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(Moambique)
sobre ela, em subtil priso. E lhe segredou que ela, por momentos, fizesse de conta que era outra. Uma mulher sem pecado, isenta de maus olhados. A prostituta o afastou com firmeza. Escapou do colo de Mulando e se encrispou toda, at quase perder a voz: - Crime um pai no cuidar dos filhos. - Isso verdade. Isso um crime sem perdo. Ele dava o assunto na bandeja, sem demais. Mulher que no queria o seu colo deixava de existir. Alm disso, o clima no estava para disputas. Mulando lanou o jornal para se resguardar da luz e encerrou-se para balano. A manh se adiantara, calor adentro, quando Mulando despertou. O bar estava deserto, da prostituta nem sobrara o perfume. Em redor, as formas ainda se acertavam, o nublado era um cu dentro da cabea dele. E naquele esbotar de contornos ele sentiu algum se postar diante. Se as vistas eram sombras, os sons pareciam bem mais ntidos. E a voz do outro lhe chegou, em bom recorte: - Venho lhe matar! Nem lhe veio discernimento para a devida resposta. Tentou focar o rosto do outro e notou que ele a si se semelhava. Um mais filho? Daquela idade? - Meu filho: eu vou seguindo, daqui vou para mais adiante. - No sou seu filho! - No ? Mas voc me parece. Ento voc o qu? - Sou seu pai. E ditas as trs palavrinhas desfechou uma matraca sobre o outro. Uma, duas, quatro chambocadas. As suficientes, mortais. Mulando j no usava o pescoo. Insustentvel, a cabea lhe descara para trs, olhos escancarados perante o sol. Pela primeira vez, as linhas da mo de Mulando se moldaram em desenho fixo. O outro fez regressar a matraca em sua bolsa e falou nos seguintes termos para o cho: - Sou seu pai e voc nunca me veio visitar. Dizem assim: o funeral de Mulando nunca se viu tristeza mais repleta. Nesse momento, o homem cumpria, de uma s vez, a promessa de visitar toda a sua descendncia. Estavam l os filhos todos, visitando-o na sua ltima mudana de residncia. Em sua nova maneira de ver, Mulando acreditou presenciar no cemitrio a inteira humanidade.