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Projeto

PERGUNTE
E
RESPONDEREMOS
ON-LINE

Apostolado Veritatis Spiendor


com autorizagáo de
Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb
(in memoriam)
APRESENTAQÁO
DA EDIpÁO ON-LINE
Diz Sao Pedro que elevemos
estar preparados para dar a razáo da
nossa esperanca a todo aquele que no-la
pedir (1 Pedro 3,15).

Esta necessidade de darmos


conta da nossa esperanga e da nossa fé
hoje é mais premente do que outrora,
visto que somos bombardeados por
numerosas correntes filosóficas e
religiosas contrarias á fé católica. Somos
assim incitados a procurar consolidar
nossa crenga católica mediante um
aprofundamento do nosso estudo.

Eis o que neste site Pergunte e


Responderemos propóe aos seus leitores:
aborda questóes da atualidade
controvertidas, elucidando-as do ponto de
vista cristao a fim de que as dúvidas se
dissipem e a vivencia católica se fortaleca
no Brasil e no mundo. Queira Deus
abencoar este trabalho assim como a
equipe de Veritatis Splendor que se
encarrega do respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.

Pe. Esteváo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

Celebramos convenio com d. Esteváo Bettencourt e


passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
conieúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte e
Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicacáo.

A d. Esteváo Bettencourt agradecemos a confiaga


depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e
zelo pastoral assim demonstrados.
responderemos
LO

< SUMARIO
i-

Sancoes Dentro da Igreja


co
LU

° "A Missao do Redentor" de Joao Paulo II


t-

LU
-> O Sacramento da Reconciliacao
O

<" Síndrome Pós-Aborto

"* "Ética Biomédica"


co

O
LT
Q.

ANO XXXII HH JULHO 1991 HZ 350


PERGUNTE E RESPONDEREMOS
Publ ¡cacao mensal JULHO - 1991
N?350

"Oiretor- Resporttavsl:
Estévao Bettencourt OSB SUMARIO
Autor e Redator de toda a materia
publicada neste periódico
Sancóes dentro da Igreja 289
Diretor-Administrador:
Um brado candente:
O. HMdebrando P. Martins OSB
"A Missao do Redentor"
Admintstracao e distribuicáo:
de Joao Paulo II 290
Edicóes Lumen Christi
Histórico e significado de
Dom Gerardo. 40 - 5? andar. S/501
Tel.: (021) 291 7122
O Sacramento da Reconciliacáo 304
Caixa Postal 2666
Queéa
20001 - Rio de Janeiro - RJ
Síndrome pós-aborto? 322

ImprsssSo c Encade-nacáo
Informativo útil:
"Ética Biomódica"
por Sandro Spinsanti 329

' MARQUES-SARAI\ A m
GRÁFICOS E EDITORES S A
Tels (02W73-9498 -i'} í>«7

NO PRÓXIMO NÚMERO

A Ressurreicao de Jesús. - A Cruz, Sinal do Cristáb. - Síndrome Video-


compulsiva. - Recuo do Sol em 2Rs 20, 1-11 ? - A Igreja "clandestina" na
Tchecoslováquia. - Cristas suecas e beneditinas.

COM APROVACÁO ECLESIÁSTICA

ASSINATURA ANUAL (12 números): Cr$ 3.000,00 - Número avulso ou atrasado: Cr$ 300,00

Pagamento (á escolha)
1. VALE POSTAL á agencia central dos Correios do Rio de Jane.ro em ..orne de Edi-
coes "Lumen Christi" Caixa Postal 2666 - 20001 - Rio de Janeiro - RJ.
2. CHEQUE NOMINAL CRUZADO, a favor de Edicoes "Lumen Christi" (enderece
ácima).

3. OR0EM DE PAGAMENTO, no Banco do Brasil, conta N? 31.304-1 em nome do


Mosteiro de Sao Bento. pagável na agencia Praca Mauá/RJ N° 0435-9. (Nao enviar
através de DOC ou depósito instantáneo - A ¡dentif¡cacao é difícil).
'(«-"TI

Sampóes Dentro da lgreja[ A.l


Há quem estranhe a aplicacao de punzóes dentro da Igreja, poís Cristo
terá fundado "o reino da líberdade" (Fábio Konder Comparato). A propósi
to impoem-se algumas ponderacóes:

1) A Igreja nao é uma sociedade civil liberal, na qual tém os mesmos


direitos os que pensam coisas opostas. O Estado liberal nao tem filosofía ofi
cial, de modo que dá livre curso a todas as escolas filosóficas.

2) A Igreja é, sim, o povo de Deus (Lumen Gentium c.2). Neste povo


existe uma igualdade fundamental entre todos os membros. Todávia dentro
desse povo o próprio Deus instituiu ministerios e servicos. diversos. É o Se-
nhor quem chama e atribuí a cada um as suas tarefas. Daí a hierarquia com
seus ministerios, destinados a prover ao bem comum.

3) Por conseguinte, os pastores na Igreja nao recebem do povo a sua


autoridade, como numa democracia, mas recebem na do próprio Deus. Eles
exercem uma funcao sacramental, pois a Igreja é um sacramento, isto é,
uma realidade visi'vel pela qual passa a acao santificadora do próprio Oeus.

4) A hierarquia tem por funcao principal apascentar o povo de Deus,


transmitindo-lhe íntegro o patrimonio do Evangelho ou.a Doutrina e a
Moral ensinadas por Jesús Cristo. — A hierarquia tem estritá obrigacáo de
assim zelar pelo bem comum; se ela permite que o patrimonio se deteriore,
é gravemente culpada diante de Deus. pois o que a Igreja ensina nao sao
postulados humanos, mas a santa e vivificante Palavra de Deus.

5) Por isto, entende-se que, quando alguém, dentro da Igreja, contra-


diz aos ensinamentos do Senhor e faz seu magisterio próprio, destruindo o
tesouro da fé e desedificando o povo de Deus, a autoridade da Igreja tem
nao somente o direito. mas a obrigacao, de chamar a atenpao desse irmfo
inquieto e trazé-lo ao bom caminho mediante sanpoes.

6) Isto nao significa tolher a líber dade. Se o irmao recalcitrante quer


continuar a ensinar o contrario do que Jesús Cristo pela Igreja ensina, con
tinué a fazé-lo, mas saia da Igreja. Se alguém está dentro da Igreja e trabalha
contra ela, é incoerente. Toda sociedade tem o direito e o dever de defender
a sua identidade aplicando sancoes a quem a dilapide. Em linguagem popu
lar, dir-se-ia: "Se alguém é socio do Flamengo e torce pelo Fluminense, saia
do Flamengo e vá torcer livremente pelo clube de süa preferencia". Alias
o recurso a sancóes tem seu fundamento na própria S: Escritura, onde se le
que os Apostólos aplicaram punicóes aos recalcitrantes; cf. ICor 5, 3-5;
2Cor 2, 5,11; 2Ts 3, 6-15; 2Jo 10s.
Eis as consideracoes que os sinais dos tem pos nos súgerem.
E.B.

289
"PEROUNTE E RESPONDEREMOS"
ANO XXXII - N? 350 - Julho de 1991

Um brado candente:

"A Missáo do Redentor"


de Joao Paulo II

Em símese: A Encíclica Redemptoris Missio, sobre a validado perma


nente do mandato missionário, vem a ser urna calorosa exortacao dirigida a
todos os fiéis, para que assumam a tarefa de difundir a Boa-Nova de Jesús
Cristo. A tempera missionária da Igreja foi, nos últimos anos, arrefecida por
teorías relativistas e secu/aristas, que JoSo Paulo II condena. S. Santidade
lembra que todos os homens, salvos pelo sangue de Cristo, tSm o direito de
ouvir o anuncio do Evangelho: transmiti-lo e apregoá-lo nao significa violen
tar as consciSncias ou coagir os homens, pois a féhá de ser espontánea; se/a
sempre salvaguardada a liberdade religiosa que toca a toda pessoa humana. A
evangelizado do mundo ainda está no seu comeco, pois a maior parte dos
homens ainda nio conhece a mensagem evangélica; tal número cresce com
o aumento demográfico dos povos nao cristaos. Apesar dos varios obstáculos
que a evangelizado deve enfrentar em nossos dias, é de crer que o momento
é oportuno para exercé-la, pois se nota a volta do sonso religioso e a procura
do transcendental em países e grupos humanos que se deram ao materialis
mo. NSo há, pois, como perder o ánimo.

A Encíclica ó perpassada por fé árdante e otimismo confiante. O Papa


exorta os fiéis católicos ase entregaremá tarefa missionária nos diversos se-
toras em que ela se pode realizar (urbano, rural, africano, asiático, latino
americano...); "este é um caminho que conduz ao Reino e cortamente dará
frutos, mesmose os tempose momentos estio reservados ao Pai (cf. At 1 7)"-
cf. n? 57.

* * *

Aos 7/12/1990 o S. Padre Joao Paulo II publicou densa Encíclica dita


"Redemptoris Missio" (a Missáo do Redentor, RM), sobre o valor perma-

290
"A MISSÁO DO REDENTOR'

nente do preceito missionário. É documento muito realista, que fala caloro


samente aos leitores sobre necessidades fundamentáis do mundo moderno e
0 imperioso dever, dos cristaos, de Ihes responder.

A seguir, percorreremos as linhas-mestras de tal documento, destina


do, entre outras finalidades, a comemorar os 25 anos da promulgacao do
Decreto Ad Gentes (sobre as Missoes) do Concilio do Vaticano II.

1. Motivacao

A Encíclica tem por objetivo lembrar a todos os fiéis a urgencia da ati-


vidade missionária; esta ainda se encontra em seus inicios. Com efeito; se
gundo estatisticas fidedignas, dos 5.300.000.000 de habitantes do globo, me
nos de urna terca parte conhece Jesús Cristo e apenas 18'/ sao católicos. Na
Asia, onde vivem 60% da populacao mundial, apenas um pouco mais de 2'í
sao bat izados.1

1 Eis dados numéricos recentes forneados pela ONU com referencia ás eren-
fas religiosas do mundo:

Populacao total do globo: 5.300.000.000


Católicos: 902.000.000
Outros cristaos: 827.000.000
Muculmanos: 902.000.000
Hindufstas: 710.000.000
Confucionistas: 333.000.000
Budistas: 325.000.000
Judeus: 19.000.000
Sikhs: 17.000.000
Outras religioes: 265.000.000
Agnósticos: 800.000.000
Ateus: , 200.000.000

Entre agnósticos e ateus a diferenqa é pequeña. Aqueles dizem que


nao podem conhecer a Deus; nao tratam da questao "Deus". Os ateus, eti
mológicamente talando, negam a existencia de Deus.

Estatisticas relativas a 1988 revelam que o aumento global da popu


lacao naquele ano foi de 83.461.000 de habitantes; nesse mesmo período o
número de católicos aumentou de 13.184.000. Estes dados significan) que,
apesar do crescimentó em termos absolutos, a porcentagem de católicos so
bre o total da populado descresceu de 17,59 para 17,56%.

Por continentes, a popula fio católica vai crescendo proporciona/men


te na África, na Asia e na Qgeania, ao passo que na Europa e na América
decresce.

291
'PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 350/1991

Esta situacáo lembra o grito do Apostólo: "Anunciar o Evangelho, pa


ra mim, nao é título de gloria; é necessidade que me.impele. Ai de mim, se
eu nao anunciar o Evangelho!" (1Cor 9,16).

O motivo principal de repetir este brado de Sao Paulo é, para Joáo


Paulo II, a verificacao das condicoes em que se acha o mundo contemporá
neo:

"O que mais me leva a proclamar a urgencia de evangelizacSo missio


nária, é que ela vem a ser o primeiro sen/ico que a Igre/a pode prestar a to
do homem e é humanidade inteira no mundo atual,... mundo que experi
menta conquistas admiréveis. mas parece ter perdido o senso das realidades
últimas e da sua própria existencia" (rR 1).

É muito grave o problema assim apontado como paño de fundo da En


cíclica. Com efeito; a necessidade de conhecer o sentido ou o porqué e o
para qué da existencia é a mais fundamental dentre todas as que o homem
experimenta. Tal afirmacao pode ser ilustrada pelos relatos da vida nos cam
pos de concentracao: enquanto pairava ante os olhos. dos prisipneiros urna
esperanca de serem libertados, tudo aturavam heroicamente; mas, desde que
desfalecesse tal perspectiva, deixavam-se ficar física e psiquicamente prostra-
dos, apesar das pancadas, da fome e da sujeira que os acometiam. - Ora
o mundo de hoje parece sofrer, em muitas regioes, do tedio da vida, seja por
causa da inclemencia da situacáo que afeta os homens, seja por causa do ma
terialismo, que limita os horizontes e sufoca a nocao dos valores transcen
dental. Ver PR 349/1991, pp.217-276 (entrevista sobre a vida na Escandí-
návia).

É a consideracao deste quadro que leva o Papa, e deve incitar todos os


fiéis católicos, a tomar nova consciéncia do valor imperioso da evangeliza-
pao do mundo, resposta aos anseios dos homens. Ao mesmo tempo, aconte
ce que a atividade missionária mesma reforca a fé e a identidade crista dos
mensageiros: "A fé se corrobora quando é transmitida!" (n? 1).

2. Fundamentacfo teológica

Pode-se dizer que a Encíclica Redemptoris Missio abrange todos os as


pectos da vida missionária, oferecendo-se a toda a Igreja como um documen
to completo e perpassado de otimismo vibrante. Eis como ele se fundamenta
teológicamente:

2.1. Jesús Cristo, Único Salvador (n? 4-11)

O Papa aborda logo o questionamento moderno: "Aínda é atual a mis-


sao entre os nao cristáos? Nao estará, por acaso, substituida pelo diálogo ¡n-

292
"A MISSÁO DO REDENTOR'

ter-religioso? Nao se deverá restringir ao empenho pela promopao humana?


O respeito pela consciéncia e pela liberdade nao exclui qualquer proposta de
con ver sao? Nao é possível salvar-se em qualquer religiao? Para que, pois, a
rriissao?" (n? 4).

A resposta consiste em lembrar que, conforme as Escrituras, "nao há


salvacáo senáo em Jesús Cristo; nao há debaixo do céu qualquer outro nome
dadoaos homensque nos possa salvar" (At 4,10.12).

"Há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesús Cris


to Homem, que se deu em rásgate por todos" (ITm 2,5s).

De resto, anunciar o Cristo a todos os homens, quando feito no res


peito ás consciéncias, nao viola a liberdade dos homens. Estes serao sempre
livres para dizer Sim ou Nao a Cristo, como lembra a Declaracao do Conci
lio do Vaticano II sobre a Liberdade Religiosa:

"A quantos se mostram preocupados em salvar a liberdade de cons-


ciencia, o Concilio do Vaticano II responde: 'A pessoa humana tem direito
á liberdade religiosa... Todos os homens devem viver imunes de coa cao em
materia religiosa, quer da parte de pessoas particulares, quer da parte de gru
pos sociais ou de qualquer poder humano, de tal forma que ninguám se/a
obrigado a agir contra a sua consdéncia nem impedido de atuar de acordó
com ela, privada ou publicamente, só ou associado' (Declaracao Dignitatis
Humanaen.°2¿"

O respeito á liberdade de consciéncia nao dispensa de anunciar o Evan-


gelho, como se lé a seguir:

."A fé exige a livre adesao do homem, mas tem de ser proposta, já que
. as multidoes tém o direito de conhacer as riquezas do misterio de Cristo, ñas
quais toda a humanjdade — assim acreditamos — pode encontrar, numa pie-
nitude inimaginável, tudo aquilo que procura ás apalpadelas a respeito de
Deus, do homem, do seu destino, da vida, da morte, da verdade... É por isto
que a Igreja conserva bem vivo seu espirito missionário, desojando até que
ele se intensifique, neste momento histórico que nos foidado viver" (n? 8).

"A Igreja dirige-se ao homem no pleno respeito de sua liberdade: a


missio nio restringe a liberdade;pelo contrario, favorece-a. A Igreja propde,
nada impde; respeita as pessoas e as culturas, detendo-se dianta do sacrário
da consciéncia" (n9 39).

Segué-se agora explícitamente a resposta á pergunta: "Por que a mis-


sao?"

293
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 350/1991

"A novidade de vida em Cristo é Boa-Nova para o homem de todos os


tempos:a ala todos sao chamados e destinados. Todos, de fato, buscam-na,
mesmo se, ás vezas, confusamente, e tém o direito de conhecer o valor de tal
tíom a aproximarse dele. A Igreja, e nela cada cristao, nao pode esconder
nem guardar para si esta novidade e riqueza, recebida da bondade divina
para ser comunicada a todos os homens" (n? 11).

2.2. O Reino de Deus (n? 12-20}

Jesús anunciou a chegada do Reino de Deus prometido no Amigo Tes


tamento; cf. Me 1,14s; Mt 4,17; Le 4,43. Ele o ilustrou mediante sua prega-
cao, especialmente as parábolas (cf. Mt 13,1-44; Le 15,3-32; Mt 20,1-16).

O Reino de Deus destina-se a todos os homens e ao homem todo. Dois


gestos carácter iza m a missáo de Jesús: curar e perdoar, ou seja, o atendimen-
to no plano físico, material, e no plano espiritual.

Hoje em dia fala-se muito do Reino, mas nem sempre em consonan


cia com o sentir da Igreja; com efeito,

1) Existem concepcoes de salvagao "antropocéntricas" no sentido re-


dutivo da palavra, por se concentrarem ñas necessidades terrenas do homem.
Nesta perspectiva, o Reino passa a ser urna realidade totalmente humaniza
da e secularizada, onde o que conta sao os programas e as lutas para a líber-
tacáo socioeconómica, política e cultural, mas sempre num horizonte fecha
do ao transcendente. Sem negar que, neste nivel também existem valores
a promover, todavía estas concepcoes permanecem nos limites de um reino
do homem, truncado em suas mais auténticas e profundas dimensoes, espe-
Ihando-se fácilmente numa das ideologías de progresso puramente terreno.
O Reino de Deus, pelo contrario, nao é deste mundo... (Jo 18,36).

2) Existem também concepcoes que se dizem "re i noce ntr ¡cas". Pre-
tendem pdr de lado Cristo e a Igreja para formular um anuncio que seja acei
tave I por todos os homens que simplesmente creiam em Deus. Assim cristaos
e nao cristaos se encontrariam num plano religioso um tanto vago, genérica
mente teocéntrico, mas unánimemente voltado para a cultura e os valores
humanos.

"Ora nio é este o Reino de Deus que conhecemos pela Revelado:ele


nio pode ser separado de Cristo e da Igreja" (n? 18).

"É verdade que o Reino de Deus exige a promocao dos bens humanos
e dos valores que podem mesmo ser chamados 'evangélicos', porque intima
mente ligados á Boa-Nova. Mas essa promocao, que a Igreja também toma a

294
"A MISSÁO DO REDENTOR"

peito realizar, nao deve ser separada nem contraposta ¿s outras suas tarafas
fundamentáis, como sao o anuncio de Cristo e seu Evangelho. a fundacio e
o desenvolvimento de comunidades que atuem entre os homens a imagem
viva do Reino. Isto nao nos deve fazer recear que se possa cair numa forma
de eclesiocentrismo" (n? 19).

A Igreja é sacramento da salvacao para toda a humanidade; sua acao


nao se limita aqueles que aceitam sua mensagem. "Ela é forpa atuante no ca-
minho da humanidade rumo ao Reino escatológico; é sinal e promotora dos
valores evangélicos entre os homens. Neste itinerario de conversao ao proje
to de Deus, a Igreja contribuí com o seu testemunho e sua atividade, exprés-
sa no diálogo, na promocáo humana, no compromisso pela paz e pela justi-
ca, na educacáo, no cuidado dos doentes. na assisténcia aos pobres e mais
pequeños, mantendo sempre firme a prioridade das realidades transcenden
tes e espirituais, premissas da salvacáo escatológica" (n? 20).

2.3. O Espirito Santo. Protagonista da missao (n? 21-30)

O Espirito Santo é a alma de toda a tarefa missionária. Jesús enviou


seus discípulos a pregar a todos os povos (cf. Le 24.47) e quis assegurá-los
de que nesta obra nao estariam sos, mas contariam com a presenca e a po
tencia do Espirito Santo, além da assisténcia mesma de Jesús. Assim a mis-
sao nao se baseia na capacidade humana, mas é obra do Espirito Santo.

O Espirito Santo oferece a todos os homens os meios de salvacao:

"Se/a como for, a Igreja sabe que o homem, solicitado incessantemen-


te pelo Espirito de Deus, nunca poderé ser totalmente indiferente ao proble
ma da religiao, mantendo sempre o desejo de saber, mesmo se confusamen
te, qual o significado de sua vida, de sua atividade e de sua morte. O Espirito
está ponanto na orígem da questao existendal e religiosa do homem, que
surge nao só de situacoes contingentes, mas sobretodo da estrutura própria
do seu ser" (n? 28).

O S. Padre aproveita esta abordagem para referir-se ao Encontró entre


representantes de diversas crencas religiosas do mundo em Assis (outubro
de 1986). Sabe-se que foi por vezes mal entendido, como se implicasse rela
tivismo religioso. Joao Paulo II afasta esta ¡nterpretacao e apresenta a jus
tificativa do Encontró:

"O Espirito induz-nos a estender o olhar para podermos melhor con


siderar sua acao. presente em todo o tempo e lugar. É urna referénaa que
eu próprio sigo muitas vezes e que me guiou nos encontros com os mais di
versos povos. As retacóos da Igmja com as demais religioes baseiam-se num

295
8 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 350/1991

duplo aspecto: respeito pelo homem na sua busca do resposta ás questdes


mais profundas da vida, e respeito pela bq§o do Espirito hesse mesmo ho~
mem. O encontró ínter-religioso de Assis, excluida toda e qualquer interpre
tado equívoca, reforcou em mirn a conviccao.de que toda oracao auténtica
é suscitada pelo Espirito Santo, que está misericordiosamente presente no
corafio dos homeris" (n? 29).

3. O momento oportuno

O momento presente é, sem dúvida, muito oportuno para se empre-


ender a evangelizado do mundo. Vivemos urna época fascinante e dramá
tica... Fascinante pela prosperidade material, mas dramática, porque, em
meio ao progrésso tecnológico, o homem moderno é sequioso de respostas
para seus anseios básicos. O desmorona mentó dos regimes do Leste Euro-
peu, que prometiam o paraíso na térra, deixou muitos povos abertos a pro
postas de vida transcendental. Além do qué, registra-se urna necessidade
de interioridade, de aprender formas e métodos de oracao e meditacao;
cultiva-se (embora irracionalmente, por vezes) a dimensao espiritual da vida
como antídoto da désumanizacao; em suma, observa-se "a volta do religio
so", que vem a ser um apelo á Boa-Nova do Senhor Jesús; cf. n? 38.

4V A todos os povos, apesar das dificuldades

A tarefa de anunciar Jesús Cristo a todos os povos é ¡mensa e ultra-


passa as f oreas humanas da Igreja.

As dificuldades parecem insuperáveis e poderiam desanimar os homens


na Igreja se se tratasse de obra meramente humana. Sejam brevemente re
cordadas:

1) Certos países proibem que os missionários neles entrem. Aconver-


sao ao Evangelho é tida como falta de patriotismo e desercao em relacao á
cultura nacional.

2) Há também dificuldades provenientes do íntimo da própria Igreja,


e sao as mais dolorosas: desánimo, cansaco, falta de alegría e esperanca...
Devem-se a .urna mentalidade indiferentista e relativista, segundo a qual to
das as religiones sao equivalentes entre si (cf. n? 36). AÍguns teólogos tém
propagado este modo de pensar, valendo-se, por vezes, de textos do Conci
lio do Vaticano II mal interpretados.

3) Acrescente-se a tudo isto a descristianizacao de certos países cris-


taos, a diminuicao das vocacoes para o apostolado, os contra-testemunhos
de fiéis e comunidades cristas...

296
"A MISSAO DO REDENTOR" 9

4) Atém de tudo, observa-se que, para mu ¡tos, o conceito de Cristia


nismo vem a ser urna sabedoria moral humana, um sistema para viver hones
tamente. . . A salvacao crista" vem sendo secularizada ou reduzida aos limites
horizontais:

"A tantalio hoje é reduzir o Cristianismo a urna sabedoria meramente


humana, como se fosse a ciencia do bem viver. Num mundo fortemente se
cularizado, surgiu urna gradual secularízalo da salvacao, onde se procura
lutar, sem dúvida, pelo homem, mas por um homern dividido, reduzido úni
camente á dimensSo horizontal. Ora sabemos que Jesús veio trazar a salva-
ció integral, que abrange o homem todo e todos os homens, abrindo-lhes os
horizontes admiráveis da fíliacao divina" (n? 11).

5. "Nao nos podemos calar!" (At 4,20)

Apesar de todos os obstáculos, a Igreja exclama com os Apastólos pe-


rante o Sinedrio de Jerusalém: "Nao nos podemos calar. . . Nao podemos
deixar de falar das coisas que vimos e ouvimos" (At 4,20). Ou ainda com
Sao Paulo: "Nao me envergonho do Evangelho; é forca de Deus para todo
homem que eré" (Rm 1,16). Os mártires crista os de todos os tempos - e
também de nossos tempos — deram e continuam a dar a sua vida para teste-
munhar a fé diante dos homens, convictos de que todo homem precisa de
Jesús Cristo, vencedor do pecado e da morte.1

Acrescenta o S. Padre textualmente:

"Aqueles que estao incorporados na Igreja Católica devem conside


rarse privilegiados, e, por isso mesmo, mais comprometidos a testemunhar
a fea a vida crista como servico aos irmSose resposta devida a Deus, lembra-
dos de que a grandeza de sua condicSo nio sedeve atribuir aos próprios mé
ritos, mas a urna graca especial de Cristo; se nio corresponden! a essa graca
por pensamentos, palavras e obras, em vez de se salvamm, incorrem num
julgamento ainda mais severo" (n? 11).

É digna de nota a afirmacao muito verídica de que ser católico é gran


de graca (nem sempre reconhecida pelos próprios interessados), que há de
ser valorizada mediante um testemunho adequado; alias, é graca nio devida
aos méritos dos que a recebem, mas gratuitamente outorgada pela liberali-
dade divina.

0 Papa muito enfáticamente rejeita toda atitude de desánimo:

1 As estatfsticas dos mártires canonizados nos últimos cinqüenta anos assi-


nalam de dez a dezesseis mártires por ano, um ou mais por mis.

297
10 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 350/1991

"Ao olhar superficialmente o mundo moderno, o observador fica im-


pressionado pela abundancia de fatos negativos, podendo dgixar-se levar
oefo pessimismo".

Logo, porém, replica o Papa:

"Mas este sentímentó é injustificado: temos fé em Deus Pai e Senhor,


na sua bondade e misericordia. Ao aproximarse o terceiro milenio da Re-
denqio, Deus está preparando urna grande primavera crista, cuja aurora ¡á se
entrevé. Na verdade, tanto no mundo nSo cristao quanto naque/e de antiga
tradicao crista, existe urna progressiva aproximacao dos povos aos ideáis e
valores evangélicos, que a presenca o a missao da Igreja se empenha em favo
recer. Na verdade, manifestase noje urna nova convergencia, por parte dos
povos, para esses valores: a recusa da violencia e da guerra; o respeito pela
pessoa humana e os seus direitos; o desojo de liberdade, de justica e de fra-
teroidade; a tendencia á superacao dos racismos e dos nacionalismos; a afir-
mafao da dignidade e a valorizado da mulher" (n? 86).

Preparando-se para celebrar o jubileu do ano 2.000, toda a Igreja aínda


está empenhada num novo advento missionário; faz-se mister que os católi
cos alimentem em si a ansia apostólica de transmitir aos outros a luz e a ale
gría da fé.

A consciéncia de que há bilhoes de seres humanos, também eles redi


midos pelo sangue de Cristo, a ignorar o amor de Deus, nao pode deixar o
católico tranquilo.1 A causa missionáría deve ser, para todo fiel assim como
para toda a Igreja, a prímeíra de todas as causas, porque diz respeito ao des
tino eterno dos homens e responde ao designio misericordioso de Deus.3

1 Há no mundo aproximadamente 3.600.000.000 de nao-cristaos.


2 Merece iranscricao esta passagem realista e vivaz da Encíclica:
"A atívidade missionária aínda hoje representa o máximo desafio para
a Igreja. Á medida que se aproxima o fim do segundo milenio da RedencSo,
é cada vez mais evidente que os povos que aínda nSo- receberam o primeiro
anuncio de Cristo constituem a maioria da humanidade. Cortamente o ba-
lanco da atívidade missionária dos tempos modernos é positivo:a Igreja está
estabeledda em todos os continentes, e a maioria dos fiéis e das Igrejas par
ticulares já nao está na velha Europa, mas nos continentes que os missioná-
ríos abriram á fé.
Permanece, porém, o fato de que os confias da Térra, para onde o
Evangelhó deve ser levado, alargaramse cada vez mais, e a sen tenca de Ter-
(continua na p. 299)

298
"A MISSÁO DO REDENTOR"

O otimismo entusiasta de Joáo Paulo II manifesta-se ainda no final da


Encíclica, onde afirma:

"Nunca como hoje se ofereceu á Igreja a possibilidade de, com o teste-


munho e a palavra. fazer chegaro Evangelho a todos os homens e a todos os
povos. Vejo alvorecer urna nova época missionáría, que se tornará día radio
so e rico de frutos, se todos os cristaos e, em particular, os missionários e as
¡ovens Igrejas, corresponderem generosa e santamente aos apelos e desafios
do nosso tempo" (n? 92).

"A atividade missionária ainda está no inicio" (n? 48)

A atividade missionária ainda está no inicio nao somente porque a


maioria dos homens nao conhece ou nao aceita o Evangelho, mas também
porque essa maioria vai crescendo; a extensfo da obra evangelizadora nao
tem acompanhado o crescimento demográfico. Isto deve mais ainda motivar
o zelo dos fiéis católicos. As novas geracóes, encontrando um mundo con
vulsionado e alheio ao senso da vida, nao sao felizes; mesmo os países mais
organizados, como sao os da Escandinávia, registram alta cota de suicidios;
a violencia, a guerra, a discordia nao encontram o freio que só a fé em Deus
e o amor cristao Ihes podem opor. Daí a urgencia de se renovar o senso mis-
sionário dentro da Igreja. Precisamente o subtítulo da Encíclica soa: "A va-
lidade permanente do mandato missionário". O S. Padre desenvolve seu
pensamiento nos seguintes termos:

"O nosso tempo. com urna humanidade em movímentó e insatisfeita,


exige um renovado impulso na atividade missionária da Igre/'a. Os horizon
tes e as posibilidades da missio alargam-se, e é-nos pedida, a nos cristaos, a
coragem apostólica, apoiada sobre a confianca no Espirito. Ele é o protago
nista da missio\

Na historia da humanidade, há numerosas viragens que estimulam o


dinamismo missionário, e a Igreja, guiada pelo Espirito, sempre respondeu
com ganerosidade e clarividencia. Também nSo faltaram os frutos. Pouco
tempo atrás, celebrou-se o milenio da evangelizacao da Rússia e dos povos
eslavos, estando para se celebrar os 500 anos de evangelizacao das Améri-
cas. Foram, entretanto, comemorados, de forma solene, os centenarios das
primeiras missdes em varios países da Asia, da África e da Oceania. A Igreja

tuliano, segundo a qual o Evangelho fot anunciado por toda a Térra e a to


dos os povos. ainda estálonge de se concretizar.a missa~o ad gentes ainda está
no comeco. Novos povos aparecem no cenário mundial e também eles tSm o
direito de rgceber o anúndo da salvacao. O crescimento demográfico no Sul
e no Oriente, em países nao-cristaos, faz aumentar continuamente o número
das pessoas que ignoram a redencSo de Cristo" (n° 40).

299
12 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 350/1991

deve ho/e enfrentar outros desafios, lanzándose para novas fronte ¡ras. quer
na prímeira missao ad gentes, quer na nova evangelizado dos povos que já
receberam o anuncio de Cristo:a todos os cristios, ás Igrejasparticulares e é
Igre/'a universal, pede-se a mesma coragem que moveu os missionirios do
passado, a mesma disponibilidade para escutar a voz do Espirito" (n? 30).

Percebe-se que através destas palavras fala um espirito juvenil e vigoro


so, que nao conhece capitulado, mas, sustentado pela fé e a graca do Se-
nhor, eré no valor da missao que Deus Ihe confiou.

7. "O verdadeiro missionário é o Santo" (n? 90)

Para executar a missao, é claro que se exige o adestramento doutrinário


e técnico adequado. O cristao deve saber o que há de transmitir aos seus ir-
maos; portanto há de aprende-lo com firmeza ñas diversas Escolas de Fé e
Catequese.

Mas existe um predicado que o Papa faz questao de recomendar muito


especialmente:

"A universal vocacao á santidade está estritamente ligada é universal


vocacao á missao...

O renovado impulso para a missao ad gentes exige misionarios santos.


Nao basta explorar, com maior perspicacia, as bases teológicas e bíblicas da
fé, nem renovar os métodos pastorais, nem aínda organizar e coordenar me-
thor as torcas eclesiais; ó preciso suscitar um novo ardor de santidade entre
os missionários e em toda a comunidade cristS, especia/mente entre aqueles
que sao os colaboradores mais íntimos dos missionários" (n? 90).

8. Palanco geral

A Encíclica Redemptoris Missio tem suas características e suas tónicas


no conjunto dos documentos da Igreja. Sejam aqui enumeradas as seguintes:

1) O fato mesmo de se tratar de urna Encíclica missionária chama a


atencao, pois o Papa quis reavivar urna temática que, desde o Concilio do
Vaticano II (Decreto Ad Gentes, sobre as Missoes, datado de 1965), fora um
tanto silenciada. O subtitulo da Encíclica é muito expressivo do pensamento
do autor: "A Validade Permanente do Mandato Missionário".

2) Os tres primeiros capítulos da Encíclica, apresentando a fundamen-


tacáo teológica da missao, esclareceram dúvidas que vinham sendo levanta
das últimamente, com descrédito para a tarefa missionária. Principalmente

300
"A MISSÁO DO REDENTOR" 13

foram focalizadas as teses do relativismo religioso e do seculari smo, segundo


as quais todas as religioes sao equivalentes entre si ou mesmo bastaría pro
mover o homem carente de bens materiais para atender ao mandato missio-
nário do Senhor Jesús. Esta é urna das notas mais importantes da Encíclica,
pois dissipa as hesitacoes sobre a necessidade da missao formuladas em no me
de urna "nova teología".

3) Nos nos 33s, Joáo Paulo II distingue tres modalidades da única mis-
sao da Igreja:

— o cuidado pastoral para com as comunidades sólidamente estrutura-


das na fé. É preciso sempre alimentar e corroborar essa fé;

— o cuidado pastoral de comunidades outrora fervorosamente cristas,


mas atualmente debilitadas pelo materialismo e o secularismo. Requerem
urna "nova evangelizado" ou "reevangelizacao";

— a missio dirigida aos povos que até hoje nao receberam o Evangelho.
"Sem a missao a tais povos, a própria dimensáo missionária da Igreja ficaria
privada de seu significado fundamental e de seu exemplo de atuacao"
(n? 34). O Papa refere-se insistentemente ao crescente número de pessoas
que ignoram o Cristo de modo a despertar pungentemente o sen so misio
nario de toda a Igreja.

"A vocacSo especial dos missionários ad vitam, isto é. por toda a vida,
mantém toda a sua validado: representa o paradigma do compromisso mis-
sionário da Igreja, que sempre tem necessidade de entregas radicáis e totais,
de impulsos novos e corajosos. Os missionários e as missionárias. que consa-
graram a vida toda ao testemunho de Cristo ressustítado entre os nSo-crfa
tSos, nio se deixem, pois, atemorizar por dúvidas, incompreensSes, recusas,
perseguicóes. Rejuvenescam a grapa de seu carísma especifico, e retomem,
corajosamente, seu caminho. preferindo — em espirito de fé, obediencia e
comunhao com os Pastores - os lugares mais humildes e dificéis" (n? 66).

4} A tarefa evahgelizadora é'confiada muito especialmente ás jovens


comunidades católicas:

"A propósito serve de exemplo a declaracSo dos bispos em Puebla:


'Chegou finalmente a hora da América Latina. . . se tancar em missio para
além de suas fronteiras,... É verdade que nos próprios temos aínda necessi
dade de missionários, mas de vemos dar da nossa pobreza" (n? 64. Cf. n? 49.
62. fifi 85. 91).

5) As comunidades eclesiais de base sao confirmadas no seu ideal des


de que se mantenham em comunhao sincera com os Pastores e o magiste
rio da Igreja:

301
14 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 350/1991

"Cada comunidada, para ser crista, deve fundar-se e viverem Cristo, na


escuta da Palavra de Deus, na oracSo, onde a Eucaristía ocupa o lugar cen
tral, na comunhSo expressapela unidade de coracSo e de alma, e pela partí-
Iha conforme as necessidades dos varios membros (cf. At 2,42-47). Toda co-
munidade - recordava Paulo VI - deve viverem unidade com a Igreja par
ticular e universal, na comunhao sincera com os Pastores e o Magisterio, em-
penhada na irradiacSo misionaría e evitando fechar-se em si mesma ou dei-
xar-se instrumenta/izar ideológicamente" (n? 51).

6) Quanto ao ámbito da missao, o S. Padre afirma que esta nao conhece


fronteiras. Apesar disto, é possível reconhecer-lhe diversos setores:

- setores territoriais: sao enfatizados especialmente os povos da Asia,


da África, da América Latina e da Oceania. "Existem pafsese áreas geográ
ficas e culturáis onde faltam comunidades cristas autoctones; noutros luga
res, estas sao tao pequeñas que nao é possfvel reconhecer nelas um sinal cla
ro d.a presenca crista; ou entáo a estas comunidades falta o dinamismo para
evangelizar a própria sociedade ou pertencem a populacoes minoritarias, nao
inseridas na cultura dominante" (n? 37).

- Mundos e fenómenos sociais no vos: o Papa lembra a importancia de


se evangelizarem os grandes centros urbanos, pois daí é que procedem os
costumes e os modelos de vida para as regioes interioranas ou margina I iza
das:

"Nos tempos modernos, a atividade missionária desenvolveu-se sobre-


tudo em resides ¡soladas, longe dos centros civilizados e inacessfveis por di-
i'¡cuidados de comunicacio, de Ifngua a de clima. Hoja a imagem da missao
ad gentes talvez estofa mudando: fugares privilegiados deveriam ser as gran
des cidades, onde surgem novos costumes e modelos de vida, novas formas
de cu/tura e comunicacSo que, depois, influem na populacSo. É verdade que
a escolha dos menos afortunados deve levar a nSo descuidar os grupos hu
manos mais ¡solados e margina/izados, mas também é verdade que nao é pos
sfvel evangelizar as pessoas ou pequeños grupos, descuidando os centros on
de nasce — pode-se dizer - urna nova humanidade, com novos modelos de
desenvolvimento. O futuro das jovens nacdes está-se formando ñas cidades"
(n? 37).

Os jovens, os migrantes, os pobres sejam também objeto de especial zelo


missionário por parte da Igreja.

- Áreas culturáis ou modernos areopagos. "Areópago" é aqui entendi


do cpmo'um>eentro e foco de cultura. Ora em nossos dias os meios de co-
jfíunicaijaa sdctól-se'revesiem de importancia única, pois fazem do mundo

¿ v : ' •*&* 302


"A MISSÁO DO REDENTOR" 1j>

uma aldeia global. Principalmente as novas geracoes vio crescendo num


mundo dominado pelos ma«-media. Talvez nao se ten ha dado a devida aten-
gao a tao poderoso canal formativo ou deformativo.

Há, além disto, os areópagos da cultura, da pesquisa científica, das reía-


cóes internacionais... Os cristaos quevivem e trabaIham nessas áreas, te-
nham sempre presente o seu dever de testemunhar o Evangelho (n° 37).

Em suma, sao estas as grandes linhas da Encíclica Redemptoris Minio,


que o novo católico nao pode deixar de saudar com gratidáo a Joao Paulo II.
Trata-se de um documento inspirado por profunda fé e perpassado por inde-
fectível coragem, que comunica confianca e estimula todo fiel católico ao
trabalho evangelizador, qualquer que seja o ámbito de vivencia desse filho da
S. Igreja.

***

(contínuafSo da p. 321)

mais rara a ponto de desaparecer — na vida do discípulo de Cristo. Ninguém


é chamado á mediocridade, mas todos sao chamados á santidade (cf. Lumen
Gentium, capítulo IV). Por isto o cristáo nao se pode "consolar" com a
consciéncia de que o pecado é comum a todos os homens e, por isto, é sina
inevitável. É preciso emergir para fora do mundo do "meio-termo" ou do
"mais ou menos" para tender cada vez mais, com a grapa de Deus, á perfei-
cao que está na linha mesma do Batismo que cada um recebeu;

— a consciéncia da necessidade da Penitencia, entendida ora como


sacramento, ora como virtude (a virtude é conseqüéncia da graca sacramen
tal). A penitencia nao é finalidade em si mesma, mas é remedio; é instru
mento indispensável para exercitar o amor a Deus e extinguir os amores de
sordenados existentes no cristáo. Nao há como a evitar; embora hoje, por
motivos diversos, nao possa ser praticada como outrora era praticada (meses
ou anos de jejum, cilicio, peregrínacóes...). A generosidade atlética dos an-
tigos cristaos, com suas expressoes surpreendentes, deve lembrar aos con
temporáneos que sao filhos dos Santos e nao podem trair a sua linhagem.
É esta a grande licao que a historia do sacramento da Penitencia transmite
ao povo de Deus hoje, licao que deve ser reavivada constantemente a f im de
se sacudir a rotina e despertar os cristaos para uma vida sempre mais coe-
rente.

A propósito ver:

JOSÉ RAMOS-REGIDOR, Teología do Sacramgpíoula,£eQitSnci3.


Ed. Paulinas 1989.

303
Histórico e significado de

O Sacramento da
Reconciliado

Em símese: Após apresentar a fundamentado bíblica (noció de peca


do e instituicao oo sacramento da Penitencia por parte de Jesús), o artigo
percorn as tres etapas da historia do Sacramento: 1) até o sáculo VI (Peni
tencia comunitaria ou pública, ministrada urna só vez na vida, com serias
conseqüSncias pare o penitente absolvido; 2) do século VI ao século XIII
(Penitencia oferecida mais de urna vez, com satisfacao tarífada, segundo o
costume-dos mongos irlandeses vindos para o continente europea); 3) o Sa
cramento como hoje é ministrado, tantas vezes quantas o queira o peniten
te, com satisfacao abrandada por motivos pastorais, devendo o penitente en-
carregar-se de livrar-se dos resquicios do pecado mediante o exercício da vir-
tude da penitencia. Atualmente seria para desojar a restauracio da peniten
cia medicinal ém lugar da penitencia simbólica, a fím de que o Sacramento
tenha mais penetracao na vida do cristao. — A Igreja determinou que o Sa
cramento da Penitencia ou Reconciliacao é necessário para a remissao dos
pecados graves, nio sendo lícito ao cristao comungar em estado de pecado
grave ou mortal.

* * *

0 Sacramento da Reconciliacao1 tem suscitado questionamentos e dú-


vidas nos últimos tempos. Há quem pergunte se nao se poderia reconciliar
diretamente com Deus... ou se vale a pena confessar algo que, em breve tai-
vez, o penitente voltará a cometer. ... Em suma, estas e outras ¡ndagacoes
podem encontrar'respostas se se I anca um olhar atento sobre os fundamen
tos bíblicos e a praxe da Igreja até o século XIII; verificar-se-3o as raízes e os
antecedentes do rito do Sacramento da Reconciliacao, hoje muito simplifi
cado (por razóos compreensíveis), mas portador de profundo significado e
alcance para os cristaos que o queiram receber conscientemente. Eis por

* Mais comumente, embora menos adequadamente, dito "Sacramento da


ConfissSo". A ConfissSo dos pecados é condicio para o efeito principal do
sacramento, que é a Reconciliacao do homem com Deus e com a Igreja.

304
O SACRAMENTO OA RECONCILIAQÁO 17

que o presente artigo abordará as linhas centráis da doutrina bíblica e da


historia relativa a tal sacramento.

1. Fundamentado bíblica

O Novo Testamento refere-se, com relativa freqüéncia, ao pecado e ao


remedio que a Igreja Ihe pode oferecer. Examinemos os principáis textos:

1.1. Pecado e reconciliacao

1) Jo 20, 22s: "Jesús soprou sobre os Apostólos e disse-lhes: 'Recebe!


o Espirito Santo. Aqueles a quem perdoardes os pecados, serio perdoados.
Aqueles aos quais nao os perdoardes, nao serio perdoados".

Jesús comunica o Espirito Santo aos Apostólos para indicar que o mi


nisterio a eles conferido logo a seguir nao dependerá da prepotencia huma
na, mas será exercido com a eficacia do próprio Deus. Perdoar e nao perdoar
{aphfemi e kratéo) os pecados, tal é a atividade em vista da qual o Espirito
Santo é conferido aos Apostólos. Dependerá das disposicoes do penitente:
se este reconhece o seu pecado, mas nao o repudia ou nao está decidido a
evitar as ocasioes que o induzem, nao oferece as condicoes necessárias ao
perdao; seria falso dizer a tal homem que ele está absolvido (desligado do
pecado), quando na verdade ele está apegado a essa falha ou vicio.

O texto de Jo 20,22s tem seu paralelo em Mt 9,8: Jesús perdoa os pe


cados do paralítico e, para provar que o pode fazer como Deus, cura esse
enfermo. Logo a multidao glorificou a Deus, "que deu tal poder aos no-
mens". O plural aos homens nao se explica pelos antecedentes, pois somente
Jesús havia perdoado os pecados do paralítico; o evangelista, porém, pensou
nos ministros da Igreja, aos quais Jesús outorgou tal poder conforme Mt
18,18; Jo 20,22s.

2) Mt 16, 18s: Diz Jesús: "Eu te digo que tu és Pedro e sobre esta pe-
pedra edificare/ a minha Igraja, o as portas do inferno nunca prevalecerio
contra ala. Eu te dargi as chaves do Reino dos céus, e o que ligares na térra
será ligado no céu, e o que desligares na térra será desligado no céu".

Mt 18, 18: Diz Jesús aos doze: "Em verdade vos digo: tudo quanto //-
gardos na térra, será ligado no céu, e tudo quanto desligardes na térra será
desligado no céu".

Os comentadores tém estudado tongamente o significado das expressoes


"ligar e desligar", usuais entre os rabinos. Em poucas palavras: elas implicam
poder de jurisdicao, no qual está incluida a faculdade de perdoar ou nao per-

305
18 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 350/1991

doar os pecados. A jurisdicáo compreende outrossim o poder de ensinar au


ténticamente a Palavra de Deus e declarar lícito ou ilícito um determinado
comportamento. Mais: "ligar e desligar" comporta ainda a faculdade de ex
cluir (excomungar) um membro da comunidade e readmiti-lo, conforme as
afirmacoes ou os atos desta pessoa sejam discordes da doutrina ou da lei
de Deus, ou concordes.

Tais faculdades sao concedidas a Pedro s6 (cf. Mt 16,18s) ou a Pedro


com os onze Apostólos (cf. Mt 18,18). A sentenca proferida na térra pela
Igreja visível é reconhecida e ratificada pelo pr6prio Deus no céu.

0 exercício das faculdades assim outorgadas pelo Senhor é atestado


pelas cartas paulinas.

3) 1Cor 5, 3-5: Diz o Apostólo: "Ausente de corpo, mas presente em


espirito, ¡á julguei, como se estivesse presente, agüele que assim (incestuosa
mente) procedeu. É preciso que, em nome do Senhor Jesús, estando vos e o
meu espirito reunidos em assembléia com o poder de nosso Senhor Jesús,
entreguemos tal homem a Satanás para a parda da sua carne, a fim de que o
espirito se/a salvo no día do Senhor".

O Apostólo quer que a comunidade de Cristo elimine o pecador escan


daloso do seu seio (5,2). Por isto comunica aos fiéis a sua sentenca, que há
de ser assumida por todos:

"Entreguemos tal homem a Satanás". Isto significa a excomunhao. cor


roborada pela citacáo de Dt 13,6 em 1Cor 5,13: "Afastai o mau do meio de
vos".

"Para a perda da sua carne e a salvacao do seu espirito. . .". Isto quer
dizer: o excomungado experimentará a perda de Deus que toca a Satanás;
tomará consciéncia da sua condipao de pecador para que morra o seu "ho
mem carnal" (desregrado) e se fortalega o homem espiritual (movido pelo
Espirito Santo), que se salvará no dia do juízo.

4) 2Cor 2,5-11. Trata-se de outro caso de pecador público... A comu


nidade infligiu-lhe urna punicáo (cf. v.6). O Apostólo julga que esta foi su
ficiente e que é necessário perdoar ao irmao e o reconciliar com os demais
irmaos, como o próprio Paulo já perdoou a esse delinqüente, "a fim de que
nao seja absorvido por tristeza excessiva" (v. 7).

Vé-se, em ambos os casos, que o Apostólo, juiz dos delitos e das respec
tivas sancoes, tem em vista penas estritamente medicináis, que ajudem o pe
cador a tomar consciéncia da hediondez do pecado e a voltar á vida reta.

306
O SACRAMENTO DA RECONClUAQAO

5) 1Tm 1,20: Sao Paulo diz "ter entregue a Satanás Hitieneu e Alexan
dre, a fim de que aprendam a nao blasfemar". Tem-se aquí urna alusao á
excomunhao dos que pecam gravemente, com finalidade medicinal ou sal-
vífica.

6) 2Ts 3,6-15. Sao Paulo prescreve a excomunhao dos irmáos desobe


dientes e ociosos, também com o objetivo de os recuperar: "Se alguém deso
bedecer ao que dizemos, nesta carta, notai-o e nao tenhais comunicacfo com
ele, para que fique envergonhado. Nao o consideréis todavia como um ¡ni-
migo, mas procurai corrigi-lo como irmao" (vv. 14s).

Em símese, pode-se dizer:

— O Novo Testamento prescreve a excomunhao de pecadores onerados


por graves faltas: incesto (1Cor 5,2-5), ociosidade desordeira (2Ts 3,6-15),
impudicicia, avareza, furto, embriaguez, agressividade violenta, idolatría
(1Cor 5,9-11).

— A exclusao é proferida pelo Apostólo unido á comunidade (1Cor


5,2s; 2Cor 2,6-11) ou ameacada pelo Apostólo (2Cor 13,2-10)..., sempreem
nome e com a autoridade do Senhor Jesús (1Cor5,3s; 2Cor 13,3,10; 2,10).
A finalidade é sempre medicinal.

— A reconciliacao tem caráter oficial; é o perdao concedido por Paulo


com a comunidade (2Cor 2,7-10).

"\2. Pecados irremissíveis?

A faculdade de perdoar pecados nao tem limites, segundo o Senhor Je


sús. É o que se depreende de Mt 18.21 s ("Nao te digo sete vezes, mas seten
ta vezes sete. . .") e da parábola do filho pródigo (Le 15,11-32), na qual o
jovem perdulario e luxurioso é recebido como filho da casa desde que tenha
dito:"Pequei..."(v. 21).

Todavia parece haver textos do Novo Testamento que insinuam a irre-


missibilidade de alguns pecados:

1) Mt 12,31»; Me 3,28s; Le 12,10: falam da blasfemia contra o Espirito


Santo, para a qual nao há perdao. A expl¡cacao é a seguinte: a blasfemia con
tra Cristo (Mt 12,32; Le 12,10) é o pecado cometido contra Deus velado,
pecado cujo autor nao tenciona explícitamente separar-se de Deus, mas quer
incoerentemente gozar de um bem ilusorio, contrario á Lei de Deus; tal pe
cado é suscetfvel de perdao. Quanto ao pecado contra o Espirito Santo, é a
recusa direta de Deus e da sua graca; nao tem perdao simplesmente porque é

307
20 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 350/1991

a própria rejeicao do perdao. Deus nao forca o pecador ao arrependimento;


contudo, desde que a criatura peca sinceramente perdao, nenhum pecado,
por mais grave que seja, é irremissi'vel.

2) Hb 6,4-6: "Aqueles que urna vez foram iluminados (- batizados),


saborearam o dom celeste, receberam o Espi'rito Santo, experimentaran! a
beleza da palavra de Deus e as torcas do mundo que há de vir, e, nao obstan
te, decai'ram, é imposs/vel que renovem a conversao urna segunda vez". — O
autor tem em vista cristaos que muito se adiantaram na vida espiritual e,
apesar de tudo, cairam bruscamente (por terem encontrado "algomelhor");
a esses os ministros da Igreja pouco ou nada tém a dizer, pois já conhecem
e saborearam os melhores dons e os rejeitaram. Trata-se, pois, da impossibi-
lidade moral ou pastoral que os irmáfos experimentam para reconduzir tais
apóstatas á fé; nao está em jogo a misericordia divina, que é infinita e nao
se furta a quem a procura.

3) Uo 5,16: "O pecado que conduz á morte". No contexto, o Apostó


lo fala primeramente do pecado que nao conduz á morte; é o pecado que,
embora nao seja muito grave, é fator de tibieza e perigo espirituais; por
quem assim peca, a comunidade deve rezar. O pecado que conduz á morte,
seria o pecado de fechamento total á graca de Deus, fechamento que exclui
conversao. O Apostólo diz que pelo autor de tal pecado nao se deve rezar,
porque, no caso, ao pecador faltam as mínimas disposicoes para usufruir
dos beneficios da oracao fraterna. O Apostólo, porém, assim falando, nada
propoe de dogmático; nao fica peremptoriamente proibido ao cristao rezar
pelos pecadores mais endurecidos; ao contrario, visto que a esperanca nao
morre, cré-se que a oracao insistente e fiel pode ser útil ao irmao obstinado
no mal.

Em conseqüéncia, vé-se que no Novo Testamento nao há pecado que,


da parte de Oeus, nao possa obter perdao, desde que sinceramente solici
tado pelo delinqüente.

Passemos agora ao exame do modo como tais textos bíblicos repe.r-


cutiram na Tradicao crista.

2. Um pouco de historia

A administracáo do sacramento da Reconciliacáo foi assumindo diver


sas formas até o século XIII, quando se fixou ñas modalidades do rito atual.
Principalmente nos primeiros séculos a documentacao relativa á Peniten
cia era esporádica ou nao sistemática - o que dificulta ao historiador a ta-
refa de reconstituir a historia. Como quer que seja, podem-se, com seguran-
ca, distinguir tres fases nessa evolucao: 1) até o século VI, a penitencia irre-

308
O SACRAMENTO DA RECONCILIACÁO

pettvel, dita "pública"; 2) do século Vil ao século XIII, a penitencia dita


"tarifada", administrada segundo tres modalidades; 3) do século XIII aos
nossos días, a penitencia estritamente secreta.

2.1. Até o século VI

2.1.1. Que pecados?

Os antigos distinguiam bem entre pecados graves, "que separam do Cor-


po de Cristo", (S. Agostinho) e pecados leves. Dos testemunhos existentes
pode-se depreender a seguinte lista de pecados graves ou mortais:

Apostasia, homicidio, adulterio, concubinato, fornicacao, espetáculos


lascivos ou cruentos, furto, aborto, falso testemunho, perjurio, embriaguez
habitual, odio tenaz...

Os pecados leves seriam: maledicencia, dureza para com o próximo, má


acolhida aos mendicantes.1 Para expiar tais pecados, eram suficientes a
contri pao sincera, a prática da caridade e das boas obras e a penitencia pes-
soal ou privada.

A divisa entre pecados graves e pecados leves em alguns casps era, e


ainda é, um tanto frouxa, visto que cada ato pode ser grave em grau maior
ou menor, de acordó com a conviccao e a intensidade com que alguém o
comete.

Parece que em alguns lugares (Espanha, Franca, Norte da África) fica-


vam excluidos da penitencia sacramental nos séculos II-IV a tríade de
"adulterio, homicidio e apostasia". Este rigorismo tinha em vista acentuar o
caráter totalmente extraordinario e estranho do pecado grave na vida de um
cristao. p mesmo se entende ainda melhor se se leva em coma que grande
número de cristfos eram batizados em idade adulta ou provecta, depois de
haver renunciado a uma vida devassa; a recaída ñas faltas graves parecia in-
concebível á comunidade eclesial.

1 É preciso notar que todo pecado é pecado de uma determinada pessoa e


assume. a partir das características dessa pessoa, a nota de gravidade ou nao
gravidade, de maior gravidade ou menor gravidade. Uma coisa é fazerum ca
tálogo abstrato de pecados, outra coisa éavaliar um pecado na sua realidade
concreta;a intensidade com que alguém se dé ao pecado, o conhea'mentó de
causa, a vontade mais ou menos deliberada sio fatores pessoais que devem
ser levados em conta.

309
22 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 350/1991

2.1.2. As etapas da Reconciliacao sacramental ou canónica

1) Ingresso na ordem dos penitentes

O cristao que tivesse consciéncia de haver cometido alguma culpa grave,


ia procurar o bispo ou o presbítero e Ihe abría a consciéncia. Por conseguí ri
te, era secreta a confissao, e nao pública.1 O ministro julgava se tal pecado
devia ser submetido á Penitencia sacramental. Quando se tratava de delitos
públicos, a iniciativa de fazer penitencia podía ser tomada pelo bispo; se o
pecador recusasse fazer penitencia, o bispo podia excomungá-lo.

O pecador, depois de confessar suas faltas, era, segundo o juízo do bis


po e as normas vigentes na comunidade local, agregado á categoría dos peni
tentes: o próprio bispo impunha-lhe as maos, revestia-o de cilicio e o expul-
sava simbólicamente da ¡greja; na Gália, os penitentes raspavam a cabeca
(com freqüéncia isto acontecía no decurso do próprio rito); na Espanha, ao
contrario, os penitentes eram obrigados a nao cortar os cábelos e a barba.
Entrementes a comunidade se díspunha a acompanhar os irmaos penitentes
pela oracao e o zelo fraterno.

2) A prática da Penitencia pública

Ao introduzir o pecador na categoría dos penitentes, o bispo impu


nha-lhe urna satisfacao "justa e congrua", ou seja, um período de obras pe
nitenciáis que o ajudassem a mobilizar todo o seu amor a Deus e extinguir
em si todo amor pecaminoso ou desregrado. Tal período era proporcional á
gravidade das faltas cometidas e tinha finalídade medicinal. A satisfacao
constava dos seguintes elementos:

ObrigacSes gerais: jejum até o p&r do sol e abstinencia de carne, por ve-
zes pousada noturna sobre grosseiro leito de palha salpicado de cinzas; por
vezes também abstinencia de banho e prática de esmolas.

Obrigacóes rituais: os presbíteros impunham as maos aos penitentes; es


tes rezavam de joelhos em certos días; transportavam os defuntos á igreja e
Ihes davam sepultura.

Interditos: aos penitentes era proibido nao s6 durante o tempo de ex-

1 Sa~a LeSo Magno (t 461), Papa, proibiu explícitamente a confissio públi


ca de pecados secretos.

310
O SACRAMENTO DA RECONCILIACÁO 23

piacao, mas por todo o resto da vida, exercer cargos públicos e atividades
comerciáis, apresentar-se ao tribunal civil, prestar servico militar, receberas
Orderts sacras. Quem fosse casado(a), nao poderia viver maritalmente com
o(a) consorte, mesmo depois da reconciliacao sacramental obtida; o peni
tente que se tornase viúvo, nao podia contrair novo matrimonio nem após
a reconciliacao...

Havia graus ou classes de penitentes:

- os flentes (os que choravam) ficavam á porta da igreja, vestidos de


cilicio e cinzas, pedindo com lágrimas que os irmaos orassem por eles;

- os audientes (ouvintes) ¡ngressavam na igreja para ouvir a Palavra


de Deus, mas eram despedidos antes que comecasse a celebracáo eucarís
tica;

- os substrati (prostrados) assistiam á celebracáo eucarística de joelhos


ou prostrados;

- os consistentes assistiam á celebracáo eucarística em pé, mas nao par-


ticipavam nem da oferta nem da Comunhao sacramental.

A duracáo do período expiatorio variava, como dito, segundo a gravi-


dade das culpas. A Didascalfa Apostolorum (século IV), na Siria, fala de
duas até sete semanas. Cornudo a duracao podia ser bem mais longa; Orí
genes de Alexandria (t255) dizia que devia estender-se mais do que o cate-
cumenato, ou seja, aproximadamente tres anos. Sao Basilio Magno (* 379)
estabeleceu que, para o homicidio, o tempo penitencial seria de vinte anos
repartidos em quatro segmentos: quatro anos na ordem dos flentes; cinco
na dos audientes; sete entre os substrati; e quatro entre os consistentes. A
partir do século V, quando foram introduzidos os interditos que atingiam os
penitentes também ap6s a reconciliacao, a duracao do tempo expiatorio foi
diminuida. Era o bispo quem a estipulava, nao a seu arbitrio, mas segundo
os cánones dos diversos Concilios regionais. Em Roma tornou-se praxe fa-
zer da Quaresma o tempo penitencial ordinario: na quarta-feira de cinzas,
os penitentes recebiam as cinzas e o cilicio, e na quinta-feira santa eram re
conciliados.

Os penitentes que abandonassem o seu estado, eram excomungados de


maneira definitiva, pois tal apostasia era tida como gravíssima.

311
24 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 350/1991

3) A reconcilia;»» ou absolvicao

Era realizada em rito litúrgico acompanhado por toda a comunidade.


O bispo impunha as maos sobre os penitentes e proferia a orapao sacerdotal,
assim como urna homilía. Celebravase, a seguir, a Eucaristía, durante a
qual os reconciliados comungavam. - Julgava-se que a absolvicao apagava a
culpa e encontrava o penitente ¡sentó de tendencias desregradas, pois o amor
a Deus tongamente exercítado pelas renuncias anteriores teria extinto qual-
quer cobica desregrada. Por isto também o sacramento da Penitencia era
chamado "Segundo Batismo" ou "Batismo laborioso", visto que era compa
rado ao primeiro Batismo pelo fato de purificar o pecador de qualquer res
quicio de pecado (assim ao menos se presumía); a Igreja antiga era muito
ciosa de pureza e santidade!

A reconcíliacao com a Igreja implicava a reconcíliapáo com o próprio


Deus. Este se comunica ao homem por via sacramental, como ensina o pró
prio Cristo: "Tudo o que desligares ou ligares (absolveres) na térra será des
ligado no céu" (Mt 16 19).'

2.1.3. Urna vez so...!

A Igreja antiga so ministrava urna vez a Penitencia sacramental a quem


déla precisasse. A recaída após tao rigorosa reconciliapao era considerada co
mo sínal de ánimo fraco, que nao aproveitaria de nova oportunidade. A Igre
ja, porém, nao abandonava os relapsos: orava por eles, deíxava-os retornar
á classe dos penitentes, mas nao Ihes concedía a reconcíliacao nem mesmo
em caso de morte; as vezes, principalmente se o pecador tivesse dado provas
de verdadeiro arrependimento, os bispos permitiam que se Ihes levasse a Co-
munhao Eucarística como viático em artigo de morte.

Tais normas tínham caráter disciplinar; tencionavam evitar a "banali-


zacao" do pecado e da penitencia. A Igreja recomendava ao pecador relapso
que prestasse expiacáo por conta própria, na presenca de Deus, que certa-
mente vería o fundo do seu coraclo e Ihe daría diretamente o perdao.

Para entender tal severidade da disciplina antiga, deve-se levar em con


ta o que foí observado atrás: o Batismo era conferido em idade adulta ou

1 S. Agostinho (\430) gscreve: "A candada da Igreja, derramada em nossos


coracoes pelo Espirito Santo, perdoa os pecados daqueles que participam
déla, enguanto sao retidos os daqueles que nao participam da Igreja" (In
Jo 121,4).
"A paz da Igreja perdoa os pecados, enquanto a separacao déla os re-
tém" (De Baptismo'contra Donatistas ///, 18¿3).

312
O SACRAMENTO DA RECONCILIACÁO 25

provecta, depois de madura ref lexao do catecúmeno e acompanhamento por


parte da Igreja; devia significar profunda metanoia ou conversao. A recaída
no tipo de vida pré-batismal parecia sinal de resistencia ao Espirito Santo e
pouca abertura para nova grapa sacramental.

2.1.4. Conseqüéncias imprevistas

O rigor penitencial e a sua náo-iterabilidade levavam muitos pecadores


a adiar a Penitencia sacramental até o fim da vida. Poucos eram os que a
ela recorriam no vigor dos seus anos. Alguns bispos, alias, eram cónscios de
que poucos cristaos, principalmente se ainda jovens, seriam capazes de se
abster do matrimonio após a reconciliadlo e levar urna vida quase mona
cal. Por isto houve bispos e Concilios regionais que desaconselharam os jo
vens e as pessoas casadas de se submeterem á Penitencia canónica, especial
mente se estes últimos nao tivessem o pleno consentimento do(a) consorte.
Eis alguns testemunhos significativos:

S. Ambrosio (t 397): "A penitencia (pública) se/a prestada guando


decresce o ardor da luxúría" (De Penitentia II 11).

Concilio de Agdes (506): "Aos Jovens nao se permita fácilmente a


penitencia (sacramental) por causa da fragilidade da idade",

Sao Cesário, bispo de Arles (503-542), explica mais ampíamele a


disciplina:

"Talvez. enguanto exortamos em geral todos é penitencia, alguém


pense dentro de si: eu sou ainda homem jovem, tenho esposa, como poderia
cortar os cabe/os e tomar o hábito de penitente? Mas. nem mesmo nos, ir-
maos carfssimos. queremos dizer isto: nSo dizemos que as pessoas ainda jo
vens unidas em matrimonio devam mudar as vestes; antes, dizemos que de-
vem mudar a vida. E que daño poderia haver a um homem casado se corri-
gisse seu modo de viver dissoluto e conduzisse vida digna e honesta, se pro-
curasse curar as feridas causadas pelos pecados, fazendo esmolas, jejuando e
orando? Urna conversao sincera, mesmo sem mudar as vestes, basta por si;
as vestes do penitente, por si sos, nao só nSo constituem remedio, mas pro-
vocarao o justo jui'zo de Deus. Convertamo-nos, pois, ao bem porque os
meios para fazé-lo estao á nossa disposlcao. De urna parte, evitaremos
a morte (eterna) morrendo aos nossos pecados; da outra, adquiriremos,
com nossos méritos, a vida eterna, com a graca de Nosso Senhor Jesús Cris
to" (Sermao 55.4}.

Acrescente-se que os clérigos e os monges nao eram admitidos á Peni


tencia eclesiástica. Os clérigos que tivessem cometido pecados graves, eram

313
26 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 350/1991

depostos e, se se mostrassem verdadeiramente arrependidos, eram admitidos


á Comunhao Eucarística como leigos. Eis depoimentos a propósito:

"S. Leao Magno: "É contrario aos costumes da Igreja que os clérigos
ordinarios, sacerdotes ou diáconos, possam receber o remedio da peniten
cia por seus pecados com a imposicao das mios/esta regra tem origem, sem
alguma dúvida, na tradicao apostólica, pois está escrito: 'Se o sacerdote pe-
cou, quem intercederá por ole? (Lv 5).

Os clérigos pecadores, para merecerem a misericordia de Deus, devem


pedir que ssj'am admitidos a se retirarem na solidio; lá sua expiacio, se for
adequada és suas culpas, será útil. . ." (Epístola 167, 2 a Rústico, bispo de
Narbona).

Concilio de Epadne (517): "Se um sacerdote ou um diácono comete


pecado mortal, se/a deposto de seu encargo e fechado num convento; ai,
por todo o resto de sua vida, recebará só a Comunhao".

O rigor da disciplina penitencial antiga fez que, no fim do século VI,


a situapao se tornasse insustentável: a Penitencia sacramental era inacessí-
vel precisamente para os que déla mais necessitavam, isto é, as pessoas adul
tas e cheias de vida. A categoría dos penitentes ficava reservada a andaos,
viúvos e celibatários. A solugao para quem pecasse gravemente, era procurar
doravante viver retamente e preparar-se para receber a Penitencia no fim da
vida ou tlo-somente a absolvicfo no leito de morte. . .! Embora nao absol-
vidos de seus pecados, tais cristaos procuravam e recebiam o sacramento
da Eucaristía, baseando-se no valor expiatorio de sua penitencia privada.
Nao poucos o faziam levianamente, sem se preocupar muito com os seus vi
cios, tsto levava os bispos a excomungar os mais indignos e a pedir aos ou-
tros que se abstivessem temporariamente da Eucaristía.

Podia acontecer também que um pecador, em vez de se submeter á


Reconciliacao canónica, entrasse para um mosteíro e a( professasse a vida
monacal, sinceramente arrependido de suas faltas. A profissao monástica
perpetua e a vivencia daí decorrente eram tídas como equivalentes ao pro-
cesso de Penitencia eclesial, de modo que tal pessoa podia receber a Comu
nhao Eucarística. É o que se le num texto do século VI, atribuido ao bispo
Fausto de Riez:

"Dé-se a penitencia aos seculares, que estao ainda sob o jugo do mun
do; meca-se o tempo da penitencia segundo a gravidade do delito cometido
por aquele que vive ainda no séeulol Mas, quando se trata do monge, que re-
nunciou ao mundo e ao seu servico, e prometeu servir sempre a Deus, por
que se Ihe deveria impar a Penitencia?. . . Portento, para o monge, a peni-

314
O SACRAMENTO DA RECONCILIAgÁO 27

téncia pública ó inútil, porque emendado de seus pecados, ele chora e con
cluí um pacto eterno com Deus. As culpas que cometeu no mundo, foram
canceladas no dia em que ele prometeu a Deus viver doravante segundo a
justica. Depois do pacto escrito por sua mió, com o qual promete cumprir
seus deveres com toda a sua fé - mesmo que depois do batismo tenha peca
do no mundo — o monge, depois da sua segunda renuncia (sua profissio
religiosa) nao hesitaré em recebar o Corpo do Senhor. por medo de que. por
causa de excessiva humildade, nao permaneca muito distante do Corpo e do
Sangue daquele ao qual se uniu para nao formar senao um só Corpo. Nao
deixe, pois, a Comunhao aquele que deixou de pecar, mas nao peque mais
para o futuro" (Migne Latino 58j875s).

2.2. Do sáculo Vil ao sáculo XIII

2.2.1. A transipao

A difícil situacáo de fins do século VI foi dando ocasiao a que, aos


poucos, se fosse mudando a praxe penitencial. O primeiro testemunho disto
é o canon 11 do Conct'lio regional de Toledo (Espanha, maio de 589). Os
bispos condenaram o costume ¡novador de conceder repetidamente a absol
viólo sacramental:

"Urna vez que temos conhecimento de que em algumas ¡grojas da Es


panha os homens fazem penitencia por seus pecados nao segundo os cáno
nes, mas de modo de todo indigno ffoedissimej, assim que cada vez que pe-
cam pedem ao sacerdote serem reconciliados, a fím de decepar esta execran
da presuncao fica estabelecido peto santo Concilio que a Penitencia se/a da
da segundo a forma canónica dos antigos, isto é, que aquele que se arropen-
de dos próprios pecados se/a, antes de tudo, suspenso da Comunhao e se
submeta á imposicao das maos juntamente com os outros penitentes; con
cluido,, pois, o tempo da satisfacao, se/a restituido á Comunhao segundo a
oportunidada estabelecida pelo sacerdote. Aqueles, pois. que. ou durante a
Penitencia ou depois da Reconcifiacao, recairem nos primitivos pecados, pe
la norma da antiga severidade dos cánones sejam excomungados" (Mansi
VI708).

A censura dos bispos em Toledo teve que ceder paulatinamente á no


va praxe, que se foi propagando. Entre 647 e 653 o Concilio regional de
Chalon-sur-Saóne a aprovou:

"No que diz respeito é Penitencia, que é a medicina da alma, eremos


que se/a da máxima utilidade a todos os homens; assim como todos os sa
cerdotes estao de acordó em afirmar que aos penitentes, cada vez que te-
nham feito a confissao, Ihes seja dada a Penitencia" (canon 8).

315
28 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 350/1991

O incremento do novo costume deve-se ¡negavelmente á influencia dos


monges provenientes da Gra-Bretanha e da Irlanda para o continente euro-
peu desde a primeira metade do sáculo VI. Ao que parece, os cristaos daque-
las ilhas nao conheceram a Penitencia pública. A organizacao eclesiástica lá
se fazia em torno dos mosteiros, ao menos a partir do século V. Ora nos
mosteiros os monges praticavam a abertura de consciéncia, revelando ao pai
espiritual dificuldades e falhas na vida espiritual; faziam-no tantas vezes
quantas julgassem necessárias. Esse tipo de confissao, relativo a pequeños
defeitos moráis, deve ter sido transferido para o foro sacramenta1, de sorte
que também os pecados graves foram sendo confessados aos sacerdotes,
que Ihes davam, a seguir, a absolvicáo.

Assim quebrou-se a nao reiterabilidade do sacramento. Isto nao quer


dizer que o tipo de satisfacao fosse abrandado. Continuava, sim, rigoroso
ou medicinal. Os monges irlandeses trouxeram para o continente os seus
Livros Penitenciáis, em que se estipulava a penitencia correspondente a cada
tipo de.pecado; era a penitencia "tarifada", que supunha o seguinte rito:

O pecador procurava o sacerdote. Este, com o Livro Penitencial em


máos, o interrogava a respeito de possíveis pecados e ouvia a acusacao do
penitente. Terminada esta, o confessor declarava ao interessado qual a pe
nitencia que, Segundo a tabela do Penitencial, ele devia prestar. O pecador se
retirava; executava o jejum ou outras obras prescritas, a pos o qué voltava a
procurar o sacerdote para receber a absolvicáo. Tudo decorria de forma sim
ples, sem que a comunidade fosse necessariamente convidada para partici
par do rito.

Se o pecador era doente ou morava longe e a estacao do ano era in


clemente ou, ainda (segundo os termos de certos Penitenciáis), quando o pe
cador era de tal modo rude e grosseiro que nao compreendia. . ., o confes
sor, depois de ouvir a confissao, recitava ¡mediatamente as preces de absol
vicáo com a ¡mposicáo das maos. - Seja observado, porém, que, a partir do
século IX, a absolvicáo se seguia ¡mediatamente á acusacao dos pecados. A
penitencia seria cumprida depois desta.

A Penitencia "tarifada" nao comportava as obrigacoes e os interditos


que na disciplina antiga marcavam o pecador por toda a vida.

Por estas razoes a nova forma penitencial estava aberta também aos
clérigos e aos monges. Comecaram a ser parte da acusacáo também os pe
cados menos graves e mais numerosos. Visto que o sacramento se tornou
mais usual, o ministro ficou sendo o presbítero quase exclusivamente, en-
quanto o bispo reservava a si a reconciliacáo solene de varios penitentes ñas

316
O SACRAMENTO DA RECONCILIAQÁO

grandes festas e a organizado da Penitencia canónica, que, em certa medida,


continuou a existir até o sáculo XIII.

Pergunta-se agora:

2.2.2. Em que consistiam as penitencias "tarifadas"?

Do conjunto dos Livros Penitenciáis depreende-se que a Penitencia ta-


rifada conservava, em grau notável, o rigor das antigás obras satisfatórias:
tratava-se de mortificacoes corporais (jejum de alimentos e abstinencia de
carne), vigilias prolongadas, recitapao de salmos, privacao de relacoes con
jugáis durante certo tempo, peregrinacao a um santuario ou a um túmulo
de Santo, doacao de esmola a urna igreja ou a um mosteiro. . . A duracáo
do jejum (ás vezes, a pao e agua) era variável, podendo ser de días, meses
e também anos. Eis alguns espécimens das tabelas:

O Paenitentiale Columbani prescrevia:

"3. Se alguám cometeu atos como homicidio ou sodomía, fará dez


anos da Jejum. Se um monge fornicou só urna vez, tres anos de penitencia; se
o fez mais freqüentemente, sete anos de penitencia. Se um monge abando-
nou (o estado monacal) e transgríde seus votos, mas retoma em breve, ¡ajua
ra durante tres Quaresmas; se retorna apenas depois de longos anos, fará
penitencia por tris anos...

4. Se alguém tiver roubado, fará penitencia (jejuando) por sete anos...

11. O monge Que calunia seu irmao ou ouve voluntariamente oscalu-


madores, fará tres días de jejum prolongado; se calunia seu superior, jejuará
durante urna semana...

27. O homicida ¡ajuara por tres anos a pao a agua, sem levar armas, e
vivera no exilio. Depois destes tres anos, retornará para a sua patria e se po
ra a servico dos parantes da vftima, substituindo aquele Que ele matou.' As-
sim poderá ser readmitido na Comunhio, segundo o jufzo do seu confessor.

28. Se um leigo tiver filho com a mulher de outro, isto é, tt'ver come
tido adulterio, fará penitencia por tres anos, abstendo-se de alimentos gor-
durosos e do uso do matrimonio, retribuindo, além disso.oprecodadeson-
ra ao marido da mulher violada.1

1 Nótese o caráter medicinal da penitencia assim infligida (Nota do fíe-


dator).
1 Nótese o caráter medicinal da penitencia (N. d. fí.)

317
30 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 350/1991

29. Se um leigo fornicou de modo sodomftico, fará penitencia por so


te anos: os prímeiros tres, nutrindo-sa somanta de pao, agua, sal e legumes
secos; os outros quatro, abstenha-se da vinho e das carnes. Assim seu pecado
será perdoado a o confessor orará por ele a o readmitirá i Comunhao".

2.2.3. As comutacSes

O tabelamento assim proposto dava orígem a situacoes imprevistas:


o número e a gravidade dos pecados acusados podía implicar urna soma de
penitencias cuja duracao ultrapassava a extensao da vida do pecador... Para
remediar ao impasse, os próprios Livros Penitenciáis tinham em anexo tabe-
las especiáis para se fazer a comutacao, a compensacao ou a redencao das
penas demasiado longas: estas eram trocadas por outras mais breves, que, po-
rém, podiam ser mais n'gidas. Eis alguns exemplos:

Os Cánones Hibernenses (Irlandeses), do sáculo VI, assim rezam:

"2. Comutacao por jej'um de tris días: fícar em pé um día e urna noi-
te sem dormir (ou muito pouco) ou a recitacao de 50 salmos com os cánti
cos correspondentes, ou a recitacao do Oficio de 12 Horas, com doze indi-
nafdes profundas cada Hora com as míos levantadas.

3. Comutacao por jejum de um ano:passar tres dias no túmulo de um


Santo, sem beber e sem comer, sem dormir e sem tirar as vestes; durante
este tempo cantará salmos ou recitará o Oficio das Horas segundo o jufzo do
sacerdote (que impós a penitencia).

4. Outra comutacao por jejum de ano: passar trSs dias numa igreja,
sem beber nem comer nem dormir, sem se sentar; durante este tempo o
pecador cantará salmos com os cánticos e recitará o Oficio coral. Durante
esta oracSo, fará doze genufíexoes - tudo isso depois de ter confessado seus
pecados diante do sacerdote e diante do povo".

O jejum, as vigilias noturnas e as peregrinacóes podiam ser comutados


por esmolas, caso o penitente nao tivesse condicoes físicas para aturar tao
rigorosas penas corporais. Supunha-se que a esmola representasse urna re
nuncia e provocasse o amor a Deus (e ao próximo), amor que seria o antí
doto das cobicas pecaminosas do penitente. Alias, como dito, as mortifica-
cóes rigorosas dos antigos e medievais tinham em vista únicamente excitar e
fortalecer o amor a Deus e extinguir o amor desregrado existente no ser hu
mano e causador do pecado. Somente o amor a Deus muito vigoroso ¡sen
taría o individuo do gosto de pecar.

Os medievais, na sua boa fé, imaginavam que, se alguém nao conse-

318
O SACRAMENTO DA RECONCILIAQÁO 31

guisse cumprir a penitencia devida, outra pessoa, solicitada por ele, o pode-
ría fazer em seu lugar; o pecador daría, em troca, urna esmola aos pobres. Eis
o que se lé no Paenitentiale Cummoani:

"O penitente que nao sabe recitar os salmos e nSo pode ¡ejuar, escolha
um mongo que faca penitencia em seu lugar; quanto ao penitente, por cada
día de fefum, di um dinheiro justo aos pobres".

Verifica-se, porém, que a prática das comutacSes assim concebida da-


va ocasiáo a abusos. Muitos prestavam tanta atencao ás obras penitenciáis
que já nao levavam na devida conta o espirito ou as condicóes de alma que
as deviam inspirar e sustentar: a materialidade do jejum, das peregrinajes
ou das vigilias podia parecer suficiente para tranquilizar as consciéncias,
quando, na verdade, as boas obras s6 tém valor na medida em que tradu-
zem horror ao pecado e profundo amor a Deus; o ser humano é psicossomá-
tico, de modo que nunca se pode ce tentar com a materialidade de obras
corporais, mas também nunca se pode limitar a ter sentimentos interiores
sem expressao corpórea.

Varios Concilios reagiram contra abusos ocurrentes na prática da pe


nitencia tarifada e das comutacoes. Assim, o de Cloveshoe em 747; o de
Ruáo em 1048; o de York em 1195; o de Londres em 1200...

Tais abusos provocaram o desaparecimento da penitencia tarifada na


Alta Idade Media. A ¡ntencáo pastoral e medicinal que a inspirara, era váli
da, mas os inconvenientes que ocasionou, fizeram-na cair em desuso.

2.2.4. Tres formas da Penitencia eclesiástica na Alta Idade Media

A importancia dada ao cumprimento das obras penitenciáis fez que, a


partir do século XIII, houvesse na Igreja tres formas de Penitencia adequa-
das a diversos tipos de pecador:

1) a Penitencia pública e solene, ¡rrepetivel, heranca da antigüidade,


reservada a pecados graves públicos como o homici'dio, a luxúria escandalo
sa, o adulterio, o sacrilegio... Costumava durar desde a quarta-feira de cin-
zas até a quinta-feira santa;

2) a Penitencia privada, oriunda da praxe dos monges irlandeses, im


plicando satisfacao ainda rigorosa (pois destinada a ser medicinal);

3) a Penitencia pública nao solene ou peregrinaclo penitencial. Aqui


está a novidade. O confessor convocava os penitentes para a porta da igreja
local, entregava-lhes as insignias de peregrinos (alforje e bastao) e enviava-os

319
32 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 350/1991

a determinado santuario (tinham preferencia os túmulos dos Apóstoios Sao


Pedro e Sao Paulo em Roma). Cnegados ao santuario, os penitentes po-
diam-se julgar absolvióos de seus crimes. Participavam dessas peregrinajes
homens e mulheres cu jos pecados públicos nao fossem considerados alta
mente escandalosos. Todavía essas migracoes se ressentiram do desregramen-
to ou falta de espirito penitencial dos seus membros, dando lugar a diversos
males e escándalos. As leis da Igreja e os regulamentos civis tentaram sanear
esses inconvenientes, mas nao o conseguiram plenamente. - Tal forma de
Penitencia desapareceu, pois fugia ás linhas teológicas do sacramento.

Ainda é de notar que a grande estima atribuida á acao penitencial


fez que, entre os sáculos VIII e XIV, se praticasse a confissao aos leigos. Na
falta do ministro ordenado, os próprios teólogos e pastores recomendavam
aos fiéis que acusassem os seus pecados a amigos, companheiros de viagem
e vizinhos; alguns documentos medievais afirmam que o diácono tinha o po
der de ouvir confissoes, nao, porém, o de absolver os pecados. Os teólogos
justificavam essa praxe pelo fato de que confessar os pecados implica hu-
milhar-se e penitenciar-se — o que podia obter o perdao da parte de Deus.
Sao Tomás de Aquino (t 1274) considerava necessária a confissao aos lei
gos em perigo de morte e na ausencia de ministro próprio; cf. Suma Teoló
gica, Suplemento 8,2 ad 1 e ad 2; 8,4 ad 5;9,3 ad 3 (o S. Doutor parece su-
por que se trata de doutrina comum na sua época).

Foí o franciscano Joao Duns Scotus que comecou a impugnar essa prá-
tica, por nao ter valor de sacramento e, por conseguinte, nao poder ser im
posta como obrigatória.

É de notar que, precisamente no século XIII, o Concilio do Latrao IV


(1215) houve por bem prescrever urna confissao anual ao menos, pois a fre-
qüentacao do sacramento era desleixada ou confundida pelos fiéis, nao por
falta de fervor, mas porque as linhas da piedade católica estavam em fase de
estruturacao.

3. ConclusSo

Foi no século XIII que finalmente terminou a evolucáo do rito do sa


cramento da Penitencia, assumindo a forma que ele hoje tem. O nome de
sacramento "da Confissao" prevalece sobre os demais, visto que no sé-
culo XIII muito se enfatizou o caráter penitencial da acusacao (confissao)
dos pecados. As obras satisfatórías no decorrer dos sáculos seguintes foram
sendo mais e mais atenuadas, a fim de nao afugentar ninguém do sacramento

320
O SACRAMENTO DA RECONCILIACÁO 33

ou a fim de permitir que pessoas afastadas da prática religiosa nao se intimi-


dassem pela perspectiva de rigorosos jejuns e vigilias.'

A purifícapao dos afetos íntimos (= rai'zes do pecado) que o peniten


te nao realiza por imposipáo do confessor, terá que ser efetuada espontanea-
mente pelo penitente após a reconciliaclo sacramental, mediante a virtude
da penitencia; é imprescindível essa tarefa de eliminar do coracao todo sen-
timento desregrado, para que o cristao possa ver a Deus face-á-face quando
o Pai Celeste o chamar a Si. Caso a pessoa nao consiga (com a grapa divina)
efetuar essa purificacao na vida presente, terá de fazé-lo após a morte, no
purgatorio postumo; este é urna concessao da Misericordia Divina ¿criatura
cujo amor ainda é contraditado por tendencias desordenadas. A existencia
do purgatorio postumo nao somente é atestada pelas Escrituras (cf. 2Mc
12,39-45; 1Cor 3,10-15), mas é muito lógica, dadas as premissas atrás apon-
tadas.

O conhecimento da historia do sacramento da Reconciliacao desde os


tempos bíblicos até o século XIII permite compreender melhor o significado
deste sacramento em nossos dias, quando o simbolismo do rito está reduzido
a poucos trapos. Apesar da simplificapao do Ritual (que a remodelacao pos-
conciliar enriqueceu um pouco), o cristao desejoso de frutuosa recepcao do
sacramento nao pode esquecer que ele implica

- a consciSncia da hediondez do pecado, táo viva na mente dos ami


gos cristáos. O pecado grave deve ser urna excecao - e excecao cada vez

(continua na p. 303)

1 Alias, o Rito da Penitencia, Introducao n? 6c, observa e preserove:


"A verdadeira convenio se completa peta satísfacSo das culpas, pela mu-
danca da vida e pela reparacSo do daño causado. As obras e a medida da sa-
tisfacao devem adaptarse a cada penitente, pera que cada um restaure a or-
dem que lesou e possa curarse com o remedio adequado. é necessirio, por
conseguinte, que a satísfacSo se/a realmente remedio para o pecado e de al-
gum modo renovacao de vida. Assim, o penitente, esquecendo o quepassou
(Fl 3.13), integrase de novo no misterio da salvacao, /aneándose para a
frente".
Considérese também o canon 981 do Código da Direito Canónico:
"Canon 981 - De acordó com a gravidade e o número dos pecados, le
vando em conta, porém, a condicao do penitente, o confessor imponha salu-
taras e convenientes satisfaedes, que o penitente em pessoa tem obrígacao
de cumprir".
VS-se que persiste a intencao de impor sempre urna satísfacSo medicinal,
adequada, porém, ás condicoes de saúde do penitente.

321
Que ó a

Síndrome Pós-Aborto ?

Em síntese: O artigo, devido a dois especialistas ñas áreas da Psicología


e da Medicina revela conseqüSncias traumatizantes do aborto na muiher que
passe por esta intervencao. Em tom muito vivo, descreve os males que tais
pessoas vSm a padecer como seqüela do morticinio cuja realidade cedo ou
tarde aflora é mente da muiher. Observa a autora que muitas das muiheres
submetidas ao aborto sao vftimas de imposicao e constrangimento; há, po-
rém, aquetas que espontáneamente procuram o aborto, sem talvez imaginar
quanto isto fere o psiquismo da muiher, que foi feita para ser míe carinho-
sa. Ppssam as observacoes da Dra. Wanda Franz Ph.D. ser úteis a quantase
quantos sao interessados pela problemática!

* * *

Publicamos, a seguir, um artigo de índole estritamente científica so


bre as conseqüéncias do aborto no ánimo da muiher que a ele se submete. É
artigo forte e talvez incómodo. Vai publicado, porém, porque reflete a expe
riencia profesional de dois especialistas em Psicología e Medicina; nao é di-
retamente a palavra de um moralista nem de um teólogo que tenha precon-
ceitos contra o aborto, ou seja, partidario de urna filosofía fechada e mes-
quinha.

A redatora do artigo é a Dra. Wanda Franz Ph.D., Professora Asso-


ciada de Recursos Familiares, Uníversidade de West Virginia, Morgantown,
WV 26505, U.S.A. Redigido em inglés, o trabalho foi publicado em National
Right To Life News 14(1): 1-9, 1987 com o título What ¡s post-abortion
Syndrome?

O artigo foi traduzido para o portugués e cedido a PR pelo Dr. Her-


bert Práxedes, Professor Titular de Hematologia Clínica do Departamento
de Medicina Clínica da Faculdade de Medicina da Universidade Federal Flu
minense. A este ilustre mestre e profissional, a redacao de PR agradece a
gentileza de sua colaboracao valiosa.

O artigo merece atencao porque refere fatos e fenómenos geral mente


pouco comentados; pode assim tomar-se útil a todos os interessados em tao
candente problema.

322
SI'NDROME POSABORTO 35

1.0 problema

Que sabemos das conseqüéncias prejudicial do aborto para a mulher?


Aqueles que aconselham e executam abortos, sempreafirmaram nao haver
efeitos psicológicos desfavoráveis importantes decorrentes do aborto e além
disso nenhum trauma a longo prazo. O problema com tais afirmativas é
que essas pessoas, empregadas ou nao em Clínicas de aborto e outras,
adeptas dessa prática, nunca estao em condicóes de avaliar na mulher as
conseqüéncias que se seguem ao aborto. I mediatamente após o ato, o pes-
soal clínico simplesmente manda a mulher para casa, e, se ela vier a ter
problemas, irá procurar auxilio em outro lugar qualquer.

Urna investigacao mais sistemática demonstra que todas as reacoes pe-


rigosas ao aborto ocorrem tardíamente. Este padrao de reacio retardada fez
com que seja muito mais difícil delimitar, avaliar e caracterizar o problema.
A par disso, a comunidade de saúde mental tem sido muito lenta em repor
tar as reacoes desfavoráveis ao aborto. Eu sou de opiniao de que o aborto é
um procedimento traumático, que tem repercussoes negativas para a mulher,
mas cujas manifestacoes objetivas podem ser retardadas. Recentemente al-
guns terapeutas tém observado pavores irracionais e depressoes ligadas a
experiencias abortistas e rotularam o problema como SÍNDROME Pos-
ABORTO (SPA). O Dr. Vincent Rué a comparou á DESORDEN! ANSIOSA
PósTRAUMÁTICA (DAPT), a qual a comunidade psiquiátrica reconhece
como urna reacao a longo prazo encontrada nos veteranos da Guerra do
Vietnam, que súbitamente exibem comportamento patológico anos após a
experiencia vivida na guerra. Rué acredita que a SPA é urna forma de DAPT.
É significativo o fato de que a Associacao Americana de Psicólogos levou
doze anos para reconhecer oficialmente a DAPT como urna entidade clí
nica.

2. Questao básica

Urna questao importante é: Todas as experiencias abortivas sao auto


máticamente estressantes ou apenas algumas muiheres tém problemas? Se
apenas algumas muiheres sofrem da SPA, quais sao as características daque-
las mais susceptíveis? Estas sao questSes que nao podem ter resposta plena
agora.

Rué acredita que existam varias categorías de reacoes: algumas


muiheres respondem com grande trauma, outras com reacSes mo
deradas, enquanto um terceiro grupo pode vir a nada sofrer posteriormente.

A terapeuta Terry Selby, de outro lado, acredita que cada aborto pro-
duz um trauma na mulher. O aborto é, antes de tudo, um procedimento

323
36 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 350/1991

físico, o qual produz um choque no sistema nervoso e deve provocar um


impacto na personalidade da muiher. Além das dimensoes psicológicas, ca
da muiher que se submeteu a um aborto deve encarar a morte de seu filho
que nao nasceu, como urna realidade social, emocional, intelectual e espiri
tual. Tanto Selby como a Dra. Anne Speckhard trabalharam com mulheres
que tentaram ignorar os efeitos do aborto, e ambas acreditam que, quanto
maior é a rejeicao, maior é a dor e a dificuldade quando a muiher finalmente
enfrenta a realidade da experiencia abortiva.

3. Premissas psicológicas

Para entender esta conclusao e ter atguma base para raciocinio e pes
quisa da SPA, é necessário que entendamos a orientacao teórica dos terapeu
tas e seus "pressupostos".

A primeira premissa é de que existe um processo inconsciente em acao


em cada pessoa que controla os estados emocionáis e, em última análise, o
comportamento. Se urna verdade é por demais desagradável, é possível aos
seres humanos suprimir ou reprimir a realidade na parte inconsciente de sua
mente, de forma a nao ter que conscientemente pensar nela. Esta é urna fa-
culdade muito importante, porque nos protege da necessidade de pensar em
acontecimentos muito dolorosos.

Urna segunda premissa postula que, mesmo sendo possível reprimir fa-
tores reais, eles, apesar disso, continuam a afetar nossos estados emocionáis
e nosso comportamento. Quando existe excesso de rejeicao, a dor reprimida
nos traumatiza de alguma outra forma. De acordó com os clínicos, quando
as mulheres que abortaram, rejeitam ou reprimem sua experiencia, os desa-
justamentos podem incluir grande descontrole emocional quando próximas
a enancas, um medo irrealista de médicos, urna incapacidade de tolerar um
exame ginecológico rotineiro, ouvir o som de um aspirador de pó ou ser
sexualmente estimuladas, etc.

O importante a ser entendido sobre essas manifestacSes é que elas sao


reacSes irracionais a acontecimentos perfeitamente normáis; e as mulheres
nao t§m consciéncia de sua ligacSo com a experiencia abortiva. É somente
através da terapia que a ligacao freqüentemente emerge.

Assim, a partir dessa perspectiva teórica, admite-se que mesmo mulhe


res lesadas por suas experiencias abortivas podem, de boa fé, alegar nSo te-
rem sofrido reacóes adversas, já que os problemas foram reprimidos, nao ha-
vendo nocao consciente dos mesmos. Além disto, de acordó com a mesma
teoría, quanto maior é a repressáo, quanto maior a rejeicao, maior á o daño
á personalidade da muiher. Como mencionado antes, Selby acredita que,
quanto maior é a negacao, mais graves serao as reaedes e mais doloroso será
o tratamento.

324
Sl'NDROME PÓSABORTO 37

David Reardon, em seu levantamento de mais de 200 rnulheres perten-


centes ao movimento MULHERES VITIMADAS PELO ABORTO (WEBA),
encontra também evidencia em suas observacoes de que, quanto mais tar
de a realidade é admitida, mais difícil é a solucáo do problema. Assim, a
conclusao é que cada aborto tem efeitos prejudiciais sobre a mulher.

4. A profundando...

Os defensores do aborto alegam que somente as mulheres com proble


mas psicológicos anteriores tém dificuldade em suportar as experiencias
abortivas. As próprias mulheres discordam dessa proposicao. Contudo, pode
ser verdade que mulheres com problemas previos sejam mais suscetíveis ás
reacoes mais graves. Nos simplesmente nao temos elementos para responder
a essas questoes de ¡mediato. Podemos, entretanto, concluir com certeza
que essas mulheres deveriam ser protegidas de traumas futuros induzidos por
experiencias abortivas.

Quais sao os problemas que urna mulher que provocou aborto, deve
encarar? Antes de tudo, e principalmente, a necessidade de enfrentar o ato
de provocar um aborto. A verdade é que, quando urna mulher aceita subme-
ter-se a um aborto, ela concorda em assistir á execucao de seu pr6prio filho.
Esta amarga realidade que ela tem de encarar, se opóe vivamente áquilo que
a sociedade espera que as mulheres sejam: pacientes, amorosas e maternais.

Isto também vai contra a realidade biológica da mulher, que é plasma


da precisamente para cuidar e nutrir seu filho (linda nao nascido. Assumir o
papel de "matadora", particularmente de seu próprio filho, é extremamente
doloroso e difícil.

O aborto é tao contrario á ordem natural das coisas que ele automáti
camente índuz & sensacao de culpa. A mulher, entretanto, deve admitir su a
culpa para poder conviver com ela.

Existe urna escola de pensadores, seguida pela maioria dos promotores


de aborto, que afirma que a admissao da culpa nao é necessária. Sustentam eles
que, se urna mulher se senté culpada, é porque alguém "colocou a culpa
neta". O que eles sugerem, é que isto acontece porque a mulher foi forcada
pelos adeptos do movimento Pró-Vida a "assumir uma atitude de culpa",
que cria uma dor desnecessária e nao leva a coisa alguma. Presumem eles que
a culpa nao emerge do interior da mulher, mas, ao contrario, é incutida para
dentro déla. Contudo, a experiencia das mulheres que se submeteram a
aborto, nao está de acordó com essa afirmacao. Ao contrario, as mulheres
pertencentes ao movimento de MULHERES VITIMADAS PELO ABOR
TO relatam que a culpa se manifestou e cresceu com a própria experiencia

325
38 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 350/1991

abortiva; foi parte da reacao própria ao aborto e nao ¡nfundida nelas por ou-
tras pessoas.

A primeira providencia enfatizada pelos clínicos que trabalham com


mulheres que se submeteram a aborto, é fazer que elas chorem pelo filho
perdido. A realidade é que urna enanca morreu, e a resposta humana natural
á morte é a tristeza. Se a mulher é impedida de assim reagir, ela terá dif¡cuI-
dade de encarar a realidade da experiencia abortiva.

Entristecer-se significa que ela tem nocao de seu filho e que está cho
rando por urna determinada pessoa que morreu. Obviamente isto é mais di
fícil quando se trata de urna enanca que nunca foi vista. Era menino ou me
nina? Qual a cor dos cábelos e dos olhos que ele ou ela teria?

O problema é ainda mais intrincado no caso do aborto, porque o cor-


po da crianca é geralmente mutilado, e é difícil para a mulher pensar na
enanca cujo corpo nao mais existe.

O Dr. Joannes Angello compara isso ao problema que enfrentam os


pais de urna crianca que teve morte violenta e cujo corpo nao é encontrado
de modo que nao pode ser velado ou enterrado.

Como se pode resolver o problema? Em primeiro lugar, a mulher deve


admitir que a enanca está morta, de maneira que ela possa chorar por ela.
Para chegar a este ponto, a mulher tem que quebrar suas resistencias para
permitir o reconhecimentó da culpa. A culpa pode ser entao utilizada tera
péuticamente para ajudá-la a aceitar o fato de que ela errou, pedir perdao e
ser curada.

5. Como remediar?

Os terapeutas desenvolvem estrategias diferentes para ajudar a mulher.


Por exemplo, Speckhard faz com que a mae visualizo seu beba dando-lhe
urna boneca para representar o filho morto. Ela é encorajada a dar um nome
á boneca e falar com ela sobre seus sentimentos e tristeza. Isto Ihe dá urna
oportunidade de se "desculpar" com o bebé morto pelo que ela Ihe fez, e
comecar a prantear a crianca perdida.

A abordagem de Selby requer que a mulher exteriorize a dor de sua


experiencia. Ela acredita que ela deva admitir como reais e liberar as emo-
cSes contidas e que nunca foram expressas por terem sido reprimidas pela
rejeicSo. Uto pode ser um procedimento emocionalmente rnuito doloroso.

Urna abordagem ¡nteiramente diferente é contudo* necessária para


mulheres com um ano ou mais de experiencia abortiva e que pedem urna

326
SÍNDROME POS-ABORTO 39

alternativa ou um programa do WEBA. Elas geralmente já admitiram suó


culpa e sofrem por ela, mas necessitam de alguém para ajudá-las no sofri-
mentó. Assim, existe urna variedade de problemas e necessidades e urna di-
versidade de estrategias para ajudar as mulheres no processo de cura. A des-
peito dessa diversidade, existe algo que todos os terapeutas tém em comum:
é acreditarem que a cura deve ser encarada como um acontecimento espiri
tual. Freí Michael Mannion sintetizou sua posicao, quando disse: "O Autor
da vida deve curar a perda da vida." Somente pela aceitacao do amor e do
perdao de Oeus a mulher pode ser curada.

Qual a natureza dessa cura? Pode ela apagar da memoria o aborto co


mo se ele nunca tivesse ocorrido? A resposta a esta última questao é "nao".
Como urna mulher do WEBA colocou: "Pode alguém ser curada da culpa,
mas a tristeza fica sempre".

Assim, o primeiro propósito da experiencia de cura é superar os efei-


tos adversos da culpa admitida, mas o remorso pelo ato é para toda a vida.
Por mais completa que seja a cura, a realidade do ato em si nao pode ser apa
gada.

O bebé abortado é urna pessoa humana real, cuja ausencia será sentida
pela mae e por aqueles ao redor déla enquanto eles viverem. Os novos rela-
cionamentos que a mae vier a desenvolver, serao afetados pela presenca da
enanca morta. Criancas nascidas subseqüentemente ao aborto terao um ir-
mao mono, cuja realidade terá sempre um impacto em suas vidas.

A experiencia clínica de Angello com tais crianpas tem sido importan


te. Os pais se caracterizam por urna protecio patológica aos filhos, recean-
do perdé-los por algum acídente ou doenca. O desejo obsessívo de outros fi
lhos é decorrente da necessidade de terem urna crianca para colocar no lu
gar da falecida. Este comportamento é extremamente prejudicial á evolu-
cao e ao desenvolvimento normal dos filhos.

Assim os efeitos do aborto atingem a vida de cada individuo á volta da


mulher, incluindo seus amores e filhos futuros.

Por exemplo, como alguém diz a seus próprios pais que um seu neto
foi morto e nunca participará de um Natal ou de urna excursáo ao Zoológi
co? Como se diz a um filho que nasceu depois, por que um irmao ou urna ir-
ma foram mortos e, mais importante, por que ele em particular nao o foi?

Como explicar o aborto a um futuro marido que deseja se casar e


ter urna familia? Que dizer, se a mulher ficou estéril? Seria a esterilidade
causada pelo aborto? Estas sao questoes duras, ás quais se deve urna respos-

327
40 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 350/1991

ta. Felizmente, a mulher que se curou, estará apta a lutar para superar esses
problemas, mas ¡sto nunca será fácil.

5. Por que o aborto?

De que maneira sao as mulheres vitimadas pelo aborto? Primeiro de


tudo, nos sabemos que a maioria das mulheres que se submeteram a aborto,
teriam preferido outra solucao para o problema. Elas sao claramente vi'timas
de urna decisao tomada por outros. Contudo, muitas mulheres realmente es-
colhem o aborto. Podem elas ser consideradas vítimas? Os dados sobre a
síndrome pós-aborto indicam que a culpa e a dor ¡nerentes ao aborto em si
mesmo vitimam a mulher. Como urna mulher, membro do WEBA, coloca:
"Urna vez que urna mulher se torna mfe, ela será sempre mae, tenha ou nao
nascido seu filho. O filho morto fará parte de sua vida, por mais longa que
ela seja."

O aborto nao é a "solucao fácil" de um grave problema, mas um ato


agreásivo, que terá repercussóes continuas na vida da mulher. É nesse senti
do que ela é vi'tima de seu próprio aborto e temos a obrigacao de Ihe dizer
esta verdade.

***

(contínuacao da p. 336)

A equipe de saúde conta com a colaboracáo do capeláo do hos


pital, que participa das reunióes e tarefas do grupo com pleno direito.
Assim a dimensao religiosa do paciente é levada em conta, permitindo tra-
tamento integral.

"A dimensao espiritual nao é acessórío facultativo, mas perspectiva


essenciai guando o doente é considerado como su/'eito. . . Para dar lugar á
pastoral, a medicina nao precisa de transformarse em confessionário; bas
ta que combata contra a coisif¡cacao do homem, como todos aqueles que o
consideram como sujeito, e nao como simples coisa" (p. 238).

5. Conclusao

Sao estes alguns tópicos de um livro muito rico em ¡nformacoes sobre


teorías existentes na área da Ética Biomédica. O cabedal de noticias aprecia
das pelo autor é valioso. Lamenta-se, porém, certa frieza com que Sandro
Spinsanti expoe as teses respectivas com seus pros e contras, sem tomar posi-
cao definida mesmo quando refere as sentencas da Igreja.

Estévao Bettencourt O.S.B.

328
Informativo útil:

"Etica Biomédica"
por Sandro Spinsanti

Em símese: Sandro Spinsanti, teólogo, psicólogo e professor, apresen-


ta ao público urna obra informativa muito rica a respeito de teorías existen
tes na área da Ética Biomédica; o leitor poderá aprender coisas novas, como
a realizacao de experiencias inéditas ou expiicacdespara determinados com-
portamentos humanos. Especialmente interessantés sao as consideracSes
do autor sobre o sentimento de culpa, que outrora dividia psicanaiistas e sa
cerdotes (aqueles atribuindo a estes o surto e o estímulo de tai sentimen
to); o autor afirma que a psicología recente reconheco ó sentimento de culpa
como algo de inseparável de cobica e proibícao; é, pois, urna dimensao natu
ral do ser humano; esta veril'¡cacao abre caminho para a conciliario de psi-
canálise e religiSo.

Também sao valiosas as ponderacoes do autor sobre a colaboracao


de medicina e ministerio sacerdotal em prol da recuperacio da saúde físi
ca e psíquica dos pacientes; estes sao dotados de espiritualidade e, como
tais, devem ser levados em conta pelos agentes de saúde.

* * *

' 0 Prof. Sandro Spinsanti, teólogo e psicólogo, é docente de Bioética


na Faculdade de Medicina da Universidade de Florenca e na Pontiffcia Uni-
versidade de Santo Tomás (Roma). Dirige o Departamento de Ciencias
Humanas do Hospital Fatebenefratelli da ¡tha Tiberina em Roma. É, portan-
to, perito no tocante aos assuntos de Ética Médica. Entre outros, escreveu
um livro traduzido para o portugués com o título "Ética Biomédica",1
que vem a ser um informativo valioso sobre teorias e teses de Ética frente
aos progressos da Medicina. 0 autor geralmente nao toma posicao clara
diante do leque de opiniSes e sentencas; detém-se muitas vezes no campo do
Oireito (foro externo) mais do que no da Moral (foro interno, consciéncia.

1 Sandro Spinsanti, Ética Biomédica. Traducao do italiano por Banóni Le-


mos. Ed. Paulinas, Sao Paulo 1990, 130x205 mm, 255 pp.

329
42 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 350/1991

responsabilidade pessoal). Embora se perceba que tem orientadlo católica,


desejar-se-ia mais solidez na apresentacao dos principios da Moral católica,
principalmente quando o magisterio da Igreja (que sempre fala após ouvir
os peritos) já emitiu pronunciamentos a respeito.

Ñas páginas subseqüentes, destacaremos dessa obra as noticias mais


importantes sobre o pensamento de médicos e psicólogos no tocante a
assuntos de Ética profissional. Em PR a temática já tem sido abordada sob
alguns de seus aspectos; neste artigo tocaremos em outros tópicos.

1. O termo da vida. Eutanasia

1.1. Quando morre o individuo?

Sandro Spinsanti lembra que outrora as pessoas tinham medo de ser


sepultadas vivas, pois eram precarios os criterios de averiguacáo da morte
(espelho em bagado ou nao, chama de vela que tremesse ou nao, diante dos
labios e do nariz do paciente). Hoje verifica-se o contrario: as pessoas tém
medo de que nao as deixem morrer por causa da obstinacao terapéutica.
Tem-se mesmo noticia de que urna pessoa conservada em coma durante tres
anos foi utilizada para experimentacao médica na Franca!

Atualmente a questao do momento preciso em que ocorre a morte, é


especialmente grave por causa do interesse dos cirurgioes em transplantes.
Há quem apele para criterios meramente técnicos e mecanicistas (eletroen-
cefalograma. . .); outros querem, antes, levar em coma o aspecto humanís
tico da questao, declarando que nao há mais vida humana quando toda pos-
sibilidade de consciéncia psicológica e de relacionamento do paciente com
os seus semelhantes está definitivamente eliminada. Ora este criterio é assaz
subjetivo e imponderável, de modo que o próprio Prof. Sandro dá preferen
cia a um parecer emitido pela Pontificia Academia de Ciencias:

1) urna pessoa está morta quando sofreu a perda irreversi'vel de toda


capacidade de integrar e coordenar as funcoes físicas e mentáis do seu cor-
po;

2) isto pode ser averiguado se dois eletroencefalogramas, tirados h


distancia de seis horas um do outro, sao ambos lisos. Entao o individuo está
certamente morto e seus órgaos podem ser utilizados para transptante.

1. 2. A prolongacáo artificial da vida

"A multiplicagao dos transplantes de ergios é responsáve/, em parta,


pelas medidas de prolongado artificial da vida. A fim de terem órgaos dis-

330
'ÉTICA BIOMÉDICA" 43

pon i veis no momento do transplante, as equipes de reanimado mantém


a vida vegetativa de pessoas consideradas monas. Aínda que a finalidade sa
ja nobre, essas medidas provocam perplexidadg, do ponto de vista moral:
nao se pode evitar a impressao de que o processo de morrer ó instrumenta-
tizado para fim utilitarista" (pp. 193s).

Verificase outrossim que alguns médicos arrogam a si o direito de


definir a hora em que o paciente deve morrer. Com efeito; em outubro de
1984 realizou-se em Nice um Congresso de Médicos, durante o qual falou o
famoso Dr. Prof. Christian Barnard nos seguintes termos:

"Nao podemos e nao de vemos pedir ao doente que escolha o momen


to preciso de sua morte; seria desumano. Os médicos, e só eles, á que podem
decidir quando é chegada, para o doente, a hora de morrer. Porque só eles
é que tém a formacao que permite fazer um diagnóstico clínico exato".

Segundo esta declaracao, inverte-se o papel do médico: em vez de ser


o protagonista incondicional da vida,1 pode tornarse o agente da morte do
paciente.

A posicao do Or. Barnard agitou nao somente o mundo médico, mas


também o religioso. Assim o episcopado francés, em documento intitulado
"Vida e Morte por Encomenda" (novembro de 1984), citou explícitamente
a reivindicado de Barnard, apontando-a como porta aberta para todo géne
ro de totalitarismo; aceita essa posicao, "o homem já nao é sujeito, mas
objeto..."

"Desde que o gesto médico possa ser mortal, " 'justificado' por bons
sentimentos, a confianca ficará atingida. 0 doente entáo perguntará a si
mesmo 9e a injecáo que vai tomar, é para curá-lo ou para matá-lo" (citado
por Spinsanti, p. 196).

Em suma, ao médico nao compete dispor da vida de ninguém a ponto


deabreviá-la, caso a julgue inútil ou insustentável, mas também nao I he é
lícito abandonar o paciente á própria sorte, desde que pense nao haver mais
recursos da Medicina a aplicar-lhe, mas é necessário que o procure compre-
ender e acompanhar a fim de the aliviar o desenlace final. Segundo a Ora.
Elisabeth Kübler-Ross. o encaminhamento para a morte se processa em cin
co fases:

1 Assim reza o juramento de Hipócrates, classicamente proferido pelos mé


dicos: "Jamáis deixarei levar-me pelos pedidos insistentes de alguém para mi-
nistrar-lhe medicamentos tetáis; jamáis farei coisas semelhantes".

331
44 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 350/1991

1) ao ouvir a noticia de que está mortal mente enfermo, o paciente re


cusa dar-lhe crédito; responde: "Nao é possível. Nao eu! Agora nao!" É isto
um meio de defesa: o paciente procura outro médico, imagina ter havido
erro nos exames de laboratorio, de radiología...

2) O realismo acaba prevatecendeo... O paciente se convence do pe-


' rigo que o ameaca e prorrompe em revolta: "Por que precisamente eu?"
Afeta-o a inveja em relacao as pessoas sadias, e a cólera frente a Deus, á fa
milia, ao pessoal do hospital. Se esses acompanhantes souberem pacientar e
entender o enfermo, dedicando-lhe atencao e tempq, ele superará a crise e
entrará na tercéira fase.

3) A negociapáo... O paciente procura entrar em acordó com aquele


que representa a onipoténcia (o médico ou Deus) para obter o adiamento
ou o cancelamento do desenlace previsto; pode entao multiplicar preces, vo
tos, devocoes...

4) Se a melhora nao sobrevém, o enfermo cai em depressao, que se


assemelha a um triste recolher dos remos do barco; desinteressa-se dos
cuidados que Ihe sao dispensados e das pessoas que o cercam.

5) Finalmente o enfermo passa a aceitar a situacao, como se a luta ti-


vesse terminado e houvesse chegado o tempo do "repouso final, antes da
longa viagem" (como dizia um doente á Dra. Kübler-Ross). Urna indiferenca
progressiva substituí a comunicacao bilateral. Só resta aos acompanhantes
segurar em silencio a máo daquele que solta as amarras e se abandona a de
riva.

Estas sao as impressoes da Dra. Kübler-Ross. Todavia a mesma profis-


sional reconhece que tal itinerario nao é obrigatório nem tem sentido único.
Na verdade, quem tem urna sólida fé crista se isenta de ta*o triste vai-e-vem
final, e pode perfeitamente abracar, com alegre confianza, a hora de sua par
tida para a Casa do Pai. Sao Paulo dizia desejar dissolver-se para estar com
Cristo, coisa que Ihe parecia muito melhor do que ficar nesta vida (cf.
Fl 1,23). Os justos vivem na expectativa desse encontró final, de tal modo
que a noticia de sua aproximacao nao os atordoa, mas suscita a renovacao
de sua fé e esperanca na consecucSo da Grande Resposta para seus anseios.

De resto, a posiclo de Sandro Spinsanti nao é muito definida diante


da questao da eutanasia. Cita a Declaracao da Igreja a respeito, mas nao a
enfatiza devidamente. Com efeito; a Igreja, com os médicos, distingue:

332
'ÉTICA BIOMÉDICA' 45

direta ou positiva

Eutanasia ordina
rios

extra
indireta ou negativa: suspensSo dos
ordina
meios de subsistencia
rios,
ou

despro
porcio
náis

A eutanasia direta é sempre ¡lícita, ainda que inspirada por compai-


xao, pois torna o homem "senhor da vida", que pertence a Deus só.

A eutanasia indireta, por suspensao de recursos ordinarios (soro, ali-


mentacao, transfusao de sangue...), também é ilícita, pois equivale a um
morticinio.

É licita á última modalidade de eutanasia, quando os recursos apara


tosos e caros.sao aplicados sem que haja resultado proporcional ou corres
pondente. A sofisticada aparelhagem pode ser retirada sem que haja ofensa
ao Criador, pois nao há obrigacao de entreter urna vida vegetativa sem espe
ranza de melhora do doente comático. A propósito ver PR 342/1990
pp. 508-513; 345/1991, pp. 80-83.

2. Regulacao da natalidade

, O autor reconstituí a historia da questao: no mundo antigo, a filosofía


e a medicina greco-romana praticamente nao mostraram interesse pelos as
pectos moráis da contracepcao. O Cristianismo, ao contrario, propds rígida
Ética sexual, da qual fazia parte a condenacao das práticas contrarias á pro-
criacao. As primeiras comunidades cristas se opuseram ás tendencias cultu
ráis da época, distanciando-se daquele conjunto de práticas, globalmente de
nominadas pharmakeia, que tinham finalidades abortivo-contraceptivo-
mágicas.

Quando os problemas demográficos levaram Th. Malthus. no inicio


do sáculo passado, a propor a tese da anticoncepcao, o protestantismo Ihe
aderiu: a comecar pela Comunhao Anglicana (conferencia de Lambeth,
1930), os pastores e teólogos evangélicos aceitaram o principio da regula-
cao da natalidade por métodos artificiáis.

333
46 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 350/1991

Sandro Spinsanti apresenta entao a variedade de posicoes e técnicas


referentes á contracepcao, desde o coito interrompido até a pi'lula. Acres-
centa que a Igreja Católica se mantém firme na rejeicao de tais recursos,
apregoando a continencia periódica ou a limitacao natural da prole para o
exercfcio do planejamento familiar ou da paternidade responsável: a última
palavra no assunto foi a de Paulo VI na Encíclica Humanae Vitae (1968),
confirmada repetidamente por JoSo Paulo II: o respeito as leis naturais]
que sao as leis de Deus, há de ser observado fielmente; ficam, pois, á escolha
dos casáis os métodos que visam a reconhecer o momento da ovulacao me
diante o controle da temperatura basal ou a análise do muco cervical (mé
todo de Billings). Observa, nesta altura, Sandro Spinsanti:

"A Igreja Católica nao está ¡solada na recomendado dos métodos na


turais de regulacSo da fertilidade. Também a Organizacao Mundial da Saúde
dedica crescente interesse aos métodos que se destinam a determinar o pe
ríodo fértil, visando é regulacao da natalidade por métodos naturais. Alguns
motivos antropológicos fazem com que sejam preferidos a outros: de fato,
os métodos naturais favorecem o diálogo entre os cónjuges, exigem a respon-
sabilizacao das duas partes, nao tém contra-indicacao do ponto de vista
higiénico e ecológico, e promovem na mulher o conhecimento do próprio
corpo"(p. 120).

É importante ler isto sob a pena de Sandro Spinsanti, que é muito


sobrio quando se trata de assumir posicóes claras, mesmo que sejam as da
Igreja Católica.

3. Psicoterapia e Religiao

A psicanálise, desde os tempos de seu mestre Sigmund Freud (t1939),


e a religiao tém sido antagónicas entre si. Os pioneiros da psicanálise julga-
vam que a religiao era causadora de estados psicopatológicos; a religiao se
ria "neurose obsessiva". Por isto a Igreja Católica acautelou os fiéis em reía-
cao ao tratamento psicanah'tico, possivelmente devastador da fé e da Moral.

Em 1961 o Santo Oficio proibiu a clérigos e Religiosos o exercfcio


da psicanálise. Mestres católicos, como o famoso Pe. Agostinho Gemelli
O. F. M., consideraram incompatfveis com a fé católica as doutrinas e o tra
tamento psicanal (ticos, principalmente como concebidos por Freud, arauto
de um pansexualismo materialista.

Foram tidos como antagónicos um ao outro o papel do psicoterapeu-


ta e o do sacerdote: enquanto este tendería a suscitar e manter o sentimiento
de culpa, o psicoterapeuta dirigiría seu trabalho para a eliminacao desse sen-
timento. — Na verdade, certas formas de catequese podem ter acentuado

334
'ÉTICA BIOMÉDICA" 47

unilateralmente a hediondez do pecado e o pavor do inferno, dando por


vezes ocasiao a que surgissem crises de escrúpulo em pessoas assim formadas.
Os psicanalistas terao utilizado esse fator para combater a religiao; fize-
ram-no, porém, de mane ira cega e destruidora de valores básicos da perso-
nalidade humana.

Ora os psicanalistas evoluiram. . . Alguns deles, após pesquisas e ref le-


xoes, já reconhecem que a culpabilidade é categoría fundamental da psique
humana; está de tal modo entranhada ñas dobras do inconsciente que nao é
suficiente rejeitar o Cristianismo para conseguir a libertacao do universo mór
bido da culpa. O sentimento de culpa é tío forte que se dá a conhecer até
sob os protestos mais frenéticos de nao culpabilidade. Sao palavras de S.
Spinsanti:

"No ámbito do pensamento psicológico-psicanalftico, verificou-se urna


reflexao sobra o sentimento de culpa, cuja importancia supera a dimensao
propiamente prético-operativa da terapia. Grapas a esse trabalho de pesqui
sa teórica, a culpabilidade aparece como categoría fundamental do espirito
humano. Ela está de tal modo entranhada ñas dobras do inconsciente que
nao foi suficiente rejeitar o Cristianismo para conseguirá libertario do uni
verso mórbido da culpa. O sentimento de culpa é onlpotente, tanto que se
dá a reconhecer até sob os protestos mais frenéticos de nao culpabilidade"
(p. 156).

Houve quem quisesse atribuir o sentimento de culpa á repressio dos


impulsos ¡natos do homem, repressao exercida pela sociedade moderna, in
dustrial, preocupada com as categorías daprodutividadeedarentabilidade;
tal foi a tese freud-marxista de Herbert Marcuse. Tal tese, porém, é contradi-
tada por outros estudiosos, que afirmam a endogénese do sentimento de
culpa; a proibicao e o sentimento de culpa acompanhariam os nossos impul
sos naturais como sua sombra inseparável.

Os psicoterapeutas todavía insistem em obter a personalidade "sa",


isenta de todo residuo do sentimento de culpa; seria a pessoa que se senté
O.K., auto-realizada, liberta de qualquer ¡mpressao de haver errado na vida.
A estes estudiosos respondem outros - tanto teólogos quanto psicólogos
- que a condicao humana isenta de sentimento de culpa parece ¡mpossí-
vel; nem mesmo é desejável a título de termo ideal. O que importa, é, ao
contrario, tirar bom proveito desse sentimento: pode excitar o sujeito a eres-
cer na dimensao da sua espiritualidade. Cf. p. 156s. - Sendo assim, o autor
insinúa a tese de que nao há confuto entre determinada corrente de psica-
nálisee a religiáo:

"Psicoterapia e religiao, aínda que conservando a identidade própria,

335
48 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 350/1991

podam agir de modo sinérgico, em benefítío do homerp total. Isto implica.


também* fecunda criticarecíproca.Apsicoterapia, efevi» vigiar sobro.as dege
nerescencias mórbidas ás'quaisareligiosida'deestá sujeita... A teología,por
$ua.vez, pode e deve denunciar como anti-humana urna psicoterapia que
queira realizar projeto antropológico mutilado da.abertura para a trans
cendencia. ..

Grapas ás contribuyes de E. Fmmm, V. Frankl, R. May e. em geral,


das corremos de psicología humanística é iranspessoal,... . em vez de de
nunciar o comportamento religioso como neurótico, iende-se a ver na re-
pressio da dimensao espiritual urna causa de mal-estar, o qual repercute
também na saúde mental (as 'neurosos noógenas' de Frankl)" (p. 157s).

A estas observares de Sandro Spinsanti acrescentamos, em perspec


tiva nítidamente crista, que o sentimento de culpa décorre da consciéricia
que todo homem tem da sua fragilidade e de suas conseqüentes quedas;
quanto mais alguém é santo, tanto mais sabe ser imperfeito e portador de
fainas. Todavia este sentimento é inseparável da cohviccao da misericordia
de Deus, para a qual nao há pecado irremissível, .desde que o pecador se
arrepénda sinceramente; Por conseguinte, a dor da culpa é superada pela aler
griá do perdao que Deus concede ao filho pródigo de volta á casa paterna.
Eis por que a psicanálise nao tem como censurar a mensagem crista. - De
outro lado, sabe-se. que há psicanalistas dissidentes da escola materialista e
pansexualistádeSigmund Freud;aplicam/sim; asiécnicas^analíticas, mas se
gundo urna visao antropológica que respeita a espjritualidade e o senso reli
gioso do paciente. Visto que sao poucos os que assim procedem, compreen-
de-se que algreja mantenha reservas em.relácSo.á psicanálise corrió égeral-
mente praticada; ela muitás vezes "desmoríta" o individuó, relativiza suas
concepcóes. dissuade-o de renuncias necessárias.e sadias e incita-o a pro
curar nos prazeres da sexualidade o seu reconforto.

4. Módico e Sacerdote no Hospital

0 capítulo XI do livro (pp. 217-238) trata da "comunicacao no pro-


cesso terapéutico". Aborda as relacóes entre o médico com seus auxiliares e
o paciente, propondo sempre um tratamento qué vá além das normas mera
mente técnicas e profissionais, para assumir também aspectos humanos e
compreensivos das carencias íntimas dos enfermos.

Como modelo desse tipo de comportamento, o autor cita o Departa


mento de Clínica Psicossomática de Ulm (Alemanha), que se caracteriza por
algumas inovacoes na terapia dos pacientes internados.
(continua na p. 328)

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