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Havia no Supremo uma alegria que há muito não experimentava.


Uma excitação quase juvenil, que o divertia a ponto de fazê-lo gargalhar
desde a manhã até tarde da noite, tudo isso entrecortado por um
monólogo de palavras antigas e misteriosas que talvez nem mesmo o céu
já as tivesse ouvido apesar de toda a eternidade. Anjos e santos, que
exerciam suas funções separadamente, sem que um grupo interferisse
nas decisões do outro, pela primeira vez concordavam que algo não
cheirava bem no reino da Dinamarca. Melhor dizendo: que algo no céu
estava definitivamente indo para o brejo.
As palavras de Santo Epaminondas D’Araucária, que raramente se
manifestava, deram de maneira inquestionável a incômoda sensação que
dominava a todos:
- Deus que me perdoe, mas acho que o Supremo amalucou de vez...
Longe de se importar com os comentários desse um ou daquele
outro, o Supremo tinha seus próprios planos. Sua única insegurança, no
entanto, estava depositada em Gabriel. Algo dera errado da primeira
vez; a mesma coisa poderia se repetir. Desde Adão que os homens se
mostravam arrogantes e violentos, sempre dispostos a fazer jorrar o
sangue alheio por interesse ou mera diversão, e o fato de Cristo ter sido
crucificado não podia ser jogado nas costas do anjo, que apenas
desempenhara o papel que lhe fora ordenado para manter lubrificadas e
girando as engrenagens da coisa toda. Não considerava Gabriel culpado
pelos fatos, e, como o próprio anjo já havia dito, Ele havia capitalizado
tudo aquilo em Seu próprio benefício. Mas havia em Gabriel um quê de
instabilidade, uma insubordinação que fermentava em silêncio nos
porões da sua alma, uma bomba prestes a explodir. Sabedor que era dos
segredos mais íntimos dos seus colaboradores, o Supremo já há muito
percebera em Gabriel um brilho diferente nas asas, um fogo frio que
emanava do seu olhar, as muitas palavras e pensamentos discordantes
que forçavam constantemente a frágil parede da fidelidade.
Por outro lado, seria muito complicado do ponto de vista prático
nomear um outro anjo anunciador a essa altura do campeonato. Uma
questão de credibilidade dos homens nas coisas divinas: incumbir Rafael
ou Miguel para uma função já desempenhada por Gabriel não seria
produtivo. Desde que foram impressas nas Escrituras, as Suas palavras
atestavam que Gabriel fora o anjo anunciador, o revelador, aquele
responsável por levar para a terra as Suas intenções. Era ele, Gabriel, a
voz de Deus desde sempre, e mudar isso abalaria ainda mais a crença
dos homens nas coisas do céu. Ao contrário das opiniões de padres e
beatas malucas, que em seus sonhos delirantes enxergavam no alto o
Paraíso prometido, o céu era um negócio como outro qualquer, regido
por regras e estatutos, uma empresa cujo único objetivo era apresentar
resultados positivos. Uma atitude impensada, qualquer alteração na
estrutura ou hierarquia traria graves conseqüências. Gabriel era,
portanto, um mal necessário. Era um risco, certamente, e o Supremo
sabia e estava disposto a apostar. Mesmo sabendo que poderia quebrar a
cara.

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