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O tradicional grito de pouca sorte A clebre mentalidade milagreira portuguesa procede desta situao, em si no inslita, mas aberrante pela

extenso e o tempo em que se prolongou. O resultado, o imediato gozo que proporciona, independentemente do esforo com que se alcana, equivale graa ao milagre que num segundo restaura a ordem do mundo at a desfavorvel. A imprevidncia histrica de que vrias vezes demos provas desde Alccer-Quibir at Descolonizao, a eterna surpresa que sublinha as catstrofes mais evitveis, o nacional grito de pouca sorte com que comentamos os desastres que ns prprios elabormos por inrcia ou confiana infinita nas boas disposies da Providncia, so s alguns dos aspectos com que mais brutalmente se manifesta a nossa riqussima mentalidade de pobres milionrios por direito divino. Tutti principi, como na Itlia, onde to comum commedia dell arte social serve, felizmente, para ningum se tomar a srio como tal, o que no o nosso caso, de gente que a bem dizer no visa mesmo ser rico responsabilizando-se nessa situao, mas apenas no ser to pobre como o vizinho e suplant-lo. a funo e o contedo formal da riqueza que importam no a objectiva e tranquilizante vontade de poderio que ela assegura. O comportamento sinistramente ostentatrio e brbaro que William Beckford notou na nossa aristocracia portuguesa que frequentou, no tinha mais funo que a de se extenuar na pantagrulica exibio da sua diferena em relao ao comum povo esfomeado. Essa gente que era a nossa nobre gente no celebrava nenhum ritual de posse ou gozo feliz da sua existncia, mas afirmava apenas, para o exterior, a satisfao vil de um privilgio. Esta aristocracia no estava em condies mnimas de fazer um uso humano do abuso econmico e social que representava. A funo de aparato e de aparncia esgotava toda a sua realidade por no haver no espao social portugus termo algum de comparao que pudesse constituir uma crtica implacvel desse estilo de vida sem objecto prprio, pois a Corte, imobilista e grotesca, tambm o no exemplificava.

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