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Projeto

PERGUNTE
E
RESPONDEREMOS
ON-LINE

Apostolado Veritatis Spiendor


com autorizagáo de
Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb
(7n memoríam)
APRESENTAQÁO
DAEDIQÁOON-LINE
Diz Sao Pedro que devenios
estar preparados para dar a razáo da
nossa esperanza a todo aquele que no-la
pedir {1 Pedro 3,15).

Esta necessidade de darmos


conta da nossa esperanca e da nossa fé
hoje é mais premente do que outrora,
visto que somos bombardeados por
numerosas correntes filosóficas e
religiosas contrarias á fé católica. Somos
assim incitados a procurar consolidar
nossa crenca católica mediante um
aprofundamento do nosso estudo.

Eis o que neste site Pergunte e


Responderemos propóe aos seus leitores:
aborda questóes da atualidade
controvertidas, elucidando-as do ponto de
vista cristáo a fim de que as dúvidas se
dissipem e a vivencia católica se fortaleca
no Brasil e no mundo. Queira Deus
abengoar este trabalho assim como a
equipe de Veritatis Splendor que se
encarrega do respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.

Pe. Esteváo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

Celebramos convenio com d. Esteváo Bettencourt e


passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte e
Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicacáo.
A d. Esteváo Bettencourt agradecemos a confiaga
depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e
zelo pastoral assim demonstrados.
PERGUNTE E RESPONDEREMOS JANEIRO 1996
Publicagáo Mensal N°404

Diretor Responsável SUMARIO


Estéváo Bettencourt 0S8
Autor e Redator de toda a materia
"Eis que estou á porta, e bato..." 1
publicada neste periódico
Fala o Santo Padre:
O Desafio das Seitas 2
Diretor-Administrador:
Manipulando a Historia:
D. Hildebrando P. Martins OSB
"Origem dos varios Grupos Cristáos 11
Em Diálogo Ecuménico:
Administracáo e distribuicao:
Quando é que tal ou tal Uso foi
Edictos "Lumen Christi" introduzido na Igreja? 20
Rúa Dom Gerardo. 40 - 5° andar - sala 501
Que dizer?
Tel.: (021) 291-7122
E a Noite de Sao Bartolomeu
Fax (021) 263-5679 (24/08M572)? 27

Recente pronunciamento responde:


Enderezo para correspondencia: Garabandal: Sim ou Nao? 32
Ed. "Lumen Christi"
Questiona-se
Caixa Postal 2666
O Casamento de Emerson Fittipaldi 39
Cep 20001-970 - Rio de Janeiro - RJ
Na Italia:
Os Escándalos da Provela 45
ImpressSo e EncademapSo

COM APROVACÁO ECLESIÁSTICA


"MARQUES SAHAIVA "
GRÁFICOS E EDITORES Ltda.
Tais.: (021) 273-94981273-9447 NO PRÓXIMO NÚMERO:

"Já se aproxima o Terceiro Milenio" (Joáo Paulo II). - Os 21 Concilios Ecuménicos.


- Violacáo do Sigilo da Confissáo? - Ainda o Fenómeno das Seitas: Causas e Pis
tas de Solucáo. - A Síndrome Pos-aborto. - Nossa Senhora Aparecida: historia.

(PARA RENOVACAO OU NOVA ASSINATURA: R$ 25,00).


(NÚMERO AVULSO R$ 2,50).

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1. Enviar EM CARTA cheque nominal ao Mosteiro de S3o Bento do Rio de Janeiro, cruzado, ano
tando no verso: "VÁLIDO SOMENTE PARA DEPÓSITO NA CONTA DO FAVORECIDO" e.
onde consta "Cód. da Ag. e o N" da C\C, anotar: 0229 -02011469-5.

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•EIS QUE ESTOU Á PORTA, E BATO...


(Ap3,20) A/

"Eis que estou á porta, e bato. Se alguém ouvir a minha v irfe abrir \ A
a porta, entrarei, e cearei com ele, e ele corrugo" (Ap 3,20).
Este é um dos mais belos textos do Apocalipse ou mesmo de toda a
Escritura Sagrada. Indica um encontró pessoal e muito vivo do Senhor com
aquele que tem a delicadeza de Ihe abrir a porta do coracáo. A ceia daí decor-
rente é o antegozo, na térra, da "ceia da vida eterna" de que fala Senhor em Le
12,36.
Os antecedentes deste versículo ilustram o seu significado. O Senhor
Jesús se dirige á comunidade crista de Laodicéia, cidade cheia de lojas comer
ciáis e Bancos, famosa por suas fábricas de lá preta e vestes, renomada por
seus médicos e seus colirios exportados para o resto do mundo romano. Os
laodicenos gozavam de bem-estar, que os tornava tibios ou indiferentes aos
valores religiosos. Nao eram nem quentes nem fríos, mas acomodados e pusi
lánimes na sua mornura espiritual. O Senhor censura veementementetal atitu-
de ("eu te vomitarei..."), pois é necessário que cada criatura humana se empe-
nhe por algo de grande, ou tenha um ideal, tenha a coragem de sairde si ou do
seu egocentrismo; mesmo aquele que se sacrifica em prol de urna falsa meta,
embora esteja errando, tem o mérito de nao ser covarde ou mesquinho; cf. Ap
3,16.
Apesarde indiferente a valores nobres, o Senhor ama a comunidade de
Laodicéia e quer tirá-la da sua tepidez. A misericordia é tanto maior quanto
mais severa foi a censura. E que remedio aplicará? - "Aqueles que eu amo, eu
os repreendo e corrijo. Recobra, pois, o fervore converte-te!" (Ap 3,19). Urna
intervencáo da Providencia Divina drástica e desinstaladora é, muitas vezes,
salutar na vida de quem está "adormecido"; os choques e abalos ajudam a abrir
os olhos e refazer a escala de valores segundo criterios certos... Eis como o
Senhor tenciona chamar os laodicenos (e, de modo geral,... os cristaos "ador
mecidos") á conversáo; é o amor de Deus que permite, por vezes, frustracoes e
decepcóes na vida presente para que a criatura nao sedeixe iludir por sonhos
fantasiosos; os males que afetam o cristáo "instalado" sio apelos de Deus á
tomada de consciéncia de que esta vida é a semeadura de valores que serio
colhidos no além; é preciso, pois, viver conscientemente e semearde máos
cheias. Cada instante do presente tem sua repercussáo na existencia postu
ma. - Verdade é que nem todos possuem ouvidos para atender a tal tipo de
chamado. Se, porém, o cristáo concebe a coragem de despertar da mornura
sonolenta para a lucidez de mente, ele abre a porta de sua morada interior e
ceia com Jesús, isto é, comeca a desfrutar os bens prometidos em plenitude
para o além. mas já outorgados sob forma seminal a cada cristáo que participe
da S. Eucaristía.
Um novo ano se abre,... oportunidade de despertarnos do sonó da ratina
e semearmos com largueza no decorrerde cada novo dia!
E.B.

1
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS"

Ano XXXVII - N° 404 - Janeiro de 1996

Fala o Santo Padre:

O DESAFIO DAS SEITAS

Em síntese: O Papa Joño Paulo II, aos 5/9/95, recebeu os Bispos


dos Regionais Nordeste 1 (Ceará) e Nordeste 4 (Piauf) em audiencia cole-
tiva, que encerrava a visita ad limina (visita quiqüenal feita ao Sumo Pon
tífice e a seus Assessores Romanos). Proferiu entáo um discurso de gran
de atualidade relativo aos novos movimentos religiosos e á resposta que a
Igreja Ihes deve dar: énfase maiorna catequese, fidelidade á disciplina da
Igreja, ás normas da Liturgia, ao uso dos sinais característicos do sagrado
(entre os quais estáo as vestes e o porte do sacerdote), acolhida e carida-
de...

O problema das seitas está sempre em voga. O Santo Padre Joáo


Paulo II o tem acompanhado com vivo ¡nteresse, dada a gravidade de que
se reveste nao somente no plano religioso, mas também no da cultura hu
mana como tal: deturpam-se valores fundamentáis, sem os quais a fé e a
s§ raza o sofrem abalo. Eis porque S. Santidade, aos 5/9/95, quis dirigir-se
a respeito na audiencia coletiva concedida aos Bispos dos Regionais Nor
deste 1 (Ceará) e Nordeste 4 (Piauí), que encerravam entáo a sua visita ad
limina ou visita quinquenal destinada a poros Bispos em contato ¡mediato
com S. Santidade e os Dicastérios (quase Ministerios) da Curia Romana.
O discurso de Joáo Paulo II é de especial atualidade, pois toca em pontos
muíto concretos: énfase maiorna catequese devidamente reabastecida em
suas fontes bíblicas e tradicionais, fidelidade á disciplina da Igreja, ás nor
mas da Liturgia (que nao deve perder seu caráter hierático ou sagrado a
título de tornar-se mais popular), ao uso dos sinais característicos do sa
grado (entre os quais as vestes e o porte geral do sacerdote), acolhida e
candad e muito vivas...

A seguir, reproduziremos o discurso de S. Santidade quase na ínte


gra, e Ihe acrescentaremos um breve resumo dos principáis tópicos.
O DESAFIO DAS SEITAS 3

I. O TEXTO

ATAREFA ECUMÉNICA

2.... Em diversas ocasióes a Providencia permitiu-me insistir naquela


conclusáo básica do Concilio Vaticano II, segundo a qual é "decisáo da
Igreja assumir a tarefa ecuménica em prol da unidade dos cristáos e de a
propor convicta e vigorosamente" (cf. Decr. sobre o Ecumenismo Unitatis
redintegratio, 1). Tem sido, porsinal, marco indelével do meu Pontificado
que, como recordaráo, quis deixar patente na minha última viagem ao Bra
sil (cf. Discurso, 18. X.1991).

Já tive ocasiáo de comentar, mesmo recentemente, que "nao se trata


de modificar o depósito da fé, de mudar o significado dos dogmas, de banir
deles palavras essenciais, de adaptar a verdade aos gostos de urna época,
de eliminar certos artigos do Credo com o falso pretexto de que hoje já nao
se compreendem. A unidade querida por Deus só se pode realizar na ade-
sáo comum ao conteúdo integral da fé revelada" (Carta ene. Ut unum sint,18).
Falando aos representantes do mundo da cultura em Salvador na Bahia, eu
lembrava que "a ¡neulturacáo do Evangelho nao é urna adaptacáo mais ou
menos oportuna aos valores da cultura ambiente, mas urna verdadeira
encarnacáo nesta cultura para purificá-la e remi-la" (Discurso, 20. X.1991,
4).

O mesmo vale no campo ecuménico. Com efeito, no campo da


inculturacáo como no do ecumenismo, nota-se urna certa facilidade com
que a busca do entendimento, do acolnimento ou da simpatía com outros
grupos ou confissoes religiosas tem levado a serías mutilacóes na expres-
sáo clara do misterio da fé católica, na oracáo litúrgica, ou a concessSes
indevidas quanto ás exigencias objetivas da moral católica. Ecumenismo
nio é irenismo (cf. UR, 4 e 11). Nao se trata de buscar a unidade a qualquer
prego. O diálogo ecuménico deve ser alimentado pela oracáo - definida
pelo Concilio Vaticano II -, como a alma de todo o movimento ecuménico.
Este diálogo, que sonriente tem sentido se for urna busca sincera da verda
de, poderá nos pedir que deixemos de lado elementos secundarios que
poderiam constituir um obstáculo de ordem psicológica para nossos irmáos
de distintas denominacóes religiosas. Mas nunca será verdadeiro, auténti
co, se implicar na mais minima mutilacio duma verdade da fé, no abando
no da legítima expressáo da piedade tradicional do povo cristáo ou no en-
fraquecimento das exigencias de séculos da disciplina eclesiástica ou das
veneráveis tradicóes litúrgicas do Oriente, da Igreja Romana e otrtras Igre
jas do Ocidente. De resto, "hoje sabemos que a unidade pode ser realizada
pelo amor de Deus, sonriente se as Igrejas o quiserem juntas, no pleno
respeito das varias tradicóes e da necessária autonomía" (Carta ap.
Oriéntale lumen, 20).

Em contrapartida, para um exercício fecundo de um auténtico


"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 404/1996

ecumenismo, faz-se necessária urna adequada formacáo ecuménica e es-


truturas pastorais - como as comissóes ecuménicas - que colaborem para
a promocáo da plena unidade. O "Diretório para a aplicacáo dos principios
e das normas sobre o ecumenismo", publicado em 1993, dá indicacóes
precisas aplicáveis as distintas situacóes.

O DESAFIO PERANTE AS SEITAS

3. Na área latino-americana esta necessidade do diálogo ecuménico


tem-se tornado urgente, ao deparar-nos com o grave problema das seitas
que se expandem, como urna mancha de óleo, ameacando fazer ruir a
estrutura de fé de tantas nacSes.

Certamente a expansáo das seitas "constituí urna ameaca para a Igre-


ja Católica e para todas as Comunidades Eclesiais com quem ela mantém
diálogo" (Carta ene. Redemptoris missio, 50).

Com toda raza o o Episcopado latino-americano, reunido em Santo


Domingo, apresentou em cores vivas o desafio pastoral que hoje sao as
seitas em toda a América Latina. O Documento Final descreveu com clare
za e precisáo estas seitas e movimentos, mostrou suas características e
modos de atuar, deixou claros os interesses políticos e económicos envol
vidos na sua expansáo em todo o Continente e apontou os desafios pasto-
rais e os caminhos possíveis para a vossa atuacáo neste campo (cf. Con-
clusóesda IV Conferencia Geral do Episcopado Latino-Americano, nn.139-
152).

Nao é agora minha intencáo repetir o que todos conheceis táo bem. É
notoria a ¡ntencáo, por vezes virulenta, destas seitas de minar as bases da
fé do povo, de modo especial no que diz respeito ao culto do Misterio
Eucarístico e da Santíssima Virgem, á estrutura hierárquica da Igreja e ao
primado de Pedro, que perdura no pastoreio universal do Bispo de Roma, e
ás expressoes da piedade popular. Está claro, também, que o éxito de seu
trabalho pode ser explicado pela carencia de conhecimentos religiosos do
povo, devida, em boa parte, a perda da vivencia religiosa que cultiva va ñas
pequeñas cidadesdo interior, masque enfraqueceu quando migrou para a
periferia das grandes cidades, num processo quase sempre doloroso de
desenraizamento cultural.

CARENCIAS DOUTRINAIS E IGNORANCIA RELIGIOSA

4. Nao se trata de urna atitude pessimista face á situacáo reinante: a


Igreja católica, a Esposa Imaculada de Cristo, leva em si a garantía da
perenidade que o próprío Senhor Ihe assegurou (cf. Mt 28,19); porém, mes-
mo sabendo possuir, por vontade expressa de Deus, a "plenitude dos mei-
os de sal vacio", ou seja, "todos os instrumentos da graca, os seus mem-
bros nao vivem com todo aquele fervor que seria conveniente" (UR,
O DESAFIO DAS SEITAS

nn. 3 e 4). Estou certo de que esta afirmacáo conciliar nao Ihes soará como
um simples eufemismo na hora de se encarar a realidade quotidiana do
vosso povo, táo ateto para a transcendencia e para os valores cristáos da
piedade e da fraternidade. Mais que pela fría estatística levada pelo movi-
mento pendular de um vai-e-vem de dados, muitas vezes contraditórios entre
si, sobre o número dos fiéis praticantes. deveríamos apropriar-nos daquela
questáo feita na Redacáo Final do Sínodo Extraordinario dos Bispos de
1985: "A difusáo das seitas nao nos interroga se tem sido manifestado
suficientemente o senso do sagrado?" (II, A.1).

Preocupa-vos, e náosem razáo, o panorama de carencia doutrinária e


de ignorancia religiosa que deixa o vosso povo á mercé das influencias
perniciosas de um ambiente onde reina o permissivismo moral, que o toma
extremamente vulnerável á seducao das seitas e dos novos grupos religio
sos, especialmente quando estes adotam normas exigentes de marcada
rigidez disciplinar. O mesmo clima de relativismo moral, que com extrema
facilidade é divulgado através dos meios de comunicacáo social, póe "o
homem contemporáneo sob a ameaca de um eclipse da consciéncia" de
graves proporcóes (Ángelus, 14.111.1982); haja vista o clima rarefeitoque o
divorcio, as unióes ilícitas e outras deformacóes acarretam na vida familiar
(cf. Const. past. Gaudium et spes, 47). Por isso, volto a insistir que "urge
recuperar e repropor o veidadeiro rosto da fé crista, que nao é simplesmen-
te um conjunto de proposites a serem acolhidas e ratificadas com a men
te. Trata-se, antes, de um conhecimento existencial de Cristo, urna memo
ria viva dos seus mandamentos, urna verdade a ser vivida" (Carta ene
Veritatis splendor. 88)...

A CRENDICE POPULAR

5. Porém, algumas carnadas sociais sao mais vulneráveis: Por um


lado, existe a tendencia a fazer crer em solucSes facéis aos problemas
existenciais, bastando um pensamento positivo para apaziguaros conflitos
gerados pela dor e pela morte, esquecendo-se que o sofrimento humano
nao pode ser separado do pecado original, nem do "paño de fundo pecami
noso das acóes pessoais e dos processos sociais na historia do homem"
(Carta ap. Salvifici Doloris, 15). Por outro, há os que esperam urna res-
posta ¡mediata e simples ás suas necessidades inclusive materiais. A bus
ca da saúde a qualquer prego sem urna garantía de validade dos métodos,
é um incentivo á adesáo a algumas denominacóes pseudo-religiosas.

Preocupa, neste sentido, o fácil aliciamento de novos adeptos, que


mesmo submetidos á pressao psicológica de sustentar sua seita com obri-
gacóes financeirasque vio além das próprias possibilidades, aceitam-nas
passivamente com a condicáo de conseguir um alivio para os seus males,
recebendo promessas, táo descabidas quanto temerarias, de cura, ou mes
mo de salvagáo, contrarias aos planos de Deus. As seitas causam serios
prejuízos religiosos aos seus seguidores. Nao se trata somente de abando-
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 404/1996

nar as suas crencas. Passado o entusiasmo das curas ficticias verifica-se


que nem sempre retornam á fé e abragam o indiferentismo Mais aínda o
indiferentismo religioso gera a incoeréncia nos principios, a ponto de faz'er
acreditar, falsamente, que é possível manter o nexo intimo e vivo com a
Igreja, com o seu misterio, a sua vida e missao, conservando intacta a
própria fé - nela incluida a piedade litúrgica e sacramental, o dogma e a
moral crista - e freqüentaroutros cultos e denominacóes religiosas. Deste
modo, pretende-se receber os sacramentos mesmo participando e até con-
tribuindo financeiramente á sustentac§o de "igrejas", cultos ou instituicSes
filantrópicas, que pregam, porexemplo, a reencarnacáo.

Mas donde provém. em última análise, esta cisáo interior do homem?


Dito de outro modo, o que falta na evangelizado para assegurar a fidelida-
de do Povo de Deus, a caminho da Patria definitiva?

REVER O PROCESSO EVANGELIZADOR

Estou certo de que concordareis comigo quanto á existencia de algu-


mas lacunas no processo evangelizador das vossas Igrejas, de resto
enfatizadas este ano em Itaici pelo Episcopado brasileiro com a cháncela
de urgencia, ao propor dar nova vida ás diversas formas de celebracáo
litúrgica e de comunicacio da Palavra, incentivando a conservacáo da qua-
lidade pastoral da celebracáo dos sacramentos (cf. Diretrizes Gerais, 257).

É precisamente na esteira destas linhas de agáo que convém remar


car, por um lado, a perda da visibilidade de vossas comunidades e agentes;
por outro. a existencia de falhas no relacionamento humano e no acolhi-
mento das pessoas; enfim, como nSo acentuar urna certa timidez e inercia
no processo de evangelizado do povo?

Em que poderia consistirá falta de visibilidade de vossas comunida


des e ministros?

Todos sabemos que vivemos hoje num mundo onde é táo importante a
comunicacio pela imagem. Os sinais extemos da vida crista, sobretudo os
mais tradicionais, possuem, hoje como ontem, um grande apelo para o
vosso povo, gente simples cuja base cultural foi tao profundamente marcada
pela fé católica nestes quatro sáculos de evangelizacáo do Brasil.

Numa das minhas Viagens Pastorais á vossa térra - dentre as quais


nao posso deixar de recordar o amado povo piauiense e cearense - lembro
ainda que quis agradecer ao Todo-Poderoso ter enraizado táo profunda
mente no coracáo do Povo de Deus deste País, a cruz, a Eucaristía e a
"Aparecida" (cf. X Congresso Eucarístico Nacional de Fortaleza 9 de iulho
1980).

Compreende-se ent§o como o brasileiro gosta dos sinais exteriores


O DESAFIO DAS SEITAS

da fé! Ele quer ver a Igreja com as suas características religiosas, com as
expressóes auténticas da arte sacra que despertam a piedade e levam á
oracáo, ao recolhimento e á contemplacáo do misterio de Deus. Ele quer
ouvir com alegría bater os sinos de vossas igrejas convocando-o para as
oracfies litúrgicas ou convidando-o para as oragóes do dia ou da tarde em
louvorda Virgem Maria! Um sino que toca - e tantos o emudeceram! - leva
a muitos ouvidos um sinal de vitalidade eclesial. Ele quer sentir ñas músi
cas de vossas Igrejas o apelo ao louvor de Deus, á acáo de grapas, á prece
humilde e confiante e se senté desconfortável quando esses cantos em
sua letra envolvem urna mensagem política ou puramente terrena, e em sua
expressáo musical nao apresentam a característica de música religiosa,
mas süo marcadamente profanos no ritmo, na línha melódica e nos instru
mentos musicais de acompanhamento. Vosso povo se senté feliz com a
beleza e a dignidade do culto litúrgico, sem pompa e ostentacáo, mas
digno, piedoso, que esteja realmente unido á acáo litúrgica, em sintonía
com quanto definiu o Concilio Vaticano II: "quer como expressáo delicada
de oracáo, quer como fator de comunháo, quer como elemento de maior
solenidade ñas funcóes sagradas" (Cons. ap. Sacrosanctum concilium
112).

Procura! dar um clima de piedade e dignidade ás celebrares litúrgicas,


sabendo fazé-las alegres nos momentos devidos e sempre espíritu al mente
confortadoras. O ministerio da Palavra, que está intimamente ligado á Liturgia
Eucarística (cf. SC, 56), contenha sempre, do inicio ao fim, urna mensa
gem espiritual. É certo que há tanta gente que nao possui o suficiente para
acalmar a própria fome, mas, ordinariamente, o povo tem mais fome de
Deus que do pao material, pois entende que "nao só de pao vive o homem,
mas de toda palavra que sai da boca de Deus" (Mt 4,4). Ver a Igreja como'
Igreja, e nao simples promotora da reforma social. Este é um dever que
promana da Fé e nao previa exigencia para urna posterior pregacio do Evan-
gelho. Assim, e nao distintamente, podem-se entender aquelas palavras do
Concilio Vaticano II: "É táo grande a forca e a virtude da palavra de Deus
que se torna o apoio vigoroso da Igreja, solidez da fé para os filhos da
Igreja, alimento da alma, fonte pura e perene de vida espiritual" (Cons dog
Dei Verbum, 21).

Vosso povo, caríssimos irmáos no episcopado, quer ver os padres


como verdadeiros Ministros de Deus, inclusive na sua veste e no seu modo
externo de proceder. Ele quer vero homem de Deus nos ministros de sua
Igreja, urna presenga que Ihes inspire amor, respeito, confianca. O povo
tem direito e isso pode exigi-lo de seus pastores. O que os homens que-
rem, o que esperam é que o sacerdote com o seu testemunho de vida e
com sua palavra. Ihes fale de Deus. O caráter conferido pelo sacramento
da Ordem, permite que o sacerdote atue "em nome de Cristo cabeca"
(Presbyterorum ordinis, 2), participando da autoridade com que Cristo
govema a sua Igreja; por outro lado, o ministro sagrado é chamado a exer-
cer o "poder da Ordem para oferecer o Sacrificio, perdoar os pecados e
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 404/1996

exercer publicamente o oficio sacerdotal em nome de Cristo a favor dos


homens" (ibid., 3). Por isso, convém que ambas as notas do sacerdocio
ministerial conservem sempre seu justo apreco, tendo em vista que "numa
sociedade secularizada e de tendencia materialista (...) sente-se particu
larmente a necessidade de que o presbítero - homem de Deus dispensador
dos Seus misterios - seja reconhecível pela comunidade, também pelo
hábito que traz, como sinal inequívoco da sua dedicacáo e da sua identida-
de de detentor de um ministerio público" (Diretório para o ministerio e a
vida dos presbíteros, 66).

O TESTEMUNHO DA UNIÁO E DA CARIDADE

Cabe agora considerar um outro aspecto, de nao menor importancia.


Trata-se do relacionamento das pessoas e do modo de acolhimento no
seio de vossas comunidades. A Igreja é a casa do Pai. O vínculo maior de
uniáo dos membros da Igreja é o amor, o amor de Deus que se desdobra no
amor ao próximo. Foi precisamente este amor fraterno quedeu urna enor
me capacidade evangelizados ás comunidades primitivas da Igreja através
de seu testemunho de vida em comum.

O que vale para todos os povos, tem urna importancia fundamental


para vosso povo. Ele é antes de tudo cordial. Ele, na sua carencia afetiva,
necessita sentír-se querido e acolhido. O povo é muito sensível ao ambien
te em que se encontra. Ele espera ver alegría, simplicidade e calor huma
no. O ser católico, por maior razáo, diante do surgimento das seitas, re-
quer urna atitude de carídade: "caridade para com o interlocutor, humildade
para com a verdade que se descobre e que poderia exigir revisüo de afirma-
c5es e de atitudes" (Carta ene. Ut unum sint, 36). Nao se trata de recorrer
a ataques pessoais, ou assumir posicóes contrarias ao espirito do Evange-
Iho. Poderia servir de experiencia o que foi proposto como lema pastoral
numa das vossas Dioceses: "Acolher para evangelizar. Importa dar aten-
cáo pessoal a quem procura a Igreja, manter-se disponíveis, como sinal de
consideracáo, escuta e abrigo a necessitados de amparo espiritual. Sem
dúvida. vosso trabalho evangelizador teria um grande crescimento, se em
vossas comunidades fosse incentivado aquilo que oportunamente definís
como "ministerio da acolhida" das pessoas, facilitando o atendimento, e
exigindo dos padres e de seus colaboradores urna atitude serena e cordial.

IR AO ENCONTRÓ DO POVO

Finalmente, onde encontraríamos a falta de ardor e de iniciativa no


anuncio evangélico?

A evangelizacáo a que a Igreja está sendo chamada neste final de


milenio deve ser, como tantas vezes tenho repetido, nova em seu ardor,
seus métodos e sua expressao. Este ardor, como falei em Santo Domingo,

8
O DESAFIO DAS SEITAS 9

"supoe urna fé sólida, urna intensa caridade pastoral e urna fidelidade ro


busta que, sob a acáo do Espirito, gerem urna mística, um entusiasmo
incontido no trabalho de anunciar o Evangelho. Na expressáo do Novo Tes
tamento, é a "parresia" que inflama o coracáo do apostólo" (Discurso inau
gural, 10).

Chama a atencáo o proselitismo a qualquer custo, o entusiasmo dos


agentes das seitas e de alguns movimentos pseudo-espirituais. Nao esta
ría havendo urna certa acomodagáo deixando de ir em busca das ovelhas
que estáo afastadas? Ao contrario da parábola evangélica, nao é urna e
outra que está tresmalhada, mas é urna parte do rebanho.

Por isso, quis salientar, no 25° aniversario do Decreto conciliar Ad


Gentes, que o "anuncio tem a prioridade permanente na missáo (...)• Na
realidade complexa da missáo, o primeiro anuncio tem um papel central e
insubstituível, porque introduz no misterio do amor de Deus, que, em Cris
to, nos chama a urna estreita relacáo pessoal com Ele e predispSe a vida
para a conversáo" (Carta ene. Redemptoris missio, 44). Precisamente
porque "o amor de Cristo nos constrange" (2 Cor 5,14), a "missáo é um
problema de fé, é a medida exata da nossa fé em Cristo e no Seu amor por
nós"(RM,11).

Isso mostra, caríssimos irmaos, que nao basta chamar, convocare


esperar que as pessoas venham. Como diz outro lema da acáo pastoral de
urna das vossas Dioceses, deveis ser "urna Igreja que vai ao encontró do
Povo"! Deveis ser urna Igreja que procure as pessoas, que as convide nao
somente no chamado geral dos meios de comunicacáo, mas no convite
pessoal, de casa em casa, de rúa em rúa, num trabalho permanente, res-
peitoso, mas presente em todos os lugares e ambientes.

Para isso é importante contar com a generosidade dos fiéis leigos.


Refiro-me, de modo especial, aqueles que procuram viver de modo mais
intenso a sua consagragao batismal quer pessoalmente, quer ñas tradicio-
nais associacoes religiosas ou nos novos movimentos leigos que, sob a
acáo do Espirito Santo, váo surgindo na Igreja. Contai, respeitai o seu ca-
minho espiritual, mas nao deixeis de convocá-los para o trabalho
evangelizados

A NOVA EVANGELIZACÁO

A vossa tarefa é um desafio missionário: preparar a Igreja do terceiro


milenio, retornando a iniciativa da nova evangelizado mediante esforcos
redobrados. Á luz do mandamento do amor, venerados irmaos no episcopa
do, sede apostólos intrépidos da verdade e construtores de urna comunida-
de fraterna, permanecendo na escuta d'Aquele que vos consagrou (cf. Is
61,1), a fim de testemunhardes com misericordia a benevolencia divina para
convosco.
10 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 404/1996

II. REFLETINDO...

A alocucáo do Santo Padre toca em pontos nevrálgicos na Pastoral


nao somente de Regionais do Nordeste, mas de todas as regióes do Brasil.
Eis os tópicos que realga:

1) Ecumenismo. Nao redunde em relativismo da doutrina da fé católi


ca nem da respectiva Moral. Nao seja a valorizagáo unilateral de posigoes
protestantes, como se o Catolicismo nao fosse a forma completa e ade-
quada de professar e viver o Evangelho. O diálogo ecuménico requer prepa
ro da parte dos participantes, para que nao degenere em discussóes este
réis ou em concessóes traigoeiras.

2) Seitas. Constituem serio perigo, pois se aproveitam da ignorancia


ou da impericia de muitos católicos. A sua propagagáo nao suscita pessi-
mismo da parte dos fiéis, que sabem ser a Igreja infalivelmente assistida
por Cristo (Mt 28,18-20), mas vem a ser um desafio, que exige medidas
adequadas: renovagáo da catequese, revigoramento da vivencia crista pau
tada pela Moral do Evangelho que a Igreja apregoa. Será preciso lembrar
aos fiéis que Jesús Cristo nao prometeu solugóes mágicas ou "milagrosas"
para qualquer problema, desde que se oferega urna quantia ponderável á
Igreja; Ele requer urna fé madura e adulta, ancorada nos valores definitivos.

3) Os sinais da fé. Essa fé católica deve ser manifestada por seus


símbolos, pois o povo muito estima tais sinais. Daí a necessidade de se
celebrar a Liturgia com dignidade e reverencia, evitando o folclore profano;
a música sacra contribua para a elevagáo das mentes a Deus; o toque do
sino se faga ouvir, convocando os fiéis á oragáo; as vestes dos sacerdotes
exprimam sua integral consagragáo a Deus; o padre aparega como autén
tico ministro de Cristo, impregnado de Sabedoria Divina.

4) Acolhida caridosa. Já que muitos homens hoje se sentem sos,


deslocados ou perdidos neste mundo, é preciso que as comunidades cató
licas se esmerem por oferecer-lhes a acolhida fraterna e generosa de que
necessitam. Os homens de hoje se deixam convencer mais pela caridade
com que sao tratados, do que pela proposigáo teórica da verdade. Esta
deve ser proclamada, sem dúvida, mas com o apoio da caridade dos res
pectivos mensageiros.

5) Ardor e Zelo. Em suma, a convicgáo profunda e o entusiasmo dos


fiéis (leigos e clérigos) católicos háo de transparecer no anuncio das verda
des da fé. É preciso ir ao encontró dos iranios com zelo e ardor pastorais.

Sao estas algumas pistas indicadas pelo S. Padre para se enfrentar o


problema das seitas. Se tais pistas forem trilhadas, o problema ter-se-á
transformado em beneficio para a fé e a vivencia dos católicos.

10
Manipulando a Historia:

•ORIGEM DOS VARIOS


GRUPOS CRISTÁOS"

Em síntese: A revista PR recebeu um panfíeto protestante que pre


tende indicar a origem das diversas confíssdes religiosas monoteístas. Ao
se referir ao Cristianismo, apresenta-o como eivado de elementos pageos
e judaicos dentro do Catolicismo, de modo que o protestantismo, apesar
de suas muitas divisdes e subdivisóes, aparece como a forma auténtica da
vivencia do Evangelho. Em conseqüéncia, o autor do panfíeto há de admitir
que o Cristianismo só é plenamente vivido no mundo a partir de Lutero,
Calvino e reformadores do século XVI; até esta época terá fícado latente
ou reprimido em grupos que contestavam a Igreja Católica; entre esses
grupos o autor do panfíeto enumera a corrente dos cataros ou albigenses
medievais, que nem sequer eram crístáos, pois professavam o dualismo
ou maniquefsmo (será que o autor do panfleto mediu o alcance do absurdo
que ele prop&e, considerando os cataros como predecessores do protes
tantismo?).

Em suma, o autor querjustificar a ruptura do protestantismo frente á


TradigSo crista e, para tanto, reconstituí a historia do Cristianismo a seu
modo, recorrendo a falsas interpretagóes e imprecisas ou distorcidas ale-
gagóes de fatos. Tem-se al um espécimen muito nítido do modo como
procedem os protestantes proselitistas; parecem eruditos, engañando os
incautos com seu linguajar inescrupuloso e por vezes irónico.

Um autor presbiteriano enviou a PR um panfleto1 que pretende mostrar


a origem de diversos grupos religiosos da humanidade, inclusive o islamismo,
dando a entender que o protestantismo (ñas suas mais antigás denomina-
cóes) é o único ramo que auténticamente se radica em Jesús Cristo e,
através de Jesús Cristo, se fundamenta no Antigo Testamento. Quem lé
esse trabalho, pode ficar impressionado pela énfase positiva com que o
autor se refere á Reforma protestante e pela agressividade com que consi-

' Pb. Mauro Peres Caldeira, Esquema Gráfico das Origens e Tendencias dos varios
Ramos ou Grupos Religiosos e Filosóficos.

11
12 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 404/1996

dera a Igreja Católica; esta estaría eivada de concepcóesjudaicas e pagas,


de modo que só se encontraría o Cristianismo puro no protestantismo (por
mais dividido que esteja).

O panfleto, acompanhado de gráfico, merecerá atencáo ñas páginas


subseqüentes, pois tal é o pedido que nos fazem alguns leitores.

1. OBSERVACÓES GERAIS

O autor, Presbítero Mauro Peres Caldeira, analisa o Catolicismo, criti-


cando-o acerbadamente para poder exaltar em seu lugar o protestantismo.
Os pontos particulares que Mauro Caldeira aborda, já foram esclarecidos
em números anteriores de PR. Mais importante é considerar as premissas
do pensamento de Peres Caldeira e de seus colegas protestantes. É o que
faremos por etapas.

1.1. Cristianismo Deteriorado?

1. Peres Caldeira, como presbiteriano, pertence ao bloco protestante


que se afastou da Tradicáo crista no século XVI, tentando recomecar o
Cristianismo, sob a alegacáo de que este se achava deteriorado no fim da
Idade Media.

Compreende-se entáo que os autores protestantes procurem justifi


car, pela apresentacáo mesma da historia, a ruptura protestante, apresen-
tando-a como a legítima expressáo do pensamento de Cristo.

Lemos, pois, no panfleto de Peres Caldeira, queja no século IV, sob


Constantino Magno e outros Imperadores romanos, o Cristianismo se foi
paganizando; os deuses da mitología passaram a "reviver" sob forma dos
Santos do Cristianismo. Pelo fato de haver imposic§o de Cinzas na quarta-
feira após o Carnaval, julga o autor que o próprio Carnaval foi aceito pela
Igreja... Em suma, alegacSes nao fundamentadas, genéricas e distorcidas
sao assim aduzidas a fim de "demonstrar" os "desvíos" do Cristianismo
católico.

O processo deturpadorterá continuado através dos sáculos na "Gran


de Igreja". Entrementes, porém, o auténtico Cristianismo se terá mantido
em grupos contestatarios ou dissídentes da "Grande Igreja", entre os quais
sao nomeados os cataros ou albigenses:

"O Movimento CrístSo Continuador manteve viva a chama do Cristia


nismo, gragas a grupos (familias) de fiéis que seguiram os principios crís-

12
"ORIGEM DOS VARIOS GRUPOS CRISTÁOS1 13

tSos ensinados pelo Senhor Jesús e reafirmados pelos Apostólos, iivres


das influencias pagas, judaicas e da tradigSo católica.

Mais tarde grupos maiores se formaram para protestar contra os


desmandos da Igreja Romana, sobressaindo-se os cataristas ou albigenses,
os valdenses, os IrmSos e outros. Foram implacavelmente perseguidos,
mas aiguns escaparam pelo poder de Deus para que a verdadeira fé cristé
fosse preservada, assim como oéa Palavra de Deus (Mt 24,35; Le 21,33;
Gloria ao Senhor por isto!"

Faca-se aquí um paréntesis para observar:

a) Que familias ou grupos de fiéis sao esses mantenedores da autén


tica fé? Como se chamavam? Onde viviam? De que modo agiram?

b) O autor parece nao saber o que diz: os cataros ou albigenes nem


eram cristaos, pois professavam o dualismo ou maniqueísmo; seráo eles
os genuínos antecessores do protestantismo?

No século XVI. prossegue Mauro Caldeira, terá vindo á plena luz esse
filete oculto do Cristianismo, originando o protestantismo.

2. A propósito ponderemos:

Quem pensa como ácima terá esquecido os dizeres bíblicos segundo


os quais Jesús quis fundar urna Igreja em que ele manteria intata a sua
mensagem, preservando-a de deteriora$3o. Essa Igreja, Ele a confiou a
Pedro e a seus sucessores. prometendo-lhes sua assisténcia infalível, como
decorre dos seguintes textos:

Mt 16,18s: "Eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei


a minha Igreja e as portas do inferno nunca prevalecerSo contra ela. Eu te
darei as chaves do Reino dos Céus e o que ligares na térra será ligado nos
céus e o que desligares na térra será desligado nos céus".

Le 22,31 s: "SimSo, SimSo, eis que Satanás pediu instantemente para


vos penetrar como o trigo; eu. porém, orei por ti, a fim de que tua fé neo
desfalega. Quando te converteres, confirma teus irmáos".

Jo 21,15-17: "Disse Jesús a SimSo Pedro: 'SimSo, filho de JoSo, tu


me amas mais do que estes?'Ele Ihe respondeu: 'Sim, Senhor, tu sabes
que eu te amo'. Jesús Ihe disse: 'Apascenta os meus cordeiros'. Urna se
gunda vez Ihe disse: 'SimSo, fílho de JoSo, tu me amas?'- 'Sim, Senhor",

13
14 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 404/1996

disse ele, 'tu sabes que te amo'. Disse-lhe Jesús: 'Apascenta as minhas
ovelhas'. Pela terceira vez disse-lhe: 'SimSo, filho de Joño, tu me amas?'
Entrísteceu-se Pedro porque pela terceira vez Ihe perguntara: 'Tu me amas?'
e Ihe disse: 'Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que te amo'. Jesús Ihe disse:
'Apascenta as minhas ovelhas'".

Mt 28,18-20: "Disse Jesús: 'Toda autoridade sobre o céu e a térra me


foi entregue. Ide, portanto, e fazei que todas as nagóes se tornem discípu
los, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espirito Santo e ensinan-
do-as a observar tudo quanto vos ordenei. Eis que estou convosco todos
os dias até a consumagáo dos séculosV

Segundo Peres Caldeira, as promessas de Cristo nao se cumpriram,


ou seja, Jesús se enganou. A mensagem do Evangelho terá sido levada
pelo vento a nao ser nos pequeños grupos anónimos que o autor postula,
forcando a historia. Somente no século XVI terá Deus suscitado Lutero e
reformadores, que entenderam devidamente a mensagem crista; somente
a partir de entáo é que o mundo pode contemplar "a verdadeira face" do
Cristianismo e pleitear acesso á mesma. Isto querdizerque o Cristianismo
comecou tarde, so tem quatro séculos e meio de plena vivencia; antes do
século XVI o mundo so observou deturpacóes do Evangelho.

Quem reflete sobre estas conclusóes, nao pode deixarde reconhecer


que acusam de omissáo o próprio Deus. O Cristianismo, que custou o
sangue redentor de Cristo, devia ficar latente até Lutero e Calvino? Deus
terá abandonado a sua obra? Cristo terá morrído para que apenas os quatro
últimos séculos se pudessem plenamente beneficiar do preco de seu san
gue? Afinal nao sabe Deus o que quer?

Isto tudo é implícitamente sustentado por Peres Caldeira, a fim de


justificar o protestantismo... Como este é mal sustentado!

1.2. Igreja e Biblia

Como se compreende, o autor tem que relativizar o conceito de Igreja,


embora, fundando-a sobre Pedro, Jesús a tenha chamado "minha Igreja".

Os reformadores deram inicio á destruicáo do grande patrimonio de fé

' É de notar que Jesús nao disse: 'Estarei com os mais santos ou mais zetosos..."
(santidade e zelo sao criterios subjetivos e oscilantes), mas disse: 'Estarei convosco
(Apostólos e sucessores) até a consumagáo dos séculos". Por conseguinte, a assis-
téncia infallvel de Jesús se prende a unta nota objetiva. nSo oscilante: a sucessSo
apostólica.

14
"ORIGEM DOS VARIOS GRUPOS CRISTÁOS"

e cultura dos séculos anteriores, que associavam entre si Deus, Jesús


Cristo e a Igreja:

- a reforma no sáculo XVI disse Sim a Deus e a Cristo, Nao á Igreja;

- os iluministas racionalistas do século XVIII disseram Sim a Deus,


Nao a Cristo e á Igreja;

- os ateus do século XIX disseram Nao também a Deus;

- finalmente os estruturalistas do século XX disseram Nao também


ao homem, pois a morte de Deus vem a ser também a morte do homem.

Negando a Igreja de Cristo, os reformadores aceitaram a fundacáo de


numerosas igrejas e igrejinhas de líderes humanos, todas derivadas do
subjetivismo dos seus fundadores. Os própnos presbiterianos se repartem
hoje em varios grupos independentes uns dos outros: presbiterianos inde-
pendentes, presbiterianos unidos, presbiterianos do Brasil...

A fonte que inspira os fundadores de igrejas protestantes, é a Biblia,...


a Biblia, porém, entendida segundo "o livre exame"; cada crente é livre para
interpretar a Biblia segundo o seu parecer, "guiado pelo Espirito Santo".
Assim procedendo, os protestantes esquecem que a Igreja é anterior á
Biblia (Novo Testamento); o Cristianismo já existia quando foi escrito o
Novo Testamento; este é bercado e redigido pela Igreja. É portanto a Igreja
que credencia a Biblia, e nao vice-versa; é a Igreja que autentica, recomen-
da e interpreta a Biblia, e nao vice-versa. Por conseguinte, ler a Biblia fora
da tradicáo oral, que Ihe é anterior, levando em conta apenas o "eu acho..."
do leitor, é violentar a Escritura, visto que esta mesma remete o crente ás
fontes oráis da Palavra:

Jo 20,30s: "Jesús fez, diante dos seus discípulos, muitos outros si-
nais aínda, que neo se acham escritos neste livro. Estes, porém, foram
escritos para crerdes que Jesús é o Cristo, o Filho de Deus, e para que,
crendo, tenhais a vida em seu nome".

Jo 21,25: "Há muitas outras coisas que Jesús fez e que, se fossem
escritas urna por urna, creio que o mundo neo poderla conter os livros que
seescreveriam".

2Tm 2,2: "O que ouviste de mim em presenga de muitas testemu-


nhas, confía-o a homens fiéis, que sejam capazas de ensinar aínda a ou
tros1".

Desta forma a Escritura mesma atesta a existencia de germinas tradicSes doutrinárias


de Cristo a ser transmitidas por vía meramente oral, de geracáo a geracSo. sem que os
cristSos tenham o direito de as menosprezar ou retocar. Este depósito oral chegou á
geragáo presente e é expresso pela voz oficial da Igreja.

15
16 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 404/1996

É o modo subjetivo de ler a Biblia que possibilita o esfacelamento do


Cristianismo, tal como ocorre dentro do bloco protestante: batismo de en
ancas ou de adultos? sábado ou domingo? Bispos ou nao? Imersao batismal
ou apenas infusáo da agua? As mais recentes denominaedes já nao acei-
tam Jesús como Deus e Homem (assim as Testemunhas de Jeová, a Cien
cia Crista) nem a SS. Trindade; chegam a ter um livro sobreposto ao da
Biblia (como, por exemplo, o livro de Mórmon).

1.3. Somente a Biblia

Os reformadores estabeleceram o principio de que a única fonte de fé


é a Biblia, rejeitando assim toda a tradicáo oral derivada de Cristo e dos
Apostólos.

Ao estipularem isto, incorreram numa visível contradicao, pois nao tém


resposta para a pergunta: "Donde sabemos que a Biblia, com seus 66 ou
73 livros, é inspirada? Onde está explicitado na Biblia o canon sagrado?".
Na verdade, somente a Tradicáo oral (na única Igreja de Cristo) entrega ao
crente a Biblia e define o catálogo da mesma. A própria Biblia nao se defi
ne. Vé-se, pois, que o protestante, por mais que queira rejeitar a tradicáo
oral, nao se pode furtar a recorrer a ela; além do mais, cada denominacáo
segué a tradicáo oral iniciada por seu fundador (Lutero, Calvino, Wesley, J.
Smith, H.G. White...), em vez de seguir a tradicáo oral que vem de Jesús
Cristo e dos Apostólos. Que empobrecimento isto implica! Na verdade, se
a Biblia é a mesma em todos os ramos do protestantismo, por que nao sao
todos concordes entre si no tocante ao dia de repouso, á praxe do Batis
mo, á organizacao da sua denominacáo...? - É porque, além da Biblia,
seguem a tradicao oral do respectivo fundador, e nao a de Jesús Cristo e
dos Apostólos.

O subjetivismo dos protestantes na sua interpretado da Biblia é evi


dente, pois levam em conta os textos que condizem com suas premissas e
omitem os demais. Assim

- no tocante á Eucaristía. É evidente que o Senhor Jesús quis afirmar


a sua real presenca no Sacramento do Pao e do Vinho: "Isto é meu corpo...
Isto é meu sangue..." (Mt 26,26s); "O pao que eu darei, é minha carne para
a vida do mundo" (Jo 6.51); "Quem come a minha carne e bebe o meu
sangue, tem a vida eterna,... permanece em mim e eu nele" (Jo 6,54.56);

- no tocante ao Sacramento da Reconciliacáo: Jo 20,22s;

- no tocante ao primado de Pedro: Mt 16,16-19; Le 22,31s; Jo 21,15-


17 (textos atrás citados);

16
"ORIGEM DOS VARIOS GRUPOS CRISTÁOS" 17

- esquecem por completo as palavras de Sao Paulo em 1 Cor 7,25-35,


que apresentam a vida una ou indivisa (celibatária ou virginal) como exce
lente caminho...

O subjetivismo protestante na interpretado da Biblia é tal que algu-


mas denominacóes mais recentes (adventistas, Testemunhas de Jeová...)
enfatizam mais e mais o Antigo Testamento. Peres Caldeira parece enver-
gonhar-se deste fato, de modo que classifica tais grupos entre "os que nao
tém origem histórica definida"; assim as Testemunhas de Jeová, os
Mórmons, a Ciencia Crista... Ora tais grupos sao evidentemente derivados
do protestantismo em datas e locáis bem conhecidos:

- os Mórmons foram fundados por Joseph Smith em 1830 no Estado


de Nova lorque (EUA). Joseph Smith fora metodista;

- as Testemunhas de Jeová, fundados por Charles Taze-Russell em


1893, também nos Estados Unidos; o fundador foi presbiteriano, insatisfei-
to com a sua denominacáo;

- a Ciencia Crista foi fundada por Mary Baker Eddy em 1875, tendo
sido a fundadora membro do Congregacionalismo protestante.

1.4. O Cristianismo depauperado

Quem lé os trechos do panfleto em que Peres Caldeira faz o rol das


teses centráis do protestantismo, verifica que o Cristianismo se torna ai
vago e genérico, para poder enquadrar as arbitrariedades do "livre exame".

Eis o que numa folha anexa do panfleto se lé como características do


protestantismo: Um só Deus (Trindade Divina), Um só Mediador entre Deus
e os homens (Jesús Cristo), Urna só Doutrina Crista e Fé Apostólica.

Estes principios ignoram, por completo, o que se chamaría o aspecto


sacramental do Cristianismo, ou seja, o fato de que o misterio da Encamacáo
se prolonga no Corpo de Cristo que é a Igreja e, através desta, nos sete
sacramentos, dos quais a Eucaristía é o ponto alto. Jesús mesmo nos deu
a entender que Ele nao sería apenas um Mestre que deixaria um livro para
os seus discípulos estudarem; ao contrario, Ele se apresentou como o
tronco de videira do qual somos ramos (Jo 15,1-5); quem dá fruto, dá-o
porque participa da seiva do tronco ou da vida de Jesús, enxertado em
Cristo pelo Batismo. - A mesma concepcáo é exposta mediante a imagem
do Corpo cuja Cabeca é Cristo e cujos membros somos nos; cf. 1Cor 12,12-
27. O Cristianismo nao se reduz a urna escola de bons costumes, nem a

17
18 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 404/1996

grupo que desperté sentimentos subjetivos e eufóricos, mas é urna realida-


de objetiva, divino-humana - indefectível, porque Cristo continua vivo na sua
Igreja, vivo nao apenas porque os homens o amam e apregoam, mas por
que, ¡ndependentemenle da vivencia fiel ou infiel dos homens da Igreja, Ele
age e atua através dos homens e das coisas sagradas (sacramentos) em
favor dos homens.

Precisamente o que diferencia do protestantismo o Catolicismo, é a


convicgáo de que a humanidade de Jesús é o Primeiro Sacramento, que se
prolonga no Corpo de Cristo que é a Igreja e que atinge cada cristáo através
dos sete filetes sacramentáis (recobrindo toda a vida do cristáo desde o
nascer até o morrer). Ai está a verdadeia riqueza do cristáo, que pode dizer
com Sao Paulo nao numa atitude sentimental e subjetiva, mas com base
ontológica, objetiva: "Vivo eu, nao eu; é Cristo quem vive em mim" (Gl 2,20);
a vida do cristáo é assumida por Cristo e elevada a um plano superior.

2.0 PECADO NA IGREJA

Os reformadores do século XVI reagiram contra o Catolicismo dos


séculos XV/XVI, que se encontrava debilitado pela exuberante piedade po
pular e a frouxidáo dos costumes dos clérigos. Compreende-se que a Igre
ja, sendo divina e humana, esteja sujeita ás limitacóes dos seus membros
moríais. Donde periódicamente se requerum movimento renovador. Foi o
que o Senhor Deus suscitou, por exemplo. mediante o diácono Hildebrando
(futuro Papa Gregorio Vil) em 1073, mediante os Santos Francisco e Do
mingos no século XIII, mediante Sta. Teresa e Sao Joáo da Cruz. S. Inácio
de Loyola e outros muitos no século XVI... A Igreja, como tal, nao pode ser
reformada ou reestruturada. nao pode ser recomecada, pois é de origem
divina e o Senhor Deus garante a sua fidelidade á fé e á Moral de Cristo (Mt
28.18-20); mas os diversos setores da Igreja, na medida em que sao
gerenciados por homens, podem ser reformados (Liturgia, Catequese, Cle
ro, Laicato...). A Igreja, como Esposa de Cristo sem mancha nem ruga (cf.
Ef 5,27), nao peca; mas os filhos da Igreja pecam, á revelia de sua Máe.
Esta carrega os pecados de seus filhos, pecados que ela repudia e para os
quais ela tem o devido remedio nas fontes sacramentáis. Desta maneira é
que se há de entender o pecado na Igreja; ele existe na Igreja. mas nao é
da Igreja.

Em particular, a respe ito da Inquisicáo. veja-se o Curso de Historia da


Igreja da Escola "Mater Ecclesiae", Módulo 32 e 33. De resto, notemos que
"quem tem telhado de vidro, nao deve atirar pedras no telhado do vizinho".
Com efeito; o reformador Joáo Calvino (1509-1564) instituiu em Genebra um

18
"ORIGEM DOS VARIOS GRUPOS CRISTÁOS" 19

regime de Inquisicáo. que nao deixa a desejar se confrontado com a


Inquisicáo medieval: o Consistorio em Geneora era um tribunal destinado a
supervisionar severamente a vida religiosa e moral dos crentes em todas as
suas manifestacóes. Com o objetivo de controle, faziam-se, varias vezes
por ano, visitas a domicilio; foram instituidos o procedimento da denuncia e
da espionagem pagas. Os transgressores eram excomungados e condena
dos a fazer penitencia pública. Os grandes pecadores eram entregues ao
Conselho da Cidade para ser castigados. Foram pronunciadas muitas con-
denacóes á morte (58. até 1546) e mais aínda ao exilio. A tortura foi utiliza
da de maneira rigorosa. A cidade teve que se submeter, embora a contra-
gosto, á disciplina férrea de Calvino. Todas as festas religiosas desapare-
ceram. excetuados os domingos. A sociedade tornou-se taciturna: vestes
de luxo, bailes, jogo de cartas, teatro e divertimentos semelhantes eram
severamente condenados. O médico Jerónimo Bolsee, que ousou sublevar
se contra a doutrina calvinista da predestinacáo, foi exilado em 1551; o
humanista e médico espanhol Miguel Cervet foi queimado vivo em 1553 por
ter negado o dogma da SS. Trindade... Donde se vé que a Inquisicáo nao foi
um fenómeno do Catolicismo apenas, mas existiu no protestantismo, que
se dizia arauto do livre exame da Biblia.

Sobre a Noite de Sao Bartolomeu, ver pp. 27-31 deste fascículo.

As questóes particulares levantadas por Peres Caldeira respondere


mos no artigo seguinte deste fascículo.

Reconhecemos que na explanacáodas páginas anteriores houve re


curso a um tom inflamado e veemente que nao é usual nos fascículos de
PR. Todavía a agressividade protestante parece exigir urna réplica á altura,
que evidencie claramente ou desmascare os sofismas dos escritores pro
testantes.

CURSO DE MARIOLOGIA POR CORRESPONDENCIA

ALÉM DOS DOZE CURSOS JÁ PUBLICADOS, A ESCOLA "MATER


ECCLESIAE" OFERECE, A PARTIR DE JANEIRO CORRENTE, O SEU13°
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19
Em Diálogo Ecuménico:

QUANDO É QUE TAL OU TAL USO


FOI INTRODUZIDO NA IGREJA?

Em sintese: Muitos protestantes imaginam que as diversas expres-


sóes do culto e da vida da Igreja foram introduzidas por decretos papáis
que arbitrariamente resolveram implantar um novo costume alheio á Biblia.
- Só pensa assim quem nSo conhece a historia e a verdadeira índole da
Igreja; Esta é comparável a um grSo de mostarda, que aos poucos, sob a
assisténcia do Espirito Santo, va/ desabrochando ou manifestando as ri
quezas de sua vitalidade (el Mt 13,31s). O uso de agua benta, altares e
velas, além de terseu fundamento bíblico, possui seu significado simbóli
co e catequético. O celibato do clero está baseado em 1Cor 7,25-35, texto
que os protestantes nSo costumam citar. A prece da Ave-María retoma, em
sua primeira parte, textos bíblicos. Deve-se outrossim notar que a Biblia
neo é a única fonte de fé para os católicos; a fonte de fé é a Palavra de
Deus, que, principalmente, foi apregoada por v/a oral apenas e só depois
foi escrita, originando o Novo Testamento. Donde se vé que é a Palavra
oral, vivida na Igreja, que interpreta a escrita. A Igreja é anterior ao Novo
Testamento, do qual é a matriz; portanto é a Igreja quem abona a Biblia, e
nSo é a Biblia que abona a Igreja.

Nao poucas vezes os católicos sao interpelados por panfletos protes


tantes que Ihes propóem interrogares e objecSes. A linguagem e o con-
teúdo desses impressos sao de baixo nivel: trazem erros de portugués, de
historia, de interpretado bíblica, etc.; recorrem á irania;' copiam e recopiam
as suas alegaedes levianamente, sem controlar o que afirmam ou sem co-
nhecimento de causa. Mas em alguns casos encontram o fiel católico
despreparado para responder. Eis porque vamos agora considerar alguns
pontos langados portáis folhetos á consideracáo do leitor.

1. OBSERVAQÁO GERAL

Quem lé tais panfletos, tem a impressáo de que a S. Igreja move os

1 Diz-se que a ironía 6 a arma dos tocos. Faz caricaturas para poder atacar os fantasmas
que ela cria.
QUANDO É QUE TAL OU TAL USO FOI1NTRODUZIDO NA IGREJA? 71

seus fiéis como que a toques de decretos, determinando que, de certa daa
em diante, será preciso crer ou praticar isso ou aquilo... Ora tal impressáo
nao corresponde á realidade: o que a Igreja declara, através do seu magis
terio oficial, nao é senáo a expressáo da consciéncia que os fiéis, em seu
senso comum, possuem a respeito deste ou daquele ponto de doutrina ou
de disciplina Antes de ser proferidas de maneira solene pela autorídade da
Igreja, tais verdades ou práticas já fazem parte da vida dos cristaos. O
magisterio apenas as explícita; assim dissipa os perigos de mistura com o
erro. É isto, alias, que se dá em todo organismo vivo: a vida real, vivida, é
anterioras fórmulas ou definieses.'

2. ORIGEN! DA DESIGNACÁO "PROTESTANTE"

Conforme um dos panfletos mencionados, a palavra "protestante" vem


do protesto que o Apostólo Pedro fez, quando Ihe queriam negar o direito
de pregar o Cristianismo em Jerusalém. conforme At 4,17-20: 5,27. Em
conseqüéncia os protestantes seriam "mais antigos" do que os católicos.

- Na verdade, o protestantismo com suas doutrinas características


("somente a Biblia", "somente a fé", "somente a graga") comeca com Luterri,
que em 1517 langou o seu primeiro brado contra a Igreja Católica. Antes do
século XVI, nao se falava de "protestantismo".

Mais precisamente: o termo "protestantismo" teve origem nos seguin-


tes fatos: depois que Lutero iniciou suas críticas á Igreja Católica, o movi-
mento reformista foi-se alastrando na Alemanrta. Diante do fato, o Parla
mento alemáo reuniu-se em Espira no ano de 1529 e determinou que se
estancasse o movimento ¡novador até a realizagáo de um Concilio
Ecuménico, que julgaria a problemática religiosa. Isto significa que nos
Estados Católicos a propagacáo do luteranismo seria detida; quanto aos
Estados que já aderiam á Reforma, esta seria tolerada contanto que os
luteranos nao pregassem contra a S. Eucaristía e permitissem aos católi
cos a celebragáo da S. Missa. Frente a esta resolugáo (que correspondía a
um decreto anterior chamado "Edito de Worms"), seis principes protestan
tes, entre os quais Joio da Saxónia e Filipe de Hesse, e quatorze cidades
da Alemanha levantaram seus protestos veementes; nao queriam aceitar
que a S. Missa continuasse a ser celebrada em territorios protestantes
nem entendiam que os pregad ores protestantes deixassem de pregar con
tra a S. Eucaristía. Ora foi precisamente a partir desta ocasiáo (19/04/
1529) que os seguidores da Reforma foram chamados "protestantes".

1 Com efeito: primeramente, vivemos, respiramos..., depois definimos o que ó viver, respirar,
caminhar. Assim o povo de Deus. movido pelo Espirito Santo, no decorrer dos sócalos,
professou tais e tais proposigóes. seguiu tais e tais costumes. Em conseqüénda, o magiste
rio da Igreja. assistido pelo mesmo Espirito Santo, quis oportunamente apoiar com a sua
autoridade dirimente essas expressóes auténticas da vida.

21
22 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 404/1996

3. O SINAL DA CRUZ

Lé-se em panfletos protestantes que o sinal da Cruz foi instituido em


300 d.C.

Ora quem pesquisa a literatura crista anteriora 300, verifica, porexem-


plo, que o escritor Tertuliano (t pouco antes de 220) atesta o ampio uso do
sinal da Cruz por parte dos cristáos ñas mais variadas situacóes da vida:

"Quando nos pomos a caminhar, quando safmos e entramos, quando


nos vestimos, quando nos lavamos, quando iniciamos as refeigóes, quan
do nos vamos deitar, quando nos sentamos, nessas ocasides e em todas
as nossas demais atividades, persignamo-nos a testa com o sinal da cruz"
(De corona militis 3).

Diz ainda Hipólito de Roma (t 235/6), descreyendo as práticas dos


cristáos do século III:

"Marca/ com respeito as vossas cabegas com o sinal da Cruz. Este


sinal da PaixSo opOe-se ao diabo e protege contra o diabo, se é feito com
fé, nüo por ostentagáo. mas em virtude da convicgáo de que é um escudo
protetor. É um sinal como outrora foi o Cordeiro verdadeiro; ao fazer o sinal
da Cruz na fronte e sobre os olhos, rechagamos aquele que nos espreita
para nos condenar" (Tradicáo dos Apostólos 42).

Estes testemunhos dáo a ver que o sinal da Cruz já no inicio do século


III estava muito difundido entre os cristáos, de tal modo que as suas ori-
gens se identificam com as dos primordios do Cristianismo.

4. AGUA BENTA

Segundo alguns ¡mpressos protestantes, a "fabricacáo" da agua ben-


ta terá sido instituida no ano 1000.

- Deve-se dizerque o uso da agua benta na Igreja se prende ao uso da


agua batismal. Sim; o elemento natural "agua" tendo sido escolhido por
Jesús para comunicar a regenerac§o e a vida eterna, os cristáos julgaram
oportuno renovar o seu compromisso batismal usando agua sob forma de
sacramental (o Batismo é um sacramento; a agua benta é um sacra
mental)1. Por conseguinte, o sinal da cruz com agua benta e a aspersáo
da agua benta foram tidos como cañáis que continuam a derramar as gra-
cas da Redencáo sobre pessoas e objetos atingidos por essa agua.

Entende-se, pois, que o uso da agua benta nao teve origem no ano

1 Sacramental é um objeto sobre o qual a Igreja reza, pedindo a Deus sejam


recobertos de grapas © béngáos todos aqueles que os utilizarem.

22
QUANDO É QUE TAL OU TAL USO FOIINTRODUZIDO NA IGREJA? 23

1000, mas, sim, nos primordios da Igreja, em íntima conexáo com o Batis-
mo. É difícil dizer donde os protestantes tiraram táo singular noticia.

5. ALTARES E VELAS

Há também quem afirme: "Em 370. Principia o uso dos altares e velas
pelo fim do século III".

A noticia é incoerente, pois o ano de 370 nao pertence ao século III,


mas ao século IV. Além disso, é de notar que o uso de altares e velas
comecou nos tempos do Antigo Testamento. Assim quanto aos altares:

Gn 12,7: "AbraSo construiu em Siquém um altara Javé, queIhe apa


recerá". Ver Gn 13,18; 22,9.

Ex 17,15: "Moisés construiu um altar e pós-lhe este nome: Javé -


Nissi (Javé é minha bandeira)". Ver Ex 27,1; 29,13.

Nm 7,1: "No día em que Moisés acabou de erigir a HabitagSo, ele a


ungiu e a consagrou com todos os seus pertences, bem como o altar com
todos os seus utensilios".

Mt 5,23s: Diz Jesús: "Se estiveres para levar tua oferta ao altar e ali
te lembrares de que teu irmSo tem alguma coisa contra ti, deixa tua oferta
ali diante do altar e vai primeiro reconciliar-te".

Hb 13,10: "Temos um altar do qual nSo se podem alimentar os que


servem á tenda". Ver também Ap 6,9; 9.13 (menguo de altares no céu).

A respeito de velas:

Ex 25,31.37: "Farás um candelabro de ouro puro... Far-lhe-ás tam


bém sete lámpadas. As lámpadas seráo elevadas de tal modo que alumi-
em defronte dele".

Mt 5,15: O Senhor se refere á luz que britha sobre um candelabro.

Ap 1,13; 2,1: Cristo aparece entre candelabros.

6. TRANSUBSTÁNCIAQÁO E MISSA

O estudo do Novo Testamento demonstra que Jesús instituiu a Euca


ristía como perpetuacao do seu sacrificio1. Nesse sacramento temos a real

1 Ver a propósito Curso de Diálogo Ecuménico. Módulos 12.13 e14. Escola "Matar
Ecclesiae", Caixa postal 1362. 20001-970 Rio (RJ).

23
24 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 404/1996

presenca do Senhor Jesús sob as aparéncias do pao e do vinho. Eis, po-


rém. que se lé num panfleto:

"Em 818. Aparece pela prímeira vez nos escritos de Pascásio Radberto
a doutrína da transubstanciagSo e a Missa".

A propósito observamos: o que houve no século IX, foi a controversia


entre Ratramno e Pascásio Radberto. Contradizendo á Escritura e á Tradi-
cáo. Ratramno negava a real conversáo do pao e do vinho no Corpo e no
Sangue de Cristo, Pascásio escreveu entáo o "Líber de Corpore et
Sanguine Domini" (Livro do Corpo e do Sangue do Senhor). cuja segunda
edicáo saiu em 844; opunha-se a Ratramno, defendendo a identidade do
Corpo Eucarístico com o Corpo histórico de Jesús, ou seja, defendendo a
real presenca. Assim procedendo, Pascásio nada inovava.

O vocábulo "transubstanciacáo", que designa essa conversáo, apare


ce pela primeira vez no século XI (quase tres séculos após Pascásio
Radberto) e foi assumido nos documentos oficiáis da Igreja a partir do Con
cilio do Latráo IV (1215). O primeiro a usá-lo parece ter sido o jurista Ronaldo
Bandinelli (depois, Papa Alexahdre III11181) na frase: "Verumtamen si,
necessitate ¡mínente, sub alterius pañis specie consecratur, profecto fieret
transubstantiatio" - o que quer dizer: "Mas. se em caso de necessidade
¡mínente, se fizesse a consagrado de outro pao, haveria transubstanciacáo".
Por conseguinte, nao foi Pascásio Radberto quem introduziu o vocábulo na
linguagem teológica.

Em 818 (data indicada pelo panfleto) Pascásio Radberto, nascido em


790, tinha 28 anos - idade que nao corresponde á de sua controversia
teológica (que se deu a partir de 840).

O nome "Missa" nao se deve a Pascásio Radberto. É palavra latina


equivalente a missio (missio ou envió); significava a despedida ou o envío
dos catecúmenos para fora da igreja, quando terminava a homilía ou a liturgia
da Palavra. Aos catecúmenos nao era permitido participar da Eucaristía
propriamente dita, pois ainda nao haviam sido batizados. O nome Missa.
que designava tal momento da liturgia, foi no século IV aplicado a todo o
rito eucarístico, de modo que este hoje se chama Missa. O primeiro a usar
a palavra Missa no sentido atual foi provavelmente S. Ambrosio (f 397) na
epístola 20,4. S. Agostinho (t 430) escrevia: "Eis que após o sermáo se faz
a missa (= despedida) dos catecúmenos; ficaráo apenas os fiéis batizados"
(serm. 49,8).

7. O CELIBATO DO CLERO

Há quem chegue a dizerque o celibato do clero foi instituido em 1879!

24
QUANDO É QUE TAL OU TAL USO FO! INTRODUZIDO NA IGREJA? 25

- A praxe do celibato sacerdotal tem suas raízes em 1Cor 7,32-34,


texto em que Sao Paulo afirmava sera vida celibatária um estado em que
mais fácilmente se pode servir ao Senhor, sem divisóes e sem solicitudes
supérfluas. Em 1Tm 3.2 o Apostólo recomenda que o ministro de Deus
"seja marido de urna so esposa": com isto Sao Paulo quería inculcar que
no século I da nossa era, quando as comunidades cristas constavam de
muitos casados e adultos recém-convertidos, nao se escolhesse para o
ministerio algum homem casado em segundas nupcias; estas, com efeito,
eram geralmente desaconsejadas pela Igreja antiga por parecerem urna
expressao de incontinencia.

Vé-se, pois, que desde os tempos apostólicos a vida una era reco
mendada e praticada pelos ministros do Senhor (tenhamos em vista, por
exemplo, o caso de Sao Paulo e o do próprio Cristo).

No Ocidente a primeira legislacáo restrítiva ao casamento de clérigos


se deve ao Concilio de Elvira (Espanha) por volta do ano 300; proibia aos
Bispos, sacerdotes e diáconos, sob pena de degradacáo, o uso do matri
monio e o desejo de ter prole (canon 33). Esta determinacáo. que era regi
onal, em menos de um século estava em vigor (as vezes sob forma de
conselho apenas) em todo o Ocidente. A fórmula definitiva de tal disciplina
foi promulgada pelo Concilio Ecuménico do Latráo I em 1123: a todos os
clérigos, a partir do subdiaconato, foi prescrito o celibato; em conseqüén-
cia, o matrimonio contraído por algum eclesiástico depois da respectiva
ordenacáo era tido como inválido. O Concilio de Trento (1545-1563) reafir-
mou tal determinacáo.

Isto bem mostra quáo inexata é a noticia atrás citada.

8. A RECITACÁO DA "AVE MARÍA"

Lé-se num panfleto protestante: "Em 1317. JoáoXXII ordena a reza


"Ave María™.

Algumas confusóes estao subjacentes a esta afirmacáo, como se verá


a seguir. A primeira parte da "Ave Maria" tem sua origem no próprio texto
bíblico, onde se léem as palavras do arcanjo Gabriel: "Ave, cheia de graca,
o Senhor está contigo; és bendita entre as mulheres" (Le 1, 28) e as de
Elisabete: "E bendito é o fruto do teu ventre" (Le 1,42). Vé-se, pois, que é
a oracao mais nobre do Novo Testamento após o Pai Nosso, que nos é
ensinado pelo próprio Cristo.

Os primeiros testemunhos que demonstram o uso de tal fórmula na


piedade crista, datam dos séculos IV/V: trata-se de duas conchas ou pla
cas de argila (ostraka) encontradas no Egito e portadoras do texto grego

25
26 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 404/1996

da "Ave María" (primeira parte). Também as fórmulas litúrgicas (ou as


Liturgias) atribuidas a S. Tiago, S. Marcos e S. Basilio dáo testemunhosdo
uso de tal prece nos séculos IV/V.

Em latim a saudacáo angélica ocorre na Liturgia do IV domingo do


Advento, que data dos tempos de S. Gregorio Magno (t 604). No fím do
século XII aparecem as primeiras prescribes relativas á recita gao da "Ave
María" na Liturgia das Horas e na devocáo popular.

A segunda parte de tal oracáo ("Santa María, Máe de Deus, rogai por
nos...") aparece em uso num Breviario (Liturgia das Horas) dos séculos
XIV/XV; foi a partir de entáo que se tornou habitual na devocáo dos fiéis.

O que se atribuí ao Papa Joáo XXII, nao é a ordem de rezar a "Ave


María", mas a recomendacáo de se reverenciara Encarnacáo do Verbo de
Deus mediante a recitacáo do "Pai Nosso" e da "Ave María" ao toque do
sino, no fim do dia. Tal recomendagáo data de 1327 e nao de 1317, como
afirma o folheto em pauta.

9. CONCLUSÁO

Infelizmente o protestantismo tem atacado a Igreja em termos que


nao raro sao mentirosos e passionais. Nao é assim que se promove a cau
sa de Cristo, que disse: "Eu sou... a Verdade e a Vida" (Jo 14,16). Infeliz
mente, porém. a mentira cala sempre no ánimo do grande público, como
dizia Voltaire: "Menti, mentí, porque sempre fica alguma coisa!"

Houve realmente inovacoes na vida da Igreja através dos séculos, mas


todas de caráter acidental, sem afetar a integridade da fé. Era natural e
necessário que ocorressem, pois a Igreja é um corpo vivo, animado pelo
Espirito Santo, que do seu tesouro de vitalidade sabe tirar "coisas novas e
velhas" (Mt 13,52); urna Igreja que hoje se apresentasse com a face exteri
or que tinha no século I. seria urna "múmia" e nao urna sociedade viva;
novos tempos exigem novas respostas da parte de Cristo, que vive na Igre
ja. O próprio Jesús no Evangelho assemelhou a sua Igreja á sementé de
mostarda que, de pequenina, se torna enorme árvore, desdobrando e ex-
pandindo as suas virtualidades no decorrer dos tempos.

POR QUE NAO SOU...? PORQUE NAO SOU CATÓLICO?

Podem ser muito úteis ao leitor dezenove opúsculos rela


tivos ás novas crengas religiosas e místicas de nossos dias,
assim como referentes a Jesús cristo (sua vida e sua obra).
Pedidos á Escola "MaterEccIesiae", Caixa postal 1362, 20001-
970 Rio (RJ); fone (021) 242-4552.

26
Que dizer?

E A NOITE DE SAO BARTOLOMEU


(24/08/1572)?

Em sintese: A "Noite de SSo Bartolomeu" vem a ser urna faganha que


se tornou famosa por causa da falsa interpretagSo que se Ihe tem dado.
Estudando objetivamente os fatos, o pesquisador verifica que se tratou de
um episodio inspirado por interesses maquiavélicos da rainha de Franga
Catarina de Medicis, a qual quis dar caráter religioso, ou seja, a índole de
defesa da fé católica a urna faganha que a consciéncia católica nño justifi
ca: o morticinio de huguenotes por parte de cidadáos católicosjamáis pode-
ría sermeio aprovado para salvaguardaros interesses do Catolicismo na
Franga. As informagñes deturpadas transmitidas á Santa Sé contribuiram
para agravaros acontecimentos; o Papa Gregorio XIII aprovou a falsa ver
seo que Ihe foi comunicada - o que parecía significar que sancionava o
infquo homicidio de muitos irmáos.

É por vezes evocado o episodio da "Noite de Sao Bartolomeu" (24/08/


1572) como testemunho da intransigencia agressiva dos católicos da Fran
ca aos seus concidadáos protestantes ou huguenotes. Como outros episo
dios, também este há de ser entendido dentro dos parámetros do respecti
vo contexto histórico, a fim de nao se proferirém juizos injustos "em nome
da justica". Como se verá adiante, o episodio teve caráter fundamentalmen
te político, revestido de aparéncia religiosa católica, sendo protagonista a
rainha Catarina de Médicis da Franga, famosa por suas conceptees
maquiavélicas, segundo as quais o fim justifica os meios.

1. OS FATOS

Para se entender o episodio, torna-se oportuno reconstituir brevemen


te a situacáo religiosa da Franca em meados do séc. XVI.

1. A Franga, país católico desde Clóvis (496), era após a ¡rrupcáo do


luteranismo (1517) um objetivo muito visado pela revolucáo religiosa; dentre
os cem milhóesde habitantes da Europa, contava vinte milhóes. que viviam
em prosperidade industrial e comercial, justificando o adagio medieval: "A
Franca é o forno onde se coze o pao do Ocidente".

As idéias dissolutórias do humanismo paganizante e do protestantis-

27
28 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 404/1996

mo encontraram acolhimento ambiguo entre os franceses, cujo governo e


cujo povo estavam profundamente arraigados na fé católica. Contudo o
calvinismo, instigado por um francés (Joáo Calvino) estabelecido em Gene-
bra (Suíca), ia penetrando no reino; recrutava seus melhores partidarios
entre os nobres da corte, sofrendo, porém, represalias por parte do gover
no.

Em meados do séc. XVI. a aristocracia, em vista das tendencias


centralizadoras de Francisco I (1515-1547) e Henrique II (1547-1559), se
¡ulgava vítima do poder regio, que aínda era o representante da causa cató
lica; queixumestambém se difundiam, motivados pela inflacáo monetaria,
de sorte que muitos entreviam na introducáo da reforma protestante em
Franca a ocasiáo de se emancipar da autoridade regia e resolver a crise
financeira mediante a secularizará o dos bens da Igreja.

Foram-se assim formando duas facgSes assaz fortes entre os nobres:


a calvinista ou huguenote (nome provavelmente derivado de "Eidgenosse",
companheiro de juramento), chefiada pelos irmáos Chatillon ou Montmorency
(dentre os quais sobressaia o almirante Gaspar de Coligny) e pelos Bourbon
(dos quais Luís de Conde era o principal vulto); a católica, encabecada
pelos irmáos Francisco e Carlos de Guise. Note-se bem que um e outro
destes partidos, embora professassem a defesa de idéias religiosas, esta
vam profundamente imbuidos de ambicies políticas, aspirando ambos a
tomara orientacao suprema do reino.

2. Em 1560 subiu ao trono o reí Carlos IX, com nove anos de idade,
ficando sob a regencia da rainha-máe Catarina de Medicis. Esta, oriunda
de familia florentina católica, só tinha um ideal: dominar na política, impor-
se a todos por sua energía e autoridade; nao gostava, por conseguinte, de
"fanatismo religioso". Sendo assim, em sua regencia nSo se empenhou
nem por católicos nem por calvinistas, procurando, ao contrarío, fazer polí
tica de neutralizacáo; favorecía ora a estes ora aqueles, a fim de que ne-
nhum dos dois partidos tomasse a supremacía e a rainha mais fácilmente
dominasse. Sabe-se outrossim que era extraordinariamente perspicaz e
hábil, chegando a servir-se de um grupo de donzelas para seduzir os no
bres que ela quería atrair ao seu partido.

Sob os govemos de Catarina e de Carlos IX (1560-1574), foi ganhando


prestigio o almirante Gaspar de Coligny, homem de bem, mas calvinista
ardoroso. Em 1571. o rei Carlos IX (declarado maior em 1563, mas domina
do por Catarina até 1570) chamou-o ao seu conselho; imaturo e influenciável
como era, o monarca dava a Coligny o título de "Pai".

Desde 1562. as duas faccóes - calvinista e católica - estavam em


guerrilhas (o que bem se entende, pois fins políticos moviam os partidari
os). Em 1570 os beligerantes assinavam a Paz de Sao Germano, favorável

28
E A NOITE DE SAO BARTOLOMEU (24/08/1572)? 29

aos huguenotes. O acordó devia ser selado pelo casamento da filha de


Catarina - Margarida de Valois - com Henrique de Navarra, chefe do partido
calvinista. O matrimonio, porém, dependía de urna dispensa papal que S
Pío V nao quería dar. Nao obstante, em abril de 1572 os interessádos se
decidiram ao casamento. O partido calvinista e a figura de Coliany pareci-
am triunfar! K

Catarina, porém, inquietava-se com a situacáo; nao podia permitir que


Coligny tivesse mais ascendencia sobre Carlos IX do que ela...

Finalmente as nupcias planejadas realizaram-se aos 18 de agosto de


1572, com a afluencia de milhares de calvinistas e católicos a Paris, os
quais, juntamente com o rei, se entregaram a festejos ruidosos, prazeres
fúteis, enquanto a rainha-máe se fechava em si, revestida de seustrajos de
viúva enlutada, com seu colarinho branco a pórem realce urna fisionomía
severa, sem beleza, lívida como a cera. E refletia...

A ocasiáo era propicia para se desferir um golpe forte contra os


huguenotes. Catarina soube entrar em acordó com Henrique, filho de Fran
cisco de Guise, nobre jovem de 22 anos de idade e audacioso, que deseja-
va fazer carreira, movendo a política contra os calvinistas. Devidamente
apoiada, a rainha-máe aos 22 de agosto de 1572 mandou cometer em ple
na rúa um atentado armado contra Coligny. O almirante, porém, escapou
com vida, sabendo donde provinha a ordem de assassínio. Como se
depreende, a situacáo se tornou muito tensa; os huguenotes ameacaram
revoltar-se contra o rei, caso este nao Ihes fizesse justica. Catarina, por
conseguinte, tinha a temer náosomente por seu prestigio político, mas por
sua própria vida; humanamente falando. só se salvaría recorrendo a outro
crime, ou seja, eliminando definitivamente Coligny e seus partidarios entáo
residentes em Paris. Foi o que ela empreendeu. No dia 23 de agosto á
noitinha, passou duas horas em coloquio com o rei Carlos IX, seu filho que
contava apenas 22 anos de idade; usando ora de ternura, ora de acento
imperioso, tentava persuadi-lo de que sua coroa estava em perigo; porfim,
o monarca, vencido pelas instancias da rainha-mae e de ministros, autori-
zou um golpe contra os huguenotes.

Francisco de Guise assumiu a direcáo da manobra ou chacina, que


teve inicio sem demora, ñas primeiras horas de 24 de agosto, festa de Sao
Bartolomeu. Coligny foi logo assassinado em sua residencia; despertado
imprevistamente e atónito, o povo parisiense, meio-inconsciente do que se
dava, associou-se ao morticinio dos huguenotes; muitos julgavam que se
tratava de reprimir urna revolucáo...

Na tarde de 24 de agosto, o rei quis mandar suspender a carnificina,


que continuava; mas em váo; estendera-se pelas provincias da Franca, sendo

29
30 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 404/1996

que em algumas destas os magistrados católicos e os bispos conseguiram


deter a onda de furor, impedindo o morticinio. Na verdade este só cessou
aos 27 de agosto.

Temendo entao represalias por parte dos governos estrangeiros,


Catarina dirigiu a estes uma carta circular em que apresentava a carnificina
como medida tomada "nao por odio aos huguenotes, mas para remover
uma conspiracao de alta traicáo do almirante e de seus cúmplices". Igual
mente ambiguos foram os relatos transmitidos ao Papa Gregorio XIII: entre
outras, uma carta de Luís de Bourbon, duque de Montpensíer, ao Pontífice,
datada de 26 de agosto (e aínda hoje conservada), informava que o almiran
te Coligny quisera exterminar o rei Carlos IX, Catarina e os grandes senho-
res católicos, a fim de fazer subir ao trono de Franga um príncipe que impu-
sesse o calvinismo a toda a nacáo; mas, acrescentava, a conspiracao fora
descoberta em boa hora, e a intencáo do rei era a de restaurar a religiáo
católica em seu prestigio tradicional.

Estas comunicacóes ocultavam ao Santo Padre o verdadeiro significa


do dos acontecimentos; Gregorio XIII julgou simplesmente que a Franca
acabara de se libertar do perigo calvinista é que doravante se agregaría
francamente as nagSes católicas da Europa. Por isto mandou cantar um
"Te Deum" na igreja de Santa María Maior em Roma, e fez cunhar uma
medalha comemorativa do ocom'do. Na cidade mesma de Paris muitos acre-
ditavam no comunicado oficial dado pelo Parlamento ao povo: conspiracao
calvinista debelada; por isto civis e eclesiásticos, a pedido da corte, se
reuniram em solene cerimónia de acáo de gracas aos 28 de agosto. - De
resto, cronistas antigos referem como o regozijo de Gregorio XIII foi mes-
ciado de amargura: um gentil-homem que privava com o Pontífice, narra
que o Papa derramou lágrimas ao receber a noticia do morticinio; interroga
do entáo por um Cardeal sobre o motivo porque tanto se afligía em vista da
derrota dos inimigos do Senhor. respondeu: "Lamento a acáo do reí, ¡lícita
e proibida por Deus" (cf. Brantome, 1614, Mémoires III, Leyde 1722,171).
O episodio é confirmado porum relato do embaucador da Espanha, Zuñiga,
que aos 22 de setembro de 1572 dizia ter sido o Papa acometido de espan
to ("se espantava") ao tomar conhecimento das ocorréncias da noite de
Sao Bartolomeu (cf. Kervyn de Lettenhove, Relations III 14, n. 4).

2. REFLETINDO...

Na base dos termos apresentados procuremos agora formular um juízo


sobre a atitude dos católicos no morticinio de S. Bartolomeu.

Os dois seguintes pontos parecem esclarecer suficientemente a ques-


táo:
E A NOITE DE SAO BARTOLOMEU (24/08/1572)? 31

a) a carnificina nao foi, como se divulgou na literatura e no teatro (cf.


as pecas "Charles IX" de Chénier, "Huguenots" de Scribe), o produto de um
movimento anticalvinista oficialmente dirigido pelo Papa e as potencias
católicas. Nao; Catarina de Mediéis, órgáo de acao no caso, nao era pes-
soa de compromissos e táticas premeditadas; nunca seguiu um plano de
atuacáo determinado, pois quería apenas dominar, obedecendo, antes do
mais, as normas do oportunismo e do maquiavelismo; no momento em que
ela o julgou conveniente, mandou matar seus adversarios. A Santa Sé nao
foi consultada no empreendimento; nem se compreende que o fosse, pois
as relacóes entre a corte de Franga e Roma eram pouco amistosas, dada a
questáo do matrimonio de Margarida de Valois, princesa católica, com
Henrique de Navarra, chefe calvinista, matrimonio que os Papas S. Pió V
(1566-1572) e Gregorio XIII (1572-1585), nao queriam autorizar. - O Sobera
no Pontífice só tomou conhecimento dos fatos - e conhecimento deturpado
por falsa versáo - quando já estavam consumados, ou seja, aos 2 e 5 de
setembro, por meio de cartas oficiosas e oficiáis provenientes da Franca;
foi por nio estar suficientemente inteirado do que se dera que Gregorio XIII
mandou procederá manifestares de júbilo, julgando tratar-se da extirpacáo
do perigo de heresia na Franca, perigo que se tornara famoso após os
estragos e tormentos que acarretara para os católicos da Holanda (cf. o
caso dos mátires de Gorkum, Akmaar, Ruremonde, ocorrido no mesmo
ano de 1572).

Quanto á atitude pessoal de Catarina de Mediéis, deve-se dizer que


nao foi inspirada por amor ao catolicismo, mas por interesses pessoais. A
rainha-máe era táo pouco zelosa da conservacáo da fé católica que escre-
vera ao Papa Pió IV(1559-1565) uma carta emque Ihe propunha reduzira
religiáo a alguns preceitos rudimentares, isto é, ao Decálogo, "a fim de
permitir a uniáo de todos os cristáos"! Sua tática entre huguenotes e cató
licos era a de compensar as Vitorias de uns mediante as dos outros. Tam-
bém a familia de Guise, associada a Catarina, era primariamente movida
por ambicóes políticas, que se dissimulavam talvez sob a aparéncia de
zelo religioso. Muito significativos, alias, sao os fatos seguintes: uma das
prime i ras medidas de Carlos IX após a noite de Sao Bartolomeu foi a de
assegurar, por inspiracáo da própria Catarina, a protegió da Franca á me-
trópole calvinista, Genebra, que se julgava ameacada pela Savoia e a
Espanha. Uma vez desferido o golpe, a rainha-máe procurou mantersuas
antigás relacóes de amizade com Elisabete da Inglaterra e os príncipes
luteranos da Alemanha. Estas atitudes bem mostram que o governo de
Franca nao era "fanático" pelo catolicismo nem agía propriamente por ins-
piracao religiosa, mas, sim, por razSes de ordem política.

Consciente disso, o estudioso sincero nao associa o triste episodio


da noite de Sao Bartolomeu com a autoridade da Igreja ou com o amor dos
católicos á sua santa religi§o. Esta no caso só foi evocada a título abusivo,
ou seja, para fomecer aparente justificativa á política pouco louvável de um
governo maquiavélico.

31
Recente pronunciamento responde:

GARABANDAL: SIM OU NAO?

Em sintese: As ditas aparigóes de Garabandal (Espanha), de 1961 a


1965, tomaram nova atualidade guando Vassula Ryden e, atualmente,
Raimundo Lopes (em Beto Horizonte) apelan) para as suas mensagens, a
fim de confirmara previsSo de severos castigos para a humanidade.

Tais aparigóes ocorreram, em número extraordinariamente elevado


(cerca de duzentas vezes, dizem), em favor de quatro meninas inocentes,
que transmitirán! ao mundo a exortagSo á oragáo e á penitencia bem como
a predigSo de solene advertencia dos Céus, Grande Milagre e rigoroso cas
tigo para os impenitentes.

Os Srs. Bispos de Santander, diocese onde fica o povoado de


Garabandal, tém mandado examinar cuidadosamente os fatos e as mensa
gens, e vém concluindo com unanimidade que nSo consta haver algo de
sobrenatural nos fenómenos analisados. Estaconclusáo foi reafirmada pelo
atual Bispo da diocese, D. José Vilaplana, em vista de interrogagóes que
recentemente Ihe foram dirigidas. As páginas subseqüentes publicam a
carta-resposta de O. Vilaplana, assim como urna Nota Oficial emitida pela
diocese em 1967, Nota aprovada pela Santa Sé.

* * *

As aparicdes de Nossa Senhora em Garabandal (Espanha), ocorridas


de 1961 a 1965, tém tomado nova atualidade pelo fato de que Vassula
Ryden e o empresario Raimundo Lopes, de Belo Horizonte, as citam para
confirmar as predices de castigo já feitas em Garabandal.

Muitas pessoas últimamente tém recorrido ao Sr. Bispo da respectiva


diocese (Santander), indagando do mesmo o que pensar a respeito dos
acontecimentos de Garabandal. O Sr. Bispo D. José Vilaplana tem respon
dido a tais interrogacdes confirmando o julgamento já outrora proferido por
seus antecessores: nao consta haja algo de sobrenatural nos fatos em
foco; estes devem tersua explicagáo natural.
Visto que as aparicóes de Garabandal e a atitude da Igreja interessam

32
GARABANDAL: SIM OU NAO? 33

ao público brasileiro, motivado porVassula Ryden e Raimundo Lopes1, pu


blicaremos, a seguir, breve resenha das ditas aparicoes e o teor das princi
páis declaracóes dos Bispos de Santander.

1. BREVE HISTÓRICO

Asaparicóes de Nossa Senhora em Garabandal (Pireneus espanhóis)


ocorreramde 1961 a 1965, tendo como destinatárias: Conchita González
González, 12 anos, Maria Loli Mazón González, 12 anos, Jacinta González
González, 12 anos, e Maria Cruz González Madrazo, 11 anos.

A primeira aparicáo terá ocorrido aos 18/06/1961, ás 20 h 20 min,


quando as meninas se achavam no campo á procura de batatas; ouviram
um barulho como de trováo e viram "urna figura muito bela cercada de luz
que n§o ofuscava os olhos. Essa figura desapareceu bruscamente, e rea-
pareceu sete vezes consecutivas nos dias seguintes, sempre no mesmo
lugar, que foi assinalado por ramos de árvores formando um quadro ou
urna moldura. O personagem declarou ser Sao Miguel, e anunciou o apare-
cimento da Virgem SS. no domingo 2 de julho, festa da Visitacáo de Maria
a S. Isabel. Neste dia, a Virgem SS. terá aparecido acompanhada por Sao
Miguel e outros anjos.

As aparicoes se multiplicaram até 13/11/1965 de maneira irregular e


nem sempre as quatro meninas simultáneamente; Conchita foi a principal
vidente e transmisora dos Avisos de Nossa Senhora. Assim em meados
de 1961 as aparic5es foram numerosas, podendo haver mais de urna por
dia; a partir de novembro de 1961, tornaram-se mais raras; mas de marco a
setembro de 1962 voltaram a ser freqüentes. Em 1963 e 1964 foram raras;
chegaram ao fim em novembro de 1965. Nao há contagem precisa do nú
mero de aparicSes; um observador fidedigno, o Pe. José Ramón Garda de

1 Bs o que o folheto "Plantáo de Maria. julho-agosto 1995, aprésenla com destaque:


TRES GRANDES AVISOS
(Nossa Senhora tala ao Raimundo Lopes em Beto Horizonte coisas serias e subli
mes)
No Brasil Nossa Senhora revela tres profecías já conhecidas por outros videntes no
mundo.
Tres Dias de Trevas - Essa profecía anega jé anunciada a Catarina Emerich no
sáculo passado acaba de ser confirmada em Beto Horizonte. Nossa Senhora Ihe revela
coisas que ató entSo pareciam duvidosas. E certo que isso acontecerá. Fica bem dan
que nSo significa o fim do mundo. Diz Maria: 'Eu confirmo os tres dias de trevas que
serio tres dias de completa escuridSo. Voces perceberSo que a escuridSo os envolverá
por tres dias'.
Dias de Purificacáo - Isso já foi anunciado, especialmente em Garabandal Espanha
Raimundo Lopes recebe essa confirmacSo em 2 de maio de 95: 'Que esse dia ao vos
surpreenda' (1Ts 5.4). Fica claro que precisamos estar convertidos para tal. Diz Maria-
O dia da grande purificagáo desponta no horizonte, e atingirá toda a humanidade
independentemente do Credo. Estejam preparados e usem da confissSo'
Inicio do Triunfo do Coracáo Imaculado. Dia 6 de junho vai ficar na historia
Nesse dia, ao chegar a imagem Rainha da Paz. copia de Medjugorje, na cápela do
vidente Raimundo Lopes. N. Senhora surpreende. Cornaca a segunda promessa da
Fátima (1917). Diz Maria: 'Hoje. neste local, neste dia, nesta hora, iniciase o Triunfo do
meu CoragSo /maculado".

33
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 404/1996

la Riva, terá sido testemunha de cerca de duzentos éxtases das videntes


(número este insólito nos poucos casos de aparicóes aceitáveis).

Nem tudo o que a Virgem SS. comunicou ás videntes terá sido trans
mitido ao público. Todavía as mensagens divulgadas insistem calorosa
mente em oracáo e penitencia, e prevéem um severo castigo para os impe
nitentes. Este castigo será precedido de um Grande Milagre Grande
Milagre que se deveria dar numa quinta-feira, ás 20 h 30 min, no día de
festa de um Santo Mártir, e que teria a duracáo de dez a quinzé minutos.
Entre outras coisas, Conchita, em junho de 1963, anunciou, nao por
efeito de revelacio de Nossa Senhora, mas, sim, em virtude de locucoes
interiores, que após Joao XXIII haveria apenas tres Papas e, a seguir, ocor-
reria o fim dos tempos, que nao seria o fim do mundo. Em marco de 1963
Conchita predisse também a JoeyLomangino, ítalo-americano cegó que
ele recuperaría a vista no dia do Grande Milagre.

O castigo parece ter sido contemplado antecipadamente pelas viden


tes, sendo que Maria Loli a ele assim se refere:

"Era horrível aos meus olhos. Ficamos totalmente apavoradas Nao


tenho palavras para o explicar. Víamos a agua dos ríos transformarse em
sangue... Caia fogo do céu... E algo de aínda pior, que nao posso revelar
por ora".

As aparicóes de Garabandal foram muito acompanhadas por fiéis lei-


gos, como também por peritos em medicina e sacerdotes. Desde as pri-
meiras semanas, urna Comissáo de Inquérito foi designada, constituida por
sacerdotes, um médico e um fotógrafo. A primeira declaracáo oficial datava
de 29 de agosto de 1961, tendo por signatario Dom Doroteo Fernández
Administrador Apostólico da diocese de Santander; assim rezava:

"Após o exame dos documentos que nos foram apresentados iulga-


mos prematuro emitir umjulgamento definitivo sobre a natureza dos fenó
menos em foco. Até agora nada nos obriga a afirmar a sua índole sobrena
tural".

Aos 27/10/1961 a mesma autoridade declarava:

"Até hoje as mencionadas aparicóes. visóes, locucóes ou revelacóes


nao podem ser tidas como evidentes e como dotadas de sólido fundamento
de verdade e autenticidade". A seguir, o prelado pedia aos sacerdotes que
"se abstivessem totalmente de tudo o que pudesse contribuir para lancar
perturbacáo entre os fiéis. Por conseguinte, evitassem atentamente, en-
quanto deles dependesse, promover visitas e peregrinacSes aos lugares
citados".

Aos 7/10/1962. Mons. Beita Aldazabal, Bispo de Santander, tornou


públicas as conclusóes da Comissáo Especial de Investigacáo por ele nome-

34
GARABANDAL: SIM OU NAO? 35

ada: "Tais fenómenos carecem de qualquersinal de índole sobrenatural e


tém explicacáo natural".

Tal foi o julgamento dos sucessivos Bispos de Santander até nossos


días. É de notar, porém, que nenhuma declaracáo episcopal acusou as
videntes de erras doutrinários ou de desvíos moráis; nao sao impugnadas,
portanto, a ortodoxia das mensagens nem a conduta de vida das meninas!
É isso que tem levado alguns estudiosos e devotos a insistir no crédito de
"sobrenaturalidade" das aparicoesde Garabandal. Observe-se. porém, que,
mesmo em caso de ortodoxia doutrinária e retidáo moral, pode haver aluci-
nacoes ou projecóes meramente subjetivas de imagens, avisos, profecias,
etc. A autoridade eclesiástica examinou detidamente os fatos e de maneira
sabia nao se quer precipitar, afirmando sobrenaturalidade que nao tenha
fundamento sólido: a sentenca dos Bispos de Santander significa simples-
mente que as pretensas aparicoes de Garabandal nao podem ser conside
radas auténticas.

Merece atengáo também a clássica norma repetida pelo Concilio do


Vaticano II: quem julga da autenticidade dos dons extraordinarios, é a auto
ridade da Igreja, a quem Cristo confiou o carisma da verdade (cf Dei Verbum
8):
"Os dons extraordinarios nSo devem ser temerariamente pedidos, nem
deles devem presungosamente ser esperados frutos de obras apostólicas.
Ojuizo sobre a sua autenticidade e seu ordenado exercício compete aos
que governam a Igreja. A eles em especial cabe nSo extinguir o Espirito,
mas provar todas as coisas e fícar com o que é bom" (Const. Lumen
Gentium n°33).

Passemos agora a explícitas deelaraedes dos Bispos de Santander.

2. FALAM OS BISPOS

Como dito, as referencias de Vassula Ryden a Garabandal levaram


muitas pessoas interessadas a se dirigir recentemente ao Sr. Bispo D.
José Vilaplana, de Santander, para Ihe pedir um pronunciamento atualizado
sobre as ditas apariedes de Nossa Senhora.

Publicaremos, a seguir, a carta-resposta do Sr. Bispo assim como a


Nota Oficial datada de 17/03/1967 e assinada por D. Vicente Puchol Montis,
prelado da mesma diocese, que recorreu á Santa Sé para pedir um parecer
sobre os fatos.

2.1. D. José Vilaplana, atual Bispo de Santander

"Algumas pessoas se tém dirigido últimamente a esta diocese de


Santander perguntando a respeito das 'supostas aparicóes' de Garabandal
e, principalmente, a propósito da resposta da hierarquia da Igreja a tais
fatos.

Devo comunicar que

35
36 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 404/1996

1) Todos os Bispos da diocese, desde 1961 até 1970, afirmaram que


nao consta haver algo de sobrenatural em tais aparicoes ocorridas nos
anos em pauta;

2) No mes de dezembro de 1977, Mons. del Val, Bispo de Santander,


manifestou sua comunháo com os respectivos predecessores, e afirmou
que, nos seis anos por ele passados no Bispado de Santander, nao ocorre-
ra algum fenómeno novo.

3) Nao obstante, o mesmo Mons. del Val, decorridos os primeiros


anos em que havia confusáo e paixñes, promoveu um estudo ¡nterdisciplinar
que examinasse com maior profundidade os ditos fenómenos. A conclusáo
desse estudo coincidiu com a presenca anterior dos Bispos locáis, ou seja,
afirmava nao constar haver algo de sobrenatural ñas ditas aparicoes.

4) Tal estudo encerrou-se na data em que tomei posse da diocese em


1991. Aproveitando uma viagem a Roma, porocasiao da visita ad limina,
naquele mesmo ano apresentei á Congregacao para a Doutrina da Fé os
textos do referido estudo e pedi orientacáo para a minha atuacao pastoral
no caso.

5) Em data de 28 de novembro de 1992, a Congregacao me enviou sua


resposta: após haver atentamente examinado a respectiva documentacáo,
a Congregacáo para a Doutrina da Fé nao julgava oportuno intervir direta-
mente, subtraindo á jurísdicáo ordinaria do Bispo de Santander tal assunto,
que Ihe compete por direito. Anteriores declaracóes da Santa Sé em 1967,
1969 e 1971 coincidiam com esse sentenca.

Na mesma Carta, a Congregacáo para a Doutrina da Fé me sugería


que, se o tivesse por oportuno, publicasse uma declaracáo na qual reafir
maría que nao consta haver algo de sobrenatural ñas referidas aparicoes,
fazendo minha a atitude unánime de meus predecessores.

6) Dado que as declarares de meus predecessores que estudaram o


caso, foram claras e unánimes, nao julguei oportuno emitir nova declaracáo
pública para evitar dar atualidade a fatos demasiado distantes no tempo.
Nao obstante, estimei conveniente redigireste comunicado como resposta
direta as pessoas que pedem orientacáo sobre o caso, caso que dou por
encerrado, aceitando as decisoes de meus predecessores, as quais faco
minhas, como também as orientacoes da Santa Sé.

7) Com referencia á celebragao da Eucaristía em Garabandal, seguin-


do as normas de meus antecessores, só permito que se celebre na igreja
paroquial sem alusáo as supostas aparicóes e com a autorizacáo do páro-
co atual, que goza da minha confianca.

Com votos de que estas informacóes o(a) possam ajudar, receba mi


nha cordial saudacao em Cristo.

José Vilaplana
Bispo de Santander"

36
"GARABANDAL: SIM OU NAO? 37

Ao enviar tal comunicado ás pessoas interessadas, o Sr. Bispo D.


Vilaplana mandou outrossim a Nota Oficial emitida por um de seus
antecessores, que se dirigiu á Santa Sé a fim de obter instrucóes. Os
documentos respectivos váo abaixo publicados.

2.2. D. Vicente Puchol Montis, em 1967/1968

Eis a Nota Oficial emitida pelo Bispo de Santander em 17/03/1967:

"Nos dias 30 de agosto, 2,7 e 27 de setembro e 11 de outubro de


1966, Nos mesmos, acompanhados pelo Sr. Vigário Geral, pelo Provisor do
pispado e pelo pároco de San Sebastian de Garabandal, e a pedido das
interessadas (dirigido ao mencionado pároco), houvemos por bem ouvir
declaracSes de Conchita Ganzález González, Mari Loli Mazón González,
Jacinta González González e Mari Cruz González Madrazo, sobre os acon-
tecimentos verificados em San Sebastian de Garabandal a partir do dia 18
dejunhode 1961.

Das declarares das interessadas resulta:

1) Que nao houve aparic3o alguma, nem da SS. Virgem, nem do ar-
canjo Sao Miguel nem de algum outro personagem celestial.

2) Que nao houve mensagem alguma.

3) Que todos os fatos ocorridos naquela localidade tém explicacao


natural. Ao emitir a presente Nota, nao podemos deixarde felicitar o clero
e os fiéis da diocese de Santander que, em todo momento e com filial
obediencia, seguiram as instrucñes da hierarquia. Lamentamos que este
exemplo nao tenha sido imitado poroutras pessoas, que, com a sua impru
dente conduta, disseminaram confusáo e desconfia nga frente á hierarquia;
impediram assim, mediante tremenda pressáo social, que o que comecara
com inocente jogo de meninas pudesse serdesvendado e explicado pelas
próprias autoras.

Urna vez mais, é oportuno recordar que as auténticas mensagens do


Céu nos vém através das palavras do Evangelho, dos Papas, dos Concilios
e do Magisterio Ordinario da Igreja.

Santander, 17 de margo de 1967


t Vicente, Bispo de Santander"

A Congregacáo para a Doutrina da Fé recebeu toda a documentado


referente ao caso Garabandal assim como o juízo do Sr. Bispo de Santander
D. Vicente Puchol Montis e respondeu a este prelado por obra do Candeal
Alfredo Ottaviani, Pró-Prefeito da mesma Congregacáo, nos seguintes ter
mos:

37
38 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 404/1996

"Roma, 7 de marco de 1968

Exmo. e Revmo. Senhor,

Com urna carta do mes de outubro do ano passado, V. Excia. fez


chegar a esta Sagrada Congregacáo os documentos redigidos pela Comis-
sáo Diocesana assim como as normas baixadas por V. Excia. a respeito
das aparicóes que se julgava ter ocorrido em Garabandal.

Esta Sagrada Congregacáo examinou cuidadosa e atentamente toda


a documentagáo, inclusive a que foi enviada de outras procedencias, e fi
nalmente chegou á conclusáo de que a questáo já fora minuciosamente
examinada e resolvida por V. Excia. e, porconseguinte, nao há razáo para
que esta S. Congregacáo intervenha no caso.

Aproveito o ensejo para felicitar V. Excia. pela discricáo e a prudencia


de que deu provas na solucáo da pendencia e valho-me, de bom grado, da
ocasiáo para exprimir a V. Excia. minha grande estima e manifestar-me

de V. Excia. Revma.
dedicado
Alfredo Candeal Ottaviani, Pró-Prefeito"

3. CONCLUSÁO
Urna vez publicados tais documentos da autoridade eclesiástica, nao
há como nao perceber que a atitude correta do fiel católico é a de silencio
e distancia em relacáo ás ditas aparicóes de Garabandal. - O que em suas
mensagens há de sadio, é próprio do Evangelho e se repete em Lourdes e
Fátima: exortacáo á oracao e á penitencia. Quanto á previsáo de Grande
Milagre e castigo rigoroso, parece provirda expectativa pessoal das viden
tes e nao do próprio Deus. Sabemos que a Justica Divina existe e é impar
cial, mas a fé e a experiencia nos dizem que Ela é sobria em suas adver
tencias; fala, sim, com clareza, mas nao costuma excitara imaginacáo e a
fantasía dos seus destinatarios.

A Regra de Sao Bento na Vida do Oblato, pelo Dr. Cicero Wey de


MagalhSes. Ed. própría. Pedidos ao Mosteiro de Sño Bento, Caúca postal
118, 01059-970 Seo Paulo (SP), 160x210mm, 95 pp.
O autor é oblato beneditino há quarenta anos, casado, médico espe
cialista em Psiquiatría Clínica e antigo professorda Faculdade de Filosofía
SSo Bento (PUC-SSo Paulo). Escreve interessante comentario da Regra de
S. Bento destinado aqueles e áquelas que desejam viverno mundo o espi
rito beneditino, que contribuiu para a santifícagSo de milhares de crístSos
desde o secuto VI até nossos dias. A obra é multo recomendável. A Regra
tem um complemento no Estatuto dos Oblatos, que o Dr. Cicero Maga
lhSes menciona em seu comentario.
E.B.

38
Questiona-se

O CASAMENTO
DE EMERSON FITTIPALDI

Em síntese: O casamento religioso de Emerson Fittipaldi causou es


pecie a parte do público, pois o piloto brasileirojá se havia casado duas
vezes no foro civil, nunca, porém, no foro religioso. A surpresa se dissipa
se se leva em conta que, para o católico, só há um tipo de casamento
válido, que é o casamento sacramental ou religioso. O matrimonio civil é
respeitado pela Igreja por causa das implicagOesjurídicas que tem na soci-
edade leiga ou arreligiosa de hossos dias. Alias, é de notar que casamento
nSo-religioso é algo que a humanidade ignorou durante sáculos até a Revo-
lugéo Francesa (1789); foi esta que separou, por completo, o enlace matri
monial civil e o religioso.

Fittipaldi, pois, após anos de vida irregular perante Deus easua cons-
ciéncia de católico, resolveu converter-se, assumindo seus compromissos
de Batismo. O fato nao deve causar especie, mas, sim, o regoziio dos fiéis
católicos.

Quanto ao uso de véu e grínalda por parte da nubente, tratase de


símbolos que outrora tiveram seu significado, mas em nossos diasjá nao
implicam necessaríamente virgindade da noiva.

Foi muito comentado o casamento do piloto brasileiro Emerson


Fittipaldi, bicampeáo mundial de Fórmula 1 e campeao mundial de Fórmula
Indy. A cerimfinia ocorreu na terca-feira 26 de setembro de 1995 na basílica
de Sao Pedro em Roma. O clima foi de discricao, pois convidados foram
apenas os familiares dos nubentes.

Emerson Fittipaldi se casou primeiramente, numa uniáo meramente

39
40_ "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 404/1996

civil, com Mana Helena Dowding, da qual teve tres filhos. Divorciou-se para
casar-se, há doze anos, também no foro civil apenas, com Teresa Cristina
Hótte, da qual teve dois filhos. Após urna vida t3o agitada do ponto de vista
afetivo, Emerson Fittipaldi resolveu legalizar perante Deus o seu enlace
, matrimonial, procurando o sacramento do matrimonio; este foi oficiado pelo
Padre Philippo della Rea, o "padre oficial" da Indy. amigo de Fittipaldi. Na
ocasiáo do enlace Emerson declarou: "Estou entrando para o rol dos ho-
mens serios".

O fato causou especie a muitas pessoas, que se surpreenderam por


ver casar-se na Igreja alguém queja fora casado duas vezes no foro civil.
Houve quem julgasse que a Igreja fez a concess3o do sacramento por se
tratar de personagem importante no mundo da cultura e dotado de posses.
Também se questionou o fato de Teresa Cristina se ter casado de véu e
grinalda.

Procuraremos responder a tais dificuldades, comegando pela menos


importante.

1. VÉU E GRINALDA

Véu e grinalda s§o símbolos que, convencionalmente, significam a


virgindade da nubente. Em nossos días, porém, jé nao se pode dizer que
toda noiva, casando-se de véu e grinalda, é virgem. A sociedade nao se
ilude a propósito. Por isto o fato de Teresa Cristina ter usado véu e grinalda
veio a ser um gesto rotineiro, que nada significava no tocante aos seus
anos de vida anterior. NSo há por que nos determos em comentar o fato,
que, alias, nao é nem singular nem raro em nossos tempos.

2. CASAMENTO CIVIL E IGREJA

O Sr. Claudio Lacerda, em carta publicada pelo JORNAL DO BRASIL


em 1°/10/1995, p. 12, assim exprime o desapontamento de parte do públi
co;

"Lamento a hipocrisia da Igreja, que é contra o divorcio, defende a

40
O CASAMENTO DE EMERSON FITTIPALDI 41

indissobilidade do casamento, mas sejulga no direito de considerar que os


casados apenas no civil-isto é, de acordó com a legislagSo brasileira -
nSo sSo casados de verdade.

Como consolo alimento a esperanga de que, de agora em diante, a


Igreja deixe de se meter em assuntos que nSo Ihe dizem respeito, como,
por exemplo, o combate a Aids, o divorcio das pessoas n&o católicas, o
aborto como decisSo pessoal e muitos outros casos.

Cuidar do que diz respeito ao padre e deixar de lado o que é missSo do


juiz (Nelson Carneirojá dizia isso quando defendía o divorcio) é urna posi-
gSo respeitável e com a qual todos nos ganharíamos. Claudio Lacerda -
Rio de Janeiro".

A respeito observamos:

1) A Igreja respeita o casamento civil, pois ele vem a ser um contrato,


inspirado pela própria natureza humana, entre um homem e urna mulher
aptos a se completarem mutuamente. O casamento civil responde ás exi
gencias da sociedade pluralista ou leiga, arreligiosa de nossos dias; firma
direitos e deveres dos cónjuges perante a Lei do país.

2) Todavía, para um católico, o casamento civil é apenas urna justa


satisfagio prestada á sociedade leiga. Nao substituí, de modo algum, o
sacramento do matrimonio. Este, alias, é a única forma legítima de casa
mento para o católico. O Senhor Jesús elevou o contrato natural do matri
monio á dignidade nova de sacramento. Com efeito; segundo a fé católica,
o matrimonio nao é apenas um contrato meramente natural, como seria o
contrato de aluguel ou o de compra e venda, mas é a participagáo na uniSo
de Cristo com a sua Igreja. como afirma SSo Paulo: "É grande este misté-
río (= sacramento); refiro-me á relacao entre Cristo e a Igreja" (Ef 5, 32).
Por isto todo fiel católico que se case, só se casa validamente na Igreja
após instaurado o processo que o declara hábil para receber o sacramen
to.

A Igreja faz questáo de que o sacramento seja precedido pelo contrato


civil ou, ao menos, requerque o contrato sacramental tenha efeitos civis,
para evitaras ambiguas situacoes de pessoas casadas com um(a) consorte
no foro religioso e com outro(a) no foro civil.

41
42 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 404/1996

3) Sao estas as premissas que explicam por que Emerson Fittipaldi,


embora se tivesse casado duas vezes no foro civil, pode receber o sacra
mento do matrimonio, "com as béncáos do Santo Padre", como disse a
imprensa. O piloto, que vivia irregularmente perante Deus e a Igreja, houve
por bem converter-se a urna forma de vida reconhecida pela Lei de Deus,
visto que estavam ele e ela isentos de algo que Ihes impedisse dar tal
passo. - O gesto de Fittipaldi, em vez de causar surpresa, deve, antes,
suscitar o regozijo de quem compre ende o seu alcance. Diz o Senhor no
Evangelho: "Haverá mais alegría no céu por um só pecador que faca peni
tencia, do que por noventa e nove justos que nao precisam de penitencia"
(Le 15,7).

4) Alias, é de notar que o casamento, desde remotas épocas e nos


mais diversos povos, sempre foi considerado um ato religioso, para o qual
se devem pedir as béncáos da Oivindade. E nao só o marimónio...; também
o nascimento e a morte, sendo momentos em que a vida é posta em causa
ou é tocada em suas raízes, sempre foram tidos como sagrados ou como
fases para as quais se deve invocar a protegió e a benevolencia dos Céus.

No Ocidente, o conceito sagrado do matrimonio comecou a ser


depauperado quando no século XVI Lutero negou a sacramentalidade do
casamento, reduzindo-o á condicáo de contrato civil que os pastores aben-
coam. No século XVIII a Revolucáo Francesa (1789) separou o foro religio
so e o civil, passando a reconhecer apenas o contrato civil com sua legis-
lacáo própria. O Código de Leis de Napoleáo Bonaparte, poucos anos de-
pois, sancionou o casamento meramente civil, independentemente de qual-
quer conotacáo religiosa; o conceito se propagou nos países ocidentais...

Vé-se, pois, que o matrimonio únicamente civil é algo de recente na


historia da humanidade. Na verdade, a vida, que o casal se dispoe a fomen
tar e educar, é algo de táo sagrado e misterioso que a humanidade sempre
quis colocar o casamento sob a tutela de especial consagracáo a Deus. O
homem do século XX nao se surpreenderia pelo fato de a Igreja só reconhe
cer o enlace religioso dos seus filhos, se tomasse consciéncia da inovacáo
que vem a ser um casamento contraído sem as béncáos de Deus.

5) Por último, é de notar que a Igreja é contraria ao divorcio mesmo


dos cid adiós nao católicos, porque a indissolubilidade do matrimonio nao
decorre das premissas da fé apenas, mas é propriedade essencial do ma
trimonio considerado como instituicáo natural. Com outras palavras: a ínti
ma e total doacáo mutua de homem e muiher no casamento exige que seja

42
O CASAMENTO DE EMERSON FITTIPALDI 43^

irrestrita ou incondicional também quanto á duracáo; urna entrega total que


admita a possibilidade de ruptura, já nao é entrega total, já nao preenche o
concertó de matrimonio.

Quanto á ¡ntervencáo da Igreja em seto res que também interessam á


vida civil (campanhas contra a Aids, contra o aborto...), compreende-se
pelo fato de que todo o comportamento humano, além de seus aspectos
profissionais, científicos e jurídicos, tem também o seu aspecto moral (que
é o mais importante e fundamental). Ora o Evangelho tem suas normas
moráis, que abrangem o homem todo e em tudo; daí os pronunciamentos
da Igreja, guardia do Evangelho, sobre materias que nao sao explícitamen
te de ordem religiosa, mas sao sempre de ordem ética ou moral.

3. DIVORCIO E NOVO CASAMENTO


PARAOS PODEROSOS?

A alegacáo de que a Igreja atende a pedidos de divorcio e novo casa


mento quando se trata de pessoas influentes ou poderosas é desmentida
pela própria historia.

O caso mais flagrante é o do rei Henrique VIII (1509-1547), aoqual a


Igreja negou o divorcio, perdendo, em conseqüéncia, o reino da Inglaterra.
Com efeito; o rei Henrique VIII se casou com Catarina de Aragáo em 1509.
Essa princesa estivera casada com Artur, o irmao mais velho de Henrique,
menino de 14 anos de idade, que morreu prematuramente, a pos um convi
vio conjugal que durou de 1501 a 1502. Com a dispensa do Papa Julio II
(pois se tratava de casar-se com a cunhada viúva), Henrique esposou
Catarina, da qual teve cinco filhos, dos quais quatro morreram em baixa
idade, ficando viva apenas a princesa María, futura rainha da Inglaterra (1553-
1558). Dez anos após o seu casamento, Henrique era publicamente infiel a
Catarina, preferírtelo um filho natural á princesa María. Visto que Catarina
nao podia mais dar herdeiro ao rei, este se desinteressou da esposa, e
apaixonou-se por Ana Boleyn, cortesa que brilhava na corte de Londres. O
rei entáo pleiteou da Santa Sé o divorcio, alegando que seu casamento
com Catarina fora inválido, apesarda dispensa concedida por Julio II. O
monarca enviou sucessivos mensageiros a Roma. Catarina também apela-
va para a Santa Sé pedindo justiga.

Apesardas instancias e manobras diplomáticas de Henrique VIII, o


Papa Clemente Vil proibiu a Henrique novas nupcias enquanto a causa
estivesse sob julgamento. Obtida esta resposta em Janeiro de 1531, o rei
via que pouca esperanca Ihe restava; quis entáo obter a dissolucáo do seu
casamento da parte da hjerarquía católica da Inglaterra: Thomas Cromwell,
obscuro advogado, que adquirirá influencia sobre o rei, aconselhava a

43
44 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 404/1996

Henrique que, a exemplo dos príncipes alemáes, se separasse de Roma.


Em fevereiro de 1531, urna assembléia do clero, instigada pelo rei, procla-
mou Henrique "Chefe Supremo da Igreja da Inglaterra", com a cláusula "na
medida em que a Lei de Cristo o permite"... Assim emancipado, o rei se
casou em 1533 com Ana Boleyn. O Papa respondeu excomungando o rei e
finalmente declarando válido o casamento com Catarina... Em novembro de
1534 o Parlamento Inglés votou o ato "Ato de Supremacia", que proclamava
ser o rei o Único e Supremo Chefe da Igreja na Inglaterra.

A Igreja portanto nao anula casamentos válidamente contraídos e con


sumados camalmente. Todavia ela pode declarar nulo um casamento, se
este foi contraído apesarde um impedimento dirimente ou anulante; desde
que surja a dúvida, os interessados pedem a instauracáo de um processo
de investigacáo; caso conste claramente ter havido tal impedimento, a Igre
ja declara que nunca existiu o casamento em foco.

Eis ainda outros casos famosos em que os Papa negaram o divorcio a


monarcas: Lotário, rei da Lorena, casado com Teutberga (857); Filipe
Augusto, da Franca, e Ingeburga (1193); Luís XII, da Franca, e Joana de
Valois (1498); Henrique IV e Margarida de Valois (1599-1600); Napoleáo
Bonaparte, da Franca, e Josefina (1809).

Esperanga que vence o temor. O medo religioso dos cristáos e


sua superacáo, por Renold J. Blank. - Ed. Paulinas, Sao Paulo 1995,
195x130mm, 209 pp.

O autor fez sondagem entre os católicos sobre o modo como enca-


ram o além. e diz ter verificado que a sua atitude dominante é o medo e,
conseqüentemente, a rejeigSo do conceito de perdigáo definitiva. Eprop&e
urna confianga cega no Deus que salva a todos. - Na verdade, o livro é
faino a vanos títulos. Com efeito, a seriedade do além é incutida pelo Evan-
gelho e por SSo Paulo em termos insofísmáveis; cf. Mt 25,12.30.31-46;
1Cor 6,9s... Os católicos que conhecem bem a sua fó, superam o medo do
além numa expectativa confiante e esperangosa, pois sabem que, para
salvar o homem, o Pai do céu entregou o seu próprio Filho e acompanha
cada individuo até o último instante de sua vida terrestre para o converter,
se necessárío. Todavia, como afirma Santo Agostinho, "aquele que te criou
sem ti, nSo te salva sem ti". Todo homem que sinceramente procura a
Deus numa tentativa permanente de conversSo, pode crer que nSo será
rejeitado pelo Senhor. A esperanga que Blank quer suscitar em lugar da
esperanga que a Igreja apregoa baseada no Novo Testamento e na Tradi-
gño, é mais sentimental e passional do que bíblica e crístS.
E.B.

44
Na Italia:

OS ESCÁNDALOS
DA PROVETA

Em sintese: A aplicagéo de novas técnicas de Genética tem levado a


casos escandalosos e rixas entre as pessoas interessadas, como se
depreende dos relatos, a seguir, apresentados. Em conseqüéncia, o Con-
selho da Europa aprovou em 1995 trinta e dois artigos que visam a resguar
dar os direitos da vida e do ser humano, acentuando o principio: "Prímeira-
mente o homem, depois a ciencia".

A fecundacáo artificial tem sido realizada de maneira ilimitada em al-


guns países do Primeiro Mundo, nao se levando em conta os ditamesda
consciéncia moral ou da Ética. Especialmente a Italia tem-se salientado
como país em que todas as experiencias da Genética se váo realizando
sem controle jurídico ou sem legislacáo adequada. Avós e tias se tornam
gen ¡toras respectivamente de seus netos e sobrinhos. Há genitores estra-
nhos ou alheios aos seus próprios filhos, enancas órfás antes mesmo de
nascer; diz-se que até mesmo existem filhos de genitores do mesmo sexo...

Pessoas de países vizinhos váo á Italia para submeter-se a interven-


edes de Genética artificial... Todavía, já que nem sempre obtém o resultado
almejado, comeca-se a ouvirum protesto do mal-estar daí decorrente; as
denuncias se fazem clamorosas. Tal foi o caso de urna senhora sueca, de
60 anos de ¡dade, que foi á Italia, onde Ihe fizeram a implantacáo de dois
gémeos por inseminacao artificial; todavía perdeu-os por aborto espontá
neo, com graves conseqüéncias físicas e psíquicas para a gestante e com
pesados custos sociais. Em conseqüéncia, os médicos da Suécia levanta-
ram a pergunta: por que deveri am recair sobre eles as desagradáveis con
seqüéncias de intervencóes que a legislacáo sueca nao prevé e que sao
efetuadas fora do país?

A fim de ilustrar o problema, váo, a seguir, relatados dois casos infeli-


zes ocorrídos na Italia. Ao que acrescentaremos artigos aprovados pelo

45
46 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 404/1996

Conselho Europeu, destinados a cercear e regulamentar as intervenid es


no campo da Genética.

1. DOIS CASOS DE GRANDE REPERCUSSÁO

Principalmente na regiáo de Ñapóles (Italia Meridional) se tém verifica


do situacóes dolorosas resultantes da fecundacáo artificial. Eis dois dos
mais notónos:

1.1. O caso de G.L.: fecundacáo artificial homologa

A Sra. G.L., há pouco mais de dez anos, conheceu em viagem um


brilhante médico, do qual se enamorou e com o qual se casou. Com o
passardo tempo, tentaram ter filhos, sem o conseguir. Feitos os devidos
exames, foi constatado que o marido era estéril. Após refletir, o casal pre-
feriu a inseminacáo artificial heteróloga (com a sementé de um doador anó
nimo) á adocáo de urna changa. Nasceu entáo um bebé, que atualmente
tem pouco mais de cinco anos de idade. Houve depois outra inseminacáo
heteróloga, inspirada por arríente desejo de um filho a mais... Todavía, quando
a mae estava no oitavo mes de gestacáo, o marido, muito imprevistamente,
resolveu separar-seda esposa. E nao somente separar-se: o esposo recu-
sava-se outrossim a reconhecer o filho que a esposa trazia em seu seio;
além disto, o sogro da gestante declarava nao reconhecer o neto mais
velho. O Código Civil da Italia reconhecia a ambos o direito de assim proce
der.

A Dra. Elena Coccia, advogada de G.L., confessou que o juiz nao


podia senáo aplicar a legislacáo vigente, ¡sentando o marido e o sogro de
G.L. de qualquer responsabilidade no tocante aos dois filhos de G.L Tenta
ría, porém, todos os recursos para obter do marido da gestante urna retra-
tagSo de sua atitude, já que ele parecia falhar no plano ético: rejeitava o
filho que ele muito havia desejado.

1.2. Giada, a menina que nasceu por engaño

Giada é urna menina de tres anos de idade. Sofre de anemia e maní-


festa estar sofrendo desse mal particular que é a talassemia ou anemia
mediterránea. É também ela filha da proveta,... mas de proveta equivocada.
Sim; o Dr. Raffaele Magli, trocou a proveta do líquido seminal do pai de
Giada, chamado Roberto Minucci (comerciante napolitano de 33 anos de
idade) pela proveta de um homem doente de talassemia; desse erro decor-
re a existencia doentia de Giada, que está sujeita a periódicas transfusóes

46
OS ESCÁNDALOS DA PROVETA 47

de sangue e á expectativa de um transplante (transplante que depende de


doador adequado e disponível). - Entrementes o Dr. Raffaele Magli já foi
duas vezes interpelado pela Justica como réu de graves danos causados a
Giada e a sua familia. O ginecologista, porém, se defende acusando de
adulterio a Sra. María Cristina lervolino: diz ele que Giada nao é filha de
proveta equivocada, mas sim de um "encontró" equivocado. Ofendida,
Cristina responde que, na falta de defesa propriamente dita, o réu passa
para a acusacáo.

Os dois casos que acabam de ser registrados, ilustram os males de-


correntes da violacáo das leis naturais da procriacáo. Muitos outros se Ihes
poderiam acrescentar. Por mais clamorosos que sejam, parece que ainda
sao insuficientes para deter a onda da fecundacáo artificial, que na Italia,
como "industria", tem faturado mais de trezentos bilhoes de liras por ano.

Na Inglaterra algo de semelhante se dá, como noticia a imprensa:

"Británicos preferem concepcáo artificial

Alegando falta de tempo para fazeramor, um número cada vez maior


de casáis británicos férteis recorre á inseminagño artificial, por considerar
"urna fadiga inútil" a concepgSo através da atividade sexual, segundo urna
reportagem publicada ontem no jornal "Sunday times".

De acordó com urna pesquisa feita pelo jornal, a tendencia está -se
difundindo em toda a GrS-Bretanha, principalmente entre os casáis que
tém de 30 a 40 anos e que preferem se dedicar á carreira profíssional* (O
GLOBO, 11/09/95, p.13)

2. A RÉPLICA DO CONSELHO EUROPEU

Em 1995 trinta e tres países reunidos na Assembléia do Conselho da


Europa aprovaram 32 artigos relativos á Bioética; levam em conta os direi-
tos do enfermo, os transplantes, a pesquisa e a experimentacáo em seres
vivos, os testes genéticos..., temas estes longa e calorosamente discuti
dos desde 1986. Tres ComissSes especializadas se dedicaram ao estudo
das questóes: a médica, a jurídica e a sociológica. Eis os principáis des-
ses artigos, cujo conteúdo se poderia sintetizar no seguinte lema:

PRIMEIRAMENTE O HOMEM, DEPOIS A CIENCIA

"Artigo 1: Aqueles que subscrevem esta Declaracáo, se comprome-

47
48 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 404/1996

tem a defender a dignidade e a ¡dentidade de todos os seres humanos, e


garantir a quem quer que seja, sem discriminacáo, o respeito pela sua
integridade, os outros direitos e as liberdades fundamentáis, que dizem
respeito ás aplicacSes da Biología e da Medicina.

Artigo 2: Os interesses e a saúde dos seres humanos devem prevale


cer sobre os interesses da sociedade e da ciencia.

Artigo 5: Nenhuma intervencáo poderá serefetuada na área médica


sem o consentimento consciente, livre, explicito e específico da pessoa
que a tal intervencáo deve ser submetida.

Artigo 6: No caso de pessoas que nao tém a capacidade jurídica de


dar o seu consentimento ou que, mesmo que a tenham, sofrem de momen
tánea reducSo da capacidade de compreender, só poderáo serefetuadas
intervengSes em favor do seu beneficio pessoal e com o consentimento do
seu tutor legal.

Artigo 7: Quando. por motivo de urna emergencia, o consentimento


n3o puderserobtido, será legítimo realizar ¡mediatamente qualquer ínter-
vencáo médica que redunde em vantagem da saúde do individuo interessa-
do.

Artigo 11: O corpo humano e as suas partes nao podem tornar-se


objeto de lucro financeiro.

Artigo 12: Todo ser humano tem o direito ao respeito devido á sua vida
privada na área médica. Os individuos tém o direito de recebertoda e qual
quer informagSo concemente á sua saúde.

Artigo 15: É proibida a producáo de embrides humanos para fins de


pesquisa médica".

O Conselho da Europa nio define a legisiacáo de cada pafs-membro,


mas, de certo modo, sugere diretrizes que com probabilidade seráo postas
em prática. Declarou o deputado socialista espanhol Alonso Palacios: "Plan
tamos urna serie de estacas. NSo nos podíamos ocupar com as aplicagñes
específicas do vastíssimo campo da Bioética. Em todos esses anos leva
mos em conta a finalidade que nos tínhamos proposto: colocar sinais pre
cisos que definissem a validade do campo de trabalho".

Possam os artigos do Conselho Europeu, inspirados pelo bom senso


e nao tanto pela fé, encontrar ressonáncia favorável na legislacio nao so-
mente das nacñes européias, mas em toda parte onde exista o ser humano
com a sua dignidade inconfundivel!
Estévao Bettencourt O.S.B.

48
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! as obras? 4. O primado de Pedro. 5. Eucaristía: Sacrificio e Sacramento. 6.
A confissáo dos pecados. 7. O purgatorio. 8. As indulgencias. 9. María.
Virgem e Máe. 10. Jesús teve irmáos? 11. O culto dos Santos. 12. As
; imagens sagradas. 13. Alterado o Decálogo? 14. Sábado ou Dominao?
i 15.666 (Ap 13,18).
j Seu Autor, D. Estéváo Bettencourt, considera os principáis da clássíca con-
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I sao no plano teológico perdeu muito de sua razáo, de ser, pois nao raro,
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