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Projeto

PERGUNTE
E
RESPONDEREMOS
ON-LINE

Apostolado Veritatis Spiendor


com autorizagáo de
Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb
(in memoríam)
APRESENTAQÁO
DA EDIpÁO ON-LINE
Diz Sao Pedro que devemos
estar preparados para dar a razáo da
nossa esperanga a todo aquele que no-la
pedir (1 Pedro 3,15).

Esta necessidade de darmos


conta da nossa esperanga e da nossa fé
hoje é mais premente do que outrora,
'.•" visto que somos bombardeados por
numerosas correntes filosóficas e
religiosas contrarias á fé católica. Somos
assim incitados a procurar consolidar
nossa crenga católica mediante um
aprofundamento do nosso estudo.
Eis o que neste site Pergunte e
Responderemos propde aos seus leitores:
aborda questóes da atualidade
controvertidas, elucidando-as do ponto de
JL_ vista cristáo a fim de que as dúvidas se
; dissipem e a vivencia católica se fortaleca
^ no Brasil e no mundo. Queira Deus
abencoar este trabalho assim como a
equipe de Veritatis Splendor que se
encarrega do respectivo site.
Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.
Pe. Esteváo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

Celebramos convenio com d. Esteváo Bettencourt e


passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte e
Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicacáo.
A d. Esteváo Bettencourt agradecemos a confiaga
depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e
zelo pastoral assim demonstrados.
SUMARIO

"A muiher será salva pela MaternirJnrie" (1 Tm 2,15)


O
l—

500 Anos de América

Por que nao sou Espirita?

Igreja Universal do Reino de Deus


Vi
<

s Nova Era e suas Facetas


UJ
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O
re
o.

ANO XXXIil MAIO1992 360


PERGUNTE E RESPONDEREMOS MAIO 1992
Publicagao mensal
N? 360

Diretor-Responsável: SUMARIO
Estéváo Bettencourt OSB
Autor e Rédale de toda a materia
publicada oeste periódico
"A mulher será salva pela
Diretor Administrador: Maternidade" (ITm 2.15) 193
D Hildebrando P Martms OSB

Adminiítracao e dutribuicao;
Data controvertida:
Edícdes Lumen Chnsti 500 Anos de América 194
Dom Gerardo. 40 5o andar, s 501
Tel: (021) 291 7122
Falando franco:
Caixa Postal 2666
Por que nao sou Espirita? 207
20001 - Rio de Janeiro RJ

Que é a
Igrcja Universal do Reino
de Oeus? 220

Mais uma ve/.:


OttAfICOS I EDITORES S i
Nova Era e suas Facetas 235

NO PRÓXIMO NUMERO:

Falla um día no calendario da humanidade? - Bolas ¡grojas: para riué? -


"Nossa vida lern futuro" (R. Blank). - "Os mortos nos falam" (F. Bruñe). -
Trigueirinho e sua mensagem. - Igreja e Divorciados. - Beneditinas sue
cas.

COMAPROVACÁO ECLESIÁSTICA

ASSINATUHAANUALÍ12 »úmerosldeP.R.:CrS 20.000,00- n?avulsoouatrasado:CrS 2.000,00

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1. VALE POSTAL i Agencia Central doa Corroías do Rio de Janeiro em norne de Edicóes
"Lumen Chrisii" Caixa Postal 2KGfi - ?0001 - Rio de Janeiro - fl J.
2. CHEOUF. NOMINAL CRUZADO, a favor de Edades "Ltirnen Christi" (enderezo acimal.
3. OHDtM DE PAGAMENTO, no BANCO DO BRASIL, conta N"? 31.304-1 cni nomo do
MOSTEIRO DE SAO BENTO. pagdvel nn AGENCIA PRACA MAUA/RJ n? 0435-9. (Enviar
*t?róx da <|uía (Jft depósito á nossa «idminístragáo. para <;(h¡I<> fie iduniificicáo <lo paga
mento).
"A MULHER SERÁ SALVA
PELA MATERNIDADE"
(1Tm 2,151

Em 1Tm 2,15 Sao Paulo afirma que a mulher é salva pela tekno-
gonia. Esta palavra grega pode traduzir-se por geracáo de(os) filhos
ou, simplesmente, maternidade. Neste caso, o Apostólo tem em vista a
maternidade como colaborado com a obra do Criador: é, de certo modo,
um sacerdocio, visto'que toda mee é chamada a transmitir nao somente a
vida corporal e a educacáo respectiva, mas também a doutrina da fé, que
estrutura o cristao. Ser máe era urna das aspiracóes mais profundas da
mulher judia; é também grande dignidade da mulher moderna, dada a
importancia que urna boa máe tem na sociedade.
Eis, porém, que o vocábulo grego pode ser traduzido também por
geracáo do filho, designando entáo um filho definido. Éste seria o F¡-
Iho de Deus feito homem no seio de María Virgem. Em tal caso, Sao
Paulo estaría dizendo que a mulher é honrada e glorificada pela materni
dade de María Virgem, que deu á luz o Filho por excelencia ou o próprio
Salvador. Tal interpretado nao deixa de ter sua verossimílhanca: María
seria apontada como a mulher por excelencia, cujo parto proporcionou
ao mundo a fonte da Vida plena. Vem a propósito recordá-lo no mes de
maio, especialmente dedicado pela piedade católica a María SS.; para ela
os cristáos, configurados a Cristo, lancam seu olhar filial e confiante,
pedindo-lhe as valiosas preces, a fim de que "possam fazer tudo o que
Jesús mandou" (Jo 2,5).
Os dizeres de Sao Paulo interpelam também as outras máes, que
tém seu dia oficial no segundo domingo de maio. O Apostólo insinúa que
toda máe crista há de se espelhar na Máe Santíssima e procurar fazer de
seu filho um outro Jesús; 6 certamente esta urna das mais belas tarefas
que a mulher possa desempenhar, ciente de que os ensinamentos entre
gues pela máe as suas enancas sao sementes que nao morrem, mas mar-
cam profundamente a personalidade dos filhos. Os sacrificios que toda
máe deve praticar para ser fiel á sua vocacáo, vém a ser, de resto, ima-
gem muito freqüente, na Biblia, da tarefa de formar o Cristo nos coracoes
dos cristáos. O próprio Jesús se refere ás dores do parto como figura do
que acontece aos cristáos que querem formar o Cristáo em si, em meio
ás contradi;Ses do mundo:
"Chorareis e vos lamentareis, mas o mundo se alegrará.
Vos vos entristeceréis, mas a vossa tristeza se transformará em
alegría. Quando a mulher está para dar A luz, entristece-se por
que a sua hora chegou; quando, porém, dá á luz a crianga, ela jé
nao se lembra dos sofrimentos, pela alegría de ter vindo ao
mundo um homem" (Jo 16,20s).
É com prazer que o cristao-recorda estas passagens bíblicas no mes
de maio, comemorando a Máe SS. e as máes que, a semelhanca de Ma
ría, sao colaboradoras de Deus.
E.B.

193
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS"
ANO XXXIII - N? 360 - Maio de 1992

Data controvertida:

500 ANOS DE AMÉRICA

Em sfntese: O quinto centenario da descoberta da América tem sus


citado controversias, pois há quem o queira celebrar em atitude de penitencia,
e nSo de reconhedmento dos valores aqui implantados.

Na verdade, se houve abusos por parte dos colonizadores, neo devem


ser tomados como expressáo da mentatidade oficial dos monarcas e dos mis-
stonários para cá enviados. Existe (arta documentagño que manilesta as in-
tengóes, dos reís de Portugal e Espanha, de dilatar o Reino de Cristo e levar a
Boa-Nova aos povos pagaos; tais intencóes eram sinceras. Por sua parte, os
missionários desempenharam no Brasil papel valioso, procurando respeitaros
costumes dos indígenas em tudo o que fosse compatfvel com os principios da
civilizagáo e do Cristianismo.

Se houve superagSo da cultura aborígena, Isto se deve a urna constante


da historia: sempre que urna cultura inferior entra em contato com outra, supe
rior, tenue a ser absorvida por esta; tal fenómeno equivale a urna promogio ou
etevagio na escala humana; ocorreu entre etruscos e latinos, entre bárbaros
e romanos, entre indígenas pré-colombianos e colonos ibéricos.

Ouanto á posse da térra americana, Sda como ilegal, porque o conti


nente já tinha como proprietários os seus habitantes aborígenes, deve-se ob
servar que, com excegáo dos imperios asteca (México) e inca (Perú), os In
dios da América eram nómades; as diferentes reglóes emm ocupadas ora por
urna tribo, ora por outra, sem que nos indios houvesse consciéncia de posse
propriamente alta. Em conseqüénda, os descubridores so valeramdo ius in-
ventionis, direito de achamento, reconheddo pelo Direito Natural, para tomar
posse do continente.

194
SOO ANOS DE AMÉRICA

Num bataneo serano e objetivo, pódese dizer que há muito mais pontos
positivos do que negativos na historia dos 500anos da América -o que me
rece ser celebrado com gratídáo e com o propósito de se dar remedio aos
males que afligem atualmente as populagóes do continente.

Continua-se debatendo o sentido do quinto centenario da deseo-


berta da América. Há quem considere a data de 12/10/92 com gratidáo ao
Senhor pela chegada do Evangelho e da dvilizacáo a este continente, en-
quanto outros julgam que se deve prantear tal aniversario, pois a deseo-
berta da América terá sido o infeio de um genocidio e da conquista de
térras já ocupadas.

A propósito jé foram publicados dois artigos em PR; ver 355/1991,


pp. 543-555 e 358/1992, pp. 98-109. Tornamos ao assunto, visto que os
debates prosseguem sempre mais arduos. Ñas páginas subseqüentes re
cordaremos alguns grandes tragos da mentalidade dos povos ibéricos
dos séculos XVI-XVIII e Ihes acrescentaremos testemunhos e dados que
sao geralmente silenciados ou mesmo ignorados no calor das discussóes.

1. Regí me de Cristandade e Padroado

Para penetrar no ámago dos acontecimentos relacionados com a


descoberta e a colonizacáo da América Latina, é preciso, antes do mais,
ter presente que os povos ibéricos viviam em regime de Cristandade. Isto
quer dizer o seguinte: a Religiáo Católica era a Religiáo oficial do Estado
em Portugal e na Espanha; donde se segué que os monarcas eram católi
cos e seus súditos, até o mais humilde campones, professavam a mesma
fé, com poucas excecóes. Os interesses da fé eram conseqüentemente
interesses da Coroa, de modo que o monarca nao raro tomava providen
cias na área eclesial, de comum acordó (ou nao) com a autoridade ecle
siástica.

A propagacáo da fé ou a evangelizado dos povos nao cristSos era


um dos deveres da Igreja, ao qual os reis ibéricos prestavam sua colabo-
racio. Isto se evidenciou por ocasiSo da reconquista das térras ocupadas
pelos mouros na Espanha e em Portugal. Havia de se evidenciar outros-
sim quando os reis católicos destas duas nacóes empreenderam viagens
de descoberta de novas térras, fosse ao Oriente, fosse ao Ocidente (indias
Orientáis e Indias Ocidentais, como se dizia); juntamente com os interes-

195
t HbbKUiNUbtibMUS"

ses materiais e políticos legítimos, haveria também nítido e sincero afá


missionário e evangelizados.

O próprio Papado nao podia deixar de aprovar esse zelo apostólico


dos monarcas portugueses e espanhóis; os Pontífices concederám, sim,
ampias faculdades a tais soberanos para que cooperassem na implanta-
gao da fé ñas térras por eles descobertas, faculdades essas que tomam o
nome de "Padroado". Em virtude desses poderes, os reís se encarrega-
riam de transportar e distribuir os missionários, sustentar económica
mente todas as obras da Igreja e seus agentes no além-mar; competía-
Ihes outrossim pedir a Santa Sé a erecáo de bispados e Indicar os respec
tivos titulares; dotar todos os templos e mosteiros com os objetos ne-
cessários ao culto divino; construir, conservar e reparar os edificios desti
nados ao servico divino e á evangelizado... Tais direitos - que eram
também deveres - Ihes oneravam gravemente a conscidncia. Os reis
eram administradores de um "Vicariato Regio".

Os Papas nao contavam com os elementos suficientes para atender


a tarefas de tamanha envergadura, de mais a maís que o sáculo XVI foi
penoso para a Santa Sé por causa da reforma luterana e a agitacáo que
ela provocou na Europa. Em tais circunstancias, os prestimos dos reis de
Portugal e Espanha podiam parecer ao Papado dons da Providencia Di
vina; os monarcas tinham naves e o aparato para chegar ás novas térras -
coisas que a Igreja nao possuia.

É por isto também que, junto com os navegantes e funcionarios da


Coroa, na facanha das descobertas estavam sempre clérigos, pregadores
e evangelizadores. Nao se entendería, na época, urna tarefa de tais di-
mensóes em que o poder regio trabalhasse sem a cooperacáo da Igreja.

Pode-se dizer, com referencia di reta ao Brasil, que os portugueses


eram sinceros na sua fé (tanto os monarcas quanto os seus emissários),
embora nem sempre tivessem a formacao doutrinária e.a vivencia cor
respondentes a essa fé; tomavam a serio o compromisso de levar a Boa-
Nova de Cristo ás térras recém-descobertas, se bem que nao fossem
¡santos das faltas que a fragilidade humana costuma ocasionar.

1NSo se pode Ozer que só tenha havldo fidelldade aos propósitos


evangeSradores. É preciso reconhecer todas as faltas e desmandos reais
tonto dos monarcas cómodos subalternos na cotonlzaciodas novas tenas.
Seria falso, porém, Ignorar a boa IntencSo fundamental daqueles que, junta
mente com a dilatacáo do reino temporal, se preocupavam sinceramente com
a difusio da Boa-Nova de Cristo entre os pagaos.

196
SOO ANOS DE AMÉRICA

A concessáo de faculdades aos reís de Portugal nao ocorreu de


urna vez so, mas foi realizada paulatinamente. Eis algumas de suas eta
pas:

Aos 13/03/1456, o Papa Calixto III, pela Bula ínter Caetera, conce-
deu ao Prior-Mor da Ordem de Cristo a jurisdicáo religiosa ñas térras
portuguesas de ultra-mar, cabendo entao ao monarca (que era o próprio
Prior-Mor) criar e conferir funcóes eclesiásticas (que nao implicassem o
sacramento da Ordem}.

Aos 7/06/1514, Leáo X, pela Bula Dum fidei constantiam, conce-


deu ao rei de Portugal o direito de apresentar os oficiáis dos cargos ecle
siásticos existentes ñas térras adquiridas nos últimos dois anos e ñas que
futuramente fossem adquiridas.

Aos 12/06/1514, pela Bula Pro Excellenti Praeeminentia, Leáo X


erigiu a diocese de Funchal (Acores) e atribuiu ao rei o direito de apre
sentar o respectivo Bispo (que receberia da autoridade eclesiástica a sa-
gracáo episcopal).

Aos 31/03/1516, o Breve Dudum pro parte de Leáo X conferiu aos


reis de Portugal o direito universal do padroado em todas as igrejas dos
territorios su jeitos ao seu dominio.

Aos 3/11/1534, pela Bula Aequum Reputamus, Paulo III erigiu a


diocese de Goa, cujo territorio se estendia desde o Cabo da Boa Esperan
za pela india até a China, com todos os lugares já descobertos ou a ser
descobertos pelos portugueses. Tal Bula descreve minuciosamente todos
os direitos e deveres ¡nerentes ao Padroado. Este documento é tido como
o principal estatuto do padroado portugués.

Citemos agora alguns testemunhos da fé que animava monarcas,


navegantes e súditos de Portugal envolvidos na facanha dos descobri-
mentos.

2. Testemunhos de Fé

Desde a viagem de Vasco da Gama á india (1497-1499), os portu


gueses acreditaram que aquele país era povoado por muculmanos e
cristáos. Por isto, o rei D. Manoel tratou de fazer amizade com os "cris-
taos" do Oriente. Os portugueses colheram tal impressáo através de di
versas coincidencias:

197
rcnuunic c

Quando a ñau de Vasco da Gama atracou em Melinde, na África,


encontrou alguns jovens hindus. Convidados a subirem á nave, foi-lfies
mostrada urna pintura da Descida da Cruz; ¡mediatamente esses india
nos, para surpresa dos portugueses, puseram-se em térra numa atitude
de adoracáo. Nos dias que lá passaram os portugueses, esses jovens
voltaram a nave, "a fazer oracóes". Nao suspeitaram que tais hindus
eram budistas.-

Outro fato curioso ocorreu em Calecute na (ndia. Vasco da Gama,


Joáo de Sá e outros dirigiram-se á Corte de Samorim. A caminho, foram
convidados a entrar num templo. Al viram os indianos prostrar-se em
adoracáo diante de certas imagens pintadas ñas paredes. "E, parecen-
do-lhe assim a Vasco da Gama, assentou-se de joelhos, e os nossos com
ele fizeram oracáo. E Joáo de Sá, que estava duvidoso de ser aquilo a
Igreja dos cristáos, por ver aquela fealdade de imagens... em se assen-
tando de joelhos disse: 'Se isto é diabo, eu adoro o Deus verdadeiro!' E
Vasco da Gama, que o ouviu, olhou para ele, sorrindo-se" (Castanheira,
Historia dos Descobrimentos I, pp. 44s). Nao obstante, ficou a opi-
niáo de que eram cristáos, "embora com modos que nao eram bem os da
Igreja Romana" (Fr. Paulo da Trindade, Conquista Espiritual do
Oriente I, p. 75, nota 4).

Baseado em tais conviccóes, o rei 0. Manoel dizia ñas suas Instru-


cóes dadas a Pedro Alvares Cabral:

"... Desojando multo saber daquela tana da india e gente déla, princi
palmente por servigo do Nosso Senhor, por termos Informagóes que ele (Reí)
e seus súdltos e moradores de seu Reino sSo cristSos e de nossa fé, e com
que devemos migar de ter trato, amizade e prestanga, nos dispusemos a en
viar algumas vezes nossos navios a buscar a vía da india, por sabernos que
os Indianos sao assim cristSos e homens de tal fó, verdade e trato que devem
ser buscados para mais inteiramente haverem mais prática de nossa fé e se-
rem ñas coisas déla doutrinados e enslnados, como cumpre ao servigo de
Deus e salvagSo de suas almas" (Os sete újhicos Documentos de 1500
referentes a Viagem de Cabral. kisboa 1368, da III, p. 24).

Como se vé, D. Manoel se enganava julgando que os povos de ul


tramar já eram cristáos e que se tratava apenas de corroborá-los na fé.
Alias, no mesmo documento o rei se refere ao monarca de Calecute, e
exalta a vantagem da boa amizade e paz com ele, "principalmente para
ser ensinado e alumiado da fé, que é coisa que entre todas se deve esti
mar". E deveriam lá ficar"... clérigos e padres, para que nossa fé Ihe seja
assim inteiramente mostrada e enslnadá, que possa nela ser doutrinado,
como fiel cristáo, no que ele sentirá quanto amor Ihe temos" (ibidem, p.

198
500 ANOS OE AMÉRICA

25). Na carta que o mesmo D. Manoel enviou pessoalmente ao Samorim


de Calecute em 12/03/1500, recomendando-lhe o capitáo Pedro Alvares
Cabral como seu embaixador, diz: "Mandamos pessoas religiosas e dou-
trinadas na fé e religiáo crista, também ornamentos eclesiásticos para
celebrarem os oficios divinos e sacramentos, para que possais ver a dou-
trina da fé crista que temos, dada e instituida por Jesús Cristo Nosso Se-
nhor, nosso Salvadcr" (ídem, doc. V, p. 59).

Também Pero Vaz de Caminha, na sua célebre carta de I9 de maio


de 1500 ao rei D. Manoel, diz expressamente que os dois degredados que
ficavam, caso aprendessem a língua dos Indios e os entendessem, entSo
"nao duvido, segundo a santa intencáo de V. A., que se facam cristáos e
creiam em rossa santa fé" (ídem, doc. VI, p. 101).

Apraz-nos ainda citar como testemunho da sinceridade dos coloni


zadores do Brasil os seguintes depoimentos:

No Regimentó de Tomé de Souza, o rei 0. Joáo III afirmava que o


seu interesse primordial no Brasil era promover "o servico de Oeus e o
ensalgamento de nossa santa fé".

Ñas Diretrizes para o primeiro Governador de Goiás, escreve o rei:

"A Divina Providencia nao permttu estender o poder desta Monarquía


nessas outras regióos para destruir ou reduzir á escravidáo os naturais habi
tadores délas, mas para os trazerao conhecimento da Religiáo" (citado porL.
Paladn, Sociedade Colonial 1549 a 1599, p. 127).

Escrevendo a Mem de Sá, o rei afirma que "o intento que se revela
no descobrimento dessas térras, é que Nosso Senhor seja nelas táo ser
vido e seu norre táo conhecido e louvado" (Mon. Bras. III pp. 14s).

Os missionários jesuítas tinham plena consciéncia do porqué de sua


missáo e, quando se dirigiam ao Rei ou a alguma autoridade para pleitear
ajuda, recorriam sempre a este argumento: "A Companhia de Jesús veio
ao Brasil, enviada pelo Rei com esta finalidade especifica: a conversáo
dos Indios, obrigacáo primeira da Coroa" (L. Palacin, obra citada, p. 110).

3. Pedro Alvares Cabral e sua comitiva

A viagem de Pedro Alvares Cabral para as indias Ocidentais foi, em


sua época, considerada cerno algo de muito importante. É o que de-
monstram os cronistas do sáculo XVI ao descrever a despedida da Es-
quadra:

199
ncjrunucnciviua

Era um domingo, 8 de margo de 1500, ano jubilar. A escolha de


Pedro Alvares Cabral, tido como probo e honrado, para ser o Coman
dante da Esquadra, indica bem a serledade com que se considerava a fa-
canha. A Corte se fez presente. Houve Missa solene em Nossa Senhora
de Belém no Rastelo, á margem direita do Tejo. Ao lado do altar tremu-
lava a bandeira da Ordem de Cristo, com sua cruz característica. Á esta-
cáo da Missa, assistida por grande multidao, falou com grande eloqúén-
cia D. Diogo Ortiz de Vílhegas, bispo de Ceuta, que fez "um sermao dou-
tíssimo, em que declarou o grande zelo com que o Reí pretendía chegar
com suas armas... e dilatar a fé de Cristo" (Documentando Ultramari
na Portuguesa, Lisboa 1961,1. p. 275). Terminada a Missa, o bispo ben-
zeu solenemente a bandeira. Entáo o rei D. Manoel colocou na cabeca de
Cabral um barrete bento pelo Papa Alexandre VI e Ihe entregou o bastao
de Capitáo da Esquadra e a bandeira. "com aquela solenidade de pala-
vras, que tais atos requerem" (ibidem). Formou.-se, a seguir, solene pro-
cissáo com cruzes, reliquias e a bandeira arvorada emitíaos de Cabral,
sinal de nossas espirituais e temporais Vitorias" (Joáo de Barros, Déca
das. Lisboa 1778,1, Livro V, cap. 1, p. 382). O rei e todo o séquito tomou
parte no cortejo, com o pessoal da Esquadra, os familiares dos que par-
tiam e o povo mais humilde. Junto á praia, onde se achavam ancoradas
as trezes naus, Pedro Alvares Cabral e os demais ca pitaes beijaram a máo
do rei e dele se despediram. Fizeram o mesmo os demais homens da Es
quadra, os misionarios e ató os degradados... E, no dia seguinte, 9 de
marco, a frota levantava ferros e se lancava no ¡menso océano.-

Os missionários eram dezessete, sendo oito franciscanos e nove sa


cerdotes diocesanos. Era pessoal selecionado, como exigiam asinforma-
cóes vindas da India; haviam sido devidamente escolhidos por sua capa-
cidade intelectual e por sua dignidade de vida. Á frente dos franciscanos
estava Freí Henrique de Coimbra, antigo desembargador, frade do con
vento de Alenquer, homem experimentado, que se tornou depois bispo
de Ceuta. Seus companheiros eram Fr. Gaspar, Fr. Francisco da Cruz, Fr.
Luiz do Salvador e Fr. Simáo de Guimaries, todos pregadores e letrados;
mais Fr. Masseu ou Mafeu, sacerdote, músico e organista; Fr. Pedro Ne
to, corista, ainda nao sacerdote; e Fr. Joáo da Vitoria, irmao leigo. Os pa
dres seculares tinham a frente o vigário destinado a Calecute, infeliz
mente de nome ignorado pelos historiadores.

Segundo a crónica, o rei D. Manoel "mandou nnsta armada apos


tólos missionários da Ordem Seráfica e outros oito clérigos capelies com
seu vigário, para darem feliz principio, com as armas do Evangelho, a
conquista espiritual daqueles grandes imperios" (Documentado Ul
tramarina Portuguesa I, p. 275).

200
500 ANOS DE AMÉRICA

4. A Implantado da Igreja no Brasil

Ató 1533 nao houve condicóes adequadas para o enraizamento da


Igreja no Brasil; para a evangelizarlo dos (ndios, faltavam missionários;
para o atendimento á populagáo branca e crista, faltavam núcleos está-
veis.

Por isto em 1534 D. Joáo III, desejoso de cumprir os deveres assu-


midos para com a Santa Sé, repartiu o Brasil em capitanías hereditarias,
confiadas a donatarios que deveriam, á sua própria custa, povoá-las e
desenvolvé-las. Os colonos católicos vindos da metrópole reclarnavam a
assisténcia religiosa que tinham na patria. Dal a urgencia de se criarem
paróquias, cujos vigários seriam sustentados pela Coroa, que arrecadava
os dizimos eclesiásticos.

A capitanía de Pernambuco, por obra de seu donatario D. Duarte


Coelho, distinguiu-se entre as demais e logo providenciou a assisténcia
religiosa. Por alvará do rei D. Joáo III, datado de 5 de outubro de 1534,
foi criada a paróquia do Santlssimo Salvador de Olinda, a primeira paró-
quia do Brasil. O mesmo monarca erigiu outras paróquias para "se cele
brar o culto, oficios divinos e exalfar a nossa santa fé católica".

Para atender á evangelizado dos gentios, era necessária urna acáo


missionária disposta a enfrentar os perigos e as estranhezas das incur-
sóes ñas selvas. Para tanto, D. Joáo III convidou o Pe. Simáo Rodrigues
S.J., portugués, companheiro de S. Inácio de Loyola em Roma, para ins
taurar a Provincia dos jesuítas em Portugal. Na qualidade de Provincial, o
Pe. Simáo Rodrigues enviou o Pe. Manoel da Nóbrega como Superior da
Companhia no Brasil em 1549, com a finalidade de dedicar-se a evangeli
zado dos Indios.

Refere o historiador Luís Palacin na obra Sociedade Colonial


1549 a 1S99 (Goiania 1981 ),p. 110:

"A Companhia de Jesús veio ao Brasil enviada pelo Rei com esta fínali
dade especlñca: a conversSo dos Indios, obrigagáo primeira da Coroa."

A propósito escreve o Pe. Helio Viotti, no seu livro Nóbrega e a


conversio dos gentios:

"A missSo dos jesuítas no Brasil se colocava assim, nSo ao servico do


colonialismo portugués, mas no plano da fé sobrenatural, dentro exatamente
da fínalidade da própria Igreja, que é preparar desde já, neste mundo e para os

201
10 "PERGUNTE E RESPUNUbHtMUS" WU/liK»

homens, a bem-aventuranga eterna. Tal 6 o seu escopo direto e primordial. ln~


direta e secundariamente, sua agio se desdobla no aperíeicoamento e eleva-
gao do homem, também no plano natural".

Numa carta a Tomé de Souza, Nóbrega recorda a missSo que 0.


Joáo III confiara aos jesuítas: promover a reforma dos cristáos já estabe-
lecidos no Brasil e, principalmente, a conversao dos gentios: "Para isso
fui com meus ¡rmáos mandado a esta térra, e esta foi a ¡ntencáo de nosso
reí táo CristianIssimo" (M. B. III 72).

Logo que os jesuítas chegaram ao Brasil, perceberam a necessidade


do aldeamento dos Indios para poder garantir a evangelizado de modo
eficaz e duradouro. A iniciativa foi patrocinada pelo reí. Com efeito; o Re
gimentó dado por D. Joáo Illa Tomé de Souza ¡á fazia referencia á ne
cessidade de reconduzir (reducáo) os indios em aldeias, para possibili-
tar-lhes a conversao. O tipo de aldeia preconizado pelo Regimentó difere
bastante do que depois se levou a efeito. Mas a base era a mesma: a ne
cessidade da conversao efetiva dos Indios. O Regimentó ordenava ao
Gover nado r:

"Porque parece que será grande inconveniente os gentíos que se torna-


ram cristáos, morarem na povoagáo dos outros e andarem misturados com
eles, que será multo servico de Deus, e meu, apartarem-nos de sua conver-
sagSo, vos encomendó e mando que trabalheis muito por darordem como os
que forem cristáos morem juntos, perto das povoacSes das ditas capitanías,
para que conversem com os cristáos e nño com os gentíos, e possam ser
doutrinados ñas coisas da nossa Santa Fé" (Regimentó do Tomé de
Souza, Anais do IV Congresso de Historia Nacional 1950, pp.
54-68).

Em 1557, oito anos depois da chegada dos jesuítas, fundou-se a


primeira aldeia com residencia permanente dos padres. Es'sa primeira al
deia, chamada Sao Paulo, tinha duzentos e cinqüenta vizinhos indios
provenientes da fusáo de quatro tabas. Dois anos mais tarde, já eram tres
aldeias, que logo se multiplicaran). Em 1562 havia onze aldeias na comar
ca da Bahía.

O Governador Mem de Sá interessou-se entusiásticamente pela


concentrado dos Indios em aldeias regidas pelos jesuítas. Essa concen-
tragáo estável dos indios era condigáo indispensável para sua evangeliza
do, e também para a promocao dos Indios, convertendo-os de cacado-
res nómades em agricultores sedentarios.

202
500 ANOS DE AMÉRICA

Bem cedo os jesuítas tiveram que dar urna orientacáo muito diversa
da recomendada no Regimentó de Tomé de Souza, que preconizava a
convivencia com os portugueses e o afastamento da convivencia com os
gentíos. A convivencia dos Indios com os portugueses, que se supunha
ser edificante e pacifica, demonstrou-se logo o maior obstáculo para sua
profunda cristianizacüo. Grande parte dos colonos brancos levava urna
vida desregrada.

Anchieta, falando dos indios aldeados, diz que "muitos sao capazes
do Santlssimo Sacramento que recebem com muita devocáo. E, quanto á
vida dos indios, excede a maior parte dos portugueses do Brasil, porque
muito menos pecados cometem que eles" (Cartas III 324). Além disto, a
vizinhanca das aldeias dos indios convertidos acarretava um perigo
constante de serem escravizados pelos colonos, que queriam os Indios
para trabalhar. Por isso, os jesuítas tiveram que afastar as aldeias cada
vez para mais longe da convivencia dos colonos, dando origem as céle
bres reducóes, que foram a tentativa mais extraordinaria de ¡ncultura?áo
da fé crista, isto é, de evangelizar os indios sem Ihes destruir a Ifngua e a
cultura.

5. Inculturagáo

Varios historiadores contemporáneos acusam os europeus e, con-


seqüentemente, os cristáos de haver extinto a cultura dos aborígenes da
América, impondo a estes a cultura européia.

A este propósito já foi publicada urna resposta em PR 355/1991, pp.


543-555. Observemos ainda o seguinte:

Por cultura entendem-se os padróes de comportamento, a escala


de valores espirituais e materiais como também as instituicóes de urna
sociedade. Ora

1) A historia registra o constante fenómeno da aculturacáo. Esta


consiste no encontró de duas culturas diferentes; se ambas sao do mes-
mo nivel, registra-se urna interpenetracáo, da qual resulta urna cultura
sincretista, nova, portadora de elementos das duas respectivas fontes. Se,
porém, urna dessas culturas é mais evoluida, ela tende naturalmente a
absorver a outra. Foi o que se deu com a cultura etrusca, á qual sobreveio
a cultura romana antes de Cristo; foi o que se deu também com a cultura
dos povos bárbaros, que entraram em contato com os romanos nos sé-
culos IV-VI d. C. Foi ainda o caso das culturas indígenas pré-colombianas
postas em relagáo com a cultura dos portugueses e espanhóis . Inega-

203
r Liiuun 1c t licor unucncinud juuí

val mente o modo de viver dos aborígenes, seu tipo de habitacáo, de ali-
mentacáo, de vestiario, de ocupacóes e civilizacáo eram inferiores aos
padróes europeus e tendiam naturalmente a dar lugar a estes. Isto signi
fica promocáo, elevacáo na escala humana, e nao sufocagáo.

2) Além disto, é de notar que os missionários, principalmente os je


suítas, muito se empenharam por respeitar as culturas locáis da América.
Assim, por exemplo, as Constítuicóes da Companhia de Jesús exigiam
que os missionários fossem peritos das Ifnguas indígenas. Varios cate
cismos foram escritos nos diversos idiomas dos aborígenes. Os Supe
riores Gerais da Companhia, desde S. Inácio, repetidamente determin;
ram que, ñas Américas, nao se ordenasse um jesuíta que nio soubesse a
língua dos indios. No Brasil, o Pe. Grá S. J., quando Provincial
(1560-1570), ordenou que todos os jesuítas aprendessem o tupi. Saber
bem a Kngua indígena era um valor táo estimado que supria outros re
quisitos necessários para a profissáo solene dos jesuítas.

A tarefa nao era fácil, pois no Brasil nao havia urna cultura indígena
uniforme. Para aprender as línguas e os costumes dos indios, os missio
nários tiveram que criar gramáticas e compor vocabularios e catecismos
em diversos idiomas.

Precisamente as reducdes ou os aldeamentos foram recursos váli


dos adotados pelos jesuítas para preservar os indios da ganancia dos co
lonos e bandeirantes.

Vé-se, pois, que é absolutamente falso identificar a evangelizado


com os desmandos de certos senhores cujos interesses nao eram cristaos
e, por isto, nao podem ser tomados como paradigmas da obra do Cris
tianismo em nosso continente. É também falso dizer que a catequese ¡m-
plicava, para os indios, perder a sua identidade nativa. Somente numa
perspectiva preconcebida e superficial se pode formular tal objecáo.

Após a extinfáo da Companhia de Jesús no Brasil, as culturas indí


genas ficaram desprotegidas e cairam sob os golpes de colonos que des-
truiram as redueles.

Ainda se levanta urna objecSo contra a atuacáo dos descubridores


na América.

6. Tomada de posse ¡legal?

Há quem diga que a América ocupada pelos europeus nao era térra
de ninguém, mas era propriedade dos que nela habitavam, ou seja, dos

204
500 ANOS DE AMÉRICA _13

indios. Por conseguirte, terá sido ilegítima a tomada de posse do conti


nente por parte dos descubridores.

A questáo já se colocava na época mesma dos descobrimentos. Ju


ristas e teólogos, particularmente na Escola de Salamanca (Espanha)
abordaram a questáo e a resolveram recorrendo ao Direito Natural. Este
permite a alguém apoderar-se de um objeto achado, desde que se verifi
que que nao tem dono: tal é o ¡us ¡nventionis ou o Oireito de Acha-
mento. Assim, por exemplo, escreve Francisco de Victoria (1480-1546),
fundador do Direito Internacional Moderno, no seu tratado "Rolectio-
nes de Indis e de lure Belli":

"É possfvel alegar outro título, a saber o direito de achamento (ius in-
ventionis), nem se invocou a principio titulo diferente. Baseado únicamente
nesse direito, navegou primeiro o genovés Colombo".

Mas pergunta-se: como aplicar ao caso o ius inventionis, se a


térra americana já era posse dos seus habitantes indígenas?

- Em resposta, distingamos:

Havia no México e no Perú os grandes Imperios dos Astecas e dos


Incas respectivamente; em tais casos, sim, é preciso crer que os aboríge
nes se sentiam proprietários da térra e tinham o direito de ser respeita-
dos como tais. No Brasil, porém, e em outras regióes da América, os in
dios eram nómades, nao tinham territorio fixo; eles se repeliam mutua
mente na precaria posse de regióes de caca e pesca, carentes de auténtica
nocáo de propriedade. Muito sabiamente observa o Pe. Arlindo Rubert:

"Dir-se-á que o verdadeiro dono era o indio. - Difícilmente se pode pro-


var no indio a consciéncia de posse da térra, quando sabemos que andavam,
no seu nomadismo, de urna parte para outra, sendo as diferentes regióes ora
ocupadas por urna tribo ou nacáo, ora por outra, estranha e adventicia" (A
Igreja no Brasil/,p. 152).

Se os portugueses nao tivessem tomado posse do nosso país, con


tentando-se apenas com a contemplacáo de suas belezas naturais, a fim
de respeitar os mencionados direitos e a cultura dos nidios, o Brasil seria
hoje urna grande reserva etnológica do período neolítico ou um formidá-
vel laboratorio para experiencias de antropólogos, sociólogos, psicólo
gos.», mas nao teria entrado na comunidade dos povos que procuram
construir um mundo melhor sob as luzes da fé crista e da tecnología mo
derna.

205
14 "KtHÜUNlh b KESKUNUEHEMUS" 360/1932

Eis alguns dados que, numa visáo objetiva e justa, devem ser leva
dos em conta, quando se quer avallar a obra dos descubridores do nosso
continente. O amor a verdade leva a reconhecer com sinceridade as defi
ciencias humanas de tal facanha; mas é preciso evitar preconceitos e jul-
gamentos unilaterais. Ademáis, para ser justo, o historiador contemporá
neo deve procurar compreender os antepassados dentro dos parámetros
de sua época, e nao supor, da parte deles, o que Ihes era impossfvel co-
nhecer e praticar; cada época tem suas limitacdes de perspectiva, que é
necessário sempre levar em conta.

Num balanco sereno, deve-se dizer que há muito mais valores do


que desmandos na historia dos quinhentos anos da América. Esse su
perávit, conspicuo como é, merece ser celebrado com gratidáo e alegria,
ao mesmo tempo que a geracSo contemporánea há de formar o propó
sito de lutar contra os males presentes e confirmar o nosso continente,
especialmente o Brasil, como sendo a Térra da Santa Cruz, iluminada e
regida pelos principios cristáos daqueles que a descobriram.

Na confecgáo deste artigo multo nos valemos do trabalho de D. JoSo


Evangelista Martins Tena intitulado "A Motivacáo Religiosa dos Des-
cobrimentos" e publicado na revista "AtualizagSo" ns 234, novembro-de-
zembro 1991, pp. 509-548.

Tal autor, por sua vez, se servlu das segulntes obras:

Arlindo Rupert, A Igreja no Brasil, vols. 1,2e3. Ed. Pallotti, Santa


María (RS).

Helio A. Vlotti, Nóbrega e a Conversio dos Gentios.

LuisPalacin, Sociedade Colonial 1549 a 1599, Goiánia 1981.

A ESCOLA "MATER ECCLESIAE" PUBLICOU OS


SEGUINTES OPÚSCULOS:
"POR QUE NAO SOU PROTESTANTE?", "POR QUE
NAO SOU ESPÍRITA?". "POR QUE NAO SOU ATEU?",
"POR QUE SOU CATÓLICO", "JESÚS, DEUS E HO-
MEM", "O FENÓMENO RELIGIOSO: SIM OU NAO?",
"RESSURREigÁO DE JESÚS: FICCÁO OU REALIDADE".
PEDIDOS A CAIXA POSTAL 1362, 20001 RIO (RJ)

206
Falando franco:

POR QUE NAO SOU ESPÍRITA?

Em sfntese: SSo apuntadas sete razdes pelas quais um católico nao


pode ser espirita: O Espiritismo (tanto o kardecista quanto o afro-brasileiro)
está baseado na hipótese de que existe comunicacáo dos vivos com os mor-
tos mediante artes mágicas ou receitas eñcazes. Ora feto é enorme ilusáo,
que só pode ter significado em ambientes que ignoram as conclusóes da
ciencia parapsicológica contemporánea (ciencia que nao existia nos temóos
de Alian Kardec, 1804-1869). Atém disto, a reencarnagáo - outra pedra básica
da crenga espirita - é postulado sem fundamento; a parapsicología e a reta
explicagáo da fé católica dissipam fácilmente os seus pretensos fundamentos.
Além disto, é de notar que o Espiritismo é poderoso foco de doencas mentáis,
como afírmam grandes módicos do Brasil, constituindo assim um problema
que interessa á saóde pública. Deve-se outrossim registrar que as próprias
irmás Fox, cujas experiencias deram origem ao Espiritismo moderno, se re-
trataram, reconhecendo que se serviram de truques para produziros fenóme
nos que os circunstantes interpretam como intervengóes do além.

O Espiritismo seduz muitos fiéis católicos, seja por causa dos "fatos
prodigiosos" que lá ocorrem, seja pela promessa de comunicacáo com os
defuntos, seja porque o Espiritismo ás vezes se reveste de capa católica,
adotando nomes de Santos para seus Centros e louvando Jesús Cristo...

Da( a necessidade de dizermos por que um católico nao pode ser


espirita. É o que faremos ñas páginas seguintes, abrangendo sob a de
signado de Espiritismo também as religióes afro-brasileiras (Umbanda,
Candomblé, Macumba^); estas tém em comum com o kardecismo a prá-
tica da evocagáo dos monos e a crenga na reencarnacáo'.

1A nota está na p. 208.

207
Sao seta as razdes pelas quais nSo sou espirita (kardecista ou um
bandista):

1. Grande llusio

Um dos fatores mais atraentes do Espiritismo é a aparente comuni-


cacáo com os espirites "desencarnados"; estes parecem acompanhar os
vivos, consolando-os e orientando-os; á o que ocorre nos casos do copo
falante, da psicografia, das casas mal-assombradas, etc.

Ora a explicacáo desses fenómenos por intervencáo de espfritos do


além podia ter crédito nos tempos de Alian Kardec (1804-1869). Hoje,
porém, o estudo do psiquismo humano mostra que todos os fenómenos
ditos "de mediunidade" sao meras expressdes do psiquismo do médium
e de seus assistentes. Com efeito, a parapsicología ensina que temos 7/8
de nossos conhecimentos (adquiridos desde a infancia) em nosso incons
ciente; usamos apenas 1/8 daquilo que sabemos. Ora, por efeito da su-
gestáo, essas nocóes latentes sobem á consciéncia do individuo e Ihe
possibilitam manifestares que parecem estranhas, oriundas do além,
quando na verdade sao apenas expressóes daquilo que a pessoa viu, ou-
viu, sentiu no decorrer da sua vida presente.

O inconsciente, a sugestáo e urna grande sensibilidade sao, por-


tanto, os principáis fatores que explicam os fenómenos mediúnicos. O in
consciente é um enorme repertorio de imagens, sons e experiencias la
tentes no ser humano; está sujeito a ser ativado pela sugestáo de que o
médium vai receber um espirito do além e, por isto, terá que representar
um papel condizente com tal "incorporacáo".

(nota da p. 207):

1A relagáo entre Espiritismo e Umbanda, por exempto, é tío íntima que


há quem diga que a Umbanda 6 complementario do Espiritismo; seria a
quarta revelacáo (após a de Moisés, a de Jesús Cristo eade Alian Kardec).
Tenha-se em vfeía o texto do Jornal "O Reformador", órgáo oficial da Federa-
gSo Espirita Brasileira, julho de 1953, p. 149:

"Baseados em Kardec, é-nos lícito dizer: Todo aquele que eré ñas
manifestaedes dos espfritos ó espirita; ora o umbandista netas eré, togo o um-
bandista ó espirita... Assim todo umbandista é espirita, porque aceita a marih
festagáo dos Espitóos, mas nem todo espirita 6 umbandista, porque nem todo
espirita aceita as prátícas de Umbanda".

208
POR GUE NAO SOU ESPÍRITA? 17

Nao há fenómeno mediúnico nenhum que nao possa ser explicado


pela parapsicología, de modo que é falso recorrer a intervéngaos do além
para compreendé-los.

Somente quem permite que a emocáo e os sentimentos prepon-


derem sobre o raciocinio e a ciencia, pode aderir ao Espiritismo. Este nao
é ciencia, como diz, mas (doloroso é dizé-lo) é obscurantismo, pois supóe
ainda o contexto do século XIX e ignora os resultados comprovados da
Psicología contemporánea.

2. O desmentido das irmás Margaret e Katy Fox

1. Pouco se conhece um fato importante:

O Espiritismo moderno, como dizem os próprios espiritas, comeca


em Hydesvil le (N.Y., U.S.A.) em 1848. Certa noite, o pastor protestante
John Fox, sua esposa e as duas filhas Margarida e Catarina estavam a
conversar sobre estranhos fenómenos de "assombracáo"; Catarina entáo
produziu estalos com os dedos; notaram todos que alguém os repetia.
Por sua vez, Margarida produziu estalos e encontrou eco. Apavorada, a
Sra. Fox perguntou: "É homem ou mulher que está batendo?", mas nao
obteve resposta. Insistiu entáo: "É espirito? Se é espirito, bata duas ve-
zes". Produziram-se duas breves pancadas. Concluiu assim que um espi
rito "desencarnado" estava em comunicacáo com a familia. Segundo se
diz, os próprios esplritos indicaram as irmás Fox em 1850 nova forma de
comunicac.áo: que os interessados se colocassem em torno de urna mesa,
em cima da qual poriam as máos; ás interrogacóes que fizessem aos es
plritos, a mesa respondería com golpes e movimentos indicadores de le
tras do alfabeto e de palavras.

Em pouco tempo, as novas práticas se espalharam pelos Estados


Unidos, pelo Canadá e pelo México. Atravessaram o Atlántico, chegando
a Escocia e á Inglaterra, passaram para a Alemanha e outros países euro-
peus, encontrando em 1854 na Franca o seu grande doutrinador: Léon-
Hippolyte-Denizart-Rivail, que tomou o nome de Alian Kardec, pois jul-
gava ser a reencarnacáo de um poeta celta do mesmo nome.

2. Ora eis o depoimento de Margaret Fox, publicado no jornal "The


New York Herald", de 24/9/1888:

"Guando o espiritismo comegou, Kate e eu éramos criancinhas e essa


velha mulher, minha outra irme, fez de nos seus instrumentos. Nossa máe era
urna tola. Era urna fanática. Assim a chamo porque era honesta. Acreditava

209
nessas coisas. De tato, o espiritismo comegou com um nada. Éramos apenas
criancinhas inocentes. Que sabíamos nos? Ah, chegamos a saber demais!
Nossa irmá serviu-se de nos em suas exibicdes; ganhávamos dinheiro para
ela. Agora virase contra nos porque é esposa de um homem rico e sempre
que ela o pode, opóe-se a nos.

O Dr. Kane encontrou-me quando eu levava essa vida. (Sua voz tre-
meu, aquí, e quase desfaleceu). Tmha eu apenas treze anos quando ele me l¡-
vrou disso, cotocando-me num colegio. Ful educada em FHadélfia. Aos dezes-
seis anos casei-me com ele na ocasiáo em que voltou de urna expedigáo árti
ca. Agora, chegamos atriste historia, tSo triste... Ele se achava muito doente...

"Quando recupere! as torgas, fui novamente empurrada para o espiri


tismo. Dei exibigóes com minha queridfssima irme Kate. Sabia, entáo, é claro,
que todos os efeilos por nos produzidos eram absolutamente fraudulentos.
Ora, tenho explorado o desconheddo na medida em que urna criatura humana
o pode. Tenho ido aos mortos, procurando receber deles um pequeño slnal.
Nada vem daf-nada, nada. Tenho estado junto ás sepulturas, na calada da
noite, com fícenga dos encarregados. Tenho-me assentado sozinha sobre os
túmulos, para que os espirites daqueles que repousavam debaixo da pedra
pudessem vir ter comigo. Tenho procurado obteralgum sinal. Nada! Nao, nSo,
nao, os mortos nao háo de voltar, nem aqueles que caem no inferno. Assim o
diz a Biblia católica, eeuo digo também. Os espiritas neo voltam. Deus nunca
o ordenou".

3. Por sua vez, a Sra. Katy Fox (casada com o Sr. Jencken), deixou o
seguinte testemunho, publicado no "The New York Herald", de
10/10/1888:

"O espiritismo é fraude do principio ao fím. É a malor impostura do sé-


culo. Nao sei se ela já Ihe disse isso, mas Maggie e eu comegamos quando
éramos criangas muito pequenlnas, pequeñas e ¡nocentes demais para com-
preendermos o que faztamos. Nossa irmá Lean contava vinte e tres anos
mais que nos.-Iniciadas no caminho do engaño e encorajadas a Isso, conti
nuamos, é claro^Qutros, com bastante ¡dado para se envergonharem de tal
infamia, apresentaram-nos ao mundo. Minha irmá Leah publicou um livro intitula
do O Elo quefaltavaao Espiritismo. Pretende contar a verdadeira historia do
movimento, tanto quanto se oríginou conosco. Ora, só há no livro falsidade, do
inicio ao fím. Salvo o falo de que foi Horace Greeley que me educou. O res
tante é urna cadeia de mentiras",

"£, quanto ás manifestagóes de Hydesville em 1848 e aos ossos en


contrados na adega, e o mais?"

210
POR QUE NAO SOU ESPÍRITA7 19

'Tudo fraude, sem excegáo". "Contudo, Maggie e eu somos as funda


doras do espiritismo!" concluiu a Sra. Jencken.

Debaixo do nomo dessa terrível, horrorosa hipocrisia - o espiritismo


- tudo que há de improprio, mau e imoral ó praticado. VSo tSo longe a ponto de
terem o que chamam fílhos espirituais! Pretendem a algo como a imaculada
conceigño! Coisa alguma poderia ser mais blasfematoria, mais nojenta, mais
altamente fraudulenta? Em Londres, fui, disfargada, a urna sessáo privada em
casa de um homem rico. Vi urna chamada materializagáo. O efeito foi obtído
por meio de papel luminoso cujo brilho se refletia sobre o refíetor. A figura as-
sim exibida era a de urna muiher - virtualmente um nu; envolvia-a urna gaze
transparente. O rosto apenas se achava oculto. Era essa urna das sessóes a
que sao admitidos alguns amigos privilegiados, nao crentes, de espiritas
crentes. Há, porém, outras sessóes a que só sao admitidos os mais provados
e fiéis; a! ocorrem as coisas mais vergonhosas, que rivalizam com as satur-
nálias secretas dos antigos romanos. Nao posso descreveNhe essas coisas
porque nao ousaria."

4. O jornal "The World", de 22/10/1888, publicou a crónica da fa


mosa sessáo na Academia de Música de Nova lorque, ocorrida na noite
de 21/10/1888. A Sra. Margaret Fox Kane proferiu entáo perante grande
público caloroso depoimentó, que também se lé no livro de Davenport:
"The Death - Blow to Spiritualism" (New York 1888); desta obra extraí-
mos o seguinte texto:

'No dia 21 de outubro de 1888, a Sra. Margaret Fox Kane. realizoupela


primeira vez seu intento de, com os próprios labios, denunciar publicamente o
espiritismo e seu séquito de truques. Apresentou-se á Academia de Música
em Nova York perante numerosa e distinta assemblé'ia e, sem reservas, de-
monstmu a falsidade de tudo quanto no passado Szeram sob o disfarce da
mediunidade espirita.

Foi dura provagáo. A grande tensSo nervosa de que padecía, tomou-lhe


, a mente altamente excitada, e o grande número de espiritas presentes na ca
sa tentava criar urna perturbagáo, ou urna diversáo desleal que tena por fim
romper a torga da denuncia da Sra. Fox. Falharam, porém, completamente,
grapas ao caráter superior que possufa a maioria de seus ouvintes.

O efeito moral dessa exibigáo nao poderia ter sido maior.

A Sra. Kane manteve-se de pé sobre o palco; tremendo e possufda de


intensos sentimentos, fez a seguinte e extremamente solene abjuragáo do es
piritismo, enquanto a Sra. Catharine Fox Jencken assistia de um camarote vi-
zinho, dando, por sua presenga, inteiro assentímento a tudo que a irmñ dizia:

211
¿u rcrujuiNic c ncsruivucncmua

Deveis, sem dúvida, saber que tenho sido o principal instrumento em


perpetrara fraude do espiritismo, numpúblico demasiadamente confiante.

O maior solrímento de minha vida é que essa 6 a verdade. Embora te-


nha essa hora chegado tarde, estou agora preparada para dizer a verdade,
toda a verdade e nada senSo a verdade - a isso Deus me ajude!

Há, provavelmente, muitos aqui presentes que me háo de desprezarpor


causa do engaño a que me tenho entregue; contudo, se soubessem a historia
verdadeira do meu passado infeliz, a viva agonía, a vergonha que tam sido pa
ra mim, haveriam de me lamentar, nao reprovar.

A impostura que por tanto lempo mantuve, comegou na minia tenra me-
ninice, quando, o espirito e o caráter aínda nao formadosr<era incapaz de dis
tinguir entre o bem e o mal.

Quando atingí a maturidade, me arrependi. Tenho vivido anos através


de silencio, timidez, desprezo e amarga adversidade, ocultando, o melhorque
pude, a consciéncia de minha culpabiíidade. Agora, gragas a Deus e & minha
consciénda despertada, estou enfím apta a revelara verdade fatal, a verdade
exata dessa hedionda fraude, que tantos coragóes tem feto minar e obscure
cido tantas vidas.

Esta noite estou aqui como urna das fundadoras do espiritismo, para
denunciá-lo como absoluta lalsidade, do principio ao fím, como a mais frivola
das superstigdes, a mais maldosa blasfemia do mundo".'

Notemos que, além da explicado por truques, ocorre a explicado


pela parapsicología, quando se trata de fenómenos mediúnicos. Em nos-
sos días pode-se crer que a maioria dos médiuns e freqüentadores do
Espiritismo sao pessoas sinceras e de boa fé; sem o saber, estáo provo
cando fenómenos parapsicológicos, que elas atribuem á intervengo de
"espíritos desencarnados".

3. Fator de doencas mentáis

A excitado do psiquísmo humano provocado pelo exercício da


mediunidade nao pode deixar de traumatizar a pessoa e torna r-se foco
de doen?as mentáis. Atestam-no grandes médicos do Brasil, habituados

1Os depoimentos aqui transcritos encontram-se na obra de D. Boa-


ventura Ktoppenburg: "O Espiritismo no Brasil "Ed. Vozes, Petnipolis, 1960,
pp. 426 - 447, onde se encontra tambóm a copla facsímile das respectivas
páginas dos origináis ingleses.

212
POR QUE NAO SOU ESPfRITA?

a tratar de psicopatologias diversas. Eis alguns de seus depoimentos,


colhidos por O. Boaventura Kloppenburg num ¡nquérito realizado em
1953:

Dr. Luís Robalinho Cavalcanti:

"Nio é aconseliiável promover o desenvolvimento das facutdades me-


diúnicas, desde que se trata de fenómenos psicopatológicos prejudiciais ao
individuo.

O médium deve ser considerado como urna personalidade anormal,


predisposto a entermidadés mentáis, oujá portador de psicopatías crónicas ou
em evolugáo.

As prátícas mediúnicas sSo prejudiciais á saúde mental da coletividade,


retardando o tratamiento dos pacientes, que multas vezes chegam as máos do
módico com enfermidade já cronifícada.

O Espiritismo póe em evidencia enfermidades mentáis preexistentes e


desencadela reagóes psicopatológicas em predispostos. .

SSo convenientes medidas que visem a evitar a prática de atividades


médicas e terapéuticas por se tratar de contravengáo, proibida pelas leis sa
nitarias, que só reconhecem ao médico com diploma devidamente registrado
nos órgSos competentes o direito de tratar pessoas doentes".

Dr. Francisco Franco: -

"Provocar fenómenos espiritas é desaconselhável porque dañoso para


o organismo; o médium tomase um neurasténico, autómata, visionario,
abúlico, antecámara é esquizofrenia, um individuo perigoso para si e a socie-
dade.

O médium nunca pode ser normal pelas razóes expostas ácima.

O Espiritismo é urna farsa, portanto nula a sua fínalidade.

O Espiritismo está colocado em primeiro lugar como fator de loucura e


de outras perturbacóes patológicas, agindo sobretudo ñas mentalidades tra
cas e partícula/mente ñas sugestionáveis.

O Espiritismo é o malor fator produtor de insanos que perámbulam pelas


rúas, enquanto grande psrcentagem enchem os manicomios, casas de saúde,
segundo a opiniño de abalizados psiquiatras, como Austregésilo, Juliano Mo-
reira, Franco da Rocha, Pacheco e Silva..."

213
Dr. Oswaldo Moráis Andrade:

"O Espiritismo é prejudicial, principalmente nos meios incultos.

É tese assente em Psiquiatría que o Espiritismo pode agir como fator


desencadeante de disturbios mentáis em individuos predispostos.

Aprovo urna campanha de esclareclmento da populagáo, contra a práth


ca mediúnica ".

Dr. Franco da Rocha:

No Mvro "Esbogo de Psychiatria Forense", p. 32, escreve:

"A propósito das reunióos espiritas, num trabalho recente escrevoram


Sollier e Boissier: Em beneficio da profilaxia seria de conveniencia divulgaros
acidentes causados pela freqüéncia ás sessóes espiritas. Charcot, Forel, Vi-
goroux, Henneberg e outros publicaram exemptos depessoas, sobretudo mo
gas, anteriormente sis, que se tomaram históreo-epllápticas, em conseqüén-
cía de terem tomado parte ñas cenas de evocacáo dos espfritos. E o resultado
de automatismo, um exercício metódico para o desdobramento e desagrega-
gao da personatidade. Aquí fazem explodir ou agravam a neurose, acola des-
pertam e sistematizan! a tendencia á vesania, que urna vida regular ebem di
rigida tena abafado. Tais sao os perigos que devem ser conhecidos, mesmo
dos que, sem outra conviccáo, nada mais véem nesta operagáo que simples
divertimentos de reunidos".

Dr. Juliano Moreira:

Respondeu nos termos abaixo a um inquérito realizado peto Dr.


Joáo Teixeira Alvares, que publicou as respostas respectivas no livro "0
Espiritismo" (liberaba 1914), pp. 122-125:

'Ten/70 visto muitos casos de perturbacóes nervosas e mentáis evi


dentemente despertadas por sessóes espiritas. No Hospital Nacional, nao ra
ro, vém ter tais casos.

Ató hoja nao Ove a fortuna de ver um médium, principalmente os cha


mados videntes, que nao fosse neurópata".

Dr. Joaquim Dutra:

Respondeu ao mesmo inquérito:


"As práticas espiritas estSo incluidas, e com certa preeminencia, entre
as causas e efellos das molestias mentáis, influlndo diretamente, pelas pertur-

214
POR QUE NAO SOU ESPÍRITA? 23

bagaes emotivas, com um coeficiente avotumado, para a populacáo dos ma


nicomios.

Exageradas, ató se tomarem preocupagáo dominante, elas preparam


a loucura, quando nSo sño mesmo urna denuncia da existencia de loucura.

Por impressionáveis, tais pláticas concorrem para a alucinagño, deter


minando entogues que acarretam perturbacóes vaso-motoras ou que provo-
cam concentragáo psíquica, estados de abstragSo, perturbagóes graves ñas
fungóes vegetativas, alteragóes ñas secregóes internas, redundando tudo em
auto-intoxicagáo..."

Dr. Antonio Austregósilo:

Em resposta ao Dr. Joao Teixeira Alvares:

"O Espiritismo ó 110 Rio de Janeiro urna das causas predisponentes


mais comuns de loucura.

Os médiuns devem ser considerados individuos neurópatas próximos


da histeria.

O Espiritismo é urna neuroso provocada pela fácil auto-sugestibilidade,


em que há predominancia das alucinagóes psico-sensoriais, sendo nao raro
histeria ou um estado histeróide".

Tais depoimentos dispensam qualquer comentario. A experiencia


cotidiana os comprova amplamente.

4. Reencarnacáo

A reencarnacáo vem a ser tese arbitraria, para a qual nao há fun


damento objetivo. Alias, é táo subjetiva que os espiritas mesmos nao
concordam entre si a respeito.

Assim, por exempio, enquanto os espiritas latinos admitem firme


mente a reencarnacáo, o? anglo-saxóes a rejeitam. E por qué? - Porque
os anglo-saxóes, movidos por preconceitos racistas, nao podem imaginar
que voltaráo á Térra num corpo de raca negra ou indígena.

Mesmo entre os reencarnacionistas há divergencias: alguns dizem


que a reencarnacáo é lei geral, ao passo que outros a admitem apenas
para os espirites mais atrasados ou para os perfeitos, que tém de cumprir
alguma missáo na Térra. Uns sustentam que o ser humano se reencarna
sempre no mesmo sexo, enquanto outros professam variacáo alternativa

215
de sexo. Uns ensinam que a reencarnado se faz apenas na Térra, en-
quanto outros admitem que ocorra tambóm em outras planetas. Uns
pensam que a reencarnado se dá pouco depois da morte, outros afir-
mam um intervalo de mil e quinhentos anos precisamente. Uns julgam
que a reencarnado é nao só progressiva, mas também regressiva, de
modo que o individuo pode voltar ¿ Térra num corpo animal ou vegetal;
outros, ao contrario, dizem que a reertcarnacáo nao pode ser regressiva,
mas, na pior das hipóteses, é estacionaria por algum tempe. É que, na
verdade, ninguém sabe o que foi em "encarnacio anterior".

Esta variedade de sentencas manifesta bem que a doutrina da reen- ■.


carnacáo carece de base objetiva; é, antes, um postulado fantasioso dos
que a professam. Com efeito; vejamos os argumentos aduzidos pelos re-
encarnacionistas: i.

1) Os testemunhos de vida pregressa obtidos em estado de


transe hipnótico. - Um estudo apurado dos mesmos revela que nada
mais sao do que a combinacao de Ímpressóes colhidas durante esta vida
mesma e guardados no inconsciente do sujeito. Este, sugestionado pelo
hipnotizador de que viveu urna encamacáo anterior, projeta essas ¡m-
pressóes em combinacáo livre, tecendo o enredo de urna "vida pregres
sa"!

2) A desigualdade das sortes humanas só se explicaría como


conseqüéncia de atos bons ou maus praticados numa encarnacáo ante
rior. - Respondemos que Deus é livre para criar os homens como Ele os
quer; a cada qual dá a grapa para que se santifique e chegue á vida eter
na; ás vezes urna pessoa tida como pobre ou doente no plano material e
passageiro pode ser extraordinariamente rica e sadia no plano dos valo
res definitivos. Ademáis, segundo os principios reencarnacionistas, quem
atualmente é doente e pobre é um pecador que está expiando pecados da
vida passada, ao passo que os ricos e sadios sio pessoas virtuosas que
estáo recebando o premio dos atos bons praticados em encarnacáo ante
rior. Ora tais conclusóes sao absurdas.

3} Os demais fenómenos tidos como pravas da reencarnacüo (o "ja)" •


visto", os genios, a memoria extraordinaria...) sao fácilmente ex
plicados pela parapsicología como expressoes do psiquismo humano.

4) O conceito de inferna.. - Muitas vezes a má compreensáo do


que seja o inferno, leva a rejeitá-lo em favor do reencarnacionismo. Na
verdade, o inferno nao é tanque de enxofre fumegante aticado por diabos
munidos de tridentes, mas ó um estado de alma, no qual o individuo se
projeta por dizer Nio a Deus: após a morte a pessoa que morre cons
ciente e voluntariamente avessa a Deus, é respeitada em sua opcio, mas

216
nao pode deixar de reconhecer que Deus é o Sumo Bem... e o Sumo Bem
que continua a amá-la ¡rreversivelmente. É o fato de que Deus ama lima
vez por todas, mas fo¡ conscientemente preterido em favor de bagatelas,
que causa o tormento do reprobo. Se Deus desviasse do reprobo o seu
amor, ele nao sofrena o inferno; mas Deus nao pode deixar de amar,
porque Ele nao se pode contradizer. É precisamente nisto que está o
principio do inferno. Vé-se assim que o inferno, longe de contradizer ao
amor de Deus, decorre, de certo modo, da grandeza divina desse amor.

5) O reencarnacionismo atribuí ao homem o poder de sal


var a si mesmo mediante sucessivas existencias na carne, durante ac
quais o individuo mesmo se aperfeicoa por seus esforcos. Ao contrario, o
bom senso e a fé mostram que o homem é, por si só, incapaz de se li
bertar do pecado e necessita da graca de Deus para se salvar. Somente
numa perspectiva pantelsta (ver n? 5, a seguir) é que se pode admitir a
auto-salvacáo do homem (pois no caso ele é parcela da Divindade); con-
tudo numa perspectiva monoteísta, segundo a qual Deus é distinto do
mundo e do homem, é lógico que o homem, limitado e falho como é, ne
cessita de Deus para se auto-realizar plenamente.

5. Panteísmo

0 Espiritismo, seja o kardecista, seja o afro-brasileiro, parece dar


menos importancia a Deus do que aos espíritos desencarnados. O culto
espirita versa geralmente sobre a comunicagáo com os mortos.

Quando tratam de Deus, varios autores espiritas professam o pan


teísmo, ou seja, a identificacáo de Deus com o mundo e o homem. Ora tal
conceito é ilógico e aberrante, pois Deus, por definicáo, é o Absoluto e
Eterno, ao passo que toda criatura é relativa, contingente e temporaria.
Eis alguns testemunhos significativos:

Leio Denis: "Deus é a grande alma universal, de que toda alma


humana é urna centelha, urna irradiacáo. Cada um de nos possui em es
tado latente forcas emanadas do divino Foco" ("Cristianismo e Espiritis
mo", 5« edicáo, p. 24).

Leáo Denis: "O Ser Supremo nao existe fora do mundo, porque é
sua parte integrante e essencial" ("Depois da morte", 65 edicáo, p. 6).

0 escritor espirita Rangel Veloso diz ter ouvido a seguinte declara-


cáo num Centro Espirita:

"Deus 6 como urna folha de papel, rasgadinha em milhóes, bilhóes e


nSo sei quantas mais divisóes. Langados esses pedacinhos de papel no Uni-

217
26 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 360/1992

verso, cada pedacinho de papel representa um homem e um ser existente; to


dos reunidos, formando o todo, ó Deus" ("Pseudo-sábios ou Falsos Profe
tas", 1947, p. 34).

0 1? Congresso de Espiritismo de Umbanda adotou unánimemente


a conclusáo n- 5:

"A filosofía (de Umbanda) consiste no reconheclmento do ser humano


como panícula da Divindade; déla emana límpida e pura, e nela firmemente se
reintegra ao fím do necessário ciclo evolutivo no mesmo estado de limpidez e
pureza, conquistado pelo seupróprio esforco e vontade."

(Textos colhidos no opúsculo de Freí Boaventura Ktoppenburg: "Porque


a Igreja condenou o Espiritismo", Fedicéb, Petrópoüs 1954, p. 29).

6. "Fora da Caridade nao há Salvafáo"

0 Espiritismo apregoa em alta voz a prática da caridade, sem a qual


nao há salvafáo. - Tem razáo em afirmar a importancia da caridade. To
davía os espiritas chegam a relativizar a verdade, como se esta fosse algo
de secundario, que nao se teria de levar em consideracáo. - Ora obser
vamos que o ser humano foi feito para apreender a verdade com a sua
inteligencia e praticar o bem e o amor em seu comportamento. Por ¡sto
nao se pode dizer que basta a caridade para a salvafáo eterna. Em nome
da caridade mal entendida (ou mal iluminada pela razáo e a fé), podem-
se cometer auténticas aberracóes; a caridade desorientada pode tornar
se mero rótulo que dé aparéncia legitima ao egoísmo e á exploracáo do
próximo. - De resto, a prática da caridade nao é apanágio do Espiritismo,
pois a Igreja Católica durante toda a sua historia (portanto já muito antes
de Alian Kardec) sempre se empenhou pela sorte dos carentes tanto de
corpo como de alma; muitos e muitos Santos foram e sao verdadeiros
heróis do servifo ao próximo.

7. A Biblia rejeita

Para quem ó cristáo, o texto bíblico tem valor de guia fundamental.


Ora a Biblia condena eloqüentemente a evocacáo dos monos:

Lv 19,31: "Nao vos voltareis para os necromantes nem consultareis


os adivinhos, pois etes vos contaminariam".

Lv 20,6: "Aquele que recorrer aos necromantes e aos adivinhos para


se prostituir com oles, vottar-me-ei contra esse homem e o exterminarei do
meto do seu povo".

218
Lv 20 27: "O homem ou a mulher que, entre vos, tor necromante ou
adivinno. será morto. será apedrejado. e o seu sangue caira sobre <?te ou ela".

Dt 18,10-14: "Que em teu meto nao se encontré alguém que queime


seu rüho ou sua filha, nem que faga pressigio, oráculo, adivinhagáo ou magia,
ou que pratique encantamentos, que interrogue espfritos ou adivinhos, ou aín
da que Invoque os mortos; pois quem pratica essas coisas 6 abominável a
Javé eépor causa dessas abominagóes que Javé teu Deus desalojará na-
cóes em teu favor... Efe que as nagóes que vals conquistar ouvem oráculos e
adivinhos. Quanto a tí, isso nao te é permitido por Javé teu Deus". Ver aínda
2Rs 17,17; Is 8, 19s.

A proibicáo se deve nao a suposicáo de que os mortos sejam inco


modados pelos vivos, mas ao fato de que nao há receita que garanta a
comunicacáo entre vivos e mortos. A necromancia é supersticáo. A ora-
cáo que os cristáos dirigem aos Santos, nao se baseia em fórmulas ou re-
ceitas mágicas, mas únicamente na conviccáo de que Deus quer conser
var a comunháo entre os membros do Corpo Místico de Cristo; por isto
Ele faz que os justos no céu tomem conhecimento das preces despreten-
siosas que Ihes dirigimos na Térra e, em conseqOéncia, intercedam por
nos.

Ouanto ao caso de Saúl, que evocou Samuel mediante a pitonisa de


Endor e foi atendido <cf. iSm 28,5-15), nao é paradigma, pois diz a pró-
pria Bfblia que Saúl foi condenado por causa disso Icf. iCr 10,3). Deus
permitiu que Saúl recebesse de Samuel, naquele momento, a advertencia
de que estava no fim sua vida terrestre e no dia seguinte ia morrer; fo.
por causa da importancia solene daquela hora que Deus permitiu a res
ista de Samuel; ela nao foi provocada pela arte da ad.vmha; esta apenas
forneceu a ocasiáo ou as circunstancias da manifestado de Samuel.

Eis por que nao sou, nem posso ser, espirita. Religiáo nao é apenas
emocáo e sentimento, mas é culto dé Deus e servico aos homens, seimpre
Numinado pelas luzes da razio e da fó na Palavra de Deus. O qu.mu to
atrai as pessoas ao Espiritismo, é a capacidade que este tem de «tratar
afetos e emocóes diversas, muitas vezes desligadas de senso lógico e n-
So cr£Ta quem permite que os sentimentos preponderen, sobre
fSiSnt arrisá-se /cometer graves erros doutrinários e pre.ud.car
sua saúde psíquica- principalmente quando se trata de rehgieo. que é
um dos fatores mais aptos a impresionar o ser humano.

219
Queéa

IGREJA UNIVERSAL
DO REINO DE DEUS?

Em símese: A Igreja Universal do Reino de Deus fol fundada em 1977


por Edir Macedo Bezerra, ex-fundonário da Loterj, depois que Macedo havia
passado pelo Catolicismo, pelo espiritismo e pelo protestantismo moderno. Em
quinze anos de existencia, essa "Igreja" tomou-se um verdadeiro Imperio, flfe-
pondo de ¡movéis de luxo e algumas empresas; tem suas filiáis nos Estados
Unidos, em Portugal, na Espanha e na América Espanhola. O enriquecimiento
do fundador e de seus assessores tem sido questionado pelas autoridades ch
vis. Verdade 6 que a "Igreja" arrecada enormes quantias, prometendo mila
gros, praticando "exorcismos" e estimulando os crentes a dar multo para po
der receber muito de Deus; todavía há quem pergunte se essa fonte de receita
basta para explicar a magnitude dos negocios de Edir Macedo. A compra da
rede Record de televisáo ficou por US$ 45 milhóes, dos quais - diz a inpren
sa - urna parte foi conseguida na Colombia á cusía de narcotráfico.

Do ponto de vista da fé, verifícase que a religiio na nova "Igreja" se


torna antropocéntrica, em vez de teocéntrica, pois se ocupa principalmente
com o atendimento ás carencias dos homens..., e feto de maneira emocional,
sugestionante, teatral, desencadeando um frenes! ñas assembléias, que podé
tomar as pessoas aliviadas e eufóricas, mas nao toca na raiz de seus pro
blemas. A suposigSo de que naja intervengáo do demonio em todos os males,
e a aplicagáo abusiva de exorcismos geram um clima de apavoramento, que
subjuga as pessoas e multas vezes agrava os males em vez de os resolver.

Em suma, o fenómeno da "igreja Universal" 6 um sinalpara os católi


cos, pois decorre da insuficiente formacao do povo de Deus, que, na sua boa
fé mal instruida, se deixa arrastarpela falsa mística e a teatralidade de exibh
(des religiosas.

220
Repetidamente os nossos leitores tóm solicitado esclarecimentos
sobre a famosa Igreja Universal do Reino de Deus (IURD). Nunca escre-
vemos algo em PR sobre tal assunto, porque a abordagem redundaría
em detrimento da pessoa de seu fundador, de quem a imprensa muito
tem falado. - Acontece, porém, que o caso se tornou táo provocador que
nos decidimos a apresentar alguns dados sobre tal "Igreja", procurando
ser objetivos e sintéticos. Colhemos nossas ¡nformacóes em reportagens
publicadas pelos jomáis do Rio e de Sao Paulo, cientes de que constan
temente novas e novas noticias sao publicadas sobre o assunto.

1. Trapos biográficos

Edir Macedo Bezerra é um fluminense do interior do Estado do Rio.


Quis ser professor; para tanto estudou Matemática e Ciencias Estatísticas
em nfvel universitario , cursos que abandonou sem concluir. Diz ele
mesmo que "era urna pessoa triste, deprimida, angustiada"1; procurou
alivio na Igreja Católica, mas nio se satisfez. Passou entáo para o espiri
tismo e freqüentou terreiros de macumba, mas também al n3o encontrou
as respostas desejadas. Teve entáo um "encontró pessoal com Deus":

"Estava em urna reuniáo pública de evangelistas na Associagio Brasi-


leira de Imprensa, no Rio. As pessoas cantavam e, de repente, desceu urna
coisa sobre nossa cabega, nosso corpo, como se estívóssemos sendo loga
dos debaixo de um chuveiro. Foi algo, ao mesmo tempo, físico e espiritual,
abstrato e concreto. Pude me ver como realmente era, eeume via como se
estivesse descendo ao inferno. Caf em prantos. Entáo a mesma presenca me
apontou Jesús. Foi quando nos convertemos, e nos entregamos de corpo, al
ma e espirito" (FSP, 20/06/1991. p. 1-12).

Edir fez-se entáo membro da Igreja pentecostal Nova Vida, onde


permaneceu até 1974. Deixou-a finalmente por causa de urna experiencia
que ele assim descreve:

"Mlnha segunda fílha nasceu com labio leporino, urna grande deforma-
cao que oráticamente etiminava o céu da boca. Eu sofri, eu gemí; ela néofái
urna alegría - foi urna tristeza, urna agonía. No éa em que ela nasceu, eu de-

As chacóes entre aspas sao palavras textuais de Edir Macedo, tais


como a imprensa as consignou.

Siglas: JT = Jornal da Tarde, SSo Paulo


FSP » Folha de SSo Paulo, Sao Paulo
GLB = O Globo, Rio de Janeiro.

221
30 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 360/1992

cidi que nao fícaria mais na igreja em que estava e que irla partir para anunciar
o Deus que me tora revelado" (FSP 20/06/1991, p. 1-12).

Ed¡r nao diz se sua filha foi curada ou nao. O fato, porefn, é que
doravante resolveu apregoar a cura mediante a fé.Em 1974, junto com
Roberto Augusto Alves, Romildo Soares {seu cunhado) e os irmáos Sa
muel e Fidelis Coutinho, fundou a Igreja "Cruzada do Caminho Eterno".
Edir era o respectivo tesoureiro; em 1977 desentendeu-se com os irmáos
Coutinho e, ao lado do cunhado e de Roberto Augusto, inaugurou a
Igreja Universal do Reino de Deus. A primeira sede da "Igreja" estava no
predio de urna antiga funeraria á Avenida Suburbana, na Abolicáo (zona
Norte do Rio de Janeiro).

Nos primeiros meses apds a fundacáo da Igreja Universal, as prio


ridades dos tres "irmáos" (Edir, Roberto Augusto e Romildo) era duas:
abrir novos templos e manter um programa diario de radio em horario
alugado, no qual relatavam curas milagrosas, convidando os ouvintes a
comparecer ao culto. Romildo Soares era o líder da Igreja, mas Edir Ma-
cedo comegou a destacar-se no programa que fazia na Radio Metropoli
tana do Rio de Janeiro.

Quatro anos depois da fundacáo, Edir outorgou o titulo de "bispo"


a si próprio e a Roberto Augusto Alves. "Este negocio de bispo é so um
titulo para envolver os católicos", terá dito Edir Macedo, segundo o de-
poimento de Roberto Augusto ao Jornal da Tarde de 02/04/91, p. 16.

O próprio Roberto Augusto Alves, que "sagrou" Edir como "bis


po", separou-se de Macedo e retornou á Igreja da Nova Vida; algo de
semelhante fizeram varios companheiros de Edir Macedo - entre os
quais o famoso pastor Carlos Magno de Miranda, que se afastou para
fundar a sua Igreja dita "do Espirito Santo de Deus". Romildo Soares,
cunhado de Edir, retirou-se para constituir sua Igreja dita "Igreja da Gra-
9a". - Na verdade, a colaboracáo com Edir tornou-se difícil por causa da
prepotencia deste líder e em virtude do espirito mercantilista que cada
vez mais foi prevalecendo em suas atividades.

Assim se desfez a sociedade dos fundadores da Igreja Universal,


cujo Estatuto, registrado a 1-/11/1977, reza em seu artigo 1?:

"Um grupo de limaos, vindos de varias organizagóes evangélicas, re-


conhecem que foram chamados por Deus através do Espirito Santo para con-
tinuarem a obra iniciada por Nosso Senhor Jesús Cristo, continuada pelos
apostólos printítívos e pelos milhares de santos irmáos que através dos sé-
culos, com suas vidas, testemunharam acerca da verdade, que é Jesús

222
Cristo, a única solugáo para a humanidade, e resolveram em corwm acordó
fundar urna corporagáo religiosa e denominá-la de Igreja Universal do Reino
de Deus".

Feito "bispo" monárquico, Edir Macedo criou para si um vasto im


perio. Era funcionario da Tesouraria da Loterj (Lotería do Rio de Janei
ro); deixou as suas funcóes e, como pregador do Evangelho e arauto de
curas, foi adquirindo varios meios de comunicacáo e outros bens mate-
riais, cujo elenco era o seguinte em abril de 1991, ou seja, quatorze anos
após a funda?áo da sua "Igreja":

- 14 emissoras de radio (no Rio de Janeiro, em Sao Paulo, Fortale


za, Salvador, Curitiba, Porto Alegre, Teresina, Vitoria...);

- urna rede nacional de televisáo: a Record;

- ¡movéis no Brasil e no exterior: apartamentos no Rio e em Sao


Paulo, urna casa em Nova lorque, todos os predios nos quais estáo fun
cionando os cultos da Igreja Universal, sendo mil no Brasil e dez no exte
rior (cinco nos Estados Unidos, um na Argentina, um no Paraguai, um na
Colombia, um em Portugal e um na Espanha);

- além disto, contam-se as empresas abaixo:

Unitec Engenharia e Empreendimentos Ltda, construtora respon-


sável pelas obras dos templos;

Gráfica Universal Producóes Industrias e Comercio Ltda, editora


que imprime todas as publicares da Igreja, além da revista "Plenitude";

Fábrica de Movéis Universal, que confecciona toda a mobllia dos


templos (bancos, pulpitos, cadeiras...);

Gravadora Universal, que produz e comercializa os discos dos


pastores-cantores da Igreja;

Delpa Distribuidora de Títulos e Valores, empresa do mercado de


capitais, que está em nome do Deputado estadual Paulo César Marques
de Velasco (PST).

Pelo Estatuto de 1977 o administrador dos bens é o Secretario Ge-


ral, "o qual nSo faz parte da Diretoria e exerce o cargo de forma vitalicia".
Edir Macedo foi nomeado para essa funcáo. Mas em 1990, quando sur-
giram as primeiras denuncias de enriquecimento do "bispo", ele convo-

223
32 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 360/1992

cou urna assembléia geral, "ficando a partir de 13/10/90 ¡sentó de qual-


quer responsabilidade oriunda do cargo".

2. O culto praticado na "Igreja"

O culto exercido ñas sessóes da IURD é predominantemente o de


atendimento ás pessoas que lá comparecam, afetadas por algum pro
blema físico, psíquico, familiar, económico...

Os pastores da "Igreja" geralmente atribuem o surto desses pro


blemas a ¡ntervenpáo do demonio (nao raro confundido com pomba-gira
ou algum exu da Umbanda); conseqüentemente aplicam exorcismos - o
que se faz em meio a gritos, lágrimas, gemidos, convulsóes, pancadas,
aclamagóes, palmas, etc.. Eis como a repórter Kassia Caldeira descreve o
que ela observou no saláo da IURD, á avenida Celso García 499 no Brás
(zona Norte de Sao Paulo, SP):

"Junto com o pastor Romualdo, outros pastores entram no ritmo da lam-


bada e dáo inicio a urna evolugio com passos ensaiados. Abracados, eles
comegam um dos tres cultos realizados por dia no saláo da Igreja Universal
do Reino de Deus, na avenida Celso Garda 499, no Brás, zona Norte da Ca
pital.

'Um dos maiores problemas que a humanidade enfrenta ó o sentimental.


Vocéjá leve muitos homens ou muitas mulheres. Mas, de fato, nunca teve ah
guém. Esta é a Corrente do Amor. E pelos griihóes do inferno vamos acabar
com sua infelicidade', prega o pastor Romualdo para homens, mulheres e
críangas que se amontoam com os bragos erguidos. A maioría veste roupas
simples.

Enquanto segué a música, outros pastores e obreiros descem do palco


e dangam no mesmo compasso. Todos seguem as ordens do pastor. Á pri-
meira ordem, a platéia fecha os olhos, enquanto o pastor ordena que apare-
gam todos os demonios e pombas-gira. 'O demónio-das-sele-saias vai se
manifestar ñas pessoas que tiveram pegas de roupas nubadas', evoca o
pastor, provocando um ruido ensurdecedor de gritos por todo o saleo. Ho
mens e mulheres agem como se estivessem em transe.

Os obreiros e obreiras (ajudantes-voluntários da Igreja) pegam varios


liéis pela cabega. Alguns sao levados para o palco, enquanto se escutam os
gritos de 'Está amarrado, está amarrado!'. A expressio significa que os de
monios estáo sob controle. Tem inicio o exorcismo. O pastor chama os que
nunca estíveram presentas ao palco...

224
O exorcismo termina. Os demonios e pombas-gira já se toram, e é hora
de cantar novamente. O pastor, entSo, dá ordem para que tenha inicio a coleta
das contribuidos dos fiéis. Obreiros e obreiras drculam com rapidez entre as
cadeiras, com os cestínhos onde o d'mheiro é depositado dentro de enveto-
pes"(JT 02/04/91. p. 17).

Eis outras noticias de reportagem assaz significativas:

"O grito meio-animatesco, meio-humano parte daquela senhora magri-


nha, de meia-idade, semblante marcado pelo desespero. AJoelhada na trente
de quase duas mil pessoas, e/a fala e una, ora com sua voz fraquinha, ora
com urna voz forte e grave. 'Ela tem o Satanás no corpo', avisa o pastor Val-
decir. 'Vamos expulsá-lo'... Valdecir segura firmemente a 'possessa'pela nu
ca, girando-a com brutalidade ao comando de suas perguntas. A píatela, em
transe, repele as palavras do pastor: 'Sai, Satanás! Sai, Satanás!'

A sessSo de exorcismo se interrumpe de toona inesperada. O pastor


confessa que cometeu um engaño. 'O demonio nao está nesta mulher", con-
dui Valdecir, garantíndo em seguida: 'Satanás está no ñlho déla'. Com úm
forte sopro no rosto, Valdecir chama a mülher de volta á realidade. Agora ele
pede aos fiéis que demonstrem sua fé doando dinheiro a Jesús Cristo e ao
Espirito Santo" (JT12/10/90, p. 30).

"No ¡menso salió da igreja, na avenida Celso Garda 499, eles formam
urna desordenada fila para poder molhar o rosto ou a máo em urna agua ver-
melha, que enche tres badas sobre urna mesa ao pé do altar. Um dos fiéis,
um senhor de meia-idade, diz que é suco de uva com vinagre benzidos. O ato
de benzimento é frenético. Os obreiros, auxiliares do pastor, apressam os
Seis.

Após o benzimento, sempre entoando canucos religiosos, o pastor Val-


decir ordena que sentem. Todos os seus demonios, a maconha, o adulterio, a
dore a detenga seráo afastados', berra ele pelas dez caixas de som espalha-
das no ampio saino. O tom de voz do pastor vai aumentando de ritmo, acom-
panhado por um obreiro que martela um aparelho sintetizador de som. Música
e pastor formam um só compasso, rápido e hipnótico. Os fiéis se envolvem
pelas oragóes, cantam juntos, fecham os olhos, batem o pono chSo, chamam
por Deus, expulsam o demonio de suas vidas e de suas casas. O volume do
som aumenta, os fiéis gritam mals aínda. A catarse termina em palmas. O
obreiro e o pastor entoam agora um ritmo dangante, calmo e relaxante. As
pessoas cantam, dancam e batem palmas.

225
34 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 360/1992

Valdecir ordena novamente que todos sentem e comeca outra prega-


gao. Pede aos fiéis que demonstren! sua fé dando dinheiro para a igreja. 'Este
dinheiro ó para Jesús Cristo e para o Espirito Santo'" (JT12/10/90, p. 30).

Edir Macedo afirma que numerosos sao os milagros ocorrentes na


sua igreja: "Temos pessoas curadas de Aids, de cáncer, de surdez, parali-
sia, cegueira, tudo atestado por médicos. É um fato corriqueiro, bíblico, e
se deve a obra do Espirito Santo" (FSP 20/06/91, p. 1-12).

"Se Over fé, leva; se nSo tiver, nao adianta. Urna mínima fé sem nenhu-
ma dúvida é capaz de realizar grandes coisas; urna grande fé com atguma
dúvida nao leva a nada.

Garantindo. A palavra de Deus garante a cura. Nos ensinamos as pes


soas a cobrar de Deus aquilo que está escrito. Se ele nao responder, a pes-
soa tem de exigir, bater o pé, dizer Tou aqui, tou precisando'. Dá corto" (FSP
20/06/91, p.1-12).

Escreve ainda Edir Macedo em um de seus livros:

"Da mesma forma como o Senhor Jesús disse a Satanás, nos também
temos que dizer á doenca, cáncer, paralisia ou qualquer outra enfermidade:
'Está escrito! Pelas pisaduras do meu Senhor Jesús, eujá fui curado! Portanto
saia ¡mediatamente do meu ser e nunca mais voltel' Creia nisto, e a partir
deste exato momento a raíz da enfermidade ou doenga morre e os seus sín
tomas váo desaparecendo ás vezes instantáneamente, ás vezes gradativa-
mente, dependendo da fé da pessoa " (JT 06/04/91, p. 14).

3. A coleta de dinheiro...

O pregador Edir Macedo tem o dinheiro em grande estima: "O di


nheiro é urna ferramenta sagrada que Deus usa na sua obra" (JT
06/04/91, p. 14).

Escreve Macedo no seu livro "Nos Passos de Jesús":

"A Igreja do Senhor Jesús Cristo jamáis conseguiría divulgara salvacao


eterna éntreos povos se nao houvesse urna ferramenta imprescindfvel chama
da dinheiro. Foi exatamente por esta razio que Deus instituiu na Igreja os df-
zimos e ofertas, a fím de que através deles a Igreja pudesse usar de todos os
meios de divulgagáo para proclamar Jesús Cristo o Salvador. O Espirito Santo
nos fez compreender que o dinheiro na sua obra é o sangue da Igreja do Se-

226
nhor Jesús, pois ele, através de um meso quatquer de divulgaste, faz pessoas
receberem a vida eterna dentro de um lar, hospital, presidio, etc." (Ibd.).

Daf a insistencia no pagamento do dizimo:

"Quando pagamos o dizimo a Deus, Ele Sea na obiigagio, porque pro-


meteu, de cumprir a sua Palavra, repreendendo os espiritas devoradores que
desgracam a vida do homem, atoando ñas doencas, nos acidantes, nos vi
ctos, na degradaeño social e em todos os setores da atividada humana, fa-
zendo com que o homem sofra eternamente. Quando somos fiéis ao dizimo,
além de nos vermos livres desses sotrimentos, passamos a gozar de toda a
Plenitude da Térra, tendo Deus a nosso lado nos abencoando em todas as
coisas" (ibd.).

Segundo atesta o pastor Carlos Magno de Miranda, o templo da


avenida Celso García em Sao Paulo rende em torno de Cr$ 150 milhóes
por semana.

Há diversos modos de estimular os fiéis á entrega de dinheiro:

Sao distribuidos envelopes aos érenles, aos quais é dado um prazo


fixo para que os devolvam com um fio de cábelo para ser benzido e a
contribuicáo monetaria (Cr$ 5.000 em geral).

Houve também urna arrecadacáo de fim de ano "para dar um pre-


sentinho a Jesús"; tinha como objetivo, propriamente dito, financiar a
viagem do chefe da "Igreja" e seus assessores mais próximos para Jeru-
salém; levariam para a Térra Santa os pedidos dos doadores de dinheiro.

Outros motivos para arrecadar donativos sao os cultos considera


dos especiáis, que requerem uncao com azeite, correntes de libertacáo,
de prosperidade, de Gedeao (personagem bíblico) e do amor».

Outro dado a ser notado 6 aínda o seguinte: lé-se na imprensa:


"Processo na Justica revela: bispo contrata falsos doentes para simular
curas milagrosas":

"Urna historia exemplar de como sSo fe/tos os "milagros e curas" do


"bispo" Edyr Macedo está arquivada junto com um dos processos que exis-
tom contra ele na Procuradoria Geral de Justiga da Capital. Num depoimento
incluido no processo, a comerciante Mérda Spósito, dona de um bar em Santa
Cecilia, na Zona Oeste, contou que seu estabeleelmento era freqüentado por

227
36 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 360/1992

dois rapazas que trabalhavam para a Igreja Universal do Reino de Deus. Dia
riamente, depois de tomarem varios goles de cachaga, eles frequentavam os
cultos da Igreja, onde desempenhavam urna fung&o peculiar.

Ambos eram pagos para se ¡nfíltrarem entre os fiéis no templo da Rúa


das Palmelras e, com recursos da própria Igreja, fazer ofertas em dinheiro.
O trabalho deles era incentivar outras pessoas a fazerem o mesmo. Também
era tarefa dos rapazes subir ao palco e se passar por doentes ou pessoas
tomadas pelo demonio. Depois, alendando a palavras de ordem previamente
combinadas com o pastor, recuperavam-se como se estivessem exorcizados.

No processo, Múrela Spósito contou que, depois de ouvir a historia dos


dois rapazes bébados, quis conferí-la e fot até a igreja. Quando chegou no
templo, tentou avisar algumas pessoas e foi colocada para tora. Com base
nesse depoimento, o procurador de justiga José Caleiro Filho pedia abertura
de inquérito contra o "hispo" Edyr Macedo e sua igreja por crimes de charlata
nismo, curanderismo e estelionato.

Os policiais que investigam o caso suspeitam que muitas pessoas sao


contratadas com essa finalidade e que esse esquema funcionou nos dois cul
tos no domingo - no estadio do Pacaembu, em Sao Paulo, e no Maracaná, no
Rio -, quando a Igreja Universal do Reino de Deus conseguiu arrecadar cerca
de US$ 1 milháo em contribuicóes que variavam entre Cr$ 500,00 e Cr$ 10
mir.

4. A Compra da Rede Record

Muito se comentou também a aquisigáo da rede Record de televi-


sáo, que custou US$ 45 milhóes.

O pagamento desta quantia ao Sr. Silvio Santos e á familia Macha


do de Carvalho fez-se nio somonte á custa de arrecadacóes e campanhas
entre os crentes nos templos da "Igreja", mas, ao que parece, também
mediante recursos suspeitos.

Além de vender carros e outros bens, os pastores da "Igreja", se


gundo se diz, foram buscar dólares na Colombia, resultantes do tráfico de
drogas. A versáo dos fatos é a seguinte, conforme a repórter Kassia Cal-
deira:

Em dezembro de 1990 o Sr. Edir Macedo estava em apuros para


pagar a segunda prestacSo de US$ 5 milhóes aos propríetários da Re-

228
cord. O problema foi finalmente resolvido em meados do mes: no dia
12/12/90 a Igreja Universal fretou um jato da Líder Taxi Aéreo com desti
no a Bogotá. O vóo saiu do Galeáo (Rio), levando quatro casáis e mem-
bros da Igreja Universal: o pastor Carlos Magno de Miranda e esposa, o
pastor Honorilton Gongalves e esposa, o pastor Ricardo Cis e esposa, e
Randal Ferreira de Brito com a esposa. Aos pilotos do jatinho foi dito que
se tratava de viagem missionária, Chegados a Bogotá, ficaram dois dias
no Hotel Hilton Internacional; o mensageiro que os pastores esperavam,
só apareceu no segundo dia, quando entregou urna pasta com US$ 450
mil dólares. Os dólares foram distribuidos entre os bolsos, sapatos e rou-
pa Intima, para que todos pudessem sair do país. Deixaram o Hotel de
madrugada rumo ao Aeroporto de Bogotá. O jatinho pousou finalmente
no Rio de Janeiro. Carlos Magno de Miranda e sua esposa tomaram ¡me
diatamente a ponte aérea para Sao Paulo...

Referindo-se a essa viagem, Carlos Magno de Miranda, que deixou


a IURD, observou: "Aquele periodo foi o mais dramático da minha vida...
Fico pensando como é difícil ser honesto neste país)" E ainda: "Eu sai da
Igreja, porque quero ser honesto. Quero minha vida limpa, como sempre
tive".

Mais ainda diz Carlos Magno:

"Urna pessoa bem paga pelo bispo no aeroporto do Galeáo e de Gua-


ruihos passa caixas e mais caixas de equipamentos sem nota fiscal para o
bispo. A Record e as radios Copacabana e Ipanema, além de um estudio de
gravagáo no 175 andar do predio das radios, estño chelas de equipamentos
sem nota fiscal. Numa viagem de volta de Israel, varios casáis tiveram os
passaportes retidos porque estavam com equipamentos sem nota. O bispo
pagou os agentes e libertou os passaportes de seus pastores e mutheres, que
nSo podiam dizer que eram pastores ou que o conheciam" (JT 05/04/91, p.

Ocorre também outro fato misterioso: a TV Record tinha urna divi


da de US$ 2,5 milhdes para com o Banespa, divida que Edir Macedo as-
sumiu ao comecar o pagamento da Record. Ora um ano após iniciado o
processo de pagamento, a divida fora perdoada á TV Record pelo Banes
pa, favorecendo assim o Sr. Edir Macedo. O Governador Orestes Quércia
esteve envolvido na negociata, de modo que interesses políticos também
entraram em jogo. Os observadores, porém, acham estranho que o Ba
nespa tenha desistido da cobranca da quantia que Ihe competía e que era
dinheiro público.

229
38 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 360/1992

Em suma, lé-se aínda no JT de 04/04/91 que havia entao 97 pro


testos contra a Igreja Universal distribuidos em oito cartórios. Eis algu-
mas das acóes judiciais contra empresas de Edir Macedo:

1. Medida cautelar Inominada (5« Vara Civel); Promocáo Acáo de


Propaganda e Promocóes;

2. Exibicáo Judicial (202): Editora Zebráo de Ouro;

3. Arresto (112): Radio e Televisáo Bandeirantes;

4. Sumarfssima (I3): Sergio Pascoal;

5. Reconvenció (99): Al Di La Comunicacóes e Paulo Roberto Ma


chado Barbosa;

6. Precatória (3-): Antonio Carlos Fernandos de Jaú;

7. Sumarlssima |23): Antonio Lourenco e Leonor Fomaroli Louren-


co;

8. Acidente de Trabalho (23 Vara de Acidentes de Trabalhol...

Conta aínda a imprensa que a IURD tentou comprar a igreja cate


dral de Novo Hamburgo (RS) em setembro de 1990. Cf. JT 30/11/90, p.
17.

Consta outrossim que Edir Macedo quis fundar um Partido político,


pelo qual ele se candidataria a presidente da República. Alias, a IURD tem
conseguido eleger alguns deputados e vereadores.

Pode-se admitir que nem todas as noticias veiculadas em desabono


de Edir Macedo e sua obra sejam exatas; alguns casos obscuros podem ter
sido legítimamente esclarecidos. Como quer que seja, é impressíonante o
fluxo de dinheiro e o rápido crescimento da IURD, sugerindo ao Delega
do Eldo Garcia o seguinte comentario: "É muito dinheiro para vir apenas
da contribuicáo dos fiéis". Edir Macedo gosta de conforto em troca do
seu zelo: "Podendo ter um carro estrangeiro, eu vou té-lo... Isso de for-
. ma alguma denigre a minha imagem. Nos damos o melhor. Podemos vi-
ver do melhor" (FSP 20/06/91, p. 1 -12).

As noticias até aqui consignadas suscitam algumas reflexóes.

230
IbKtJM UINIVcnOML uu ncniu ul

5. Refletindo...

Sao quatro as ponderales que podem vlr ao caso.

S.1. O conceito de ReligiSo

Verifica-se que o grande interesse da Igreja Universal e de denomi


nares congéneres é o servico ao homem. Assim faz-se da Religiáo um
sistema mágico de solucáo dos mais diversos problemas do individuo;
cria-se um novo tipo de "Pronto Socorro" - o religioso. Este pode reali
zar aparentes prodigios mediante a sugestáo movida por temas religio
sos (sempre muito penetrantes).

O culto a Deus em adoracáo e louvor torna-se secundario; quando


ocorre, é funcáo de pretensas curas e facanhas "portentosas".

Ora Religiáo 6, antes do mais, ligacáo do homem com Deus; tem


por objetivo primeiro adorar e glorificar a Deus porque Ele é santo e infi
nitamente sabio e bom, independentemente deste ou daquele feito ex
traordinario. É o que o Pai Nosso ensina, propondo em suas tres pri-
meiras peticóes um olhar para Deus Pai, cuja glorificacáo é um anseio do
orante; depois é que vém as peticóes relativas ao homem, enquanto é fi-
Iho de Deus, tendente á Casa do Pai através das estradas desta vida.

É para desejar que se guarde entre os cristáos a auténtica concep


to de Religiáo teocéntrica, e nao antropocéntrica.

5.2. Milagros

O milagro nao é simplesmente urna demonstracáo (show) da Oni-


poténda Divina. É um fato inexplicável pela ciencia e realizado por Deus
como sinal ou como resposta a urna situagáo perplexa e a urna prece
humilde. É preciso distingui-lo bem de fenómenos parapsicológicos, que
também impressionam os sentidos, mas que tém explicado meramente
natural, pois, em grande parte, resultam da sugestáo. A Religiáo é um
fator de grande influencia sobre as faculdades do homem ou de grande
poder sugestionador. Daí realizarem-se falos extraordinarios ñas sessóes
da IURD; nao podem ser «dos, sem mais, como milagros; para poder
avaliá-los coritamente, seria preciso submeter a criterioso exame médi
co as pessoas beneficiadas, a fim de se terem os indicios de cura real, ra
dical e duradoura.

231
40 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 360/1992

A populacáo brasileira, carente de recursos económicos que Ihe


possibilitem consulta médica, é propensa a procurar, o curandeirismo,
que pode trazer alfvio mediante a sugestáo, mas por ceno nao cura {ao
contrario, enquanto a pessoa enferma suspende seu tratamento, a doen-
ca continua a minar-lhe o organismo). É, em grande parte, este fator que
explica o sucesso e a propagacáo da IURD. Além disto, a falta de senso
crítico e a pouca instrucáo religiosa de muita gente concorrem para au
mentar a clientela de Edir Macedo.

Para contrabalancar estes males, impóe-se urna elevacáo do nfvel


cultural e da formacáo religiosa de nossa populacáo; urna pessoa instrui
da e consciente das verdades da fé nao se deixa arrastar fácilmente pela
teatralidade e o caráter emocional das sessóes da IURD.

5.3. Dinheiro

O dinheiro é necessário para a construcáo de qualquer obra - reli


giosa ou profana - no mundo de hoje. Todavia nao se deve fazer dos do
nativos em dinheiro urna especie de preco de milagres e favores de Deus.
A oferta de dinheiro no culto divino tem valor simbólico; ela deve signifi
car a fé e o amor com que o doador se entrega a Deus. Mas nao se deve
jogar com dinheiro na igreja como num super-mercado, onde há o pe-
gue-pague.

O incentivo a dar mais e mais dinheiro para receber maiores e


maíores beneficios de Deus deturpa o sentido da doacáo. A fé e a entrega
a Deus podem existir no coracáo do fiel, mesmo que este nao dé dinhei
ro; é para esses sentimentos interiores que Deus olha; eles tém pleno
valor quando sao sinceros, independentemente de sua exteriorizacáo.

O dfzimo é costume vigente no Antigo Testamento. - Caiu em de


suso, por se tornar freqüentemente inexeqüfvel. O que se requer, é que
cada cristáo tome consciéncia de sua responsabilidade pessoal frente ao
culto e ao sustento da vida da Igreja e se desempenhe na proporcáo de
suas possibilidades. Em nossos dias, o dizimo mitigado vem sendo res
taurado em varias paróquias do Brasil e do mundo.

5.4. Demonios e orixés

1. A fé católica professa a existencia dos demonios ou anjos que


cairam no pecado de soberba. O Senhor Ihes concede agir neste mundo
para acrisolar a virtude dos homens, provocando-Ihes a tentacáo; nao sao

232
umvcnaML uu nciiNV uc ucuoi

antideuses, mas criaturas do único Deus, que só atuam na medida em


que o Senhor Ihes permite agir. O que os demonios procuram, é a ruina
espiritual dos homens ou o pecado.

0 Evangelho atesta a possessáo diabólica ou estados em que o Ma


ligno toma posse das facutdades do individuo e o leva a blasfemar e de
safiar a Deus. Tais casos háo de ser cuidadosamente diagnosticados para
nao serem confundidos com situacóes mórbidas ou psicopatológicas; há,
sim, doencas nervosas que deixam o paciente em estado convulsivo e
deprimente; sejam tratadas pela medicina e nao por exorcismo. 0 exor
cismo supóe a averiguacáo dos sintomas de possessáo - o que ocorre
raramente. Nao se deve aplicar o exorcismo a pessoas que sofrem, sim-
plesmente porque estáo sofrendo as desgranas da vida; a infelicidade no
casamento, na economía, na profissáo, na saúde, no estudo... ocorre sem
a ¡ntervencáo do Maligno e deve ser contrabalancada por vias racionáis e
pela oracao; quem aplica o exorcismo, afirma indiretamente algo que nao
existe, e agrava a situagáo da pessoa que sofre, pois a apavora e intimida,
dando-lhe a crer que "realmente" está possessa do demonio (o que ge-
raímente é falso).

2. É de notar ainda que os demonios reconhecidos pela fé católica


náoequivalem aosorixásou ásentidades maléficas das religióes afro-bra-
sileiras. Estas entidades sao tidas como semideuses ou como espíritos
desencarnados, ao passo que os anjos maus sao meras criaturas... cria
turas que nunca viveram em corpo humano. Nao é rara, entre católicos, a
confusáo entre demonio e pomba-gira ou entidade semelhante.

Edir Macedo e outros pastores da IURD sao propensos a tal confu


sáo porque passaram pelas religióes afro-brasileiras, onde lidaram com
as supostas "entidades"; passando para o protestantismo, identificam
erróneamente esses Seres "Superiores" com os anjos maus da Biblia.'

6. Conclusáo

O fenómeno da Igreja Universal do Reino de Deus póe em relevo


alguns pontos importantes:

1) A urgente necessidade de formacáo doutrináría para os


fiéis católicos, a fim de que saibam discernir o certo e o errado em
materia de fé. A pouca instrucáo religiosa é um fator de anemia espiritual
do povo de Deus;

2) o poder da manipulacio religiosa. O senso místico está


profundamente arraigado em todo homem e, quando provocado, é capaz
de realizar facanhas extraordinarias;

233
42 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 360/1992

3) o abuso dos valores cristáos que está sendo feito por "pre-
gadores" do Evangelho, que multiplicam suas "Igrejas" (as quais nao sao
a Igreja de Cristo mencionada em Mt 16,18). Ai pontificam, ganhando
muito dinheiro e granjeando cargos eletivos as custas dos votos dos seus
seguidores. O Cristianismo tem suas raizes em Jesús Cristo, que fundou
urna só Igreja ("a minha Igreja", Mt 16,18), á qual Ele prometeu assistén-
cia ¡ndefectfvel até o fim dos séculos (cf. Mt 28,19s); fora dessa Igreja fun
dada por Cristo, há associacóes humanas, apoiadas no subjetivismo dos
seus fundadores, aptas a iludir a boa fé da gente simples.

Que a historia contemporánea se torne alerta e licáo para os fiéis


católicos, chamados á Evangelizado 2.000!

(continuagáo da p. 240):

para salvar os homens... Cai no relativismo religioso, fazendo da relígiáo


urna atitude sentimental e cega, e nao a adesáo á Verdade; ora a perda de
identidade da religiáo vem a ser o fim da mesma. Em suma, nao é possí-
vel dialogar com a Nova Era, pois ela nao tem claras definicóes, nem ten-
cionar dialogar, mas simplesmente sobrepujar e apagar as crencas reli
giosas tradicionais.

?. Todavía nao podemos deixar de ver em New Age a expressáo


do eterno senso religioso do homem; "achatado" pelo materialismo da
vida cotidiana, o ser humana replica e reafirma sua índole religiosa, que
Ihe é congénita. Apenas é de lamentar que essa reafirmacáo da religiáo
esteja dissociada das luzes da razio; estas a impediriam de cairem deva-
neios fantasiosos e absurdos. New Ageassim se ressente do antiintelec-
tualismo vigente em nossos dias em materia religiosa... para nao dizer:...
em áreas que nao sejam as ciencias exatas. A mística, que se volta para a
experiencia de Deus, precisa da orientacáo da inteligencia para nao dege
nerar; a inteligencia é um dom de Deus ao homem nao somente para que
cultive as ciencias exatas, mas também para que procure elevar-se ao
Criador de maneira lúcida e proficua.

Como quer que seja, Nova Era vem a ser indiretamente um apelo
aos fiéis católicos para que tomem renovada consciéncia de que o mundo
contemporáneo, por mais ateu que pareca, é altamente sensível aos va
lores místicos, que ele nao sabe onde encontrar. O pulular de seitas e
correntes religiosas, inclusive a Cabala, o Taró, o I Ching..., é testemunha
dessa procura transcendental... Possam os fiéis católicos ter a formacáo
doutrinária necessária para responder ao desafio presente e atender aos
apelos dos irmáos que procuram a Deus "ás apalpadelas" em meio á pe
numbra desta vida (cf. At 17,27)1
Estéváo Bettencourt O.S.B.

234
Mais urna vez:

NOVA ERA E SUAS FACETAS

Em sfntese: A Nova Era (New Age)é ummovimentoreligtososincre-


tista, com predominancia das religides orientáis. Professa o monismo panteísta,
a reencamagáo, a vinda próxima de um avalar ou representante da Divindade
(que é chamado "Jesús Cristo" ou também Maitreya). A Nova Era Ora $eu
nome da presumida passagem do Sol para a casa zodiacal do Aquário, após
ter estado na casa do Pelxe. Visto que o Pelxe significa o Cristo na simbologia
antiga, o ultrapassamento do signo de Peixe significa, para Nova Era, ofímdo
Cristianismo.

Os seguidores dessa corrente nSo tém um chefe nem um governo cen


tral nem urna sede oficial, mas apenas núcleos esparsos nos quais se con-
centram pensadores de New Age. Este Movimento também tem seus tera
peutas ou curandeiros e seus médiuns, que recebem por channeling (ca-
nais) comunicares atribuidas a Entidades Superiores.

Em suma, Nova Era 6 urna expressSo do senso religioso do homem


contemporáneo, "achatado" peto materialismo da vida moderna. É faino, po-
róm, porque desorientado e fantasioso, desprovido das luzes da razio. Trata
se de sentimentos religiosos cegos e descontrolados, compatfveis com gra
ves fainas de ordem moral.

O fiel católico vé nisso um apelo a mais consciente e convicta "Nova


Evangelizado", como a apregoa o Papa Joáo Paulo II.

As concepcóes de "Nova Era" (New Age) já foram abordadas em


PR 354/1991, pp. 518-526. Voltamos ao assunto com novos esclareci-
mentos, dado que "Nova Era" interpela constantemente o público com
seus impressos, seus discursos e seus símbolos..., deixando muítas pes-

235
44 "PERGUNTEE RESPONDEREMOS" 360/1992

soas confusas, dado que se trata de um movimento complexo e variega-


do.

Desde já pode-se notar que "Nova Era" é um fenómeno que desa


fia os prognósticos de sociólogos e fenomenólogos da década de 1960,
quando se proclamava a "morte de Deus"; a secularizado ou a dessacra-
lizacáo, a laicizacáo da vida pública levavam a prever a marginalizacáoe,
por fim, o desaparecimento da Religiáo no mundo. A "profecía" nao se
cumpriu: nos últimos anos tem-se contemplado o surto de novas formas
de religiosidade; nao repetem o Cristianismo tradicional, mas, ao lado de
elementos cristáos, professam tradicóes orientáis (da india, do T¡bé...)
e traeos do espiritismo, do gnosticismo, do esoterismo... Dentre esses
movimentos novos, destaca-se, certamente, "Nova Era" pela abrangén-
cia de suas crencas e de suas pretensóes.

Examinemos de perto o que seja essa corrente "mística".

1. Nome e surto da "Nova Era"

O nome é assaz sedutor. Oecorre do fato de que o homem contem


poráneo está cansado ou decepcionado por quanto tem experimentado
no século XX: o otimismo derivado do progresso da ciencia e da tecnolo
gía foi duramente golpeado por duas guerras mundiais (1914-18 e
1939-45). Sobreveio urna relativa prosperidade no Ocidente Europeu e na
América do Norte, com avancos tecnológicos e a procura crescente do
prazer físico... Isto, porém, nao bastou para responder aos anseios do
homem ocidental: em meio ao progresso material sentiu, e senté, a ne-
cessidade de saber por que e para que vive, luta e sofre; a ciencia nao foi
capaz de Ihe responder. O recurso as drogas e aos paraísos artificiáis
também foi frustrativo. Daí a procura de correntes "místicas" aptas a por
o homem em contato com o misterio: ocultismo, teosofía, espiritismo,
religióes orientáis... Destas fontes o homem contemporáneo espera algo
de novo, que tome o lugar dos vetustos valores do século XX.

Ocorre aínda a concepeáo (que a auténtica ciencia ignora, mas que


a astrologia, pretensa mística, professa) de que a era zodiacal do Peixe
está para ceder a nova era, dita "do Aquário". Afirmam os astrólogos
(nao os astrónomos) que, sempre que o Sol muda de sinal no Zodíaco
(em virtude da precessáo dos equinócios}, ocorrem mudancas radicáis no
setor da cultura humana, especialmente na religiáo. Assim em 4320 a. C,
dizem, o Sol entrou na casa zodiacal do Touro: nesse período floresce-
ram as religióes do Egito, de Creta e da Mesopotámia, cujo emblema era
o touro. No ano de 2160 a. C. o Sol penetrou na casa zodiacal do Ariete e,

236
IMUVA bHA b SUAS hAlfc I AS 4!)

como dizem os astrólogos, surgiu a religiáo israelita, cujo símbolo era o


vitelo1. Aos 21 de marco do ano 1 da era crista, o Sol entrou no signo zo
diacal do Peixe e apareceu o Cristianismo, cujo símbolo é o Peixe2.

Ora, dizem os astrólogos, em 2160 o Sol entrará na casa zodiacal do


Aquário; comecará entáo uma Nova Era, caracterizada pela fartura,... far-
tura principalmente de doutrinas esotéricas, que teráo no Evangelho de
Sao Joáo "o Evangelho do Aquário" (pois se diz que é essencialmente
esotérico); o nome 'Aquário" implicará uma efusSo de gracas e luzes so
bre o mundo. Desaparecerá a religiao crista, e surgirá uma nova religiáo
mundial, síntese das anteriores e promotora de amor, concordia e felici-
dade. O retorno de Cristo inaugurará essa nova era, nao, porém, o Cristo
do Evangelho, mas Cristo-avatar (budista), que poderá ter o nome de
Maitreya.

A Nova Era nao é preparada por uma pessoa ou um grupo, mas


por "suave conspirado" de muitas pessoas e muitos grupos, que se
sentem sufocados por velhas instituicóes e Moral antiquada e, por isto,
propóem uma nova espiritualidade, rica de revelacóes dos Seres supe
riores. Todos os homens sao convidados a entrar nessa "suave conspira-
cao", para criarem juntos um mundo novo, pacífico e fraterno, como ne-
nhuma outra ¡nstituicáo conseguiu realizar até hoje.

A "suave conspiracáo", já em curso, parece estar mobilizando mi-


Ihóes de pessoas, ligadas entre si pela aspiracáo a noyidade, sem que te-
nham um chefe ou fundador proprlamente dito, nem sede social nem li-
vro que defina as doutrinas do Movimento nem um corpo de artigos que
Ihe dé estrutura. Pode-se apenas dizer que Nova Era teve origem no ini
cio da década de setenta na California, como conseqüencia do vazio dei-
xado pelos mitos do progresso e do consumismo e em virtude da sede de
mística e de valores transcendentais (mal formulados). Como primoiros
referenciais do novo Movimento estavam as religióes orientáis (que
muitos gurús da india e mestres do Japáo levaram para os Estados Uní-

1A religiSo israelita, na verdade, cormgou no secuto XIX a. C, com


AbraSo, e teve seu legislador principal - Moisés - no secuto XIII a. C. Ade
máis sábese que o vitelo nao era símbolo da religiáo judaica; fol, certa vez,
confeccionado no deserto do Slnai, em desobediencia aos preceitos da Leí; cf.
Ex 32,1-6.

2ICHTHYS, peixe em grego, reúne as tetras Iniciáis de uma profíssáo


de fó: lesous CHristos THeou Yiós Sotar, o que quer dizer: Jesús
Cristo, Fttho de Deus, Salvador.

237
46 "PERGUNTEE RESPONDEREMOS"360/1992

dos, difundindo a Yoga, a Meditacáo Transcendental, Haré Krishna...) e as


culturas alternativas: entre estas, a "cultura" híppy ou dos "filhos das
flores", a dos psicodélicos, que, mediante o ácido Itoérgico, a marijuana, a
cocaína..., pretendiam descobrir os misterios do subconsciente e realizar
viagens a paraísos artificiáis, o esoterismo com seus "segredos" renova
dos, as medicinas alternativas, o espiritismo sob a sua nova forma de
channeling (cañáis de comunicacáo com o além), o feminismo (que teve
seu berco nos Estados Unidos), o ecologismo, o pacifismo, a psicología
das profundidades de Cari Gustav Jung com seus arquetipos ou suas
imagens fundamentáis.

Como se vé. Nova Era é um amalgama de ¡déias, aspiracóes e mo-


vimentos diversos, de índole fortemente sincretista. Daí a dificuldade de
a definir com precisao. Nao obstante, podem-se detectar algumas notas
marcantes desse Moví mentó, como passamos a examinar.

2. Traaos distintivos

Indicaremos cinco notas típicas da Nova Era.

2.1. Holismo ou Organicidade do Universo

A Física clássica de Newton, com seu modelo mecanicista, tinha o


universo na conta de ¡mensa máquina, cujos elementos se mantém em
equilibrio mediante interacio constante. Ora a Nova Era adota o modelo
holístico, mais recente, professado pela Física atómica e subatómica: o
universo nao constaria de partículas, mas de ondas de energia, que cons-
tituem um todo (hólon, em grego) como urna rede de ligacóes e inter
dependencias; quanto mais alguém aprofunda a realidade, dizem os bo
listas, tanto mais faz a experiencia da unidade do todo,», unidade na qual
se confundem sujeito e objeto. O homem seria parte desse todo, partici
pando da vida orgánica do conjunto, sem poder sair dele como observa
dor neutro ou sujeito independente.

New Age, baseando-se nessas premissas, afirma que Deus e o


mundo, o espirito e a materia, a inteligencia e os sentimentos, o dentro e
o fora, o céu e a térra sao urna ¡mensa vibracáo energética, onde todas as
diferencas sao apenas aparentes, e nao reais.

2.2. Tónica ñas religióes orientáis


*

Embora seja sincretista, o Moví mentó da Nova Era prefere as teses


das religióes orientáis (que geralmente sao panteístas, monistas ou ho-

238
NUVA bKA t SUMS

listas) sos artigos de fé do Cristianismo. Isto bem se entende, visto que o


Cristianismo afirma a transcendencia de Deus em relacio ao mundo e ao
homem; Deus entra em diálogo com o homem, mas nao é o homem. O
Cristianismo possui um Credo definido, evitando o sincretismo religioso.

A Nova Era, apoiando-se no seu monismo panteísta, propala nao


somente os exerclcios da Yoga e da Meditacao Transcendental; ela incita
os seus adeptos a fazer experiencias ditas "transpessoais", segundo as
quais o eu se dilata de modo a sentir-se urna coisa s<5 com a consciéncia
universal e a Energía Cósmica; tais experiencias possibilitariam ao ho
mem entrar em contato com pessoas muito distantes, até com defuntos e
seres extra-terrestres. Geram sentimentos de feiicidade (como dizem), de
plenitude e de paz interior; podem ser estimuladas pelo uso de drogas e
pelo incentivo direto do cerebro (biofeedback).

Também sao estimulantes das experiencias místicas de New Age a


música, a danca e as artes em geral, que sao amplamente cultivadas pela
corrente. Compreende-se a estima da música: esta consta de vibracSes, o
que condiz com a concepcáo de que o universo consta de movimentos
ondulatorios.

2.3. 0 channeling e o Esoterismo Gnóstico

Channeling (de channel, canal, em inglés) é a forma mais recente


do espiritismo: o médium faz as vezes de channel, canal; recebe men-
sagens nao de defuntos ou de espfritos desencarnados, mas, sim, de en
tidades superiores (a Divindade? Cristo? Os anjos? Fadas? O inconsciente
coletivo?). O manual mais utilizado pela Nova Era a tal propósito chama
se A Course in Mirados, cuja mensagem dizem ter sido recebida do
próprio Jesús Cristo pelo channel Helen Schuhman entre 1965 e 1972;
sería um "novo Evangelho". Alias, dizem os adeptos de Nova Era, todo
homem pode ser channel mediante o qual cada parte do único Ser se
comunica com as restantes partes do mesmo Ser, pois todo homem é
apenas urna faceta da Única Mente ou da única Realidade.

Com esta concepcáo combinam-se resquicios da Gnose ou do


Gnosticismo dos primeiros séculos da nossa era: o homem possui, con-
génita, urna centelha da Divindade que o torna familiar ao Todo Divino
(que é o Universo); o programa de vida de todo individuo humano con
siste em ultrapassar os limites do seu eu pessoal para mergulhar na tota-
lidade da Energía Divina ou do Cosmos. Tal Energia é a Consciéncia Uni
versal e Absoluta; quando o homem rompe os limites da sua individuali-
dade e reconhece a sua natureza divina, participa da Consciéncia Abso
luta. Entao está salvo.

239
48 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 360/1992

2.4. Terapéutica

A Nova Era nao deixa de ter o seu aspecto terapéutico. Tendo en


vista provocar a humanidade ao progresso espiritual, a Nova Era se in-
teressa também pela harmonia e pelo bom fundonamento do organismo
humano: consequentemente procura desenvolver o hemisferio direito do
cerebro (sede dos instintos, das emocóes, da fantasía, das ¡ntuicóes, das
percepcóes totalizantes».), harmonizando-o com o hemisferio esquerdo
(sede do raciocinio, da linguagem, do cálculo). O Ocidente parece ter cul
tivado mais o hemisferio esquerdo, caindo no racionalismo e no cientifi
cismo tecnológico, ao passo que o Oriente privilegiou o hemisferio di
reito, entregando-se mais a ¡ntuicóes e a experiencias subjetivas de felici-
dade, amor e comunháo. Promovendo os valores orientáis e os ociden-
tsís da humanidade, a Nova Era tenciona atingir urna concordia e paz
entre todos os homens nunca dantes alcancada.

Além dista, New Age se dedica também ao tratamento das doen-


;as do corpo e da alma, nao mediante a medicina convencional, mas sim
através do enfoque hollstico, que recorre ás terapias "suaves", como sao
a homeopatía e a acupuntura.

2.5. Otimismo

A perspectiva de Nova Era, de paz e felicidade, substituí a mentali-


dade pessimista e derrotista de grande parte da humanidade contempo
ránea; dal o sucesso do Movimento. Pode-se dizer que a expectativa de
Nova Era, fora do Cristianismo, corresponde á de um reino milenar de
Cristo (milenarismo) apregoada por algumas correntes cristas de nossos
dias.

A Nova Era fala do retorno de Cristo, tal como é anunciado pelo li-
vro "O Retorno de Cristo" 41948), devido a Sra. Alice Bailey (1880-1949),
teosofista e ocultista inglesa, que terá recebido revelares de um Mestre
desencarnado dito "o Tibetano"; o Cristo da Nova Era, porém, nao é o
dos Evangelhos; é o Cristo dito "cósmico, o Cristo Energia, o Espirito
crfstico universal", que se encarnou em Buda, Kríshna, Jesús de Nazaré,
Maomé, e aínda deverá encarnar-se na Térra.

3. Que dizer?

1. A mensagem de New Age é de ponta-a-ponta contraria á men-


sagem crista. Nega a transcendencia de Deus, a distíncáo entre espirito e
materia, a existencia do pecado, a Divindade de Jesús, Deus feito homem

(continua na p. 234)

240
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Comentario sobre o Prólogo e os capítulos 53, 58, 72,
73 da Regra 3eneditina - Traducno do alemáo por
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A Autora é professora no Pontificio Ateneu de Santo
Anselmo em Roma (Monte Aventino!. Tem divulga
do suas posquisas nao só na Aiemanha, Italia, Fran
ca, Portugal, Espanha, como também nos Estados
Unidos, Brasil, Tanzania, Coréia e Filipinas, por oca-
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latina do século VI Í480-540J - SAO BENTO -
transformou-o em excmplo vivo, em mestre e em
legislador de unn estado de vida crista, ernpenhado
na procura crescente da face e da verdade de Deus,
espelhada na trajetória de um viver humano renas-
cido do sangue redentor de Cristo. - Assirn, o discí
pulo do Sao Bento ouve o chamado para fazer-se
monge, para assumir a "profissáo de monge".

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gem, positiva e atraente. O üvro pode ser considerado urna introdu-
cáo clara e completa a mística San Juanista.
Traeos psicológicos da alma e notas da santidade do Mestre do
Amor estáo delineados, como também os principáis eventos da sua
vida.
Em capítulos especiáis estuda-se a identidade doutrinária de
Sao Joáo da Cruz com Sao Tomás de Aquino, Santa Teresa e Sao
Bento.
É focalizado o sentido tradicional e ortodoxo do pensamento
do Santo. Por ser "de alcance universal" a doutrina de Sao Joáo da
Cruz é válida para todos os cristios, leigos e religiosos. Essa doutrina
nao está ultrapassada. Afirma, Joáo Paulo II: "A Sua doutrina (de
Sao Joáo da Cruz) é sempre atual".
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