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MÓDULO 07-A
SUMÁRIO
Introdução ................................................................................................ 02
Capítulo I — A Natureza da Graça ............................................................ 03
Capítulo II — A Graça no Antigo Testamento ............................................ 03
Capítulo III — A Graça no Novo Testamento ............................................. 04
Capítulo IV — A Graça e o Plano da Salvação .......................................... 05
Capítulo V — A Graça e o Conhecimento ................................................. 07
Capítulo VI — A Graça Resistível .............................................................. 11
Capítulo VII — A Graça Comum de Deus no Refreamento do mal...........................15
Capítulo VIII — Lei e Graça: Uma Visão Reformada .................................. 18
Conclusão ................................................................................................. 27
Apêndice A: Textos Problemáticos Sobre a Graça .................................... 28
BIBLIOGRAFIA......................................................................................................31
INTRODUÇÃO
Capítulo I
A NATUREZA DA GRAÇA
Definição
Graça, em seu sentido comum, é mercê, favor ou benevolência. Teologicamente,
é o dom sobrenatural concedido por Deus como meio de salvação. É misericórdia
imerecida, livremente concedida ao homem por Deus.
Tipos de Graça.
Ao se debater o assunto da graça, deve-se manter uma distinção importante
entre graça comum (geral, universal) e graça especial (salvífica, regeneradora), a
fim de se compreender corretamente o relacionamento entre a graça divina e a
situação humana.
Graça Comum. A graça comum ou geral ou universal é assim chamada porque
toda a humanidade a recebe em comum. Seus benefícios são usufruídos pela
totalidade da raça humana, sem distinção entre uma pessoa e outra. A graça
comum é vista basicamente em três aspectos: (1) provisão graciosa de Deus nas
coisas naturais, tais como seqüência das estações, semeadura e colheita (Mat.
5:45); (2) governo ou controle divino da sociedade humana como poder restritor do
mal (Rom. 13:1ss); (3) a consciência interna no homem entre o certo e o errado,
entre a falsidade e a verdade, entre a justiça e a injustiça.
Graça Especial. A graça especial é a graça pela qual Deus justifica, santifica e
glorifica o Seu povo. Ao contrário da graça comum, que é dada universalmente, a
graça especial é outorgada somente àqueles que Deus elege à vida eterna,
mediante a fé em Seu Filho, nosso Salvador Jesus Cristo (2 Cor. 5:18). A graça
regeneradora de Deus é dinâmica — não somente salva como também transforma
e revitaliza aqueles cuja vida anteriormente estava destruída e sem significado (1
Cor. 15:10).
Meios de Graça
Chamam-se meios de graça as vias pelas quais a graça pode ser recebida. O
principal meio é o das Escrituras Sagradas, “de onde deriva a totalidade do nosso
conhecimento da fé cristã e cujo propósito principal é nos comunicar a graça
salvífica do evangelho de Jesus Cristo (2 Tim. 3:15; João 20:31). A pregação, que é a
proclamação da dinâmica do evangelho, é, conforme demonstram o ensino e a
prática do próprio Cristo e dos apóstolos, um meio de graça de máxima importância
(Luc. 24:47; Atos 1:8; Rom. 1:16; 10:11-15; 1 Cor. 1:17-18, 23). Semelhantemente,
1
Moffatt, Grace in the New Testament, pág. 15.
Mód. 07-A - Graça 2
o testemunho pessoal e a evangelização são meios de levar aos outros a graça do
evangelho.
“ Se os itens mencionados acima são essencialmente meios de graça salvífica,
também há meios de graça para a perseverança e o fortalecimento. A exposição
das Sagradas Escrituras para a instrução e edificação dos crentes cristãos é um
destes meios, como também o é o estudo particular da Bíblia. Outro meio é a
oração, mediante a qual o cristão tem comunhão com Deus, experimenta Sua
presença e abre-se a Seu propósito e poder. Outro meio é o convívio fraternal com
os cristãos na adoração e no testemunho. E também deve-se acrescentar o
sacramento [ordenança] do partir do pão, que Cristo instituiu e ordenou aos Seus
seguidores que o observassem (Atos 2:42).” 2
Capítulo II
A GRAÇA NO ANTIGO TESTAMENTO
Vocabulário Hebraico
As duas palavras hebraicas usadas no Antigo Testamento para graça são hesed
e hen.
(1) Hesed é usada cerca de 250 vezes no Antigo Testamento e traduzida
principalmente como “misericórdia” e dezenas de vezes como “bondade”,
“longanimidade” etc. Significa amor leal, firme e fiel, e enfatiza a posse mútua de
duas pessoas envolvidas num relacionamento de amor. Lutero a traduziu por
Gnade, a palavra alemã para “graça”. Apesar disso, hesed não é exatamente o
equivalente de graça, mas uma palavra de duas facetas: tanto pode ser empregada
com relação a Deus quanto com relação ao homem. Quando empregada com
relação a Deus significa realmente graça (Lam. 3:22). Quando empregada, porém,
com relação ao homem (Osé. 6:6), deixa subentendido um amor constante por
outros ser humano ou por Deus. Hesed aparece quase sempre associada com a
palavra “aliança” e denota a atitude de fidelidade com que ambas as partes de um
pacto devem caracterizar-se. Snaith sugere a tradução “amor pactual” como o
equivalente mais aproximado nas línguas modernas.
(2) Hen não é uma palavra relacionada a alianças nem apresenta duas
acepções. “Derivado de uma raiz que significa ‘curvar-se, abaixar-se’; indica favor
imerecido ou condescendência de um superior em favor de alguém inferior em
posição ou valor. Às vezes é usado redentivamente (Jer. 31:2; Zac. 12:10).”3 É
utilizada para significar um favorecimento de um superior, humano ou divino, para
com um inferior, geralmente um ato de clemência. A idéia é de um favor imerecido
e é traduzida por “graça” ou “favor” algumas dezenas de vezes. Encontramos
exemplos de hen humano em Gên. 33:8, 10, 15; 39:4; Rute 2:2, 10. O hen de Deus
acha-se em Jer. 31:2. Ninguém pode mostrar hen para com Deus (mas sim hesed),
pois ninguém pode fazer-Lhe um favor.4
A Graça no Pentateuco
2
Walter A. Elwell, Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, vol. II, pág. 220.
3
Nota para Gên. 6:8 de The Ryrie Study Bible.
4
J. D. Douglas, O Novo Dicionário da Bíblia, art. “Graça”.
Mód. 07-A - Graça 3
Aparentemente antagônica da graça, é a lei no Pentateuco. Mas é somente
aparência. No Antigo Testamento a comunhão, a libertação, a capacitação, a
iluminação, a direção, o perdão, a esperança, o louvor e a preservação estavam
todos baseados na hesed de Deus. A graça existiu antes de Cristo, no Antigo
Testamento. É bem verdade que não estava em primeiro plano e aparentemente se
limitava somente a Israel, mas a graça é anterior à outorga da lei. Deus tratou com
os patriarcas graciosamente. Na própria lei pode-se encontrar a graça. A escolha de
Israel como povo eleito, por exemplo, é atribuída à livre escolha de Deus, e não à
retidão de Israel (Deut. 7:7-8; cf. 8:18).
Capítulo III
A GRAÇA NO NOVO TESTAMENTO
“Embora s graça fosse manifesta no Antigo Testamento (Gên. 6:8; Êxo. 34:6; Jer.
31:3), era apenas como uma vela, comparada ao brilho da graça manifesta na
encarnação de Cristo (Tito 2:11). Graça é o favor imerecido de Deus e fornece a
base de nossa salvação, justificação, eleição, fé e dons espirituais (Efés. 1:7; Rom.
3:24; 11:5-6; Efés. 2:8-9; Rom. 12:6).”5
Vocabulário Grego
O termo grego normalmente usado para traduzir o vocábulo hebraico hen é
charis. O verbo correspondente mais aproximado, charizesthai, era empregado para
denotar tanto o perdão humano como o divino (Col. 2:13; 3:13; Efés. 4:32). O
termo hebraico hesed tem seu equivalente no grego eleos, que tem o sentido de
“misericórdia”. Esta palavra, porém, não é freqüente e ocorre principalmente em
passagens fundamentadas no Antigo Testamento, tais como Rom. 9:15-18, 23;
11:30-32). No entanto, “graça” é tradução preferível à “misericórdia”, visto incluir o
conceito de poder divino que capacita o homem a viver vida moral.
5
Nota ao pé da página de A Bíblia Anotada, para João 1:17.
Mód. 07-A - Graça 4
a dos trabalhadores na vinha ensina que Deus não tem de prestar contas a ninguém
por Seus dons graciosos (Mat. 20:1-16), a da grande ceia mostra que o privilégio
espiritual não garante a felicidade final e que o convite do Evangelho é para todos
(Luc. 14:16-24), a do filho pródigo apresenta o pai recebendo o filho de uma
maneira que ela não merecia (Luc. 15:20-24). Ademais, o arrependimento é
sublinhado como condição de salvação (Mar. 1:15; 6:12; Luc. 24:27).
Capítulo IV
A GRAÇA E O PLANO DA SALVAÇÃO
Há Um Salvador
Isaías 53:1-7; I Pedro 2:24; 3:18; João 3:16; Romanos 5:8; Atos 4:12; João 14:6;
Isaías 43:25; Jeremias 31:34; Isaías 43:11; Lucas 2:11; João 4:42; I João 4:14; Judas
25; Romanos 4:25.
Evangelho significa "boas novas". Depois de tomar consciência de que é
pecador e que sobre si pesa a sentença de morte, o ser humano se alegra, pois há
uma boa nova para ele. Há um Salvador que pode salvá-lo da morte! É esta a
mensagem central do evangelho. A Bíblia prega a morte (ou melhor, a justiça de
Deus) apenas para que o homem procure a salvação. Se alguém não souber que
está doente não procurará pelo remédio. Só procura por salvação quem sabe que
está perdido. Por isso a intenção da Bíblia não é assustar ninguém, mas conduzi-lo
ao evangelho da salvação.
Jesus Cristo é o Salvador. Ele morreu para que tivéssemos vida. Ele pagou na
cruz por todos os nossos pecados, para que ficássemos livre da condenação da
morte. Mas esta oferta não é para todos; vale somente para aqueles que o
confessarem somo Salvador e Senhor de suas vidas: "Se com a tua boca
confessares a Jesus como Senhor, e em teu coração creres que Deus O ressuscitou
dos mortos serás salvo". Rom. 10:9. Lembre-se de que um pecador perdido não
pode salvar o seu próximo, pois não é capaz de salvar nem a si mesmo. Aqueles
que os homens veneram e consideram como deuses não são de fato deuses porque
eles também morreram: "Nenhum deles de modo algum pode remir a seu irmão, ou
dar a Deus o resgate dele". Sal. 49:7. Por isso a Bíblia anuncia que só Jesus Cristo
Salva: "E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum
outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos". At. 4:12.
A Salvação É Mediante A Fé
Marcos 16:16; João 1;12; 3:16,18,36; 5:24; 6:35; 7:38,39; 11:25,26; Atos 10:43;
13:39; 15:9; 16:31; Atos 8:37; 26:18; Tiago 2:19; João 14:1; Romanos 10:8-10; 10:4;
Romanos 5:1; Efésios 2:8; Hebreus 11:6.
A graça de Deus é a causa da salvação e a fé é o meio. Quando alguém troca o
pneu de um carro, não dizemos que foi o macaco quem trocou o pneu, mas o dono
do carro. O macaco foi o instrumento usado para fazer a troca. Desse modo o
macaco foi o meio para trocar o pneu, mas a causa foi o homem que efetuou a
troca. Embora se possa falar filosoficamente em outras causas, como o pneu
furado, por exemplo, mas devemos entender que estamos falando da causa
primária e não da causa imediata. É claro que vários fatores ocasionam a salvação,
como o próprio fato de estarmos perdidos, ou o fato de ouvirmos a mensagem do
evangelho, mas tudo isto são causas imediatas, e por assim dizer, tornam-se meios.
A causa primária é o próprio Deus, a sua graça, a sua vontade de salvar, o seu
desejo e amor pela humanidade!
Em certo sentido podemos dizer que a graça é a parte de Deus e a fé é a parte
do homem (embora a fé também seja um dom de Deus). Deus oferece
gratuitamente a salvação, mas o homem tem a responsabilidade de acreditar,
confiar e recebê-la. Você precisa crer em Jesus e em sua palavra!
Mód. 07-A - Graça 7
Como Se Consegue
Atos 2:21; Lucas 11:9-13; Jeremias 29:12,13; 33:3; Mateus 11:28; João 6:37.
Se você entendeu a mensagem, e deseja de fato e de verdade a salvação, então
basta pedi-la a Deus. Lembre-se que é um presente, que Ele está disposto a dar a
todos que lhe pedirem. Se pedimos então cremos que não podemos comprar e que
necessitamos daquilo que pedimos. Mas se pedimos nos humilhamos perante Deus
e Ele atende aos humildes. Se ele não quisesse dar não teria enviado Jesus para
morrer pelos pecadores: "...o que vem a Mim de maneira nenhuma o lançarei
fora"(Jo.6:37). Jesus disse: "Vinde a Mim todos os que estais cansados..." (Mt.11:28).
"O Espírito e a esposa dizem: Vem. E quem ouve, diga: Vem. E quem tem sede,
venha; e quem quiser, tome de graça da água da vida" (Apoc. 22:17). "Pedi e dar-
se-vos-á; buscai e achareis..." (Luc. 11:9). "Ó vós todos os que tendes sede, vinde
às águas, e os que não tendes dinheiro, vinde, comprai, e comei; sim, vinde e
comprai, sem dinheiro e sem preço..." (Is.55:1). Você precisa pedir a Deus pela
salvação!
Capítulo V
A GRAÇA E O CONHECIMENTO
Walter Santos Baptista
A Graça
A graça de Deus, Seu amor que não merecemos, faz-nos o que somos. Ela é
Deus em operação no nosso ser. É impressionante que todas as religiões começam
com o ser humano buscando seu(s) deus(es). Assim no animismo, no candomblé,
no hinduismo, etc. Mas o evangelho de Cristo começa com Deus buscando a
pessoa humana. Só temos que examinar o testemunho da Sua Palavra:
"Nisto se manifesta o amor de Deus para conosco: em que Deus enviou seu
Filho unigênito ao mundo, par que por meio dele vivamos. Nisto está o amor: não
em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que Ele nos amou a nós, e enviou
seu Filho como propiciação pelos nossos pecados. Nós amamos, porque Ele nos
amou primeiro".
A graça de Deus escolheu os patriarcas: Noé, Abraão, Jacó, José, Moisés.
Escolheu os profetas: Isaías, Jeremias, Ezequiel, Daniel, Amós (7.14,15). Jesus Cristo
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escolheu os apóstolos (Mt 10.10; Mc 3.13; Lc 6.13; 9.1; 2Co 12.9); escolheu os seus
santos (Rm 1.7; 1Co 1.2: Ef 1.1,2). A Bíblia é a história da graça de Deus, e Deus
Pai é o Deus de toda graça (1Pe 5.10), como o Espírito Santo é o Espírito da graça
(Zc 12.10), e Jesus Cristo é a Palavra de Deus cheia de "graça e de verdade"(Jo
1,14).
Mas a graça de Jesus Cristo, na qual somos encorajados a crescer, não é uma
graça barata, graça de liquidação. Não é a pregação do perdão sem
arrependimento, do batismo sem discipulado, da comunhão sem confissão. Porque
graça barata é a graça sem cruz, que dispensa o Calvário e sem Jesus Cristo
ressuscitado!
Não! Pela graça há uma nova relação com Deus, uma nova obediência. E
afirmar Efésios 2.8 ("Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem
de vós, é dom de Deus) é sinônimo de confiança no valor da obra salvadora de
Deus.
A graça se reflete em três aspectos: a já mencionada salvação pela graça, a
segurança por meio da graça e a graça como regra de conduta. A graça salvadora é
mais que simples amor porque é amor que liberta, que torna o salvo triunfante
sobre o juízo final (leia Jo 3.18); é o amor sem limites e livre de Deus pelo perdido.
A segurança pela graça significa que Deus guarda os seus (leia Jo 10.27-29; Rm
8.35-39; Jo 6.37,39). Como regra de vida significa que devemos crescer nela pela
transformação segundo a imagem de Cristo, o que é produzido em nós pelo poder
do Espírito Santo (leia 2Co 3.18). E então surge em nossa vida um novo senso de
responsabilidade por nossas atitudes, de propriedade por nossas ações, de alegria
por estar vivo e ativo no reino de Deus; novo sentido de esperança para o futuro, e,
por isso, celebramos a graça, maravilhosa graça, abundante graça, extraordinária
graça que nos dá salvação, vida e alegria!
O Conhecimento
O "conhecimento de Cristo" pode ser uma de duas coisas, ou as duas; um
conhecimento acerca de Jesus Cristo (cf. 2Pe 1.5,6), ou/e um conhecimento pessoal
de Cristo, um encontro com Ele como Salvador pessoal, um contato constante com
Ele.
Então, qual o Cristo que você conhece? O Cristo morto da teologia popular
brasileira? Mostrando a uns amigos americanos um templo antigo da Igreja
Majoritária, ao lado do espanto, misto de admiração pelos painéis folheados a ouro,
altares rebuscados, tive um repentino susto ao ver debaixo de um dos altares um
cadáver num caixão. Olhando melhor, observei que era uma imagem em tamanho
natural representando o Cristo defunto tão ao gosto de certa forma de
religiosidade. São expressões de um folheto de cordel:
Qual o Cristo que você conhece? O Cristo distante? O Cristo do Corcovado, dos
Altos do Cruzeiro (praticamente toda cidade do interior, e algumas capitais como
Salvador, Rio de Janeiro, Recife têm um morro para onde se vai em romaria,
subindo, por vezes, de joelho a escadaria numa autêntica demonstração de
"salvação pelas obras"). O Cristo metafísico, longe de nós?
Qual o Cristo que você conhece? O Cristo-que-não-inspira-respeito? Das músicas
profanas e piadas pretensamente jocosas?
Qual o Cristo que você conhece? O Cristo docético, pálido, ausente da vida
diária; cuja natureza humana e deformada, ou substituído por um orixá?
Qual o Cristo que você conhece? O Cristo-Oxalá, filho unigênito do Pai Olorum?
O Cristo Senhor de Maitreya do movimento "Nova Era"?
O Cristo-só-homem? Grande filósofo? Grande mestre? Volto a lhe perguntar,
qual o Cristo que você conhece? O Cristo sem poder, inerte, que nega a palavra
profética de que o Espírito do Senhor está sobre Ele, e O ungiu para anunciar boas
novas, proclamar libertação, restauração, por um fim à opressão, e proclamar o ano
das bênçãos, da graça, o ano aceitável do Senhor (cf. Lc 4.17-21; Is 61.1ss)?
Qual o Cristo que você conhece? O Cristo existencialista de Bultmann? O Cristo
revolucionário, parazelote, de Cullmann, dos teólogos da libertação, das categorias
políticas? Ou o Cristo servo-sofredor dos profetas, o Cristo da esperança de todo o
Novo Testamento? Num dos seus iluminados livros, o Pr. A. W. Tozer ensina que há
graus de conhecimento das realidades divinas. E, fazendo um paralelo com o
templo de Jerusalém, explica dizendo que o primeiro deles é o grau da razão que se
refere ao pátio do templo, ao ar livre e recebendo a luz natural. Verdade é que tudo
era divino, mas a qualidade do conhecimento se tornava mais sublime à medida
que o adorador deixava o átrio, a parte de fora do templo, e ia se aproximando do
Santo dos Santos onde estava a arca. O segundo grau é o da fé correspondendo ao
lugar Santo. É aquele que penetra na fé da criação divina do Universo, crê na
Trindade Divina, crê que Deus é amor, e que Jesus Cristo morreu por nós,
ressuscitou, e está ao lado do Pai. O mais elevado é o da experiência espiritual: é o
Santo dos Santos, o conhecimento mais puro. Em João 14.21, Jesus disse: "Aquele
que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e aquele que
me ama será amado de meu Pai, e eu o amarei, e me manifestarei a ele."
E Paulo fala de sua experiência no Espírito com as seguintes expressões: "É
necessário gloriar-me, embora não convenha; mas passarei a visões e revelações
do Senhor. Conheço um homem em Cristo que há catorze anos (se no corpo não
sei, se fora do corpo não sei; Deus o sabe) foi arrebatado até o terceiro céu. Sim,
conheço o tal homem (se no corpo, se fora do corpo, não sei: Deus o sabe), que foi
arrebatado ao paraíso, e ouviu palavras inefáveis, as quais não é lícito ao homem
referir." (2Co 12.1-4)
Essa é a bem-aventurança maior: entrar pelo véu rasgado no lugar Santíssimo.
“Tendo pois, irmãos, ousadia para entrarmos no santíssimo lugar, pelo sangue de
Jesus, pelo caminho que Ele nos inaugurou, caminho novo e vivo, através do véu,
isto é, da sua carne, e tendo um grande sacerdote sobre a casa de Deus,
cheguemo-nos com verdadeiro coração, em inteira certeza de fé; tendo o coração
purificado de má consciência, e o corpo lavado com água limpa, retenhamos
inabalável a confissão da nossa esperança, porque fiel é aquele que fez a
promessa." (Hb 10.19-23).
O Crescimento
Mód. 07-A - Graça 10
O alvo do crente em Jesus Cristo é crescer. Crescer na graça (2Pe 3.18), crescer
no conhecimento (Cl 1.10), crescer na fé (1Ts 1.3), crescer na sabedoria (Pv 1.5),
crescer em tudo (Ef 4.15).
Em Êxodo 33.13. Moisés faz um pedido ousado a Deus: "rogo-te que agora me
mostres os teus caminhos, para que eu te conheça". O Senhor, então, assegura que
irá com ele (cf. V. 14). No verso 18, ele faz um pedido ainda mais ousado "Rogo-te
que me mostres a tua glória". E, com isso, Moisés nos ensina que não podemos
ficar com menos.
Crescer como cristão, na fé, na graça e no conhecimento é uma construção do
Espírito de Deus. É o Espírito Santo o grande operário de Deus em nosso próprio
espírito.
Ora, as pessoas sensíveis à vida espiritual desejam ser mudadas para melhor.
Pois o evangelho tem uma proposta radical: é preciso morrer! Morrer para o
passado e nascer para uma nova vida: "Porque morreste, e a vossa vida está
escondida com Cristo em Deus": (Cl 3.3; cf. Rm 6.2,7ss; Cl 2.13; 1Co 15.31,36; Ef
4.24).
Então, virão os sinais de crescimento: a paz, a alegria, a esperança, a
segurança, a gratidão, o serviço (cf. Rm 14.17; Jo 14.27; Rm 5.5; 1Pe 1.3; 1Jo
5.12,13; Lc 24.53; Rm 12.1).
Por que crescer espiritualmente? Porque nosso Deus o espera. Pelo Espírito,
entramos na nova vida em Cristo; pelo Espírito, vemos em Jesus a revelação de
Deus, e então nos entregamos a Ele, e Seu Espírito toma conta de nós e faz a obra,
"porquanto o amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito
Santo que nos foi dado" (Rm 5.5). É preciso crescer espiritualmente porque nossa
utilidade no reino de Deus o exige, decorrendo daí um interesse profundo na Causa
de Cristo, e a participação ativa no reino. É preciso crescer espiritualmente para
evitar a advertência de Paulo em 1Tm 1.5-7.
No entanto, se alguma dificuldade há, ponha-a diante de Deus em oração, e faça
certas perguntas: quem ordena crescer? Não é o pastor, mas o próprio Deus. Em
quem devo crer? Em Jesus Cristo. Mas não pergunte, "como posso crer?" Pois diante
de tantas graças, bênçãos e maravilhas, pergunte "Como poderia deixar de crer?"
E, então, submeta-se!
Pedro termina a carta como a começara (cf. 1.2), e como a vida cristã é vida de
desenvolvimento, crescimento e rumo à maturidade, ao lado da ordem de Pedro
está o encorajamento de Paulo,
"... esquecendo-me das coisas que atrás ficam, e avançando para as que estão
adiante, prossigo para o alvo pelo prêmio da vocação celestial de Deus em Cristo
Jesus" (Fl 3.13,14), não esquecendo o profeta Oséias: "Conheçamos e prossigamos
em conhecer ao Senhor..." (6. 3). Amém.6
Capítulo VI
A GRAÇA RESISTÍVEL
Airton Evangelista da Costa
O título deste estudo poderia ser: Uma vez salvo, salvo para sempre? Ou: Se o
crente cometer apostasia perderá a salvação? Sei tratar-se de um assunto
controvertido. De um lado, os que seguindo a doutrina do Calvinismo consideram a
salvação imperdível. Do outro, os que alinhados ao ensino do Arminianismo
6
Walter Santos Baptista, Pastor da Igreja Batista Sião.
Calvinismo
O calvinismo é um sistema teológico elaborado pelo teólogo francês João
Calvino (1509-1564). Os pontos fundamentais do seu ensino são:
(1) Depravação total: Os homens nascem depravados, não lhes sendo possível,
nesse estado, escolher o caminho da salvação.
(2) Eleição incondicional - Somos escolhidos por Deus para salvação,
independente de qualquer mérito de nossa parte.
(3) Graça irresistível - Os escolhidos não resistirão à graça salvadora do Criador,
em razão da atuação do Espírito Santo, convencendo-os do pecado.
(4) Expiação limitada aos eleitos - O alto preço do resgate, pago por Jesus na
cruz, alcançou apenas os eleitos.
(5) Perseverança dos crentes - Nenhum dos eleitos perderá a salvação; irão
perseverar até o fim, pois estão predestinados ao céu desde a fundação do
mundo. Em resumo, o movimento teológico calvinista defende a absoluta
soberania de Deus, e a exclusão do livre-arbítrio. Deus concede aos eleitos
graça eficaz e irresistível, que permite ao homem continuar perseverante
por toda a vida.
Arminianismo
O arminianismo é um sistema teológico formulado pelo teólogo holandês
Jacobus Arminius (1560-1609), em oposição à doutrina Calvinista da predestinação,
assim exposto:
Livre-Arbítrio
Deus criou o homem com liberdade para tomar decisões, com liberdade para
rejeitar ou aceitar Seu plano de salvação, para crer ou não crer nEle. Essa liberdade
faz parte da condição humana. Caso contrário, seríamos como marionetes, ou robôs
programados pelo Criador. Não seríamos culpados por nossos atos.
Adão e Eva tiveram a liberdade de decidir; influenciados pelo diabo, optaram
pela desobediência ao Criador. Antes disso, Lúcifer, um anjo de grande prestígio no
céu, também usou de seu livre-arbítrio, desejou ser igual ao Altíssimo e caiu em
rebelião.
Em Deuteronômio 28, Deus coloca diante do seu povo dois caminhos: (a) "Se
obedeceres à voz do Senhor teu Deus...todas as bênçãos virão sobre ti..." (b) "Mas
se não deres ouvidos à voz do Senhor teu Deus...virão sobre ti todas estas
maldições...". Noutras palavras, Deus concede ao seu povo a liberdade de escolha.
Jesus nos deixou outro exemplo dessa liberdade. Em Mateus 7, Ele afirma que
diante dos pecadores existem dois caminhos: um deles é espaçoso e conduz à
perdição; o outro, estreito, conduz à vida eterna. Disse mais que são poucos os que
percorrem o caminho apertado. Ora, se não prevalecesse a vontade humana, todos
os homens seguiriam o caminho estreito, porque é da vontade de Deus que todos
se salvem.
O cerne da questão está na condição do homem após aceitar Jesus como seu
Senhor e único Salvador. O crente, usando o seu livre-arbítrio, pode voltar-se para o
pecado, perder a fé, perder a graça de Deus e, assim, perder a salvação? Mais uma
pergunta cabe formular: o crente possui livre-arbítrio? Se a resposta for afirmativa,
é evidente que ele poderá usá-lo, e usá-lo para abandonar a sua fé original e fazer
morrer a chama do primeiro amor; se negativa, teríamos que solicitar respaldo
bíblico para tal opinião.
A partir da decisão do primeiro casal no Éden, as evidências escriturísticas
provam que em nenhuma circunstância o ser humano perde o direito à liberdade de
Mód. 07-A - Graça 13
escolha dada por Deus. O argumento de que temos o Consolador que nos convence
do pecado, e portanto não podemos cair, não me parece suficiente. Vejam: "Vede,
irmãos, que nunca haja em qualquer de vós um coração mau e infiel, para se
apartar do Deus vivo" (HB 3.12). Só pode haver desenlace quando há enlace; só
podemos sair de onde entramos; "apartar-se do Deus vivo" significa quebrar uma
aliança existente.
Eleição e Predestinação
No estudo da apostasia pessoal não se pode deixar de comentar a doutrina dos
eleitos e predestinados. No Calvinismo, nada impedirá a salvação dos escolhidos.
No arminianismo, a eleição e a reprovação é com base na fé ou incredulidade.
Examinemos o seguinte versículo: "Veio [Jesus] para o que era seu, e os seus não O
receberam; mas a todos quantos O receberam deu-lhes o poder de serem feitos
filhos de Deus: aos que crêem no seu nome"(Jo 1.11-12). Somente seremos
adotados como filhos se crermos em Jesus. Logo, os "eleitos" estão sujeitos a esta
condição.
Os "eleitos" de Deus são todos os que, após receber a Cristo, perseveram na fé
obediente. Por isso, Jesus advertiu aos discípulos: "Aquele que PERSEVERAR até o
fim será salvo" (Mt 10.22). Os que mantiverem a fé perseverante estarão
predestinados à vida eterna. Logo, os que forem negligentes não terão o mesmo
destino.
São eleitos os que estiverem unidos a Cristo: "Quem nEle crê, não é condenado,
mas quem não crê já está condenado, porque não crê no nome do unigênito Filho
de Deus" (Jo 3.18). Portanto, o entendimento de uma eleição por meio de um ato
unilateral da parte de Deus fica prejudicado. É da vontade de Deus que nenhum
homem se perca (Jo 6.39) ou caia da graça (Gl 5.4; 2 Pe 3.9). A expressão "cair da
graça" nos diz da possibilidade de alguém perder a salvação.
Se todos os homens são chamados a participarem do plano de salvação (Jo
3.16), não há como acreditarmos que Deus escolhe alguns e, por exclusão, condena
os demais. Se estivessem previamente escolhidos, não teria sentido a
recomendação para que "todos os homens em todos os lugares se arrependam" (At
17.30), nem a ordem do "Ide por todo o mundo, e pregai o Evangelho a toda
criatura" (Mc 16.15).
O ensino calvinista leva ao entendimento de que Deus, ao eleger seus
preferidos, selou por um ato divino o destino dos não eleitos, ou seja, a morte
eterna. Os não escolhidos estariam proibidos de crer em Jesus para serem salvos.
Não consigo entender - ainda que me esforce - a idéia de que Cristo morreu
somente por alguns pecadores. Vejamos: Cristo morreu pelos pecadores (Rm 5.8);
Cristo morreu pelos ímpios (Rm 5.6); Cristo morreu para dar salvação aos que nEle
crerem (Jo 3.16, 11.26); Cristo veio para dar vida às ovelhas perdidas (Mt 15.24;
18.11).
Como vimos, a eleição para a salvação em Cristo é oferecida a todos (Jo 3.16-
17), porque Deus "deseja que todos os homens se salvem, e venham ao
conhecimento da verdade" (1 Tm 2.4), "pois a graça de Deus se manifestou,
trazendo salvação a todos os homens" (Tt 2.11). Deus não deseja salvar apenas
uma parte dos homens, mas TODOS os homens.
Se houvesse a dupla predestinação, ou seja, os escolhidos para o céu, os não
escolhidos para a perdição, o inferno não teria sido preparado para o diabo e seus
anjos, como diz Mateus 25.41. Este versículo teria outro enunciado: "Apartai-vos de
mim, malditos, para o fogo eterno, preparado desde a fundação do mundo para o
diabo e seus anjos, e para todos os não eleitos". Ora, os homens são jogados no
A Graça Condicional
A seguir, alguns textos que falam da PERMANÊNCIA na fé como condição sine
qua non para não perdermos a coroa da vida.
"Eu sou a videira, vós sois os ramos. Se alguém permanece em mim, e eu nele,
esse dá muito fruto...Se alguém não permanecer em mim, será lançado fora..." (Jo
15.5-6).
Comentário: Nessa alegoria Jesus diz da possibilidade de um crente abandonar a
fé, deixá-Lo, e perder a salvação.
"A vós também, que noutro tempo éreis estranhos...agora vos
reconciliou no corpo da sua carne...se é que permaneceis fundados e firmes na fé,
não vos deixando afastar da esperança do evangelho..." (Cl 1.21-23).
Comentário: Paulo fala aos "santos e irmãos em Cristo. A reconciliação em Cristo
depende da permanência na fé.
"Mas o meu justo viverá pela fé. E se ele recuar, a minha alma não tem prazer
nele. Nós, porém, não somos daqueles que retrocedem para a perdição, mas
daqueles que crêem para a conservação da alma" (Hb 10.38-39).
Comentário: Em outras palavras: Se o crente ("meu justo") me abandonar, estará
perdido. A possibilidade de recuo, de deixar, de abandonar a fé é uma realidade
possível. "Daqueles que retrocedem" é uma palavra de exortação, uma injeção de
ânimo para que continuem firmes na fé, mas fala também da possibilidade de o
crente volta ao primitivo estado.
"E odiados de todos sereis por causa do meu nome. Mas aquele que perseverar
até o fim será salvo" (Mt 10.22).
Comentário: A segunda parte poderia ser assim: "Aquele que não perseverar até
o fim NÃO será salvo".
A necessidade de fidelidade e vigilância é realçada na parábola das Dez Virgens
(Mt 25.1-13), onde Cristo demonstra que boa parte dos crentes não estará
preparada na Sua inesperada vinda. Da mesma forma, a parábola do "Servo
Vigilante" (Lc 12.35-48) demonstra a imperiosa necessidade de o crente não
negligenciar na fé, e manter-se espiritualmente pronto para a volta do Senhor.
"Irmãos, se algum de entre vós se tem desviado da verdade, e alguém o
converter, saiba que aquele que fizer converter do erro do seu caminho um pecador
salvará da morte uma alma e cobrirá uma multidão de pecados" (Tg 5.19-20).
Comentário: A epístola, dentre outros objetivos, destinou-se a encorajar crentes
judeus, exortando-os a se manterem na Verdade que lhes foi revelada. Como se vê,
Mód. 07-A - Graça 15
Tiago admite ser possível alguém, "dentre os irmãos", abandonar a fé e resistir à
graça.
"Os quais, deixando o caminho direito, erraram seguindo o caminho de Balaão...
Portanto se, depois de terem escapado das corrupções do mundo, pelo
conhecimento do Senhor e Salvador Jesus Cristo, forem outra vez envolvidos nelas
e vencidos, tornou-se-lhes o último estado pior do que o primeiro" (2 Pe 2.15,20-
22).
Comentário: Pedro retrata a situação dos falsos mestres que anteriormente
receberam a redenção pelo sangue de Jesus, depois voltaram à escravidão do
pecado e perderam a salvação.
Conclusão
Ao terminar de fazer o homem à sua imagem e conforme sua semelhança, Deus
declarou que Sua obra era muito boa (Gn 1.31). Adão estava livre para tomar
decisões, até para desobedecer ao Criador, como de fato desobedeceu (Gn 2.16-17;
3.1-6). Nas palavras do Senhor a Caim (Gn 4.7) nota-se que a liberdade de decidir
continua fazendo parte do ser humano.
A salvação em Cristo é oferecida a todos os homens porque Ele morreu por
todos os pecadores, pelo mundo inteiro, e não apenas pelos eleitos
(2 Co 5.14-15; Hb 2.9; 1 Jo 2.2). A salvação está disponível a todos, mas os
interessados deverão buscá-la na cruz, pois é dada somente aos que crêem.
Não existe eleição sem Cristo. A condição para sermos eleitos é a fé obediente
em Cristo Jesus. Vejam:
"Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com
todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo, como também NOS
ELEGEU NELE [em Cristo] antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e
irrepreensíveis diante dele em caridade, e nos PREDESTINOU para filhos de adoção
por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade" (Ef 1.3-5).
Capítulo VII
A GRAÇA COMUM DE DEUS NO
REFREAMENTO DA PECAMINOSIDADE HUMANA
Gildásio Reis
Introdução
Como vimos, a queda perverteu a imagem de Deus segundo a qual o homem foi
criado e que, em conseqüência disso, a pessoa humana age pecaminosamente em
sua relação com Deus, com o próximo e com a natureza. Por causa da queda cada
ser humano é fundamentalmente egocêntrico e sem amor, odiando a Deus, odiando
os outros e devastando a natureza.
Se Deus não refreasse a pecaminosidade humana seria impossível viver neste
mundo.
Não obstante as Escrituras declararem a depravação total da humanidade,
muitos de nós têm bons vizinhos, podemos confiar em pessoas com quem fazemos
negócios. Muitos de nós conhecem pessoas que não obstante não serem cristãs,
são amáveis, prestativas e honestas. Como explicar isto? A resposta é o nosso
estudo de hoje sobre a Graça Comum.
Que explicação podemos dar para a bondade que, em certa medida,
constatamos nos incrédulos?
CONCLUSÃO:
Qual o valor da Doutrina da Graça Comum?
1. A Doutrina da Graça Comum sublinha o poder destrutivo do pecado.
2. A Doutrina da Graça Comum reconhece os dons de que vemos nos seres
humanos irregenerados como dons de Deus.
3. A Doutrina da Graça Comum nos ajuda a explicar a possibilidade da
civilização e cultura nesta terra a despeito da condição decaída do homem.
Capítulo VIII
LEI E GRAÇA: UMA VISÃO REFORMADA
Mauro Fernando Meister
V. Cristo e a Lei
Precisamos entender que Cristo satisfez e cumpriu a lei de forma plena e
completa. Ele não veio revogar a lei. Façamos uma breve análise de Mateus 5.17-
19: “Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim para revogar, vim
para cumprir. Porque em verdade vos digo: até que o céu e a terra passem, nem um
i ou um til jamais passará da Lei, até que tudo se cumpra. Aquele, pois, que violar
um destes mandamentos, posto que dos menores, e assim ensinar aos homens,
será considerado mínimo no reino dos céus; aquele, porém, que os observar e
ensinar, esse será considerado grande no reino dos céus.”
Alguns pontos interessantes são demonstrados por Jesus nessa passagem:
(a) Ele veio cumprir a lei e não revogá-la.
(b) A lei seria cumprida totalmente, em todas as suas exigências e em todas as
suas modalidades (moral, cerimonial e civil) enquanto houvesse sentido em fazê-lo.
(c) Aquele que viola a lei não pode chegar ao Reino dos Céus! (“aquele que
violar...será considerado mínimo no reino dos céus.”) “Se a vossa justiça não
exceder em muito a dos escribas e fariseus de modo algum entrareis no reino dos
céus”. “Queres entrar na vida, guarda os mandamentos”, disse Jesus ao jovem rico.
Ninguém será salvo na desobediência a Deus, embora a causa da salvação esteja
na graça divina e não na obediência. A obediência é o resultado da salvação, fruto
da fé e do amor a Deus.
(d) Aquele que cumpre a lei será considerado grande no Reino dos Céus.Como
entender essas conclusões de Jesus com respeito a si mesmo e à Lei?
Conclusão
Como fica o aparente paradoxo inicial entre a Lei e Graça? Como corrigir essa
visão distorcida? Mais uma vez creio que a visão correta da Confissão de Fé pode
nos ajudar a entendê-lo:
Este pacto da graça é freqüentemente apresentado nas Escrituras pelo nome de
Testamento, em referência à morte de Cristo, o testador, e à perdurável herança,
com tudo o que lhe pertence, legada neste pacto.
Este pacto no tempo da lei não foi administrado como no tempo do Evangelho.
Sob a lei foi administrado por promessas, profecias, sacrifícios, pela circuncisão,
pelo cordeiro pascoal e outros tipos e ordenanças dadas ao povo judeu,
prefigurando, tudo, Cristo que havia de vir; por aquele tempo essas coisas, pela
operação do Espírito Santo, foram suficientes e eficazes para instruir e edificar os
eleitos na fé do Messias prometido, por quem tinham plena remissão dos pecados e
a vida eterna: essa dispensação chama-se o Velho Testamento.
Sob o Evangelho, quando foi manifestado Cristo, a substância, as ordenanças
pelas quais este pacto é dispensado são a pregação da palavra e a administração
dos sacramentos do batismo e da ceia do Senhor; por estas ordenanças, posto que
poucas em número e administradas com maior simplicidade e menor glória externa,
o pacto é manifestado com maior plenitude, evidência e eficácia espiritual, a todas
as nações, aos judeus bem como aos gentios. É chamado o Novo Testamento. Não
Dispensação do Dispensação
Antigo Testamento do Novo Testamento
Obras-Fruto da obediência a Deus. Obras - como fruto da fé, obediência.
Lei – Revela a vontade de Deus, e Evangelho – Salva por meio da fé em
apontava par o salvador. Jesus.
Lei –justifica na obediência ao que Lei – condena os injustos, revela o
tem fé, como Abraão. Condena o pecado, orienta a conduta do cristã.
desobediente. Dessobedece-la é pecado, I Jo 3.4.
Graça – Misericórdia diviva no trato Graça- Plena em Jesus Cristo. Causa da
com seu povo. Causa da salvação. salvação.
7
Fonte: Revista Fides Reformata. Mauro Fernando Meister, ministro presbiteriano,
mestre em Teologia Exegética do Antigo Testamento pelo Covenant Theological
Seminary, nos Estados Unidos, e doutor em Línguas Semíticas (hebraico) pela
Universidade de Stellenbosch, África do Sul. É coordenador do Departamento de
Teologia Sistemática e professor na área de Antigo Testamento no Centro
Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper e no Seminário Presbiteriano Rev.
José Manoel da Conceição, em São Paulo.
Mód. 07-A - Graça 28
Notas
1 Sobre esse assunto, verificar o artigo W. R. Godfrey, “Law and Gospel,” em New
Dictionary of Theology, eds. Sinclair Ferguson e David F. Wright (Leicester:
InterVarsity, 1988), 379.
2 Ibid, 380.
3 Greg Bahnsen et al., Five Views on Law and Gospel (Grand Rapids: Zondervan,
1996). Os cinco autores são Greg Bahnsen, Walter Kaiser Jr., Douglas Moo, Wayne
Strickland e Willem VanGemeren.
4 John Hesselink, “Christ, the Law and the Christian: An Unexplored Aspect of the
Third Use of the Law in Calvin´s Theology,” em B. A. Gerrish, Refomatio Perennis
(Pittsburgh: Pickwick Press, 1981), 12.
5 Calvino usa com certa freqüência a expressão pacto da graça [por exemplo,
Comentário à Sagrada Escritura: Romanos (São Paulo: Parácletos, 1997), 277; As
Institutas, vol. 2, trad. Waldyr Carvalho Luz (São Paulo: Casa Editora Presbiteriana,
1985), 3.17.15; 4.13.6. (A numeração refere-se ao livro, capítulo e parágrafo
respectivamente. A citação da página, quando necessária, vem após o parágrafo,
separada por vírgula).
6 Adotada como padrão de fé pela Igreja Presbiteriana do Brasil e por várias outras
igrejas reformadas no mundo.
7 Ver meu artigo “Uma Breve Introdução ao Estudo do Pacto,” Fides Reformata 3.1
(1998), 110-122, especialmente 111-112.
8 Mais detalhes sobre a lei em “Uma Breve Introdução ao Estudo do Pacto (II),”
Fides Reformata 4.1 (1999), 89-102.
9 F. Solano Portela, “Pena de Morte - Uma Avaliação Teológica e Confessional”,
publicação eletrônica - http://www.ipcb.org.br/publicacoes/pena_de_morte.htm
10 Ibid.
11 Uma discussão muito esclarecedora do assunto se encontra em Merwyn S.
Johnson, “Calvin’s Handling of the Third Use of the Law and Its Problems,”
Calviniana: Ideas and Influences of Jean Calvin, 10 (1988), 33-50.
12 As Institutas, 2.7.1, 109.
13 Ibid., 2.7.7.
14 Calvino, Romanos, 277. Parte do comentário de Romanos 8.15.
15 As Institutas, 2.7.10.
16 Ibid., 2.7.10, 119.
17 Ibid., 2.7.12
18 Ibid., 2.7.12, 121.
19 As Institutas, 2.7.14, 123.
20 Johnson, “Calvin’s Handling,” 44.
CONCLUSÃO
APÊNDICE A
Existem alguns textos que parecem dar a entender que lei e graça são conceitos
opostos, antagônicos, antitéticos. Afirmamos, no entanto, serem conceitos
complementares e perfeitamente harmônicos.
João 1:17
Segundo a compreensão de alguns intérpretes, a declaração joanina de João
1:17 que a lei foi dada por intermédio de Moisés, mas a graça e a verdade vieram
por meio de Jesus Cristo significa que a morte de Cristo introduziu a graça para
tomar o lugar da lei. Cometem tríplice erro neste caso.
O Evangelho Não é Exclusividade Neotestamentária. Erram primeiramente
ao conceber a idéia equivocada de que lei a graça revelam aspectos opostos da
natureza divina. Segundo eles, a lei revelaria o aspecto irado e severo de Deus
nfatizado no AT; enquanto a graça revelaria Seu lado misericordioso e amorável
enfatizado no NT. Na verdade, graça e evangelho são conceitos encontradiços no
AT. Paulo em Heb. 4:1-2 afirma que as boas-novas foram anunciadas aos israelitas
recém-libertos do Egito e, em Gál. 3:8-9, que o evangelho foi preanunciado a
Abraão e ainda em Rom. 4:3-6, diz que homens como Abraão e Davi foram
justificados pela fé.9
Jesus Não Aboliu a Lei. Erram em terceiro lugar porque concluem de maneira
falaciosa que a morte de Jesus modificou, anulou ou diminuiu a lei dos Dez
Mandamentos, quando isso na verdade não aconteceu, pois o próprio Jesus afirmou
que não veio “revogar a lei” (Mat. 5:17). Há no NT cerca de cinqüenta provas diretas
de que o Decálogo permanece em vigor.
A Graça Não Anula a Lei. Em segundo lugar, erram porque fazem parecer que
a lei e a graça são conceitos contraditórios e antagônicos, quando na verdade são
conceitos harmônicos e complementares (Sal. 85:10). Lei e graça não trabalham em
competição, mas em perfeita cooperação. A lei aponta o pecado; a graça salva do
pecado. A lei é a vontade de Deus; a graça é o poder para fazer a vontade de Deus.
A graça, portanto, não anula a lei, mas capacita aquele que foi agraciado por ela a
cumpri-la. A conjunção adversativa “mas”, presente na versão portuguesa e que
sugere forte contraste entre a lei e a graça, não existe nos originais — foi
interpolada por tradutores tendenciosos.
Antes de Cristo Havia Graça. Em terceiro lugar erram quando sugerem que
antes de Cristo não havia graça nem verdade, pois a graça tem existido desde o
início do mundo. Paulo fala da “graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos
tempos eternos.” 2 Tim. 1:9. Abraão foi salvo pela graça (Gál. 3:8; Rom. 4:3).
Jeremias fala da “graça no deserto” (Jer. 31:2). Noé achou graças aos olhos do
Senhor (Gên. 6:8) e Davi foi salvo pela fé (Rom. 4:6), e assim aconteceu com muitas
personagens bíblicas. Em matéria de salvação, todas as pessoas de todas as épocas
sempre estiveram debaixo da graça. No Céu só haverá uma classe de salvos: os
remidos pelo sangue de Cristo (Apoc. 5:9).
Note o que diz o teologo Mark Finley: “Tanto no Antigo Testamento como no Novo
Testamento, a salvação é pela graça, por meio da fé. Deus não pode ter dois
8
John L. McKenzie, Dicionário Bíblico, art. “Graça”.
9
Henry A. Virkler, Hermenêutica Avançada, pág. 104.
Mód. 07-A - Graça 30
métodos de salvação. Tito 2:11 afirma: ‘porque a graça de Deus se tem
manifestado trazendo salvação a todos os homens.’ No Antigo Testamento, as
pessoas eram salvas por meio do Cristo que havia de vir. Cada cordeiro sacrificado
apontava para a vinda do Messias (Gên. 3:21; 22:9-13). No Novo Testamento, as
pessoas são salvas pelo Cristo que há de voltar. Numa circunstância, a fé apontava
[para a frente] para a cruz; na outra, a fé olhava para trás, para a cruz. Jesus é o
único meio de salvação (Atos 4:12).”10
Em Cristo Há Plenitude de Graça. O que João quis então dizer com “graça e
verdade”? Por “graça”, quis dizer que, embora ela existisse no passado, foi revelada
agora em “plenitude” na pessoa de Jesus, sem ser eclipsada pela interpretação
legalista dos rabinos com relação ao sistema mosaico. Por “verdade”, quis dizer que
em Cristo se cumpriram as sombras de todos os tipos e cerimônias do AT. O tipo
encontrara o antítipo; a sombra, a realidade. Em nenhum momento, porém, João
sugere que a lei ou o sábado foram abolidos.
Romanos 6:14
Romanos 6:14 talvez seja o texto paulino mais freqüentemente utilizado como
pretexto para a teoria de que, a partir de Cristo, os cristãos estão debaixo da graça
e, por conseguinte, foram desobrigados da observância da Lei. A interpretação
comum é a de que os cristãos já não se acham debaixo dos Dez Mandamentos
como regra de conduta, pois seus valores morais provêm agora do princípio do
amor revelado por Cristo. Esta, porém, apesar de sua aparente piedade, é uma
interpretação viciosa da passagem. Eis as evidências:
O Tema do Capítulo Não é a Lei Moral. Não há nada no contexto imediato
sugerindo que Paulo esteja tratando da Lei Moral propriamente dita. Tanto no
contexto imediato como no remoto de todo o capítulo, o que Paulo faz é contrastar
o domínio do pecado com o poder da graça de Cristo. Além disso, a expressão não
é debaixo da Lei, mas debaixo de lei. Paulo não está se referindo aqui a qualquer lei
em particular, mas à lei como um princípio. A idéia básica de seu argumento é a de
que os cristãos se salvam não pelo princípio da lei, mas pelo princípio da graça.
A Interpretação Leva a Absurdos. Interpretar a expressão “debaixo da lei”
com o sentido de “sob a dispensação da lei mosaica” implicaria que os crentes que
viveram sob a dispensação judaica não foram receptores da graça. Essa idéia é
inteiramente absurda. Além do que, conforme John Murray perspicazmente
observa, “o estar desobrigado da lei mosaica como dispensação não põe a pessoa
automaticamente sob o regime da graça”.
A Lei Não é Descartada. O próprio Paulo, depois de declarar que não estamos
debaixo de lei, mas de graça, pergunta: “E daí? Havemos de pecar porque não
estamos debaixo da lei, e sim da graça? De modo nenhum!” (v. 15). Nos termos
mais enfáticos possíveis, Paulo declara que o fato de o cristão não utilizar a lei
como meio de salvação não significa que tenha licença para quebrantá-la (Rom.
2:13; 3:31; 7:12; e 8:4).
O Significado de “Debaixo da Lei”. Ora, se estar sob a graça não nos isenta
de guardar a lei, o que Paulo então quer dizer quando afirma que os cristãos não
estão mais debaixo da lei?
Visto que “debaixo da graça” significa sob o imerecido favor de Deus, o
contraste com “debaixo da lei” pressupõe a idéia de estar sob o desfavor de Deus
ou condenação pronunciada pela Lei. Assim, em Rom. 6:14, Paulo ensina que os
crentes não devem ser controlados pelo pecado (cf. Rom. 6:1-2, 6, 11-13) porque a
graça de Deus os libertou do domínio do pecado e da condenação da Lei.
10
Mark Finley, Estudando Juntos: Manual de Referência Bíblica, pág. 36.
Efésios 2:8
Paulo não está querendo insinuar aqui que no Antigo Testamento as pessoas
eram salvas pelas obras e que no NT são salvas pela graça. Desde o Gênesis até o
Apocalipse, o método de salvação de Deus foi sempre o mesmo: pela graça
mediante a fé.
Dom Gratuito. A salvação é um “dom gratuito” (Rom. 6:22), não condicionado a
nenhum mérito humano. É uma expressão da atitude espontânea de amor da parte
de Deus. No processo da salvação, podemos dizer que Deus toma a iniciativa de
salvar quem não merece ser salvo: estende graciosamente através do abismo a
mão poderosa com a dádiva (perdão, justificação e santificação) e nós, pelo impulso
do Espírito, estendemos pela fé nossa mão vazia e impotente em direção à dádiva,
crendo que receberemos o que Deus está ofertando. O preço da salvação é sempre
o sangue de Cristo. As maiores e melhores boas obras que possamos fazer não
entram nesse preço, nem mesmo como parte mínima.
Requer Obediência. A graça, porém, não nos isenta da obediência à lei de
Deus. Pelo contrário, a existência da graça é uma das maiores provas de que a Lei
está em vigor. Foi por causa de nossas transgressões da lei que a graça se tornou
necessária, tanto para perdão de nossos pecados como para capacitação da
obediência (Rom. 5:20). Ainda que as obras não sejam causa da salvação, são com
certeza efeito delas (ver Rom. 3:31). A fé não anula a obediência. Pelo contrário,
confirma a lei (Rom. 3:31). A verdadeira fé se manifesta em boas obras. Embora
não seja um substituto da fé, a obediência é uma conseqüência natural e
necessária da fé. Pelo fruto se conhece a árvore. A árvore é minha profissão de fé; o
fruto são minhas ações. Se minha fé é genuína, meu fruto será obediência à lei. O
BIBLIOGRAFIA
Aluno:________________________________Matrícula:___________________
Cidade:______________________UF:_______________Data:____/_____/_____
PREZADO ALUNO:
- Estude o módulo e entregue esta avaliação respondida sem rasuras
- Não copie do colega e responda com caneta azul ou preta.
QUESTIONÁRIO
07 – Qual o principal termo grego usado para descrever graça no Novo Testamento?
Qual seu significado?
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