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CHICA PELEGA

TRAGÉDIA ROMÂNTICA
Aulo Sanford de vasconcellos
(Romance – 199 páginas)

CONTEXTO HISTÓRICO - GUERRA DO CONTESTADO


A Guerra do Contestado foi um conflito armado, entre a população cabocla e os representantes do poder
estadual e federal brasileiro travado entre outubro de 1912 a agosto de 1916, numa região rica em erva-mate e madeira
pretendida pelos Estados do Paraná e Santa Catarina. A Guerra do Contestado teve origem em conflitos sociais, frutos
de desmandos, em especial no tocante à regularização da posse de terras por parte dos caboclos. Representando, ao
mesmo tempo, a insatisfação da população com sua situação material, o conflito era permeado pelo fanatismo
religioso, expresso pelo messianismo e pela crença, por parte dos caboclos revoltados, de que se tratava de uma guerra
santa.
O primeiro monge que ganhou fama no Contestado foi João Maria, um homem de origem italiana, que
peregrinou pregando e atendendo doentes de 1844 a 1870. Fazia questão de viver uma vida extremamente humilde, e
sua ética e forma de viver arrebanhou milhares de crentes, reforçando o messianismo coletivo. Sublinhe-se, porém,
que não exerceu influência direta nos acontecimentos da Guerra do Contestado que ocorreria posteriormente. João
Maria morreu em 1870, em Sorocaba, Estado de São Paulo.
O segundo monge também denominou – se João Maria, mas seu verdadeiro nome era Atanás Marcaf,
provavelmente de origem síria. Aparece publicamente com a Revolução Federalista de 1893, mostrando uma postura
firme e uma posição messiânica, sobre sua situação política, dizia ele "estou do lado dos que sofrem". Chegou,
inclusive, a fazer previsões sobre os fatos políticos da sua época. Atuava na região entre os rios Iguaçu e Uruguai.
Após o desaparecimento do monge em 1908 os crentes acreditavam na volta dele através da ressurreição.
A espera dos fiéis acaba em 1912, quando apareceu publicamente a figura do terceiro monge. Este era
conhecido inicialmente como um curandeiro de ervas, tendo se apresentado com o nome de José Maria de Santo
Agostinho, ainda que, de acordo com um laudo da polícia da Vila de Palmas, Estado do Paraná, ele fosse, na verdade,
um soldado desertor condenado por estupro, de nome Miguel Lucena de Boaventura.
O monge ganha fama e credibilidade através de alguns episódios como: ter ressuscitado uma jovem
(provavelmente apenas vítima de catalepsia patológica), ter curado a esposa do coronel Francisco de Almeida, vítima
de uma doença incurável e rejeitado terras e uma grande quantidade de ouro que o coronel, agradecido, queria lhe
oferecer.
A partir daí, José Maria passa a ser considerado santo: um homem que veio a terra apenas para curar e tratar os
doentes e necessitados. Metódico e organizado, estava muito longe do perfil dos curandeiros vulgares. Sabia ler e
escrever e anotava em seus cadernos as propriedades medicinais das plantas encontradas na região. Com o
consentimento do coronel Almeida, montou no rancho de um dos capatazes o que chamou de farmácia do povo, onde
fazia o depósito de ervas medicinais que utilizava no atendimento diário, até horas tardias da noite, a quem quer que o
visitasse.
Os camponeses que tinham perdido o direito às terras que ocupavam e os trabalhadores que foram demitidos
pela companhia da estrada de ferro decidiram, então, ouvir a voz do monge José Maria, sob o comando do qual
organizaram uma comunidade. Resultando infrutíferas quaisquer tentativas de retomada das terras, que até o início das
obras eram oficialmente consideradas "terras devolutas", cada vez mais se passou a contestar a legalidade da
desapropriação. Uniram-se ao grupo diversos fazendeiros que, por conta da concessão, estavam perdendo terras para o
grupo de Farquhar, bem como para os coronéis manda-chuvas da região.
A união destas pessoas em torno de um ideal comum levou à sua organização, com funções distribuídas entre
si, e ao fortalecimento do grupo. O messianismo adquiria corpo. A vida era comunitária, com locais de culto e
procissões. Tudo pertencia a todos. O comércio convencional foi abolido, sendo apenas permitidas trocas. Segundo as
pregações do líder, o mundo não duraria mais 1000 anos e o paraíso estava próximo. Ninguém deveria ter medo de
morrer porque ressuscitaria após o combate final. É de destacar a importância atribuída às mulheres nesta sociedade. A
virgindade era particularmente valorizada.
O "santo monge" José Maria rebelou-se contra a recém formada república brasileira e decidiu dar status de
governo independente à comunidade que comandava. Para ele, a República era a "lei do diabo". Nomeou "Imperador
do Brasil" um fazendeiro analfabeto, nomeou a comunidade de "Quadro Santo" e criou uma guarda de honra
constituída por 24 cavaleiros que intitulou de "Doze Pares de França", numa alusão à cavalaria de Carlos Magno na
Idade Média. Os camponeses uniram-se a este, fundando alguns povoados, cada qual com seu santo. Cada povoado
seria como uma "Monarquia Celeste", com ordem própria, à semelhança do que Antônio Conselheiro fizera em
Canudos.
O monge é, então, convidado para participar da festa do Senhor do Bom Jesus, na localidade de Taquaruçu
(município de Curitibanos). Segue acompanhado de cerca de 300 fiéis. Terminada a festa, o monge se demorou nesta
localidade, atendendo a quem quer que viesse em seu encontro, receitando remédios e fazendo curas. Desconfiado
com o que acontecia em Taquaruçu, e com medo de perder o mando da situação local em Curitibanos, o coronel
Francisco de Albuquerque, rival do coronel Almeida, enviou um telegrama para a capital do Estado pedindo auxílio
contra "rebeldes que proclamaram a monarquia em Taquaruçu"'.
O governo brasileiro comandado pelo Marechal Hermes da Fonseca, responsável pela "Política das
Salvações", caracterizada por intervenções político-militares que em diversos Estados do país pretendiam eliminar
seus adversários políticos, sentiu indícios de insurreição neste movimento e decidiu reprimi-lo, enviando tropas para
"acalmar" os ânimos.
Intuindo o que estava por vir, José Maria parte imediatamente para a localidade de Irani com todos os seus
seguidores. Irani, nesta época, pertencia a Palmas, cidade que estava na jurisdição do Paraná. Como Paraná e Santa
Catarina tinham questões jurídicas não resolvidas por conta das divisas de seu território, o Paraná viu nessa grande
movimentação de pessoas uma estratégia de ocupação daquelas terras por parte do Estado vizinho de Santa Catarina.
A guerra do Contestado inicia-se neste ponto: em defesa das terras paranaenses, várias tropas do Regimento de
Segurança do Paraná são enviadas para o local, a fim de obrigar os invasores a voltar para Santa Catarina. Estamos em
outubro de 1912.
Tem início um confronto sangrento entre tropas do governo e fiéis do Contestado no lugar chamado "Banhado
Grande". Ao término da luta, estão sem vida dezenas de pessoas, de ambos os lados. Morreram no confronto o capitão
João Gualberto, que comandava as tropas, e também o monge José Maria, mas os partidários do contestado tinham
conseguido a sua primeira vitória.
José Maria é enterrado com tábuas pelos seus fiéis, a fim de facilitar a sua ressurreição, já que os caboclos
acreditavam que este ressuscitaria acompanhado de um Exército Encantado, vulgarmente chamado de Exército de São
Sebastião, que os ajudaria a fortalecer a Monarquia Celeste e a derrubar a República, que cada vez mais se acreditava
ser um instrumento do diabo, dominado pelas figuras dos coronéis.
Em 8 de fevereiro de 1914, numa ação conjunta de Santa Catarina, Paraná e governo federal, foi enviado a
Taquaruçu um efetivo de 700 soldados, apoiados por peças de artilharia e metralhadoras. Estes logram êxito na
empreitada, incendeiam completamente o acampamento dos jagunços, mas sem muitas perdas humanas, já que os
caboclos e fiéis da causa do Contestado se refugiaram em Caraguatá, local de difícil acesso e onde já viviam cerca de
2000 pessoas.
Os fiéis que mudaram para Caraguatá eram chefiados por Maria Rosa, uma jovem com 15 anos de idade,
considerada pelos historiadores como uma Joana D'Arc do sertão, já que "combatia montada em um cavalo branco
com arreios forrados de veludo, vestida de branco, com flores nos cabelos e no fuzil". Após a morte de José Maria,
Maria Rosa afirmava receber, espiritualmente, ordens do mesmo, o que a fez assumir a liderança espiritual e militar de
todos os revoltosos, então cerca de 6000 homens.
De março a maio outras expedições foram realizadas, porém todas sem sucesso. Em 9 de Março de 1914,
embaladas pela vitória de Taquaruçu, que tinham destruído completamente, as tropas cercam e atacam Caraguatá, mas
aí o desastre é total. Fogem em pânico perseguidos pelos revoltosos. Esta nova vitória enche os contestadores de
ânimo. O fato repercute em todo o interior, trazendo para o reduto ainda mais pessoas com interesses afins, mas
também repercute muito mal frente ao governo e aos órgãos legalmente constituídos.
Como cada vez mais pessoas engajavam-se abertamente ao movimento, piquetes foram formados pelos fiéis
para o arrebanhamento de animais da região a fim de suprir as necessidades alimentícias do núcleo de Caraguatá. São
então fundados os redutos de Bom Sossego e São Sebastião. Só neste último se aglomeravam cerca de 2.000 pessoas.
Além de colocar em prática técnicas de guerrilha para a defesa dos ataques do governo, os fanáticos passaram
ao contra-ataque. Em 1° de setembro, lançaram um documento que se intitulou "Manifesto Monarquista", deflagrando-
se, a partir de então, o que chamavam de a Guerra santa, caracterizada por saques e invasões de propriedades de
coronéis e por um discurso que exigia pobreza e cobrava exploração ao máximo da República.
Invadiam as fazendas dos coronéis tomando para si tudo o que precisavam para suprir as necessidades do
reduto. Além disso, amparados nas vitórias que tiveram, atacaram várias cidades, como foi o caso de Curitibanos, onde
os alvos eram invariavelmente os cartórios, locais onde se encontravam os registros das terras que antes a eles
pertenciam. Não bastando incendiar os cartórios, num outro ataque na localidade de Calmon, destruíram
completamente a segunda serraria da Lumber, uma das empresas que vieram de fora para explorar a madeira da faixa
de terra de 30 quilômetros (15 quilômetros de cada lado) às margens da ferrovia.
Com a ordem social cada vez mais caótica na região, o governo central designa o general Carlos Frederico de
Mesquita, veterano de Canudos, para comandar uma ação contra os rebeldes. Inicialmente tenta, sem êxito, um acordo
para dispensar os revoltosos; a seguir ataca duramente Santo Antônio, obrigando os rebeldes a fugir. O reduto de
Caraguatá, que antes vira as tropas do governo fugirem perseguidas por revoltosos, tem agora de ser abandonada às
pressas pelos mesmos revoltosos devido a uma grande epidemia de tifo. Considerando, equivocadamente, dispersos os
revoltosos, o general Mesquita dá a luta por encerrada.
Mas a calmaria terminaria logo. Os revoltosos rapidamente se reagrupam e se organizam na localidade de
Santa Maria, interior do município de Timbó Grande, intensificando os ataques: tomam e incendeiam a estação de
Calmon; dizimam a vila de São João (Matos Costa), atacam Curitibanos e ameaçam Porto União da Vitória, cuja
população abandona a cidade em desespero.
Os boatos chegam até Ponta Grossa e dizem que os revoltosos e seu exército pretendem marchar até o Rio de
Janeiro para depor o Presidente. Os rebeldes já dominam, nesta altura dos acontecimentos, cerca de 25000 km² da
região do Contestado.
O governo federal nomeia o general Fernando Setembrino de Carvalho para o comando das operações
contra os Contestadores. Em setembro de 1914, chefiando cerca de 7000 homens e com ordens de sufocar a rebelião e
pacificar a região a qualquer custo, chega a Curitiba o general Setembrino de Carvalho. A primeira e mais imediata
providência foi restabelecer as ligações ferroviárias e guarnecer as mesmas para evitar que fossem novamente
atacadas.
Nas proximidades da ferrovia, o exército brasileiro construiu o Campo da Aviação de Rio Caçador, onde hoje é
o município de Caçador. Como apoio de operações de guerra, pela primeira vez na história da América Latina foram
usados dois aviões para fins de reconhecimento. Em um acidente durante as operações, morreu o Capitão Ricardo
Kirk.
Setembrino enviou um manifesto aos revoltosos no qual garantia a devolução de terras para quem se
entregasse pacificamente. Garantia também, por outro lado, um tratamento hostil e severo para quem resolvesse
continuar em luta contra o governo. Com o passar do tempo, general Fernando Setembrino de Carvalho adotou
uma nova postura de guerra, evitando o combate direto, que era o que os revoltosos esperavam e para o que estavam se
preparando, optando, pelo contrário, por cercar o reduto dos fanáticos com tropas por todos os lados, evitando que
entrassem ou saíssem da região onde estavam. Para isto, o general dividiu seu efetivo em quatro alas com nomes dos
quatro pontos cardeais, norte, sul, leste e oeste e, gradativamente, foi avançando e destruindo qualquer resistência que
encontrasse pelo caminho.
Com esta nova estratégia, rapidamente começou a faltar comida nos acampamentos dos revoltosos. Isto teve
como conseqüência imediata a rendição de dezenas de caboclos. Contudo, a maioria dos que se entregavam eram
velhos, mulheres e crianças - talvez uma contra-estratégia dos fiéis para que sobrasse mais comida aos combatentes
que ficaram para trás e que ainda defenderiam a causa.
Na guerra do Contestado, começa a se destacar – se a figura de Deodato Manuel Ramos, vulgo
"Adeodato", considerado pelos historiadores como o último líder dos Contestadores. Adeodato transfere o núcleo dos
revoltosos para o vale de Santa Maria, que contava ainda com cerca de 5000 homens. Só que aí, à medida que ia
faltando o alimento, Adeodato passa a revelar-se cada vez mais autoritário, não aceitando a rendição. Aos que se
entregavam, aplicava sem dó a pena capital: a morte.
Cerco fechado, sem pressa e deixando os revoltosos nervosos lutarem contra si mesmos, em 8 de Fevereiro de
1915 a ala Sul, comandada pelo tenente-coronel Estillac, chega a Santa Maria. De um lado as forças do governo, bem
armadas, bem alimentadas, de outro, rebeldes também armados, é verdade, mas famintos e sem ânimo para resistir
muito tempo. A luta inicial é intensa e, à noite, o tenente-coronel ordena a retirada, afinal, já contabilizara só no seu
lado 30 mortos e 40 feridos. Novos ataques e recuos ocorreram nos dias seguintes.
Em 28 de Março de 1915,o capitão Tertuliano Potyguara parte da vila de Reinchardt com 710 homens em
direção a Santa Maria, perdendo só em emboscadas durante o trajeto, 24 homens. Depois de vários confrontos, num
deles Maria Rosa, a líder espiritual dos rebeldes, morre às margens do rio Caçador. Em 3 de Abril, as tropas de Estillac
e Potyguara avançam juntas e ordenadas para o assalto final a Santa Maria, onde restavam apenas alguns combatentes
já quase mortos pela fome.
Em 5 de Abril, depois do grande assalto a Santa Maria, o general Estillac registra que "tudo foi destruído,
subindo o número de habitações destruídas a 5000 (...) as mulheres que se bateram como homens foram mortas em
combate (...) o número de jagunços mortos eleva-se a 600. Os redutos de Caçador e de Santa Maria estão extintos. Não
posso garantir que todos os bandidos que infestam o Contestado tenham desaparecido, mas a missão confiada ao
exército está cumprida". Os rebeldes sobreviventes se dispersaram em muitas cidades.
Em dezembro de 1915 o último dos redutos dos revoltosos foi devastado pelas tropas de Setembrino.
Adeodato fugiu, vagando com tropas no seu encalço. Conseguiu, no entanto, escapar de seus perseguidores e, como
foragido, ficou ainda 8 meses escondendo-se pelas matas da região. Mas a fome e o cansaço, além de uma perseguição
sem trégua, fizeram com que Adeodato se rendesse. Encerrava-se então, em agosto de 1916, com a prisão de
Adeodato, a Guerra do Contestado.
Adeodato foi capturado e condenado a 30 anos de prisão. Entretanto, em 1923, 7 anos após ter sido preso,
Adeodato é morto pelo próprio diretor da cadeia numa tentativa de fuga. Na data de 12 de outubro de 1916, os
governadores Filipe Schmidt (de Santa Catarina) e Afonso Camargo (do Paraná) assinaram um acordo e o município
de "Campos de Irani" passou a chamar-se Concórdia.

AUTOR: SANFORD DE VASCONCELLOS


VIDA:Autor catarinense , advogado. O escritor Sanford de Vasconcellos já tinha abordado um dos conflitos
mais importantes do Brasil, no livro O Dragão vermelho, vencedor do prêmio na 1ª Bienal do Livro do Cone
Sul, no ano passado de 2007, em Florianópolis.
"Os que não obedeciam os editais era mortos e tinham suas casas incendiadas", conta Sanford, juiz de direito
aposentado e autor de nove livros. Provavelmente nascida em Joaçaba, Chica Pelega ficou conhecida por liderar o
grupo que liquidou os agentes do Exército Nacional na localidade de Taquaruçu, em Curitibanos. "Ela não tinha medo
de morrer. Ela era o espírito dos injustiçados. Eu peguei a Chica Pelega de propósito, tanto pela sua história trágica
como pela sua reação. Não estava na história dela ser guerreira. Ela foi embrutecida pelas circunstâncias. O livro é
uma trajetória heróica", conta o autor.
Para retratar a história trágica da personagem desconhecida, Aulo Sanford de Vasconcellos conectou a ficção
às informações já conhecidas da história, sejam retratadas em livros ou passadas de geração em geração através
da oralidade. "A Chica é muito mais fruto da minha imaginação. A não ser a parte do Exército, que tem seus
registros, o Contestado foi feito por histórias orais", explica o autor de 64 anos. Apesar da inesgotável fonte de
histórias que a Guerra do Contestado traz para historiadores e ficcionistas, Vasconcellos acredita que a sua
contribuição "como catarinense" se esgotou neste segundo livro dedicado ao tema. "O Contestado é
uma história com material quase inesgotável. É muito rico", diz. Outro personagem que ele considera
injustiçado pelo destino é o capitão do Exército Matos Costa, um dos poucos oficiais, na opinião de Sanford, a
perceber a verdadeira situação social da região e as injustiças praticadas contra os jagunços. O capitão, assassinado por
jagunços, foi relatada por ele em "O Dragão Vermelho do Contestado".
OBRAS:
O Homem da lvfadrugada - romance Carrossel - romance
Cavalo Voa ou Flutua? - romance Ave Selva - romance
Falai Baixo - romance
A Vitrina de Luzbel - romance
O Monólogo de um Deodato Alvim - romance histórico
O Dragão Vermelho do Contestado
- romance histórico

SÍNTESE DA OBRA:
O romance Chica Pelega divide-se em Prólogo e 24 capítulos. No prólogo o autor faz um esboço histórico do
contexto acadêmico e político da época. O narrador apresenta-se como um jornalista aposentado chamado Pedro da
Silva. Inspirado pela leitura do livro de Oswaldo Rodrigues Cabral pensou em escrever um romance, entretanto foi “O
último jagunço” de Euclides J. Felippe que he deu a idéia de traçar a tragetória de Francisca Roberta, a Chica Pelega,
na guerra do contestado.
O sonho da implantação de um império caboclo na região do contestado era o sonho pela terra. Chica Pelega
representa todos os caboclos que perderam a terra nessa luta sangrenta, todos os que sofreram perdas e injustiças. No
ano de 1887 o engenheiro João Teixeira Soares enviou técnicos para realizar trabalhos referentes à linha férrea em
monte, na direção ao Sul. A obra estendia-se desde a Província de São Paulo até Santa Maria da Boca do Monte, na
Província de Rio Grande. Foram dois anos de estudos e com tudo traçado João T. Soares requereu ao Governo
Imperial a concessão para construí-la com a exploração futura e preiteando a cessão de terras dela marginais para
serem colonizadas. João foi atendido e capturou recursos junto aos investidores ingleses e franceses. Ao cabo de cinco
anos a obra estava inacabada e, o governo tinha pressa. Lauro Müller, Ministro da Viação e Obras Públicas,
empenhou-se a entregar a obra a Percival Ferguhar (USA) que assumiu a obra. Em 1910 a obra foi concluída.
A empresa americana criou a Souchean Brazil Lumber Company como sai subsidiária, sob a direção do Mr.
Bishop (Sr. Bicho) que implantou duas gigantes serrarias - Três Barras e Calmon (responsabilidade de Dr. Fino).
Empregaram na obra cerca de 8.000 mil homens arrebanhados nas vielas do Rio de janeiro, Salvador e Recife, a
promessa era de bons salários e iriam mandá- los de volta para as suas cidades. Também trabalharam na ferrovia
alguns homens expulso de suas terras. O engenheiro Finnel organizou um corpo de segurança sob o comando do
Capitão Palhares egresso da polícia do Paraná, reconhecidamente com desumano. Muitos operários ganhavam balas no
bucho em vez de bons salários.
Em 1910 a obra fora concluída e não mais havia necessidade de trabalhadores e os indivíduos recrutados
ficaram rolando, a promessa não foi cumprida. Paralelamente temos a história do surgimento dos três monges, somente
o último vai mencionar a guerra.

I - O capitão Palhares
O capitão Palhares chefiava duzentos pistoleiros que compunham a Força de Segurança da empresa americana
Lamber Company. Era sanguinário, sem qualquer sentimento. Somente o superintendente Dr. Finnel (o Dr.Fino) fazia-
o curvar-se. Venuto Baiano, que havia esfaqueado mortalmente um dos feitores da ferrovia,escapou da justiça do
capitão, logrou-se das bolas de Bocudo e de Dilzo cabeção. Quando Palhares pensava nisso crescia o seu ódio pelos
malfeitos, temia a reação do “Dr. Fino” Entretanto o fugitivo não deixara rastros.

II - Zinho da Chiquinha
Zinho e a Chiquinha sua mulher vieram do Rio Grande e não tinham filhos. Ocuparam uma gleba de terra do
vale do Rio do Peixe. Zinho era um homem trabalhador, bem sucedido, roceiro e negociava excessos da produção
familiar por sal, por pólvora, facão, enxada, pano riscado, couro... Progredia penozamente. Chegou à estrada e Zinho
acreditava que, com ela, tudo iria melhorar. O casal acreditava que um amuleto feito com restos de carvão de uma
fogueira do monge os tinha ajudado na colheita, na fertilidade dos animais de criação e até na gravidez de Chiquinha.
Assim acreditavam. Chiquinha era alegre, trabalhava mesmo na gravidez. O parto ocorreu na lavoura. A filha
Francisca Roberta tinha 3 anos e em 1908 a estrada foi acabada.

III – A última festa da Ninica


A abertura da linha férrea ofereceria aos posseiros a sonhada oportunidade de melhorar a vida. Todos os
moradores prepararam-se para o dia da inauguração da linha férrea. Zinho e a família estavam presentes. Francisca, a
filha, estava com 15 anos. Zico, guapo rebento de Zecão, jovem direito e trabalhador, garboso, bem trajado interessou
por Francisca. Zecão Amaro possuía uma boa gleba situada a duas léguas das terras de Zinho e de Chiquinha.
Era festa na Estação Limeira, o gaiteirio contagiou a todos. Zinho dançou com Chiquinha e Zico agradeceu a
Deus pelo providencial surgimento do gaiteirio porque fascinada dançou com Francisca. Naquela noite, no gapão,
Ninica cansou os pés, ela possuía a idéia fraca, acreditava em tudo, até nos castelos que os “noivos” prometiam.
Ninica era generosa com os futuros consortes, em momentos diferentes era levada para os fundos do depósito
adjacente por um noivo e depois por outro, faziam do pasto um colchão.
Bocudo a levou para o pasto onde aguardavam Caloceno e Dilzo Cabeção, eles a trataram muito mal e Ninica
protestou, gritou e lutou. Uma golfada de sangue afogou-lhe os gritos e ali ficou com os olhos fixados nas estrelas.

IV – Uma habilidade natural


Desde o dia em que Zinho juntara os tições em uma gruta, onde ele e a mulher pernoitram, tudo tinha mudado:
era a interferência do monge. A gravidez de Chiquinha e o progresso da gleba eram por influência do monge, não
havia dúvidas.
Francisca Roberta crescia saudável, cercada de carinho dos pais, ajudava na roça e no trato da criação. Era
analfabeta como o pai e a mãe. Aos 12 anos ganhou um cavalo, tinha um talento especial para cuidar de animais. Via-
se nela uma tendência instintiva no trato das enfermidades
Uma vez, uns cafuzos xucros que moravam nas posses de Zinho pediram ajuda porque tinham uma vaquinha
com cria atravessada, não conseguindo parir. Francisca saltou no lombo de seu cavalo e foi para o local. Viram-na com
os braços enfiados no útero da vaca ajeitando a posição da cria. Nasceu o bezerro e todos observaram as vestes de
Francisca cheia de placenta misturada com sangue, ela sorria feliz. Um tempo depois, outra proeza. Um pinto do
terreiro se debatia, Francisca pediu a faca do tio e fez uma incisão no papo do pinto, era fubá seco. Depois com
costurou o corte e despejou mel silvestre.O pinto sobreviveu.
Francisca sabia lidar com bicheiras, com ferimentos , com moléstias de todo tipo. Também Zecão Amaro pediu
ajuda à Francisca, um cavalo carreiro rolava no pasto com uma espécie de cólica. Chica fez um chá de folhas de
vassourinha, adicionou azeite doce e despejou na goela do cavalo. Zecão ficou agradecido com o resultado. A verdade
é que Francisca tinha uma habilidade natural pra enfermidades em geral.
Houve a inauguração oficial da ferrovia, entretanto Zecão Amaro não foi à inauguração, pois sua mulher
amanheceu doente. Já, Zico foi e lá encontrou Francisca.

V – Planos de casamento
Francisca prometeu à mãe que não iria separar-se dos pais e nem sair das terras onde moravam. Em conversa
com Zico, ela referiu-se com entusiasmo a uma extensão de terra colada à gleba da sua família, pelos fundos, para a
lavoura, as pastagens. Antes de Zico mudar de assunto, ele falou que ao redor das terras do pai dele, também existiam
muitas terras boas a serem trabalhadas. Era onde ele pretendia instalar-se, como já fizera o irmão casado.
A partir daquele momento o relacionamento esfriou. Zico viu seu namoro ameaçado e enchia a namorada de
agrados. Chica adorou um alfinete em metal amarelo, com uma presilha encimado por uma pequena cruz verde que
Zico lhe deu. Zico insistia em morar nas terras do pai, entretanto Francisca guardava em si o seu projeto pessoal.
Até que em setembro de 1911, Zico entregou os pontos e aceitou trabalhar na gleba da família da namorada. O
casamento ficou marcado para novembro.
Havia rumores que a Lumber estava expulsando algumas famílias mais ao norte. Zico não temia porque ele
estava ali desde 1875, quando ainda nem se cogitava a linha férrea.

VI – Gentlemen, these Lands are Ours


Os homens de Palhares chefiados por Bocudo se puseram a caminho para limpar os posseiros daquela área.
Bocudo trazia na mente a figura de Chica, a moça da Estação Limeira. Por isso ele ajeitou para que fosse destinado
para aquela gleba. Os homens roubaram tudo o que era de valor, incendiaram o paiol, a roça, arrecadaram os animais e
queimaram a casa. Zinho jazia junto à soleira.
Bocudo inconformado comentava o azar de não ter encontrado a moça. Havia pressa da Lumber em expulsar
as famílias daquelas áreas marginais. Capitão Palhares era duro, já que, aqueles intrusos xucros não aceitavam
desocupar pacificamente. Para convencer teimosos somente a força e o “Dr. Fino” reconhecia o esforço de Palhares.
Bocudo, Dilzo Cabeção e Caloceno seguiram na incursão. Bocudo não tirava a potranca da Cabeça. Francisca
e a mãe, naquela tarde, estavam embrenhadas numa mata virgem, terras que seriam do futuro casal. Ao voltarem,
Chiquinha foi quem viu uma coluna de fumaça. Mãe e filha olharam aquele quadro, era um horror: Zinho com o crânio
afundado, com os miolos a empastar-lhe parcialmente os cabelos grisalhos.
No sitio de Zecão Amaro outro bando não deixou escapar ninguém. Zecão tinha duas horas para ele e a família
abandonar o local. Zecão afrontou os homens e levou um tiro no peito. Todos morreram: Zico, os dois irmãos, a mãe
de Zico e inclusive a mulher do mais velho que estava grávida. Até os cachorros. Era essa a justiça na região do
contestado.

VII – O senhor Bom Jesus de Taquaruçu


Em 1912 no Faxinal dos Padilha em Campos Novos, surge um notável curandeiro vindo dos lados de Irani,
José Maria. Além de curar, benzia, abençoava, identificava-se com o saudoso Monge João Maria. Para os sertanejos
era o próprio Monge ressuscitado, que em missão divina iria resgatá-los daquela vida miserável. Francisca Roberta
envelhecera, perdera a alegria e o viço da juventude. Mãe e filha ficaram marcadas pela tragédia, elas mesmas
enterraram os corpos. Francisca liderava um grupo que rumou para Taquaruçu.

VIII – O régulo contrariado


Franciso Albuquerque era o chefe absoluto em Curitibanos apoiado pelo governador Vidal Ramos, seu amigo e
compadre. Transformara-se também no mais sólido comerciante da região.
Depois da morte do ex - Superintendente Henrique de Almeida, Francisco ofereceu para Henriquinho, filho do
antigo líder, a presidência do Conselho Municipal. Torna-se Francisco o líder absoluto do lugar.
Henrique Rupp Júnior era um moço cheio de livros, bacharel petulante chegou falando de alternância de poder
a Henriquinho. O Superintendente percebeu que tinha sido ele que estimulou e convenceu Henriquinho a fazer-lhe
uma acirrada oposição. Assim o adversário passou a ajudar os monarquistas isntalados nas terras do bodegueiro
Praxedes em Taquaruçu. Francisco decidiu chamar o monge a sua presença, queria ter uma conversa séria com o
milagreiro. O Monge disse que a distância era a mesma. Francisco ficou furioso. Desejou as orelhas de todos. Decidiu
pedir ajuda ao compadre governador.

IX – Chica pelega
Chica e seu grupo chegaram em Taquaruçu exaustos e com fome. Recebem comida de graça e depois
conseguem abrigo em um alojamento coletivo.
Em 6 de agosto de 1912, dia de celebração ao culto do Bom Jesus em Taquaruçu. O bodegueiro Praxedes
Gomes Damasceno, O Xandoca, dono das terras, trazia sal, açúcar mascavo, as gasosas,as bebidas fortes e ainda
prendas para o rodeio.
Elegia-se um Imperador-festeiro, estouravam fogos de artifícios e estampidos de 44 tocavam sobre Monarquia
e República. O Monge pregava em nome dos despossuídos. Em meio à pregação Chiquinho de Almeida presenteou o
Monge José Maria com uma espada de Coronel da Guarda Nacional.
Francisca e a mãe juntaram-se aos fiéis para receber a benção do Monge. Francisca observou uma menina de
branco com flores no cabelo, imóvel diante da cruz. Aparentava 14 anos, seus olhos se cruzaram. Era Maria Rosa. Os
dias sob a liderança do Monge seguiram-se e Francisca tratava os doentes com dedicação. Um dia, como
agradecimento, ganhou um cavalo de um estancieiro.

X – A obediente retirada de Tiquaruçu


A concentração mística de Taquaruçu aumentava e a preocupação do Superintendente Albuquerque em
dissolvê-la também. Henriquinho de Almeida instigava e fortalecia o movimento com o intuito de beneficiar-se
politicamente com a desordem.
Cirino Chato, emissário eventual do Chefe de Polícia, foi encarregado de avisar aos caboclos que deveriam
desmanchar o acampamento e debandarem. Para surpresa de todos o Monge aceitou pacificamente. Levantariam
acampamento. Chica Pelega frente aos desvalidos e mais uma vez sem destino acabou retornando para os lados da sua
saudosa Estação Limeira.

XI – A gleba ocupada
Chica Pelega nem completara 18 anos e embrutecera, perdendo a capacidade de sonhar. Tinha pena da mãe e
dedicava-se a ela e aos enfermos. À volta a Estação Limeira foi decepcionante, a caboclada continuava sendo enxotada
pelos homens de Palhares. Sofriam restrições até para comprar nos armazéns. As terras do vale eram destinadas pela
Lumber aos estrangeiros.
Chica foi até o sítio que era de sua família e revoltou-se ao ver que tinha sido ocupado por outra família. Ela
viu perto do paiol um menino louro e apesar da aparência de Chica, o menino sorriu-lhe.
A guerreira enterneceu-se, lembrou da família e de Zico. Malditos eram os donos da estrada de ferro, não
aquela gente. Chica pegou na roupinha da criança um alfinete com uma pequena cruz de metal. Surpreendida pelo pai
da criança, a moça entrou na floresta indo encontrar- se com seu grupo. Rumaram para o oeste.

XII-O vexame oficial no heróico chã de Irani.


O monge recebera a ordem de expulsão, datada de 20-10-1912, escrita a lápis num reles papelucho, era do Cel.
Gualberto oficial do.Exército Brasileiro comissionado Comandante Geral do.Regimento de Segurança do Paraná. O
profeta já estava farto, enxotaram-no de Taquaruçu, agora de Irani. Ele pagava tudo o que comprava, não devia nada
para ninguém, não entendia o porquê da perseguirão. Ainda o Coronel escrever-lhe um bilhete a lápis, num reles
papelucho?!Nesse bilhete o dito oficial intimava-o a comparecer perante ele, sob pena de atacar de rijo o
acampamento. O monge decidiu abandonar Irani, somente precisa de um tempo.
Cel. João Gualberto, ali estava para castigar os invasores catarinenses em terras do Paraná. Porque aquilo
nada mais era do que preconcebida invasão do Paraná por gente de Santa Catarina, estando na raiz daquele
proposital procedimento o litígio judicial tendo por objeto o estabelecimento da fronteira interestadual. Por isso
encontrava – se ele, o Comandante Geral em pessoa no Faxinal do Irani. Para agir exemplarmente, e não para
conversar acerca da concessão de prazos.
O Dr. Manoel Cavalcanti, Chefe de Polícia do Paraná, declarou- se favorável ao entendimento pacífico, o
fogoso e valente militar não cedeu. Nada de tratativas, nada de prazos. Cel. João Gualberto, ali estava para castigar os
invasores catarinenses em terras do Paraná. Porque aquilo nada mais era do que preconcebida invasão do Paraná. E
atacou de surpresa, na madrugada do dia 22. Foi uma vergonha. Os caçadores, viraram a caça.
Uns duzentos sertanejos, parecendo mil alucinados lacedemônios, atiraram-se de todos os lados sobre a
formação militar. Empunhavam espetos, porretes, \e manejavam com espantosa fúria os seus facões paraguaios.
Alevantados, na fé e no furor. Tudo isso aliado a uma gritaria infernal, "Viva São Sebastião!", "Viva a Monarquia!".
Cresciam os sertanejos na refrega, com o tapejara Miguel Fragoso destacando-se em bravura. O profeta conservara-
se de pé, imperturbável, com as faces e os braços voltados para o céu.Os soldados debandaram e a metralhadora
emudeceu. Fala-se que na véspera, por descuido do cabo, a terrível matraca submergira nas águas lodosas de um
riacho. O Cel. João Gualberto procurou pelo seu cavalo e um seu subordinado dele se apossara.O Coronel já sem bala,
arrancou da espada. Golpeou dois, três inimigos. Ferido, esvaindo – se em sangue por sucessivas estocadas, continuou
se batendo, até que tombou de vez.
Do seu lado o monge José Maria, vitimado pela derradeira bala do Coronel, já havia tombado antes.Morreu o
Cel. João Gualberto uma morte definitiva.Porém o monge morreu uma morte temporária.Prometeu ressuscitar.
Cavaram-lhe uma cova rasa para facilitar-lhe a ressurreição. Houve quem jurasse tê-lo visto, em gloriosa cavalgada
ascendente.

X I I I- Os abomináveis corós de Jerônimo


Ricas em proteínas são as larvas. Variam elas de tamanho, conforme a dieta e a espécie. As desenvolvidas em
paus podres têm em regra o corpo gordo, mole, alongado, esbranquiçado, e uma cabeça escura, diminuta, dura como
ariete, capaz de perfurar as fibras do mais resistente lenho. São os corós. Chica Pelega e o seu grupo alimentaram-se
de corós. Tudo por extrema necessidade. Jerônimo atribuía ao mestiço Zé Biriva a culpa pelo azarão. Depois do
sangrento entrevero no Irani. Chica pelega vira – se impulsionada a retirar-se com seu grupo para outros lugares. São
João Maria, São José Maria, São Sebastião os amparava. Veio o 1913 e com ele um inverno rigoroso. Era O frio e era a
fome.
Zé Biriva, o mestiço capenga, conservava-se isolado, era indiferente apesar de Jerônimo considerá-lo um
azarento.
Chica Pelega tinha cheiro de folha e de terra. Nela deviam se espelhar. Forte como a natureza ela era irmã da
terra e irmã das águas. Nascera sobre a terra bruta, banhara-se no rio. Chica tratava os enfermos. Todos esperavam o
sinal. Ele veio. O santo mandou todos de volta para Taquaruçu.Foi Teodora, a neta do velho Euzébio, que vira
materializar- se o monge José Maria.Este repetiu três vezes que era hora de começar a Guerra Santa de São Sebastião,
era a hora de instaurar a Monarquia a partir de Taquaruçu. E todos puseram – se a seguir Chica.

XIV – Zé Biriva, o homem do laço e do raio.


Zé Biriva laçou o animal com presteza. Jerônimo sentia –se um tanto envergonhado. Enquanto carneava a rês
Jerônimo enchia Zé de elogios. Agora, Jeônimo apenas lembrava da irmã gêmea, a Ninica, esta era retardada. Ninica
fora procurar Jerônimo na inauguração da ferrovia e Bocudo e seus homens fizeram perversidade com ela. Zé Biriva
economizava palavras. Mestiço de guarani, era de pouco assunto, reservado, varava as trilhas sem deixar rastro e
nunca esquentara lugar.Depois da captura da rês, Jerônimo simpatizou –se com Zé e não mais se desgarrou dele.

XV – Não eram óculos


O Superintendente não aceitava aquela ousadia do chamado Henrique Rupp Júnior, bacharel, nascido em
Campos Novos, o perfumado moço e Ainda encheu a cabeça do Henriquinho de Almeida levando-o para uma oposição
ferrenha. O Superintendente Albuquerque não escondia o seu rancor. Chegou a pensar em dar fim a ambos, e só não o
fez porque, devido à importância dos dois protagonistas, acabaria causando uma desaconselhável comoção política de
imprevisíveis conseqüências.
Os caboclos tinham se instalados nas terras do posseiro Francisco Paes de Farias, conhecido por Chico Ventu-
ra, outro grande criador de casos. E, desta feita, eram muitos. Um arraial composto de 400 ranchos. Falecera o Monge
no Irani. Mas aquela gente por ele fanatizada, nesse retomo a Taquaruçu, agora falava abertamente na implantação
da Monarquia. Estava em jogo não somente a sua autoridade de chefe político. Na sua interpretação estava em jogo,
inclusive, a sobrevivência da própria República. O reduto dos fanáticos monarquistas ganhava a cada momento
novos reforços, e na sua ótica o perigo mostrava-se iminente. Aquele Praxedes Damasceno, o bodegueiro de
Taquaruçu, por certo andava fazendo jogo duplo. Da outra vez, ao tempo do primeiro ajuntamento, aliás erguido nas
suas terras, ele não escondia as simpatias pessoais pelo Monge.
A luta dos da caboclada possuía uma conotação religiosa de mística própria, cuja fé repousa va na santidade
dos monges João Maria, os Antigos, e na de José Maria, o Ressuscitado, todos prováveis versões de São Sebastião Por
isso fracassara a tentativa do frei Rogério Neuhaus quando procurou os líderes sertanejos, entrando em pessoa no
próprio arraial, procurando persuadi-los a dissolverem o reduto.
O Superintendente decidiu pedir ajuda ao Governador Vidal Ramos para acabar com os insurretos. O Cel.
Albuquerque, na véspera, havia encarregado o tapejara Neném do Rio, um dos seus fiéis cacundeiros, de recrutar um
punhado de bem dispostos caboclos para reforçar a defesa urbana.
Quando Neném chegou acompanhado acompanhado por oito elementos. O Superintendente a distância
vislumbrou, ao lado dele, um fulano atarracado usando o que lhe pareceram ser óculos cor-de-rosa. Era no Elnestino
do lado de Campo Belo, homem de trato bruto, atarracado, um ar desconfiado e selvagem. E não usava óculos. O que
possuía eram enormes olhos bovinos, esbugalhados, que por desconhecida doença, ou por excesso de aguardente,
raiavam-se de profusos capilares sangüíneos.
Agora, deitado, o Superintendente refletia sobre as vantagens e os aborrecimentos inerentes ao poder. O
poder, pelo poder em si, nada significava. A questão era saber exercê-lo. Prever, administrar com astúcia, conhecer o
momento certo de recuar, de avançar, e até o de transigir. Já se disse, com razão, ser a política a arte do diabo, em
permanente fervura, não dando para ficar um único segundo desatento. Contentar o povo, atender correligionários,
lidar com a oposição... É jogo pesado, com linguagem própria. Vácuo de poder não existe. E a posição de chefe é
sempre muito complicada, por ser o alvo constante de todos. Os adversários desejam o seu lugar. Mas não só os
adversários. Pois, pior que isso, também o cobiçam os próprios correligionários, bastando facilitar. Deitado, o Cel.
Albuquerque meditava sobre todas essas coisas. Até mesmo os seus pequenos deslizes de infidelidade conjugal.

XVI - Dinamiza-se o Arraial de Taquaruçu


O próprio monge José Maria, por intermédio do sensitivo Manoel, fora quem orientara sobre as disposições de
tudo o que ali em Itaquaruçu - o traçado do Quadro Santo, a implantação da Forma, a disposição dos armamentos, a
formação dos Pares de França, a instituição dos piquetes, os princípios referentes às rígidas regras de conduta moral a
serem obedecidas, a reserva de uma área lateral para o adestramento nas armas.
Virgem Teodora. Uma criança, neta do velho Euzébio. Depois daquele seu primeiro contato com o
Ressuscitado, em Perdiz Grande, e de mais alguns ligeiros contatos posteriores, viu ela extinguir-se a sua çapacidade
de mediação espiritual. "Perdeu o aço", segundo foi explicado pelos entendidos, sendo substituída, nessa função
mediúnica, pelo Menino de Deus Manoel. Filho, por coincidência, do mesmo velho Euzébio. Foi através de Manoel
que O Monge determinou o retorno do povo sertanejo para Taquaruçu.
Zé Biriva revelou-se um elemento indispensável na captura das reses cavalgando em campo, e alçando o seu
laço, jamais errava um par de chifres. Jerônimo, o açougueiro e o laçador tornaram – se amigos. Zé Biriva flagrara
Jerônimo visitando um casebre que ficava atrás do galpão e só depois soube que era por causa de um menino que
babava e ria. Um menino que, de certa forma, lembrava a irmã de Jerônimo.
Chica Pelega mais uma vez ganhou pronto destaque nos trabalhos do arraial. Voltou a cuidar de doentes,
cerzia, ajudava a erguer casebres, puxava na Forma salmos e orações, aprestava-se na charqueada, coadjuvada em
tudo pela sua mãe. Essa sua atividade febril, já conhecida de Chico Ventura, rendeu-lhe também, declaradamente, as
simpatias do velho Euzébio, e ambos costumavam apontá-la como um bom exemplo a ser seguido. Em
reconhecimento ao mérito presenteou a, desta vez o próprio Chico Ventura, com um cavalo de boa linhagem
campeira, ágil de pernas e sensível ao comando, significando um gesto de inegável distinção. "Era cavalo do meu
uso", falou-lhe o doador, tropeiro de profissão, com esse aval garantindo-lhe a linhagem e valorizando a dádiva.
Como mulher, era enfermeira. Na guerra de São Sebastião, seria um soldado, como os outros. Sem medo. Secundário
era para ela a diferença do sexo, há muito deixara de ocupar-se com semelhante assunto. Até da particular vaidade
feminina ela se desprendera.

XVII - Uma ameaça de castração


Naquela data de 8 de dezembro de 1913 estava Guilherme, um dos filhos de Chico Ventura, tosando o cabelo
de alguns devotos alinhados em fila, cada qual aguardando a sua vez, quando entrou no arraial frei Rogério Neuhaus
na companhia do bodegueiro Praxedes Damasceno - o Xandoca - e de Cirino Chato, sendo este último o tal que já,
antes, servira de emissário do Chefe de Polícia, Dr. Sálvio Gonzaga, quando foram os sertanejos compelidos, no ano
anterior, a abandonar Taquaruçu. Frei Rogério, piedoso franciscano de origem alemã, com a sua inusitada visita,
propunha-se a persuadir os sertanejos a dissolverem aquela temerária concentração.
Assim que chegou no arraial, solicitara imediata audiência com o velho Euzébio, entretanto a decisão não era
dele.Frei Rogério, paciente, foi então entender-se com o Manoel, dito Menino de Deus. Não se sabia de nenhum frade
que se tivesse insurgido, sequer vagamente, contra os freqüentes esbulhos no sertão, contra a opressão dos caboclos
pelos fazendeiros ligados ao governo republicano, contra os assassinatos de famílias inteiras a mando dos estrangeiros.
- Cachorro! T’arreda daqui, corvo mardito! Ou eu mando te espancá!
Foi como reagiu, furioso, depois de ouvir o frei, o Menino de Deus Manoel, Comandante Geral do arraial,
filho do Euzébio. Querubina, a mãe de Manoel, queria a sua castração. Desejava, essa desumana senhora, cortar-lhe o
membro viril. Desejava decepar-lhe os escolhões

XVIII – Emprenhou, foi trocado e apanhou.


O Menino de Deus deixou de ser Manoel, no singular, sendo agora Manoel e as virgens, no plural. Xucras
eram as mulheres da comunidade. Xucras, sim. Eram umas ignorantes completas. Cegas, porém, certamente não eram.
E enxergaram que as virgens de branco começavam a criar barriga. Sempre haviam considerado o Menino de Deus
Joaquim um moço puro, até o chamavam de donzelo. Mas ele as estava emprenhando, estava sim. Então se eriçaram
indignadas porque o donzelo não agia como devia agir um donzelo. E daí cresceram os seus arrenegados clamores, em
ondas fartas. Aquilo não estava correto.
E, de boca em boca, foi-se avolumando o clima de irrefreável escândalo. Até Dona Querubina, a matriarca,
viu-se forçada a reconhecer o péssimo comportamento do filho. O seu rapaz de fato não correspondera à confiança
nele depositada. Chamou-o em particular, ao suposto donzelo, e o repreendeu durissimamente. Se ao menos tivesse ele
sido mais discreto! Nem foi só uma, o libidinoso emprenhou todas! Excesso de "aço", talvez. Diante do clamor e do
repúdio coletivo, não havia como conservá-lo no alto posto. Insustentável tornou-se a sua posição. Sem moral, perdera
a autoridade. Recebeu portanto a comunidade, de muito bom grado, a notícia da sua destituição do comando. Sequer o
estimava. Contudo, não saiu impune. Não mesmo. Antes do seu expurgo, condenou-o o novo Menino de Deus ao
suplício da vara de marmelo. Manoel, o tarado. O atleta do sexo. Despiram-no das camisas e desceram-lhe nas costelas
nuas as vergastadas prescritas. Só depois o enxotaram.
Substituído foi então por Joaquim, o novo Menino de Deus. Neto, coincidentemente, do mesmo velho
Euzébio e de d. Querubina. Preparavam-se os guerreiros xucros para o feroz entrevero. Afiavam-se os facões,
apontavam-se os espetos, besuntavam-se com sebo o cano das poucas espingardas e dos trabucos disponíveis.
XIX - Um local de florzinhas silvestres
Ali, pelo tempo da bela estação, desabrochavam profusas florzinhas silvestres, rasteiras, diferentes na forma e
na cor; onde abelhas nativas e outros insetos abasteciam-se de néctar, entrecruzando-se como flechinhas cintilando ao
sol. Um lugar calmo e isolado, próprio para meditações. O homem de olhos sanguinolentos, o Ernestino avançava a
frente dos soldados vindos de Curitibanos. A coluna era comandada pelo Capitão Adalberto Menezes, dispunha de
metralhadora. Queriam pegar os insurretos de surpresa

XX – Viram chispas de raio e sangue no chão


Surgiram do nada, audazes arremessavam – se os caboclos contra os soldados e baixavam o porrete e os seus
facões. Era uma emboscada e alguns ameaçaram fugir. Um toque de clarim evitou a dispersão e voltaram a lutar.
Metralhadora e fuzis contra tacapes, espetos e facões. Eusébio tombou. E nesse momento ouviu – se um grito
selvagem, estridente. Era Chica Pelega, a brava filha da floreta, lançando o seu feroz grito de guerra. Os soldados
estremeceram. Excitada, cabelos presos, salpicada de sangue da cabeça aos pés gritava: viva a Monarquia!Viva São
Sebastião! Chica Pelega, mulher centauro, a imagem de todas as fúrias, trágico produto da injustiça, destemida,
distribuindo faconaços por entre balas. No pêlo do seu cavalo, brava guerreira de São Sebastião, atropelou a todos.
A metralhadora silenciara,os soldados dispersaram. Zé Biriva galopando na cola de Chica, havia atirado o seu
laço certeiro sobre a temível metralhadora e saiu a arrastá-la atrás de si. Decidira – se a peleja. Semelhante à Irani, só
que mais significativa. As forças do governo viram – se novamente batidas pelos guerreiros de São Sebastião.
Prevalecia a força espiritual do monge.

XXI - Desapareceram Jerônimo e Zé Biriva da cidade Santa.


Desapareceram Jerônimo e Zé Biriva da Cidade Santa. Os caboclos obtiveram vitória em Irani e em
Taquaruçu. No arraial todos festejavam e brindavam Chica Pelega, já que ela conduzira a vitória. Chica chegou na
retaguarda do inimigo e golpeou todos que vinha pela frente. Todos comemoram, entretanto Chica optara pelo
isolamento. Os seus pensamentos vagavam na família, na infância, nas terras que perderam. Chica envelhecera, era só
violência. Chica preocupa-se somente com os feridos, preparava salmouras, aferventava ervas. Nessa altura Jerônimo
e Zé já eram amigos inseparáveis, apenas separavam-se na hora das tarefas. Uma semana depois do embate sumiram
sem dar avisos.

XXII – A sumária do coronel


O coronel Alburquerque reclamava da demora do exército em enviar tropas para reprimir os fanáticos. O cel.
Tinha informações sobre o ingresso de armas de fogo no reduto além de importantes adesões à causa monrquista. Os
soldados apreenderam armas e munições que haviam sido despachadas pela casa Hoepke, de Florianópolis, por
encomenda de Prazedes Damasceno “Xandoca”, o bodegueiro de Taquaruçu. O bodegueiro não estava na hora da
apeensão. Entretando o coronel nem precisou madar soldados no seu encalço, porque Praxedes foi procurá-lo em
Curitibanos. O homem vinha armado e furioso, foi reclamar sobre a mercadoria, queria de volta. Enquanto se dirigia
ao coronel Praxedes preparava o discurso: todo o comerciante da região, tinha armas para vender como a farinha,
como o sal, como a pólvora, como o tecido. Afirmava o bodegueiro que seu comercio não estava condicionado à
freguesia do arraial. Já sabendo da chegada do comerciante Alburquerque foi recebê-lo no portão. Diferentes versões
foram contadas e em qualquer delas o Xandoca não escapou e mesmo ferido foi jogado na prisão e submetido a um
interrogatório.No dia sewguinte Praxedes amanheceu morto. O Cel. No desejo de destruir os insurrectos, ironicamente.
Acabou por reforçar – lhes as fileiras, porque o bodegueiro tinha muitos amigos, compadres, afilhados e prestígio.
Diante da vitória dos guerreiros de São Sebastião o régulo de Curitibanos sentiu – se acuado. Assim cobrava
inistentemente do Governador Vidal Ramos providências contra aqueles fanáticos. O governo replublicano, no início
de fevereiro de 12914, decidiu atacar e concentrou – se no Esquilho 750 homens sob o comando do Tenente coronel
Aleluia Pires, porém os líderes sertanejos tinham informações sobre o deslocamento dessas tropas.
Os caboclos, segundo orientações do Menino de Deus Joaquim, deveriam abandonar o reduto de Taquaruçu.
Devendo seguir todos os guerreiros para Caraguatá, onde uma jovem, líder espiritual, fortemente mística, Maria Rosa,
comandava o reduto.
Chica lembrou-se daquela menina solitária, enigmática, em silêncio, parada em frente à cruz, no dia das
festividades do Senhor Bom Jesus. Os olhos de Rosa eram escuros e penetrantes.
No arraial permaneceram apenas os velhos, os enfermos e as mulheres com crianças. E também Antônio
Linhares, um negro gigante, já grisalho. Constatada a retirada, os jagunços, os soldados não iriam arriscar-se selva
adentro com canhões e metralhadoras. Chica Pelega também permaneceu em Taquaruçu com a mãe e os enfermos.

XXIII – A seqüestrada
Os jagunços andavam a passos lentos e em um final de tarde avistaram as antigas casas dos trabalhadores da
ferrovia. Terminada a obra, os núcleos habitacionais forma esvaziados. Os desabrigados não ousavam ocupara aquelas
casas senão pagariam caro o atrevimento. Algumas casas ainda continuavam em pé e em uma delas havia uma vida
clandestina, percebia – se uma claridade. De fato uma adolescente fora enclausurada por Bocudo, há duas semanas. A
família dela fora destruídas pelos homens de Palhares, Bocudo a ganhou em uma disputa. Tremia de medo, não tinha
como fugir, eles a perseguiriam. Bocudo lá fora bebia feliz, não podia queixar – se da vida. Tinha poder e era
respeitado, até o Capitão o elogiara. Pensava na potranquinha, ele adorava vê-la assustada. Ritinha acuada ouvia o
cavalo aproximar – se e sentia o corpo tremular.
Um laço atirado das sombras arrancou Bocudo de seu cavalo e arrastou – pelo chão. Na medida em que o
corpo ia sendo arrastado, ouvia- se os urros que foram diminuindo. Um ou outro cavaleiro aproximou – se de Bocudo
e , despiu o moribundo, atalhou- se as mãos e os pés e iniciou um percurso pelas partes reprodutoras. A criatura
castrada urrava. Ritinha ouvira os grunidos e conseguira perceber que era de Bocudo. Sem raciocinar forçou a janela e
saltou livre avançando pela picada do mato, mas foi vista. Os dois cavaleiros e perguntaram se ela era a que estava na
casa. Os três rumaram para Caranguatá.

XIV - O massacre de Taquaruçu


O pacifista o Deputado Correia de Freitas procurou entender-se com os líderes de Taquaruçu. Mas ao ingressar
no reduto deu com ele já esvaziado, ali encontrando apenas mulheres, crianças, e enfermos sob a liderança espiritual
de AntônioLinhares, um negro colossal, ao qual faltavam contudo as credenciais para negociar em nome da
comunidade de São Sebastião.
Chica Pelega cuidava dos seus doentes, e atendia a todos os infelizes que lhe solicitavam a ajuda. Ninguém,
ali, ignorava a concentração das tropas militares no Espinilho, local próximo a Taquaruçu. Mas certamente, diante das
novas circunstâncias, jamais as tropas iriam atacar. Ali não havia mais guerreiros. Só crianças. Só enfermos. Só
mulheres. E também velhos inválidos.
Chica Pelega nascera para ajudar, para servir, para curar. Jamais para matar. Era forte e decidida, filha da
natureza, irmã da floresta, cuidava da vida, por isso ela ajudava e curava. Homens e animais. Árvores, homens,ani-
mais. Matar, só por extrema necessidade da vida. Chica emanava energia indômita, era grito de cada manhã, era brado
da natureza. Ela é plural. Ali estava a sua mãe, ao pé de si. Com uma cara de mil dores e os cabelos de algodão. Só
tinham uma à outra.
Capo Vieira da Rosa, um legalista completo, tido por incorruptível, e cuja fama de soldado feito de pedra já o precedia.
Para Vieira da Rosa, bandidos e arruaceiros só eram bons quando enterrados.
Não houve a menor dificuldade para as tropas avançarem e garantirem as posições ofensivas. Iniciou-se o
massacre. A capela rachou-se ao meio, e a grande cruz a ela defronte se partiu por metade. Os casebres, o galpão, eram
tudo alvejado sem erro. Fazia-se ensurdecedor o bombardeio, misturando-se ao crescente pipocar dos trovões,
suplantando-o inclusive. Não encontravam os moradores onde se abrigar, os seus frágeis casebres nada protegiam,
destroçado foi o galpão em pouco tempo. Desorientados corriam todos, perdidos. Monitoradas pelas mulheres, as
crianças iam riscando cruzes no ar com as suas bandeirolas. E iam caindo, uma a uma, varadas pelas incessantes
rajadas de balas.
E nada de José Maria, o Ressuscitado. Mas ele estava lá. E vivo como sempre esteve, nenhum caboclo
duvidava disso. E todos eles ali foram tombando, um a um, nutridos dessa esperança. Chica Pelega estendia-se no lodo
com o corpo crivado de balas.
A chacina aconteceu completa, deixando à mostra um cenário horripilante. Espalhavam-se os corpos por todos
os cantos, a maior parte deles completamente mutilados. Viam-se cadáveres sem o rosto, e descobriam-se membros
separados do tronco para onde quer que se olhasse - aqui uma perna, ali um braço, esparramando-se esses pedaços
humanos, como macabros testemunhos, pelo chão enlameado do arraial.
A mãe de Chica Pelega sentada na lama com a ensangüentada cabeça da filha no colo. Alisava-lhe a cabeça e
cantava com doçura, indiferente aos estouros dos obuses, a sua velha canção de ninar. Embalava cadenciadamente o
corpo e cantava, cantava sim, enfeitando o sono da sua menina. Um novo clarão iluminou-lhe o rosto crivado de rugas
e os cabelos desgrenhados, brancos como o algodão. Enlouquecera, em piedosa loucura, agarrada ao cadáver da filha.

PERSONAGENS
Cel. João Gualberto – o objetivo era castigar os invasores catarinenses em terras do Paraná. Porque aquilo nada mais
era do que preconcebida invasão do Paraná por gente de Santa Catarina, estando na raiz daquele proposital
procedimento o litígio judicial tendo por objeto o estabelecimento da fronteira interestadual. Era o Comandante Geral
em pessoa no Faxinal do Irani. Não admitia concessão de prazos.
Capitão Palhares – homem violento que venerava o Superintendente Sr. Finnel que chefiava a Força de Segurança da
empresa americana Lumber Company. Homem sem sentimento.
Zinho da Chiquinha – homem trabalhador, bem sucedido, roceiro, bom negociante - pai de Francisca Roberta.
Chiquinha - olho torto, sempre alegre, era uma máquina de risonha, trabalhou até na gravidez - mãe de Francisca
Roberta.
Zico – rapaz direito e trabalhador, tinha calos nas mãos, filho de Zecão Amaro, encantou-se por Francisca.
Francisca Roberta – Chica Pelega - cabelos ondulados, olhos castanhos brilhantes, alta, tinha uma habilidade natural
para lidar com animais, ficou noiva de Zico, que morreu.
Bocudo – parceiro de Dilzo Cabeção interessou-se por Francisca quando a viu dançando com Zico na inauguração da
ferrovia.
Ninica – gêmea do Jerônimo, alegre, tola, desmiolada. Foi estuprada por vários homens. Bocudo e os amigos
violentaram-na, ela lutou e morreu.
Zecão Amaro - pai de Zico, morto junto com a família pelo bando do Capitão Palhares.
Juca Ruivo – tabelião de profissão servil por natureza.
Francisco Albuquerque - Superintendente de curitibanos, orgulhava-se do seu sucesso pessoal na carreira política.
Tinha atuado em favor dos maragatos, quando ajudara as falanges guerreiras, federalistas, do Cisplatino Gumercindo
Saraiva. Foi sempre um lutador militante, estabeleceu-se em Curitibanos, de início com um pequeno comércio, logo
passou a fazer oposição política ao fazendeiro Henrique de Almeida, o então Superintendente de Curitibanos. Na
segunda tentativa venceu as eleições para a superintendência apoiado por Vidal Ramos, governador do Estado. Diziam
ter o hábito de colecionar as orelhas de seus desafetos.
Praxedes Gomes Damasceno – O Xandoca – dono das terrras onde realizavam a festa do Bom Jesus (Taquaruçu),
bodegueiro, diziam que ele simpatizava com o monge. Apreenderam um carregamento de armas que vinha para
Xandoca. Este foi reclamar junto ao coronel, levou um tiro e no dia seguinte morreu na cadeia.
Benevenuto luno – Venuto Baiano - Era um robusto mulato de gengivas roxas e tez clara, daquela alvura opaca
própria da mestiçagem, com a cara servida por olhos maus e narinas largas guarnecendo- lhe o casco da cabeça um
compacto tapete de cabelos enroscados. Homem de gestos rápidos, emocionalmente instável, mudava
inexplicavelmente de humor numa fração de instantes. Era extremamente corajoso, sem dúvida, porém imprevisível.
De índole claramente insubmissa, comprazia-se contudo em impor aos outra conduta disciplinada. Destacou-se logo
um bom instrutor, sendo bastante entendido do manejo das armas, tanto as brancas quanto as de fogo.
Manuel Alves – O Manecão- imperador festeiro na festa do Bom Jesus.
Eusébio Ferreira dos Santos- pai dos meninos (Manoel, Joaquim) e da neta (Teodora) responsáveis pelas mensagens
do monge
Chico ventura - tropeiro Francisco Paes de Farias, conhecido por Chico Ventura, outro grande criador de casos.
Henriquinho de Almeida – filho do Ex- Superintendente de Curitibanos,o fazendeiro Henrique de Almeida, a quem
Francisco de Albuquerque fazia uma acirrada oposição.
Manoel – ex- o Menino de Deus ,entretanto engravidou as virgens e apanhou e foi deposto, foi expulso da cidade
Santa.
Zé Biriva –mestiço de guarani, criatura de pouco assunto, reservado, revelou-se um elemento indispensável na captura
das reses cavalgando, e alçando o seu laço, jamais errava um par de chifres. Jerônimo, o açougueiro e o laçador
tornaram – se amigos.
Joaquim –também era filho de Eusébio e Querubina, substituiu Manoel, com a idade de 16 anos, o novo sensitivo
recebia agora as mensagens espirituais do Monge.
Teodora. Uma criança, neta do velho Euzébio. Teve um contato com o Ressuscitado, em Perdiz Grande, e mais alguns
ligeiros contatos posteriores, e perdeu a capacidade de mediação espiritual. "Perdeu o aço", segundo foi explicado
pelos entendidos, sendo substituída, pelo Menino de Deus Manoel. Filho, por coincidência,
Jerônimo – sabia carnear rês com destreza, tinha uma irmã gêmea retardada, a Ninica. Esta foi morta por Bocudo e
seus companheiros.
Neném do Rio - tapejara um dos seus fiéis cacundeiros,
Henrique Rupp Júnior - nascido ,em Campos Novos, o perfumado moço, estudara em Porto Alegre e se formara
bacharel.Aproximou – se de Henriquinho e falava da necessidade de alternância de poder.
Maria Rosa, - uma jovem com 15 anos de idade, considerada pelos historiadores como uma Joana D'Arc do sertão, já
que "combatia montada em um cavalo branco com arreios forrados de veludo, vestida de branco, com flores nos
cabelos e no fuzil".

QUESTÔES
1) Marque verdadeiro ou falso de acordo com as afirmativas abaixo.
I - A obra enfoca a Guerra do Contestado, que teve por cenário o planalto catarinense, palco do mais violento e
prolongando movimento armado da história do país.
I I -O autor é um velho jornalista que, irrequieto na sua aposentadoria, destacou dentre os protagonistas dos combates,
a figura de Francisca Roberta, a brava Chica Pelega, heroína da Cidade Santa de Taquaraçu.
I I I - Chica Pelega segundo o autor A. Sanford de Vasconcellos é uma personagem desconhecida da revolta entre
jagunços e as tropas do Exército Nacional que se arrastou pelo Planalto e Meio-Oeste de Santa Catarina de 1912 a
1916.
I V- A guerreira entra para a história de Santa Catarina aos 16 anos, quando o pai é morto pelas tropas do Exército, que
vieram para o Sul do Brasil proteger a construção de uma estrada de ferro, patrocinada pela empresa norte-americana
Brazil Railway, ligando União da Vitória (PR) até o Rio Grande do Sul.
a) Apenas a afirmativa I e I V estão corretas
b) Apenas a afirmativa I I e I V estão corretas
c) Apenas a afirmativa I e I I I estão corretas
d) Apenas a afirmativa I I e I I I estão corretas
e) Todas estão corretas.

2) Marque a afirmativa correta de acordo com as afirmações abaixo sobre o livro Chica Pelega – a guerreira de
Taquaruçu de Aulo Sanford de Vasconcellos.
I - Chica Pelega morrre no final da narrativa. Por causa da mãe doente, Chica decide ficar em Caraguatá, próximo a
Caçador, e não seguir para uma batalha em que os homens iriam enfrentar os oficiais. No local ficaram mulheres,
velhos e crianças, pois na visão dos guerreiros, estes seriam poupados do ataque do Exército. No ataque, os oficiais
não pouparam ninguém.
I I - A Guerra do Contestado se inicia com a revolta dos sertanejos que moravam na região do Contestadoe foram
expulsos pelos agentes de segurança. Os posseiros não admitiam o comando do Dr. Finnel, tinham acertado que
ajudariam na Construção da Ferrovia, mas teriam que receber um salário por mês.
I I I - Agentes do Exército atacam as casas e as plantações dos caboclos. No dia em que o pai é morto, Chica Pelega e a
mãe escapam da morte por acaso. Com a roupa no corpo, Chica parte em busca de um grupo que pudesse defender o
pouco que ainda restava das terras. Os que não obedeciam os editais eram mortos e tinham suas casas incendiadas.
I V - Provavelmente nascida em Joaçaba, Chica Pelega ficou conhecida por liderar o grupo que liqüidou os agentes do
Exército Nacional na localidade de Taquaruçu, em Curitibanos.
A) Somente as afirmativas I e IV estão corretas
B) Somente as afirmativas I I e IV estão corretas
C) Somente as afirmativas I e I I I estão corretas
D) Somente as afirmativas I e II I e I V estão corretas
E) Somente as afirmativas I I e I I I estão corretas

3) Marque a alternativa incorreta de acordo com o autor de Chica Pelega.


a) Sanford de Vasconcellos foi vencedor do prêmio na 1ª Bienal do Livro do Cone Sul, no ano passado, em
Florianópolis com o livro O Dragão Vermelho, lançado em 1998.
b) Sanford de Vasconcellos participou da Catequese poética junto com o escritor Lindolf Bell autor do livro O código
das Águas.
c) Para retratar a história trágica da personagem desconhecida, Aulo Sanford de Vasconcellos estruturou a história de
Chica Pelega às informações já conhecidas da história, sejam retratadas em livros ou passadas de geração em geração
através da oralidade.
d) O escritor A. Sanford de Vasconcellos no livro Chica Pelega: a Guerreira de Taquaruçu, aborda sobre um tema já
tratado no romance O Dragão Vermelho do Contestado.
e) Sanford de Vasconcellos escreveu também os livros Vitrina de Luzbel e o Monólogo de um Deodato Alvim –
romance histórico.

Possuidora de energia invejável, irmã forte da natureza, Chica Pelega mais uma vez ganhou pronto destaque
nos trabalhos do arraial. Voltou a cuidar de doentes, cerzia, ajudava a erguer casebres, puxava na forma salmos e
orações, aprestava-se na charqueada, coadjuvada em tudo pela sua mãe. Essa sua atividade febril, já conhecida de
Chico Ventura, rendeu-lhe também, declaradamente, as simpatias do velho Euzébio, e ambos costumavam apontá-la
como um bom exemplo a ser seguido. Em reconhecimento ao mérito presenteava, desta vez o próprio Chico Ventura,
com um cavalo de boa linhagem campeira, ágil de pernas e sensível ao comando, significando um gesto de inegável
distinção. "Era cavalo do meu uso", falou-lhe o doador, tropeiro de profissão, com esse aval garantindo-lhe a
linhagem e valorizando a dádiva.
De vez em quando algum devoto, secundando nisso o Menino de Deus Manoel, anunciava ter visto a cinti-
lante figura de José Maria cruzando os céus do arraial montado no seu cavalo alado. Contudo tais aparições,
seletivas, somente aconteciam de modo esporádico, absolutamente aleatório. E delas ninguém duvidava.
Embora fosse Chica Pelega muito devota do Monge, ela, por mais que olhasse para cima, nunca foi
contemplada com a especial distinção de vislumbrar a santa e iluminada figura do profeta cavalgando no espaço,
pelas fímbrias do horizonte. E não a via porque, nela, "faltava o aço" - assim lhe explicaram. "Si tu num tem aço tu
num pode vê", conforme mais de uma vez lhe repetiram. Diante de tal impossibilidade, Chica Pelega resignou-se.
Contentava-se em ouvir o testemunho de outros devotos, os venturosos detentores do referido "aço", os quais
descreviam - lhe, em detalhes, a gloriosa galopada de São José Maria por entre as nuvens, riscando o céu no seu
cavalo alado; e ela os ouvia com o coração cheio de contrição e de fé.
4) De acordo com o romance e apoiado no excerto acima, todas as afirmativas estão corretas, EXCETO
a) Voltou a cuidar de doentes, cerzia, ajudava a erguer casebres, puxava na forma salmos e orações, aprestava-se na
charqueada, coadjuvada em tudo pela sua mãe. É um período composto por coordenação.
b) E não a via porque, nela, "faltava o aço" - assim lhe explicaram. "Si tu num tem aço tu num pode vê", conforme
mais de uma vez lhe repetiram.Os pronomes representam respectivamente a figura do monge,Chica, Chica e
Chica.
c) Embora fosse Chica Pelega muito devota do Monge, ela, por mais que olhasse para cima, nunca foi contemplada
com a especial distinção (...) A oração em destaque é uma oração subordinada adverbial concessiva.
d) Possuidora de energia invejável, irmã forte da natureza, Chica Pelega mais uma vez ganhou pronto destaque nos
trabalhos do arraial. As expressões em destaque são adjuntos adverbiais.
e) A figura de José Maria era vista pelos devotos e até pelo devoto Menino de Deus Manoel, entretanto Chica Pelega
nunca possuía o referido “aço” para vê-lo.

5) Todas as afirmativas estão corretas EXCETO.


a) "Era cavalo do meu uso" – Neste trecho temos um discurso direto.
b)... e ambos costumavam apontá-la como um bom exemplo a ser seguido...O vocábulo em destaque refere- se a Chico
ventura e Eusébio.
c).... , secundando nisso o Menino de Deus Manoel,...- justifica – se o uso das vírgulas por ser um aposto.
d) Possuidora de energia invejável, irmã forte da natureza, Chica Pelega mais uma vez ganhou pronto destaque nos
trabalhos do arraial. – As frases em destaque estão entre vírgulas porque temos um vocativo.
e) ...os quais descreviam - lhe, em detalhes, - podemos substituir “os quais” por “que” sem prejuízo da correção
gramatical.

6) De acordo com o excerto e o livro Chica pelega marque a única alternativa INCORRETA.
a) A personagem Chica Pelega tinha o dom de cuidar dos doentes e ganhou um cavalo do tropeiro Chico Ventura como
reconhecimento pelas atitudes da moça.
b) Eusébio tinha admiração por Chica e desejava que seu filho Chico ventura casasse com a moça.
c) Chica era devota, tinha o coração cheio de fé, ajudava nos trabalhos do arraial e por isso era admirada.
d) Francisca Roberta era uma moça determinada e restou – lhe somente a mãe, já que seu noivo e o pai foram mortos
pelos homens da ferrovia,
e) O tropeiro afirmou que dera à Francisca Roberta o melhor cavalo e garantindo a importância do presente.

6) De acordo com as afirmações abaixo sobre os personagens marque a afirmativa ERRRADA


a) Praxedes Damasceno, o bodegueiro de Taquaruçu, fazia jogo duplo. Da outra vez, ao tempo do primeiro
ajuntamento, aliás erguido nas suas terras, ele não escondia as simpatias pessoais pelo Monge.
b) Henrique Rupp Júnior nascido ,em Campos Novos, o perfumado moço, estudara em Porto Alegre e se formara
bacharel, insuflador. Henriquinho de Almeida facilitara as condições de subsistência dos seguidores do Monge, antes
de tais desordeiros serem dali expulsos.
c) Manoel, líder espiritual, e comandante geral da comunidade, denominado Menino de Deus. O próprio monge José
Maria, por intermédio do sensitivo Manoel, fora quem orientara sobre as disposições de tudo o que ali havia - o
traçado do Quadro Santo.
d) Tropeiro Francisco Paes de Farias, conhecido por Chico Ventura, grande criador de casos.Líder espiritual de
Taquaruçu.
d) Zé Biriva era um sujeito de reações imprevisíveis, capaz de arrenegar-se à toa. Jerônimo tinha culpado Zé por terem
comido corós.

Os sertanejos, mesmo adotando o discurso religioso de defesa da ‘santa religião’, que se converteu numa
linguagem usual da rebelião, tinham clareza quanto às forças com as quais estavam lutando. Seus alvos principais
foram os chefes políticos locais, os grandes fazendeiros e comerciantes, os especuladores de terras e os interesses
estrangeiros na região (a Brazil Railway e a Lumber). O movimento rebelde identificou, desde o início, a
marginalização crescente dos caboclos e da gente ‘de cor’, ao passo que cresciam os privilégios e estímulos à
europeização do território planaltino. (MACHADO, Paulo Pinheiro. Lideranças do Contestado. São Paulo: Unicamp,
2004, p. 34.)

7) Sobre essa questão – da Guerra do Contestado – é correto afirmar:


a) Foi um conflito puramente militar entre os Estados de Santa Catarina e Paraná, sem o envolvimento de civis.
b) Foi um conflito encabeçado por sertanejos bandidos e por fanáticos religiosos que se revoltaram contra os poderes
públicos da época e contra o progresso.
c) Foi um conflito que se desenvolveu em um palco complexo, envolvendo diferentes dimensões, sujeitos e interesses.
Em jogo estavam a exploração dos sertanejos, por parte da política coronelística, a chegada da estrada de ferro na
região, a miséria e o abandono político-religioso a que a região estava relegada.
d) Foi muito mais um conflito diplomático em função de desentendimento a respeito de limites territoriais entre Santa
Catarina e Paraná, resolvido nos tribunais, do que uma Guerra propriamente dita.
e) Foi uma questão muito mais religiosa do que política e que acabou sendo popularizada e folclorizada pelos
catarinenses, ao longo dos anos.

8) No início do século XX, ocorreu, no Paraná, um sangrento conflito armado que ficou conhecido como A
Guerra do Contestado. A respeito da Guerra do Contestado, assinale a alternativa INCORRETA.
A) Foi uma guerrilha camponesa inspirada no movimento maoista chinês que visava implantar no Paraná um modelo
camponês de revolução.
B) As raízes da revolta estavam na situação de descontentamento da população pobre da região, somada à ação da
empresa Brazil Railway, que demitiu 8 mil trabalhadores após a conclusão da ferrovia São Paulo-Rio Grande do Sul.
C) A Guerra do Contestado ocorreu na divisa do Paraná com Santa Catarina entre os anos de 1912 e 1916 e resultou na
morte de 20 mil combatentes camponeses que participaram do levante.
D) O Movimento teve como grande líder o místico José Maria, que falava na formação de uma "monarquia celeste" e
prometia o retorno do rei dom Sebastião para fazer justiça aos pobres e oprimidos.
E) A chamada Guerra do Contestado terminou com a vitória das tropas oficiais, lideradas pelo general Setembrino,
sobre os guerrilheiros.

9) Entre as alternativas abaixo, uma está INCORRETA. Assinale-a:


a) O magistrado Aulo Sanford Vasconcelos escreveu dois romances relacionados com o Contestado: O dragão
vermelho do Contestado e Chica Pelega.
b) Paschoal Apóstolo Pítsica foi o líder do Grupo Sul.
c) A mais literária das obras do jurista Othon d´Eça – Homens e algas – se destaca por forte humanismo para com as
personagens que são pescadores.
d) Três Desembargadores, pertencentes à Academia Catarinense de Letras – Carlos Alberto Silveira Lenzi, Napoleão
Xavier do Amarante e Norberto Ungaretti – participaram do livro Contos de magistrados.

10) Chica era cada manhã escura. Chica esfarrapada. Chica ninguém. [...] Ela é plural, ela são gotas de injustiças
pingando rútilos do firmamento de cada vertente do Cosmos de cada ramo da floresta, de cada braço de rio,
impossível fingir ignorá-la.
Marque a alternativa correta.
a) Na oração A temos uma comparação
b) Na oração B temos uma prosopopéia
c) Na expressão C temos uma catacrese
d) Chica esfarrapada. Chica ninguém – os vocábulos destacados são respectivamente substantivo e adjetivo.
e) [...] impossível fingir ignorá-la – o pronome pessoal em destque refere-se ao substantivo floresta.

11) De acordo com o romance Chica Pelega marque a alternativa correta.


a) O romance Chica Pelega estrutura- se no filme Guerra dos Pelados e na Guerra liderada por Antônio Conselheiro.
b) O chefe dos fanáticos do confronto na região do Paraná fora o Capitão Palhares.
c) A heroína Chica Pelega nasceu devido a uma ajuda divina, por isso acreditavam que ela tinha poderes.
d) A habilidade natural que Chica tinha era a de saber lidar com os animais doentes e também com as pessoas.
e) Aos 16 anos Chica perdeu o pai, o marido e viu a gleba da família sendo destruída.

12) Marque a alternativa correta.


a) Os caboclos acreditam que os três monges eram a mesma pessoa e por isso não hesitavam em ouvir as
determinações e o comando de cada monge que surgia.
b) A luta dos seguidores do monge era pela Monarquia. Rejeitavam a República.
c) A Guerra do Contestado aconteceu nos limites entre Paraná e Santa Catarina, e durou de 1912 a 1916.
d) O Monge José Maria foi morto pelo Cel. João Gualberto de Sá na batalha de Irani.
e) O Dr. Finnel era a grande inspiração do Coronel Palhares.

13) Some as afirmativas corretas.


01-Chamou – se de Guerra do Contestado, a disputa entre o Paraná e santa Catarina pela região entre o do Peixe e
Pepiriguaçu, no Planalto catarinense.
02-Na região, onde existiam numerosos problemas (má distribuição das terras, desemprego, falta de assistência
governamental), apareceram “monges”. “Em 1912, o monge José Maria fundou um acampamento, o “Quadro Santo”“,
onde passaram a viver centenas de caboclos.
04-Na região do Contestado vivia um grande número de trabalhadores sem terra, que trabalhavam como peões nas
fazendas. A construção da Estrada de ferro São Paulo- Rio Grande trouxe para a região centenas de operários que, com
o término da ferrovia, ficaram sem emprego.
08-O governo do Paraná, temendo uma invasão ao território paranaense, atacou o “Quadro Santo”, dando início à
Guerra do Contestado.

14) Marque a alternativa incorreta.


a) Superintendente de curitibanos, orgulhava-se do seu sucesso pessoal na carreira política. Tinha atuado em favor dos
maragatos, quando ajudara as falanges guerreiras, federalistas, do Cisplatino Gumercindo Saraiva. Francisco
Albuquerque
b) O Xandoca – dono das terrras onde realizavam a festa do Bom Jesus (Taquaruçu), bodegueiro, diziam que ele
simpatizava com o monge. Praxedes Gomes Damasceno
c) Benevenuto Luno – Venuto Baiano - Era um robusto mulato de gengivas roxas e tez clara. De índole claramente
insubmissa, comprazia-se contudo em impor aos outra conduta disciplinada.
d) Chico ventura - tropeiro Francisco Paes de Farias, conhecido por Chico Ventura, um grande criador de casos
e) Jerônimo –mestiço de guarani, criatura de pouco assunto, reservado, revelou-se um elemento indispensável
na captura das reses cavalgando, e alçando o seu laço, jamais errava um par de chifres
15) Marque a alternativa Incorreta.
a) Aulo Stanford de Vasconcellos conectou a ficção às informações, entretanto a história de Chica Pelega é fruto da
imaginação.
b) Por causa da mãe doente, Chica decide ficar em Caraguatá, próximo a Caçador, e não seguir para uma batalha em
que os homens iriam enfrentar os oficiais.
c) Francisca Roberta é uma personagem que apareceu na revolta entre jagunços e as tropas do Exército Nacional que
se arrastou pelo Planalto e Meio-Oeste de Santa Catarina de 1912 a 1916.
d) Chica Pelega ficou conhecida por liderar o grupo que liquidou os agentes do Exército Nacional na localidade de
Taquaruçu, em Curitibanos.
e) A guerreira entra para a história de Santa Catarina aos 16 anos, quando o pai revoltou – se contra as tropas do
Exército, que vieram para o Sul do Brasil proteger a construção de uma estrada de ferro, patrocinada pela empresa
norte-americana Brazil Railway, ligando União da Vitória (PR) até o Rio Grande do Sul.

16) Marque a alternativa correta


I - Maria Rosa curandeira e guia espiritual, associada à apregoada segurança proporcionada
pela presença forte dos Pares de França e dos demais comandantes militares que vinham de
todos os cantos do planalto e do oeste, e à fama de fartura, de “leite jorrando dos barrancos”
e maná caindo dos céus, traziam para a Cidade Santa de Caraguatá.
I I - O primeiro monge que ganhou fama no Contestado foi João Maria, um homem de origem italiana, que peregrinou
pregando e atendendo doentes de 1844 a 1870. Fazia questão de viver uma vida extremamente humilde, e sua ética e
forma de viver arrebanhou milhares de crentes, reforçando o messianismo coletivo. Sublinhe-se, porém, que não
exerceu influência direta nos acontecimentos da Guerra do Contestado que ocorreria posteriormente. João Maria
morreu em 1870, em Sorocaba, Estado de São Paulo.
I I I - O segundo monge também denominou – se João Maria, mas seu verdadeiro nome era Atanás Marcaf,
provavelmente de origem síria. Aparece publicamente com a Revolução Federalista de 1893, mostrando uma postura
firme e uma posição messiânica, sobre sua situação política, dizia ele "estou do lado dos que sofrem". Chegou,
inclusive, a fazer previsões sobre os fatos políticos da sua época. Atuava na região entre os rios Iguaçu e Uruguai.
Após o desaparecimento do monge em 1908 os crentes acreditavam na volta dele através da ressurreição.
I V - O terceiro monge. Este era conhecido inicialmente como um curandeiro de ervas, tendo se apresentado com o
nome de José Maria de Santo Agostinho, ainda que, de acordo com um laudo da polícia da Vila de Palmas, Estado do
Paraná, ele fosse, na verdade, um soldado desertor condenado por estupro, de nome Miguel Lucena de Boaventura. O
monge ganha fama e credibilidade através de alguns episódios como: ter ressuscitado uma jovem (provavelmente
apenas vítima de catalepsia patológica), ter curado a esposa do coronel Francisco de Almeida, vítima de uma doença
incurável e rejeitado terras e uma grande quantidade de ouro que o coronel, agradecido, queria lhe oferecer.

a) Somente as afirmativas I e IV estão corretas


b) Somente as afirmativas I I e IV estão corretas
c) Somente as afirmativas I e I I I estão corretas
d)Somente as afirmativas I e II I e I V estão corretas
e) Todas as afirmativas estão corretas
Uns duzentos sertanejos, parecendo mil alucinados lacedemônios, atiraram-se de todos os lados sobre a
formação militar. Empunhavam espetos, porretes, e manejavam com espantosa fúria os seus facões paraguaios.
Alevantados, na fé e no furor. Tudo isso aliado a uma gritaria infernal, "Viva São Sebastião!", "Viva a Monarquia!".
Cresciam os sertanejos na refrega, com o tapejara Miguel Fragoso destacando-se em bravura. O profeta conservara-
se de pé, imperturbável, com as faces e os braços voltados para o céu. Os soldados debandaram e a metralhadora
emudeceu. Fala-se que na véspera, por descuido do cabo, a terrível matraca submergira nas águas lodosas de um
riacho.

17) Marque a alternativa incorreta de acordo com o texto.


a)O profeta conservara-se de pé, imperturbável, com as faces e os braços voltados para o céu. O pronome em
destaque é um pronome reflexivo.
b)Empunhavam espetos, porretes, \e manejavam com espantosa fúria os seus facões paraguaios. Nesta oração temos
um sujeito culto.
c)Uns duzentos sertanejos, parecendo mil alucinados lacedemônios, atiraram-se de todos os lados sobre a formação
militar. O sujeito do verbo atirar é lacedemônios.
d)O profeta conservara-se de pé, imperturbável, com as faces e os braços voltados para o céu. O trecho destacado
exerce a função de adjunto adverbial.

18)Some as afirmativas corretas.


01 - De acordo com o texto e a história do Contestado observa- se que os sertanejos eram obcecados e não
aceitavam conselhos de ninguém.
02-"Viva São Sebastião!", "Viva a Monarquia!" – Este era o lema e o grito de guerra dos caboclos.
04- O tapejara Miguel Fragoso foi um líder político de fundamental importância na Guerra do Contestado.
08- A metralhadora falhara e certamente isso contribuiu para a vitória dos rebeldes.
16- O que movia os insurretos era a fé nas previsões do monge. Os seguidores do monge acreditavam na acreditavam
que este ressuscitaria acompanhado de um Exército Encantado, vulgarmente chamado de Exército de São Sebastião,
que os ajudaria a fortalecer a Monarquia Celeste e a derrubar a República, que cada vez mais se acreditava ser um
instrumento do diabo, dominado pelas figuras dos coronéis.

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