ
pa,emtextosbreves,dequestõesjurídicassuscitadaspornovasleis,deciͲ
sõesadministrativasoudecisõesjudiciaisequepoderáservircomosuporͲ
tedeumaespéciedeintervençãodecidadaniasobretemasdeDireito;ii)
umaoutra,comotítuloDoutrina,queacolherátextosmaislongos,sobre
questõesdoutrinaise,oupráticasquereclamamumaatençãomaiscuidaͲ
daoudesenvolvida;iii)porfim,umaterceirasecção,dedicadaaInformaͲ
ções,quedarácontadenovasobrasdadasàestampa,emPortugalouno
estrangeiro,bemcomodarealizaçãodeeventossobretemasrelacionados
com o direito público e a regulação; por outro lado, ainda nesta secção,
serádadanotíciasobreleisedecisões(administrativasejudiciais)relevanͲ
tes.
VitalMoreira
PedroGonçalves
Ͷ
REVISTA DE DIREITO PÚBLICO E REGULAÇÃO
A C T U A L I D A D E
ContrataçãoPúblicaeFundosComunitários
BernardodeAzevedo
AssistentedaFaculdadedeDireitodeCoimbra
AanálisedaíntimarelaçãoquefrequenͲ queocoͲfinanciamentodaactividadede
tementeseestabeleceentrecontratação determinadas entidades através de funͲ
pública e fundos comunitários, não obsͲ doscomunitáriospoderáexercersobrea
tante as questões de relevante alcance suaeventualqualificaçãoenquantoentiͲ
prático que inegavelmente coloca, tem dadesadjudicantesou,parasermosmais
sido,háquereconhecêͲlo,praticamente específicos, enquanto organismos de
votada ao abandono seja pela doutrina direitopúblico,asegundarelativaàposͲ
(nacional e estrangeira), seja, o que não sível submissão automática de toda a
deixa de ser ainda mais surpreendente, contrataçãodeobras,benseserviçosno
pela própria jurisprudência (aí incluída a contexto de acções apoiadas pelos funͲ
do Tribunal de Justiça da União EuroͲ dos estruturais aos procedimentos adjuͲ
peia). dicatóriosrecortadosnaparteIIdoCódiͲ
No entanto, são vários os aspectos que godosContratosPúblicos(CCP).
carecem de esclarecimento no contexto Pelo que se refere à primeira das quesͲ
ͷBernardodeAzevedo
da apontada relação, sendo justamente tões acima identificadas, importa, antes
emordemacumpriresseintentoquese domais,evidenciarqueaqualificaçãode
alinham, ainda que em termos necessaͲ uma entidade enquanto organismo de
riamente abreviados, os comentários direito público, para efeitos da respectiͲ
queseseguem. va submissão aos procedimentos préͲ
A nossa análise incidirá, contudo e funͲ contratuais catalogados na parte II do
damentalmente, sobre duas ordens de CCP, depende, além da sua personalidaͲ
questões,aprimeirarelativaàinfluência de jurídica e da prossecução de fins de
REVISTA DE DIREITO PÚBLICO E REGULAÇÃO
interessegeralsemcarácterindustrialou entidadesrecenseadasnasalíneasa)af)
comercial, da correspondente sujeição à doartigo2.º,n.º1,doCCP.
influência dominante de qualquer uma Parece,contudo,aconselhávelumaleituͲ
das entidades pertencentes à AdminisͲ rafortementerestritivadopreceitolegal
tração Pública em sentido organizatório em análise, que obrigue a que esse
clássico, conforme enunciadas nas alíͲ financiamento maioritário da actividade
neasa)af)doartigo2.º,n.º1,doCCP. doorganismodedireitopúblicoespecifiͲ
Esta influência dominante, afereͲse, por camente em causa provenha, forçosa e
sua vez, indiciariamente, mediante a directamente, dos orçamentos das entiͲ
verificação, alternativa, de uma das dades referidas expressis verbis nas alíͲ
seguintescondições: neasa)af)doartigo2.º,n.º1,doCCP.
a) financiamento maioritário da resͲ Nãobasta,assim,enquantocondiçãode
pectivaactividadeporumadasentiͲ verificação dos pressupostos da referida
dades elencadas nas alíneas a) a f) previsão legal que haja financiamento
doartigo2.º,n.º1,doCCP; maioritário por dinheiros públicos (aí
b) sujeiçãodasuaactuaçãoaocontrolo incluídos os de proveniência comunitáͲ
de gestão de uma das entidades ria), antes se exigindo que os dinheiros
indicadasnasalíneasa)af)doartigo públicos que concorrem, maioritariaͲ
2.º,n.º1,doCCP; mente (em mais de 50%) para a relação
c) designação da maioria dos titulares de dependência financeira normativaͲ
dos correspondentes órgãos de menteexigida, sejam exclusivamente de
administração,gestãooufiscalização origemnacional.
por uma das entidades individualiͲ Ditoemtermosbemmaissimples,finanͲ
zadasnasalíneasa)af)doartigo2.º, ciamento comunitário não equivale aqui
n.º1,doCCP. afinanciamentonacional.Eisto porque,
Alinhadeintersecçãoentreosdomínios relativamente à distribuição dos apoios
da contratação pública e dos fundos comunitários por entidades nacionais, o
comunitários repousaria justamente na Estado e as demais entidades públicas
relevância (potencial) assumida pelo com responsabilidade nesse domínio se
apoiodosfundosestruturaisemordema limitam a actuar exclusivamente a sua
Actualidade
REVISTA DE DIREITO PÚBLICO E REGULAÇÃO
pelas normas da contratação pública e dade da despesa apresentada por
isto ainda que nos confrontemos com incumprimento das regras relativas à
entidades que não se inscrevam no contrataçãopública.
REVISTA DE DIREITO PÚBLICO E REGULAÇÃO
ͺActualidade
REVISTA DE DIREITO PÚBLICO E REGULAÇÃO
BrevesnotasapropósitodonovoregimeReservaAgrícolaNacional
CarlosLuísMedeirosdeCarvalho
JuizDesembargadordoTCAN
Estediplomaentrouemvigor10diasapósadata ções…,comoacréscimodasensibilidade
da sua publicação tal como decorre do n.º 1 do
ambiental por parte da sociedade e em
seuartigo50.º
REVISTA DE DIREITO PÚBLICO E REGULAÇÃO
especial no sector agrícola e florestal o tecção dos recursos pedológicos nacioͲ
solo passou a ser assumido como um nais, a qual já se encontra em aplicação
recursoprecioso,escassoeindispensável em três regiões do País (TrásͲosͲMontes
à sustentabilidade dos nossos ecossisteͲ e Alto Douro, Entre Douro e Minho e
mas e à salvaguarda do planeta. … É InteriorCentro),prevendoͲseaexpansão
assim fundamental e estratégico, pelas dostrabalhosparaassegurarumacoberͲ
profundasalteraçõesgeopolíticasqueas turanacional3.
sociedades actuais têm sofrido, pelo A RAN, nos termos previstos no artigo
reflexo nas sociedades humanas e nos 8.º, é integrada pelas unidades de terra
ecossistemasemgeralqueasalterações que apresentam elevada ou moderada
climáticas têm produzido, pela necessiͲ aptidão para a actividade agrícola (clasͲ
dadedamanutençãodecondiçõesestraͲ ses A1 e A2 Ͳ classificados nos termos
tégicasbásicasdevidadaspopulaçõese enunciados no artigo 6.º), sendo que na
da garantia da sustentabilidade dos ausência daquela classificação prevista,
recursos, que se promovam políticas de integram a RAN as áreas com solos das
defesa e conservação dos terras e solos classes de capacidade de uso A, B e Ch,
…”. previstasnon.º2doartigo7.º,asáreas
EstaalteraçãolegislativatemcomopresͲ com unidades de solos classificados
supostosfundamentaisamanutençãoda comobaixasaluvionares4ecoluviais5,as
natureza jurídica da RAN enquanto resͲ áreasemqueasclasseseunidadesrefeͲ
triçãodeutilidadepúblicaeoreforçoda ridas anteriormente estejam maioritaͲ
importância estratégica da RAN, tal riamente representadas quando em
comoderiva,nomeadamente,doregime complexocomoutrasclasseseunidades
que se mostra enunciado nos seus artiͲ desolo.
gos2.º(conceito)e4.º(objectivos). A integração de terras e solos de outras
O regime agora aprovado introduz na classes na RAN pode ocorrer ainda nas
ordem jurídica uma nova classificação situaçõesecondicionalismosenunciados
dasterrasedossolos2,adametodologia no artigo 9.º (integração específica)6,
da Organização das Nações Unidas para mormente, quando assumam relevância
a Agricultura e Alimentação (FAO/WRB),
ͳͲActualidade
que permite uma nova abordagem na 3
Vide para além do preâmbulo do DL n.º 73/09
classificação e garante uma maior proͲ os seus artigos. 3.º, alínea e), 6.º e anexos ao
mesmodiploma.
4
Videdefiniçãovertidasobaalínean)doartigo
2
Cfr. artigos 6.º (classificação das terras) e 7.º 3.ºdoDLn.º73/09.
5
(classificação dos solos) e anexos I) e II) do Videdefiniçãovertidasobaalíneao)doartigo
diplomaemreferência,porcontraposiçãocomo 3.ºdoDLn.º73/09.
6
regimevertidonosartigos.2.º,n.º2e4.ºdoDL Cfr., no anterior regime legal, o disposto no
n.º196/89eseuanexo. artigo6.ºdoDLn.º196/89.
REVISTA DE DIREITO PÚBLICO E REGULAÇÃO
3.ºdoDLn.º73/09. regimedecorrentedoDLn.º196/89(CapítuloII,
8
Vide,porcontraposição,oregimeanteriormenͲ SecçõesIeIIͲartigos5.ºeseguintes).
11
teprevistonoartigo7.ºdoDLn.º196/89. Videartigo17.ºdoDLn.º73/09.
REVISTA DE DIREITO PÚBLICO E REGULAÇÃO
maisrestritodeutilizações.
16
Cfr.,noanteriorregime,oartigo11.ºdoDLn.º
17
196/89,sendoquecomoactualquadronormatiͲ No âmbito do anterior regime não havia a
vo e por contraposição com aquele anterior autonomização das figuras do parecer prévio e
regime se opera uma clara redução dos prazos dacomunicaçãoprévia.
18
procedimentais de decisão, mantendoͲse, todaͲ Videartigo12.ºdoDLn.º196/89.
19
via, a mesma consequência já prevista no n.º 3 Cfr.artigo28.º,sendoqueacompetênciapara
REVISTA DE DIREITO PÚBLICO E REGULAÇÃO
des regionais da RAN, a emitir no prazo pessoas colectivas públicas pelos prejuíͲ
de 20 dias …”20, instituindoͲse, assim, zos que sejam causados a sujeitos de
impugnação administrativa de natureza boaͲfé e decorrentes da emissão de
facultativa a qual, em termos de impugͲ actos nulos por violadores dos normatiͲ
naçãocontenciosajurisdicionalseimpõe vossupracitados.
concatenar, mormente, com o regime Na verdade, tal preceito legal constituía
previstonoartigo59.ºdoCPTA. apenas um mero “reforço” ou o “relemͲ
EmsededasgarantiasdoregimedaRAN brar”daquiloquejáresultavadoregime
mantémͲse,talcomonoanteriorregime geral de responsabilidade civil extraconͲ
legal21, a sanção da nulidade para todos tratual do Estado e demais pessoas
os actos administrativos que hajam sido colectivas públicas previsto no anterior
praticados em violação do disposto nos DL n.º 48051, de 21.11.1967, e actualͲ
artigos 22.º a 24.º do DL n.º 73/0922, mente na Lei n.º 67/07, de 31.12, pelo
bem como as acções de cessação das que a sua ausência expressa do quadro
violações da RAN23 e de reposição da legal do novo regime jurídico da RAN
situação anterior a tais violações24, tal nada de novo introduz, pois, indepenͲ
como a previsão, com algumas alteraͲ dentemente de ali figurar ou não, o
ções, da responsabilidade contraͲ regimegeralvigenteemsedederesponͲ
ordenacional (fiscalização, instrução e sabilidade civil extracontratual daqueles
decisão,edestinodoprodutodascoimas entes vale em plenitude para a reparaͲ
aplicadas)25. Desaparece, no entanto, a ção dos prejuízos sofridos pelos sujeitos
regra prevista no artigo 35.º do DL n.º ou entes particulares e que sejam adveͲ
196/89,comaepígrafede“responsabiliͲ nientes da emissão de actos administraͲ
dadedoEstadoedemaispessoascolectiͲ tivos ilegais, mormente, geradores do
vaspúblicas”,semquecomissosedeva
ou possa considerar que no âmbito do
desvalor da nulidade por violação dos
artigos22.ºa24.ºdoDLn.º73/09.
ͳ͵CarlosLuísMedeirosdeCarvalho
novo regime jurídico da RAN inexista De registar, ainda, as alterações operaͲ
responsabilidade do Estado e demais das em sede de estrutura e das entidaͲ
desdaRAN,comainstituiçãodaentidaͲ
20
Vide, ainda, artigo 32.º, n.º 1, alínea g) do DL denacional26Ͳ27edasentidadesregionais
n.º73/09.
21
Cfr.artigo34.ºdoDLn.º196/89. da RAN28Ͳ29, com a gestão ordenada da
22
Cfr.artigo38.ºdoDLn.º73/09.
23 26
Cfr.artigo43.ºdoDLn.º73/09e39.ºdoDLn.º Cfr. artigos 31.º (composição) e 32.º (compeͲ
196/89. tências)doDLn.º73/09.
24 27
Cfr.artigo44.ºdoDLn.º73/90eartigo40.ºdo SucedeaoConselhoNacionaldaReservaAgríͲ
DLn.º196/89. cola instituído pelo DL n.º 196/89 Ͳ cfr. artigos
25
REVISTA DE DIREITO PÚBLICO E REGULAÇÃO
29
Sucedem às Comissões Regionais da Reserva e deficiente prática legislativa que se vem assisͲ
AgrícolainstituídaspeloDLn.º196/89Ͳcfr.artiͲ tindocomodesenvolverdocorpodosartigosao
gos.16.º(composição)e17.º(competências). longo de imensos números e/ou alíneas (cfr. a
30
Cfr.artigo30.ºdoDLn.º73/09. mesmadeficiência,nestemesmodiploma,quanͲ
31
Cfr.artigo36.ºdoDLn.º73/09,faltandoainda toaos16númerose8alíneasdoartigo14.º,às
publicar, à data que escrevemos, a portaria preͲ 14 alíneas do artigo 22.º, aos 10 números do
vista no n.º 2 do citado preceito, sendo que artigo23.º),práticaessaquevemsendosucessiͲ
vamente repetida em vários diplomas e que
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ͳͷCarlosLuísMedeirosdeCarvalho
REVISTA DE DIREITO PÚBLICO E REGULAÇÃO
ͳActualidade
REVISTA DE DIREITO PÚBLICO E REGULAÇÃO
OcontratodeprestaçãodeserviçosnaLei12ͲA/2008,de27deFevereiro:umregime
contrárioàConstituiçãoeaoDireitoComunitário
LicínioLopes
AssistentedaFaculdadedeDireitodeCoimbra
A Lei 12ͲA/2008, de 27 de Fevereiro, Uma das inovações mais marcantes da
doravanteLeinº12ͲA/2008,queestabeͲ Leinº12ͲA/2008é,semdúvida,aprevisͲ
leceosregimesdevinculação,decarreiͲ ta no artigo 35º, relativa ao contrato de
ras e de remunerações dos trabalhadoͲ prestaçãodeserviços.
resqueexercemfunçõespúblicas,introͲ Nonº1do artigoestabeleceͲse,atítulo
duziu profundas alterações na clássica geral,afaculdadedeasentidadespúbliͲ
relação de emprego público, indepenͲ cas recorrerem à celebração deste conͲ
dentementedasuaduraçãoͲrelaçãode trato:“osórgãoseserviçosaqueapreͲ
emprego público por tempo indetermiͲ senteleiéaplicávelpodemcelebrarconͲ
nado ou por tempo determinado ou tratos de prestação de serviços, nas
determinável, na terminologia daquela modalidadesdecontratosdetarefaede
Lei. avença,nostermosprevistosnopresente
Dada a extensão e profundidade das capítulo”.
alterações introduzidas, pode, provavelͲ Contudo,logodeseguida,nonº2,impõe
mente, dizerͲse que, neste momento, a limitações imperativas, prevendo que a
única certeza a antecipar é a de que a celebração de contratos de tarefa e de
clássica relação de emprego público avença apenas pode ter lugar quando,
ͳLicínioLopes
morreu,pelomenosemaspectosessenͲ cumulativamente:“a)SetratedaexecuͲ
ciaisdoseuregime. çãodetrabalhonãosubordinado,paraa
Noplanodogmático,háqueinventarum qual se revele inconveniente o recurso a
novodicionáriojurídiconestedomínio:o qualquer modalidade da relação jurídica
DireitodaFunçãoPúblicadevesersubsͲ de emprego público; b) O trabalho seja
tituído pelo Direito Administrativo do realizado, em regra, por uma pessoa
EmpregoPúblico. colectiva; c) Seja observado o regime
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REVISTA DE DIREITO PÚBLICO E REGULAÇÃO
REVISTA DE DIREITO PÚBLICO E REGULAÇÃO
2,queosEstadosͲMembrosdevemveriͲ
peias.
ficar se os respectivos sistemas jurídicos
condicionam o acesso a uma actividade
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ʹʹActualidade
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Umcasoexemplardedegradaçãodaautonomiamunicipal
PedroGonçalves
ProfessordaFaculdadedeDireitodeCoimbra
Em algumas das opções fundamentais O conselho é um órgão de instituição
que acolhe, a Lei n.º 8/2009, de 18 de obrigatória,devendoasuacriaçãoocorͲ
Fevereiro, sobre o regime jurídico dos rer,sobaégidedaassembleiamunicipal,
conselhos municipais de juventude, susͲ no prazo máximo de seis meses: estraͲ
citaͲme dúvidas de vária ordem: neste nhamente, a Lei não diz quando é que
escrito, pretendo partilhar algumas esseprazocomeçaacorrer!
delas, colocandoͲas num espaço de A nova figura surge como órgão do
debatepúblico. município, mas, evidentemente, não é
NostermosdaLei,oconselhomunicipal um“órgãorepresentativodomunicípio”:
dejuventude(doravante,conselho)“éo muitos dos seus membros não são eleiͲ
órgão consultivo do município sobre tos pela população do município, mas
matérias relacionadas com a política da designados por associações de direito
juventude”;trataͲse,pois,deum“órgão privado.
(consultivo)domunicípio”,deumafigura O conselho prossegue os seus fins no
organizativa integrada naquela pessoa âmbitodaspolíticasmunicipaisdejuvenͲ
colectivaou,noutraformulação,deuma tude,assegurandoasuaarticulaçãocom
unidadedeactuaçãodomunicípioͲnesͲ outras políticas sectoriais, na contribuiͲ
te ponto, a Lei afastouͲse dos modelos ção para o aprofundamento do conheͲ
ʹ͵PedroGonçalves
REVISTA DE DIREITO PÚBLICO E REGULAÇÃO
REVISTA DE DIREITO PÚBLICO E REGULAÇÃO
“órgãos do município”. Em todos estes membros dos outros órgãos do municíͲ
casos, parece pressuporͲse que os pio, incluindo o presidente da câmara
“órgãos do município” não são os municipal, os quais se encontram impeͲ
“outros”órgãosdomunicípio,masantes didos Ͳ vejaͲse bem! Ͳ de participar nas
osórgãosdeumaentidadeestranha. “votaçõesdetodasasmatérias”submeͲ
Retomando a composição do conselho, tidasàapreciaçãodoconselho,incluindo
uma consequência lógica da opção de o a votação na eleição de representantes
internalizar passaria por desenháͲlo do próprio município. Não imaginaríaͲ
como órgão apenas representativo das mossoluçãomaisbizarradoqueesta,de
associações de juventude. Embora não fazerdopresidentedacâmaramunicipal
deixasse obviamente de surgir como e de membros da assembleia municipal,
uma má solução, apresentaria a vantaͲ respectivamente, presidente e membros
gemdaclarezaedeumacertacoerência, donovoórgãodomunicípio,massemo
ao colocar a composição do novo órgão direitodevotoeexclusivamentecomos
emharmoniacomasuafunção. direitosdeintervirnasreuniões,deproͲ
por a adopção de recomendações e de
Contudo,aindaquedeformaanómala,e
solicitaroacessoainformaçãojuntodos
mesmo paradoxal, a Lei talvez tenha
outrosórgãosmunicipais.
adoptado o referido modelo de compoͲ
siçãohíbridacomoobjectivopoucohonͲ Um regime com esses contornos não
roso de credibilizar a própria operação serve, decerto, o interesse da democraͲ
jurídica de internalização Ͳ procurando cia participativa, nem, aliás, nenhum
contornar as eventuais dificuldades outro interesse legítimo; constitui, na
suplementares que decorreriam do verdade, uma paródia, inspirada numa
cenário de adopção do modelo de instiͲ desordemdevalores,que,afinal,corrói
tuição, dentro do município, de um osfundamentoseosentidodademocraͲ
órgão representativo de interesses parͲ ciaadministrativa.
ciaisecomdesignaçãototalmenteprivaͲ MasaausênciatotaldebomsensoreveͲ
da. louͲsenoutrosplanos,percorrendoaLei
ʹͷPedroGonçalves
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Restriçõesàparticipaçãoemprocedimentosdecontrataçãopública
RodrigoEstevesdeOliveira
AssistentedaFaculdadedeDireitodeCoimbra
1. Em sectores dominados pelo paradigͲ procedimentos desses pode suscitar, e
ma da concorrência e que têm no merͲ suscita, problemas complexos (indício
cadooseusuporte,comosucedecomo disso mesmo é o Considerando 4 da
da contratação pública, a restrição ou Directiva2004/18/CE).
limitação do acesso das empresas aos Além de outros, um dos motivos princiͲ
procedimentos de adjudicação é, quase paisdadiscussãocentraͲsenaexistência
por natureza, diríamos, uma questão de relações e participações societárias
delicada. Se mais não fosse, porque o entreasempresas,quepodemirdesdea
princípiodaconcorrêncianãoédesentiͲ hipóteseda“simplesparticipação”(igual
do único, apontando, a um tempo, para ou superior a 10%) até à da “relação de
amaiorconcorrênciapossívele,a outro grupo” (“grupo constituído por domínio
tempo,paraumaconcorrênciaefectivae total”, “contrato de grupo paritário” e
sã.Ali,oprincípiopodeserumobstáculo “contrato de subordinação”), passando
àinstituiçãodebarreirasdeacesso,aqui, pelas “relações de participação recíproͲ
podeseroseufundamento. ca”epelas“relaçõesdedomínio”(ver,a
ʹRodrigoEstevesdeOliveira
EnoteͲsequeoproblemadasrestrições esterespeito,osartigos481ºeseguintes
à participação em procedimentos de do Código das Sociedades Comerciais),
contratação pública não é juridicamente questionandoͲse se, em tais casos, que
delicado apenas quando estejam em são muito diversos, deve admitirͲse ou
causa empresas privadas (de privados, proibirͲse a participação separada de
entendaͲse), mas também entidades “sociedades coligadas” no mesmo proͲ
públicas (em formato público ou em cedimentoadjudicatório.
formato de direito privado, designadaͲ A questão, em abstracto, coloca, pelo
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respostanegativaàprimeiraquestão,éo nossaopinião,tratamentosensivelmente
de saber de que espécie podem ser as diferentenumenoutrodessesdiplomas,
outras causas de exclusão, designadaͲ pelo que a decisão que vier do Tribunal
deJustiçacontribuirácertamenteparaa
mente,sepodemabrangerahipóteseda
formação do acquis comunitário aplicáͲ
participaçãoseparadadeempresasentre
asquaisexistaumarelaçãodegrupono velaosactuaisprocedimentosdecontraͲ
taçãopública.
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O caso Assitur descreveͲse em breves que se encontrem, entre si, em relação
palavras. Em 2003, a Camera di ComͲ de domínio (tal como definido no artigo
mercio, Industria, Artigianato e AgricolͲ 2359ºdoCódigoCivilitaliano).
turadiMilanabriuum concursopúblico
paraaadjudicação,combasenocritério 3.OAdvogadoGeralnoprocessoAssitur
do preço mais baixo, de um contrato (JánMazák),nassuasconclusões,jádesͲ
para a prestação de serviços postais, a creveu em termos essenciais o probleͲ
que se apresentaram três empresas: a ma.
SDA Spa, a Poste Italiane Spa e Assitur Assim, relativamente à questão da taxaͲ
Srl.TendoͲseverificadoqueatotalidade tividadeounãodascausasdeexclusão,o
dasacçõesdaSDAeradetidapelaAttiviͲ TribunaldeJustiça,noacórdãoLaCasciͲ
tàMobiliariSpA,aqual,porsuavez,era na(de9.2.2006,processoCͲ226/04eCͲ
inteiramente participada pela Poste ItaͲ 228/04),jáhaviaconsiderado,éverdade,
liane,aAssiturrequereu,nostermosdas queoartigo29°daDirectiva92/50obsͲ
normas do concurso que proibiam que tava a que os EstadosͲMembros previsͲ
empresas em relações de grupo particiͲ sem causas de exclusão diferentes das
passem (separadamente) como concorͲ nele previstas (ver nº 22 do acórdão),
rentes, a exclusão da SDA e da Poste mas, como bem observou o Advogado
Italiane, com fundamento nas referidas Geral, deve entenderͲse — até porque
ligações societárias. O requerimento eraissoqueestavaemcausanesseproͲ
acabou,noentanto,porserindeferidoe cesso(vernº21)—quetallimitaçãosó
ocontratofoiadjudicadoàSDA,pergunͲ valeriaparaascausasimpeditivasquese
tandoagoraostribunaisitalianosaoTriͲ reportam à honestidade profissional, à
bunal de Justiça, em sede de reenvio solvabilidadeouàfiabilidadedosconcorͲ
prejudicial, se o artigo 29º da antiga rentesecandidatos.Nestamatéria,porͲ
Directiva 92/50/CE (sobre processos de tanto,massónela,haveriaumaregrade ʹͻRodrigoEstevesdeOliveira
adjudicaçãodecontratosdeserviços)— taxatividade ou exaustividade comunitáͲ
que corresponde ao artigo 45º/2 da ria, não podendo os sistemas jurídicos
Directiva 2004/18/CE — enuncia de forͲ internos estabelecer, com base nessas
ma taxativa as causas de exclusão da razões,outrascausasdeexclusão.
participação nos concursos, se há nessa Éessa,aliás,ajurisprudênciaqueparece
matéria um “numerus clausus”, e, conͲ também retirarͲse do recente acórdão
sequentemente,seodireitocomunitário Michaniki (de 16.12.2008, processo CͲ
obsta a que haja legislação interna que 213/07), a propósito do artigo 24° da
proíba a participação simultânea num antiga Directiva 93/37/CEE (sobre proͲ
procedimentoadjudicatóriodeempresas cessosdeadjudicaçãodeempreitadasde
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rativa.OnossolegisladorentendeufazêͲ 5.Masseéassim—edestaformacheͲ
lo, no artigo 55º do CCP, mas podia ter gamosaoterceiroproblema—,issosigͲ
optado por solução diferente, como nificaquepodemexistiroutrascausasde
podetambémumaleiavulsaviradispor exclusão estabelecidas pelos sistemas
em sentido diverso, admitindo (ou não
jurídicos internos. Ponto é que tenham
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assessoria ou apoio técnico à entidade exclusão “não se reporta à honestidade
adjudicante na preparação e elaboração profissional, à solvabilidade ou à fiabiliͲ
daspeçasdoprocedimento.Nãosetrata dade dos candidatos”, “não versa sobre
aídeumacausadeexclusãoprevistanas ocomportamentodoscandidatos,antes
directivas comunitárias, mas o Tribunal procura prevenir situações em que a
deJustiçaaceitouqueessahipóteseposͲ própria relação entre determinadas
sa constituir, em certos termos, motivo sociedades que participam num concurͲ
para o afastamento da empresa concorͲ sotendeafalsearesseprocesso”,tendo
rente (ver, por exemplo, acórdão FabriͲ porissoemvista“garantiraigualdadede
com, de 3.3.2005) — mesmo que, noteͲ tratamentodetodososconcorrentesea
se,nãotenhasidoprevistanaspeçasdo transparênciadosprocessosdeadjudicaͲ
procedimento —, solução que o nosso çãodoscontratospúblicos”,sustentando
legislador veio consagrar na alínea j) do porissoque“odireitocomunitáriodeve
artigo 55º do CCP, em termos porém ser interpretado no sentido de que, em
cujaplenacompatibilidadecomodireito princípio,nãoobstaàadopçãodemediͲ
comunitárionossuscitadúvidas. dasnacionaisdessetipo”.
RefiraͲseque,aocontrário,porexemplo,
6.RelativamenteàhipótesedaparticipaͲ do Código dos Contratos Públicos italiaͲ
çãosimultâneanumprocedimentoadjuͲ no — aprovado pelo Decreto legislativo
dicatório de empresas que se enconͲ nº163/06,de12deAbrilde2006(CodiͲ
trem, entre si, em relação de domínio, ce dei contratti pubblici relativi a lavori,
sobrequetrataoprocessoAssitur,oque servizi e forniture in attuazione delle
estará em causa, segundo o Advogado direttive 2004/17/CE e 2004/18/CE), em
Geral, é o facto de “o jogo da livre conͲ cujoartigo34°,últimoparágrafo,sepreͲ
corrência e a rivalidade ficarem irremeͲ vêque“nãopodemparticiparnomesmo
diavelmente prejudicados com a admisͲ concurso concorrentes que se enconͲ
são de propostas que, apesar de proviͲ trem entre si numa das situações de
remformalmentededuasoumaissocieͲ domínio previstas no artigo 2359° do
dades legalmente distintas, possam ser Código Civil”, dispondoͲse ainda que
imputadasaumúnicocentrodeinteresͲ devemserexcluídosdoconcursoosconͲ
͵ʹActualidade
so”. Ora, diz, essa eventual causa de esta hipótese, embora não tenha deixaͲ
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da igualdade de tratamento dos concorͲ regras da concorrência. Para não dizer
rentesedatransparência”. tambémque,aocontráriodoquesucede
Aquestão,comosevê,émuitodelicada noutros casos (vg, no regime do preço
e o caso particular não deixa sequer anormalmente baixo ou no caso do
antever toda a complexidade do probleͲ acórdão Fabricom), a admissibilidade da
ma, que, de resto, se mantém mesmo provaemcontrário,propostapeloAdvoͲ
que o Tribunal de Justiça venha a consiͲ gado Geral, em hipóteses como a do
derar contrária ao direito comunitário processo Assitur pode não resolvermuiͲ
uma norma que proíba a participação to, pois, dependendo da leitura que se
simultânea de sociedades com relação faça,ousetratarádeuma“provadiabóͲ
dedomíniooudegrupo.Bastaimaginar, lica”ouserátendencialmenteumaprova
por exemplo, a qualificação, em concurͲ bastante simples, insusceptível de ser
solimitadocomsistemadeselecção(do refutadapelaentidadeadjudicante.
artigo181ºdoCCP),deduassociedades Como quer que seja, o propósito deste
entre as quais exista uma relação de pequenotexto,queeradarumaimagem
domínio ou de grupo ou a selecção de dastendênciasquesedesenhamnoplaͲ
duas sociedades dessas para a fase de no comunitário, esgotaͲse aqui. A palaͲ
negociações (em separado) de um proͲ vra pertence agora ao Tribunal de JustiͲ
cedimentoadjudicatório,quesenosafiͲ ça.
guram casos de desvirtuamento das
͵ͶActualidade
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D O U T R I N A
ContrataçãoPúblicaaduasvelocidades:atransposiçãodaDirectiva2007/66/CE
AdolfoMesquitaNunes
Advogado
1
DirectivaquealteraasDirectivas89/665/CEEe
92/13/CEEdoConselho,emconjuntoaquireferiͲ e dos contratos públicos de serviços e procediͲ
dascomo“DirectivasrelativasaosmeioscontenͲ mentosdeadjudicaçãodecontratosnossectores
ciosos”. excluídosdaágua,daenergia,dostransportese
2
RelativasàcoordenaçãodosprocessosdeadjuͲ dosserviçospostais,respectivamente.AquirefeͲ
dicação dos contratos de empreitada de obras ridas, em conjunto, como “Directivas ProcediͲ
públicas,doscontratospúblicosdefornecimento mentais”.
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fazer vingar as opções das Directivas transpôs (“CCP”)3, tendo já sido objecto
Procedimentais. de análises várias, a verdade é que a
Não foi isso, no entanto, que sucedeu Directiva 2007/66/CE tem sido objecto
com a Directiva 2007/66/CE e, em conͲ demenoratenção.
sequência, com a actual redacção das Assim, atendendo a que data limite de
DirectivasrelativasaosmeioscontencioͲ transposição dessa Directiva é de 20 de
sos. Na verdade, como qualquer rápida Dezembro de 2009 e tendo em conta
leitura do documento permite apreenͲ queessatransposiçãoimplicaránecessaͲ
der, a Directiva estabelece um conjunto riamente a introdução de alterações no
demecanismosdedesaceleraçãoproceͲ CCP e no Código de Processo nos TribuͲ
dimentalquepoderiam,eemrigordeveͲ nais Administrativos (“CPTA”), impõeͲse
riam, estar previstos nas Directivas ProͲ umabreveanálisecríticasobreasprinciͲ
cedimentais. Pode mesmo dizerͲse que paisimplicaçõesdestaDirectivanoordeͲ
custa entender que, no curto espaço de namento jurídico nacional. É o que proͲ
três anos, o ordenamento comunitário curarei fazer neste artigo, começando
tenha visto nascer, neste âmbito, DirecͲ por contextualizar os principais probleͲ
tivascomsentidosrítmicosconflituantes. masaqueaDirectivavisoudarresposta.
Deumlado,asDirectivasProcedimentais
apostadas na criação de procedimentos 2. Os riscos da velocidade procedimenͲ
desentidoaberto,capazesdeconformar talnoâmbitodacontrataçãopública
técnicas de negociação e aceleração e AvelocidadedosprocedimentosdeconͲ
direccionados no sentido da eficácia, da tratação pública não configuraria qualͲ
velocidade e do ganho de tempo. Do quer problema para os particulares que
outro lado, as Directivas relativas aos neles participam se as especificidades
meioscontenciososapostadas,pelamão dessesprocedimentosnãoditassemuma
daDirectiva2007/66/CE,emcriarnãosó drástica redução das possibilidades de
mecanismos de urgência contenciosa tutela dos particulares a partir de um
como igualmente mecanismos de desaͲ determinadomomento.
celeração procedimental tendentes à De facto, a velocidade procedimental,
atempada reacção contenciosa às ilegaͲ enquanto resposta aos novos desafios
͵Doutrina
lidades ocorridas nos procedimentos de que os tempos modernos colocam em
contrataçãopública. termos de rapidez, não pode senão
E se o resultado nacional das Directivas beneficiarosparticularesqueparticipam
Procedimentais está à vista de todos no
Código dos Contratos Públicos que as
3
Aprovado pelo DecretoͲLei n.º 18/2008, de 29
deJaneiro.
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coisacontratadabemcomoaimpossibilidadeou da. Em primeiro lugar porque, no caso dos conͲ
especiaisdificuldadesemanularoudeclararnulo correntes ao procedimento, o seu objectivo são
ocontratoe,finalmente,iii)aponderaçãodojuiz asvantagenseconómicasdaexecuçãodocontraͲ
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tutela indemnizatória constitua um factor de preâmbulo, o “encurtamento dos prazos proceͲ
dissuasão das ilegalidades praticadas pela AdmiͲ dimentais,tantoreaisquantolegais”,atravésda
nistração. utilização de novas tecnologias, reflectidas na
7
Cfr.AcórdãoCͲ81/98,Colect.,p.IͲ7671. utilizaçãodeplataformaselectrónicas(asproposͲ
8
Cfr.AcórdãoCͲ212/02,Colect.,p.IͲ0000. taspassamaserentreguesporviaelectrónicae
9
AcórdãodoTJCE,de11deJaneirode2005,Stadt grande parte das notificações e intervenções
͵ͻAdolfoMesquitaNunes
11
Assimsejustificaaredacçãodoartigo2.ºn.º1 estatui que os EstadosͲmembros devem “(...)
daDirectivaRecursos,etodaaatençãoqueaíé tomar,nomaiscurtoprazoemedianteprocesso
dedicada à tutela cautelar, devendo os EstadosͲ de urgência, medidas provisórias destinadas a
membros velar “por que as medidas tomadas corrigir a alegada violação ou a impedir que
para os efeitos dos recurso prevejam os poderes sejamcausadosnovosprejuízosaosinteressados,
que permitam (...) tomar o mais rapidamente incluindo medidas destinadas a suspender ou a
possível, através de um processo de urgência, mandarsuspenderoprocedimentodecelebração
medidas provisórias destinadas a corrigir a aleͲ do contrato em causa ou a execução de quaisͲ
gada violação ou a impedir que sejam causados quer decisões tomadas pela entidade adjudicanͲ
outros danos aos interesses em causa, incluindo te”.
12
medidas destinadas a suspender ou a fazer susͲ Dissertação de Mestrado, ainda em revisão
penderoprocessodeadjudicaçãodocontratode para publicação, mas já disponível na Biblioteca
direito público em causaoua execuçãode qualͲ da Faculdade de Direito da Universidade de LisͲ
quer decisão tomada pelas entidades adjudicanͲ boa, intitulada “A Urgência no Contencioso PréͲ
tes”. O artigo 2.º, n.º 1 da Directiva 92/13/CEE Contratual”.
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impugnação de actos que assumem um efeito tamento provisório da providência) às providênͲ
dificilmentereversívelnoprocedimento,comoé cias relativas a procedimentos de formação de
seguramenteocasodaadjudicação. contratos”.
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se vê privado dos mecanismos de todas as formulações que se conhecem
tutelapréͲcautelare poressaEuropaͲepormaissofisticadas
vi) o esquema de urgência montado que sejam Ͳ, está condenado a partir
pelo legislador assenta no claro quase sempre com atraso relativamente
pressuposto de que vai existir uma a algumas violações por parte das entiͲ
decisão cautelar, sendo que a expeͲ dadesadjudicantes.
riência demonstra, na esmagadora São aliás vários os mecanismos que têm
maioria dos casos, que a decisão sido tentados, alguns deles obrigando a
cautelar não é emitida antes da repensarospróprioslimitesefunçõesda
celebraçãodocontrato. tutela cautelar. VejaͲse, por exemplo,
Emsuma,umaanálisemenossuperficial quenestejogodoapanhasãojáadmitiͲ
sobre o quadro formal da instância do dos mecanismos destinados a fornecer
processo urgente permite entender que umatutelapréviaàprópriatutelacauteͲ
este não consegue, na esmagadora lar,comoqueparaassegurarqueadeciͲ
maioria dos casos e por si só, assegurar são cautelar tenha efeito útil, tal como
uma tutela eficaz do autor processual, em Portugal sucede com o artigo 131.º
umavezquenãochegaatempodeeviͲ do CPTA (e já veremos em que termos).
tarouatrasaracelebraçãodocontrato. NoteͲse até onde o contencioso já vai.
EstejádispõedemecanismosparaasseͲ
Simultaneamente, uma análise rápida
gurarautilidadedadecisãocautelarque
aosinstrumentoscautelaresassociadosa
vaiassegurarautilidadedadecisãoprinͲ
este processo urgente permite verificar
cipal.
queolegisladornãocuidoude,comclaͲ
reza, estender ao processo urgente de E se assim é, como agora tentarei eviͲ
contencioso préͲcontratual a musculada denciar com a análise da Directiva
tutelapréͲcautelarquecriounosartigos 2007/66/CE, a reforma do processo
128.ºe131.º. urgente poderá não bastar para asseguͲ
ͶͳAdolfoMesquitaNunes
Asincapacidadesdoprocessourgentede raratuteladosparticularesnocontexto
contencioso préͲcontratual aconselham, dacontrataçãopública.
porisso,àsuarápidareformanosentido
4. Da necessidade de recorrer a mecaͲ
de o aproximar dos objectivos de tutela
nismos de desaceleração procedimenͲ
quepresidiramasuaconsagração.
tal:aDirectiva2007/66/CE
Masaindaqueessareformasefaça,uma
Defacto,oatrasodareacçãocontencioͲ
coisa é certa: o tempo processual não
sanoâmbitodosprocedimentosdeconͲ
pode ser mais rápido do que a própria
tratação pública, apesar das várias
ressadosoude10diasconsecutivosacontardo
dia seguinte à data de recepção da decisão de
adjudicaçãodocontrato.
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quadro que não defina todos os Esse efeito suspensivo pode ser tempoͲ
termos da contratação (segundo rário(nãopodendonuncaterminarantes
travessão do segundo parágrafo do de expirado o prazo de “stand still”),
n.º4doartigo32.º); devendoemqualquercasodurarotemͲ
ii) seexistirviolaçãodealgumasdispoͲ po suficiente para que a instância de
sições que regulam a contratação recurso possa tomar uma decisão que
porsistemasdeaquisiçãodinâmicos assegureatuteladoparticular,queressa
(n.ºs5e6doartigo33.ºdaDirectiva decisãoseexerçaemsedecautelarquer
2004/18/CEedosn.ºs5e6doartiͲ seexerçaemsedeprincipal.
go15.ºdaDirectiva2004/17/CE)e Emterceirolugar,nocasodeosEstadosͲ
iii) se o valor estimado do contrato for Membros exigirem que o interessado
igual ou superior aos limiares estaͲ solicite previamente à entidade adjudiͲ
belecidos nas Directivas ProcediͲ canteaalteraçãodasuadecisão,devem
mentais. taisEstadosassegurarͲse,nostermosdo
novoartigo1.º,n.º5dasDirectivasrevisͲ
Em segundo lugar, a Directiva estabeleͲ
tas, que a apresentação de tal pedido
ce,nosnovosartigos2.ºn.º3dasDirecͲ
implicaasuspensãoimediatadapossibiͲ
tivas revistas, que caso seja interposto
lidade de celebrar o contrato. Essa susͲ
recurso de uma decisão de adjudicação
pensão não poderá cessar antes do terͲ
deumcontratoparaumórgãoquedeciͲ
modeumprazomínimode10diasconͲ
da em primeira instância, independente
secutivos,acontardodiaseguinteàdata
da entidade adjudicante, os EstadosͲ
em que a entidade adjudicante tiver
Membros devem assegurar que a entiͲ
enviadoumaresposta18.
dade adjudicante não possa celebrar o
contratoantesdeainstânciaderecurso Nestesdoisúltimoscasos(suspensãodo
ter tomado uma decisão, quer sobre o procedimento por recurso contra o acto
pedido de medidas provisórias, quer de adjudicação ou por interposição de
Ͷ͵AdolfoMesquitaNunes
sobreopedidoderecurso,nãopodendo reclamaçãograciosanecessária),aDirecͲ
essasuspensãocessarantesdotermodo tivaéclaraemdeterminaraconsagração
referidoprazode“standstill”. de um efeito suspensivo automático,
to. cante tiver enviado uma resposta ou de 10 dias
consecutivos a contar do dia seguinte à data de
recepçãodaresposta.
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UniãoEuropeiaépermitidanosterͲ porsistemasdeaquisiçãodinâmicos
mosdasDirectivasProcedimentais; e
ii) a entidade adjudicante tiver publiͲ ii) se o valor estimado do contrato for
cado no Jornal Oficial da União igual ou superior aos limiares estaͲ
Europeia um anúncio voluntário de belecidos nas Directivas ProcediͲ
transparência ex ante manifestando mentais.
asuaintençãodecelebrarocontraͲ iii) Maisumavez,sóassimnãoteráde
to20e ser, nos termos do novo n.º 5 do
iii) o contrato não tiver sido celebrado artigo 2.ºͲD das Directivas revistas,
antesdotermodeumprazomínimo se:
de 10 dias consecutivos a contar do iv) a entidade adjudicante considerar
diaseguinteàdatadapublicaçãodo que a adjudicação do contrato foi
anúncio. feita nos termos das Directivas ProͲ
Ocontratoseráaindajurisdicionalmente cedimentais,
privado de efeitos se, tendo os EstadosͲ v) aentidadeadjudicantetiverenviado
Membros invocado a excepção à aplicaͲ adecisãodeadjudicaçãodocontraͲ
ção do prazo suspensivo “stand still” to, acompanhada da exposição sinͲ
paraoscontratosbaseadosnumacordoͲ téticadosmotivos,aosproponentes
quadro e num sistema de aquisição interessadoseaindase
dinâmico: vi) o contrato não tiver sido celebrado
i) existir violação das disposições que antesdotermodeumprazomínimo
prevêemoprocedimentodecontraͲ de 10 dias consecutivos a contar do
tação a seguir em caso de celebraͲ diaseguinteàdataemqueadecisão
ção de contrato ao abrigo de um de adjudicação do contrato foi
acordoͲquadroquenãodefinatodos enviada aos proponentes interessaͲ
os termos da contratação e das disͲ dos21.
ͶͷAdolfoMesquitaNunes
posiçõesqueregulamacontratação
ADirectivanãoreferequaisdevemseras
consequênciasdessaprivaçãodeefeitos,
20
EsteanúnciodeveconterasseguintesinformaͲ
ções:a)OnomeecontactosdaentidadeadjudiͲ
21
cante;b)Umadescriçãodoobjectodocontrato; Esteprazode10éapenasaplicávelemcasode
c)UmajustificaçãodadecisãodaentidadeadjuͲ utilizaçãodetelecópiaoudemeioselectrónicos.
dicante de adjudicar o contrato sem publicação EmcasodeutilizaçãodeoutrosmeiosdecomuͲ
prévia de um anúncio de concurso no Jornal nicação,oprazomínimoé,alternativamente,de
OficialdaUniãoEuropeia;d)Onomeecontactos 15 dias consecutivos a contar do dia seguinte à
do operador económico a favor de quem foi dataemqueadecisãodeadjudicaçãofoienviada
do contrato. Antes pelo contrário, a nómicos que tenham sido ilegalmente
Directiva é clara ao referir, no n.º 3 do privados da oportunidade de concorrer
artigo2.ºͲDdasDirectivasrevistas,queo oudeganharoprocedimento.
interesseeconómiconamanutençãodos
efeitosdocontratosópodeserconsideͲ
nadoaimpediracelebraçãodoconͲ
JurisprudênciafirmadadoSTA,orecurso
trato nos primeiros 10 dias (no
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partedo autor processual. Não podemos esqueͲ transposto o prazo de “stand still” preͲ
cerͲnosqueesseprazoseaplicaporigualaproͲ
cedimentos de formação de contratos muitos vistononovoartigo2.ºͲAdasDirectivas
diversos. Desde contratos de fornecimento de relativasaosmeioscontenciosos,havenͲ
material de escritório a contratos de concessão
deumaautoͲestrada,passandoporcontratosde do para isso que dotáͲlo do efeito útil
Aliás,partedesseefeitoútilpodeserͲlhe Esseefeitosuspensivonãocarecedeser
fornecido pelo prazo referido em (ii), e definitivo,istoé,nãotemdeduraratéà
que consiste na inscrição de um efeito datadadecisãojudicialqueponhatermo
suspensivo automático sobre o acto de à causa ou decida do decretamento de
adjudicaçãopelaproposiçãodeumapreͲ umaprovidênciacautelar,umavezquea
tensãoprocessualcontraoactodeadjuͲ Directiva, numa redacção não propriaͲ
dicação. mente feliz, admite que o mesmo pode
No nosso ordenamento a regra é a da ser temporário, sendo certo que não
não suspensão de eficácia do acto podenuncaterminarantesdedecorrido
impugnado,comexcepçãodoefeitosusͲ oprazode“standstill”24.
pensivo do acto suspendendo, prevista Noentanto,pareceͲmequeessapossibiͲ
noartigo128.ºdoCPTA. lidade de prazo suspensivo temporário,
Emgrandeparte,essaregradenãosusͲ admitida pela Directiva, presume que o
pensãoautomáticadeveͲseaofactodeo decursodesseprazode“standstill”está
carácter suspensivo dos processos não fixado de forma a conferir um qualquer
ter, mesmo após a vaga de reformas efeitoútilaoparticular.Ouseja,aDirecͲ
contenciosaseuropeias,grandesadeptos tivaadmitequeoefeitosuspensivoposͲ
por entre a maioria dos ordenamentos sa ser temporário mas apenas no caso
continentais. de,nodecursodoprazode“standstill”,
Mas se já nada impedia que esse efeito existir algum momento de apreciação
suspensivo (eventualmente temporário) jurisdicional que tutele o autor procesͲ
sual.
pudesse ser consagrado excepcionalͲ
mente23, nem que reservado aos actos Qualquer outra interpretação que preͲ
finais ou mais determinantes do proceͲ tendareduziroefeitosuspensivoobrigaͲ
dimento,comomanifestamenteéocaso
24
Defacto,oartigo2.º,n.º3dasDirectivasrevisͲ
doactodeadjudicação,averdadeéque, tas começa por dizer que caso seja interposto
ͶͻAdolfoMesquitaNunes
neste momento, a Directiva 2007/66/CE recurso de uma decisão de adjudicação de um
contratoparaumórgãoquedecidaemprimeira
impõe, para a sua transposição, a introͲ instância,independentedaentidadeadjudicante,
dução de um mecanismo de suspensão os EstadosͲMembros devem assegurar que a
entidade adjudicante não pode celebrar o conͲ
automáticasobreoactodeadjudicação.
tratoantesdeainstânciaderecursotertomado
uma decisão, quer sobre o pedido de medidas
provisórias, quer sobre o pedido de recurso, o
23
Éoquealiásacontece,porexemplo,noâmbito que indicia a necessidade de esta suspensão se
do artigo 50.º CPTA, onde a impugnação de um manterporumprazosuficientementelongopara
acto administrativo suspende a sua eficácia permitir a apreciação jurisdicional. Mas, de
quandoestejaapenasemcausaopagamentode seguida, o artigo refere que a suspensão não
umaquantiacerta,semnaturezasancionatória,e podecessarantesdotermodoprazosuspensivo
tenha sido prestada garantia por qualquer das de “stand still”, prazo que, como se sabe, pode
formasprevistasnaleitributária. serdeapenas10dias.
REVISTA DE DIREITO PÚBLICO E REGULAÇÃO
mérito prévio à sentença rio, no exíguo prazo de 48 horas, está
(cautelar ou principal) e que especificaͲ reservada para casos flagrantes ou de
mentesedebrucesobreoefeitosuspenͲ “especial urgência”, os quais não esgoͲ
sivoimpostopelaDirectiva. tamouniversodepretensõessujeitasao
contencioso préͲcautelar às quais a
PareceͲme, assim, que a transposição facto, o juízo a fazer pelo tribunal não
deste efeito suspensivo (se temporário) será quanto ao decretamento de uma
terádefazerͲseatravésdacriaçãodeum providência nem sequer quanto a um
mecanismo que consagre uma apreciaͲ decretamentoprovisóriodamesma.Será
ção jurisdicional préͲcautelar de toda e um juízo, isso sim, sobre a eventual
qualquer pretensão contra o acto de necessidade, sempre extraordinária, de
adjudicação; apreciação essa na qual o levantamento do efeito suspensivo
juizterádedeterminaraocertoseaqueͲ automáticoimpostopelaDirectivaeque,
leefeitosuspensivodeveounãomanterͲ salvoponderososmotivos,devemanterͲ
se até à decisão cautelar ou principal, se até que o juiz cautelar (ou principal)
assim se assegurando, como manda a emitaumasentençademérito.
Directiva, que a entidade adjudicante Finalmente importa fazer referência ao
nãopodecelebrarocontratoantesdea últimodosmecanismossuspensivospreͲ
instância de recurso ter tomado uma vistos na Directiva, o prazo referido em
decisão. (iii),destinadoaimpediracelebraçãodo
NoteͲse que aquilo que o juiz terá aqui contratonosprimeiros10dias(nomíniͲ
de fazer não é justificar porque é que o mo) após a resposta a uma reclamação
contrato deve ver suspensa a sua celeͲ graciosanecessária.
bração,massimooposto. Esse mecanismo não tem aplicação no
Ojuizterádepartirdaclaraindicaçãoda nossoordenamento,umavezqueoCCP
Directiva de que a celebração daquele estipula, no seu artigo 268.º, que as
contratodevemesmosersuspensa,sóo impugnaçõesadministrativassãofacultaͲ
podendo não ser quando,daapreciação tivas.
sumária, resulte clara a improcedência Noentanto,sempreterádedizerͲseque
dapretensãolevadaajuízo.Nadúvida,o oCCPpoderiateridomaislongedoque
juiz deve manter o efeito suspensivo aquiloquefoi,umavezquepoderia,ea
ͷͳAdolfoMesquitaNunes
porque,seonãofizer,estaráafrustrara meu ver deveria, ter previsto no artigo
tutela conferida pela Directiva e que 272.º que a celebração do contrato não
aponta para a manutenção desse efeito poderia ter lugar enquanto as impugnaͲ
suspensivoatéàemissãodeumadecisão ções administrativas relativas à decisão
deméritocautelarouprincipal. deadjudicaçãonãotivessemsidodecidiͲ
Este mecanismo pode ser inserido quer das ou não tivesse decorrido o prazo
noâmbitocautelarquernoâmbitoprinͲ paraarespectivadecisão.
cipal,emborafaçamaissentidoqueseja Defacto,talqualestáredigidoesteartiͲ
inserido no primeiro, e proporcionará
formam, para efeitos de anulação, um vício não implicaria uma modificação
corpo único, ainda que essa contaminaͲ subjectiva no contrato celebrado nem
çãoautomáticadovícioapenasseopere uma alteração do seu conteúdo essenͲ
noplanosubstantivoenãonoplanoproͲ cial.
cessual. Ora, a Directiva 2007/66/CE veio trazer
novosdadosaestaapreciaçãoporquanͲ
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to veio impor situações cuja verificação tiver adjudicado sem publicação prévia
importa necessariamente, mediante de um anúncio de concurso no Jornal
intervenção jurisdicional, a privação de Oficial da União Europeia sem que tal
efeitosdocontrato.Ouseja,veioestabeͲ fosse permitido nos termos das DirectiͲ
lecer uma contaminação substantiva – vas Procedimentais, embora com as
mas também processual – de alguns excepções referidas no novo n.º 4 do
vícios procedimentais no contrato públiͲ artigo2.ºͲDdasDirectivasrevistas.
cocelebrado,detalsortequeotribunal ADirectivanãorefere,comojátiveoporͲ
deve, independentemente do pedido ou tunidade de referir quais devem ser as
da cumulação de pedidos, determinar a consequênciasdessaprivaçãodeefeitos,
privaçãodeefeitosdocontrato. deixando aos ordenamentos nacionais a
Assim, recordo, com especial interesse necessárialiberdadeparaoefeito,sendo
para o choque de tensões rítmicas no certoqueoCCPdeveráserconsequente
seio da contratação pública, que o CCP com o espírito da Directiva, que não se
terádealterarasuaredacçãonosentido comove com o interesse económico
deestabelecerqueoscontratoscelebraͲ directamente relacionado com o contraͲ
dos em violação dos prazos suspensivos to.
oudesuspensãoautomáticadeverãoser Por isso mesmo, aliás, a apreciação
substantiva e processualmente contamiͲ jurisdicional do que devam ser causas
nados com os vícios decorrentes dessa legítimas de inexecução de sentenças
violação,seconjugadoscomviolaçõesàs paraostermoseefeitosdoartigo163.º
Directivas Procedimentais, na medida do CPTA deve ter em conta os limites
emquetaisviolaçõesafectemashipóteͲ impostos pela Directiva à aplicação da
ses do autor processual de obter o conͲ privaçãodeefeitosdocontrato,havendo
trato. querejeitarcomofundamentoointeresͲ
IstosemprejuízodepoderaindaestabeͲ se económico directamente relacionado
ͷ͵AdolfoMesquitaNunes
lecerͲse uma redacção que autorize a com o contrato em causa, aqui se
decisão judicial ou arbitral a decidir, incluindooscustosresultantesdeatraso
depois de avaliados todos os aspectos naexecuçãodocontrato,oscustosresulͲ
relevantes,seocontratodeveserconsiͲ tantes da abertura deum novo procediͲ
derado desprovido de efeitos ou se mento de adjudicação, os custos resulͲ
devem ser impostas sanções alternatiͲ tantes da mudança do operador econóͲ
vas. micoqueexecutaocontratoeoscustos
Igualmente, o CCP terá de prever que o das obrigações legais resultantes da priͲ
contratoserájurisdicionalmenteprivado vaçãodeefeitos.
Notassobreaantecipaçãodojuízosobreacausaprincipal
(umcomentárioaoartigo121ºdoCPTA)
DoraLucasNeto
JuízadeDireitodoTACdeLisboa
(ii)gravidadedosinteressesenvolviͲ
apenasprovisoriamente(artigo112º,CPTA),
dos;
ou por via da antecipação, no âmbito do
b) asituaçãoempresençanãosecomͲ
processo cautelar, do juízo sobre a causa
padeçacomaadopçãodeumasimͲ
principal(artigo121º,n.º1CPTA).LatosenͲ
plesprovidênciacautelar;e
25
Semprequesefaçareferênciaanormaslegais,
semamençãododiplomaaquedizemrespeito,
deveconsiderarͲsequetaisartigospertencemao
CPTA.
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Artigo 268º/4 da Constituição da República da evidência subjacente às decisões a que faz
Portuguesa referência o artigo 120º/1, al. a) e a via aberta
28
ISABELFONSECA,op.cit.,pgs.83e84. pelo artigo 121º/1, cfr. CARLA AMADO GOMES,
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te, na medida em que a aplicação do
artigo 121º do CPTA pressupõe que
“OregressodeUlisses:umolharsobreareforma
da justiça cautelar administrativa”, Cadernos de foram trazidos ao processo todos os
JustiçaAdministrativa,39,pgs.3ess.
31 elementos necessários para o efeito.
CHIOVENDA, a expressão consta da “Notas a
Cass. Roma, 7 de marzo de 1921” in Giur.Civ. e Significa isto que este instituto, verificaͲ
Comm., 1921, pg. 362 apud Chinchilla Marin, La dos que estejam todos os requisitos
TutelaCautelarenlanuevajusticiaadministratiͲ
legalmente previstos, se traduz numa
va,Madrid,Civitas,1991.
32
MANUELDEANDRADE,Noçõeselementaresde convolação do processo cautelar num
ProcessoCivil,CoimbraEd.,1993,pg.10.
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processo principal urgente33 cujas fases II) Da manifesta urgência na resolução
se resumem à audição das partes e à definitiva do caso atendendo à «natuͲ
emissãodeumjuízosobreacausaprinͲ reza das questões e à gravidade dos
cipal. Deste modo, não há lugar à contiͲ interessesenvolvidos»
nuaçãodatramitaçãodaacçãoprincipal TrataͲse de um requisito substantivo, a
nemsepassaatramitaroprocessocauͲ seraferidocasoacaso,desdelogo,para
telar,apartirdadecisãodeantecipação, delimitação da aplicação excludente do
como se de um processo principal se artigo109ºdoCPTA.
tratasse. Porém,prefiguramͲse,anossover,pelo
Obviamente que esta antecipação do menos duas circunstâncias que permiͲ
juízodacausaprincipalnãopodesignifiͲ tem, tendencialmente, uma objectivaͲ
car uma diminuição inadmissível das çãodesterequisito:
garantias de defesa, pelo que, caberá i) quando a situação da vida trazida
justificar,tambémaessenível,adecisão aos autos se articula com actos
em causa, designadamente quanto à inseridos num procedimento conͲ
essencialidadedosfactosassentes,assim cursal;e
como a inexistência de matéria de facto
ii) quandoestejaemcausaasituação
controvertidarelevantenoprocessocauͲ
profissionaloupessoaldaspartes.
telareadesnecessidadederealizaçãode
ExemploemblemáticoéodeumrequeͲ
quaisqueroutrasdiligênciasdeprova.
rimento cautelar de admissão provisória
Por outro lado, se a decisão a proferir
numconcurso,ounumaescolaoufaculͲ
recair,particularmente,sobrematériade
dade ou de autorização provisória de
direito,ficafacilitadaaconclusão,necesͲ
exercíciodeumadadaactividadeprofisͲ
sariamentecasuística,dequeresultamjá
sional.
doprocessocautelartodososelementos
necessáriosparaqueseantecipeadeciͲ Vejamos.
são da causa principal, impondoͲse esta Quando a situação da vida trazida aos
por razões de celeridade e de eficácia autos se articula com actos inseridos
processual, verificados que estejam os num procedimento concursal, este priͲ
restantesrequisitosconstantesdoartigo meirorequisitosubstantivodeaplicação
ͷͺDoutrina
33
NestesentidoviderecentíssimoAc.TCASul,de deespecificaçõescontidasnosdocumenͲ
26.03.2009,P.02088/06,inwww.dgsi.pt
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REVISTA DE DIREITO PÚBLICO E REGULAÇÃO
35 36
Neste sentido, cfr. ANA GOUVEIA MARTINS, A propósito, FERNANDA MAÇÃS, O Debate
op.cit.,pg.355 Universitário,CoimbraEd.,2003,pg.362
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pal37,correͲseoriscode,comasuaexeͲ principaléprévioeéfeitoàmargemdo
cução,secriaremefeitosdedireitooude conhecimento da questão cautelar de
facto indesejáveis, injustos, face a qualͲ fundo.
quer desfecho, de procedência ou de Ou seja, o juiz, oficiosamente ou a
improcedência, que venha a ter a deciͲ requerimento das partes, reconhece a
sãodemérito38. necessidade de antecipar a decisão da
AideiadequeatutelacautelaréinsufiͲ causa principal antes de conhecer da
ciente, ideia que aqui se defende questão de fundo da providência ou,
enquanto critério interpretativo da sequer, de pôr a hipótese de ser decreͲ
expressão legal não se compadecer com tada outra mais adequada, na medida
a adopção de uma simples providência em que o elemento determinante é a
cautelar, reside, essencialmente, no facͲ necessidadedeumadecisãodemérito.
to de existirem situações em que, não Entendemos, deste modo, que é possíͲ
estandoemperigooexercícioemtempo vel, perante a impossibilidade de decreͲ
útildeumdireito,liberdadeougarantia, tamento de uma providência, Ͳ designaͲ
o que permitiria o recurso à intimação damente, por implicar a produção de
urgenteprevistanoartigo109ºdoCPTA, prejuízos definitivos e irreversíveis, quer
existe uma similar necessidade urgente para o requerente, quer para o requeriͲ
de uma decisão de fundo e não de uma do e, como tal, insusceptíveis de tutela
simplesdecisãoprovisória. cautelar Ͳ lançar mão da antecipação da
EéexactamenteestanecessidadeurgenͲ causaprincipal.
tedeumadecisãodefundoquetornaa Assim como se considera que o regime
tutela cautelar insuficiente, quer a deciͲ previstonoartigo121ºdeveseraplicado
são a proferir neste processo se preveja nas situações em que a tutela cautelar,
comodeprocedênciaouimprocedência, ainda que possível, não seja a tutela
isto porque o juízo acerca da necessidaͲ adequada, pois é a sua insuficiência o
de de se antecipar a decisão da causa critérioquedeterminaoseunãocompaͲ
37
Cfr.artigo123º/1,als.a),c)ef),doCPTA
decimentocomadecisãoemcausa.
ͳDuraLucasNeto
38
Pensamos,porexemplo,nasituaçãodeadmisͲ Por maioria de razão, as situações em
são provisória de uma aluno numa Faculdade,
faceaodecursodotemponormaldedecisãodo que estejam em causa a aplicação do
processoprincipalnãourgente;ounassituações artigo120º/1,al.a)doCPTA,eemquea
de admissões provisórias supranumerárias em
que a admissão definitiva de um implicará a tutelacautelarserevelainsuficiente,por
exclusãodeoutro;ouaindanassituaçõesemque se considerar que a situação em apreço
face a uma ilegalidade no critério de ordem e
seriação das candidaturas, uma decisão final de exigeumapronúnciademéritourgente,
méritofavorávelaorequerente,poderátercomo sãotambémelasumterrenoprivilegiado
consequêncianecessáriaareordenaçãodetodos
oslugarespostosaconcurso.
de antecipação da causa principal, pois
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questõeseàgravidadedosinteressesenvolvidos.
Não foi esse o caminho escolhido no aresto em
causa, pese embora se tenha ido buscar fundaͲ
mento para o não decretamento da providência
requerida, face a uma ponderação de todos os
prejuízosenvolvidosdesfavorávelaorequerente,
aoartigo45ºdoCPTA.
40
Expressão usada por CARLA AMADO GOMES,
op.cit.
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AIndemnizaçãopelosacrifício
FernandoAlvesCorreia
ProfessordaFaculdadedeDireitodaUniversidadedeCoimbra
De qualquer modo, poderemos falar de dade exclusiva dos titulares de órgãos,
funcionários e agentes) e responsabiliͲ
͵FernandoAlvesCorreia
um“superconceito”deresponsabilidade
doEstadoemsentidoamplo,englobador dade pelo risco; a responsabilidade civil
por danos decorrentes do exercício da
daqueles tipos de responsabilidade, ou,
dizendoascoisasdeoutromodo,deum funçãojurisdicional,queseestendepelo
Capítulo III; a responsabilidade civil por
institutounitárioderesponsabilidadedo
Estado, não obstante as importantes
41
peculiaridadesdecadaumdostiposque Cfr.J.J.GomesCanotilho/VitalMoreira,ConstiͲ
tuição da República Portuguesa Anotada, Vol. I,
4.ªed.,Coimbra,CoimbraEditora,2007,p.432.
42
Cfr.J.J.GomesCanotilho,OProblemadaResͲ
ponsabilidadedoEstadoporActos Lícitos,CoimͲ
bra,Almedina,1974,p.99.
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nal e da função legislativa –, porque, Procedendo a um rápido cotejo com o
segundo cremos, desse facto derivam que, sobre esta matéria, estabelecia o
importantes consequências quanto ao DecretoͲLein.º48051,de21deNovemͲ
perímetrodeaplicaçãodaindemnização brode1967–quecontinhaoRegimeda
pelosacrifício.Voltaremosdaquiapouco Responsabilidade da Administração
aesteproblema. Pública por Actos de Gestão Pública, o
qual foi revogado e substituído pelo
II–Fundamentoesentido Novo Regime da Responsabilidade Civil
Oartigo16.ºdoRegimedaResponsabiliͲ ExtracontratualdoEstadoeDemaisEntiͲ
dade Civil Extracontratual do Estado e dades Públicas –, verificamos que as
Demais Entidades Públicas define os diferençassãosignificativas.
pressupostosdaindemnizaçãopelosacriͲ Primo, a expressão indemnização pelo
fício,nosseguintestermos: sacrifícionãoerautilizadanoDecretoͲLei
n.º 48051. Secundo, aindemnização dos
“OEstadoeasdemaispessoascolectivas
encargos ou danos especiais e anormais
de direito público indemnizam os partiͲ
erareportadapeloDecretoͲLein.º48051
culares a quem, por razões de interesse
exclusivamente aos actos administratiͲ
público, imponham encargos ou causem
voslegaisouactosmateriaislícitos,praͲ
danos especiais ou anormais, devendo,
ticados,nointeressegeral,peloEstadoe
ͶDoutrina
paraocálculodaindemnização,atenderͲ
demais pessoas colectivas públicas (artiͲ
se, designadamente, ao grau de afectaͲ
go 9.º, n.º 1) e ao sacrifício especial, no
ção do conteúdo substancial do direito
todoouemparte,decoisaoudireitode
ouinteressevioladoousacrificado”.
terceiro, operado pelo Estado e demais
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de coisas ou direitos de terceiro, decorͲ do princípio da igualdade, plasmado no
rentes de uma actuação da AdministraͲ artigo 13.º, n.º1, da Lei Fundamental (a
ção, em estado de necessidade e por pessoa ou pessoas que suportam, por
motivo imperioso de interesse público, razõesdeinteressepúblico,osreferidos
condensados no artigo 9.º, n.º 2, do danos contribuiriam em maior medida
DecretoͲLein.º48051. doqueosrestantescidadãosparaointeͲ
Dúvidas inexistem, assim, quanto ao resse público, no caso de não ressarciͲ
mentodaquelesdanos,peloquehaveria
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dos cidadãos perante os encargos públiͲ especiais e anormais”, de natureza
cos”seosdanosporelessuportadosnão patrimonial ou pessoal (v.g., vida, saúde
fossemindemnizados)43. e liberdade), constante do artigo 2.º do
Novo Regime da Responsabilidade Civil
Dado que estamos perante uma activiͲ
ExtracontratualdoEstadoeDemaisEntiͲ
dade administrativa lícita – licitude que
dades Públicas, inspirouͲse claramente
advém não só do seu desenvolvimento
nadoutrinaportuguesamaisrepresentaͲ
deacordocomaleieodireito,mas,ainͲ
tiva e pareceͲnos correcta. A influência
da, do facto de a ressarcibilidade dos
da doutrina e jurisprudência alemãs é
danosestarprevistanalei–,compreenͲ
manifesta, dado que a apontada noção
deͲse que não sejam indemnizáveis
de“encargosoudanosespeciaiseanorͲ
todos e quaisquer danos ou encargos,
mais” constitui uma síntese das duas
masapenasosdotadosdeespecialidade
grandes teorias jurisprudenciais e douͲ
egravidade,sobpenadeinsolúveisproͲ
blemasfinanceirosparalisadoresdaactiͲ trinais respeitantes à demarcação entre
vidadedoEstadoedasdemaisentidades a expropriação e a vinculação social da
públicas. FalaͲse, a este propósito, de propriedade do solo [a teoria do sacrifíͲ
cioespecial(Sonderopfertheorie)eateoͲ
“elementosͲtravão”deumatotalsocialiͲ
ria da gravidade (Schweretheorie)], conͲ
zaçãodosprejuízos44.
gregandoelementosformaisemateriais
O artigo 16.º do Novo Regime da ResͲ nadefiniçãodaqueleconceito45.
ponsabilidade só considera como mereͲ
cedores de indemnização “os encargos A caracterização da especialidade e da
oudanosespeciaiseanormais”,talcomo anormalidade de um encargo ou dano,
Esta definição de “encargos ou danos por iniciativa da câmara municipal das
condições da licença ou comunicação
43
Cfr..J.J.GomesCanotilho/VitalMoreira,ConsͲ prévia de uma operação de loteamento,
tituiçãodaRepúblicaPortuguesaAnotada,cit.,,
p.431e432.
44 45
Cfr.J.J.GomesCanotilho,OProblemadaResͲ Cfr.anossaobraOPlanoUrbanísticoeoPrinͲ
ponsabilidadedoEstadoporActosLícitos,cit.,p. cípio da Igualdade, Coimbra, Almedina, 1989, p.
271. 494Ͳ505.
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desdequetalalteraçãosemostrenecesͲ III–Âmbitodeaplicação
sária à execução de um superveniente
Comotivemosensejodereferiracima,a
plano municipal ou especial de ordenaͲ
localização sistemática da indemnização
mentodoterritório.
pelo sacrifício no Capítulo V do Regime
Defacto,oRegimeJurídicodaUrbanizaͲ daResponsabilidadeCivilExtracontratual
çãoeEdificação(aprovadopeloDecretoͲ do Estado e Demais Entidades Públicas,
Lein.º555/99,de16deDezembro,alteͲ separado da responsabilidade associada
rado,porúltimo,pelaLein.º60/2007,de àsfunçõesadministrativa,jurisdicionale
4 de Setembro) determina, no artigo legislativa,bemcomanãoimputaçãoda
48.º,n.º1,que“ascondiçõesdalicença indemnização pelo sacrifício a nenhuma
oucomunicaçãopréviadeumaoperação específica função estadual legitimarão a
de loteamento podem ser alteradas por conclusão de que aquela não abrange
iniciativadacâmaramunicipaldesdeque apenas os danos especiais e anormais
talalteraçãosemostrenecessáriaàexeͲ decorrentes do exercício da função
cução de plano municipal de ordenaͲ administrativa, designadamente os deriͲ
mento do território, plano especial de vados de actos administrativos lícitos e
ordenamento do território, área de de acções praticadas em estado de
desenvolvimentourbanoprioritário,área necessidade administrativa, a que se
de construção prioritária ou área crítica referiam os n.ºs1 e 2 do artigo 9.º do
de recuperação e reconversão urbanístiͲ DecretoͲLein.º48051.
ca”. Mas logo adianta, no n.º 4 do mesͲ
A indemnização pelo sacrifício abarcará
mo artigo, que “a pessoa colectiva que
tambémaindemnizaçãodedanosespeͲ
aprovarosinstrumentosreferidosnon.º
ciais e anormais provocados por actos
1 que determinem directa ou indirectaͲ
legislativos não enquadrados na norma
mente os danos causados ao titular do
doartigo15.ºdoRegimedaResponsabiͲ
alvaráedemaisinteressadosemvirtude lidade Civil Extracontratual do Estado e
doexercíciodafaculdadeprevistanon.º
FernandoAlvesCorreia
Demais Entidades Públicas46. RefiraͲse
1 é responsável pelos mesmos nos terͲ
mos estabelecidos no DecretoͲLei n.º 46
Emboraanormadoartigo16.ºdoRegimeda
48051,de21deNovembrode1967,em Responsabilidade Civil Extracontratual doEstado
e Demais Entidades Públicas pareça comportar,
matéria de responsabilidade por actos devido aos termos amplos nela utilizados, a
lícitos”(agora,“indemnizaçãopelosacriͲ indemnização dos danos especiais e anormais
decorrentes de actos políticos (por exemplo, a
fício”). proibição de acostagem em portos nacionais de
navios, noscasos em que não ocorrauma violaͲ
çãodasnormasrespeitantesatransportesmaríͲ
timos,oencerramentodeumaembaixadaoude
umconsuladonoestrangeiroouonãoreconheͲ
cimentodeumasituaçãodecalamidadepública),
REVISTA DE DIREITO PÚBLICO E REGULAÇÃO
que é esta a posição sufragada pela ciais e anormais decorrentes de actos
generalidade dos autores que participaͲ legislativosconformesàConstituição,ao
ramnosdebatescientíficossobreaProͲ direito internacional, ao direito comuniͲ
postadeLein.º95/VIII,apresentadapelo tárioouactolegislativoreforçado(como
XIVGovernoConstitucionalàAssembleia sucederácomumaleiqueproíbecertas
da República, que esteve na génese do importações,donderesultaarupturade
actual Regime da Responsabilidade Civil contratos já celebrados entre empresas
ExtracontratualdoEstadoeDemaisEntiͲ nacionaiseestrangeiras).
dadesPúblicas47,bemcomoporaqueles NãocontestamosabondadedestainterͲ
que já se debruçaram sobre este novo pretação.Achamos,porém,muitoestraͲ
diplomalegal48. nhoque,tendoolegisladordefinidocom
De acordo com este entendimento, no especial rigor os pressupostos da resͲ
âmbito da indemnização pelo sacrifício ponsabilidade civil por danos decorrenͲ
caberá a indemnização dos danos espeͲ tes da função legislativa, no artigo 15.º
do Regime da Responsabilidade Civil –
cremos que a responsabilidade extracontratual
do Estado por danos oriundos do exercício da entre os quais se conta a anormalidade
função política está claramente excluída do dosdanoscausadosaosdireitosouinteͲ
perímetro de aplicação daquele Novo Regime,
comoresultadoseuartigo1.º,n.º1,quecircunsͲ
resses legalmente protegidos dos cidaͲ
creve o âmbito de aplicação do mesmo aos dãos por actos legislativos ou omissões
“danosresultantesdoexercíciodafunçãolegislaͲ
legislativaseaviolaçãopelosmesmosda
tiva,jurisdicionaleadministrativa”.Sópode,por
isso,deverͲseaummanifestolapsodolegislador Constituição,dodireitointernacional,do
a utilização, nas epígrafes do Capítulo V e do
direitocomunitáriooudeactolegislativo
artigo 15.º, da expressão “ função políticoͲ
legislativa”, porquanto aí é disciplinada tãoͲsó a de valor reforçado –, tenha vindo, no
responsabilidade civil do Estado e das regiões artigo 16.º, a abrir a porta à ressarcibiliͲ
autónomas por danos resultantes da função
legislativa. dade dos danos especiais e anormais
47
Cfr., a título exemplificativo, Carlos Fernandes decorrentes de todo e qualquer acto
Cadilhe, Regime Geral da Responsabilidade Civil
daAdministraçãoPública,in“CadernosdeJustiça legislativo,mesmoquetotalmentereguͲ
Administrativa”,n.º40(2003),p.18Ͳ31;MargariͲ lar,atítulodeindemnizaçãopelosacrifíͲ
da Cortez, Contributo para uma Reforma da Lei
de Responsabilidade Civil da Administração, in cio.
“ResponsabilidadeCivilExtraͲContratualdoEstaͲ
do, Trabalhos Preparatórios da Reforma”, CoimͲ E consideramos profundamente criticáͲ
ͺDoutrina
bra, Coimbra Editora, 2002, p. 257Ͳ264; e João vel que, no âmbito da responsabilidade
Raposo, Novas Fronteiras da Responsabilidade
Civil Extracontratual da Administração, in poractosdafunçãolegislativa,setenha
“Cadernos de Justiça Administrativa”, n.º 58 transitado de uma ausência quase total
(2006),p.67Ͳ73.
48
Cfr.,por exemplo, L. Cabral deMoncada, ResͲ de fundamentos de propositura da conͲ
REVISTA DE DIREITO PÚBLICO E REGULAÇÃO
extensão das hipóteses de responsabiliͲ uma indemnização que não abarque a
dade. E interrogámoͲnos, como o fez o totalidade ou a integralidade dos danos
PresidentedaRepúblicanafundamentaͲ especiais e anormais suportados pelo
ção do veto político à promulgação do lesado.
Decreto n.º 150/X da Assembleia da
Uma interpretação da norma do artigo
República,queaprovouoregimedaresͲ
16.º que possibilitasse o cálculo de uma
ponsabilidade civil extracontratual do
indemnização que não abrangesse a
Estado e demais entidades públicas, se
totalidadedosdanosinfligidosaolesado
não estaremos perante a assunção pelo
violaria um princípio fundamental inforͲ
Estado de “uma função «previdencialisͲ
mador desta matéria: o princípio da
ta»,dosdanoseriscossociaisatravésde
igualdadeperanteosencargospúblicos.
uma expansão excessiva dos pressuposͲ
tos de responsabilidade das entidades Entendemos, por isso, que também na
públicas,comespecialrelevonodomínio indemnização pelo sacrifício, compreenͲ
do exercício da função legislativa”, dida como modalidade de responsabiliͲ
aspectoestequenãodeixaráde“contriͲ dade civil extracontratual do Estado e
buir,emprejuízomanifestodointeresse demais pessoas colectivas públicas, se
nacional,paraumarelaçãopoucosolidáͲ aplicam os critérios estabelecidos no
artigo 3.º do Regime da ResponsabilidaͲ
ria entre o poder político e a sociedade
de Civil Extracontratual do Estado e
civil”.
Demais Entidades Públicas. Assim, deve
operarͲsenaavaliaçãoconcretadodano
IV–ExtensãoouconteúdodaindemniͲ
comateoriadadiferença:confrontaͲsea
zação
situação em que o lesado se encontra
Oartigo16.ºdoRegimedaResponsabiliͲ (situaçãoreal)comasituaçãoemquese
dade Civil Extracontratual do Estado e
encontraria se a lesão não se tivesse
DemaisEntidadespúblicasdetermina,in
verificado (situação hipotética), corresͲ
fine,que,paraocálculodaindemnização
ͻFernandoAlvesCorreia
pondendo a indemnização à diferença
pelo sacrifício, deve “atenderͲse, desigͲ
entraasduassituações.Significaistoque
nadamente, ao grau de afectação do
estão aqui abrangidos quer o dano
conteúdo substancial do direito ou inteͲ emergente (damnum emergens), quer o
ressevioladoousacrificado”.
lucro cessante (lucrum cessans), isto é,
Temosaquiumcritérioouumguiapara tanto a perda ou diminuição de valores
o intérprete e, em último caso, para o já existentes no património do lesado,
juiz para a determinação do quantum como os benefícios que ele deixou de
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Poroutrolado,on.º3mandacomputar Umúltimopontoquequeremosabordar,
naindemnizaçãoosdanospatrimoniaise ainda que em termos necessariamente
nãopatrimoniais,bemcomoosdanosjá breves, é o relativo à complexa questão
produzidoseosdanosfuturos,consoanͲ da distinção entre a indemnização pelo
te se tenham verificado ou não no sacrifício, enquanto modalidade de resͲ
momento que se considera, designadaͲ ponsabilidade civil extracontratual do
mente à data da fixação da indemnizaͲ Estado e demais pessoas colectivas de
ção. É claro que a indemnização dos direitopúblico,eaexpropriaçãodesacriͲ
danosfuturossóépossívelseelesforem fício.
previsíveis.
Comoésabido,épossíveldistinguirdois
ConcluiͲse do que vem se ser referido sentidosdeexpropriação:aexpropriação
que não são admissíveis, no domínio da em “sentido clássico” (“expropriação
responsabilidade civil extracontratual do clássica”) e a expropriação de sacrifício.
Estado e demais entidades públicas, A primeira pode ser definida como um
indemnizações não correspondentes à actodeprivaçãooudesubtracçãodeum
reparaçãointegraldosdanoscausados.A direitodeconteúdopatrimonialenasua
únicaexcepçãoéaqueconstadoartigo transferência para um sujeito diferente,
15.º, n.º 6, daquele Regime, respeitante para a realização de um fim público.
à indemnização de danos anormais Estamosperanteumconceitoelaborado
decorrentesdoexercíciodafunçãolegisͲ pela doutrina e jurisprudência germâniͲ
lativa, quando os lesados forem em cas – mas, hoje, perfeitamente aceite
número muito elevado. Num caso desͲ pela doutrina e jurisprudência nacionais
tes, por razões de interesse público de –, para expressar fenómenos expropriaͲ
excepcional relevo, justificaͲse a limitaͲ tivos nos quais se verifica simultaneaͲ
çãodoâmbitodaobrigaçãodeindemniͲ mente um momento privativo e um
zação,emtermosdeestapoderserfixaͲ momento apropriativo do direito de
da equitativamente em montante infeͲ propriedade. Característica essencial do
rior ao que corresponderia à reparação conceito clássico de expropriação é a
ͲDoutrina
integraldosdanoscausados. mudançadetitulardodireito.
A segunda caracterizaͲse por uma desͲ
truição ou uma afectação essencial de
uma posição jurídica garantida como
49
REVISTA DE DIREITO PÚBLICO E REGULAÇÃO
20,eAsGarantiasdoParticularnaExpropriação
direito de propriedade privada, as “limiͲ por Utilidade Pública, Coimbra, Almedina, 1982,
p.77Ͳ86.
REVISTA DE DIREITO PÚBLICO E REGULAÇÃO
Embora haja quem defenda um retorno não esteja a ser utilizado; ou anulem
(nanossaopinião,seráumretrocesso)a completamenteoseuvaloreconómico.E
um conceito formal de expropriação e on.º3doartigodomesmoCódigopresͲ
advogue a superação dos conceitos de crevequeadeterminaçãodaindemnizaͲ
expropriação em sentido clássico e ção é feita nos termos do CE, com as
expropriação de sacrifício, através da necessárias adaptações. Quer dizer: o
introdução do conceito de “determinaͲ legislador não só considerou como
ção do conteúdo do direito de proprieͲ devendoseracompanhadasdeindemniͲ
dade envolvendo um dever de compenͲ zação as servidões administrativas que
sação”51–comaconsequentedevolução constituemverdadeirasexpropriaçõesde
para o artigo 16.º do Diploma que estaͲ sacrifício(emboraotenhafeitodemodo
mosaquiaanalisardaindemnizaçãodos incompleto), como ainda determinou
danos resultantes de actos do poder queocritériodecálculodomontanteda
público que afectem substancialmente, indemnizaçãodeveseroestabelecidono
notodoouemparte,as“faculdades”de CE52.
umdireitoprivadodevalorpatrimonial–
O mesmo se passa com o que vimos
, entendemos que o conceito de exproͲ
designando, há alguns anos, expropriaͲ
priação de sacrifício é um importante
çõesdoplano,aquesereferemoartigo
conceito operativo, indispensável para
18.ºdaLeideBasesdaPolíticadeOrdeͲ
fundamentareexplicaralgumassoluções
namento do Território e de Urbanismo
adoptadaspelonossolegislador.
(LBPOTU), aprovada pela Lei n.º 48/98,
É o que sucede,em primeiro lugar, com de 11 de Agosto, alterada pela Lei n.º
as servidões administrativas, resultantes 54/2007, de 31 de Agosto, e o artigo
ounãodeexpropriações,quedãolugara 143.ºdoRegimeJurídicodosInstrumenͲ
indemnização. Segundo o artigo 8.º, n.º tosdeGestãoTerritorial(RJIGT),aprovaͲ
2, do Código das Expropriações (CE) – e dopeloDecretoͲLein.º380/99,de22de
deixando,agora,deladoasquestõesque Setembro, alterado pelo DecretoͲLei n.º
este preceito suscita–, dão origem a 316/2007, de 19 de Setembro, e, por
indemnização as servidões administratiͲ último,peloDecretoͲLein.º46/2009,20
vas que inviabilizem a utilização que de Fevereiro. TrataͲse de certas disposiͲ
ʹDoutrina
51 52
Cfr. M. Nogueira de Brito, A Justificação da Cfr. a nossa obra Manual de Direito do UrbaͲ
Propriedade Privada numa Democracia ConstituͲ nismo,Vol.I,4.ªed.,Coimbra,Almedina,2008,p.
cional,Coimbra,Almedina,2007,p.993Ͳ1032. 332Ͳ337.
REVISTA DE DIREITO PÚBLICO E REGULAÇÃO
(anormais)nodireitodepropriedadedo períododecincoanosapósasuaentrada
soloeque,porisso,devemserconsideͲ emvigor,determinandoacaducidadeou
radas como tendo um carácter exproͲ a alteração das condições de um licenͲ
priativo, as quais, no caso de os danos ciamentoprévioválido”53.
delasresultantesnãopoderemsercomͲ
Em todos estes casos de “expropriações
pensados através dos “mecanismos de
doplano”–quesãoverdadeiras“exproͲ
perequação”, devem ser acompanhadas
priações de sacrifício” –, o valor da
deindemnização.Nestesentido,oartigo
indemnização corresponde à diferença
18.º, n.º2, da LPBOTU estabelece que,
entreovalordosoloantesedepoisdas
sempre que aqueles planos determinem restrições provocadas pelos instrumenͲ
“restrições significativas de efeitos equiͲ tosdegestãoterritorial,sendocalculado
valentes a expropriação” e, bem assim, nostermosdoCE.Éoqueresultadon.º
“restriçõessignificativasadireitosdeuso
4doartigo143.ºdoRJIGT.
do solo preexistentes e juridicamente
consolidados”, existe o dever de indemͲ A distinção entre a indemnização pelo
nizar, desde que a compensação daqueͲ sacrifício, como modalidade de responͲ
lasrestriçõesnãopossaterlugaratravés sabilidadecivilextracontratualdoEstado
dos “mecanismos de perequação” dos edemaispessoascolectivaspúblicas,ea
benefícioseencargosdosmesmosresulͲ expropriação de sacrifício revelaͲse
tantes. E o artigo 143.º, n.ºs 2 e 3, do importante por diversas razões. Em priͲ
meiro lugar, o fundamento da indemniͲ
RJIGT–semcurar,agora,dosproblemas
zação.Naindemnizaçãopelosacrifício,o
deconstitucionalidadequeestasnormas
fundamento encontraͲse nos princípios
suscitam – prescrevem, respectivamenͲ
do Estado de Direito e da igualdade
te, que “são indemnizáveis as restrições
perante os encargos públicos. Na exproͲ
singularesàspossibilidadesobjectivasde
aproveitamentodosolo,preexistentese priação de sacrifício, o fundamento vai
juridicamente consolidadas, que comͲ buscarͲse não só a estes dois princípios
͵FernandoAlvesCorreia
portemumarestriçãosignificativanasua constitucionais, mas também ao princíͲ
utilização de efeitos equivalentes a uma pio da “justa indemnização por exproͲ
expropriação”eque“asrestriçõessinguͲ priação”,condensadonoartigo62.º,n.º
2, da Lei Fundamental. Em segundo
lares às possibilidades objectivas de
lugar, a natureza da indemnização. Na
aproveitamento do solo resultantes da
indemnização pelo sacrifício, a indemniͲ
revisãodosinstrumentosdegestãoterriͲ
torial vinculativos dos particulares apeͲ zaçãoéumaconsequênciadoactoimpoͲ
nas conferem direito a indemnização sitivodeencargosoucausadordedanos
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especiais e anormais, enquanto na bem como do estabelecido no artigo
expropriação de sacrifício a indemnizaͲ 37.º, n.º 1, alínea g), do Código do ProͲ
ção é um pressuposto de validade do cessonosTribunaisAdministrativos,que
acto expropriativo, como resulta claraͲ determinaqueseguemaformadeacção
mentedoartigo62.º,n.º2,daConstituiͲ administrativa comum os processos que
ção. tenham por objecto litígios relativos à
Em terceiro lugar, o critério da indemniͲ “condenaçãoaopagamentodeindemniͲ
zação. Na indemnização pelo sacrifício a zações decorrentes da imposição de
indemnização é calculada com base nos sacrifícios por razões de interesse públiͲ
co”, o mesmo não sucede com a definiͲ
critérios definidos nos artigos 16.º e 3.º
çãodacompetênciaparaoconhecimenͲ
do Regime de Responsabilidade Civil
todoslitígiosrelacionadoscomaexproͲ
ExtracontratualdoEstadoeDemaisEntiͲ
priaçãodesacrifício.
dadesPúblicas.NaexpropriaçãodesacriͲ
fício, a indemnização é apurada com Na verdade, poderá entenderͲse que,
basenocritériodefinidonoCE,devendo sendoasexpropriaçõesdesacrifíciouma
corresponder ao valor de mercado (VerͲ modalidadede“expropriações”,estãoas
kehrswert) do bem expropriado, entenͲ mesmassujeitasaoregimeglobaldefiniͲ
didonãoemsentidoestritoourigoroso, do no Código das Expropriações (que
mas em sentido normativo (valor de configura um regime especial salvaguarͲ
mercadonormativamenteentendido)54. dado pelo artigo 2.º, n.º 1, da Lei n.º
67/2007), nele incluindo as normas que
Quanto à competência para conhecer
cometem à competência dos tribunais
dos litígios respeitantes à indemnização
pelosacrifícioeàexpropriaçãodesacrifíͲ judiciais a discussão litigiosa sobre o
cio,aquestãonãoseapresentatãoclara valor da indemnização (artigos 38.º e
seguintesdoCE)–normasessasquenão
comoaqueresultadasnotasanteriores.
Comefeito,sedúvidasinexistemquanto enfermamdequalquervíciodeinconstiͲ
tucionalidade, em face do artigo 212.º,
à competência dos tribunais administraͲ
n.º 3, da Constituição, não obstante a
tivos para julgar os litígios relativos à
indemnização pelo sacrifício, desde logo natureza administrativa da relação juríͲ
em consequência do disposto no artigo dica expropriativa, como decidiu o TriͲ
ͶDoutrina
4.º, n.º 1, alíneas g), h) e i), do Estatuto bunal Constitucional no seu Acórdão n.º
746/9655. Assim sucede com a indemniͲ
dos Tribunais Administrativos e Fiscais,
zação dos danos decorrentes da constiͲ
54 55
Cfr. a nossa obra A Jurisprudência do Tribunal Cfr.,sobreestaproblemática,anossaobraA
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Doutrina
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PublicidadeesegredonoConselhodeEstado
J.C.VieiradeAndrade
ProfessordaFaculdadedeDireitodaUniversidadedeCoimbra
I. Introdução: publicidade e segredo no sem acesso do público à informação
ordenamentoconstitucionalportuguês sobreogoverno1.
O princípio em análise corresponde à
1. O princípio da publicidade no Estado dimensão objectiva de um conjunto de
dedireitodemocrático direitoscívicosepolíticosfundamentais,
Num Estado de direito democrático, tal emquesedestacamosdireitosdepartiͲ
como se foi forjando ao longo dos temͲ cipação política e os direitos dos cidaͲ
posnanossacivilizaçãojurídicadematriz dãos à informação junto dos poderes
europeia,apublicidadedofuncionamenͲ públicos, intimamente associados com a
to dos órgãos de poder político acaba garantia dos direitos de informação dos
por constituir, no contexto de uma jornalistas, no quadro institucional de
sociedade de informação, aquilo que se uma “comunicação social” livre e pluraͲ
pode designar como um “princíͲ lista.
pioͲregra”. EsteentendimentodapublicidadeͲregra,
Todas as instâncias políticas são hoje nãosódasdecisões,masdoprópriofunͲ
constitucionalmente compreendidas cionamento dos órgãos de poder públiͲ
como instituições “amigas” da democraͲ co, que decorre inequivocamente da
J.C.VieiradeAndrade
REVISTA DE DIREITO PÚBLICO E REGULAÇÃO
dignidadeindividualdapessoahumana. nemconstituiumamagistraturaimparcial.
4 5
Porventura ainda por uma desconfiança tradiͲ On.º2doactualartigo267.ºdaCRPfoiintroͲ
cional perante um poder que nem tem legitimiͲ duzidopelarevisãoconstitucionalde1989.
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da Lei n.º 65/93, de 26Ͳ8 [alterada pela Lei n.º das empresas, defendendo assim posições ecoͲ
8/95, de 29Ͳ3 e pela Lei n.º 94/99 de 16Ͳ7], nómicas concorrenciais, bem como a propriedaͲ
gozamderegimedeurgência”. deindustrialeosdireitosdeautor.
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embora ainda aqui devam ser tornados quanto às actividades da função política
públicos os assuntos em discussão e as latosensu12,masdeformamenosestruͲ
decisõesquesobreelessejamtomadas.
11
Artigo4.º daLei n.º65/93,acima referida, na
versãoactual.
12
REVISTA DE DIREITO PÚBLICO E REGULAÇÃO
turada sob o ponto de vista jurídico, Devem salientarͲse de forma especial as
apenas a propósito da publicidade das referências constitucionais ao princípio
reuniõesdasassembleiasquefuncionem da publicidade da instituição parlamenͲ
como órgãos de soberania, das regiões tar,notocanteàssessõesplenárias14,às
autónomasoudopoderlocal. audições e às comissões parlamentares,
Defacto,oprincípiodoarquivoabertoe emborarelativamenteaestassepreveja
os direitos à informação previstos na a possibilidade de deliberarem no sentiͲ
Constituição valem somente perante os do do carácter fechado do seu funcioͲ
órgãosdaAdministraçãoerelativamente namento, quando as matérias em causa
adocumentos,registosearquivosadmiͲ ojustifiquem15–asdeliberaçõesdeconͲ
nistrativos, não abrangendo os órgãos fidencialidade devem ser, no entanto,
que desempenham actividades não devidamente fundamentadas, enuncianͲ
administrativas, nomeadamente, os que do os vários tipos de segredo que posͲ
praticam actos da função política, nem samestarnabasedasmesmas.
os respectivos documentos, registos e Também aqui haverá diferenças de
arquivos13. regime em função do tipo, da composiͲ
ção e das funções dos diversos órgãos,
çãojudiciária.Isso,manifestaͲsenoentendimenͲ tal como se verificam as restrições e
to cada vez restritivo que tem vindo a ser dado
aosegredodejustiça,adespeitodasuarecente compressões necessárias para salvaͲ
consagração expressa no texto constitucional, guardar o segredo exigido por outros
bem como no princípio geral da publicidade das
audiênciasdejulgamento,emboratambémaqui valoresconstitucionalmenteprotegidos.
comalgumasrestriçõesexpressamenteprevistas,
Atransparência,talcomoéentendidano
respeitantes,designadamente,àpossibilidadede
exclusão ou restrição da publicidade, pordespaͲ quadro de uma sociedade observada
chojudicial,nomeadamentecombasenaprotecͲ pelos meios de comunicação social, é
çãodadignidadedaspessoasedamoralpública
(o que quer que isso signifique) e da intimidade especialmente exigível para os órgãos
das vítimas de crimes sexuais menores de 16 electivos de soberania, que constituem
anos. PoderͲseͲia pensar ainda em situações
respeitantesàprotecçãodesegredoscomerciais os órgãos de representação política,
ͺͳJ.C.VieiradeAndrade
oudosegredodeEstado.DeveterͲseematenção designadamente no âmbito dos proceͲ
que mesmo nos casos expressamente previstos
na lei, o princípio da proporcionalidade obriga a dimentosdetomadadedecisão.
que só sejam vedadas ao público as sessões de
julgamentoemqueapublicidadepossapôrefecͲ
14
tivamente em causa os referidos bens. O princíͲ A Assembleia da República e os deputados
pio da publicidade pretende assegurar que a estão sujeitos a um acompanhamento intenso
justiça seja efectivamente levada a cabo em pela comunicação social, mas compreendeͲse
nomedopovo,permitindoocontrolopúblicoda que mesmo essa acessibilidade sofra os limites
actividade daqueles que investigam e punem as necessários ao bom funcionamento da instituiͲ
violaçõesdalegalidadedemocrática. ção.
13 15
Assim acontece também na generalidade dos Artigo 116.º/1 da CRP e artigos 113.º, 119.º,
países, designadamente em França e nos países 120.º e 121.º do Regimento da Assembleia da
nórdicos. República.
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Mas as exigências serão diferentes conͲ 2.3. VerificaͲse, pois, a afirmação geral
forme se trate de um órgão colegial, de um princípioͲregra de publicidade,
como a Assembleia da República ou o comintensidadesdiversas–comosediz
Conselho de Ministros, ou de um órgão hoje,degeometriavariável–esujeitoa
singular, como o Presidente da RepúbliͲ restrições e compressões na medida do
ca, tal como variam consoante se trate necessário e adequado à protecção de
do exercício de funções decisórias ou valores de segredo constitucionalmente
consultivas. protegidos.
Por outro lado, também aqui se têm de DevenotarͲseque,noconfrontoentrea
salvaguardar os valores de segredo, publicidadeeosegredo,sãoosvalorese
designadamente os impostos pela seguͲ os direitos da publicidade que assumem
rança interna e externa – na realidade, o papel de direito ou valor “agressivo”,
será, em regra, a este nível político, ao passo que os segredos representam
como já vimos a propósito das reuniões bens jurídicos susceptíveis de serem
dosConselhosdeMinistros,queestarão afectados–sãoodireitoàinformaçãoe
directamente em causa valores comuniͲ a liberdade de expressão ou de divulgaͲ
táriosfundamentais. çãoquepodempôremcausaaintimidaͲ
É, por exemplo, a esse nível que norͲ de das pessoas ou a segurança do EstaͲ
malmentesedesenvolveaactividadedo do.
PresidentedaRepública,sejanagarantia Por isso, em termos metodológicos, o
da existência e da unidade do Estado, conflito entre estes valores e direitos
seja na consecução de equilíbrios que fundamentais háͲde resolverͲse através
permitam o funcionamento regular do da afirmação constitucional do valorͲreͲ
sistema político, designadamente no gra da publicidade e da previsão da sua
âmbito das matérias estratégicas que restrição ou compressão, na medida em
envolvemachefiadoEstadocomoasde quesejaadequado,necessárioeproporͲ
defesa e segurança ou de diplomacia e cionalparaassegurarosvaloresquejusͲ
relações internacionais – estando em tificam o segredo – quer essa limitação
jogo a unidade e a independência do se faça por via legislativa, em termos
Estado percebeͲse que possa haver gerais e abstractos, quer se realize nos
ͺʹDoutrina
16
Que não pode ser confundida nem deve conͲ
fundirͲsecomocultodosegredoautoritário.
REVISTA DE DIREITO PÚBLICO E REGULAÇÃO
3.OprincípiodapublicidadeeosegreͲ doEstadoeapreparaçãodadefesamiliͲ
dodeEstado tardoEstado18.
Especialmente relevante para efeitos do SublinheͲse,aestepropósito,queadouͲ
presente parecer é a incidência que o trina e a jurisprudência constitucionais
princípiodapublicidadetemnodomínio afirmamanecessidadedeumarestrição
da configuração do bem da segurança qualitativanestedomínio,sublinhandoa
nacionaledosegredodeEstado. condiçãolegaldequesódevemserquaͲ
Emprimeirolugar,devesublinharͲseque lificadas como segredo de Estado as
apublicidadeeosegredodeEstadotêm informaçõescujarevelaçãopossaprovoͲ
em comum o estarem ao serviço da car danos directos, imediatos, graves e
garantiadoEstadodedireitodemocrátiͲ irreparáveis ao Estado e à comunidade
coedosdireitosfundamentaisdoscidaͲ política globalmente considerados. Isto,
dãos.Ouseja,nãodevepartirͲsedaexisͲ um pouco à semelhança do critério do
tência de uma qualquer antinomia funͲ perigo claro e iminente (clear and preͲ
damentalentreessasduasgrandezas. sentdanger)dodireitonorteͲamericano,
comoqualsepretendeevitaraalegação
Emsegundolugar,deveafirmarͲsequeo
segredo de Estado constitui uma excepͲ dedanosemtermosmeramenteconjecͲ
turais.
ção ao princípio da publicidade, devenͲ
do,porissomesmo,apresentarͲse,como Igualmenteimportanteésublinharqueo
acima se referiu, qualitativamente limiͲ carácter limitado e excepcional do
tado, materialmente fundamentado, segredo de Estado anda também assoͲ
procedimentalmente controlável e ciadoànecessidadedelimitarasautoriͲ
objectodeumainterpretaçãoestrita17. dadescomcompetênciaparaprocederà
qualificação do segredo de Estado, bem
NoquedizrespeitoàsmatériassusceptíͲ
como à limitação temporal da sua duraͲ
veisdeseremqualificadascomosegredo
ção,aqualentrenósédequatroanos19.
de Estado, as mesmas abrangem, tal
como resulta da concretização legislatiͲ Como princípio fundamental neste
ͺ͵J.C.VieiradeAndrade
No mesmo sentido aponta o artigo 1.º da Lei anos. PrescreveͲse, igualmente, que a classificaͲ
n.°6/94,de7deAbril,sobreoSegredodeEstaͲ çãocaducacomodecursodoprazo.
do.
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atenção para o facto de que a adopção tivos referentes ao funcionamento do
de um princípio de absoluto secretismo órgão “Conselho de Estado”, a começar
nas matérias mais sensíveis acabaria pelos dados que decorrem da decisão
inescapavelmente por conduzir a proceͲ constituintequeocriou.
dimentos de decisão irracionais e irresͲ
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respeita aos seus pareceres, especialͲ te penais, para a respectiva violação,
mente quando estejam em causa deciͲ que, na hipótese serão especialmente
sões presidenciais em momentos de criͲ gravespeloestatutodafunçãodoagenͲ
se da vida das instituições democrátiͲ te,sendopunidaanegligênciaeagravaͲ
cas23. daamoldurapenal25.
Pelocontrário,apublicidadedospareceͲ Além disso, o Presidente da República
res do Conselho de Estado visa justaͲ podeentenderqueadivulgação,totalou
mente asseverar, nesses casos, a transͲ parcial,deumdeterminadodocumento,
parência das decisões do Presidente ou de uma determinada informação ou de
doseusubstitutointerino. umaactadoConselhopodepôremcauͲ
O Regimento reproduz esta imposição sa o segredo de Estado, caso em que
constitucional, acrescentando que os deveráutilizaracompetênciaparaclassiͲ
demaispareceressóserãopublicadosse ficaçãodedocumentoscomosegredode
o Presidente da República assim o Estado que a lei lhe reconhece, desde
determinar24. queseverifiquemosrespectivosrequisiͲ
tossubstanciaiseprocedimentais26.
1.3. Como bem se compreende, o dever
Na maior parte dos casos, porém, as
de sigilo dos membros do Conselho de
actasdasreuniõesdoConselhonãoconͲ
Estado constitui um dever geral de
terão informações ou documentos susͲ
reserva, autónomo e distinto do dever
ceptíveis de pôr em risco ou de causar
de respeito pelo segredo de Estado,
danoàindependêncianacional,àunidaͲ
embora possa, nalgumas situações, ser
de ou integridade do Estado ou à seguͲ
consumidoporeste.
rança interna e externa – ora, como se
É o que sucede, desde logo, nos casos viu,estesrequisitostêmdeverificarͲsee
em que sejam fornecidos aos conselheiͲ devem ser objecto de interpretação
ros documentos previamente classificaͲ estrita, para evitar as práticas de sobreͲ
doscomosegredodeEstadopelasautoͲ qualificação, isto é, a restrição excessiva
ridades competentes, relativamente aos einjustificadadapublicidade.
quais se aplica o regime jurídico corresͲ
pondente, incluindo o prazo de duração 2. A avaliação do regime de sigilo do
ͺDoutrina
asdecorrentesdasituaçãodeinterinidade.
24 25
Artigo 17.º/3 do Regimento do Conselho de Cfr.oartigo316.ºdoCódigoPenal..
26
Estado. Artigos1.º/1/3,3.ºe5.ºdaLein.º6/94.
REVISTA DE DIREITO PÚBLICO E REGULAÇÃO
REVISTA DE DIREITO PÚBLICO E REGULAÇÃO
30
NoteͲsequealiberdadedeacessoasfontesde
perfilprópriocomoórgãoconstitucional.
informaçãoconcretizadanoEstatutodoJornalisͲ
tanãolheconfere,quantoàsentidadespúblicas
29
NoteͲse que mesmo os membros designados ou de mão pública, qualquer direito especial
pelo Presidente da República não são, em rigor, relativamenteaosdireitosàinformaçãodageneͲ
membros da sua confiança, dado que, uma vez ralidadedoscidadãos,privilegiandoͲoapenasno
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lhodeMinistrosedesecretáriosdeEstado,bem
comoàsuapreparação”(artigo4.º,n.º2,alínea
b)daLein.º65/93).
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samente consagrada na Constituição ao to de conhecer os pareceres obrigatóͲ
princípiodapublicidadeeaosdireitosde rios, quando sejam praticados os actos
informação dos cidadãos e dos jornalisͲ correspondentes pelo Presidente da
tas. República, e a expectativa legítima da
Por um lado, os membros do Conselho divulgaçãodenotasinformativassobreo
de Estado estão individualmente obrigaͲ conteúdodasreuniões.
dosporum“deverdesigilo”total(tamͲ
2.5. O princípio da publicidade implica,
bémseráumdireitoquantoànãodivulͲ
no entanto, enquanto princípioͲregra,
gação das opiniões próprias expressas
uma interpretação e aplicação proporͲ
nas reuniões), que abrange mesmo a
cional das normas de sigilo, de modo a
proibição de divulgação dos próprios
excluir a publicidade apenas na medida
pareceres obrigatórios antes da publicaͲ
adequada à protecção dos valores que
ção.
fundamentam tal exclusão – ou seja, o
Poroutrolado,oPresidentedaRepúbliͲ
bom funcionamento do órgão Conselho
ca, enquanto destinatário directo das deEstadonocontextodoregularfuncioͲ
consultas e presidente do órgão, parece namentodasinstituiçõesdemocráticas.
ter uma espécie de “direito ao sigilo
OambientedeconfidencialidadefuncioͲ
quantoàsfontesdeopinião”,namedida
nal determinado pela Constituição não
em que o segredo visa assegurar uma
tem,pois,deserinterpretadocomouma
discussãoabertaedesinibidadosassunͲ
proibição absoluta de acesso e de divulͲ
tos dentro do Conselho, sem as constriͲ
gação de informações, apenas exclui o
çõesdecorrentesdaexposição,imediata
direitodeacessodoscidadãosejornalisͲ
ou em diferido, da publicidade. Poderá,
tas e exime o Presidente da República e
no entanto, divulgar, de acordo com o
oConselhodeEstadodaobrigatoriedade
Conselho, notas informativas sobre o
de fundamentação da recusa (salvo,
objectoeoconteúdodasreuniõese,por
naturalmente,quantoadocumentosque
sua iniciativa, dar publicidade a evenͲ
sejam, por outras razões, secretos,
tuais pareceres não obrigatórios que
como,porexemplo,osquetenhamsido
tenhasolicitado.
oudevamserclassificadoscomosegredo
Por sua vez, resultam limitados os direiͲ
deEstado).
ͻͲDoutrina
tosàinformaçãodoscidadãosemgerale
PercebeͲse,assim,quetenhasidoentreͲ
dosjornalistasemparticular,que,peranͲ
tanto reconhecida ao Presidente da
te o sigilo, não têm direito de acesso às
República, pelo Regimento do Conselho
reuniões nem ao seu conteúdo e, desigͲ
nadamente,nãotêmdireitodeacessoàs
actasdoConselho,tendoapenasodireiͲ
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Esteargumentoanalógicovale,pelomenos,
enquantosemantiveramaioriadostitularesdo
órgão.
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documentosdepositadosemarquivoshistóricos, optarͲse,quantoaanoscommaiorequiͲ
ecujoregimepróprioressalvaapenasacomuniͲ
38
cação de dados pessoais, em termos que, aliás, Lein.º4/91,de17deJaneiro.
39
parecem restringir excessivamente o direito à V.oartigo17.ºdoDecretoͲlein.º16/93,de23
informação. deJaneiro.Porsuavez,oDecretoͲlein.º279/91,
36
Emboracomefeitosqueseprojectamnas de 9 de Agosto, fixou o prazo de vinte e cinco
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líbrio, por um prazo mais curto, por cio, suspensão e termo de funções, às
exemplo,devinteanos,contadosapartir imunidadeseaosdireitoseregalias,conͲ
dotermodomandatopresidencial–até templam sanções para a eventual violaͲ
porqueaconformidadecomaConstituiͲ çãododeverdesigilo.
ção da fixação deste prazo por via regiͲ ConcluiͲse, pois, que este é um dever
mental será tanto menos discutível concebido como um dever de natureza
quanto menos se possa duvidar da políticoͲregimental,cujocumprimentoé,
razoabilidadeedajustificabilidadedesse acima de tudo, função das virtudes cíviͲ
prazo no contexto da harmonização do cas e políticas democráticas dos memͲ
princípiodapublicidadecomoimperatiͲ brosdesteórgãoconstitucional.ParteͲse
vodaconfidencialidadedaconsultapolíͲ doprincípiodequesetratadepersonaͲ
ticapresidencial. lidades da mais alta craveira (como as
Transcorrido o prazo estabelecido, os “gens distinguées” de Montesquieu) e
membrosdoConselhodeEstadodeixam que, por isso, possuirão sabedoria e
de estar sujeitos ao dever de sigilo e isenção,umespecialsentidodeEstadoe
caduca este regime especial de segredo um código de conduta especialmente
paraasactaseosdocumentosdoConseͲ exigente, não utilizando as informações
lho,quepassamaestarsujeitasaoregiͲ dequedispõemporforçadocargopara
me geral dos arquivos públicos – caem fins pessoais, políticoͲpartidários ou
nodomíniopúblico,amenosqueconteͲ quaisquer outros que possam lesar o
nham informações classificadas como bomfuncionamentodasinstituições.
segredodeEstadoouqueestejamsoba AcrescenteͲse, nesta mesma linha, que
alçadadeoutrosegredo,nostermosdos não está penalmente tipificada a violaͲ
correspondentesregimesespecíficos. çãodestedeverdesigilo.
Com efeito, não vale aqui a lei penal
3. As sanções para a violação do dever geral, que pune a “violação de segredo”
desigilo profissional (artigo 195.º do Código
ͻ͵J.C.VieiradeAndrade
segurançaoumilitar),semprejuízodaocorrência
desituaçõesemqueaquebradosigilotambém
40
Lein.º31/84de6deSetembro. envolvaestaoutraviolação.
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Julho. conformeotipodefunções(administraͲ
43
Semprejuízodapossibilidadedeexercício,por
tivas,judiciaisoupolíticas)e,emespecial
imperativos inerentes ao due process of life, do
direito de resposta (em defesa da honra e do noquerespeitaàsfunçõespolíticas,conͲ
bom nome) e de rectificação (em nome da verͲ
dade pessoal). Isto, evidentemente, dentro dos
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mente, pela independência nacional, mento do Presidente da República no
pela unidade do Estado, pela segurança exercício das suas funções, seja quando
externaeinterna),bemcomopeladigniͲ viseacomposiçãoouaconcertaçãopolíͲ
dade humana (designadamente, pela tica em matérias fundamentais para a
intimidadepessoalefamiliar). comunidade.
5. Tendo em consideração que, neste 8. Neste contexto, os membros do ConͲ
conflito normativo, o direito “agressivo” selho de Estado estão individualmente
éodireitooualiberdadedeinformação, obrigados por um “dever de sigilo” regiͲ
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ͻJ.C.VieiradeAndrade
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ͻͺDoutrina
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Oprincípiodemocráticosobreapressãodosnovosesquemasregulatórios
J.J.GomesCanotilho
ProfessordaFaculdadedeDireitodaUniversidadedeCoimbra
§1º|Ademocracianaencruzilhadado EstadoreguladorassentenainstitucionaͲ
“Estadoadjectivado” lização de entidades independentes
O problema da democracia não pode aptas para estabelecer os esquemas
desvincularͲse da transformação do regulativos das regras do jogo económiͲ
Estado. Basta fazer uma pequena lista co e para dirimir os conflitos em domíͲ
das invenções adjectivantes do Estado nios sectoriais políticos e economicaͲ
paradarmoscontadainstabilidadedeste mente sensíveis. Ainda como ponto de
referente da democracia. Alguns coloͲ contacto com o “Estado garantidor” e
camaênfaseda“politicidadeestatal”e, “Estado regulador”, perfilaͲse o Estado
consequentemente,dalegitimaçãodeciͲ económico,ou seja, um Estado substituͲ
sórioͲdemocrática, no Estado Supervisor tivodo“Estadofinanceiro”clássico,com
(de Supervisionstaat fala, precisamente, a passagem do orçamento financeiro ao
Helmut Willke), ou seja, o Estado capaz orçamento económico e do orçamento
de definir, em termos estratégicos, as anual ao orçamento plurianual, e com a
tarefas e responsabilidade da organizaͲ introdução de sistemas de controlo a
ção estatal. Outros erguem o Estado posterioriassentesnaavaliaçãodaeficáͲ
garantidor, (o chamado GewährleisͲ cia e da boa utilização dos recursos
tungsstaat) na terminologia alemã, ou financeiros (“desempenho económicoͲ
ͻͻJ.J.GomesCanotilho
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mesma subjacente ao modelo de admiͲ sos comunicativos, onde não é a ciência
nistração responsiva em que não raro a do direito constitucional a responsável
definição de política se reconduz a uma pela definição dos princípios básicos da
espéciedenegotiatedruleͲmaking!Para legitimaçãodemocrática.
o pensamento dominante democracia AciênciadodireitoconstitucionalrecorͲ
pressupõe o Estado e o Estado pressuͲ tavaomodelodelegitimaçãodemocrátiͲ
põeademocracia103.MasqualdemocraͲ ca da administração através do modelo
cia?MasqueEstado? delegitimaçãodoEstado:(1)opovoéo
sujeitodelegitimaçãodemocrática;(2)o
§2º|Alegitimaçãodemocráticada objectodelegitimaçãoéopoderestatal;
administração (3) os modos de legitimação são os insͲ
A administração do Estado garantiͲ trumentos destinados à implantação de
dorͲregulador configuraͲse como admiͲ um esquema de imputabilidade entre o
nistração implementadora. A implemenͲ sujeito e objecto de legitimação; (4) os
tação significa, em rigor, pôr em acção níveisdelegitimaçãoperfilamͲsecomoo
esquemaspolítico–decisóriosdepolíticas lugar de ajustamento dos diferentes
públicas.OgovernoͲdirecçãodestaspolíͲ modos de legitimação e respectivos insͲ
ticas carece também de legitimação trumentos a fim de se apurar se o
democrática, não admirando que a esquema de imputabilidade entre o
“nova ciência do direito administrativo” exercício do poder estatal e o novo é
se tenha encarregado de traçar as suficientemente eficaz e efectivo104. A
dimensões desta legitimação. Mais conͲ articulação dos modos de legitimação
cretamente: procuraͲse imprimir um (legitimação institucionalͲfuncional, legiͲ
“carácter atento e dinâmico à democraͲ timação organizatórioͲpessoal e legitiͲ
cia”, de forma a que o modelo clássico mação material) com os níveis de legitiͲ
de legitimação não neutralize o recorte maçãopermitiaestruturarasdimensões
deumesquemalegitimadordaadminisͲ básicas da democracia constitucional
ͳͲͳJ.J.GomesCanotilho
tração plural e diferenciada das consteͲ parlamentar: (1) a lei do parlamento,
lações políticas contemporâneas. Ora, comassuas“reservas”eassuas“prioriͲ
basta comparar o modelo clássico de dades”;(2)oprincípiodalegalidadecom
legitimação com os padrões legitimatóͲ vinculação da administração à lei; (3) o
rios actuais para se concluir que, em princípio da responsabilidade parlamenͲ
último termo, a democracia representaͲ
tivo–parlamentarcedeopassoaprocesͲ 104
Cfr. HansͲHeinrich Trute, “Die demokratische
Legitimation der Verwaltung”, in HoffmanͲ
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tar do governo; (4) o princípio da estruͲ O mesmo se verifica com o objecto da
turação hierárquica da administração e legitimação, tradicionalmente reconduͲ
respectivosesquemasdedirecção,supeͲ zidoaopoderdoEstado.Oproblemaéo
rintendênciaetutela. desteobjectoterdealargarͲseaentidaͲ
É perante este esquema clássico formal des e respectivos actos Ͳ autoridades
que a “nova ciência do direito adminisͲ administrativas independentes107 Ͳ e ao
trativo” sugere uma compreensão do exercício de poderes públicos por entiͲ
princípiodemocráticodinâmicaeaberta dades privadas dentro dos esquemas de
ao futuro. Em rigor, a nova ciência do cooperação e organização públicoͲprivaͲ
direito administrativo não visa furtarͲse da108. Não deve esquecerͲse também
ao enquadramento normativoͲinstituͲ que em causa pode estar o exercício de
cional da democracia nem colocar a umpodernosistemamultiníveleuropeu
questãodalegitimaçãonumplanoinfraͲ que, como é óbvio, não pode desvincuͲ
constitucional:OrecursoaodireitoconsͲ larͲse de formas e meios jurídicos de
titucionalafiguraͲse,emalgumamedida, legislação, mas que só uma estatalidade
comouma“estratégiacientífica”105.Com neutra e um princípio democrático
efeito, o povo continua a ser sujeito de dinâmico podem albergar. São, precisaͲ
legitimação,mastrataͲsedopovoplural, mente, os problemas de legitimação da
enãodopovocomo“unidadecolectiva”. administração plural e diferenciada que
O povo plural tem como ponto de refeͲ justifica o notável esforço dogmático e
rência o indivíduo e a sua autoͲ teóricoda“novaciênciadodireitoadmiͲ
determinaçãoenãoentidadescolectivas nistrativo” para erguer, reflexivamente,
como o “Estado” ou a “Nação”. ConseͲ o princípio democrático Ͳ verdadeiro
quentemente,tambémademocracia,no princípio e não regra jurídica Ͳ a um
contexto cultural europeu, será uma padrão legitimador que tenha em conta
formadedomíniocujopontodepartida
é sempre e apenas a liberdade indiviͲ
dual106 (o “cidadão europeu” e não a
“UniãoEuropeia”). 107
OtemaéanalisadoporGeorgHermes,“LegiͲ
timationsproblem unabhängige Behörden”, in
ͳͲʹDoutrina
HartmutBaueretalii,DemokratieinEuropa,cit.,
p.457ss.Entrenós,porPedroGonçalves,EntidaͲ
105
Cfr.HansChristianRöhl,“Verfassungsrechtals des privadas com poderes públicos, Coimbra,
wissenschaftliche Strategie”, in HansͲHeinriche 2005.
108
Trute un alii, Allgemeines Verwaltangsrecht, cit., Cfr. Stefan Storr, “Verfassungsrechtliche DiͲ
p.820. rektiven des demokratischen Prinzips für die
106
Cfr. HansͲHeinrich Trute, “Die demokratische Nutzung privatrechlicher Organisationss Ͳ und
LegitimationderVerwaltung”,inHoffmanͲRienet Kooperation–FormendurchdieöffentlicheVerͲ
alii, Grundlagen des Verwaltungsrechts, cit., p. waltung”,inHartmutBaueretalii,Demokratiein
324. Europa,cit.,p.411ss.
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Globalisierung,Beck,München,1999.Utilizámos
112
a tradução em lingua portuguesa: A Democracia Cfr.UweVolkmann,anotação47aoartigo20.º
nomundodehoje,SãoPaulo,2005. daGrundgesetz,emBerlinerKommentar,cit.
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partidos”, “sintomas de crise do Estado tecção de direitos, liberdades e garanͲ
Constitucional Democrático”, “sintomas tias, até às entidades reguladoras da
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concorrência e do mercado de valores é que se torna imperioso articular as
imobiliários). A simples menção destes duas perspectivas – de juridicidade e de
temasinsinuaque,aosolhosdocidadão, democraticidade – para se estruturar
talvezestejaaquio“nógórdiodademoͲ com uma sustentabilidade razoável, o
cracia”enãonumsofisticadosistemade sistema aberto de democratização e de
inconsͲtitucionalidades, invalidades ou controlo.
ilegalidades, que revelam desvalores
4. Nesta perspectiva, o sistema jurídico
jurídicos, mas frequentemente ocultam
os“desvaloreséticoͲpoliticos”aeleassoͲ tem de incorporar novos “conceiͲ
ciados. tosͲchave” e novas formas de actuação
possibilitadoras de uma melhor comͲ
3. A insuficiente problematização do preensãodoordenamentoconstitucional
estatutojurídicodademocratizaçãoedo democrático. Vamos dar alguns exemͲ
controlo político ligaͲse, em grande plos. O conceito de “New Public ManaͲ
medida,àideiadequeaordemjurídicaé gement”foitransferidodasexperiências
fundamentalmenteconstituídaporactos demodernizaçãodosectorprivadopara
jurídicos e outras manifestações normaͲ a administração pública. Dentre os seus
tivas.Maisdoqueisso.Aordemjurídica elementos ou componentes incluiͲse a
(1)éofundamento,limite,mastambém separação entre politica, como planeaͲ
produto de uma praxis, de actores indiͲ mento ou definição estratégica de tareͲ
viduais e institucionais dentro dum fas,etransmutaçãooperativadestesfins
determinado espaço jurídico, sendo (2) atravésdaadministração.ComoseasseͲ
dimensão constitutiva dessa ordem a gura o controlo democrático nos dois
distinção entre acto jurídico (direito) e planos de acção? Ainda no mesmo
“nãodireito”.Oespaçodo“nãodireito” modelo, transformouͲse a matriz estruͲ
não tem qualquer relevância jurídica113. tural da administração central concenͲ
Oproblemaéqueestalógicaseadequa trada num esquema de outras unidades
aumaperspectivadejuridicidadeestatal operativas autónomas com responsabiliͲ
(de Estado de direito), mas não é sufiͲ dadedescentralizada.OgovernoconcenͲ
ciente para captar certos “acontecimenͲ traͲse – esta outra dimensão caracteriͲ
ͳͲDoutrina
113
tégias não se reconduzem sempre a
Sobre esta dicotomia cfr. Christian Bumke,
RelativeRechtswidrigkeit,Tübingen,2004,p.13.
actos jurídicos. Como se “ordena”, denͲ
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ͳͲJ.J.GomesCanotilho
114
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ͳͲͺDoutrina
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Onovodireitodourbanismo:odespontardo“urbanismopósͲvinculístico”
nodomíniodareabilitaçãourbana
SuzanaTavaresdaSilva
AssistentedaFaculdadedeDireitodaUniversidadedeCoimbra
paginacomasexigênciasdoprincípioda
sustentabilidade,assenteemnovosconͲ
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dúvidas quanto ao enfraquecimento da normas urbanísticas. Neste caso o tribuͲ
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nal concluiu que o princípio da proporͲ Neste contexto, o território perde a
cionalidadeexigequeosplanosurbanísͲ característica de circunscrição do poder
ticos contemplem uma solução adequaͲ estadual soberano, mas revela uma
da para os membros daquela etnia, importância renovada enquanto recurso
designadamente, que ponderem a proͲ exclusivo do Estado para promover a
tecção de interesses gerais conjuntaͲ valorização do bemͲestar da população,
mente com o dever de protecção dos o que implica, necessariamente, uma
direitos individuais daqueles, entre os transformação profunda no direito do
quaisseinclui,porexemplo,odireitode ordenamento do território e do urbaͲ
as crianças daquelas famílias poderem nismoiii. A inversa não é, porém, verdaͲ
“residir na comunidade” em zonas próͲ deira,ouseja,oEstadoperdeaqualidaͲ
ximas dos estabelecimentos de ensino dedeseroúnicotitulardopodernoseu
(Buckley vs. Reino Unido – 25/09/1996). território, mas mantém intocável o
Noutra ocasião, o TEDH pôs em causa poder de explorar a valorização do seu
despejos administrativos de famílias território, o que acaba por acentuar a
ciganas fundamentados em comportaͲ importância da compreensão deste
mentos antiͲsociais, afirmando que as como um recurso nacional. Em outras
autoridades administrativas não tinham palavras, o Estado mantém o poder de
tomadoemconsideraçãonasrespectivas explorar de forma exclusiva os seus
decisões o “especial modo de vida” dos recursos territoriais para satisfazer as
membros daquelas comunidades (ConͲ necessidadesdoscidadãos,emboracom
nors vs. Reino Unido – 27/04/2004). Na ocompromissodeofazerdeformasusͲ
mesma linha, inseremͲse os casos em tentada e com observância das guideliͲ
que aquele tribunal considerou haver neseuropeias–políticaagrícolacomum,
violação dos artigos 8º e 6º da CEDH protecção ambiental, implantação de
quando estabelecimentos industriais redes transeuropeias, desenvolvimento
devidamente licenciados provocaram tecnológico,coesãoestruturaliv–einterͲ
ͳͳͳSuzanaTavaresdaSilva
danos na qualidade de vida dos “viziͲ nacionais – convenções em matéria
nhos” ou quando não foi divulgada sufiͲ ambiental,energética,etc.
cienteinformaçãoàcomunidadesobreo É por esta razão que o Estado passa a
impactoambientaldoestabelecimentoa valorizar o território e os seus aproveiͲ
licenciar, ou mesmo nos casos em que tamentos de forma mais intensa, o que
não foi garantido, de forma efectiva, o obriga, no plano interno, a proceder a
direito de participação procedimental uma reformulação da repartição de
nos respectivos licenciamentos (R. vs. poderes nesta matéria entre o nível
HampshireWasteServices–2002)ii. estadualeinfraͲestadual,nonossocaso,
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sobretudonasrelaçõesentreoEstadoe zaçõesecompensaçõesdaplanificaçãoe
os municípios. A reformulação no plano da execução dos planos por novos
interno assenta, fundamentalmente, na esquemas de perequaçãovii. A proposta
necessidade de concepção de esquemas da doutrina italiana radica, essencialͲ
de aproveitamento sustentável do terriͲ mente, na dinamização da perequação
tório, fundados em instrumentos jurídiͲ de endopartilha – assente na atribuição
cos à margem do clássico sistema de de capacidade edificatória não aos lotes
“planificação em cascata”, que culmina eaosrespectivostitulares,masantesaos
nos planos municipais de ordenamento planos na sua totalidade, através de um
do território, baseados na técnica do esquemadeíndicesterritoriais,colocanͲ
zonamentov. Assim, a “cativação prévia doosproprietáriosemigualdadedecirͲ
de usos em determinadas áreas” não é cunstâncias que os obrigará a negociar
hoje compaginável com uma gestão e entre si a respectiva execução – e da
afectação eficiente e sustentável deste perequaçãoemsentidoamplo–baseada
recursoescasso,devendoantesserdada na “exportabilidade” de direitos edificaͲ
prioridade ao desenvolvimento de tórios e na possibilidade de criação de
esquemas globais de policyͲmaking em um“mercadodeíndices”dentrodaconͲ
matéria deprogramação social, os quais textualidadedoplano.
hãoͲde incluir, também, a definição de A nossa proposta suporta uma comͲ
políticasmunicipaisemmatériadeurbaͲ preensão mais ampla do que deva ser o
nismovi. novo direito do urbanismo, procurando
É contra uma préͲcompreensão exclusiͲ enquadráͲlo na dinâmica típica dos
vamente publicista do urbanismo, hoje novos esquemas jurídicos de concretizaͲ
inadequada ao contexto da partilha ção de políticas públicasviii e do que a
públicoͲprivadadaresponsabilidadepela doutrina alemã designa como “novo
promoção de políticas sectoriais, que a direitoadministrativo”ix.
doutrinaitalianareageeapresentacomo A experiência comparada mostraͲnos
alternativa o “urbanismo pósͲ claramente que os actos de boa goverͲ
vinculístico”, designação dada por aqueͲ nação do território assentam agora na
les autores ao conjunto de esquemas elaboração de estratégias abertas destiͲ
ͳͳʹDoutrina
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governance; do “préͲordenamento” do perante o novo figurino, de entre os
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quais podemos referir, por último, os suporte ou correspondência em prograͲ
contratosparaplaneamentoimpulsionaͲ mas e estratégias europeias. Se atenͲ
dospelaúltimaalteraçãoaoregimegeral tarmos na relevância prática que as
dosinstrumentosdegestãoterritorial. excepções hoje assumem, sobretudo
Todavia, os esquemas de flexibilização com o impacto que terá a entrada em
não resolvem o cerne do problema, vigordonovoregimejurídicodereabiliͲ
garantem maior participação, alguma tação urbana, facilmente percebemos
negociação, mas deixam em aberto o que a excepção tem tendência a transͲ
ponto fulcral, i. e. a determinação dos formarͲse em regra e que o modelo
critérios materiais de controlo da discriͲ estruturalevoluiparaumasoluçãoglobal
cionariedade de planeamento. Como é assente na programação estratégica,
quepodemosgarantirairrenunciabilidaͲ para as cidades, para as áreas agrícolas,
de e indisponibilidade material dos para as áreas florestais, para as zonas
poderes públicos de planeamento (a marítimas,paraasáreasdereservaecoͲ
definição pública de um conteúdo) atraͲ lógica. Esta programação fundaͲse num
vés de um sistema de flexibilização que novo modelo de actuação do poder
se traduz, na maior parte dos casos, em público:aorientaçãoedefiniçãogeralde
soluçõesdeexcepçõesaoplano?Bastará standards e reenvio do poder “de escoͲ
a participação dos interessados no proͲ lha da melhor opção” para o nível da
cedimento que dá origem à excepção concretizaçãoaplicativa.
paragarantirarespectivalegitimidadee Nestemodelo,aconcretizaçãoaplicativa
juridicidade?Ecomodefinimosocírculo deixa de consubstanciar uma decisão
de interessados se concluímos que o administrativaconformeàleieaoplano
territórioéumrecursonacionalescasso? epassaaradicarnuma“escolhaadminisͲ
Qual é o parâmetro para a ponderação trativa” da melhor opção para a realizaͲ
da decisão que excepciona a aplicação ção de um conceito de cidade sustentáͲ
das disposições de um plano? Existem vel, de área florestal protegida, de
entre nós já suficientes exemplos desta desenvolvimentoeconómico,etc.AdefiͲ
realidade:áreadaParqueExpo,terrenos nição e densificação dos conceitos (área
envolventes aos estádios do Euro 2004, protegida, paisagem protegida, bem de
ͳͳͶDoutrina
mas de interesse nacional com apoio, participativos, a seu modo essenciais à
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jecto de lei que agora se encontra em ceito tradicional de áreas críticas de
discussãopública,constitui,anossover, recuperação e reconversão urbanística
oexemplomaisemblemáticododesponͲ da lei dos solos, o que permite, por um
tar desta nova realidade no nosso ordeͲ lado, alargar a aplicação deste regime
namento jurídico. Com efeito, o novo jurídico a novas situações (por exemplo,
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de reabilitação urbana sistemática presͲ vimento económico local ou regional. As
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entidades gestoras de tipo empresarial sibilidade de os planos de ordenamento
gozamdepoderesdelegados,presuminͲ doterritórioconstituíremumparâmetro
do a lei a delegação de alguns poderes de validade dos programas estratégicos
quandoessaentidadeforumasociedade ou mesmo das actuações adoptadas em
dereabilitaçãourbana,entreosquaisse execuçãodestes.
incluem,porexemplo,opoderdecobrar PodedizerͲsequea“separaçãodosuniͲ
astaxaseascompensaçõesprevistasnos versos”nãoéaindatotal,oqueresulta,
regulamentos municipais, o poder de desde logo, das inúmeras referências
licenciamento e o poder de adopção de expressasaolongodapropostadonovo
medidasdetuteladalegalidadeurbanísͲ regime da reabilitação urbana para o
tica. regimejurídicodosinstrumentosdegesͲ
O novo regime jurídico da reabilitação tão territorial, numa aparente tentativa
urbana consagra, como vimos, um novo de equiparação dos novos instrumentos
esquema de gestão do território, o qual aos referidos planos, ou mesmo, da
se sobrepõe, nas respectivas áreas de expressapossibilidadedeviraserelaboͲ
intervenção, aos planos urbanísticos em radoumplanodepormenordereabilitaͲ
vigor, embora, como resulta expressaͲ ção urbana. A sobrevivência dos planos
mente do articulado da proposta, essa depormenornonovomodeloédefendiͲ
supremacia exija uma revisão daqueles da como instrumento procedimental de
instrumentos de gestão territorial, a fim participaçãodeterceirosnafasedaconͲ
de evitar desconformidades com os cretização aplicativa, os quais adquirem
mesmos. Na prática, porém, se as menͲ o cariz de projectos (localizados, juridiͲ
cionadas desconformidades se vierem a camente,entreanormaeoacto).Cabe
registar, não nos parece desajustado ainda a este propósito assinalar o facto
sugerir um princípio de preferência da de o novo regime jurídico passar a conͲ
aplicação dos projectos elaborados de templar a articulação necessária entre
acordo com os programas estratégicos planodepormenordereabilitaçãourbaͲ
sobre os planos. De facto, se procurarͲ na e os planos de pormenor de salvaͲ
mosinterpretaresteregimejurídicoàluz guarda de património cultural, superanͲ
da nova compreensão antes proposta, do uma das principais críticas que fazíaͲ
ͳͳͺDoutrina
do território. O que determina a imposͲ apenas o que designamos como o “desͲ
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e justos, que não se apresentem feridos trativa, mas sim uma forma imediata de
deinconstitucionalidade. produção de uma medida de promoção
dointeressepúblicoqueincorporaemsi
4.Asdificuldadesdocontrolo “um mecanismo de diálogo entre os
O modelo jurídico do urbanismo poderes e os interesses” (governance),
pósͲvinculísticosuscita,contudo,àsemeͲ visandoproduzirumasoluçãolegitimada
lhança do que acontece com as actuaͲ eponderadaemtemporeal.AparticulaͲ
çõesdonovodireitoadministrativo,proͲ ridadedonovomodeloradicanoreforço
blemas no momento do controlo das da participação na formação da decisão
soluções adoptadas, sobretudo se preͲ através do recurso às novas tecnologias
tendermos subordináͲlas ao esquema (o que justifica, por exemplo, a ênfase
tradicional do controlo judicial. Não que as novas cartas de direitos fundaͲ
podemos esquecer que o método tradiͲ mentais conferem ao direito à informaͲ
cional se funda no pressuposto do prinͲ ção e à participação ambiental) e na
cípio da separação de poderes, onde preocupaçãoeminstituirmecanismosde
cada poder assume um papel específico controlo político dessas decisões e do
naconcretizaçãodointeressegeral,que respectivo incumprimento (accountabiͲ
sendopreviamentedefinidopelolegislaͲ lity).
dor, de forma abstracta, permite depois Todavia,nãosepensequeostribunais
ao julgador avaliar da juridicidade dessa são postergados, pois o controlo judicial
concretização de acordo com aquele continuará a ter um papel de destaque,
parâmetroprévio,queserviutambémde embora com um “mandato diferente”,
guiaelimiteàsactuaçõesdaadministraͲ pois deles esperaͲse agora, fundamenͲ
ção. talmente, uma avaliação rigorosa das
Estemodelonãoé,porém,transponível, medidasàluzdosprincípiosjurídicosque
semmais,paraumesquemadeadminisͲ informam a matéria. Neste contexto, a
tração fundado no modelo de concretiͲ sua função aparece reformulada, não
zação aplicativa. É que este modelo não apenas no plano nacional, mas sobretuͲ
consubstancia apenas uma forma aproͲ do no contexto da articulação com os
fundada de discricionariedade adminisͲ outrosníveisdejurisdiçãoxiii.
ͳʹͲDoutrina
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xii
TAVARESDASILVA,Suzana,Astaxaseoprincípiodacoerênciatributária,CEJUR,Braga,2008.
xiii
CLAES,Monica,Thenationalcourts’mandateintheEuropeanconstitution,HartPublishing,Oxford,2006.
ͳʹͳSuzanaTavaresdaSilva
REVISTA DE DIREITO PÚBLICO E REGULAÇÃO
I N F O R M A Ç Õ E S
AnaCláudiaGuedes
AssessoradoCEDIPRE
i)Decisõeseactosdereguladores
ANACOM
Decisão da ANACOM na sequência do requerimento, apresentado pela PT
Comunicações, TMN e PT Prime, de suspensão da eficácia do artigo 1º do
Regulamento n.º 87/2009, de 18 de Fevereiro, na parte em que procede à
alteraçãododispostonon.º2,alíneasc)ef)enon.º5doartigo13º(recusado
pedidoelectrónico)doRegulamenton.º58/2005,de18deAgosto,enaparteem
queprocedeàalteraçãododispostonosn.ºs1,2e4doartigo15º(capacidadena
portabilidadedenúmeros)domesmodiploma,emqualquerdoscasosconjugado
com o artigo 4º (entrada em vigor) do Regulamento n.º 87/2009,
http://www.anacom.pt/render.jsp?contentId=862578;
Deliberação da ANACOM que aprova o relatório da consulta pública sobre a
abordagemregulatóriaàsnovasredesdeacesso,http://www.anacom.pt/;
DeliberaçãodaANACOMqueaprovaoRegulamentodealteraçãoaoRegulamento
n.º 58/2005, de 18 de Agosto Ͳ Regulamento da Portabilidade, bem como o
respectivorelatóriofinaldaconsulta,http://www.anacom.pt/render.jsp?contentId=833358;
ͳʹͳAnaCláudiaGuedes
Deliberação da ANACOM a sequência do requerimento, apresentado pela PT
Comunicações, TMN e PT Prime, de suspensão da eficácia do artigo 1º do
Regulamento n.º 87/2009, de 18 de Fevereiro, na parte em que procede à
alteraçãododispostonon.º2,alíneasc)ef)enon.º5doartigo13º(recusado
pedidoelectrónico)doRegulamenton.º58/2005,de18deAgosto,enaparteem
queprocedeàalteraçãododispostonosn.ºs1,2e4doartigo15º(capacidadena
portabilidadedenúmeros)domesmodiploma,emqualquerdoscasosconjugado
com o artigo 4º (entrada em vigor) do Regulamento n.º 87/2009,
http://www.anacom.pt/render.jsp?contentId=862578;
DecisãodaANACOMrelativaaosmercadosdefornecimentogrossistadeacessoà
infraͲestrutura de rede num local fixo e de acesso em banda larga,
http://www.anacom.pt;
REVISTA DE DIREITO PÚBLICO E REGULAÇÃO
Deliberação da ANACOM que aprova a decisão final relativa à publicação dos
níveisdedesempenhonaqualidadedeserviço(QoS)dasofertasgrossistasORALL
(ofertadereferênciaparaacessoaolacetelocal),ORCA(ofertadereferênciade
circuitosalugados),ORAC(ofertadereferênciadeacessoacondutas),''RedeADSL
PT''eORLA(ofertaderealuguerdalinhadeassinante).Fazparteintegrantedesta
deliberação o relatório da audiência prévia a que foi submetido o respectivo
sentido provável de decisão, aprovado em 15 de Outubro de 2008,
http://www.anacom.pt;
DeliberaçãodaANACOM,queaprovaorelatóriodaaudiênciaprévia,bemcomoa
decisãofinaldoprocessoderesoluçãoadministrativadelitígioentreaSonaecom
e a PT Comunicações (PTC), relativo ao pagamento de compensações por
incumprimento,em2006,dosníveisdequalidadedeserviço,noquerespeitaaos
prazosaplicáveisàreposiçãodo serviço(reparaçãodeavarias),estabelecidosna
ofertadereferênciadeacessoaolacetelocal(ORALL)enaofertadereferênciade
circuitosalugados(ORCA),http://www.anacom.pt/render.jsp?contentId=910259;
BANCODEPORTUGAL(www.bportugal.pt)
Declaração inicial do Governador do Banco de Portugal na apresentação do
BoletimEconómicodeInverno(2008).
ApresentaçãodoGovernadorsobre"Theeconomyandthebankingsector:recent
developments".
Declaração do ViceͲGovernador Pedro Duarte Neves à Comissão de Inquérito
sobre a Situação que Levou à Nacionalização do BPN e sobre a Supervisão
BancáriaInerente.
Entendimento conjunto do Banco de Portugal e da Comissão do Mercado de
ValoresMobiliáriosquantoàdelimitaçãodecompetênciasrespeitanteaprodutos
financeiroscomplexos.
Apresentação do Governador do BP sobre "O Financiamento da Economia e as
Empresas"naCIP.
Declaração inicial do Governador do Banco de Portugal na apresentação do
BoletimEconómicodaPrimavera(2009).
ͳʹʹInformações
ERC(www.erc.pt)
Deliberação 1/OUTͲI/2009 da ERC, Directiva sobre Publicidade em Publicações
Periódicas.
Deliberação1/OUTͲTV/2009daERC,QueixadaTVIcontraaSPORTTVporalegada
infracçãoaodispostonoartigo32.º,n.º2,daLeidaTelevisão.
REVISTA DE DIREITO PÚBLICO E REGULAÇÃO
DecisãodoRecursoHierárquicoImprópriodaERCrelativoadeliberaçãoadoptada
pelaComissãodoActoPúblicodoConcursoPúblicoparaolicenciamentodeum
serviçodeprogramasdeâmbitonacional,generalista,deacessonãocondicionado
livre (Portaria 1239/2008, de 31 de Outubro, rectificada pela Declaração de
Rectificação68/2008,de18deNovembro);
Decisão da ERC sobre as candidaturas admitidas e excluídas, nos termos do
disposto no n.º 3 do artigo 11.º do Regulamento do Concurso Público para o
licenciamento de um serviço de programas de âmbito nacional, generalista, de
acesso não condicionado livre, aberto pela Portaria nº 1239/2008, de 31 de
Outubro;
DirectivadaERCsobreainserçãodesobreposiçõespromocionaisemprogramas
televisivos.
ERS(www.ers.pt)
Deliberação da ERS, no uso da sua competência e sob a égide da alínea a) do
artigo 26º do DecretoͲLei n.º 309/2003, 10 de Dezembro, emitir uma
recomendação dirigida à Administração Central do Sistema de Saúde, IP, no
sentido de, no decurso do processo de harmonização da nomenclatura utilizada
natabeladeconvencionadosrelativamenteàqueéseguidanatabeladepreços
praticados pelo SNS, ser devidamente ponderada a efectiva capacidade de
respostaactualdasinstituiçõeseserviçosintegradosnoSNS,paraaprestaçãode
tais actos ou exames, e caso essa capacidade de resposta não esteja garantida,
deverão tais actos ou exames ser incluídos na tabela de preços dos actos
convencionados.
ERSE(www.erse.pt)
RecomendaçãodaERSEn.º1/2008(versão2)Janeiro2009,sobrealteraçõesque
decorremdapublicaçãodaLein.º51/2008;
Recomendação1/09daERSEemqueaentidaderecomenda,nostermosdaalínea
a) do art. 26.º do DecretoͲLei n.º 309/2003, de 10 de Dezembro, a todos os
ͳʹ͵AnaCláudiaGuedes
prestadores de cuidados de saúde que nos casos em que existam responsáveis
distintos pelo internamento e pela prestação dos cuidados de saúde, todos os
prestadoresdecuidadosdesaúdeenvolvidosdeverão,paraafastaraassunçãode
existência de um contrato total com a entidade responsável pelo internamento,
esclarecer clara e atempadamente os utentes quanto à dualidade de contratos
celebrados, seus âmbitos, objectivos e entidades subjectivamente responsáveis
pelo cumprimento dos mesmos, de forma a que os utentes conheçam
inequivocamentequalaentidaderesponsável,emcadamomento,porcadaacto
oudiligência(praticadaouomitida),
ParecerdoConselhoTarifáriodaERSEsobrea"Metodologiadecálculodovalorda
caução";
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ii)Relatórioseoutrosdocumentos
IVFórumSectorSeguradoreFundosdePensões,de15deAbril,www.isp.pt.
TheLarosièreReport,February2009
http://ec.europa.eu/internal_market/finances/docs/de_larosiere_report_en.pdf
The Turner Review, A regulatory response to the global banking
crisis;March2009,http://www.fsa.gov.uk/pubs/other/turner_review.pdf;
RelatóriodaOCDE:“ManagingWaterforAll”,March,
http://www.oecd.org/document/16/0,3343,en_2649_34311_42289488_1_1_1_1,
00.html
ͳʹͶInformações