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Padre Antnio Vieira Imperador da Lngua Portuguesa chamei-lhe eu, Fernando Pessoa, no meu livro Mensagem, onde demonstro,

claramente, a minha admirao por este grande homem. A sua genialidade no se restringe ao dom da palavra, ele foi um dos maiores e mais arrojados defensores da ptria em nome da qual passou muitas adversidades, arriscando, muitas vezes, a prpria vida. O notvel orador transcendeu-se a si prprio, sua obra e sua alma. Um dos maiores comunicadores de todos os tempos que honrou a lngua portuguesa. Os seus olhos e ouvidos estiveram sempre atentos realidade social e poltica da sua poca, no pas e no estrangeiro, conferindo-lhe um conhecimento prtico da vida e dos seus conflitos, tornando-se um defensor dos fracos e oprimidos, reivindicando a responsabilidade pelos direitos dos menos favorecidos, roubados pelos ricos e poderosos. Era possuidor de uma viso ampla dos acontecimentos. Tudo isto foi consolidando nele a avidez de um imprio novo em que o Homem fosse visto como um valor universal. Segundo ele, o imprio de Cristo na Terra permitiria a Sua glorificao atravs da fuso do humano com o divino e que conduzisse organizao dos lugares onde as leis proporcionassem felicidade e paz universais vividas na harmonia de toda a Humanidade. A palavra foi a sua espada e a sua f a fora para rasgar o caminho. Lembro ainda das palavras que lhe dediquei no livro do desassossego, que vou ler No choro por nada que a vida traga ou leve. H porm pginas de prosa que me tm feito chorar. Lembro-me que, como do que estou vendo, da noite em que, ainda criana, li pela primeira vez numa selecta, o passo clebre de Vieira sobre o Rei Salomo. Fabricou Salomo um palcio E fui lendo, at ao fim, trmulo, confuso; depois rompi em lgrimas felizes, como nenhuma felicidade real me far chorar, como nenhuma tristeza da vida me far imitar. Aquele movimento hiertico da nossa clara lngua majestosa, aquele exprimir das ideias nas palavras inevitveis, correr de gua porque h declive, aquele assombro voclico em que os sons so cores ideais tudo isso me toldou de instinto como uma grande emoo poltica. E, disse, chorei; hoje, relembrando , ainda choro. No no a saudade da infncia, de que no tenho saudades: a saudade da emoo daquele momento, a mgoa de no poder j ler pela primeira vez aquela grande certeza sinfnica.

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