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Projeto

PERGUNTE
E
RESPONDEREMOS
ON-LIME

Apostolado Veritatis Spiendor


com autorizacáo de
Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb
(in memoriam)
APRESEISTTAQÁO
DA EDIpÁO ON-LINE
Diz Sao Pedro que devemos
estar preparados para dar a razáo da
nossa esperanga a todo aquele que no-la
pedir (1 Pedro 3,15).

Esta necessidade de darmos


conta da nossa esperanca e da nossa fé
hoje é mais premente do que outrora,
visto que somos bombardeados por
numerosas correntes filosóficas e
religiosas contrarias á fé católica. Somos
assim incitados a procurar consolidar
nossa crenca católica mediante um
aprofundamento do nosso estudo.

Eis o que neste site Pergunte e


Responderemos propóe aos seus leitores:
aborda questdes da atualidade
controvertidas, elucidando-as do ponto de
vista cristáo a fim de que as dúvidas se
dissipem e a vivencia católica se fortaleca
no Brasil e no mundo. Queira Deus
abencoar este trabalho assim como a
equipe de Veritatis Splendor que se
encarrega do respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.

Pe. Esteváo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

Celebramos convenio com d. Esteváo Bettencourt e


passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte e
Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicacáo.
A d. Esteváo Bettencourt agradecemos a confiaga
depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e
zelo pastoral assim demonstrados.
I
>

ANO XXXVI MARQO 1995 394

"Ele me amou e se entregou por mim" (Gl 2,20)

Estado do Vaticano: Por qué?

Comunhao Eucarística de Divorciados novamente casados

Svetlana, f ilha de Josef Stalin

Resposta a Elsimar Coutinho

"Cura entre Geracoes" (R. DeGrandis)

"Seja o amor o único vencedor" (Paulo VI)


PERGUNTE E RESPONDEREMOS MARQO 1995
Publicacao mensal N? 394

Diretor-Responsável
SUMA Rl O
Estévao Bettencourt OSB
Autor e Redator de toda a materia "Ele me amou e se entregou por mim"
publicada neste periódico (Gl 2,20) 97

A Historia fala:
Diretor-Administrador: Estado do Vaticano: Por qué? 98
D. Hildebrando P. Martins OSB
Urna Palavra da Santa Sé:
Administracao e distribuicao: A Comunhao Eucarística de fiéis divor
ciados e nova mente casados 109
Edicoes "Lumen Christi"
Rúa Dom Gerardo, 40 - 5? andar - sala 501 Do Ateísmo ao Catolicismo:
Tel.:(021) 291-7122 Svetlana, filha de Josef Stalin 117
Fax (021) 263-5679
Cientista e Polemista:
Respostaao Dr. Elsimar Coutinho .... 126
Endereco para correspondencia:
O Além e o Aquém:
Ed. "Lumen Christi"
"Cura entre Geracoes", por Robert
Caixa Postal 2666
OeGrandis 131
Cep 20001-970 - Rio de Janeiro - RJ
Falam os Bispos de Cuba:
ImpressSfo e EncadernapSo "Seja o amor o único vencedor"
(Paulo VI) 141
Livrosem Estante 143

"MARQUES SARAIVA"
GRÁFICOS E EDITORES Ltda. Nova capa da autoría de Claudio Pastro,
Tels.: 10211273-9498 / 273-9447 a quem PR agradece.

NO PRÓXIMO NÚMERO:

Os Milagres de Jesús: fatos históricos e significado. — Monofisitas professam a Fé


de Calcedonia. - "Igreja Crista Evangélica". -Aparicoes em Sao SebastiSo do Alto.
— O Vale do Amanhecer. — "Cruzando o Limiar da Esperanca".

COM APROVAQAO ECLESIÁSTICA

(PARA RENOVACÁO OU NOVA ASSINATURA: RS 15,00).


(NUMERO AVULSO : RS 1,60).

.O pagamento poderá ser á sua escolha:.

1. Enviar EM CARTA cheque nominal ao Mosteiro de Sao Bento do Rio de Janeiro, cruza
do, anotando no verso: "VÁLIDO SOMENTE PARA DEPÓSITO na conta do favoreci
do" e, onde consta "Cód. da Ag. e o N? da C/C"; anotar: 0229 - 02011469-5.
2. Depósito no BANCO DO BRASIL, Ag. 0435-9 Rio C/C 0031-304-1 do Mosteiro de S. Ben
to do Rio de Janeiro, enviando; a seguir, xerox da guia de depósito para nosso controle.

3. VALE POSTAL pagável na Ag. Central 52004 - Cep 20001-970 - Rio.


Sendo novo Assinante. é favor enviar carta com nome e enderego legi'veis.
Sendo renovacao, anotar no VP nome e endereco em que está recebendo a Revista.
"ELE ME AMOU E SE ENTREGOU
POR MIM" (Gl 2,20)

As palavras do Apostólo dao sentido pessoai a obra da Redéncáo efe-


tuada por Jesús Cristo: Ele fez por cada um o que fez por todos. Ele o fez
com amor gratuito, existente desde todo o sempre e concretizado no mo
mento histórico próprio.
"Entregou-se...". Entregou-se á Paixao e á morte de Cruz, após o que
ressuscitou. Pergunta-se; por que se entregou a tao doloroso desfecho? O
Pai gosta de sangue e sofrimentó?
A resposta excluí de Deus todo tipo de sadismo, como bem se com-
preende. Ela ressalta que o Filho de Deus quis sofrer para identificar-se
com os homens e salvá-los; assumiu as conseqüéncias do pecado (nao o
próprio pecado) a fim de Ihes dar sentido novo: "Aquele que n§o conhece-
ra o pecado, Deus o fez pecado por causa de nos, a fim de que por ele
nos tornemos justica de Deus" (2Cor 5,21). O Filho de Deus se fez solida
rio com os homens pecadores, a fim de tomar os homens solidarios com a
vitória de Cristo sobre o pecado e a morte. Sao Paulo explana enfática
mente esse jogo da historia da salvacao: fala do primeiro Ad§o, que foi
até a morte por desobediencia e des-amor, ao passo que o segundo Adao foi
também até.a morte, mas por obediencia e amor; Ele assim quis resgatar o
caminho da morte, santificando-o e furando finalmente a morte pela süa
ressurreicao (cf. Rm 5,12-19).
A Paixao de Jesús, com tudo o que ela tem de cruel e ignominioso,
evidencia aos homens o que é o pecado: é destruicSo, é perda da dignida-
de, é morte do homem. Especialmente a cena do horto das Oliveiras é elo-
qüente: apresenta Jesús como homem, acabrunhado pela previsSo da dor
e da indiferenca da humanidade á sua PaixSo, a ponto de suar sangue:
"Apareceu-lhe um anjo do céu, que o confortava. E, cheío de angustia,
orava com mais insistencia ainda, e o suor se Ihe tomou semelhante a es-
pessas gotas de sangue que cai'am por térra" (Le 22,43s). O pecado prostra
e esmaga o homem, embora, por sua forca sedutora, pareca momentánea
mente ser a resposta aos anseios do individuo.
Estas verdades retomam á mente do cristao no mes de marco, mes de
Quaresma ou de reflexSo sobre a Paixao de Cristo. Cada ano a Quaresma,
embora utilize sempre os mesmos textos bíblicos, assume significado no
vo: em 1995 vemos o mundo flagelado por guerras fratricidas em diversos
continentes e pelo libertinismo de costumes no Ocidente: os grupos de
música e danca rock, apelando para o Maligno e suscitando a sensualidade
baixa e blasfema ñas multidoes, vém a ser indiretamente um apelo aos
crístaos para que procurem participar mais conscientemente da expiacSo
prestada por Cristo. Afinal que resposta podem os crist3os dar ao mundo
desvairado? Mais eficaz do que o recurso á violencia é o que Elizabeth Le-
seur formulava nos seguintes termos: "Urna alma que se eleva, eleva o
mundo inteiro". Eis a GRANDE RESPOSTA, a ser dada em uni3o com
Aquele que nos amou e se entregou por. nos!
E.B.

97
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS"
Ano XXXVI - N? 394 - Margo de 1995

A historia fala:

ESTADO DO VATICANO: POR QUÉ?

Em si'ntese: O Estado do Vaticano tem sua origem em fatos histó


ricos dos primeiros sáculos da Igreja. Com efeito; a transferencia da capi
tal do Imperio Romano para Bizáncio no.Oriente fez que Roma e o Oci-
dente ficassem desabrigados sob a pressao dos bárbaros, que invadiam a
Europa. O Bíspo de Roma (o Papa) tornou-se entao o baluarte da ordem
civil na península itálica. Muitos nobres, movidos por especial estima, Ihe
doaram térras em torno de Roma, as quais foram constituindo o "Patri
monio de Sao Pedro"; o Papa as administrava com sabedoria, garantindo a
paz e a ordem aos respectivos moradores. Em 756 o rei Pepino o Breve,
dos Francos, resolveu oficializar este estado de coisas, reconhecendo o
Estado Pontificio independente de Bizáncio; o seu sucessor, Carlos Magno,
confirmou o gesto. O Estado Pontificio perdurou até 20/9/1870, quando,
sob Pió IX, cedeu á unificacSo da península itálica, chefiada pela Casa de
Savoia. Os Papas subseqüentes nao quiseram renunciar ao direito de pos-
suir um territorio independente, pois este Ihes parecía condicao indispen-
sável para que pudessem exercer livremente o seu ministerio pastoral. Fi
nalmente em 1929, pelo Tratado do Latrao, foi restaurado o Estado Pon
tificio, com 0,44 km2, o mínimo dentre os Estados independentes, neces-
sário, porém, para garantir aos Pontífices a Iiberdade no cumprimento de
sua missao de governar a Igreja espalhada pelo mundo inteiro, sem a inge
rencia de poderes estrangeiros.

♦ * *

Muitos perguntam por que a Igreja Católica possui um Estado territo


rial independente, dito "o Vaticano", com seus representantes diplomáti
cos e sua partidpacao ñas reuniSes de niVel internacional... Parece desne-
cessário que isto aconteca. - A resposta a tal pergunta so pode ser dada a
partir da historia. A Igreja Católica nao arrogou a si p direito de ter um
territorio independente, mas este teve origem na antigüidade por gestos

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ESTADO DO VATICANO: POR QUÉ?

espontáneos de muitos cristaos, que estimavam a figura do Bispo de Roma


(o Papa), como se dirá ñas páginas subseqüentes.

Passamos a examinar o desenrolar dos acontecimentos queexplicam


a existencia do Estado do Vaticano contemporáneo.

1. OS ANTECEDENTES DO ESTADO PONTIFICIO (330-747)

De 306 a 337 reinou no Imperio Romano Constantino o Grande.

Em 313 pelo Edito de Milao concedeu a paz aos cristaos, pondo fim
a duzentos e cinqüenta anos de perseguicao.

Muito importante, no reinado de Constantino, foi a transferencia da


capital de Roma para a pequeña cidade de Bizáncio na Asia Menor; esta
passou a ter o nome de Constantinopla ou cidade de Constantino (hoje
Istambul). A razao da mudanca é a instabilidade a que estava sujeita a ci
dade de Roma e, com ela, o Ocidente por causa das ¡nvasoes bárbaras. Em
conseqüéncia, Roma foi mais e mais abandonada pelo poder imperial; tor-
nou-se sempre mais importante pelo seu valor religioso (nela tinham mor-
rido Sao Pedro e Sá*o Paulo e nela vivia o sucessor de Sao Pedro, o Papa, a
quem as populacoes do Ocidente mais e mais recorriam para conseguir
protecao contra os bárbaros). A transferencia da capital para Bizáncio con-
tribuiu fortemente para que Oriente e Ocidente tivessem cada qual a sua
evolucao cultural e religiosa própria.

Roma no Ocidente ficou entregue á administracao de um conselho


municipal, que tinha o nome de Senado, e de funcionarios encarregados de
julgar as causas judiciárias e cobrar os impostos. Bizáncio mais e mais se
esquecia de Roma, descuidando-se do seu reabastecimento e da conserva-
pao de seus monumentos; as incursoes dos bárbaros na península itálica
tornavam as condícoes de vida da populacao cada vez mais precarias e do-
lorosas. Eis, porém, que, em meio á anarquía, urna figura ia ganhando es
pontánea veneracao: a do bispo de Roma, considerado pela populacao cris
ta como o pai comum, no qual todos depositavam confianca. Correspon-
dendo a este afeto filial, os Pontífices Romanos foram-se tornando os tu
tores do bem público nao sonriente no plano espiritual, mas também no
temporal e social: em 452, por exemplo, o Papa Sao Leao Magno dirigiu-se
ao encontró de Átila e do exército huno, que se aprestavam para devastar
Roma e a Italia meridional, conseguindo deté-losem Mantua. Na ausencia
ou na incuria dos oficiáis do Imperador Bizantino, era no chefe religioso
de Roma que os homens depositavam a sua esperanca de viver melhores
dias.

A estima devotada ao Bispo de Roma (= Papa) fazia que muitos no-


bres, ao morrer ou ao ingressar no mosteiro, legassem seus bens e territó-

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 394/1995

rios ao Pontífice. Assim teve origem, aos poucos, o chamado "Patrimonio


de S3o Pedro", que constava de térras na Italia e ñas ilhas adjacentes. Esses
bens, de extensSo cada vez maior, permitiam ao Papa assumir posicao de
certa independencia diante do Imperador bizantino e do representante
deste em Ravena: o Pontífice tinha sob a sua jurisdicao civil grande núme
ro de cidadaos, que trabalhavam sob a tutela papal ou eram socorridos por
esta nos hospitais, asilos e orfanatos pontificios.

En conseqüéncia, durante os sáculos IV - Vil foi-se afirmando natu


ralmente o poder temporal do Papa, em virtude do desenrolar mesmo dos
acontecimentos.

No séc. VIII os acontecimentos se precipitaram.


O Papado se viu premido entre duas potencias hostis: no Oriente, os
bizantinos favoreciam as heresias (á respeito de Cristo e do culto das ima-
gens), os Imperadores subtraíam térras á jurisdicao eclesiástica dos Papas.
No norte da Italia, os lombardos, pagaos ou arianos (heréticos), ameaca-
vam constantemente saquear Roma e os territorios meridionais, consti-
tuindo um perigo nao somente civil, mas também religioso. Nessas circuns
tancias, os Pontífices Romanos se lembraram de recorrer ao auxilio de
um dos novos povos do cenário europeu: os francos, que, desde o batismo
de seu rei Cióvis em 496, constituiam urna nacao crista de crescente valor
cultural; em 732, seu mordomo, Carlos Martelo, tinha conjurado o perigo
muculmano, vencendo os árabes em Poitiers. Os francos conservavam fide-
lídade á reta fé e possuiam energías novas, enquanto Bizáncio já signifícava
um mundo velho, vítima tanto das sutilezas de seu ingenio ("bizantinis-
mo" na arte, na filosofía, na teología...) como dos exércitos estrangeiros
(principalmente dos persas); o verdadeiro esteio da cristandade já nao es-
tava no Oriente (onde as sutis discussoes teológicas debtlitavam a fé), mas
no Ocidente, em particular no reino dos francos, onde a fé era empreen-
dedora. Por que entSo n3o apelariam os Papas para estes filhos da Santa
Igreja, a fim de propiciar urna ordem de coisas crista aos povos cristaos?

2. A CRIACÁO DO ESTADO PONTIFICIO (756)

1. Em 747, Pepino, homem inteligente e ambicioso, mas religioso e


bem intencionado com a Igreja, tomou-se o mordomo do palacio real dos
francos (os reís entao reinavam, mas nao govemavam, enquanto os mordo-
mos govemavam sem coroa). Pepino quis por termo á situacao ambigua do
govemo dos francos; por isto recorreu ao Papa Zacarías, pedindo-lhe que
'recobrisse com a sua autoridade a falta de sangue real e reconhecesse a di
nastía de Pepino e dos seus descendentes (os carolíngios); o Pontífice con-
cordou com Pepino, pois este, se na"o era o rei de direito, era o rei de fato.
Em 751 Pepino foi eleito reí dos francos na Dieta (= assembléia política)

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ESTADO DO VATICANO: POR QUÉ?

de Soissons, e, a seguir, ungido por S. Bonifacio e outros bispos. Sucedeu


assim ao último rei da dinastía anterior (merovi'ngia): Quilderico III.

Pepino em breve teve a ocasiao de mostrar sua gratidao ao Papa. O


rei lombardo Aistulfo (749-56), depois de ter tomado Ravena aos bizan
tinos, ameacava Roma. De novo abandonado pelo Imperador Constantino
V Coprónimo, o Papa Estévao II pediu auxilio aos francos; foi mesmo á
Franga, aparecendo em 754 no palacio regio em Ponthion (perto de París).
Pepino recebeu-o com todas as honras e prometeu-lhe protecao contra os
lombardos; era movido a isto nao por meros interesses políticos, mas por
veneracSo sincera para com o sucessor de S. Pedro. De Ponthion o rei le-
vou o Papa para París, onde este o ungiu, assim como aos seus dois filhos
Carlos e Carlomano, reis dos francos; além disto, conferiu-lhes o ti'tulo de
"patricios romanos", ti'tulo que i mp I ¡cava o dever de proteger Roma e a
sua Igreja. Finalmente a amizade entre Pepino e o Papa deu ocasiao a novo
pacto travado em 754 em Quierzy: Pepino se obrigava nao somente a de
fender a Igreja em Roma, mas também a libertar os territorios bizantinos
ocupados pelos lombardos. Em duas campanhas militares (755 e 756) Pe
pino venceu Aistulfo e, apesar dos protestos de Bizáncio, doou solene-
mente por escrito ao Papa os territorios de Comacchio, o exarcado e a
Pentápole (Rimini, Pesaro, Fano, Sinigaglia, Ancona); o documento de
doacao foi colocado sobre o túmulo de Sa~o Pedro. Estava assim fundado o
Estado Pontifi'cio (756), praticamente independente de Bizáncio, sob a ju-
risdicao do Papa e a protecao dos francos. Na verdade, tal gesto correspon
día ao papel que o Pontífice já vinha exercendo em favor das populacoes
ameacadas da península itálica.

2. Existe um documento intitulado Constitutum ou Oonatio Cons-


tantini segundo o qual o Imperador Constantino Magno doava ao Papa S.
Silvestre (314-335) e a seus sucessores, em agradecimento pelo batismo e a
cura da lepra, poder e dignidade imperiais; além disto, confería-lhes o do
minio sobre o palacio do LatrSo, sobre Roma e todas as cidades dos terri
torios ocidentais; pelo qué, Constantino transferia a sua residencia para Bi
záncio. Este documento faz parte de urna colecao falsa de leis — os decre
táis do Pseudo-lsidoro -, que teve origem no século IX. Por toda a Idade
Media a Oonatio Constantini foi considerada auténtica. Todavia a partir
do século XV a sua genuidade foi contestada de modo que hoje em día é
reconhecida como falso documento.

A Pepino o Breve sucedeu seu filho Carlos Magno. O rei Desiderio,


dos lombardos, resolveu atacar de novo os territorios pontificios, inclusi
ve marchando sobre Roma. O Pontífice apelou para os francos: em 773,
Carlos interveio cercando Pavia, a capital dos lombardos; durante o sitio,
na Páscoa de 774 o rei dos francos foi a Roma e lá confirmou a doacao
que Pepino fizera a EstévSo II; além disto, doou-lhe as cidades de I mola,

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"PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 394/1995

Bolonha e Ferrara. Carlos Magno recebeu do Pontífice Leao III, em 800,


a coroa de Imperador do Imperio Romano, restaurado no Ocidente com o
título de Imperio sacro ou cristao.

3. Esses fatos tém sido calorosamente comentados pelos historiado


res. Pergunta-se se nao houve nisso tudo usurpapao de di reí tos, jogo de in-
teresses políticos dos Papas e dos francos.

Após urna reflexao serena, afirmar-se-á que na*o. Os acontecimentos


mencionados nSo foram senáo a "oficial¡zacao" de urna situapao que de
fato já existia: o Papa já exercia as funcSes de soberano no Patrimonio de
Sao Pedro, sempossuir o título respectivo; os mordomos francos, do seu la
do, já governavam o reino (sob a dinastía dos reís merovíngios ditos "fai-
néants", indolentes), embora n§o trouxessem as insignias de monarcas; Pe
pino o Breve e EstévSo II, Carlos Magno e Leao III só fizeram tornar a si
tuapao definida e patente aos olhos do mundo. A restaurapao do Imperio
Romano no Ocidente nao pode ser tida como violencia cometida contra
Bizáncio, nem foi um gesto surpreendente e brusco, mas o remate orgáni
co de um processo histórico iniciado em 330 e lentamente amadurecido
no decorrer de mais de quatrocentos anos (até 756, ou melhor, até 800).

4. O Estado Pontificio, fundado em 756, perdurou ininterruptamen-


te até 1870, quando cedeu ao movimento de unificapao da península itá
lica. Registraram-se, no decorrer desses muitos sáculos, obras grandiosas,
que a soberanía temporal dos Papas possibilitou; mas verificaram-se ou-
trossim certos abusos, gestos de prepotencia política e de luxo mundano,
principalmente no período da Renascenpa. A Santa Igreja, guiada pelo Es
pirito Santo, é a primeira a reconhecer e condenar tais desvíos; ela nao se
identifica ¡rrestritamente com nenhum de seus membros, mas, na qualida-
de de Esposa de Cristo, transcende a todos, até mesmo os mais altamente
colocados (pois cada um traz até certo ponto o lastro do pecado); também
nao se surpreende ao verificar os abusos de seus filhos; estao bem na linha
da parábola evangélica do joio e do trigo...

3. A QUEDA DO ESTADO PONTIFICIO

No século XIX desencadeou-se o movimento de unificapao da penín


sula itálica, sob a hegemonia do Piemonte-Sardenha. O rei Vítor Emanuel
II (1849-1870), do Piemonte, ocupou provincias do Estado Pontificio e
foi proclamado "rei da Italia" aos 27/3/1861, com a sua capital em Flo-
renca.

Em 1861, portante, o Estado Pontificio via-se despojado de dois ter


cos do seu territorio, reduzido a Roma e á parte mais antiga do Patrimonio
de Sá*o Pedro, praticamente impossibilitado de subsistir em virtude does-
gotamento financeiro.

102
ESTADO DO VATICANO: POR QUÉ?

Finalmente em 1870, assediaram Roma 60 mil piemonteses coman


dados pelo general Cardona. A defesa pontificia, sób o general Kanzler,
só contava 10 mil soldados. Depois de alguns golpes de artilharia piemon-
tesa, Pió IX mandou capitular aos 20/9/1870. O poder temporal do Papa
assim cafa. Em junho de 1871 Vi'tor Emanuel estabeleceu sua residencia
no Quirinal, onde outrora haviam morado os Papas, ficando o Pontífice
no Vaticano.

A perda do poder temporal teve o mérito de emancipar o Papa das


solicitudes e solicitares dilaceradoras da administracao de um Estado.
Pode sobressair mais na singularidade da sua missao espiritual.

4. ENTRE A QUEDA E A RESTAURACÁO DO


ESTADO PONTIFICIO

Tendo perdido o poder temporal, os Papas julgaram que em cons-


ciéncia nao podiam abrir mao do direito a total autonomía nos planos po
lítico e nacional. Tal autonomía Ihes aparecía muito justificadamente co
mo condicao impreten'vel para a fiel realizacao de seus encargos de pasto
res de alma esparsas por todos os continentes.

É o que afirmava Sua Santidade o Papa Leao XIII em carta escrita


aos 15 de junho de 1887:

"A suprema autoridade pontificia, instituida por Jesús Cristo e con


ferida a Sao Pedro e aos seus sucessores legítimos, os Pontífices Romanos,
nao pode, por sua natureza mesma e por vontade do seu Divino Fundador,
estar sujeita a algum poder terrestre; ao contrario, e/a deve gozar da mais
plena liberdade no exercício de suas funcoes... £ necessário que o Sumo
Pontífice seja colocado em condicoes de independencia tais que nao so-
mente a sua liberdade nao seja entrevada por quem quer que seja, mas se
torne mesmo evidente a todos que ela nio é tolhida" f'L'Osservatore Ro
mano" 12/02/1929).

O Papa Pió XI disse o mesmo em palavras dirigidas aos professores e


estudantes da Universidade de MilSo:

"Em virtude da divina responsabilidade de que está investido o Pon


tífice Romano, qualquer que seja o seu nome e qualquer que seja a época
em que viva, nao pode estar subordinado a poder algum" ("La Documen-
tation Catholique" 1929, col. 472).

0 mesmo Pontífice, referindo-se ao poder temporal da Santa Sé,


declarava:

103
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 394/1995

"Nao se conhece, ao menos até nossos días, outra forma de soberanía


verdadeira e própria que nao se/a soberanía territorial... A soberanía terri
torial, qualquer que se/a a sua modalidade, é condicao que todos reconhe-
cem indispensável á verdadeira soberanía jurísdiQional" /""La Documenta-
tion Catholique" 1929, col. 469).

Observe-se que, para a Igreja, a plena autonomía do Sumo Pontífice


é, em última análise, nUo urna questSo poh'tica, mas urna questao religiosa,
se bem que tenha suas conseqüéncias nos setores político e económico;
estes interessam á Igreja apenas na medida em que sao necessários ao livré
exerci'cio do ministerio apostólico e á instaurado do Reino de Deus na
térra. Em outros termos: a independencia territorial é, para a Santa Igreja,
apenas o símbolo e a condicao da independencia religiosa.

Merecem atencao também as ponderacoes do Papa Pió IX feitas em


alocucSo de 20 de abril de 1849, quando o Estado Pontificio estava pres
tes a sucumbir:

"É evidente que os fiéis, os povos, as nacñes, os reís nunca se voltario


para o bispo de Roma com plena conf¡anca e obediencia quando o virem
súdito de um soberano ou de um Governo, e souberem que nao está em
plena posse de sua líberdade. Pois entao poderao sempre suspeitar e recear
que o Pontífice, em seus atos, sofra a influencia do soberano e do Governo
em cu/o territorio ele resida. E, em vista deste pretexto, acontecerá muitas
vezes que as determinacoes do Papa nao serio executadas".

As palavras de Pió IX eram realmente sabias e prudentes. É o que se


comprova pelo fato de que os filósofos do sáculo XVIII, desejosos de ex
tinguir a Igreja, se mostravam persuadidos de que a queda do Estado Pon
tificio acarretaria a da própria Igreja. Assim, por exemplo, escrevia o Im
perador Frederíco II da Prússia ao seu amigo Voltaire em carta datada de
9dejulhode1777:

"Quando o principado civil dos Papas tiver desmoronado, entao sere


mos vitoriosos e a cortina caira. Daremos urna boa pensao ao Santo Padre.
E que acontecerá entao? A Franca, a Espanha, a Polonia, em urna palavra:
todas as potencias católicas ¡á nao haverao de querer reconhecer um Vigá-
río de Jesús Cristo subordinado ao braco do Imperador. Cada qual (desses
países) criará um patriarcado em seu próprio territorio... Aos poucos afas-
tar-se-ao da unidade da Igreja, e cada um acabará por ter em seu reino a
sua religiao própria como tem a sua língua própria" (Voltaire, Oeuvres
completes XII. París 1817, pág. 64).

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ESTADO DO VATICANO: POR QUÉ?

5. A RESTAURACÁO DO ESTADO PONTIFICIO

Os Papas Pió IX (1846-1878), LeSo XIII (1878-1903), S. Pió X


(1903-1914), Bento XV (1914-1922) e Pió XI (1922-1939) sempredisse-
ram Non possumus (Nao podemos) a qualquer proposta de renuncia á so
beranía temporal (as respectivas razoes mais adiante explanadas).

Finalmente sob Pió XI ocorreu a solucao da famosa "Questao Ro


mana". Esta se deve á iniciativa pessoal e á grande coragem de Pió XI. Foi
possibilitada também pela mudanca do Govemo italiano: em outubro de
1922 deu-se o advento do Fascisrtfo, que tomou posicao favorável á Igreja:
o ensino da religiao tomou-se de novo obri gato rio ñas escolas, os clérigos
foram dispensados do sen/ico militar, foi oferecida assisténcia religiosa as
Forpas Armadas, os crucifixos foram recolocados ñas escolas, nos hospitais
e tribunais; igrejas e mosteiros profanados foram, em parte, restituidos, os
dias santos católicos reconhecidos... Benito Mussolini, o chefe do Gover-
no, precebeu a grande convivencia política de reconciliar a Italia com o Va
ticano. As negociacoes levaram dois anos e meio, terminando com a assina-
tura do Tratado do Latrao aos 11/02/1929, que encerrava sessenta anos de
querela entre o Vaticano e o Quirinal.

Este Tratado reconhecia a absoluta soberanía do Papa sobre a peque


ña Cidade do Vaticano, que é o menor de todos os Estados independentes:
0,44km2, quando a República de San Marino tem 61 km* e a de Andorra
465km2. Ao Vaticano tocaría o direito de representacao diplomática ativa
e passiva. O Papa, de seu lado, reconhecia o reino da Italia soba dinastía
de Savoia e com a capital em Roma (reconhecia, portanto, a secularizacao
dos antigos territorios pontificios). Além da Cidade do Vaticano, o
Ponti'fíce dispoe de "lugares extraterritorial", como as principáis basíli
cas de Roma, edificios da Curia, a Vila de Castel Gandolfo... - Num acor-
do separado, o Estado italiano se comprometia a pagar á Santa Sé a quan-
tia de 1.750 milhoes de liras a título de indenizacao.

O Papa Pió XI, por ocasiio do Tratado do Latrao, quis explicar o


porqué da insistencia de cinco Pontífices em nao aceitar símplesmente a
perda do Estado da Igreja:

"Podemos dizer que nao há urna linha, urna expressao do Tratado


(do Latrao) que nSo tenham sido, ao menos durante uns trinta meses,
objeto particular de nossos estudos, de nossas meditacoes e, mais ainda, de
nossas oracoes, que pedimos outrossim a grande número de almas santas e
mais amadas por Deus.

Quanto a nos, sabíamos de antemió que nao conseguiríamos conten


tar a todos, coisa que generalmente nem o próprio Deus consegue...

105
JO "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 394/1995

... Alguns talvez achem exiguo dentáis o territorio temporal. Pode


mos responder, sem entrar em pormenores e precisoes pouco oportunas,
que é realmente pouco, muito pouco; foi deliberadamente que pedimos ó
menos possi'vel nessa materia, depois de ter refletido, meditado e orado
bastante. E isso, por varios motivos, que nosparecem válidos e serios.

Antes do mais, quisemos mostrar que somos sempre o Pai que trata
com seus filhos; em outros termos: quisemos manifestar nossa intencao de
nao tornar as coisas mais complicadas e, sim, mais simples e mais facéis.

Além disto, queríamos acalmar e dissipar toda especie de inquieta-


cao; queríamos tornar totalmente injusta, absolutamente infundada, qual-
quer recriminacao levantada em nome de... iríamos dizer: urna supersti-
cao de integridade territorial do país (Italia).

Em terceiro lugar, quisemos demonstrar de modo peremptório que


especie nenhuma de ambicio terrestre inspira o Vigário de Jesús Cristo,
mas únicamente a consciéncia de que nao é possível nao pedir, pois urna
certa soberanía territorial é a condicao universal reconhecida como indis-
pensável a todo auténtico poder de ¡urisdicao.

Por conseguinte, um mínimo de territorio que baste para o exercício


da jurisdigao, o territorio sem o qual nao poderia subsistir... Parece-nos,
em suma, ver as coisas tais como elas se realizavam na pessoa de Sio Fran
cisco: este tinha apenas o corpo estritamente necessário para poder deter a
alma unida a si. O mesmo se deu com outros Santos: seu corpo estava re-
duzido ao estríto necessário para servir á alma, para continuar a vida hu
mana e, com a vida, sua atividade benfaze/a. Tornar-se-á claro a todos, es-
peramo-lo, que o Sumo Pontífice nao possui como territorio material se-
nao o que /he é indispensável para o exercício de um poder espiritual con
fiado a homens em proveito de homens. Nao hesitamos em dizerque Nos
comprazemos neste estado de coisas; comprazemo-Nos por ver o dominio
material reduzido a limites tao restritos que... os homens o devem consi
derar como que espiritualizado pela missSo espiritual ¡mensa, sublime e
realmente divina que ele é destinado a sustentar e favorecer" (trecho da
alocucSo publicada por "L'Osservatore Romano"¿/e 13 de fevereiro de 1929).

A comparado ¡lustra fielmente a verdade. Tenha-se em vista que a


Igreja, por definidlo, exerce autoridade nao apenas sobre os corpos e o
comportamento exterior dos homens, mas também sobre o setor mais ínti
mo e importante dos indivi'duos: sobre as almas; e exerce-a ¡ndependente-
mente de fronteiras nacionais, abrangendo centenas de milhSes de fiéis do
mundo inteiro: onde quer que esteja comprometido o espirito do homem,
mesmo nos planos aparentemente mais indiferentes á religiao, como o

106
ESTADO DO VATICANO: POR QUÉ?

esporte, o cinema, a medicina, o comercio, a Igreja tem que estar ai pre


sente, a fim de orientar a conduta das almas que assim entram em contato
com o mundo material.

Tal autoridade é realmente colossal. Em conseqüéncia, os filhos da


Igreja e os homens que compreendem o que essa autoridade significa, nao
podem deixar de desejar que tanto poder nSo sofra influencia de alguma
forca estranha, n§o se torne joguete ñas maos de soberanos políticos, mais
ou menos arbitrarios. Por isto, cedo ou tarde havia de aflorar á conscién-
cia dos (ínstaos a idéia de que o governo e o Chefe Supremo da Igreja de-
vem ser ¡ndependentes de qualquer soberano político nacional, devem en-
fim ser tao livres quanto qualquer governo deste mundo. Em caso contra
rio, estaría frustrada a sua missao.

Esta última conclusáo, a historia se encarregou de a comprovar.


Com efeito, nao faltaram no decurso dos sáculos tentativas das autorida
des civis que visavam a submeter o Soberano Pontífice á jurisdicao do mo
narca de tal ou tal país (que ótimo jogo nSo seria utilizar a autoridade mo
ral dos Papas em favor de ¡nteresses nacionais!). Quando o conseguiram, a
tarefa religiosa da Igreja se viu enormemente prejudicada. Foi o que se
deu, por exemplo, durante o chamado "Exilio de Avinhao": de 1309 e
1376, os monarcas franceses obtiveram que os Papas residissem em Avi
nhao (Franca), onde, carecendo de soberanía temporal, ficaram sujeitos á
influencia do governo civil. Nesse período, os Pontífices foram perdendo
parte da sua autoridade perante a opiniao pública internacional; os cristSos
de fá (o rei Carlos IV da Alemanha, o poeta Petrarca, Sta. Brígida, nobre
viúva sueca, Sta. Catarina de Sena) se alarmavam, percebendo que, se a si-
tuacao se prolongasse por muito tempo, o Papado deixaria de ter o presti
gio sobrenatural e católico (universal) que deve ter. Basta recordar que o
Pontífice Joao XXII (1316-1334) entrou em confuto com o rei Luís IV da
Baviera, animado de pretensoes cesaropapistas; excomungado pelo Papa,
o monarca respondeu que Joao XXII servia aos ¡nteresses da dinastía dos
Valois de Franca; por isto ná*o hesitou em criar um antipapa (Nicolau V),
alegando que a Franga tinha "seu" Papa.

Tais idéias e fatos evidenciam quao conveniente á missao religiosa da


Igreja é a soberanía política (por muito limitada que seja) de que os Pon
tífices tém tradicionalmente usufruido.

6. E AS "RIQUEZAS" DO VATICANO?

Quanto as propaladas "riquezas" do Vaticano é preciso dizer que os


rumores a seu respetto ultrapassam de muito a realidade.

107
J2 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS"394/1995

Como dito, a Cidade do Vaticano é, do ponto de vista territorial, a


mínima do mundo. Quando após 1870 se discutía a "Questao Romana",
diziam muitos que, em caso de restauracao da soberanía temporal, um Es
tado do tamanho da República de S3o Marinho (60,57km2) seria suficien
te para os Pontífices; ora o Estado Pontificio ressurgiu com 0,44km2
apenas — o que no sáculo passado parecía incrível. Esse Estado constituí
a simples carcaca de urna alma e tem por exclusiva funcao possibilitar o
exerci'cio das ativídades da respectiva alma ou da Igreja.

As obras de arte que se encontram no Vaticano, sao, em grande par


te, a expressao da fé de pintores e arquitetos cristaos, que quiseram glori
ficar a Oeus mediante o seu talento. Os Papas - alguns com prodigalidade
talvez excessiva - os incentivaram, porque a Igreja s<5 pode favorecer as
artes que contribuam para a exaltacao do Criador.

Os objetos contidos nos Museus do Vaticano foram, em grande parte,


doados aos Pontífices por cristaos sinceros (reis, cruzados, viajantes, ex
ploradores, etc.), em testemunho de fé. Pertencem ao patrimonio do géne
ro humano; os Papas nao véem motivo para ná"o os conservar para o bem
da cultura universal.

Ademáis, é notorio que a Santa Sé tem estado em déficit financeiro


nos últimos anos. Os diversos encargos assumidos em prol da evangelizacao
dos povos e em favor do diálogo com todos os homens tem-na obrigado a
despesas cujo montante ultrapassa o seu limitado erario. Dar o recurso
anual do Sumo Pontífice ás nacSes católicas para que o ajudem no cumpri-
mento da missao evangelizadora da Igreja. Sem dinheiro é impossível de-
sempenhar a ingente tarefa confiada por Cristo aos seus discípulos.

Nao há razao, pois, para que o mundo se detenha sobre as apregoadas


"riquezas" materiais do Vaticano. Volte, antes, a sua atencao para os
¡mensos tesouros espirituais que daquele recanto territorial emanam para o
género humano. Queiram-no ou nao os homens, é aínda da Santa Sé que
se faz ouvir a palavra da Verdade e da Vida em meios ás vicissitudes da
hora presente.

* * *

CRISTOLOGIA

O novo Curso por Correspondencia versa sobre Jesús Cristo: funda-


mentacao bíblica, historia do Dogma, penetracao sistemática. Os interessa-
dos podem pedi-lo sem obrigacao de pravas. Dirigir-se á Escola "Mater
Ecclesiae", Caixa postal 1362,20001-970 - Rio (RJ).

108
Urna Palavra da Santa Sé:

COMUNHÁO EUCARISTICA DE DIVORCIADOS


NOVAMENTE CASADOS

Em símese: A Congregado para a Doutrina da Fé publicou aos


14/9/94 urna Carta aos Bispos da fgreja inteira em que lembra a iliceidade
de se dar a Comunhao Eucan'stica aos fiéis divorciados e novamente casa
dos. A razao disto é a determinacao do Senhor segundo a qual o matrimo
nio é indissolúvel; cf. Me 10,2-12; Le 16,18; ICor 7,10. Mesmo oscónju-
ges que tém certeza subjetiva de que o seu matrimonio foi inválido, mas
nao o podem provar objetivamente, sao obrigados a manter a fidelidade
conjugal, nao contraindo novas nupcias; o matrimonio é, sim, um ato pú
blico que interessa a toda a sociedade, de modo que só pode ser declarado
nulo (nSo anulado) desde que existam razoes objetivas que evidenciem a
nulidade do contrato. Apesar de excluidos da ComunhSo Eucan'stica, tais
cristaos sSo exortados a participar da vida da Igreja: nao faltem á Missa do
minical, rezem, alimentem-se da Palavra de Deus, atuem ñas obras dejusti-
ca e caridade da Igreja, eduquem os fi/hos na fé católica depois de os levar
á pía batismal. O Senhor Jesús saberá responder generosamente aos que
sofrem por estar vivendo, ás vezes arrepentidos, fora das normas do Evan-
getho.
* * *

Tem-se colocado com insistencia a questSo: um casal de divorciados


unidos apenas por um contrato civil nSo poderia receber os sacramentos,
especialmente a Comunhao Eucan'stica? Multiplicam-se tais casos; as
nupcias civis parecem levar dois interessados á harmonía de um auténtico
casal vinculado por amor sincero. Por que Inés negar o acesso aos sa
cramentos?

Tal questionamento toca um ponto delicado da Moral Católica. Com


efe ito; o sacramento do matrimonio é indissolúvel; por isto qualquer nova
uniio contraída por um dos cónjuges enquanto o outro aínda vive é tida
como violacao ilícita do vínculo sacramental, violacSo que gera um estado
de vida contrario á Lei de Deus e, por isto, n3o habilitado para receber a
Eucaristía.

Para renovar a consciéncia desta doutrina frente á problemática con


temporánea, a CongregacSo para a Doutrina da Fé publicou aos 14 de se-

109
M "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 394/1995

tembro de 1994 uma "Carta dirigida aos Bispos da Igreja Católica a respei-
to da recepcao da Comunhao Eucarística por parte de fiéis divorciados e
novamente casados". O teor deste documento vai, a seguir, reproduzido,
com um resumo de seus principáis trapos doutrinários.

I. A CARTA

Excelencia Reverendísima,

1. O Ano Internacional da Familia é uma ocasiSo particularmente im


portante para redescobrir os testemunhos do amor e da solicitude da Igre
ja pela familia e, ao mesmo tempo, propor novamente as riquezas inesti-
máveis do matrimonio cristao que constituí o fundamento da familia.

2. Neste contexto, merecem especial atencao as dificuldades e os so-


frimentos dos fiéis que se encontram em situacSes matrimoniáis irregula
res. De fato, os pastores s3o chamados a fazer sentir a caridade de Cristo e
a materna solicitude da Igreja, acolhendo-os com amor, exortando-os a
confiar na misericordia de Deus e, com prudencia e respeito, sugerindo-
Ihes caminhos concretos de conversáo e participagSo na vida da comúni-
dade eclesial.

3. Cientes, porém, de que a compreensao auténtica e a genuína mise


ricordia nunca andam separadas da verdade, os pastores tém o dever de re
cordar a estes fiéis a doutrina da Igreja a propósito da celebracSo dos
sacramentos e, em particular, da receppao da Eucaristía. Sobre este ponto,
nos últimos anos em varias regioes foram propostas diversas solucoes pas-
toraís segundo as quais certamente nao seria possível uma admissao geral
dos divorciados novamente casados á comunhSo eucarística, mas pode-
riam aproximar-se desta em determinados casos, quando, segundo o juízo
da sua consciéncia, a tal se considerassem autorizados. Assim, por exem-
plo, quando tivessem sido abandonados de modo totalmente injusto, em-
bora se tivessem esforcado sinceramente para salvar o matrimonio prece
dente ou quando estivessem convencidos da nulidade do matrimonio an
terior, mesmo nao podendo demonstrá-la no foro externo, ou entSo
quando tivessem já transcorrido um longo período de reflexao e de peni
tencia ou mesmo quando nao pudessem, por motivos moralmente válidos,
satisfazer á obrigacao da separacao.

Em alguns lugares também se propós que, para examinar objetiva


mente a sua efetiva situacao, os divorciados novamente casados deveriam
encetar um coloquio com um sacerdote criterioso e entendido. .Mas este
sacerdote teria de respeitar a eventual decisao de consciéncia deles de se
abeirarem da Eucaristía, sem que isso implicasse uma autorizacao oficial.

110
COMUNHÁO EUCARI'STICA DE DIVORCIADOS NOVAMENTE CASADOS 15

Nestes e em semelhantes casos, tratar-se-ia de urna solupao pastoral


tolerante e benévola para poder fazer justica ás diversas situacoes dos di
vorciados novamente casados.

4. Mesmo sabendo-se que solucoes pastorais análogas foram propos


tas por alguns Padres da Igreja e entraram, em alguma medida, também na
prática, contudo elas jamáis obtiveram o consenso dos Padres e de nenhum
modo vieram a constituir a doutrina comum da Igreja nem a determinar
a sua disciplina. Compete ao Magisterio universal da Igreja, na fidelidade á
Escritura e á TradicSo, ensinar e interpretar auténticamente o depositum
fidei.

Face ás novas propostas pastorais ácima mencionadas, esta Congrega-


gSo considera, pois, seu dever reafirmar a doutrina e a disciplina da Igreja
nesta materia. Por fidelidade á palavra de Jesús Cristo,1 a Igreja sustenta
que nao pode reconhecer como válida urna nova uniSo, se o primeiro ma
trimonio foi válido. Se os divorciados se casam civilmente, ficam numa si-
tuacao objetivamente contraria á lei de Deus. Por isso, nao podem aproxi-
mar-se se da Comunha'o Eucarística,enquanto persiste tal situacüo.

Esta norma n3o tem, de forma alguma, um caráter punitivo ou entao


discriminatorio para com os divorciados novamente casados, mas exprime
antes urna situacSo objetiva que, por si, torna impossível o acesso á Comu-
nh§o Eucan'stica. NSo podem ser admitidos, já que o seu estado e condi-
c6es de vida contradizem objetivamente aquela un¡3o de amor entre Cris
to e a Igreja, significada e atuada na Eucaristía. Há, além disso, um outro
peculiar motivo pastoral: se se admitissem estas pessoas á Eucaristía, os
fiéis seriam induzidos em erro e confusao acerca da doutrina da Igreja so
bre a indissolubilidade do matrimonio.

Para os fiéis que permanecem em tal situacSo matrimonial, o acesso á


Comunhao Eucan'sticaé aberto únicamente pela absolvicSo sacramental,
que pode ser dada so aqueles que, arrependidos de ter violado o sinal da
Alianpa e da fidelidade a Cristo, estío sinceramente dispostos a urna for
ma de vida nSo mais em contradicao com a indissolubilidade do matrimo
nio. Isto tem como conseqüéncia, concretamente, que, quando o homem e
a mulher, por motivos serios — como, por exemplo, a educacSo dos filhos
— nSo se podem separar, assumem a obrigacüo de viver em plena continen
cia, isto é, de abster-se dos atos próprios dos cónjuges. Neste caso podem
aproximar-se da Comunhao Eucarfstica, permanecéndo firme todavía a
obrigacSo de evitar o escándalo.

1 Me 10,t1-12: "Quem repudia sua mulher e casa com outra, comete


adulterio em relacSo á primeira; e, se urna mulher repudia seu marido e
casa com outro, comete adulterio".

111
JI6 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 394/1995

5. A doutrina e a disciplina da Igreja sobre esta materia foram expos


tas amp I amenté no período pós-conciliar pela Exortacao Apostólica Fami-
liaüs Consortio. Entre outras coisas, a ExortacSo recorda aos pastores que,
por amor da verdade, sao obrigados a um cuidadoso discernimento das di
versas situacdes, e animaos a encorajarem a participacüio dos divorciados
novamente casados em diversos momentos da vida da Igreja. Ao mesmo
tempo, reafirma a prática constante e universal, fundada na Sagrada Escri
tura, de nSo admitir á Comunhao Eucarística os divorciados que contraí-
ram nova uniao, indicando os motivos da mesma. A estrutura da Exorta
cao e o teor das suas palavras deixam entender claramente que tal prática,
apresentada como vinculante, n3o pode ser modificada com base ñas dife
rentes situacSes.

6. O fiel que convive habitualmente more uxorio (á guisa de consorte)


com urna pessoa que nao é a legítima esposa ou o legítimo marido, nao podé
receber a Comunhao Eucarística. Caso aquele o considerasse possível, os
pastores e os confessores - dada a gravidade da materia e as exigencias do
bem espiritual da pessoa e do bem comum da Igreja — tém o grave dever
de adverti-lo de que tal juízo de consciéncia está em evidente contraste com a
doutrina da Igreja. Devem também recordar esta doutrina no ensinamento
a todos os fiéis que Ibes estao confiados.

Isto nSo significa que a Igreja na*o tenha a peito a situacSo destes fiéis
que, alias, de fato nao estao excluidos da comunhao eclesial. Preocupa-se
por acompanhá-los pastoralmente e convidá-las a participar na vida ecle
sial, na medida em que isso seja compatível com as disposicoes do direito
divino, sobre as quais a Igreja n§o possui qualquer poder de dispensa. Por
outro lado, é necessário esclarecer os fiéis interessados para que nao consi-
derem a sua participadlo na vida da Igreja reduzida exclusivamente á ques-
tao da Eucaristia. Os fiéis há*o de ser ajudados a áprofundar a sua compre-
ensao do valor da partidpacao no sacrificio de Cristo na Missa, da comu
nhao espiritual, da oracSo, da meditacao da palavra de Deus, das obras de
caridade e de justica.

7. A convicao errada de poder um divorciado novamente casado rece


ber a Comunh§o Eucarística pressupoe normalmente que se atribuí á cons
ciéncia pessoal o poder de decidir, em última instancia, com base na pro-
pria conviccao, sobre a existencia ou nao do matrimonio anterior e do va
lor da nova uniao. Mas tal atribuidlo é inadmissível. Efetivamente o matri
monio, enquanto imagem da uniao esponsal entre Cristo e a sua Igreja, e
núcleo de base e fator importante na vida da sociedade civil, constituí es-
sencialmente urna realidade pública.

8. Certamente é verdade que o juízo sobre as próprias disposicoes


para o acesso á Eucaristia deve ser formulado pela consciéncia moral ade-

112
COMUNHÁO EUCARISTICA DE DIVORCIADOS NOVAMENTE CASADOS 17

quadamente formada. Mas é igualmente verdade que o consentimento pelo


qual é constituido o matrimonio, nao é urna simples decisao privada, visto
que cria para cada um dos esposos e para o casal urna situacao especifica-
mente eclesial e social. Portanto o jui'zo da consciéncia sobre a própria si
tuacao matrimonial n3o diz respeito apenas a urna relacSo ¡mediata entre
o homem e Deus, como se se pudesse prescindir daquela mediacao eclesial,
que incluí também as leis canónicas que obrigam em consciéncia. N3o re-
conhecer este aspecto essencial significa negar, de fato, que o matrimonio
existe como realidade da Igreja, quer dizer, como sacramento.

9. De outra parte, a ExortacSo Apostólica Familiaris Consortio,


quando convida os pastores a distinguir bem as varias situacSes dos divor
ciados novamente casados, recorda também o caso daqueles que estao
subjetivamente certos, em consciéncia, de que o matrimonio anterior, irre-
mediavel mente destrui'do, jamáis fora válido. Deve-se certamente discernir,
através da vida de foro externo estabelecida pela Igreja, se objetivamente
existe tal nulidade do matrimonio. A disciplina da Igreja, enquanto confir
ma a competencia exclusiva dos tribunais eclesiásticos no exame da valida-
de do matrimonio dos católicos, oferece também novos caminhos para de
monstrar a nulidade do matrimonio precedente, procurando assim excluir,
quanto possfvel, qualquer distancia entre a verdade verificável no processo
e a verdade objetiva conhecida pela reta consciéncia.

Ater-se ao jui'zo da Igreja e observar a disciplina vigente acerca da


obrigatoriedade da forma canónica como condicao necessária para a vali-
dade dos matrimonios dos católicos, é o que verdadeiramente aproveita ao
bem espiritual dos fiéis interessados. Com efeito, a Igreja é o Corpo de
Cristo, e viver a comunhao eclesial é viver no Corpo de Cristo e nutrí r-se
do Corpo de Cristo. Ao rece be r o sacramento da Eucaristía, a comunhao
com Cristo Cabeca nao pode jamáis ser separada da.comuhhao com seus
membros, isto é, com sua igreja. Por issd, o sacramento da nossa üniao
com Cristo é também o sacramento da unidade da Igreja. Receber a Comu-
nao Eucan'stica em contraste com as disposicoes da comunhao eclesial é,
pois, algo de contraditório em si mesmo. A comunhao sacramental com Cris
to incluí e pressupoe a observancia, mesmo se ás vezes pode ser difícil, das
exigencias da comunhao eclesial, e nSo pode ser justa e frutffera, se o fiel,
mesmo querendo aproximar-se di ratamente de Cristo, nao observa estas
exigencias.

10. Em harmonía com oque fícou dito até agora, há que realizar ple
namente o desejo expresso pelo Smodo dos Bispos,assumído pelo Santo
Padre Joao Paulo 11 e atuado com empenhamento e com louváveis inicia
tivas por parte de Bispos, sacerdotes. Religiosos e fiéis leigos: com solicita
caridade, fazer tudo quanto possa fortificar no amor de Cristo e da Igreja

113
J8 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 394/1995

os fiéis que se encontram em situapSo matrimonial irregular. So assim será


possfvel para eles acolherem plenamente a mensagem do matrimonio cris-
tá"o e suportarem na fé o sofrimento da sua situacSo. Na acao pastoral, de-
ver-se-á realizar todo o esforco para que seja bem compreendido que nao
se trata de nenhuma discriminacao, mas apenas de fidelidade absoluta á
vontade de Cristo que restabeleceu e de novo nos confiou a indissolubili-
dade do matrimonio como dom do Criador. Será necessário que os pasto
res e a comúnidade dos fiéis sofram e amem unidos ás pessoas ¡nteressadas,
para que possam reconhecer também no seu fardo o jugo suave e o fardo
leve de Jesús. O seu fardo nao é suave e leve enquanto pequeño ou insigni
ficante, mas torna-se leve porque o Senhor — e juntamente com Ele toda a
Igreja — o compartilha. é deverda acSo pastoral, que há de ser desempe-
nhada com total dedicacSo, oferecer esta ajuda fundada conjuntamente na
verdade e no amor.

Unidos no compromisso colegial de fazer resplandecer a verdade de


Jesús Cristo na vida e na prática da Igreja, tenho o prazer de me professar

de Vossa Excelencia Reverendíssima


devoti'ssimo em Cristo
t Joseph Card. Ratzinger
Prefeito

t Alberto Bovone
Arcebispo titular de Cesaréia de Numi'dia
Secretario

O Sumo Pontífice Joao Paulo II, no decorrer da Audiencia concedida


ao Cardeal Prefeito, aprovou a presente Carta, promulgada em reum'So or
dinaria desta Congregacao, e ordenou a sua publicacSo.

Roma, da Sede da Congregacao para a Doutrina da Fé, 14 de setem-


bro de 1994, na Festa da ExaltacSo da Santa Cruz.

II. COMENTANDO...

' Sejam postos em relevo quatro pontos professados pela Carta da San
ta Sé:

1) Indissolubilidade do matrimonio

A Igreja é fiel aos escritos do Novo Testamento, que afirmam a indis


solubilidade conjugal: Me 10,2-12; Le 16,18; 1Cor7,10; Mt5,32; 19,9. Os

114
COMUNHÁO EUCARISTICA DE DIVORCIADOS NOVAMENTE CASADOS 19

textos de Mateus, que se singularizam pela cláusula "a n3o ser em caso de
pornéia", nSo de ser entendidos em consonancia com os demais, que nSo
admitem excecao para á ¡ndissolubilidade. Como julgam bons comentado
res, o tradutor do texto hebraico de Mt para o grego (texto canónico, pois
o hebraico se perdeu) terá ¡ntroduzido a cláusula para atender a postula
dos de judeus convertidos ao Cristianismo; convivendo com cristSos de
origem nao judaica (étnico-cristSos), esses judeo-crist3os se escandalizavam
por ver que os étnico-cristaos nao observavam os impedimentos matrimo
niáis estabelecidos pela Lei de Moisés (cf. Lv 18,1-23); tais impedimentos,
aos olhos dos judeus, tornavam o matrimonio i lícito (pornéia), ao passo
que n3o eram impedimentos na legislacSo do Cristianismo (veja-se, por
exemplo, Lv 18,16, texto que proibe o matrimonio de um homem viúvo
com a irma de sua falecida esposa; tal matrimonio nao é ih'cito para o Cris-
tianosmo).

A Igreja, em conseqüéncia, aceita que os cónjuges, impossibilitados


de viver sob o mesmo teto, se separem um do outro; pede, porém, que
guardem fidelidade ao vínculo conjugal enquanto vive o consorte separa
do.

2) Comúnhá"o Eucarística e Comunhao Eclesial

A ComunhSo Eucarística, a I mejada por casáis que nao receberam o


sacramento do matrimonio, supoe a comunhSo eclesial ou a comunhao
com a Igreja e as suas normas (que, no caso, sao as do próprio Cristo). A
comunhao sacramental com Cristo incluí a observancia das exigencias da
comunhSo eclesial e nao pode ser frutífera se o fiel nao observa tais exi
gencias. Com efeito; Cristo é a Cabeca do Corpo da Igreja, de modo que
receber Cristo implica abracar a Igreja com seus sabios principios.

Está claro, porém, que, se os cónjuges vivem sob o mesmo teto, mas
se abstém de relacoes sexuais por motivo de idade, doenca ou por uní pro
pósito espontáneo, podem receber os sacramentos; facam-no, porém, em
igreja onde nSo sSo conhecidos a fim de evitar o escándalo que poderia
haver para quem soubesse que vivem juntos sem estar casados e, na*o obs
tante, comungam.

3) Exortacao a participar da vida da Igreja

Reafirmando suas normas (que sao as do próprio Evangelho), a Igre


ja na*o tenciona ofender nem punir os divorciados que se casaram nova-
mente. Ela é Mestra e também Máe, de modo que convidé quantos se
acham em tais condicdes, a participar da vida da Igreja na medida do pos-
sível: n3o percam a Missa dominical, dediquem-se ás obras assistenciais
da sua paróquia, tenham vida de oracao, alimentem-se da Palavra de Deus,

115
20 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 394/1995 _^

eduquem os filhos na fé católica depois de os levar á pia batismal. Há pes-


soas que sofrem por estar em situacao ilegal perante Deus e a Igreja;
n3o se deixem abater,, nao percam o ánimo, mas confiem na graca de'
Deus, para quem é sempre possivel resolver problemas que os homens n§o
podem resolver.

4) Foro interno (de consciéncia) e foro externo (jurídico)

Há casos em que os cónjuges tém certeza ou julgam poder ter certeza,


em consciéncia ou no foro interno, de que o seu matrimonio n3o foi váli
do (por faina do devido consentimento, por exemplo); todavía nSo Ihesé
possi'vel demonstrar no foro externo essa falha, por faltarem testemunhas
ou elementos comprovantes. Na base desta sua convicpao, pleiteiam nova
uniao matrimonial religiosa.. A Igreja, porém, nao Ihes pode atender, visto
que o casamento é um contrato público (ou do foro interno e externo); é
contraído perante a sociedade, pois interessa á sociedade (cada familia é
urna célula viva com a qual se constrói a sociedade); por isto também só
pode ser declarado nulo se existem razoes objetivas, objetivamente com-
provadas, que fundamentem a declaracao de nulidade.1 Reza um principio
de Moral e de Direito: todo ato é tido como válido até se provar o contra
rio; quem quer impugnar a validade de um ato, tem que aduzir pravas de
nulidade, sem as quais se continua a admitir a validade do ato.
* * *

Eis os grandes principios que a Congregacao para a Doutrina da Fé


quis recordar aos fiéis neste momento em que varios teólogos e pastora lis
tas pleiteiam a admissao de divorciados novamente casados á Comunhao
Eucan'stica.

Nao há dúvida, a comunidade eclesial sofre por ter que Ihes dizer
Nao, ... um Nao que na*o é arbitrario nem dependente de urna visao rigoris
ta discutivel, mas é simplesmente a fidelidade ao Evangelho; por causa
desta a Igreja perdeu o reino da Inglaterra em 1534, quando o reí Henri-
que VIII pediu o divorcio ao Papa Clemente Vil sem o obter. O Senhor
Jesús saberá responder com gracas copiosas aqueles que mantiverem vivo
o sentido do Evangelho e do matrimonio cristao.

' A Igreja nSo anula casamentos válidos devidamente consumados; nSo


tem autorídade para isto. Contudo Ela pode examinar se, no ato de se
contrair um matrimonio, houve algum fator que tenha tornado nulo tal
casamento em sua raiz; se tal fator pode ser descoberto e objetivamente
identificado, a Igreja declara que o casamento foi nulo desde as suas ori-
gens.

116
Do Ateísmo ao Catolicismo:

SVETLANA, FILHA DE JOSEF STALIN

Em símese: Os tragos autobiográficos de Svetiana, filha do ditador


Josef Stalin, sao eloqüente testemunho do senso religioso ¡nato em todo
ser humano. Apesar da sua educagao atéia, Svetiana compreendeu que "é
impossível viver sem Deus no coracao". Sem estudar religiSo, mas única
mente guiada pela procura do sentido da vida, chegou á conclusao da exis
tencia de Deus e pediu o Batismo na Igreja Ortodoxa Russa.

Mais e mais atraída pelo Senhor Deus, passou da Ortodoxia Oriental


para o Catolicismo, onde suas aspiragoes sao plenamente preenchidas. E
passou sem ter que ser batizada de novo, pois o Batismo é validamente
ministrado ñas comunidades eclesiais ortodoxas, que observam exatamen-
te o rito do sacramento; é Cristo quem batiza mediante o ministro que se
preste a fazer o que Ele instituiu.

* * *

Svetiana Allilouieva é a filha de Josef Stalin (1879-1953), o ditador


comunista da ex-URSS, aliado e, depois, adversario de Adolf Hitler. Sta
lin governou a URSS desde 1928 até 1953, abrangendo o pen'odo da se
gunda guerra mundial (1939-1945).

Svetiana era a filha cacula de Stalin, muito amada pelo pai, mas dissi-
dente em materia religiosa e política. Deixou a URSS e tornou-se católica
em 13/12/1982, após um itinerario religioso assaz complexo.

Svetiana deixou trapos autobiográficos, que foram publicados em


"Lettre du Foyer Oriental" e "Notre-Dame des Temps Nouveaux", de
abril-junho 1993. Vio, a seguir, publicados em traducSo portuguesa, que
guarda a forma fragmentaria do texto francés.

1. SVETLANA: "DEUS ME AMA"

0 nome Svetiana provém do russo svet, luz. 0 sobren orne Allilouie


va significa louvor a Deus. Toda a trajetória religiosa de Svetiana se resume

117
22 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 394/1995

numa frase por ela proferida e muito divulgada pela imprensa na década
de 1960, quando se tornou crista: "É impossfvel viver sem Deus no cora-
cao". Ela mesma refere como chegou a experimentar a necessidade de
Oeus.

MINHA VIDA SEM DEUS

"Para comecar, desejo dizer que nao pode haver vida sem Deus, mes-
mo quando n3o O conhecemos e honestamente julgamos que Ele nao exis
te. Os primeiros trinta e seis anos que vivi no Estado ateu da Rússia, nSo
foram, em absoluto, urna vida sem Deus. Todavia fomos educados por nos-
sa escola laicizada, por toda a nossa sociedade profundamente materialis
ta. Nao se tratava de Deus.

Minha avó paterna, Ekaterina Djugashvili, n3o falava russo, pois era
da Georgia. Até a morte, ela freqüentou a Igreja Ortodoxa da Georgia,
causando grande embaraco ás autoridades comunistas locáis. Era urna po
bre camponesa, quase iletrada, viúva precoce, que pusera sua confianca em
Deus e na Igreja. Era muito piedosa e trabalhadora; sonhava com a idéia de
ver seu filho - meu pai — sacerdote. Era dirigida por um padre local, que
levou o menino para a escola paroquial e, a seguir, sugeriu que o colocas-
sem no Seminario de Tifus. O adolescente era ávido de estudos e tornava-
se motivo de alegría e ufanía para a sua mae.

Em fins do século XIX os Seminarios ortodoxos orientáis na Rússia


eram, muitas vezes, perpassados por urna córreme secreta revolucionaria
e nacionalista. O marxismo, importado do Ocidente, era bem conhecido
ñas Universidades.

0 sonho de minha avó nunca se realizou. Com a idade de vinte e um


anos, meu pai deixou o Seminario para sempre.

Minha avó materna, Olga Allilouieva, com prazer nos falava de Deus;
déla é que nos ouvimos, pela primeira vez, os vocábulos Deus e alma. Para
ela, Deus e a alma eram os próprios fundamentos da vida, exatamente co
mo para minha avó paterna, que vivía longe de nos.

Aos olhos de minhas duas avós, a nossa educacSo estava totalmente


errada; elas nSo hesitavam em exprimir as suas opiníoes.

Mas, se nao conheci'amos Deus, Ele certamente nos conhecia a todos,


embora nSa tivéssemos sido batizadas nem nossos pais casados na Igreja.
Isto tudo, Deus o sabia.

118
SVETLANA. FILHA DE JOSEF STALIN 23

Agradeco a Deus ter Ele permitido ás nossas caras avós que nos trans-
mitissem as sementes da fé; eram duas muiheres que, embora respeitassem
em seu comportamento a nova ordem de coisas, guardavam profundamen
te em seus coracQes a fé em Deus e em Cristo. Sem dúvida, rezaram por
nos, seus sete netos, no silencio e em segredo.

Durante a guerra cruel que opós nosso pai's ao nazismo alemSo, meu
pai devolveu alguns direitos á Igreja da Rússia, abriu Seminarios, restituiu
ás igrejas os sacerdotes egressos das prisoes ou do exilio. Por iniciativa pes-
soal de meu pai, a lei do Estado que condenava o aborto, foi adotada na
URSS por volta de 1930 e ficou vigente até a morte dele".

Narra agora Svetlana algo de horrível, que Ihe aconteceu quando ti-
nha seis anos de idade: sua mae suicidou-se. Nada permitía prever esse trá
gico desfecho. Aconteceu, porém, que certo dia Stalin respondeu a alguém
pelo telefone: "Acídente mortal"; alguns dias depois o tal acídente verifi-
cou-se... A esposa de Stalin, embora atéia, era animada por um sentido
agudo de justica. Após ouvir a resposta do marido pelo telefone mencio
nando "acídente mortal", ela Ihe pediu explicacoes. Josef Stalin, porém,
recusou qualquer tipo de retratado em sua conduta; ela entSo se suicidou,
na esperanga de despertar a consciéncia do marido.

Este acontecimento doloroso é relatado no primeiro livro de Svetlana


publicado no Ocidente; "Vinte Cartas a um Amigo". Segundo Svetlana,
"urna porcentagem mi'nima de leitores ocidentais clarividentes compreen-
deram que a verdadeira heroína desse livro era minha m3e, Nadejda Ser-
gueevna Allilouieva".

Após a morte da esposa, Stalin redobrou de afeicao para com a sua fi-
Iha cacula, mas aos poucos seu caráter foi-se endurecendo.

Svetlana percebia sempre os ecos das sinistras atividades de seu pai.


Tentava intervir em prol de um abrandamento, até o dia em que ele Ihe
disse: "é este o último favor que te concedo; nSo voltes a pedir-me ou-
tro". Esta recusa provocou no íntimo da.jovem um trauma diffcil de sa
nar, pois ainda nao tinha fé e ignorava o sentido dos sofrimentos.

Teve ainda que prantear a triste sorte de seu ¡rma*o Basilio, ao qual
estava muito ligada. Durante a guerra, este jovem fora nomeado para um
posto graduado da Forca Aérea: mas, após a morte de Stalin, foi exilado
para a Sibéria, onde em breve morreu.

119
24 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 394/1995

MEU BATISMO NA IGREJA ORTODOXA RUSSA

Svetlana realizou estudos universitarios de Historia e casou-se; con-


traiu matrimonio "sem amor"; mas regozijava-se com a perspectiva da ma-
ternidade.

"Quando meu irm3o morreu, meu filho de dezoito anosestava muito


doente; nao quería ir para o hospital, apesarda insistencia do médico. Pela
primeira vez em minha vida, com trinta e seis anos de idade, pedi a Deus
que o curasse. Eu nao conhecfa nenhuma fórmula de oracao, nem mesmo
o Pai-Nosso, mas Deus, que é bom, nSo podia deixar de me atender. Ele
me ouviu, eu o sabia. Meu filho foi curado. Após esta grapa, intenso senti-
mento da presenca de Deus ¡nvadiu-me". A fé de Svetlana, ainda paga", de-
ve ter tocado o Coracao de Jesús, que louvou a fé do centurilo e a da siro-
fem'cia.

"Para surpresa minha, pedi a amigos batizados que me acompanhas-


sem até a igreja. Deus .nSo somente me ajudou a encontrá-los, mas desejava
conceder-me mais grapas ainda. Deu-me a conhecer o maravilhoso sacerdo
te Pe. Nicolau Goloubtzov (1890-1963). Batizava, as ocultas, os adultos
que tinham vivido na incredulidade. Foi também o pai espiritual do Pe.
Alexandre Men, pregador célebre assassinado após muitas ameacas de pri-
sao por causa das numerosas conversOes que ele suscitava, especialmente
entre os jovens.

O Pe. Nicolau me disse, de antemao, que eu nSo pensasse que encon


traría a felicidade após o Batismo. Eu nüo era capaz de compreender, na-
quela época, que a vida de um cristao é um caminhar com a cruz na seqüe-
la de Cristo e que o sofrimento é parte integrante dessa vida nova.

Eu precisava de ser instruida a respeito dos dogmas básicos do Cris


tianismo. Batizada em 20 de maio de 1962, tive a alegría de conhecer
Deus, mesmo ignorando quase tudo da doutrina crista. Pois infelizmente o
Pe. Goloubtzov morreu em marco de 1963. Quase nunca tive a ocasiSo de
Ihe pedir conselhos, embora ele estivesse preocupado a meu respeito, sus-
peitando que minha vida passaria por grandes mudancas. Eu nao o sabia".

MEU PRIME IRO ENCONTRÓ COM A IGREJA DE ROMA

. "Encontrei católicos romanos, pela primeira vez na vida, na Suica ro


manche, cinco anos após ter sido batizada na Igreja Ortodoxa Russa".

120
SVETLANA, FILHA DE JOSEF STALIN 25

Eis como aconteceu: tendo dissolvido seu primeiro casamento, Sve


tlana encontrou um diplomata indiano que passava uma temporada em
Moscou e casou-se com ele. Esse homem, fino e culto, mas de saúde delica
da, morreu pouco depois. Ela quis entao levar á mae dele a urna portadora
das cinzas, que, segundo a tradicao hindú, devia ser lanpada ñas aguas do
rio Ganges. Ela recebeu a autorizacao para fazer essa viagem e partiu sem
demora. Foi entao que ela sentiu o desejo de ser totalmente livre e tomou
a decisao de procurar a Embaixada norte-americana em Nova Delhi, pe-
dindo ajuda para n§o regressar para a Rússia. Escreveu na sua declaracSo:

"Fui batizada, e isto provocou grande mudanca na minha vida".

0 Governo norte-americano preferiu nao consentir precipitadamente


para nao irritar o Governo Soviético. Levaram-na para Friburgo. No Minis
terio do Exterior, o seu caso foi confiado ao Dr. Jenner, que fora, durante
longos anos, Embaixador da Suica no Vaticano. Este diplomata compreen-
deu perfeitamente que Svetlana n3o desejava viver cerceada sob o controle
do Partido, e obteve-lhe acolhida num convento da Visitacao, fundado por
Sao Francisco de Sales. Svetlana deu-se muito bem com a Irma Superiora e
guardou excelente recordapao da "Primavera Suica".

A Suica romanche foi, para ela, um lar caloroso e inesperado, mas


passageiro. Com efeito, os americanos julgaram que era mais vantajoso pa
ra ela publicar seu primeiro livro em Nova lorque; por isto foram alguns
juristas a Friburgo para pedir-lhe que assinasse alguns documentos. "Dora-
vante, escreve ela, eu estava sob a dependencia dos mesmos sem o saber".

EM DIRECAO DE NOVA VIDA

0 contato com os Estados Unidos a atordoou e espantou. Ficou tam-


bém chocada por causa da publicidade, que tomava conta da sua vida par
ticular, a tal ponto que trechos de suas cartas foram divulgados na impren
sa. A vida nos Estados Unidos acarretou-lhe muitas decepcoes, que ela nar
ra em seu livro "Músicas Longínquas", publicado na India e vendido com
sucessoem Moscou.

"Os quinze anos que passei nos Estados Unidos, foram para mim
causa de tormentos e desatinos. Após o nascimento de minha filha oriunda
de meu casamento nos Estados Unidos, parecía oferecer-se a mim urna
possibilidade de vida normal. Mas em breve houve perturbacao e amargura)
e tudo terminou com uma separacSo conjugal.

Durante esses anos, minha vida religiosa era tao confusa quanto o res
to. Eu me via frente a um Cristianismo norte-americano múltiplo. Cada

121
26 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 394/1995

córrante religiosa me convidava. Todas me testemunhavam grande simpa


tía. Eu precisava de discernir o que era corréto na multiplicidade das pro
postas de fé, e eu perdía a nocao do que eu era pessoal mente e daquilo em
que eu acreditava".

Svetlana também procurou na Igreja Ortodoxa de sua origem a solu


to para a sua demanda pessoal. As respostas ás suas perguntas Ihe parece-
ram abstraías demais. Apesar de todas as amízades que ela travou com
intelectual ortodoxos, como a familia Florovsky, a sua sede espiritual
permanecía insatisfeita.

. .Um dia receD¡ uma carta de um sacerdote católico italiano da Pen-


silvánia.jo Pe. Garbolino, que me recomendava vivamente fizesse uma pe-
regrinacao a Fátima (Portugal) por ocasiao do 60? aniversario das apari-
c5es. N3o foi possi'vel fazé-lo entao, mas a nossa correspondencia amiga
durou mais de vinte anos e me esclareceu muita coisa".

Nesse intercambio epistolar, a questao da adesao á Igreja Católica foi


colocada mais de uma vez, mas a publicidade e o fato de ser devassada
constantemente pelos meios de comunicacao social a tinham impressiona-
do negativamente logo que chegou aos Estados Unidos.

"Expor ao grande público o mais fntimode meus sentimentos (a mi


nha fé), meu relacionamento com Deus, nao era algo que estava disposta a
enfrentar. Eu também nao podia falar em nome de todo o povo russo. To
da a minha educacSo se realizara á distancia da vida de meu pai; eu bem sa
bia que eu nao representava o povo russo como tal".

Em 1969 o Pe. Garbolino, que se encontrava em New Jersey, foi visi


tar Svetlana em Princeton. Ela continuou a Ihe escrever em Pittsburg: "Eu
estava entSo divorciada e muito infeliz. Ele encontrava sempre as palavras
oportunas como bom padre e me prometía sempre rezar por mim".

Em 1976 Svetlana encontrou na California um casal católico — Rosa


e Michell Gíansiracusa —, com o qual conviveu dois anos. A píedade discre
ta dos cónjuges e a sua solicitude para com ela e sua filha a marcaram par
ticularmente.

"Partimos para a Inglaterra em 1982 a fim de proporcionará minha


filha uma boa educacao européia. Meus contatos com os católicos eram
sempre espontáneos, calmos e estimulantes. A leitura de livros notáveis,
como o de Rai'ssa Maritain, contribuiu para mais e mais me aproximar da
Igreja Católica. Foi assim que, num dia frió de dezembro, por ocasiao da
festa de Santa Lucia, no tempo do Advento, que eu sempre estimei e en-

122
SVETLANA, FILHA DE JOSEF STALIN 27

carecí, aflorou naturalmente a decisSo, havia muito preparada, mas tam-


bém muito postergada, de entrar na Igreja Romana; eu morava entao em
Cambridge (Inglaterra). Um amigo polonés católico levou-me ao Pe. A.
Coghlan, do Seminario de Alien Hall em Londres. No dia 13 de dezembro
de 1982, fui recebida na Igreja Católica.

Isto aconteceu varios anos depois de ter comecado a pensar nessa de-
cisa*o sob a orientacSo do Pe. Garbolino, que eu conhecera e apreciara nos
Estados Unidos, nos dias em que os meios de común ¡cacao social me
perseguiam. Agora este perigo desapareceu.

Há urna coisa que aprendí, pela primeira vez, nos conventos católicos:
a béncao da existencia cotidiana, ainda que seja a mais apagada, em cada
momento, em cada pequeño gesto, até mesmo no silencio. De modo geral
estou muito feliz sozinha e é na calma do meu apartamento que sinto prin
cipalmente a presenca de Cristo".

Mais tarde, Svetlana conheceu o Pe. Thomas Broussard, um domini


cano que a orientou e muito a estimulou.

APRENDO UM POUCO MAIS TODOS OS ANOS

"Dez anos se passaram após 1982, anos de felicidade. Mas, assim co


mo eu nao fora devidamente instruida na Igreja Ortodoxa Russa quando lá
fui recebida hátrinta anos, assim nao recebi também nenhum ensinamento
religioso na Igreja Católica. Tive que aprender tudo por mim mesma, len-
do livros oferecidos por amigos católicos ou visitando livrarias... As vidas
dos Santos sempre exerceram sobre mim influencia mais possante do que
os eruditos tratados. As colecoes da Biblioteca Geral Católica de Londres
me sao franqueadas e lá posso sempre encontrar coisas apaixonantes.

A diferenca entre a solidao na Igreja Ortodoxa Oriental e a solidao


na Igreja Católica apareceu-me desta maneira: na Ortodoxia Oriental rara
mente se ouve urna confissao; isto se dá geralmente urna vez por ano antes
de Páscoa, e sem a discrecao do confessionário.1 Sonriente agora compreen-
do a graca maravilhosa que decorre dos sacramentos como o da Reconci-
liacSo e o da Eucaristía, oferecidos em qualquer dia do ano, e mesmo dia
riamente.

Antes eu estava muito pouco disposta a perdoar e a me arrepender;


nunca fui capaz de perdoar aos meus inimigos. Agora sinto-me tao diferen-

1 Atualmente a recepcao da Eucaristía e o sacramento da Reconciliacao


s3o mais freqüentesna Ortodoxia Oriental.

123
28 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 394/1995

te de outrora, quando participo da Missa diariamente. Somos tSo traeos


que n§o chegamos a cumprir nossos propósitos sem a ajuda e o sustento de
Deus. A Eucaristía tornou-se para mim viva e necessária. O sacramento da
Reconciliacao com Deus, que nos ofendemos, menosprezamos e trátanos
diariamente, o sentimento de culpa e de tristeza que entelo nos acomete,
isto tudo torna necessário que 0 recebamos muito freqüentemente. Muitas
vezes nao nos damos conta da inimaginável grapa do perdao que nos é ofe-
recido pelo Pai e o Filho no Espirito Santo; pedir humildemente essa gra-
ca, e tao freqüentemente quanto possível, é o maior privilegio que os cris-
taos possuem.

Acreditei durante anos que a decisáo crucial de ficar no estrarigeiro,


tomada por mim em 1967, significava uma grande etapa da minha vida.
Comecei uma existencia nova, libertei-me e adiantei-me na minha carreira
de escritora itinerante. Meu Pai Celeste corrigiu-me suavamente. Fui de no
vo agraciada por uma maternidade tardía, que devia recordar-me o meu lu
gar na vida: lugar humilde de mulher e de máe. Assim fui realmente carre-
gada nos bracos de María Virgem, cuja intercessao eu n3o fora acostumada
a solicitar, pois acreditava que essa devocao era própria principalmente de
camponesas iletradas, como minha avó georgiana, que nSo tinha outra pes-
soa para quem se voltar. O', como perdi essa ilusao, quando eu mesma me
via so e sem apoio. Quem seria minha advogada se nSo a Mae de Jesús?
Como de repente Ela se me tornou próxima, Ela, que as geracSes chamam
bem-aventurada entre as mulheres.

Tive a ocasiao de fazer retiros durante a Quaresma e a Semana da Pás-


coa. Como era agradável estar completamente escondida numa pequeña al-
deia, longe de tudo! Pude falar longamente com Jesús principalmente du
rante os longos silencios da exposicSo do Santfssímo Sacramento.

A ALEGRÍA DE DEUS SE EXPANDE NA PROVACAO

Svetlana afirma com franqueza: "Tudo o que eu sei com certeza (co
mo uma filha reconhece a voz de sua mSe) é que Deus me ama. Cristo me
ama. Os seus Santos me amam também; ninguém e nada me pode arreba
tar esta conviccSo; toda e qualquer vida, mesmo a mais insignificante, é
preciosa aos olhos de Deus".

O testemunho de Newman confirma tais afirmacoes: "Deus me criou


para que eu Lhe preste um servico preciso. Ele me confiou uma tarefa que
Ele nao confiou a outrem. Tenho a minha missáo. Eu nao poderei jamáis
avaliá-la devidamente neste mundo, mas eu a conhecerei plenamente na
vida futura".

124
SVETLANA. FILHA DE JOSEF STALIN 29

2. REFLETINDO...

Este texto vem a ser eloqüente testemunho do senso religioso ¡nato


em todo ser humano. A pesar de sua educacáo atéia, Sveti ana compreendeu
que "é impossi'vel vi ver sem Deus no coracao". Sem estudar religiSo, mas
únicamente guiada pela procura do sentido da vida, chegou ela á concluslo
da existencia de Deus e pediu o Batismo na Igreja Ortodoxa Russa.

Mais e mais atraída pelo Senhor Deus, passou da Ortodoxia Oriental


para o Catolicismo, onde suas aspiracóes sao plenamente satisfeitas. E
passou, sem ter que ser batizada de novo, pois o Batismo é validamente
ministrado ñas comunidades eclesiais ortodoxas, que observam exatamen-
te o rito do sacramento. É Cristo quem batiza mediante o ministro que se
preste a fazer o que Ele instituiu.

0 depoimento de Svetlana merece divulgacao, pois é benéfico conhe-


cer a acao da grapa nos coracoes sinceros.

* * *

Pedro Vigne. O Risco de Ser Humilde, por Sr. Beatriz Raeckelboom


R.SS.S.. TraducSo do espanhol por Ir. María Verónica Menezes. Salvador
(BA). Ed. própría da Congregacao das Irmas Sacramentinas, Av. Leovigil-
do Filgueiras 167 (García), Salvador (BA).

Este livro apresen ta a biografía do Pe. Pedro Vigne, fundador da Con


gregacao das IrmSs do SS. Sacramento. Pedro nasceu em 20/08/1670 em
Privas (Franca), de familia calvinista, e faleceu em 12/07/1740. Parece ter
sofrido urna crise de fé na adolescencia, em virtude da influencia calvinis
ta, mas superou-a em 1689. Apesar do ambiente de casa pouco propicio á
vocacSo sacerdotal, Pedro, orientado pelo pároco de sua cidade, entrou no
Seminario e foi ordenado presbítero em 18/09/1694. Dese/oso de maior
perfeicao, fez-se religioso Lazarísta e ardoroso missionáño. No exercicio
de sua atividade pastoral, reuniu em torno de si algumas discipulas, com as
quais fundou a CongregacSo do SS. Sacramento em 30/11/1715. A nova
familia religiosa expandiu-se rápidamente pela Franca, mas sofreu a desa-
propriacSo de suas casas por parte da Revolucao Francesa de 1789. Em
1804 Napoleao iniciou a restauracao da Congregacao, que pode reabrir
conventos e escolas. De 1902 a 1907 novo golpe se desferiu sobre as Sacra-
men tinas, pois as leis de laicizacSa na Franca fizeram que fossem expulsas
de 56 escolas e hospitais. Em 1903, tendo que deixar seu país de orígem,

(continua na pág. 130)

125
dentista e Polemista:

RESPOSTA AO DR. ELSIMAR COUTINHO

Em sfntese: O Dr. Elsimar Coutínho, famoso estudioso de questoes


populacionais, propugna ardorosamente a contencao da natalidade até
mediante a esterilizacSo da mufher que tenha mais de quatro filhos e mais
de 35 anos de idade. — Numa entrevista ao jornal A TARDE, de Salvador
(BA), professou o pansexualismo e criticou o celibato do clero em termos
grotescos. — Ao Dr. E. Coutínho, que, como pesquisador, merece respeito,
respondemos que só quem vive o celibato pode dizer o que ocorre no
coracao da pessoa celibatária; só quem vive a vida una ou indivisa, pode
dizer se tem ou nao tem valor, como fon te de felicidade e estímulo de
doacao generosa ao próximo. Infelizmente o Dr. Coutínho, professando-se
agnóstico, nao deveria entrar em questdes que o pansexualismo é incapaz
de dimensionar; a fé tem outra escala de valores, nao menos forte e
eloqüentedoque a escala pansexual. Se/a ela respeitada, pois é fon te de
grandeza dafma e heroísmo. "Ele n§o tem esse direito de errar", dizemos
ao Dr. Elsimar Coutínho, como ele disse a Darcy Ribeiro. Ver A TARDE,
Salvador, 09/19/94,p.9.

* * *

0 Dr. Elsimar Coutinho é médico famoso, especialmente dedicado a


questoes populacionais, que defende o recurso a anticoncepcionais e
outrosmeios artificiáis para controlar a natalidade humana. Tem-se distin
guido tanto no plano nacional como no internacional, pois é Diretor de
Pesquisas da Organizado Mundial da Saúde, com obras publicadas nos
Estados Unidos.

0 Dr. Elsimar deu urna entrevista publicada no jornal A TARDE, p.


9, de 09/10/ 94, em Salvador (BA). Teve ampia repercussao, visto o
caráter enérgico e polémico das suas declaracoes. Alguns leitores pediram a
PR urna palavra de resposta a certas afirmacoes que tocam a fé e a Igreja
nessa entrevista. É o que proporemos a seguir, professando respeito á
pessoa do pesquisador, mas tomando a liberdade legítima de criticar suas
idéias.

126
RESPOSTA A ELSIMAR COUTINHO 31

1. A ENTREVISTA: CONSIDERARES GERAIS

Interrogado a respe¡to do seu Credo religioso (que seria o referenrial


de suas conceptees), Elsimar Coutinho respondeu com certo sarcasmo:

"Ateu. ou melhor, agnóstico, pot's acredito em Deus e nao acredito


ao mesmo tempo. Depende da chuva e do sol".

Como se vé, o mestre nao faz grande caso dos valores transcenden-
tais; julga poder dispensar a fé em Deus e, nao obstante, propor normas de
comportamento humano.

E. Coutinho é pansexualista no sentido de que "a nossa existencia


depende de um ovario e de um testículo funcionando... O sexo é o fator
que caracteriza o comportamento. Se verificarmos o animal, saberemosse
ele será arisco, valente ou dócil, tímido, a depender do sexo". Todavía,
quando o repórter interrogou: "EntSo tudo no mundo é sexo?", E.
Coutinho nao respondeu Sim ou Nao. Muito menos respondeu quando Ihe
foi dito: "Sexo desenfreado gera filhos desenfreados"; preferiu entao rela
tar suas atividades de conferencista, que "gasta urna terca parte do seu
tempo fazendo palestras gratuitas".

Além do mais, evidente contradi gao se encontra na resposta á per-


gunta: "E a questSo da estérilizacao?":

"NSo defendo a esteriiizacSo, como mu/tos pensam e difundem...


Defendo a esteriiizacSo da mulher quando ela ¡á passa dos 35 anos de
idade e tem mais de quatro filhos".

Em suma, E. Coutinho professa, sem dúvida, posicoes extremadas em


relacSo á contencSo da natalidade, posicoes bemconhecidasatravés de seus
escritos e suas conferencias. Mas parece, ás vezes, encobrir seu radicalismo
com a aparéncia de homem liberal e equilibrado, que "é antimachista e
antifeminista".

O que mais nos importa, porém, sao os dizeres do entrevistado


relativos á Igreja.

2. COM VISTAS A IGREJA...

Ao abordar o celibato do clero, o Dr. E. Coutinho afirmou:

"NSo existe a opcSo por Deus sem o sexo. Quem faz isso, tem algum
tipo de atrofia. A final Deus nao iría atrofiar testículos para se fazer
adorar. Como ser humano, o padre senté prazer..."

E continua, descendo a pormenores grotescos.

127
32 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 394/1995

A propósito cabem duas grandes observacoes:

2.1. Pansexualismo

O pansexualismo dificulta a E. Coutinho conceber a vida nobre e


dedicada a um ideal independentemente da genitalidade. Está claro que os
clérigos sSo seres humanos que experimentam as tendencias comuns a
todos os seus semelhantes; nao é preciso ser atrofiado nem doentio nem
anormal para vi ver o celibato em sua plenitude e com fidel idade. Afinal
tudo depende da escala de valores que cada qual concebe: quem faz do
sexo um imperativo incoercfvel, dobrar-se-lhe-á com cega submissSo. Mas
quem conhece valores transcendentais, como süo os da fé e da Mi'stica,
subordinará os apetites sexuais aos anseios de valores superiores, que
proporcionam maior alegria do que os valores da carne. Verdade é que
todo ser humano senté os impulsos da natureza, mas nem por isto está
obrigado a ceder-lhes de maneira solitaria (masturbacao) ou em relacao se
xual com outra pessoa (do outro sexo ou do mesmo sexo). 0 amor a Deus
e aos principios da fé faz que o padre e a freirá possam abster-se da prática
sexual sem desconforto e sem procurar compensacoes espurias.

O Dr. Elsimar reconhecerá que ele nao pode definir o que acontece
no i'ntimo das pessoas consagradas a Deus; a ciencia médica de um agnós
tico nao compreende o coracao de uma pessoa consagrada a Deus. Existe
uma grande volúpia, só experimentada por quem tem fé: a de descobrir a
Face da Beleza Infinita.

2.2. Igreja e Ética Sexual

Ó repórter referiu-se ao Vaticano (melhór seria dizer:... á Santa Sé) e


ás suas normas de Ética Sexual. Ao que respondeu Elsimar Coutinho:

"Ora quem manda no Vaticano, sSo os veihos, que nao estSo mais
sujeitos ás paixdes sexuais. Os grandes sabios sao idosos, que podem olhar
para a irma sem aquele desejo".

O Dr. Elsimar está muito engañado. "Ele nSo tem esse direito de
errar", dizemos-lhe, aplicando-lhe. as palavras que ele mesmo aplicou a
Darcy Ribeiro. A doutrina da Igreja sobre Moral Sexual nao é devida a
homens veihos nem depende da idade ou do sexo de quem ensina; é, sim,
doutrina inspirada pela própria lei natural, lei impregnada na natureza de
todo ser humano. Vejamos bem:

A sexualidade caracteriza, sem dúvida, toda pessoa humana, impon-


do-lhe os trapos da masculinidade ou da feminilidade. Existe, porém, uma

128
RESPOSTA A ELSIMAR COUTINHQ 33

diferenca entre sexualidade e genitalidade. Esta implica o funcionamento


do aparelho genital. Pois bem; se a sexualidade é inevitável, a genitalidade
nao o é, pois, como dito atrás, há personalidades que encontram sua felici-
dade concentrando suas energias no serví co a um ideal religioso, transcen
dental (tal é o caso dos clérigos e das Irmas consagradas), Mais: a Igreja sa
be que a genitalidade, para bem funcionar, há de se ater as leis da natureza
que a regem; qualquer ¡nfracao das leis naturais é nociva ao organismo hu
mano; os anticoncepcionais tém sempre sua contra-indicacao, que os médi
cos bem reconhecem. Além do qué, a violacao da continencia natural para
liberar o sexo pode desencadear — e tem desencadeado — comporta me ntos
tresloucados, que levam o ser humano á bestial idade, pois acendem o fogo
das paixoes. "Sexo desenfreado gera filhos desenfilados", tal foi a obser-
vacao muito sabia do repórter, á qual o Dr. Coutinho nao respondeu.

3. DEPOIMENTOS VALIOSOS

O S. Padre Paulo VI escreveu a Encíclica "Sobre o Celibato Sacerdo


tal" datada de 24/06/67, em que realca o sentido grandioso da vida una ou
indivisa, consagrada a Deus e aos homens. É, inegavalmente, vida so expli
cave I pelo amor a Deus e pela nobreza de um ideal. Ai' se lé:

"O amor, quando auténtico, é total, exclusivo, estável e perene; é


estímulo irresistível que leva a todos os heroísmos. Por isto a escolha do
celibato consagrado foi sempre considerada pela Igreja como sinal e estí
mulo da caridade: sinal de amor sem reservas, estímulo de caridade que a
todos abraca" (n. 24).

Como se percebe, o Papa coloca o celibato na linha do amor; é ex-


pressao de amor nobre e aberto a todos os homens.

0 filósofo alemao Friedrich-Wilhelm Nietzsche (t 1900), filho e neto


de pastores protestantes, escreveu em 1886 algumas linhas, que apontam
outras facetas valiosas do celibato:

"Compreende-se ho/'e muito bem que Lutero, em todos os problemas


referentes ao poder, se inclinava para solucoes perigosas, simplistas, impru
dentes... de modo que sua obra, sua vontade... chegaram a ser o comeco de
um empreendimento sedutor... Concedeu aos pastores o direito de casarse
e de ter relacoes sexuais, mas as tres quartas partes do respeito de que é ca
paz um povo, em particular as mulheres, repousam sobre a conviccSó de
que um homem excepcional no setor da sexualidade será excepcional tam-
bém em outros setores. O povo encontra aquíseu melhor emais eficaz
apoio para crer na presenca de algo sobrenatural no homem, a do mihgre,

129
34 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 394/1995

a da intervencao. salvífica de Deus em favor da humanidade. Depois de ter


concedido ao pastor urna esposa, Lutero teve que Ihe tirar o direito a con-
fissao auricular. Isto era lógico do ponto de vista psicológico. Mas ao mes-
mo tempo suprimiu o sacerdocio cristao, cu/o valor mais profundo consis-
tiu sempre em ter um ouvido santo, urna fonte selada, urna tumba á qual
era possível confiarsegredos" fDer Baueraufstand des GeistesA

Como se vé, o próprio Nietzsche, arauto da "morte de Deus", enfati-


zava o fato de que os homens sempre julgaram que um homem excepcio
nal por sua vida ce I ¡bata ría é também um homem valioso sob outros aspec
tos; é um sinal da acao da grapa de Deus,,. que, por meio de tal instru
mento humano, se quer dar mais copiosamente aos demais homens.

Tal apreciacao está muito longe da concepcao pansexualista de pensa


dores contemporáneos. Afinal quem pode dizer se o celibato é válido ou
n3o é válido nao é o "doutor" que n3o o vive ou nSo o conhece por expe
riencia, mas é o próprio padre que o vive e nele encontra rica fonte de ale
gría pessoal e estímulo de doapao ao próximo.

* * ♦

(continuacSo da pág. 125)

vieram para o Brasil as primeiras Irmas, que se difundiram entre nos; exer-
cem fecundo apostolado, derivado de sua piedade para com o SS. Sacra
mento.

O Pe. Pedro Vigne era especialmente devoto da Paixao do Senhor e


da S. Eucaristía, deixando belo legado de espiritualidade ás suas Religiosas.
0 seu principal setor de atividades foi a formacao de adolescentes e ¡ovens,
tarefa esta que as Sacramentinas vém desenvolvendo com grande zelo no
Brasil. Os escritos do fundador revelam profunda vida interior, como se
depreende dos seguintes dizeres: "Ah\ Se eu pudesse ter bastante amor
por Ti, a fim de Te dar almas que Te adorem, que Te amem... Como eu de-
sejo, ó meu Jesús, ardentemente amado, que se/as conhecido por todo o
mundo'.... Ó Deus meu, como eu dése/aria acumular em minha fé, em meu
amor, no sacrificio do meu coracao, tudo o que os an/os e homens seriam
capazes de Te oferecer, em honra, gloria e amor, na plenitude dos tempos"
(pp. 68s).

Possa a obra do Pe. Pedro Vigne continuar a florescer entre nos, para
o louvor do Senhor Sacramentado e o bem de nossas familias1.

E.B.

130
O Além e o Aquém:

"CURA ENTRE GERAQÓES'

por Robert DeGrandis

Em sfntese: O livro de Robert DeGrandis supoe que pecados cometi


dos e traumas sofridos por pessoas já falecidas este/am atualmente influ
enciando a vida dos respectivos descendentes; haveria uma hereditariedade
de males moráis e desgracas, que se dissiparia mediante a oracao de cura
interior. Supoe também que ha/a ma/dicoes de antepassados desgragando a
vida de pessoas existentes na Térra. Haveria outrossim objetos portadores
de infelicidades..., objetos que atrairiam maus espíritos...

Respondemos que a presumida hereditariedade no plano moral nao


existe; cada ser humano responde por sua conduta pessoal e nao pela de
seus ancestrais; cf. Ez 18,2-32; Jr 31,29s. Também nao existem objetos
contagiados e contagiantes por efeito de maus espíritos; a desgraca e o pe
cado nao se transmitem por "microbios ou bacterias espirituais". Sao
Paulo, em Wor 8, refere-se a um caso paralelo ao que consideramos: os
cristSos de Corinto que tinham consciéncia fraca, nao queriam comer car
ne que tivesse sido oferecida aos ídolos em templo pagao, porque a julga-
vam contaminada, veículo de comunhao com os demonios; o Apostólo
dissipou esta concepcáo, dizendo que os ídolos nada sao (cf. 1Cor8,4);
por isto nao contaminam os objetos a eles oferecidos.

Em suma, o livro de R. DeGrandis professa teorías pouco fundamen


tadas na doutrina católica, podendo até confundirse com teses do espi
ritismo.
* * *

Está circulando em ambientes católicos um livro que tem suscitado


dúvidas e mal-entendidos. Traz o titulo "Cura entre Geragoes"' e deve-se
á autoría de Robert DeGrandis, membro da Associacao Nacional de Tera
peutas dos Estados Unidos e dedicado ministro da "cura interior" ouda
cura de males espirituais mediante a oracao inspirada pelo Espfrito Santo.

1 Robert DeGrandis, Cura entre Geracóes. Editora Louva-a-Deus, Rio de


Janeiro 1994.

131
36 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 394/1995

O autor cita e segué freqüentementé a linha de pensamento e acao do Dr.


Kenneth McAII, cirurgiao e psiquiatra inglés, que escreveu Healing the Fa-
mily Tree (Curando a Árvore da Familia), "livro capaz de transformar vi
das" (p.3).

Visto que a obra é realmente ¡novadora, merecerá atenc2o ñas páginas


subseqüentes.

1. OS TRAQOS PRINCIPÁIS DO LIVRO

1. Antes do mais, pergunta-se: que significa "cura entre gerac8es"?


Para Robert DeGrandis e seus seguidores, muitos dos males que as
pessoas hoje em dia padecem, sao heranca recebida de geracoes passadas
(pais, avós, bisavós...). Por isto, para curar estes males, é preciso curar a
respectiva fonte, isto é, a falha ou a deficiencia ainda existente ñas almas
dos falecidos. 0 Espi'rito Santo revela aos carismáticos o tipo de causa que
provoca a desgraca das pessoas na Térra. Após esta revelacao, o cristSo ca-
rismático faz a prece correspondente para sanar o(a) falecido(a) e assim li
bertar os que sofrem de má heranca neste mundo. Sao palavras de Robert
DeGrandis:

"O cirurgiao e psiquiatra inglés Dr. Kenneth McAII abriu meus olhos
para alguns modos de cura... Ensinou-me a procurar fontes além dos vivos,
para explicar alguns problemas dos vivos. Mas, enquanto ele toma um pas-
so além, e fala de cura dos mortos através das oracoes dos vivos, nao pre
tendo focalizar este aspecto. Oracoes pelos mortos sao, porém, parte de
nossa tradicao católica, e creio que este é um campo importante para es-
tudo... Neste livro falamos da cura dos vivos através de oracoes pelos mor
tos. Referimo-nos á cura de fraquezas herdadas, herancas negativas psico
lógicas, físicas e espirituais, que passaram genéticamente a linha de fami
lia. Estamos falando da cura de certos problemas físicos, mentáis, emocio
náis e espirituais que nao tém tratamento" fpp. 17s).

"Equipes de oracSo, usando os dons carismáticos, descobriram, em


meus ancestrais, urna variedade de espi'ritos e adoracao do oculto, assassi-
nato e todo tipo de negatividade que se possa imaginar. Em minha familia,
é longa a historia de brutaiidade e de tratar sem amor as pessoas. Muitos
traeos ancestrais de desamor refletiram-se, de certo modo, em minha pro-
pria natureza. 0 Senhor tem querido tocar essas áreas com seu amore tra-
zer a cura, para que eu nSo aja sob a negatividade nao resolvida de eras
passadas.

Quando perdoo esses antepassados, cortando os lagos com seus peca


dos, e visualizando-os na presenca de Jesús, sinto ser curado. O fruto dessa

132
"CURA ENTRE GERAQÓES" 37

cura é evidente em minha crescente capacidade de relacionarse com as


pessoas de modo mais solícito e amoroso" (p. 20).

O autor se detém no relato de outros exemplos ti'picos:

"Tome, por exemplo, urna mulher hipotética, Henriqueta, que tem


um profundo medo irracional de homens. Esse medo pode estar ligado a
um trauma nao resolvido da bisavó, a quem um homem fez realmente mal.
Isto abre algumas interessantes possibilidades na cura interior" (p. 17).

"Em 1979, eu estava fazendo cura interior numa senhora negra. E/a
e suas irmas tinham um problema sempre que saíam a lugares públicos.
Homens gravitavam em torno délas mais do que se poderia normalmente
esperar. E/as eram todas boas católicas, bastante simpáticas, mas exerciam
urna atracao sobre os homens mais do que o normal.

Em oracao com ela, tive urna visao do que pénsei ser um navio negrei-
ro. Porque ela era urna líder madura, e compreendia o processo da
cura interior, continué! em profundidade: 'Vocé está vendo alguma coi-
sa?', perguntei. Respondeu: 'Estou vendo um navio negreiro'. Quando co-
mecou a descrever o que estava acontecendo, eu também o estava vendo
em minha mente. Podía dizer, pelo estilo do navio e dos trajes, que estáva-
mos vendo os dias da escravidao.

A senhora descreveu urna mulher, que sentía ser sua antepassada. Eu


a vi simultáneamente em visao. Usava um lenco vermelho em volta da ca-
beca e era, claramente, muito promiscua.

Imaginamos se a promiscuidade nao teña passado abaixo, de geracao


em geracSo. Consideramos a possíbilidade de que a inexplicável atencao
masculina fosse um efeito residual da atividade de sua ancestral promis
cua"(P. 21).

2. Mais: segundo R. DeGrandis, pode haver também objetos impreg


nados de maldigo (como se a maldicSo fosse um microbio ou um virus);
tém que ser jogados fora. Tais objetos constituem urna realidade que o l¡-
vro designa como "o oculto". Eis um caso típico:

"As vezes, quando estamos fazendo libertacao, há b/oqueio devido a


um amuleto. Tive um caso, em certa cidade, em que um homem tinha urna
ardéncia em sua boca. Ele tinha estado na Clínica Mayo, na Universidade
de Alabama e na Clínica Lahey em Bostón, e nenhuma délas pode retirar
a ardéncia de sua boca. Pus a mSo sobre ele, e a primeira palavra que o Es
pirito Santo me deu em diagnóstico, foi 'oculto'. Perguntei-lhe se tinha

133
38 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS"-394/1995

ido a um curandeiro ou adivinho. Disse que-sim, de modo que rezeie Ihe


pedí que renunciasse a ter buscado auxilio emurna fon te oculta.

Nao houve alivio depois que ele fez a renuncia, de forma que rezei
um pouco mais. A próxima ampliacao do diagnóstico do Espirito Santo
foi: 'amuleto'. Perguntei-lhe se a pessoa a quem tinha ido Ihe dera alguma
coisa. Disse que recebera um amuleto. Perguntado se estava disposto a jo-
gá-lo fora, disse que sim. Sua esposa o fez. Rezei de novo, e a ardéncia de-
sapareceu. Isto foi há algum tempo, e a última vez que o vi, a ardéncia nao
tinha voltado" (p. 45).

Mais outra historia exemplar:

"Lembrozme de ter estado numa cidade, onde pessoas estavam ouvin-


do vozes á noite. Pediram-nos que abencoássemos a casa. Fizemo-lo, /an
eando agua benta em todos os quartos. Acredito que isto tenha resolvido a
dificu/dade. Como norma, dever-se-iam procurar na casa objetos do ocul
to, e entSo os donos renunciariam a eles e queimá-los-iam. Pedimos a to
das as pessoas presentes que renunciassem ao envolvimento com o oculto.
Amarramos o mal e o expulsamos, numa oracao de líbertacao normal.
Tentase obter a identidade da pessoa que assombra a casa, e oferece-se
por ela o Santo Sacrificio da Missa. A Eucaristía é oferecida, querse saiba,
quer nao se saiba o nome da pessoa. Os moradores entao entregamse ao
Senhor Jesús Cristo" (p. 117).

3. Segundo o mesmo autor, a desgrana atual pode decorrer também


de uma palavra de maldicSo proferida por antepassados em desabono das
geraqoes futuras. Sao dizeres de Robert DeGrandis:

"As maldicdes sao outra área de servidao que o Espirito Santo revela
com freqüéncia. A maioria das pessoas que fazem cura interior, identificou
maldicdes, multas vezes de geraeñes passadas. Por exemplo, na parte sul
dos Estados Unidos, maldicdes de vudu sSo especialmente freqüentes. Há
efeitos fisicos dessas maldicOes. Assim como o Espirito do Senhor pode
tocar as pessoas e libertá-las fisica, psicológicamente etc., o espirito ma
ligno pode também ligar pessoas na época da ma/dicSo e em futuras gera-
coes. A quebra das cadeias dessas maldicdes e a aplicacSo da luz e amor do
Senhor as libertará na maioria dos casos, desde que nao ha/a outras for
mas de 'feitico'.

O Dr. McAII conta o caso de urna alcoólatra de 45 anos de idade, que


destruiu totalmente a vida da familia com seu vicio. Sua mae estava pro
fundamente envolvida com o espiritismo e tentando contatar seu falecido
marido. O Dr. McAII soube que a excessiva bebida da mulher estava ligada
com a maldicao da mae sobre ela, por recusarse a assinar alguns documen-

134
"CURA ENTRE GERAQOES" 39

tos legáis sem os ler primeiro. Ele quebrou a maldicao sobre ela, ela parou
de beber, e sua vida familiar foi restaurada. Quebramos urna maldicao
orando como segué: 'Em no me .de Jesús e por sua autoridade, eu venho
contra esta maldicao (etc.). Invoco o Preciosíssimo Sangue de Jesús e que
bró esta maldicao sobre minha familia ou pessoa, no nome de Jesús'. Esta
oracao é, com freqüéncia, dita tres vezes para quebrar a maldicao porque,
em rebeliSo contra a Santi'ssima Trindade, as maldicoes sSo, freqüente-
mente, pronunciadas tres vezes quando feitas. é também importante que
as pessoas compreendam porque devem nao dar novamente poder á mal
dicao" (pp. 44s).

4. É interessante notar a oracao que DeGrandis profere e recomenda


aos leitores para afastar os maus agouros ou as desgrapas:

"Coloco-me na presenca de Jesús Cristo, e submeto-me ao seu Senho-


rio. 'Revisto-me da armadura de Deus para poder resistir as táticas do de
monio' (Ef 6,10-11). Ocupo o meu terreno, 'com o cinturao da verdade
em torno da cintura, e a fustica por couraca...' (Ef6,14). Empunho o 'es
cudo da fé'para 'extinguir os dardos inflamados do maligno...' (Ef 6,16).
Aceito 'a salvacSo de Deus como meu capacete, e recebo a Pa/avra de Deus
do Espirito, para usá-la como espada' (Ef6,17).

No nome de Jesús Cristo crucificado, morto e ressuscitado, amarro to


dos os espíritos do ar, da atmosfera, da agua, do fogo, do vento, da térra,
de debaixo da térra e do mundo inferior. Amarro também a influencia de
qualquer alma perdida ou caída, que possa estar presente, e todos os emis
sários do quartel-general demoniaco, ou todo círculo de bruxas, magos e
feiticeiros ou adoradores de Satanás, que possam estar presentes de algum
modo sobrenatural. Clamo o sangue de Jesús sobre o ar e a atmosfera, a
agua, o fogo, o vento, a térra e seus frutos á nossa volta, a regiio abaixo da
térra e o mundo inferior.

No nome de Jesús Cristo, proíbo todos os adversarios mencionados


de comúnicarem-se com outros ou se ajudarem de alguma forma, ou co-
municarem-se comigo, ou fazerem qualquer coisa senao o que eu mando
em nome de Jesús.

No nome de Jesús Cristo, eu selo este lugar e todos os presentes e


suas familias e associados, e seus lugares e posses e fontes de suprimento,
no sangue de Jesús. (Repetir tres vezes).

No nome de Jesús Cristo, proíbo quaisquer espíritos perdidos, círcu


los de feiticeiras ou feiticeiros, grupos ou emissários satánicos ou qualquer
de seus associados, subordinados ou superiores, de pre/'udicar ou tirar vin-

135
40 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 394/1995

ganga de mim, minha familia e meus associados, ou causar mal ou daño


a qualquer coisa que tenhamos.

No nome de Jesús Cristo, e pelos merecimentos de seu Preciost'ssimo


Sangue, quebró e disso/vo toda maldicao, maleficio, seto, encantamento,
feitico, laco, tentacao, armadilha, instrumento, mentira, pedra de tropeco,
obstáculo, ¡lusao, engaño, diversao ou distracao, corrente espiritual ou in
fluencia espiritual, e também qualquer doenca de corpo, alma ou espirito
¡aneados sobre nos, ou sobre este fugar, ou sobre algumas pessoas, lugares
e coisas mencionadas, por qualquer agente, ou ¡angada sobre nos por nos-
sos próprios engaños ou pecados. (Repetir tres vezes).

Agora coloco a cruz de Jesús Cristo entre mim e todas as geracoes de


minha árvore genealógica. Digo, no nome de Jesús Cristo, que nao haverá
direta comunicacao entre as geracoes. Toda común¡cacao será filtrada no
Preciosissimo Sangue do Senhor Jesús Cristo" (pp. 9s).

5. Em suma, o livro inteiro de R. DeGrandis versa sobre a concepcao


de que existem forcas ocultas derivadas de artimanhas, trabalhos ou tam
bém de pecados dos antepassados que causam a Ínfelicidade dos viventes
deste planeta. Pelo que se depreende da oracao publicada ás páginas 9 e 10
do livro, o autor parece acreditar na eficacia de feiticos, amuletos, benti-
nhos, bruxarias, encantamentos, despachos, etc. — Daí a surpresa de mui-
tos leitores católicos... Daf também a pergunta:

2. QUE DIZER?

Proporemos cinco observacoes:

2.1. Hereditariedade de males moráis e físicos

1. N3o se pode dizer que os pecados de familiares falecidos sao punidos


por Deus nos respectivos descendentes. O pecado é de responsabilidade es-
tritamente pessoal; cada qual responde a Deus por seu comportamento
próprio. é o que os Profetas do Antigo Testamento ensinaram muito enfá
ticamente, contradizendo á tese de que Deus castiga filhos e netos por cau
sa das faltas dos antepassados:

Jr 31,29s: "Nesses dias ¡á nao se dirá: 'Os país comeram uvas verdes e
os dentes dos filhos se embotaram'. Mas cada um morrerápor sua própría
falta. Todo homem que tenha comido uvas verdes, terá seus dentes embo
tados". Cf. Ez 182-32.

2. Por isto também ná*o se deve dizer que o pecado se transmite como
urna doenca fi'sica se transmite; nSo se diga que alguém é hoje libertino (a)

136
"CURA ENTRE GERApOES" 41

em materia sexual porque sua avó foi tal. Existem microbios e bacterias
que transmitem detengas corporais, sim; mas nao existem microbios que
transmitam doencas do espi'rito ou do comportamento.

3. Pelo mesmo motivo n§o se pode dizer que os traumas, os choques


ou os males sofridos pelos ancestrais perduram no além, como se as almas
dos defuntos continuassem a sofrer as emocoes e os sentimentos que so-
friam na térra, podendo ser curadas desses traumas pelas oracoes de seus
descendentes.

Todas estas concepcoes redundam, de algum modo, em espiritismo


kardecista ou em umbandismo e candomblé. Na verdade, nao há común i-
cacao das pessoas na Térra com o além senao pela oracao. As preces que
sao feitas pelos falecidos ou pelas almas do purgatorio tém por objetivo
tao somente pedir a Deus que o amor as purifique de qualquer resquicio
de pecado para que possam desfrutar da visao de Deus sem demora.

Podemos também rezar aos Santos, pedindo-lhes que ¡ntercedam por


nos a fim de que sejamos dotados das gracas necessárias para chegarmos á
patria celeste.

Os Santos podem corresponder a tais pedidos, porque Deus, que nos


fez solidarios entre nos, permite que os Santos conhecamnossas preces, e,
conseqüentemente, ¡ntercedam por nos.

Tal é o tipo de contato ou de intercambio que existe entre os viven-


tes deste mundo e os viventes do céu e do purgatorio; além disto, nada
mais se pode afirmar a nao ser que Deus, por excepcional designio, permi
ta que alguma alma do além se manifesté a urna pessoa existente neste
mundo.

2.2. Amuletos

Por "amuleto" se entende um objeto (figa, bentinho, medalha...} ao


qual se atribui o poder de trazer beneficios ou maleficios a quem o usa.
Seria um objeto contaminado ou contagiado e... contaminante ou contagi
ante. — Observamos que as desgracas nao ocorrem como se fossem veicula-
das por "bacterias espirituais" ou por objetos portadores de "virus espiri-
tuais." Mesmo os objetos (amuletos) que venham de um terreiro sincretis-
ta nao acarretam infelicidade só pelo fato de provirem de tal centro su
persticioso. Sao Paulo ilustra claramente esta proposicSo quando trata, em
1Cor 8, dos chamados "idolotitos"; havia sim, em Corinto carnes que
eram imoladas aos Ídolos em templos pagaos, depois levadas ao acougue,
compradas por um cidadáo e finalmente servidas na refeicao de urna famí-

137
42 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS"394/1995

lia. Os cristaos de consciéncia fraca nüio ousavam comer dessas carnes,


pois julgavam que davam comunhao com os demonios ou provocariam
mau contagio. O Apostólo dizia-lhes entSo: "A respeito do consumo das
carnes imoladas aos i'dolos, sabemos que um i'dolo nada é no mundo e nao
há outro Deus a nao ser o Deus único" (1Cor8,4); era portante lícito co
mer de tais carnes, pois os i'dolos (que nada sao) n3o as haviam contamina
do. — 0 mesmo se deve dizer em re I apao aos amuletos, como també m no
tocante a certos objetos de uso pessoal (roupas, cosméticos, produtos ali
menticios...) que sao tidos como provenientes de um centro contaminado
(terreiro de Umbanda, loja de Nova Era, tenda espirita...); naofazem mal
so pelo fato de terem tal proveniencia. NSo há objetos que atraiam maus
espi'ritos ou que sejam portadores de maus fluidos.

Verdade é que existem os sacramentáis da Igreja ou objetos (meda-


Ihas, crucifixos, tercos...), cujo uso pode obter gracas (n3o desgrapas) da par
te de Deus. Sao objetos bentos pela Santa Mae Igreja; Ela pediu ao Senhor
Deus que todos aqueles que os usem com fé e devocáo sejam cumulados
de gracas e béncáos. Nisto nada de mágico existe; o efeito benéfico se deve
á oracáo da Igreja feita em favor dos fiéis devotos, As gracas de Deus nao
vém por meio de fluidos ou energías.

2.3. Casas mal-assombradas

0 fenómeno das casas mal-assombradas nao tem que ver com espfri
tos do além a perturbar os respectivos moradores. Está comprovado, por
experiencias múltiplas, que a assombracSo se deve únicamente a urna pes-
soa, existente na casa, portadora de algum trauma interior (rejeicSo por
parte dos pais, insucesso nos estudos, no namoro, na profissao...); tal
pessoa, sendo altamente sensi'vel, emite o que se chama urna "telergia" ou
energía que atua á distancia e provoca "aportes" (deslocamento de cadei-
ras, mesas, quadros, estouro de lámpadas, etc.). Retirando-se a pessoa da
casa, cessam os fenómenos de assombracao, sem que haja necessidade de
algum ritual destinado a afastar "almas do outro mundo" ou espfritos
malfazejos.

2.4. "RevelacSes"

Robert DeGrandis fala freqüentemente de "revelacoes" provenientes


do Espirito Santo. — Na verdade, nao se podem negar a possibilidade e a
existencia de dons extraordinarios do Espirito Santo. Todavia é necessáría
grande prudencia para nao se confundírem fenómenos psicológicos ou pa-
rapsicológicos com carismas ou dons do Espirito Santo. — Pode-se crer
que urna pessoa, sugestionada no sentido de que está para receber urna gra
pa extraordinaria, se comporte como se de fato estivesse recebendo tal gra-
ca (visao, revelac§o, locucao interior...). Requer-se, pois, discernimento lú-

138
"CURA ENTRE GERACOES" 43

cido para distinguir o que vem diretamente de Deus e o que provém do


psiquismo humano. Em muitos casos de "gragas extraordinarias" pode nao
haver senao urna expressao do psiquismo sugestionado, é de notar tam-
bém que o inconsciente desenvolve papel importante nos "fenómenos ex
traordinarios": a pessoa vé ou diz coisas que nao parecem provir do seu
eu normal e, por isto, sá"o atribui'das a urna intervencSo do além; na verda-
de, porém, pode tratar-se de coisas (imagens e dizeres) colhidas por essa
peásoa em épocas passadas, guardadas no arquivo do inconsciente e trazi-
das á tona do consciente por efeito da sugestSo. Quem conhece os meca
nismos do inconsciente e da sugestao, livra-se de muitas ilusSes ou de ex-
p I ¡capóes falsamente itranscendentais dadas a fenómenos psfquicos para-
normáis.

2.5. Divagacoes do espirito fora do corpo

Á p. 34 Robert DeGrandis refere-se a relatos, captados pelo Dr. Ray-


mond Moody Jr.; devem-se a pessoas que estiveram em coma e foram rea
nimadas. Contaram entao que, enquanto os médicos se esforcavam na rea-
nimacao, a sua alma saiu do corpo, vagueou pelo espaco, encontrou espí-
ritos que penavam no além sofrendo corréelo, ...; depois desse "passeio"
é que tais almas voltaram aos seus corpos para reanimá-los. Robert DeGran
dis julga que esse encontró de almas padecentes no além é comprovante
de que existe o purgatorio. Eis os seus exatos dizeres:

"Há muitos testemunhos escritos de pessoas que morreram e volta


ram á vida. O Dr. Raymond Moody, em Ufe After Life (Vida depois da
Vida) apresenta historias de algumas pessoas que sao pegas numa armad i -
Iha depois da morte, e nao podem prosseguir para a luz. S3o descritas co
mo passando por um tempo de correcao e me Inora mentó. Isto é amplifi
cado no segundo livro deste autor, Reflectionson Life after Life (Refle-
xoes sobre a vida depois da vida), no qual ele declara: 'Varias pessoas re
lata ram-me que, em algum ponto, vislumbraram outros seres que parecíam
estar presos num aparentemente mais lamentável estado de existencia.
Aqueles que disseram ter visto esses seres confusos, estao de acordó em va
rios pontos. Primeiro, afirmam que estes seres pareciam ser, com efeito,
incapazes de renunciar a seus apegos ao mundo físico. Um homem contou
que os espfritos que. viu aparentemente 'nao podiam progredir no outro
lado porque seu deus aínda está vivendo aqui. Isto é, eles pareciam presos
a algum particular objeto, pessoa ou hábito...' Moody declarou aínda que
essas pessoas pareciam estar lá temporariamente, até que resolvessem o
que as estava mantendo naquefe estado.

Este quadro pintado por Moody nao se parece com o purgatorio


que fomos ensinados a aceitar pela fé? A existencia do purgatorio e a vali-

139
44 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 394/1995

dade da oracao pelos mortos parecem ser importantes elementos neste


processo de cura" (pp. 34s).

A propósito observe-se;

1} Os relatos de viagem da alma fora do corpo sao fantasiosos; nao


correspondem á realidade, pois a alma é o princi'pio vital do ser humano;
se ela se afasta do corpo, este se torna cadáver. Com outras palavras: o ho-
mem nao é anjo encarnado por acaso ou em castigo de seus pecados; é um
composto psicossomático; enquanto vivo na térra, ele nada faz que seja
meramente corpóreo ou meramente espiritual. Portanto nao se pode con-
ceber separacao de corpo e alma que nao seja a morte do composto, morte
que é definitiva e ¡rreversível (a alma, sendo espiritual, é ¡mortal e conti
nua a viver fora do corpo, mas sem poder voltaraeste). Ver a respeito
PR 216/1977, pp. 501-506 (análise do livro "Vida após a Vida" do Dr.
R. Moody Jr.).

2) O purgatorio nao é um lugar dimensional no qual as almas ficam


presas e impedidas de prosseguir sua caminhada. Nao se pode fazer a topo
grafía do além; este nao consta de estrada, jardim, luz, armadilha... O pur
gatorio é um estado postumo, no qual a alma que tenha morrido com seu
amor voltado para Deus, mas ainda sujeito a incoeréncias, repudia essas in
coe rendas; o amor a Deus nelas se deve fortalecer de modo a extinguir to
do amor aos "pecados de cada día".

As oracdes dos fiéis católicos pelas almas do purgatorio, como dito


atrás, pedem a Deus que corrobore o amor dessas almas, para que, sem
mais sofrer contradicSes. possam quanto antes usufruir da bem-aventuran-
ca celeste. Isto nada tem que ver com "cura entre geracSes".

3) Nao existe, no além, área cinzenta, intermediaria entre área de luz


e área de trevas. Com outras palavras: na*o existem espfritos irrequietos,
que nSo estao em perfeita uniao com o Senhor e, por isto, atormentam os
viventes na térra (cf. p. 41 do livro em pauta). As almas do purgatorio nio
estao inquietas; ao contrario, gozam de grande paz, porque estSo seguras
de sua salvacao; com espontaneidade querem libertar-se dds resqufcios de
pecado que trazem, a fim de poder ver a face da Beleza Infinita.

Sao estes alguns tópicos salientes do livro de Robert DeGrandis; bem


manifestam a índole imaginosa, tendente ao espiritismo, que inspira algu-
mas páginas da obra. É necessário que os fiéis católicos, possu¡dores de
boa formacao doutrinária, saibam discernir auténtica mística e "falsa mís
tica", e nao sigam caminhos espurios, que atraem porque fantasiosos, mas
atraem para longe da sa doutrina, sujeitando os caminheiros a doencas
mentáis e decepcoes.

140
Falam os Bispos de Cuba:

'SEJA O AMOR O ÚNICO VENCEDOR"

(Paulo VI)

Em síntese: Aos 24/08/94 o Episcopado cubano emitiu um Llama


miento (Apelo), que tinha em vista a grave situacSo por que passava apo-
pulacio da ilha: a higa e a morte trágica de muitos cidadSos exigiam medidas
que pacificassem a vida interna do país. Ñas páginas subseqüentes vio
apresentados os principáis trechos desse documento, que exprime a dor
aguda que o povo cubano experimentou e aínda experimenta. Quem co-
nhece a situacao, sentir-se-á unido a tantas familias dilaceradas e enluta
das, pedindo á Providencia Divina melhores dias para os irmaos cubanos.

* * *

Já em PR 385/1994, pp. 242-251 foi publicada quase integralmente


urna Carta Pastoral dos Bispos de Cuba referente á situacao do seu pai's:
pedia o diálogo e o entendimento entre os cidadSos de Cuba e deixava um
apelo ás autoridades para que se interessassem pela paz e a reconciliacSo.

Aos 24/08/1994 o Episcopado cubano emitiu outro Llamamiento


(Apelo), que tinha em vista a grave situacao por que passava a populacao
da ilha: a fuga e a morte trágica de muitos.cidada'os exigiam. medidas que pa
cificassem a vida interna do pafs. Aos 22/09/1994 um Comunicado dos
Bispos de Cuba registrava relativa melhora do estado de coisas, pois come-
cara o diálogo entre o Governo de Fidel Castro e o dos Estados Unidos.

Ñas páginas subseqüentes apresentaremos os principáis trechos do


Llamamiento de 24/08/94, nos quais se exprime a dor aguda que o povo
cubano experimentou, e ainda experimenta. Osdizeres do Episcopado cu
bano suscitam a solidariedade e as oracoes dos leitores.

141
46 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 394/1995

O TEXTO

"A todos os nossos fiéis cristaos, a todo o nosso povo cubano

Caros Irmaos e Irmas,

Por este Apelo fraterno vimos novamente compartilhar com todo o


nosso povo as dolorosas preocupacoes do momento presente, no qual se
acumulam enormes incertezas ñas familias de nossa patria. Há ¡numeras
lágrimas nos olhos das maes cubanas, dos pais e de seus filhos, dos irmaos
e dos amigos.

Preocupa-nos grandemente a carga de agressividade e de odio que se


deposita no coracao* da populacao, ás vezesaté com.derramamento de
sangue de civis e militares. Deploramo-lo profundamente.comournsintorna
preocupantes-porqué, o odio sempre geravo ódio¿ e nos doi a existencia de
odio entre cubanos. <- , , y>-, í-rr/.\Vc» xb'w r, •tw.i&'vYo?'~ rw~

Preocupa-nos o éxodo marico de cubanos,que.abandon?^v-?te,^a


mais bela que plhos humanos tenham visto', cotocando-se IrrefJetidarnente
ao mar em embarcacoes rud i mentares, sob pjmpacto^déiurnatesp^cie cié
desespero, que, tentando deixar o país, os leva a aceitar qüálquer destinó".
Preocupa-nos o naufragio de tanta gente no mar, á vista de todos,
sem que alguém possa fazer algo para salvá-los e sem que possamos encon
trar algum meio eficaz para mudar o rumo de acontecímentos tá*odramá
ticos. As vezes sao meninos que nao sabem por que ¡morrenviou país que'
morrem afogados ante os plhos de seus.filhos,!ou fam(Mas,que se dividem
quandq, de. repente^partem ,alguns de seus.menjljrps^repcMga-nps o fatp
de que tudo isto favorece a,cteterioracao eronomica, ,mo^^
pa(s... ' ' ' ■ "" ""--^■'■"._"», '"r."*~". "' •".•", ""' -.'---

.insólito na historia que, naiyid*^


nosuouucom Joutrosipafses^maispnavhoraip.r^n^té^jsim^ó^
coñflitosnab^se possam resolver na mesaidénegócfaipeesiatravéisLdeiumidiá-
logorespeitosoesincero... 20\1Z .oA a'isq ob gmsini.'sbjv b m^ucSi,?

A todos os que7,de.algum,modo,.servéem,durarnenterafetados por.es-


tas tribulacoes, dirigimos urna palavra de alentó e consolo. Isto nao nos é
fácil, pois reconhecemos que é mais difícil ássumir umá dor que se poderia
evitar^do1que-aceitáf¡aqüelaÍ''1Krrasinev¡táve1s^1u^
confiamoSTio'Pardás'Misentórdíaseho'DeüsdFtb^como
berá-leíáráacora?a-ddeítodos a paz de qué'tánio nece'ssÍMm.h9f'Yri ° "" '
Por isto, caros Irmaos e IrmSs, vos dirigimos a todos este convite cor
dial para pedir-vos, com a preméncia do amor, que, mediante a oracao

142
"SEJA O AMOR O ÚNICO VENCEDOR" 47

nos dirijamos ao Senhor, contra quem pecamos e cuja palavra revelada to


ma em nos todo sentido: 'Se o Senhor nao construir a casa, em vio se es-
forcam os construtores; se o Senhor nao guarda a cidade, em vao vigiam
as sentinelas'(S1126).

Por isto também vos asseguramos, urna vez mais, com sincero afeto
que a Igreja em Cuba continua com os bracos abertos e as maos estendi
das, disposta sempre a oferecer a todos o ministerio da reconciliacao, que
Ihe foi confiado pelo Senhor, propiciando a busca de caminhos que levem á
concordia, e á paz, por cima de todas as situacoesconflitivas internas e ex
ternas que sepossamapresentar, mas que nunca teráo mais forea do que 'o
amor, que,tudo espera!. <Seja p amor o único vencedor de todos', diziaen-
faticamente Paulo VI". •..•".,",

"Este breve texto exprime bem a angustia do povo cubano e o anseio


por días melhores^que'só Deuslhe pode proporcionar. Quem conhece a si-
tuápao/'tiao-podedeixar de se sentir unido a tantas familias dilaceradas e
enlütadas/pedindo ¿Providencia Divina queira suscitar o diálogo e a re-
cbnciliácaoentre os irmaos, filhos da mesma patria. . .

Estévao Bettencourt O.S.B.


,;,•;. v-^.-i-,^, i. ..'•., . .■;-.... * * * .. . , ,,-,-.

. íu, o ¿^ \ r-^j LIVRO EM ESTANTE


^• '.-jUT,(\ &WJÍVÓO \ .O(.\BÜU\ -.A; cV,' ■•;. .■ .... •■•• . -..; , >., -..,'k>
v,o-i\Bfblia. Traducao Ecuménica (TEB). Ed. Loyo/a, Sao Pauto J994..
V '
tradupao,elaborada na Franca por cristaos (cató/icos,
protestante$¿ewtodoxos) £ ¡udeus (no tocante ao Antigo Testamento) e

conceitos. pAcárate/i,ecuménicodessa traducao explica qué 1), aprésente os


livrós do Antigo Testamento cómo estao dispostos nó cSnón do 4exto
hebraico, e nao como se acham no catálogo adotado pelos cristaos; 2) os
ttyéti^Tb, 'Jt; Sb,Br, Eclo;1/2 Me) constituarrfum blo-
ó'; épós^bs^iivros prótocanóñicós do.Antigo^TéstániénióP'Os
jgÜeüterqcañ3nicósdéaDn 3¿4-90; Dn 13-14séacham eñritífi-
■ cóyi/enWó<t/o;ip['r¿prídvtéxtct p'rotócánónico; o livro dé' Ester,- cú/o texto
deútérÓcanÓníco (gfegq) difere do texto protocandnico (hebraico) é apre-
sentado duas vezes, ora entre os protocanbnicos, ora entre os deuterocanó-
nicos. — 0 leitor da TEB aprenderá assim a conhecer mais a fundo a histo
ria do texto sagrado.

143
48 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 394/1995

o.' A:edicao ecuménica se distingue especialmente por. suas notas de ro-


dapé, que racompanharmo¡texto-.quaserversículo porwersícuio. Quando a
interpretagSo \do~texto bíblico, difere entre católicos, protestantes eorto-.
doxos, a nota o diz explícitamente, respeitando as diversas posicoes. Ve-
jam-se, por exemplo, a nota n relativa a Mt 16,18 (primado de Pedro), a
nota I referente PJo 20^3'fa'facu/dade'de pérdoér'os pecados), anota i
relativaia'iMt118)17 (o coriceitó da igre/a). No tocáñteaos irmaos de Jesús,
ajiotarrreféreht&¿rMi Í2/46'dizmulto'sobriamenteecómrazao: "NaB(-

Escritura": '" ■' ."IV oluc*?-rru/-.j.-»iTrV


o\ozíAsinotasipecfazen} quase;um\comentáriodq/texto sagrado. Ve/a-se a
no&&ielat¡va?a\RmúO&pquejexpfe:n?agisttalm^
tasxmrzüconcerrientes a.¡fiíe2JÍ-lfriO(erecemym&ómpénd¡Qcide\Cr¡tpJogia.:
Além das¿notas deerodapéséncqntram-se ¡na-ifilEBdTiuiias, ¡páginas de Intro-,
ducao aos livros sagradosyÁde modorque^leitor^ntes^e^entrar, no {con-,
teúdpde algum livro, é devidamente informado sobre os parámetros que
afüciamWórfípreendi-IÓ^dequadamente.
Observe-se, porém, que em tcv1&8 a traducao omite a expressao
"cheia de graca", preferindo-ihe "ó tu, que tens o favor de Deus" — o que
destoa do clássico modo católico de traduzir a saudacao angélica e muito
a empobrece. ... { • (
A traducSo brasileira^'foi^eíiSa'páftW>'dó texto francés, o que era
obrigatório para se poderem manter as notas de rodapé. Todavía houve o
cote/b^cónsiañfe^do tsxtoxfrari&és^Sólm )os>originaisr <de) modo que, dizem
os tradutores, se pode afirmar que se trata de urna traducao dos origináis

d. Vóyóla?eJohm~Konings)c£rofessor.dé.Exegese.BfblicaU

_.„_, __... rum'mm-qüádrójcrohoMicb^nW^b^ia-depre^


■bsJ*Medtdas\ejjrn índice dasnotarprifncipaif-^o-que^maito enriquece
íu¿S,ov; oorí/j.-or\ "•.o"í?s"\o,'í■': o^im orno? ^'(\?rr.6'?|iV r>^.,-.i-.\ n -.<■ ■ ■■ s
f / •££)• « ...
¿o \ \
d ^njtfumazfcQuenj<pg ^^lQ^^r
' i_ if^e* ^ j. _j_ „"_ j t 11L. ^^^ñ _I ."

ciJ^upqndo^um^r^paro,adequadp.,Cpmp .querque ¿e/a, ambas merecen»


gran/Je^aprecq.dajiartedoPpvodeDeus.^ ,,; .,..,. ^; . , --■ -^-^

144
PARA O NOVO ANO LETIVO:

Que livros adotar para os Cursos de Teología e Liturgia?

A 'Lumen Christi" oferece as seguinles obras:

1. RIQUEZAS DA MENSAGEM CRISTA (2* ed.), por Dom Cirilo Folch


Gomes O.S.B. (falecido a 2/12/83). Teólogo conceituado, autor de
um tratado completo de Teología Dogmática, comentando o Credo
do Povo de Deus, promulgado pelo Papa Paulo VI. Um alentado
volume de 700 p., best seller de nossas Edicóes. R$ 20,25.

2. O MISTERIO DO DEUS VIVO, P. Patfoort O.P. O Autor foi examina


dor de D. Cirilo para a conquista da láurea de Doutor em Teología
no Instituto Pontificio Santo Tomás de Aquino em Roma. Para Pro-
fessores e Alunos de Teología, é um Tratado de "Deus Uno e Trino",
de orientagáo tomista e de índole didática. 230 p. R$ 11,25.

3. LITURGIA PARA O POVO DE DEUS (4? ed.. 1984), pelo Salesiano


Don Cario Fiore, tradugáo de D. Híldebrando P. Martins OSB. Edi
cto ampliada e atualizada, apresenta em linguagem simples toda a
doutrina da Constituicáo Litúrgica do Vat. II. É um breve manual para
uso de Seminarios, Noviciados, Colegios, Grupos de reflexáo, Reti
ros etc., 216 p. RS 5,00.

33 Edigáo de:

DIÁLOGO ECUMÉNICO, Temas controvertidos.

Em 18 capítulos, tendo sido acrescentados nesta edicao:


"Capitulo IV: A Santíssima Trindade: Fórmula Paga?"

'Capítulo XVIII: Seita e espirito sectario.

(Cap. 1. O catálogo bíblico. 2. Somente a Escritura? 3. Somente a fé. Nao


as obras? 4. O primado de Pedro. 5. Eucaristía: Sacrificio e Sacramento.
6. A confissáo dos pecados. 7. O purgatorio. 8. As indulgencias. 9. María,
Virgem e Máe. 10. Jesús teve irmáos? 11. O culto dos Santos. 12. As ima-
gens sagradas. 13. Alterado o Decálogo? 14. Sábado ou Domingo? 15.666
(Ap 13.18).
Seu Autor, D. Estéváo Bettencourt, considera os principáis pontos da clás-
sica controversia entre católicos e Protestantes, procurando mostrar que
a discussáo no plano teológico perdeu muito de sua razáo, de ser, pois
nao raro, versa mais sobre palavras do que sobre conceilos ou proposi-
gñes. - 380 p. R$ 12,00.

Edifdes "Lumen Christi"


Pedidos pelo Reembolso postal ou conforme indicacao na 2? capa
N O VIDA DES ^
O PADRE PENIDO, TEÓLOGO E APOSTÓLO DA LITURGIA
Para comemorar-se este ano o centenario de nascimentó do Pe. Mau-
rílio Teixeira Leite Penido, foi publicado o livro — O PADRE PENIDO
TEÓLOGO E APOSTÓLO DA LITURGIA, de autoría de D. Odilao Mou'-
ra, O.S.B. Trata-se de urna análise da Teología penidiana sobre a esséncia
da Liturgia, vista sob as luzes do Magisterio da Igreja e do Tomismo. Com
pleta a parte doutrinária da obra, o histórico da partid pacao do zelozo sa
cerdote no Movimento Litúrgico brasileiro.
Depois de exercer por mais de vinte anos fecundo apostolado intelec
tual na Europa, o Pe. Penido, cujas obras Ihe granjearam fama internacio
nal, voltando para o Brasil em 1938, entre nos nao menos adquíriu autori-
dade no saber e no apostolado. Seus últimos anos viveu-os no Seminario
Sao José do Rio de Janeiro, onde carregou a cruz de atroz doenca com a
paciencia, a humildade e a intensa vida de oracao que sempre o acompa-
nharam. Dizia entao: "0 SENHOR ME DESTINOU PARA APOSTOLA
DO DO SOFRIMENTO".
Faleceu no Rio de Janeiro em 1970, e está sepultado em Petrólopis,
sua cidade natal. Valor do exemplar R$ 8,00.

-TEOLOGÍA DO EVANGELHO DE SAO JOAO, Dom Bento Silva San


tos, O.S.B., Editora Satuário, 1994, 423 p R$ 24,00

Palavrasde Dom Estévao Bettencourt. O.S.B.:


"O presente livro se presta tanto ao estudo cienti'fico do quarto
Evangelho á meditacao.e á Lectío Divina dos fiéis cristaos. Quem o lé tem
a impressao de estar entrando, aos poucos, no misterio de Deus — o que
suscita urna atitude de reverencia e adoracao. "Realmente este lugar (este
livro) é santo, e a porta do céu... e eu nao o sabia!", poderá o cristSo dizer,
parafraseando a exclamacao de Jaco, consciente de que tomara contato
com o Senhor Deus em Betel (Cf. Gn 28,17).

- SAO BENDO O ETERNO NO TEMPO, D. Lourenco de Almeida Prado,


O.S.B. Ed. "LUMEN CHRISTI", 1994, 289 p R$ 18,75
(A coletánea que forma este volume, representa até pela volta fre-
qüente aos mesmos textos e as mesmas réflexoes, pensamentos ou medita-
coes de um beneditino que ficou mais conhecido como educador, sem
nunca deixar de querer ser, antes de tudo, um discípulo do Patriarca de
Monte Cassino). y

RENOVÉ QUANTO ANTES SUA ASSINATURA PARA 1995:

(PARA RENOVAQÁO OU NOVA ASSINATURA: R$ 15,00).


(NÚMERO AVULSO : R$ 1.60).
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" de 1994:
Encadernado em percalina, 590págs. com índice.
(Número limitado de exemplares) R$ 30,00.
Colecao (sem encadernar) (12 n?5 de 1994):
RÍS15 00

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