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Projeto

PERGUNTE
E
RESPONDEREMOS
ON-LINE

Apostolado Veritatis Spiendor


com autorizagáo de
Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb
(in memoriam)
APRESENTAQÁO
DA EDIQÁO ON-LINE
Diz Sao Pedro que devemos
estar preparados para dar a razáo da
nossa esperanga a todo aquele que no-la
pedir (1 Pedro 3,15).

Esta necessidade de darmos


conta da nossa esperanga e da nossa fé
hoje é mais premente do que outrora,
'.■" visto que somos bombardeados por
numerosas correntes filosóficas e
religiosas contrarias á fé católica. Somos
assim incitados a procurar consolidar
nossa crenga católica mediante um
aprofundamento do nosso estudo.

Eis o que neste site Pergunte e


Responderemos propóe aos seus leitores:
aborda questoes da atualidade
controvertidas, elucidando-as do ponto de
V_ vista cristáo a fim de que as dúvidas se
\ dissipem e a vivencia católica se fortalega
"* no Brasil e no mundo. Queira Deus
abengoar. este trabalho assim como a
equipe de Veritatis Splendor que se
encarrega do respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.


Pe. Estevao Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

Celebramos convenio com d. Esteváo Bettencourt e


passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte e
Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicagao.
A d. Estéváo Bettencourt agradecemos a confiaga
depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e
zelo pastoral assim demonstrados.
M

00

- i SUMARIO
< Des-cobrir Deus
00
Origem da vida e acaso

A medítacao crista

Ainda os manuscritos do Mar Morto

O As financas da Santa Sé

07 A pi'lula RU 486

£ "Deus:Sonho ou Pesadelo?" por Ovi'dio Zanini


ILJ
_l
As comunidades Eclesiais de Base
CQ

ANOXXXI ABRIL 1990


— 335
PERGUNTE E RESPONDEREMOS ABRIL - 1990
Publicacáo mensal N? 335

Diretor-Responsável:
SUMARIO
Estéváo Bettencourt OSB
Autor e Redator de toda a maténa Des-cobrir Deus 145
publicarla nesie periódico
Fala a ciencia:
Origem da vida e acaso 146
Diretor-Administrador:
O. Hildebrando P. Mariins OSB Carta da Santa Sé sobre
A meditacSb crista 156
Administracao e distribuido: Esclarecendo...
Edicóes Lumen Christi Aínda os manuscritos do Mar Morto ... 168
Dom Gerardo. 40 - 5? andar S/501
Periódicamente voltam
Tel: (021) 291-7122
As f¡naneas da Santa Sé 174
Caixa Postal 2666
20001 - Rio de Janeiro RJ Um novo abortivo:
APÍIulaRU486 177
Impressáo e Encadcmacáo
Dilema candente:
"Deus: Sonho ou Pesadelo?" por
Ovidio Zanini 182

■ 'MARQUES-SARAM'
Como vao
GRÁFICOS E EDITORES S,A. As comunidades Eclesiaisde Base? .... 190
Tels.: ÍO!l)i7J-949B -273-9447

NO PRÓXIMO NÚMERO:

336- MAIO- 1990

"Jesús existiu?" por Rene Latourelle. — "Os astronautas de Yaveh", por


J.J. Benítez. — "Babilonia: a religiáo dos misterios", por R. Woodrow. —
As reliquias: como entender? — Canonizacao dos Santos e apoteose paga.

COM APROVAqAO ECLESIÁSTICA

ASSINATURA ANUAL (12 números): Cr$ 400,00 - Número avulso: Cr$ 40,00

. Pagamento (á escolhal

1. VALE POSTAL a agencia central dos Correios do Rio de Janeiro em nome de Edicóes
"Lumen Christi" Caixa Postal 2666 20001 Rio de Janeiro - RJ.

2. CHEQUE NOMINAL CRUZADO, a favor de Edicóes "Lumen Christi" (endereco ácima).

3. OROEM DE PAGAMENTO, no Banco do Brasil, coma N? 31.304-1 em nome do Mos-


teiro de Sao Bento. pagável na agencia Praga Mauá/RJ N? 0435-9. (Nao enviar através
de DOC ou depósito instantáneo - A identificacao é difícil).
a L

Des-cobrir Deus
Des-cobrir é tirar a coberta ou o véu... Des-cobrimos müTOToT
da: tesouros, lugares aprazíveis e também... pessoas. Pessoas com as quais
convivemos as vezes e cuja riqueza interior mal percebíamos. Ora, entre os
grandes valores que podemos descobrir, está também DEUS. Deus nao é
mera fórmula nem um ser abstrato, mas um Tu dialogante, a Suprema Inteli
gencia e o Primeiro Amor. Se encontramos inteligencia e amor no mundo,
isto se deve exclusivamente á existencia de Deus Criador.

Ora até mesmo o cristao pode passar longos anos de vida fazendo de
Deus um referencial frió e pouco motivador. É possfvel, porém, e até neces-
sário, descobrir a Deus. Isto se faz pela reflexáo, mas também - e muito -
pela experiencia. Experimentar é conhecer por afínidade, por conaturalida-
de... Diz Jesús no Evangelho: "Bem-aventurados os puros de coracáb, por
que verao a Deus" (Mt 5,8). É essa pureza de coráceo - na qual está implíci
ta a coragem de urna vida bem escalonada — que propicia a famiharidade
com Deus.

E Deus - embora seja o Eterno e Imutável - é sempre novo para os


seus fiéis. Nenhuma criatura acaba de O des-cobrir; Sao Joao da Cruz diz
que Deus só nao é novo para si. Esta verdade se compreende bem pelo fato
de que, caminhando na Térra, o cristao está sempre mais próximo da eterni-
dade. De um lado, isto implica que está mais adulto espiritual mente ou mais
amadurecido, mais apto a perceber o sentido dos valores transcendentais ou
das verdades concernentes a Deus (quem comeca a se aproximar de Deus, é
como enanca que balbucía o Inefável; cf. Jr 1, 6). De outro lado, isto tam
bém implica que a luz da eternidade brilha mais nítidamente aos olhos de
quem se va¡ chegando ao termo definitivo (os navegantes, que, após tonga
vi age m em alto mar, se aproximam do porto de chegada, vao recebendo cada
vez mais a claridade da margem, e vao percebendo sempre mais lucidamen
te os contornos e a realidade do seu porto de desembarque).

Poderfamos também comparar a vida de todo homem - especialmente


a do cristao a urna espiral que va¡ subindo. Quem a percorre, contempla sem
pre o mesmo chSo, mas a partir de altitudes sempre mais elevadas; ¡sto quer
dizer que o seu olhar se dilata e Ihe permite avahar mais precisamente o sen
tido de cada pormenor; daí nao pode deixar de seguir-se grande alegría.

Ponderamos estas coisas no mes da Páscoa do Senhor. Os f ¡efe já a de-


vem ter celebrado muitas vezes, de modo que a repeticao podegerar rotina.
Todavía istó só ocorre se o cristao nao está plenamente ajustado ao seu com-
passo de vida; quem soma os anos de sua existencia e Ihes dá um conteúdo
correspondente, des-cobrirá na Páscoa de 1990 alguma faceta ou algum sa
bor que antes nao percebera!... g g

145
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS"

Ano XXXI - N? 335 - Abril de 1990

Falaa ciencia:

Origem da Vida e Acaso

Em símese: Este artigo aprésenla o texto do Prof. J. Swyngedauw,


que recusa a explicacao da origem da vida por recurso ao acaso. Independen-
temente de qualquer conoepcSo filosófica, a ciencia mostra a total inviabili-
dade dessa teoría, pois a complexidade de urna só célula viva é tal que nem
mesmo urna célula pode ter tído origem por acaso. De resto, numa refíexao
racional sobre o assunto, deve-se dizer que o acaso nao é um sujeito respon-
sável por coisa alguma; nSo existe o Sr. Acaso. Com efeito; acaso 6 o nome
que damos a um cruzamento de atividades que a nossa ignorancia nao sabe
explicar.

Há anos o biólogo francés Jacques Monod, Premio Nobel, publicou o


livro "O Acaso e a Necessidade",1 tentando reconstituir a origem da vida a
partir do acaso ou do jogo de roleta da natureza, que teria encastelado os
átomos e moléculas dos ácidos nucleicos, da proteína, da albúmina, da os-
satura...

Já naquela época se refutava a tese de Monod, lembrando um velho


axioma filosófico: o acaso nao é sujeito responsável por coisa alguma; nao
existe o Sr. Acaso. Com efeito; Acaso é o nome que damos a um cruzamen
to de atividades que nossa ignorancia nao sabe explicar. Por conseguinte, o
recurso ao acaso como elemento explicativo da vida é mera falacia de lin-
guagem.

Cf. PR 141/1971. pp. 386-399.

146
ORIGÉM DA VIDA E ACASO

Na verdade, quando os dentistas falam de acaso, tém em vista o jogo


das probabilidades: teriam ocorrido de maneira cega, ou sem causa inteligen
te, as jogadas prováveis, dentro de determinado sistema, para compor áto
mos, moléculas, tecidos vivos, etc.? Tal hipótese tem sido estudada por mui-
tos sabios. Entre estes, destaca-se J. Swyngedauw, Professor Honorario de
Biofísica na Faculdade de Medicina de Lille (Franca), que acaba de editar o
livro: La Vía... un hasard? (A Vida... um acaso?), Oeil Éditeur, 1989.

0 próprio autor apresentou as linhas-mestras dessa obra no artigo Le


hasard, auteur de la vía? (0 acaso, autor da vida?), publicado no periódico
La Presse Medícale, 2-9 de setembro 1989, 18, n. 27, pp. 1312-1313. A se
guir, apresentaremos a traducao portuguesa desse artigo e Ihe acrescentare-
mos alguns comentarios.

O ACASO, AUTOR DA VIDA?

"Está demonstrado, e ninguém-duvida disto, que as reacoes bioquími


cas ocorrentes num organismo vivo se realizam segundo modalidades especí
ficas; nastas os processos enzimáticos desempenham as primsiras funcSes,
mas em conformidade com as leis clássicas da termodinámica reconhecidas
em laboratorio. |\|em podaría ser de outro modo. Os organismos vivos coris
ta m exclusivamente de átomos que, grapa» ds suas propriedades de ligacao
eletroquímicas, se associam em moléculas de todos os tamanhos; tudo o
que ocorre numa célula viva, acontece inevitavelmente segundo a sintaxe
universal dos átomos.

Quanto ao mecanismo das combinacSes dinámicas específicas, que


levaram á producto da vida, os biólogos, em sua grande maioria, admhem
que a evolucffo, desde a materia bruta até o cerebro humano, é a conse-
qitóncia de propriedades de comptexificaca'o da materia; essa complexifica-
cá*o resultarla inicialmanta do acaso dos encontros de moléculas na atmosfe
ra e nos océanos primitivos. A evolucSta das espacies teria ocorrido no qua-
dro da hipótese de Darwin: acaso e selecüo natural sita, com maior ou menor
rigor, professados. Todavía corto número de dentistas da natureza julgam,
com P. Grassé, essa hipótese de todo (nsufidente.

Excluido o acaso

Trata-te, pois, de opiniSes.emque entram alguns a priori (preconcei-


tos) mals ou menos conscientes, decorrentes da oriantacffo filosófica de cada
estudioso. O dilema só pode sar resolvido w retrooedermos até as origens, is-
to é, a Térra primitiva, anterior a qualquer esboco de vida. Havia entéfo ape-

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4 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 335/1990

ñas um sistema físico sujeito, em particular, ao segundo principio da termo


dinámica, conforme o qual a entropía1 do sistema... só podía crescer.

Sem duvida, sob o efeito de irradiacdes ionizantes de diversas proce


dencias, formaram-se numerosos encastelamentos de moléculas, entre os
quais os das moléculas b¡óticas, em meio a urna multidáo de outrosagrupa-
mentos. Isto se deu em virtude das afinidades próprias dos átomos que as
constituiam, isto ó, em virtude da informacfo intrínseca, cuja índole é mera
mente eletroquímica. Mas essas moléculas bióticas nffo tinham possibilklade
de encontrar o caminho e a disposicSo extremamente complexa necessária
para torná-las um organismo vivo. O acaso pode apresentar coincidencias;
nunca, porém, foi capaz de organizar o que quer que seja. Alias, este é um
dado de experiencia cotidiana: todos sabem que as casas tanto quanto os
maricos montanhosos mais pujantes sedesagregame acabamdesaparecendo
sob os golpes das torcas cegas oriundas da energía solar: sobre a Térra em
formacSo, na falta de um agente organizador extrínseco, ter-se-ia perpetua
do indefinidamente um caos de macromoléculas e de agregados. Os estudio
sos tentaram, de diversos modos, contornar as conseqüéncias do segundo
principio da termodinámica, mas elas s?o impreteríveis.

De outro lado, escapou á maioria dos biólogos, e a Jacques Monod em


particular, urna nocao capital: é impossível que os primeiros esquemas de vi
da tinham tido origem a partir de urna especie de jogada ou de um feliz aca
so ocorrido na roleta de Monte-Cario. Eles resultam do encadeamento de
urna multidSo de remanejamentos f ísicoquímicos estruturantes e sucessivós,
rigorosamente definidos e estrita mente improváveis. Quantitativa mente essas
improbabilidades se multiplicam urnas pelas outras, de modo que é nula a
probabilidade global de que apareca o primeiro esquema de vida por efeito
do mero acaso. É de todo impossível. A constituicSo do ADN2 presta-se a
demonstrá-lo por um cálculo de probabilidade elementar nffo equívoco.

O funcionamento da vida, isto é, a proliferacá'o dos mais modestos or


ganismos conhecidos, as bacterias, exige cerca de quatro milhoesde núcleo-
tídeos no seu ADN; é a reproducSTo desses quatro milhoes que garante a
perenidade do patri m&nio genético.

Entropía é o fato de que a energía cinética ou motriz se transforma em ca


lórica, mas o inverso nSo se dé; o calor nao se converte em energía cinética.
Em conseqüéncia todo sistema posto em movimento tende á estagnacáb
numa temperatura uniforme.

ADN = ácido desoxirribonucleico, que forma a substancia principal


dos cromossomos.

148
ORIGEM DA VIDA E ACASO

A estrutura já surpreendentemente compiexa do ADN das bacterias


foi necessariamente precedida por urna multidao de formas mais elementa
res análogas aos virus ou mais simples aínda.

Suponhamos, com Cl. Hélénu, que o primeiro agrupamento que possa


ser considerado significativo ou encaminhado para o surto da vida, comporte
nao alguns milhares, mas apenas cem nucleotídeos dispostos segundo urna
ordem rigorosamente definida.

Tentemos fazer o que faz o acaso, a saber: reconstituir esse modelo


mediante jogadas cegas sucessivas dos quatro nucleotídeos-padráo. A proba-
bilidade de obter o primeiro resultado e" de 1/4, ou seja, 0,25. A de obter os
dois primeiros resultados é de (0,25)2. para obter a serie de cem nucleotí
deos, a probabilidade é (0,25) 10° ou aproximadamente Nr^isto é, urna pro-
babilidade sobre um número desmedido, a saber: 1 seguido de 60 zeros, o que
vem a ser impossibilidade absoluta...e isto para chegar a urna seqüéncia ridicu
lamente breve. O resultado seria igualmente improvável ou mesmo im-
possível se o alfabeto cromossómico comportasse inicialmente apenas tres
ou quatro nucleotídeos.

Acontece, porém, que a vida de um ser tita rudimentar quanto a bacte


ria ná*o comporta apenas cem nucleotídeos, mas aproximadamente quatro
milhSes, número este que deveria constar como expoente se quiséssemos cal
cular a sua probabilidade de aparecer a partir do nada.

O agente organizador

Estas conscderacdes excluem peremptoriamente o acaso e mesmo qual-


quer indeterminacáTo na elaboracaTo do fenómeno 'vida'. O mesmo se diga a
respeito de todas as inovacfies que aparecerám no decorrer da evolucffo, ¡no-
vacdes que se acompanharam mutuamente ou que estava m determinadas pe
la introducto, no ADN, de seqü§ncias de centenas de milhares de nucleotí
deos. Elas procedíam de um mecanismo em que o acaso ná*o tinha cabimen
to. Crer que o acaso tenha podido dar origem á complexidade morfológica e
funcional específica da vida equivale a afirmar a possibilidade de ganhar na
roleta milhares de vezes consecutivas — o que ó aberrante. O mesmo se diga
a respeito de toda nova seqüéncia de ADN ocorrente durante o processo de
evolucSb. Além do mais, qualquer que seja o número elevadíssimo de en-
saios do acaso na imensidade da atmosfera e dos océanos, á para cada um
desses ensaios que se afirma a impossibilidade de ganhar na lotería milhares
de vezes consecutivas.

Assim ficam solapados todos os sistemas darwinistas e toda a base de


argumentacSo de J. Monod, que exaltam o papel do acaso num lirismo um

149
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 335/1990

tanto triunfalista. O acaso, o maro acaso, libsrdads absoluta e caga na rafe do


prodigioso edificio da evolucfo... Poda-sa dizar hoja que os mecanismos ele
mentares da evolucSo estao nffo apenas compreendidos em principio, mas'
tambám identificados com precisffo.

O surto e o desenvolví mentó da vida exigen!, ao contrario, umafonte


de informales estranha ao setor matéria-energia; exige um agente organiza
dor, a respeito do qual podemos supor que saja simultáneamente Incorpó
reo, presente em toda parte a permanente.

Jean Rostand escrevia: 'Procuro urna teoría da evolucffo que só faca


apelo a fatores mataríais fisico-químicos'. É este o sonto e a ambicio de to
dos os biólogos, que muhos físicos, como J. Perrin o A. Kastler, para nffo
citar outros, consideram utópico e que na verdade o 6, de acordó com o que
acabamos de demonstrar.

O obstáculo ¡ntransponível consiste em que, por definicio, urna evolu-


cío se dasenvolve no tempo. Ela consta de urna sárie da configuracSes de
pouca probabilidade, qua podemos caracterizar como instantáneos sucessi-
vos de urna película de cinema. A sárie das imagen» traduz entffo a continui-
dade dos movimentos de objetos reais que evotusm no espaco. As coisas safo
totalmente diferentes no caso da evolucffo em que um anti-acaso, o 'agente
organizador', fornece, ñas fases da evolucSb, a multidSo das informacGes
criativas sob a forma de seqüéncia de nucleotídeos introduzidos no ADN; de
um tal processo está excluido o acaso.

Adamáis, qual o biólogo que nunca experimentou, diante dos prodi


gios da natureza, a impressa"ode que existe urna inteligencia subjacente, que
desafiou a desafia diariamente a multidao dos pasquisadores?! Esta impres-
sffo, F. Jacob a recalca deliberadamente ao escrever na Introducto de 'A Ló
gica do Ser Vivo': 'O ser vivo representa a execucffo de um projato, mas pro
jeto que nenhuma inteligencia concebau. Ele tonda para urna finalidad*, mas
finalidade que nenhuma vontade escolhotf. Escolhar urna finalldade, execu-
tar um projeto... como entender qua estas proposicdes possam nato ter sujei
to ou nao ter um agento organizador, qw o segundo principio da termodi
námica exige imperiosamente?

Claude Bernard, cojo flénio fizara tábua rasa dos a priori da eiincia de
sua apoca, escrevia em 186S na Introducto ao 'Estudo da Medicina Experi
mentar: '... o que i essendalmente do setor da vida • o que nffo partonce
nem á Química nem é Física, ncm a qualquer outra ama, é a idéia dírttriz
dessa evolucfo vital. Em todo germen vivo há urna idtfia criativa que se
dosenvolve e manifesta peta organizacffo respectiva'. Será que o problema se
modificou desda entío?

150
ORIGEN) DA VIDA E ACASO

A Genética aínda nao existía gm 1865; ala passou por um desenvolvi-


mento prodigioso, mas que propde ola como motor da evolucSb senSo o fan
toche recalcado do acaso, do qual mostramos a inepcia, fantoche depurado
ou nffo pala selecto natural e diversificado pela sexualidade? Quando os
dentistas tiverem acabado de desemaranhar o inextricável novelo dos b¡-
IhSes de nucleotídeos do ADN da especie humana e das outras espacies,
quando tiverem descoberto todos os mecanismos que constroem o embriáo,
podemos imaginar que taremos progredido na descoberta da fonte desse rio'
de desenvolví mentó gigantesco? Podemos presumir estar entao mais bem co
locados do que hoja para encontrar a chave do automatismo quimérico que
tere dado origem ao surpreendente mecanismo da vida? Nffo se deve antes
crer que, na medida mesma em que a ciencia progride, crescerá a vertigem
do pesquisador por perceber o hiato desmedido que separa, de um lado, a
agitacSo térmica desordenada da materia inanimada e, de outro lado, a v'ir-
tuosidade dos agrupamentos de moléculas do menor dos vivantes?"

As consideracoes do Prof. J. Swyngedauw suscítam, por sua vez, ulte


riores

2. Reflexóes

2.1. Acaso: que é propiamente?

1. Dízem os filósofos que o acaso é o encontró ou o cruzamento aci-


dental, isto é, nao necessárío, nao harmonizado (nao ordenado), nao previs
to, de duas causas (ou duas seríes de causas) ¡ndependentes urna da outra;
cada urna dessas causas (ou seríes de causas) age em vista de urna finálidade
própria determinada.

Assim diz-se que alguém, cavando a térra para plantar urna árvore,
acha por acaso um tesouro que outra pessoa enterrou ali para escond6-lo.
Dois amigos se encontram, por acaso, em urna cidade para onde cada um,
sem saber das ¡ntenooes do outro, foi a negocios. Num lance de dados sai,
por acaso, o número premiado. Urna telha caí, por acaso, na cabeca de um
pedestre.

O próprio Monod dá o seguínte exemplo de acaso:

"Suponhamos que o Dr. Dupontseja chamado com urgencia para visi


tar um novo doente, enguanto o bombeiro Dubois trabaiha no conseno ur
gente do teto da predio vizinho. Logo que o Dr.'Dupont passa junto ao pre
dio, o bombeiro, por inadvertencia, deixa cair seu martelo, cu/a tra/etória
(determinista) vai interceptar a do médico, que morra com o cránio esmaga-
do... Dizemos que ele nSo mesorte. Que outro termo empregar para um
acontecimento como esse, imprevisfvel por sua própria natureza? Aqui o

151
8 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 335/1990

acaso evidentemente deve ser considerado como essencial. inerente é inde


pendencia total das duas series de acontecimentos cujo encontró provoca o
acídente"(p. 131).

2. Refletindo sobre o acaso assim apresentado, verífica-se que

1) O acaso nao é urna pessoa, um ser existente, nem urna causa com
atividade própria. Nao é um agente distinto das duas pessoas que por seus
motivos próprios cavam a térra ou que, a negocios, vá"o a urna cidade em dia
determinado. O acaso nao é um espirito maligno que, escondido no fundo
de um copo, faca sair o número premiado ou, postado num telhado, faca
cair urna telha ou um martelo... O "Sr. Acaso" nao existe.

2) O acontecimento dito casual supoe sempre duas ou mais causas que


agem por um fim determinado; supoe sempre ordem e finalidade: se nin-
guém tivesse enterrado o tesouro para escondé-lo e se ninguém tivesse cava
do a térra para plantar urna árvore, o encontró do tesouro (dito casual) teria
sido ¡mpossível; se nao fossem as leis da natureza, como a da gravidade e a
da atracáo da materia, nem telha nem martelo cairiam do telhado. Emcon-
seqüéncia, o que se diz acontecer por acaso, tem causas: é o efeito das causas
que concorreram para a sua producao. Todavía, ao tender para a sua finali
dade própria, cada causa é independerse da outra; nenhuma está subordina
da á outra.

3) Justamente o fato de que essas causas nao estao subordinadas ou


ordenadas urna á outra, torna o efeito dessas causas imprevisfvelao observa
dor; surpreso por tal efeito imprevisto, o observador entao fala de efeito ca
sual ou de acao do acaso. Se um efeito pode ser previsto, nao se diz que
acontece por acaso. Se alguém pudesse calcular exatamente o ángulo sob o
qual seráo lancados os dados num jogo de azar..., se pudesse calcular a forca
do lancamento respectivo, a elasticidade da mesa sobre a qual os dados vao
cair, a trajetória que hao de percorrer, poderia prever com certeza o número
que esses dados apresentarao ao parar. Para essa pessoa, o número nao seria
casual. O mesmo se pode dizer dos outros exemplos de acaso atrás recensea-
dos: se alguém pudesse calcular a velocidade e a trajetória do Dr. Dupont, as
sim como o grau de distracao ou inepcia do bombeiro Dubois, e a forca da
gravidade que atrai o martelo, nao diría que este caiu casualmente sobre a
cabeca do Or. Dupont.

Por conseguinte, conclui-se que um efeito só é casual em reía cao á


mente do observador incapaz de prever o cruzamento das causas e o resulta
do das atividades das mesmas. Tal ¡ncapacidade resulta ou de que essas cau
sas sao numerosas e complexas demais ou de que nao é possivel observá-las

152
ORIGEM DA VIDA E ACASO

sem as perturbar (dáf Heisenberg falar das incertezas ou indetfirminacoes do


comportamento de agentes naturais).

O acaso, portanto, é urna simples palavra, que significa a nossa "igno


rancia das causas".1 Ele nada produz; nem é a negacáo das causas, mas ape
nas a máscara atrás da qual as causas se ocultam a nos.

Por estas observacdes acerca do acaso vé-se claramente a impossibilida-


de de atribuir-lhe a existencia dos seres do universo e a ordem com que esses
seres se harmonizam entre si numa cadeia de apees e reacoes.

Por isto também o acaso já foi abandonado por muitos dentistas e


pensadores, que reconhecem a necessidade de outro fator para explicar a
realidade do mundo. Eddington chegou a fatar do "Anti-acaso"!

7.2.. Acaso, arma de dois gumes

Supon ha mos que a materia primitiva do universo estivesse sujeita ao


mero acaso ou á pura equiprobabilidade, sem direcao ou forca ou lei prefe-
rencial. Num tal conjunto, qualquer combinacá"o ou estrutura que se formas-
se por acaso, estaría também sujeita a deformar-se ou destruir-se por acaso.

Dirá, porém, alguém: a selepao natural faz que, dentre as formas pro-
duzidas por acaso, subsistam as mais aptas a subsistir ou sobreviver e pere-
cam as menos estáveis. - Em resposta, pode-se observar: se as formas oriun
das do acaso sao equiprováveis entre si, elas se destroem com a mesma pro-
babilidade com que se formam. A selecao nao confere estabilidade, mas
supde-na; ela (personificada?) pode ao máximo escolher entre as combina-
c5es estáveis.

2.3. Evolucffo e acaso

A explicacao pelo acaso desafia a sa razio aínda por outro motivo.

Pergunta-se: como combinacSes casuais de cromossomos puderam


acarretar modificares cada vez mais complexas, dispostas segundo auténti
ca ordem progressiva? Como se pode justificar<que o progresso dos organis
mos tenha sempre coincidido com urna crescente complexidade? Os grandes

1 Ao matemático Henrí Poincaró atribuemse os seguintes dtieres:


"Le hasard estun mot qu'inventa l'ignorance
Et qui de nos espríts marque l'insuffisanoe"
(citado na "Revue des Objections". París 1920, pp. 139s).

153
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 335/1990

grupos de vertebrados apareceram sucessivamente, passando dos peixes aos


batráquios, aos reptéis, aos pássaros, aos mamíferos; por último, veioo ho-
mem como remate da serie ascendente. Em vao se procurarla um fóssil de
mamífero nos estrados geológicos da era primaria ou um fóssil humano na
era secundaria. Fica, pois, a pergunta aberta: donde vem essa arquitetura,
essa ordem progressiva, que ninguém pode negar? Donde pode proceder a
organizacab ascendente dos seres vivos senao de urna Inteligencia Suprema
que tenha previsto e disposto essas escalas de progresso da vida? Pode a ra-
cionalidade provir do irracional ou do desarrazoado? Podem as leis da lógica
e da matemática, que presidem aos fenómenos do universo, derivar-se do
erro e do ilógico?

Mais aínda. Convém lembrar o que é um código genético: é o conjunto


de cromossomos responsável pela construcao de um ser vivo. Esse código
contém bilhoes de bilhoes de instrucoes e sinaís. A "construcao" de urna
simples minhoca precisa de tal número de instrucoes que a imaginacao mal
as pode conceber. O código genético contém as instrucoes referentes á cons
trucao de cada órgao com seus pormenores ínfimos, com seus bilhoes de cé
lulas e neurónios, etc. Nos cromossomos humanos em particular, há tantas
informales que elas poderiam encher urna biblioteca inteira, ou seja, entre
um e dois milhoes de páginas impressas. Cf. Ph. l'Héritier, Qu'est-ca que Che*-
rédité? em "Héréditá et génétique". Paria 1964.

Poderá isso tudo ter-se tornado a partir de erros ou de lances irra-


cionais?

De resto, observa Pierre Leroy:

'Todos sabem que o autor de Acaso a Necessidade nao confíou no


acaso para assegurar a yenda da sua obra. Ele apelou para todas as oportuni
dades que a publicidade Ihe oferecia: radio, telovisao, artificios da imprensa
escrita, entrevistas, discussdes públicas... Monod utilizou, sim, todos os
meios para dar a conhecer e difundir o seu livro. Assim procedendo. ele deu
nos belo exemplo de orientacSo do acaso. Por que nao se tere dado o mesmo
com fenómenos de envergadura e alcance muito maiores? Nao há dúvida, a
vida deve ter sua explicacSo em causas naturais. Mas isto nao excluí que tais
causas tenham sido premeditadas e intencionáis" ("Le matériatisme ou la
nécessité du hasard", em "Ecclesia", n? 263, fevereiro, pp. 30s).

Por f im, observa-se:

2.4. Acaso a origem do universo

A explica cao da vida e de suas especies pelo acaso deixa aberto o pro-

154
ORIGEM DA VIDA £ ACASO

blema: e a materia que se combinou casualmente..., donas vem? Qual a orí-


gem da nebulosa inicial?

Monod nao tenta explicar a existencia da materia, nem parees preocu-


par-se com isto; parte da materia como sendo um dado primitivo. Ora a ori-
gem da materia é, para todo pensador, um problema fundamental. Don
de possui a materia a sua existencia e as suas capacidades de produzir a am
pia escala de compostos anorgánicos, de formas viventes, de sentimentos e
instintos?

Caso se diga que ela possui isso tudo por si mesma, tem-se o panteís
mo - o panteísmo que Monod quer evitar. Caso se responda que ela nao o
possui por si, pois a materia é contingente, mutável, limitada, chega-se á
existencia de Deus. Tal é a conclusao professada por muitos pensadores e
sabios.

Alias, quem admite um Deus Criador, nao cai no animismo ou no in


fantilismo de aceitar a materia animada ou dotada de psiquismo. O Criador
se relaciona com este mundo como o artista se relaciona com seus artefatos:
estes dao testemunho da inteligencia, da sabedoria, do carinho de seu autor,
mas nao se confundem com ele. Assim como todo relógio traz a marca do
seu relojoeiro, este mundo traz os vestigios da ordem e da harmonia conce
bidas pelo seu Criador. Esta posicfo é lógica e coerente, ao passo que o re
curso ao acaso vem a ser urna fuga ou capitulacao da razao.

O presente artigo é particularmente ponderável, dado que foi recente-


mente publicado no Brasil o Hvro "Vida Maravilhosa (Wonderful Ufe) de
Steplen Jay Gould, que tenta restaurar a tese de que a evolucao nao tem sen
tido preferencial e a idáia de "progresso" nao tem significado na biologia. O
acaso seria entao a chave para explicar a realidade.

* • »

(contínuaQio da p. 173)

minúsculos e extremamente frágeis), mormente se se quer fazer um traba-


Iho de nivel científico, que exige sempre cautela e circunspeccao.

Ver aínda a propósito:

BRQWN, RAYMOND, As recentes descobertas e o mundo bíblico.


Ed. Loyola 1989.

155
Carta da Santa Sé sobre

A Meditagáo Crista

Em símese: O tema "oracio" detém hoje em día a atencao dos teólo


gos porque duas correntes de pensamento projetam sobre ele as suas pers
pectivas: I¡ as escolas hindúístas de meditacSo;2) certas linhas de Psicología
contemporánea. As primeiras sao de fundo pantefsta e concebem a oracSo
como a libertario da centelha da divindade existente no homem. A Psicolo
gía contemporánea, em alguns casos, reduz a oracao a estados de alma que li-
bertam energías e possibílítam pro/ecao das facuidades do individuo.

Como se vé, tratase de correntes filosóficas multo diferentes da crista,


que é estritamente monoteísta (Deus é um só e distinto do homem). Todavía
as novas correntes tém em comum a concepcio de que orar é urna questao
de métodos e técnicas; bem aplicados, permitem ao orante obter o que ele
quer...

Pois bem. Tal noció é ¡ncompatível com a mensagem crista". Esta diz
que a oracao é dom^ de Deus; ninguém ora únicamente por suas próprías for
eas ou habilidade. É claro, porém, que Deus requera mobilízacSo das facui
dades do homem. o silencio, o recolhimento, a leitura de livros sagrados...;
mas todo este esforco humano é sustentado pela graca, e a sua eficacia de
pende tio somente da benignidade de Deus, que nunca pode ser toreada pe
las artes humanas. O cristio ora como filho na presenca do Pai, e nio como
arteiro, que se pode gloriar de conseguir maravilhas.

Nos últimos tempos, tetn aumentado em varias partes do mundo o in-


teresse pela oracáb, como réplica ao materialismo no qual vive grande parte
da sociedade moderna; vai-se redescobrindo o ámago ou a respiracao da vida
crista. Acontece, porém, que últimamente a oragao tem sido identificada
com técnicas psicológicas, que causam bem-astar e euforia ab homem, mas
nao podem ser tidas como genufnas formas de piedade crista. Especialmente
os métodos orientáis de concentracao e de esvaziamento da mente tém atraí
do os cristaos; estes tentam adotá-los, sem perceber a diferenca filosófico-

156
A MEDITACÁO CRISTA 13

teológica fundamenta! existente entre o monoteísmo crisrao e o panteísmo


hinduísta. A propósito já foram publicados alguns artigos eni PR; ver

PR 263/1982, pp. 284-298 (Métodos de Medita pao Oriental: visao pa


norámica);
lica);
263/1982, pp. 299-309 (L. Trevisan: "O Poder Infinito da sua
PR 2
Mente");
O;
PR 256/1981, pp. 190-197 (Meditacao Transcendental);
PR 256/1981. pp. 221-233 (Silva MimJ Control);
PR 334/1990, pp. 133-137 ("O fascinante poder da mente", por G. de
Nováis).
A propósito do Hinduísmo, ver PR 309/1989, pp. 78-89.

Para dirimir dúvidas que possam pairar sobre o assunto, a Congrega cao
para a Doutrina da Fé publicou urna Carta dirigida aos Bispos da Igreja Cató
lica (e, conseqüentemente, a todo o povo de Oeus), focalizando a problemá
tica e pondo em relevo os traeos ti'picos da oracao e da meditapao1 cristas.
Tal Carta foi assinada aos 15 de outubro de 1989 (festa de Santa Teresa de
Ávila) pelo Cardeal Josef Ratzinger e o Arcebispo Alberto Bovone, Secreta
rio da referida Congregado. Foi dada ao público em meados de dezembro
de 1989.

A seguir, apresentaremos urna si'ntese desse documento, que compre-


ende sete Partes: I. Introducáo (nos 1-3); II. A oracao crista" á luz da Revela-
cao (n?s 4-7); III. Maneiras erróneas de rezar (n°s 8-12); IV. A via crista pa
ra a unifo com Deus (n?s 13-15); V. Questoes de Método (n?s 16-25); VI.
Métodos psicofísicos e corporais (n?s 26-28); Vil. "Eu sou o Caminho"
(n?s29-31).

I. Introdupao (n? 1-3)

O silencio, o recolhimento e a meditapao tém merecido especial estima


de muitos cristaos nos últimos tempos. Oesejosos de intensificar a sua vida
espiritual, tém recorrido a métodos de meditacao orientáis, o que vem susci
tando a necessidade de esclarecimentos a fim de se manter pura a T radíelo
crista.

1 QracSo é conceito ampio que compreende qualquer forma de elevacao da


mente a Deus;pode ser oral ou mental, particular ou comunitaria. — Medita-
cao é aqueta forma de oracao íntima, que se'faz mediante a aplicacSo da in
teligencia, da vontade e das demais facuidades ás proposicSes da fé, para
aprofundá-las e torna-las esteio de amor mais ardente e vivencia mais coe
ren te.

157
14 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 335/1990

A adocao de técnicas orientáis de meditacao1 tem, por vezes. finalida


des terapéuticas, ou seja, a procura de tranqüilidade interior e de equilibrio
psíquico dentro do ritmo obsessivo da sociedade tecnológica. O propósito
da Congregacao para a Ooutrina da Fé naoé considerar tal aspecto da ques-
tao, mas, sim, as facetas teológicas da mesma. Isto só poderá ser feito deví-
damente se se levar em conta a índole mesma da oracao crista, que alguns
desejariam enriquecer com técnicas de meditacao oriental.

A oracao crista é sempre determinada pela estrutura da fé crista. Por


isto deve ser entendida como um diálogo da criatura com Deus, que median
te Jesús Cristo se revelou na profundidade de sua vida trinitaria (Pai, F¡-
Iho e Espirito); o contato com Deus assim conhecido tem por base a comu-
nháo de vida fundada no Batismo e alimentada pela Eucaristía e exige uma
conversao moral cada vez mais coerente. "Rejeita as técnicas impessoaisou
centradas sobre o próprio eu, que levam a automatismos, nos quais o orante
fica prisioneiro de um esplritualismo intimista, incapaz de abertura para o
Deus transcendente" (n? 3).

Isto quer dizer que nao há receitas psicológicas para chegar certeira-
mente á uniáo com Deus ou á experiencia da Divindiade, mas a oracao é,
antes do mais, o encontró da pessoa humana livre e imprevisível com o Se-
nhor Deus, que fica para além de todas as normas do receituário científico.

II. A Oracao Crista á Luz da Revelapao (n? 4-7)

Já a S. Escritura nos fala de como o homem se encontra com Deus. O


Livro dos Salmos — que a Igreja até hoje reconhece como seu manual de ora-
cao - apresenta a resposta adoradora e gratuita do homem as maravilhas rea
lizadas por Deus na criacáo e na historia; faz-nos conhecer também as atitu-
des de súplica do orante posto em situacoes angustiosas de doenca, perseguí-
cao, tribulagáo...

Além dos Salmos, o Antigo Testamento contém numerosos cánticos


que louvam e rogam a Deus, pedem perdao pelos pecados e auxilio na adver-
sidade.

No Novo Testamento, a oracao é apresentada como obra do Espirito


Santo, que ensina aos discípulos toda a verdade, completando a míssao de

Sáb técnicas ligadas ao hindufsmo ou ao pensamento religioso da india;


prendemse ao Zen-budismo ou simplesmente ao Budismo, á Yoga, é Medita-
cao Transcendental, á Hare-Krishna...

158
A MEDITACÁO CRISTA 15

Jesús (cf. ICor 2, 10; Jo 16, 13s). Especialmente o Evangelho segundo


Sao Joao se presta a alimentar a contemplacao do misterio do Verbo Encar
nado ou de Deus que se dá ao homem; tal misterio, Sao Paulo deseja que os
fiéis o possam compreender em suas varias dimensoes (cf. Ef 3,18s>.

Vé-se assim que a ora pao crista ná"o é mero esforco da mente e das fa-
culdades do homem para contemplar o Transcendental, mas é dom de Deus.
Ela se fundamenta e abastece na revelacao que Deus faz de si ao homem,...
revelacao que tem em Cristo seu ponto culminante. Eis por que a lgre¡a re-
comenda a leitura assfdua e o aprofundamento da Palavra de Deus. Guiado
por este manancial, o cristao nao esquecerá que a sua ora cao decorre sempre
dentro da comunhao dos Santos e segundo o espirito da Igreja. O cristao
nunca ora ¡soladamente, mesmo quando está na solidao, mas ora sempre em
uniáo com Cristo, no Espirito e em comunhao com todos os Santos, para o
bem da Igreja.

III. Maneiras erróneas de rezar (n? 8-12)

Já nos primeiros sáculos insinuaram-se na Igreja maneiras erróneas de


orar, dependentes de falsas concepcoes a respeito de Cristo e das criaturas;
cf. Uo 4, 3; ITm 1,3-7; 4,3s. Com o decorrer dos tempos, dois desvíos fun
damentáis se definiram: o da falsa Gnose e o do Messalianismo.

A Gnose era urna córreme dualista, que considerava a materia má por


si mesma. O corpo humano acarretaria para a alma as trevas da ignorancia,
da qual ela só se libertaria mediante a oracao; esta proporcionaría um confie-
c¡mentó (gnose) superior e pureza interior. — Ora é certo que numa auténti
ca vi sao de fá a materia nao é má, pois foi Deus quem a criou; ademáis o co-
nhecimento {gnose) nao salva ninguém se nao for acompanhado pelos dons
gratuitos do Espirito Santo e por vivencia de amor cristao; o Cristianismo
nao se reduz a um saber reservado aos perfeitos, mas é, antes, urna escola de
amor iluminado pela Palavra de Deus e a fé.

Quanto aos messalianos,1 eram monges também de inspiracáo dualista


ou maniquéia, que apareceram em meados do sáculo IV na Siria e na Asia
Menor. Ensinavam que, para vencer o demonio existente em cada homem, á
necessáría a oracáo incessante, mais importante do que o Batismo e os ou-
tros sacramentos. Tencionavam assim chegar á experiencia de Deus, que re
dunda em bem-estar e deleite espirituais; apregoavam a apatheia ou a morti-
ficacáo de todas as paixoes; donde resultava urna Ética indiferentista. - Os
escritores da Igreja Ihes lembraram que a uniáo com Deus se faz necessaria-

1 Nome que vem do sirio messalein = os que oram.

159
16 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 335/1990

mente através dos sacramentos; pode ocorrer sem deleite ou em meio á ari
dez e á aflicáo. Esta, alias, longe de ser um sintoma negativo, pode significar
mais intensa participado no estado de abandono de Jesús crucificado.

Ora os erros do passado continuam a tentar o homem contemporáneo.


Este por vezes reduz a oracao a um estado psíquico ou a urna conquista da
mente, que se treina para ampliar as suas faculdades meramente naturais. Há
também, em nossos dias, aqueles cristaos que se servem de métodos orientáis
a fim de se preparar para a contemplacSo: identificam o Absoluto, concebi
do pelo budismo, com a Majestade de Deus, que ultrapassa toda realidade fi
nita; assim tendem a um conceito de Deus totalmente desligado das maní-
festacoes históricas ou das teofanias do Antigo e do Novo Testamento; negli-
genciam o misterio da SS. Trindade para "mergulhar no abismo indefinido
da divindade" ou no nirvana, em que as nocoes de eu, tu 9 ele desaparecem.
— Desta maneira tem origem pernicioso sincretismo, pois os seus arautos
tendem a fundir o monoteísmo histórico da revelacao judeo-crista com o
panteísmo da filosofía hinduísta.

IV. A Via Crista para a Uniao com Deus (n? 13-15)

O genuino caminho do cristfo para chegar á íntima uniao com Deus


Pai é Jesús Cristo, que, como homem, viveu em continua oracfo. Com efei-
to; identificava-se com a vontade do Pai, que o enviara a procurar os homens
santos e pecadores;todavíaessa plena dedicacaoá sua'missao nao impedía Je
sús de se retirar para a solidao a fim de rezar e assim haurir novas forcas para
cumprir a sua obra no mundo. No monte Tabor, o Apostólo Pedro sugeriu a
Jesús que lá ficasse em agradável contempladlo, proposta esta que o Senhor
rejeitou, visto que a oracao contemplativa implica sempre o zelo pela salva-
pao do próximo.

A profunda uniao com Deus prometida ao cristao leva a um estado


que os amigos mestres gregos chamavam "divinizacao". Esta, porém, nunca
extingue a diferenca radical existente entre Criador e criatura; o eu humano
jamáis pederá ser absorvido pelo eu divino, nem mesmo nos estados místicos
mais elevados. O "ser outro" nao é um mal, pois que ele ocorre entre as tres
Pessoas Divinas: o Pai nao é o Filho, nem o Espirito Santo é o Pai ou o Fi-
Iho, embora haja urna só Divindade ou urna só natureza divina. Assim en
tre Deus e nos existe diferenca, que nao imposibilita urna íntima uniao.
Também pela Eucaristia e os demais sacramentos Cristo nos faz participar da
sua vida divina,1 sem extinguir a nossa natureza criada.

1 ÉoApóstola quémxliz: "Vivo eu. nao eu; é Cristo que vive em mim" (Gl
2,2O).:^ "■■' y.

160
__ A MEDITACÁO CRISTA 17

Quem considera estas verdades, descobre com profunda surpresa que,


na concepcáo crista, se cumprem todas as aspiracoes existentes ñas outras
correntes religiosas, sem que o eu pessoal e a sua índole de criatura sejam
aniquilados e desaparecam no océano do Absoluto. A profissao de que Deus
é Amor (IJo 4,8) explica a íntima uniáo ou o intercambio e o diálogo entre
Oeus que ama, e a criatura que é amada. O cristao que recebe o Espirito
Santo (o amor existente entre o Pai e o Filho) é'feito "filho no Filho" e ex
clama "Aba, Pai!", participando realmente da vida da SS. Trindade- cf Rm
8,15-17; Gl 4,6.

V. Questoes de método (n? 16-25)

1. A maioria das grandes religióes propoe métodos ou caminhos para


que o homem chegue a Deus. A Igreja Católica nada rejeita do que haja de
verdadeiro e santo nessas normas. Apenas ensina que esses elementos positi
vos devem ser enquadrados dentro das linhas doutrinárias da fé católica, que
é monoteísta, e nao panteísta.1 De modo especial, a procura de um mestre
espiritual (gurú, dizem os hindúfstas) é algo de comum a todas as correntes
religiosas; o Catolicismo muito preza essa figura, desde que ela ensine ao dis
cípulo o "sentir com a Igreja" e a descoberta dos dons do Espirito Santo no
seio da S. Mié Igreja.

2. Os amigos filósofos nao cristaos distinguiam tres fases na procura


de perfeicao: a via purgativa, a iluminativa e a unitiva. Muitas escolas de espi-
ritualidade crista adotaram este esquema. É válido para um fiel católico des
de que se evitem certos mal-entendidos, como será demonstrado a seguir:

1 Praticamente ¡sto quer dizer, entre outras coisas, o seguinte: é oportuno


fazer o silencio interior e pratícara ascese corporal. O budista o pratica para
libertar a centelha divina que ele diz trazer dentro de si, diminuida ou apou-
cada pela materia do corpo. O cristao, ao contrario, o taré para purificaros
afetos sensfveis e harmonizá-los com os anseios superiores ou espirituais que
ele traz em si.
O budismo professa umaantftese entre materia e espirito; o Cristianis
mo, ao invés, embora reconheca tendencias diversas da carne e do espirito,
sabe que ambos sao criaturas do mesmo Deus bom e que devem ser harmoni
zadas entre si pela renuncia ¿s paixSes desregradas.
Algo de semelhante se dé coma Yoga: pode ser praticada em perspec
tiva panteista (para libertara centelha divina ou a alma humana incarcerada
no corpo) ou em atitude cristS (para tender á
entre si).

161
18 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 335/1990

a) A Mística tem como pressuposto e concomitante indispensável a as-


cese ou a purificado do coracío, sede de afetos, por vezes, desregrados. É o
Senhor quem afirma: "Bem-aventurados os que tém o coracao puro, porque
verao a Deus" (Mt 5,8). As paixóes e os afetos como tais sao algo de natural,
que nao pode ser tido como mau (á diferenca do que pensavam os estoicos
e os neoplatónicos); o que se deve extirpar, é a tendencia egoísta que muitas
vezes os desvia da sua finalidade. Esta purificacao é impossi'vel sem urna
abnegacáo radical, que Sao Paulo chama mortificacao <cf. Cl 3,5; Rm 6, lis;
Gl 5,24) e que torna o homem livre para realizar plenamente a vontade de
Deus. — É necessário distinguir tal ascese daquilo que os orientáis chamam
"o esvaziamento total do espirito"; preconizam a ausencia de toda e qual-
quer imagem na mente a fim de que nesta possam descobrir a Divindade. Ao
contrario, a renuncia ascética dos cristaos estima, sim, o vazio em relapao a
tudo o que possa prender e alimentar o egoísmo, mas nao tenciona fechar o
homem em si mesmo; ao invés disto, o Cristianismo ensina-lhe a ultrapassar-
se a si mesmo; lembra-nos o Prefacio da Missa de Natal que Deus se fez carne
precisamente a fim de que, vendo a Deus em sua aparéncia sensfvel, possa-
mos ser arrebatados ao amor das coisas invisfveis.

Por conseguinte, o grande perigo que ameaca o orante concentrado em


si segundo as normas do hinduísmo, é precisamente o de "permanecer em
si", como se o homem fosse urna centelha da Divindade encerrada na corpo-
reidade. O grande mestre S. Agostinho diz a propósito: Sequeros encontrar
a Deus, abandona o mundo exterior, e entra em ti. Mas nao permanecas em
ti; ultrapassa-te, pois tu nao és Deus; Ele é maior do que tu;"Deusintimior
intimo meo, et superior summo meo (Deus me á mais íntimo do que o que
ten no de mais íntimo e está ácima do que tenho de mais elevado", Confis-
soes 3, 6,11). Deus está conosco e em nos, mas Ele nos transcende em seu
misterio. Ademáis ninguém se purifica das paixóes nem se aproxima de Deus
a nao ser por dom do próprio Deus. Este dom se concretiza, por excelencia,
em Jesús Cristo, cujo Espirito Santo nos move interiormente para participar
da vida trinitaria.

b) Á purificacao segue-se lógicamente a iluminacib da alma ou o co-


nhecimento mais profundo do misterio de Deus e de seus designios. Tal ilu-
minacao está na linha do que o Batismo concede aos cristáos. Com efeito; o
Batismo era chamado amigamente iluminacffo (cf. Hb 10,32; Ef 5,14), por
que introduz os fiéis no conheci mentó de Cristo pela fé. As verdades da fé
devem ser durante toda a vida do cristao os pontos cardeais ou os grandes re-
ferenciais da sua meditacáo, de modo que a fase dita iluminativa nao á outra
coisa senáo o aprof undamento da fé; o ponto de chegada de todo esse pro-
cesso intuitivo será a contemplacao de Deus tal como Ele é, na bem-aventu-
ranca celeste (cf. Uo 3,2; 1Cor 13,12).

162
A MEDITAgÁO CflISTÁ 19

c) Em terceiro lugar, os mestres apresentam a vida unitiva ou a experi


encia de Deus decórrente da íntima uniao com Ele. é chamada experiencia
mística, pois está associada aos santos misterios ou aos sacramentos como
fruto destes no cristao fiel. Trata-se de um conhecimentó de Deus derivado
nao da aplicacao dos sentidos nem do raciocinio, mas da afinidade ou cona-
turalidade do cristao com o Senhor Deus. Quem muito ama a Deus, tem o
olhar da mente agucado para intuir a Deus de maneira mais clara e profunda.

O progresso na vida espiritual requer recolhimento e silencio, sem


dúvida; exige aplicacao das faculdades (inteligencia, vontade, memoria,
imaginacao...), mas nao se pode dizer que seja fruto de alguma técnica ou da
arte humana de conquistar o misterio de Deus; é um dom de Deus, concedi
do gratuitamente, cujo beneficiario se sentirá sempre indigno.

3. A benignidade de Deus pode conceder grapas especiáis de oracao e


uniao a certos fiéis como, por exemplo, os fundadores de Ordens e Congre-
gacoes Religiosas dentro da Igreja; Sao Francisco de Assis foi certamente um
desses grandes favorecidos, que deixaram um testemunho eloqüente de vida
mística. É de notar, porém, que as grapas de Deus sao algo de muito pessoal;
nao há necessidade de que as geracoes de fiéis subseqüentes as reproduzam e
imitem estritamente. O Espirito Santo age em cada cristao como bem Ihe
apraz ou com suma liberdade.

4. Observemos ainda a distincao entre dons do Espirito Santo e caris-


mas.

Os dons do Espirito Santo sao faculdades que dispoem o cristao para


que siga com prontidáo as inspiracoes e os impulsos do Espirito Santo. Po-
dem ser ilustrados mediante a seguinte imagem: admitamos um barco movi
do a remos; avanca através das aguas lentamente e com grande esforco dos
remadores. Se nesse barco, porém, colocarmos velas que possam captar o so-
pro do vento, e as deixarmos abertas, o barco se adiantará muito mais rápi
damente e sem cansaco para a tripulacao. Assim em nos há progresso espiri
tual, lento e moroso, se procuramos (com a graca de Deus) por em prática as
virtudes teologais e moráis; ayancamos segundo dimensoes humanas... Pode
mos, porém, progredir muito mais rápida e fácilmente se abrirmos nossas ve
las (os dons do Espirito) para que captem o sopro ou os impulsos do Espiri
to Santo; nosso progresso toma entao o ritmo e as dimensoes do próprio Es
pirito; assim nossa oracao pode ser árida se a praticamos apenas na base da
virtude da religiao, mas torna-se extremamente saborosa se nos'deixamos
mover pelo Espirito Santo e seu dom de piedáde.

Fazendo eco ao texto de Is 11,2 (segundo a versao grega dos LXX), a


teologia distingue sete dons do Espirito: sabedoria, entendimiento, ciencia e

163
20 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 335/1990

conselho (que tém por sujeito ¡mediato a inteligencia), fortaleza, piedade e


temor de Deus (que se situamna vontade do cristao). Tais dons habilitam a
pessoa a realizar atos heroicos e facanhas generosas, experimentando nisso
profunda alegría.

Quanto aos carismas, sao dons concedidos a alguém para que sirva á
comunidade - o que nao excluí o beneficio do próprio individuo carismá-
tico. Os carismas pertencem á riqueza espiritual da Igreja e nao podem faltar
a esta em tempo nenhum; cf. Jo 14, 15s; 16, 12-14. Acontece, porém, que
na Igreja antiga os carismas tinham freqüentemente caráter vistoso para con
vencer o mundo pagao: curas, línguas, interpretacao das Ifnguas, profecías...
Hoje o Espirito Santo suscita ainda outras manifestacoes adequadas aos tem-
pos modernos. Há tantos carismas quantos as circunstancias da vida da Igreja
exijam; entre outros, citemos o dom da catequese, o da assisténcia aos enfer
mos, a grapa de estado, em particular a de viver santamente a vida conju
gal...; tais carismas talvez nao chamem a atencffo, mas sao de alto valor.

VI. Métodos Psicofísicos e Corporais (n? 26-28)

A experiencia ensina que a posicao e as atitudes do corpo tém influen


cia no recolhimento e no f uncionamento do espirito. Isto levou autores cris-
taos tanto do Ocidente como do Oriente a aconselhar determinadas posturas
corporais que visam a facilitar a meditacao: sentar-se ou prostrar-se no chao,
ritmar a respiracáo, olhar um ponto fixo, acompanhar as pulsacóes do cora-
cao... Tais recursos podem ser válidos, mas sempre terao utilidade relativa;
seria err&neo identificar a uniao com Oeus com urna possível euforia resul
tante de exercícios fisicos. A perfeicao espiritual é. antes do mais, graca de
Deus, que o homem pede e deve pedir, mas que ele jamáis conseguirá produ-
zir ou atingir por sua habilidade ou seu atletismo espiritual; o empenho fiel
e generoso da criatura é indispensável, sim, mas apenas para criar um clima
no qual o Espirito Santo possa agir livremente.1

Em particular, a oracáo de Jesús ("Senhor Jesús Cristo, Filho de Deus,


tem piedade de mím"), repetida segundo o ritmo natural da respiracao, pode
ser um espécimen de combinacao proficua da mente e do corpo. Tal prática
é muito cara aos orientáis. É preciso lembrar, porém, que cada individuo
tem sua personalidade própria: uns precisam mais, outros menos... do apoio
do corpo, dos sentidos e dos símbolos..., de modo que nao se devem abso-
lutizar esses subsidios corporais para a vida de oracao.

1 Falando a rigor, a produgSo desse clima para que o Espirito Santo possa
agir nao deixa de ser também ela urna graga do Espirito.

164
A MEDITACÁO CRISTA 21

Merece especial atencao a advertencia comida no § 28 da Carta em


pauta:

"Ceños exercfaos produzem automáticamente sensacoes de paz e de


distensao, sentímentos gratificantes ou até fenómenos de luz e calor seme-
Ihantes ao bem-estar espiritual. Considéralas como auténticas consolacoes
do Espirito Santo sería urna forma totalmente errónea de conceber o pro
gresso espiritual. Nao devem ser identificadas com a experiencia mística se a
vida moral da pessoa interessada nao está á altura devida; tal identificado
viría a ser urna especie de esquizofrenia mental, que poderla levar até a per
turbares psíquicas o, por vezes, a aberracSes moráis".

O texto chama a atencao para o risco de auto-i I usao' ocor rente quan-
do o orante dá excessivo valor a sentimentos, estados psicológicos, imagens
mentáis na sua vida de oracao; pode chegar a confundir síntomas doentios
ou psicopatológicos com experiencia mística, revelacóes divinas, aparicoes...;
desta maneira entra por um caminho tortuoso em que as doencas mentáis
sao alimentadas por falsas concepcoes religiosas.

Entre as práticas cor pora is classicamente recomendadas pelos mestres


espirituais, está o jejum. Este liberta o cristao de suas paixoes, tornando-o
mais disponível para Deus e para o servico do próximo.

De resto, deve-se notar que o atendimento aos irmaos e o cumprimen-


to dos deveres, de estado nao se opóem ao progresso da vida de oracao ou
áquilo que o Novo Testamento chama "a oracao continua" (Le 18, 1; 1Ts
5, 17; 2Ts 3,8-12). É preciso, porém, que o trabaIho seja efetuado pelo cris-
táo com a pura intencao de cumprir a vontade de Deus ou por verdadeiro
amor ao Senhor e ao próximo, sem mésela de amor próprio, vaidade ou pai
xoes de outra índole. Diz Sao Paulo: "Quer comáis, quer bebáis, quer facais
outra coisa, fazei tudo para a gloria de Deus" (ICor 10,31).

Vil. "Eu sou o Caminho" (n° 29-31)

Na rica variedade de maneiras de rezar que a Igreja reconhece, cada


cristao poderá e deverá descobrir o seu modo próprio de caminhar para
Deus. É ceno, porém, que todas as vias particulares convergem para esse
grande caminho de acesso ao Pa¡ que é Jesús Cristo. Daí a necessidade de
que cada orante subordine suas preferencias pessoais de oracao ao Modelo e
á Escola de Jesús Cristo, Escola da qual o Espirito Santo é o Mestre interior.

A vida espiritual tem suas fases de aridez, ñas quais o orante julga nada
"sentir" a respeito de Deus. Sao provacóes inerentesao progresso espiritual.

165
22 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 335/1990

O orante nao deve superestimar esses momentos como se significassem um


grau elevado de vida mística ou "a noite escura" da qual fala S. Joao da
Cruz, mas também nao deve desanimar em tais circunstancias, deixando de
rezar ou de procurar assiduamente a uniao com Deus. A oracá*o feita na ari
dez, embora pareca estéril ou inútil (pois nao acarreta consolares sensí-
veis), pode ser até mais valiosa e frutuosa do qué a oracao cheia de consola-
poes, pois é a expressao de fé mais pura, mais apoiada em Deus e na sua Pa-
lavra, fé isenta das muletas que sao muitas vezes as consolacSes sensfveis; é
em tais momentos que se verifica se o orante procura realmente a Deus ou a
si quando pratica seus exercfcios espirituais.

O documento se encerra com urna observacao que merece transcrícáb


literal:

"O amor de Deus. único objeto da contemplado crista, é urna realida-


de de que ninguém se pode apoderar por algum método ou técnica;ao con
trario, devemos ter sempre o olhar fixo sobre Jesús Cristo, atravésde quem
o amor de Deus chegou até nos... Por conseguinte, havemos de deixar que
Deus decida a maneira pela qual Ele nos fará participar do seu amor. Mas
nunca pederemos procurar colocar-nos no mesmo nfvel do objeto contem
plado ou do livre amor de Deus, nem mesmo quando nos é dado gratuita
mente em Cristo um reflexo sensfvel desse amor divino e nos sentimos como
que atraídos pela verdade, a bondade e a beleza do Senhor.

Quanto mais é dado a urna criatura aproximarse de Deus, tanto mais


cresce neta a reverenda frente ao Deus trSs vezes Santo. Comprendernos as-
sim a palavra de S. Agostinho: Tu podes chamar-me amigo, mas eu me neo-
nhecoservidor' /"Enarr. ¡n Psalmum 142,6)."

A leitura do texto que acabamos de analisar, sugere algumas ponde-


racoes.

Comentando...

O tema "oracao crista" detém, hoje em dia, especial atencSo dos teó
logos porque duas correntes de pensamento prpjetam sobre ele as suas pers
pectivas: 1) as escolas hindufstas de meditacao; 2) certas linhas de Psicolo
gía contemporánea. As primeiras sao de fundo panteísta e concebem a ora-
cao como a libertacfo da centelha da divindade existente no homem. A Psi
cología contemporánea, em alguns casos, reduz a oracao a estados de alma
que libertam energías e possibilitam projecá*o das faculdades do individuo.

Como se vé, trata-se de correntes filosóficas muito diferentes da crista,


que é estritamente monotersta (existe um só Deus, que ó distinto do homem

166
A MEDITAQÁO CRISTA 23

e do mundo, pois é o Seu Criador). Todavía as novas correntes tém em co-


mum a concepcáo de que orar é urna questáo de métodos e técnicas; bem
aplicados, permitem ao orante obter o que ele quer.

Pois bem. Tal concepcáo é ¡ncompatfvel com a mensagem crista. Esta


diz que a oracao é dom de Deus; ninguém ora únicamente por suas próprias
forcas ou habilidade. É claro, porém, que Deus requer a mobilizacao das fa-
culdades do homem, o silencio, o recolhimento, a leitura de livros sagra
dos...; mas todo este esforco humano é sustentado pela graga e a sua efica
cia depende tao somente da benignidade de Deus, que nunca pode ser forca-
da pelas artes humanas. O cristáo ora como filho na presenca do Pai. e nao
como arteiro, que se pode gloriar de conseguir maravilhas.

A mística oriental seduz por suas belas fórmulas, por seu ritual e seu
simbolismo; ela aviva no homem a consciencia do Absoluto... A Psicología
moderna desvenda ao homem possíbilidades de se condicionar que o habili-
tam a efeitos inesperados. Mas nada dísso se pode confundir com a mensa
gem crista, que é de humildade e confianca filiáis diante de Deus. Nenhuma
prece é inútil ou perdida se feita por Cristo ou em nome de Jesús (cf. Jo 15,
16; 16, 23s), nao, porém, para fazer Deus obedecer ao homem e, sim, para
fazer que o homem colabore com Deus na realizacáo do plano do Senhor
sobre a historia e a humanidade.

Em breve PR publicará um artigo sobre as Oficinas de Oracao.

(continuacao da p. 192)

no seio da Igreja: saber reconhecer os aspectos positivos para os valorizare


aplicar, e descobrir os aspectos negativos para corrigi-los.

Cremos no futuro das CEBs, pois vemos nelas um importante instru


mento da Nova Evangelizado. Mas será sempre necessário linar contra cer
tas tendencias: a de tomar as CEBs por simples movimentos e nSo como en-
grenagens no seio da Igreja; a de desenvolver contradiefies ao Magisterio; a
de excluir e limitar, a de considerar a sua atividade como urna alternativa as
igrejas diocesanas, a de assemelhá-las a simples instrumentos de tomada de
consdéncia, etc.

Estamos certos de que os responsáveis pela Quarta Conferencia do


Episcopado Latino-Americano saberSo encorajar, pelas suas palavras, as ver-
dadeiras Comunidades Eclesia'is de Base".

Sem comentarios... Estéváo Bettencourt O.S.B.

167
Esclarecértelo...

Ainda os Manuscritos do Mar


Morto

Em símese: Este artigo volta á temática abordada em PR 311/1989.


pp. 530-541. confirmando a resposta af dada á queixa de estudiosos que de-
sejariam já ver publicados todos os manuscritos descobertos em Qumran
(N.O. do Mar Morto) nos anos de 1947 a 1958. Dois professomsda Escola
Bíblica de Jerusaiém - os PP. Langlamet e Benoft O.P. - explicam minucias
do caso que claramente evidendam os porqués da demora na divulgado des-
ses textos. Nada há a ocultar nesse acervo de rolos, nem será ocultada coisa
alguma. Apenas se deve levar em conta a complexldade do trabaiho, que is-
quer tempo, pesquisadores disponiveis, operarios gráficos especializados e
grandes quantias de dinheiro...

Em PR 331/1989, pp. 530-541, fo¡ publicado um artigo referente a


manuscritos da Biblia e da espiritualidade judaica encontrados em Qumran
ou a N.O. do Mar Morto entre 1947 e 1958. A revista VEJA, aos 06/9/1989,
havia noticiado que alguns dentistas estavam irritados pela demora da publi
carlo do conteúdo desses documentos; chegavam a suspeitar que a Igreja
Católica estivesse provocando esse atraso, visto que o conteúdo dos rolos de
Qumran poderia causar grandes reviravoltas na maneira de entender as orí-
gens do Cristianismo.

O citado número de PR dissipava tais suspeitas, mostrando que sao in


fundadas, pois o trabaiho de leitura dos documentos de Qumran, fragmenta
rios, mal conservados e pouco resistentes ao trato manual exige, por si s6,
tempo prolongado, estudiosos especializados e enormes quantias de dinhei
ro... As ponderales publicadas em PR podemos acrescentar os seguintes
dados:

1. Urna Carta proveniente de Jerusalém

O Pe. Caetano Minette de Tillesse, Diretor da Revista Bíblica Brasilsi-

168
MANUSCRITOS DO MAR MORTO 25

ra (C.P. 1577, 60001 Fortaleza, CE) enviou uma fotocopia do artigo de VE


JA ao Prof. Pe. Fr. Langlamet O.P., da Escola Bíblica de Jerusalém.'

Recebeu em resposta uma carta, da qual destacamos alguns tópicos,


pelos quais somos muito gratos ao Pe. Caetano:

"John Strugnell* e seus colegas estao cansados dessa campanha absur


da, movida por Vermes, Shanks e Cía., e que nao tem fundamento algum.
Muitos pedem aos editores que publiquem ao menos as fotografias dos ma
nuscritos. Mas a que serviríam as fotografias de fragmentos minúsculos, que
é necossário tentar combinar entre si para reconstituir o texto Iegívei? Por
certo, os editores t8m demorado muito em seu trabalho, mas muitos deles,
se nao a maioria, exercem intensa atividade académica, que ná"o Ibes deixa
senáb pouco tempo livre. Shanks é muito rico. Tem o sentido dos negocios.
Encontrou um veio que apaixona o público. Os jornallstas apertaram o passo
com ele. 'O dinheiro move o mundo' ".

A seguir, o Pe. Langlamet se refere a uma explanacao do assunto pu


blicada em 1983 pelo Pe. Benoít O.P., também Professor da Escola Bíblica
de Jerusalém, na Revue Bibl¡que90, 1983, pp. 97-100. Tais esclarecimentos
também merecem divulgacao; eis por que passamos a traduzir o texto do
Prof. Pe. Benoft.

2. A recensáo de um livro

Ñas páginas citadas da Revue Biblique, o Pe. Benoít apresenta a recen-


sao do livro: The Dead Sea Scrolls. A Personal Account, by John C. Trever.
A Revised Edition of the Author's UntoM Story of Qumran, 21,5x 14mm,
241 páginas, 16 planilhas de fotografias, 4 mapas. Grand Rapids, William B.
Eerdmans, 1977, reimpreso em 1979.

Após descrever o conteúdo do livro em seus dezoito capítulos, co


menta o Pe. Benoít:

"Sabemos que John C. Trever esteve intimamente envolvido na identi-


ficacao e na publica pao dos primeiros rolos encontrados na Gruta 1 de
Qumran...

1 Fot, alias, essa Escola que preparou o texto francés da famosa "Biblia de
Jerusalém".

1 Um dos pesquisadores de Qumran.

169
26 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 335/1990

O Dr. Trever teve o mérito de fotografar com exatidao e de publicar


com presteza os rolos que ele identificou em fevereiro-abril de 1948 com os
seus colegas da American School, mas ele reconhece (p. 152s) que os aproxi
madamente 40.000 fragmentos encontrados em 1952 na Gruta 4, represen
tando perto de 400 obras, dao origem a um problema assaz diferente. A pu
blicado dos mesmos 'ocupará muitos anos e muitos volumes (will occupy
many years and many volumes)'. Depositados na térra e nao em jarros, co
mo os primeiros rolos ¿escóbenos (relativamente bem conservados), esses
fragmentos sao geralmente minúsculos e exigem longo trabalho de justapo-
sicáo, um verdadeiro quebra-cabeca (puzzle). Selecioná-los e classificá-los em
categorías diversas de acordó com a cor do pergaminho ou as fibras do papi
ro, a forma das letras, as palavras que eventualmente podem ser reconheci-
das...; a seguir, aproximá-los entre si quando os contornos das suas dilacera
das bordas o per mita m e reconstituir assim fragmentos mais ou menos apre-
ciáveis de antigos textos conhecidos ou desconhecidos, a fim de osdecifrar e
interpretar, tudo isto exige muito tempo e muita paciencia. A equipe inter
nacional de oito jovens sabios chamados a publicar tais textos teve que dedi
car varios anos a desemaranhar esse novelo, antes de poder formar os lotes
que foram entregues a cada um...

Após os anos de trabalho em comum na Seccéfo de Manuscritos do


Museu Rockefeller de Jerusatóm, os membros da equipe tiveram que se sepa
rar, voltando as suas tarefas pessoais, académicas e familiares; levava m, alám
das copias que cada um devia dec'rfrar, excelentes fotografías infra-vermelhas
dos respectivos documentos, que I has permitiriam, mesmo á distancia, pre
parar as suas edioSes. Estas comecaram a aparecer em 1955 sob a forma de
urna colecto intitulada Discoveriesin the Judaean Desert (DJD),1 publicada
pela Oxford University Press.

Quando escrevia a sua revised edition em 1977, J.C. Trever verificava


(p. 159) que só haviam sido publicados dois volumes dos documentos da
Gruta 4: o tomo V dos DJD, por J.M. Allegro, e a edicto (forado coleca*o)
de fragmentos de Enoque, por J.T. Milik. Recon necia Trever que os aconte-
omentos políticos eram, em parte, responsáveis pela lentidffo da pubticacío;
insinuava também, alias sem malfcia, que os sabios editoras procuravam,
sem dúvida, explorar ao máximo esses obscuros documentos antes de os en
tregar so púbDco - suposica"o esta que nSo era falsa. Outros estudiosos emi-
tiram explicacdes muito menos caridosas, afirmando que os editores — em
parte 'católicos'! — guardavam intendonalente ñas suas gavetas textos cuja
divulgacao seria nociva ás concepcdes tradicionais sobre as origens do Cris
tianismo.

Descobertas no Deserto da Judóia.

170
MANUSCRITOS DO MAR.MORTO 27

Nada é mais falso do que isto. Quando eu era responsável pela edicto
dos DJD após a morte do Pe. de Vaux, aproveitei a ocasigo para esclarecer
as coisas e refutar cal unías, que sffo, ao mesmo tempo, tolices. Nao i preciso
voltar á teoría fantasiosa que fazia do Mestre de Justica um Jesús antes da
letra, Messias Crucificado e ressuscitado, teoría que já perdeu sua atualidade
há muito, embora se arraste por vezes em folhetos nffo qualificados.1 Inda-
pendentemente dessa teoría, vejo ainda aparecer, de quando em quando
(assim numa carta de Mr. John M. Allegro2 a Time de 17/04/1982), a sus-
peita de que haja um silencio voluntario sobre documentos que seriam perí-
gosos para a fó.3 A carta em questSo termina formulando dúvidas a respeito
da honestidade académica, dúvidas que eu rejeito peremptoriamente. Nada
será ocultado, e nada há a ocultar. Seria perverso dar a crerao público que
existem em nossos arquivos documentos misteriosos cuja publicacSo seria
fatal para a religiSb. Nada disso existe. Já um artigo assaz minucioso da
Revue Bíblique de 1956 (pp. 49-67) e numerosos estudos publicados em di
versos periódicos sobre textos de Qumran particularmente interessantes e

Lemos no Spotlight Supplement July 5, 1982, do Journal of Historical


Review, num artigo intitulado Whatever happened to the Dead Sea Scrolls?
o segwnte:
Teria sido descoberto, a partir dos manuscritos, que em cerca de 70
a. C um profeta essénio chamado 'Mestre de Justica' foi condenado á morte
pelas autoridades Judaicas por causa da sua heterodoxia doutrinária e organi-
zacional; os seus seguidores terSó declarado que ele era o próprio Deus apa-
recendo como um homem em Jerusalém e que a sua morte era um sacrificio
expiatorio em favor dos e/eitos; ele ressusc/'tou do túmulo e voltou para o
céu; ficou de mandar um representante seu dentro de poucos anos. Tal foi
precisamente o tipo de Messias que Jesús Cristo proclamou ser em pessoa.
Mais: cerca de 600 outros manuscritos atestariam essa descoberta fantas-
tical

2 Membro da equipe dos editores, John M. Allegro foi o primeiro apublicar,


em 1968, o seu lote de manuscritos no volume Vdos DJD (4Q 1S8-4Q 186),
edicSo preparada com rapidez, talvez com excessiva rapidez, pois ela exigiu
um longo trabalho de esclarecimentos da parte de John Strugneflna Revue
de Qumran Vil, 1970, pp. 163-276.

3 Eis o texto respectivo:


"Nio há por que censurar os cólicos se mais urna vez levantam a sus-
peita, ¡i sustentada pelo falecido Edmundo Wilson, de que os eclesiásticos
que conseguiram obter a supervisio da publicacSo inicial dos documentos
tem mais medo das suas repercussSes no setor da fé do que ensusiasmo pela
luz que esses documentos projetam sobre as origens da nossa cultura".

171
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 335/1990

importantes bastariam para mostrar aos leitores suficientemente esclarecidos


o que ainda resta a publicar e como ai' nada há de explosivo que os estudio
sos queiram guardar em segredo.

Todavía, ao lado das críticas malévolas ou de má fé. percebe no mun


do dos cientistas, em pessoas honestas incapazes de suspehar algo de tene
broso, a surpresa e o pensar provocados pela lentidáo da publicacao dos
grossos volumes definitivos dos DJD, lentidao que eu sou o primeiro a veri
ficar com grande pesar. Quero, pois, explicar claramente o que há, lancando
feixes de esperanca.

Como observa J.C. Trever, os acontecimentos políticos que sacudiram


o Próximo Oriente, prejudicaram a continuacao normal dos DJD. Depoisde
nacionalizado pela Jordania no outono de 1966, o Museu Rockefeller pas-
sou, em 1967, para a autoridade de outro Governo. O Pe. de Vaux obteve
que os documentos desse Museu lá ficassem depositados e nSo fossem mistu
rados com aqueles que os israelenses encontraram ou adquiríram e que estao
no Museu de Israel.1 Quando eu empreendi continuar a publicacSo, inter
rompida pela guerra, encontrei perfeita compreensao tanto do Governo da
Jordania como do Governo de Israel. Este respeitou integralmente osdirei-
tos de edicao concedidos á equipe da qual falei atrás. Compete, pois, a esta
trabalhar. E ela está trabalhando. Mas menos rápidamente do que o desejável.

É, pois, falsa a acusacao expressa nestas outras linhas do artigo do Journal


of Historical Review,/á mencionado anteriormente:
"Antes da Guerra dos Seis Dias no Oriente Medio, os manuscritos esta-
vam todos guardados no Museu Jordaniano em Jerusalém. Mas, quando as
tropas de Israel ocuparam a Cidade Santa em 1967, urna das prímetras coisas
que as autoridades Judaicas fizeram, foi levar os manuscritos e cofocá-los em
reserva da mais alta seguranca. Entao o apagamento ftjlacfcouty foi-se instau
rando. Nao temos noticia de alguóm Que naja recebido a permissao de exa
minar algum dos manuscritos, ainda que por um pouco de tempo. Qual po
de ter sido a razSo desse segredo oficial? Que é que os manuscritos revelam
em detrimento do regime sionista de Israel? E por que os meios de comuni
cado estiveram tao silenciosos durante todos estes anos a respeito desta des-
coberta do sáculo e seu subseqüente ocultamente»?"
Destituidas de todo fundamento, essas alegacoes sao absurdas. Os do
cumentos de Qumran do Museu Rockefeller estao guardados numa sala espe
cial, como é devido, cercados das precauedes que a sua fragilidade requer;
mas sao perfeitamente acessfveis aos pesquisadores, desde que legalmente
autorizados, como se compreende. principalmente quando se trata dos docu
mentos ainda inéditos.

172
MANUSCRITOS DO MAR MORTO 29

É aquí que devemos mencionar de novo as ¡mensas dificuldades de tal


tarefa. Quem quer que folheie o volunte Vil do Pe. Maurice Baillet, o último
publicado (1981), há de se convencer fácilmente de quanto tempo a pacien
cia exigirán) do seu autor a decifracfo e, muhas vezes, a simples combinado
desses múltiplos fragmentos. Diga-se o mesmo a respeito dos outros volu-
mes, cada autor devenrin conciliar, do melhor modo possível, essa labuta
com os seus encargos profissionais.

Após o volume vil eu pensava poder entregar ao prelo o volume de


Mons. Patrick W. Skehan, Professor da Universidade Católica de Washington,
reoám-falecido. Oiziam-me que o seu manuscrito estava praticamente termi
nado. O Dr. Eugene Ulrich, discípulo encarregado de acabar a obra de Mons.
Skehan, percebeu que precisava ainda de mais de um ano para rematar o tra-
balho; está-se dedicando a essa tarefa. Do seu lado, o Dr. J.T. Milik está pre
parando um volume (serao necessários dois ou tres), de modo que espero re-
ceber o seu manuscrito no próximo ano. O Prof. John Strugnell, da Harvard
University, vem regularmente a Jerusalém, quando Ihe permhem os lazares
sabáticos; o seu trabalho está bem adiantado. Quero crer que o Prof. Franck
M. Cross. da Harvard University, e o Pe. Jean Starcky, membro emérito do
C.N.R.S. de Paris, conseguirao eximir-se de outros compromissos para termi
nar a edicto dos seus lotes, valendo-se, caso necessário, do auxilio deassis-
tentes postos sob a sua orientacao.

Isto quanto aos editores. Temos ainda que levar em conta a morosida-
de necessária para a impressao desses manuscritos, cheios de caracteres he
braicos, de sinais diacríticos, de símbolos, etc. A Clarendon Press de Oxford
realiza esse trabalho com perfeicfo digna de todo elogio. Mas os operarios
especializados capares de tal tarefa nao sá"o numerosos. Também eles preci-
sam de tempo.

Após esta exposicSo multo franca, eu quase ousaria retomar as pala-


vras de Sa*o Paulo aos Corintios: "Nos vos falamos com toda a liberdade,
nosso coracao se abriu totalmente" (2Cor 6,11). Eu quis denunciar as acusa-
c6es injustificadas e desarrazoadas, quando nSo de má fé. Nada há a ocultar,
e nada será ocultado. Mas a tarefa é longa e difícil. A publicacso está em
curso. NSo podemos prometer milagros, mas tudo será feito para que ela se
vá adiantando da maneira mais rápida possível".

Como se ve, o mencionado artigo de VEJA sobre Qumran nada de no


vo traz. O público que conhece o assunto, sabe que se trata de uní questio-
namento para o qual já fo¡ dada a resposta há'muito tempo. É realmente di
fícil I ¡dar com os milhares de fragmentos descobertos (dos quais muitos sao

(continua na p. 155)

173
Periódicamente voltam

As Finanzas da Santa Sé

Temos publicado noticias sobre as financas da Santa Sé, a respeito das


quais o público nem sempre é corretamente informado. Segue-se o resultado
da última avaliacáb efetuada pela Comissao de Cardeais encarregados do as-
sunto, como foi divulgado pelo jornal L'OSSERVATORE ROMANO, edicto
portuguesa de 05/11 /1989, p.9. Pode-se verificar que o regime de contencao e
austeridade nos gastos se faz necessário para fazer frente á inflacao e ao défi
cit que afetam também a administracáb central da Igreja; além do qué, a mo-
dernizacao e atualízacao dos servicos da Igreja exigem novas e novas despe
sas extraordinarias, que a generosa solidariedade dos fiéis do mundo inteiro
tem coberto prontamente.

"De 23 a 25 de Outubro de 1989 realizou-se no Vaticano, sob a presi


dencia do Cardeal Agostinho Casaroli, Secretario de Estado, a reuniáo se
mestral do Conselho de Cardeais para o estudo dos problemas organizativos
e económicos da Santa Sé.

Participaran) nesta reuniao os Cardeais Paúl Zoungrana, Eugenio de


Araújo Sales, Joseph Cordeiro, Maurice Michael Otunga, Jaime L. Sin, Er
nesto Corrípio Ahumada, Emmett Gerald Cárter, John Joseph O'Connor,
Edward Bede Clancy, Ángel Suquia Goicoechea, Paulos Tzadua e Edmund
Casimir Szoka.

Encontravam-se presentes também os Cardeais Giuseppe Cáprio, Pre


sidente da Prefeitura dos Assuntos Económicos da Santa Sé, e Agnelo Rossi,
Presidente da Administracao do Patrimonio da Sé Apostólica.

O Cardeal Cáprio apresentou o Balanco de 1988 da Santa Sé, o qual,


após um aprofundado exame, feito também com o auxilio de revisores ex
ternos, a Prefeitura dos Assuntos Económicos redigiu numa nova exposicao
contábil.

O déficit económico de 1988 foi de Lit. 56.808 milhoes (igual a


US$ 43.506 milhoes. ao cambio de Lit. 1.305, 765 por dólar), derivante da
diferenca entre as entradas no valor de Lit. 97.219 milhoes (US$ 74.453

174
FINAN CAS DA SANTA SÉ 31

milhoes) e as despesas no valor de Lit. 154.027 milhoes {US$ 117 959 mi


lhoes).

A contencao do déficit do ano de 1988 permitiu á Santa Sé fazer face


a algumas despesas necessárias que se juntaram ao déficit mesmo, fazendo
subir os gastos do ano a Lit. 74.723 milhoes (US$ 57.225 milhoes), impor
tancia que permanece ainda abaixo de quanto fora previsto no Orcamento,
gracas ao esforco de austeridade feito pelos varios Organismos da Santa Sé.

A parte mais relevante destas despesas refere-se á cobertura do efeito


erosivo da inflacao e, em menor medida, á realizacáó de novas ¡nstalacóes da
Radio Vaticana, bem como á restauracaode alguns ¡movéis institucionais.

As necessidades da Santa Sé foram cobertas substancialmente gracas


ao contributo do Óbolo de Sao Pedro que, como anunciado no Comunica
do do dia 1? de Marpo de 1989, somou US$ 52.935.988,93.

O Conselho discutiu este Balanco e apreciou vivamente o esforco feito


pelos varios Departamentos da Santa Sé, para reduzir ao mínimo as despesas
do exercício.

O Conselho agradece sentidamente aos Bispos, aos Sacerdotes, aos Re


ligiosos e aos Fiéis, que, sensíveis ás exigencias da Santa Sé, responderam
com generosidade ao apelo que Ihes foi dirigido.

O Conselho faz presente que, se o Óbolo de Sao Pedro foi em 1988 su


ficiente para cobrir as necessidades do ano, ele todavía nao cobre ainda as
exigencias financeiras da Santa Sé.

Encontramo-nos, de fato, na exigencia impéleme de adequar os instru


mentos de trabalho ás tecnologías modernas; em particular, referímo-nos
aos meios de comunicacao social, que precisam de urna transformado das
¡nstalacoes e da atualizacao dos funcionarios, com novos investimentos para
a computan zacao das Seccóes, bem como para a modernizacfo da Radio e
da Tipografía Vaticanas.

A partir do Concilio Vaticano II, além disso, intensificou-se a relacfo


constante, de modo especial dos Bispos, com os Organismos da Igreja, para
colaborarem na preparacSo de linhas programáticas e de documentos de rele
vante importancia no governo da Igreja mesma. Tal relacao, que comporta
viagens e outros custos, constituí com freqüéncia urna seria dificuldade para
os países mais pobres, para os quais ¿e torna necessário o auxilio da Santa
Sé.

175
32 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 335/1990

Como ñas ocasioes precedentes, o Cardeal Presidente da Prefeitura dos


Assuntos Económicos informou o Conselho sobre o Orcamento do Estado
da Cidade do Vaticano, cujas entradas em 1988 foram no valor de Lit.
109.252 milhoes (US$ 83.668 milhoes), enquanto as despesas chegaram a
Lit. 91.983 milhoes (US$ 70.443 milhoes). O superávit será utilizado, urna
parte (50 por cento) para as exigencias financeiras próprias da Santa Sé, e a
outra para as exigencias do Estado da Cidade do Vaticano.1

O Em.mo Cardeal de Araújo Sales referiu a propósito da situacáo de


L'Osservatore Romano, cujo déficit somou em 1988 Lit. 6.900 milhoes
(US$ 5.284 milhoes).

Por fim, o Conselho recebeu ¡nformacoes atualizadas sobre os desen-


volvimentos dos Servicos Centráis do Trabalho da Sé Apostólica".

Por "Santa Sé" entende-se o governo central da Igreja, com a sua apáb
eminentemente pastoral.
Por "Estado da Cidade do Vaticano" entende-se a sede desse governo.
que é o territorio do Vaticano.

(continuacao da p. 181)

nanceiros que se ocultam sob a capa de servíco á sociedade; é o que se tem


verificado mais de urna vez, especialmente no setor da contencfo da nata-
lidade.

De resto, pode-se aseverar, sem medo de errar, que todo processo


que contraríe o ritmo normal da natureza humana, tem suas contra-indica-
coes serías e graves. A natureza é sabia, dizem, e nao pode ser impunemente
violada.

As ¡nformacoes deste artigo foram extraídas da revista FamigBa Cris


tiana, ano LIX, n? 46.22/11/1989. pp. 36-40.

176
Um novo abortivo:

A Pílula RU 486

Em síntese: Nos últimos anos foi /aneada urna pílula abortiva designa
da por RU 486. Empresarios e políticos a querem recomendar; os médicos
em parte hesitam, pois aínda nio foram explorados todos osefeitos colate-
rais desse produto. A Ética cristi. porám, repele esse novo fármaco como
sendo instrumento de homicidio ou atentado é vida de inocentes. O Dr. Jé-
róme Lejeune, geneticista de fama mundial, manifesta-se sobw o assunto ñas
páginas seguintes, mostrando como o público vai sendo engañado por órgaos
postos a servico de interesses espurios; "a pflula RU4864 um veneno", re-
pete ele, prestando desta forma o melhor sen/ico á mulhereá sociedade.

A pflula RU 486 foi fabricada pelo francés Dr. Etienne Baulieu como
sendo um abortivo de uso muito fácil; é menor do que um comprimido de
aspirina e mais leve do que as pflulas anticoncepcionais; pode ser engolida
sem agua, com um pouco de saliva apenas; bloqueia a gravidez em 48 horas
como se bloqueia urna gripe... É com estes e outros dizeres que a publicida-
de vai recomendando o novo abortivo... Todavia as opinioes a respeito nao
sao unánimes. Daf a oportunidade de urna considerado mais detida do as
sunto: proporemos, em primeiro lugar, o aspecto técnico da nova pílula; a
seguir, um juízo ético sobre a mesma.

1. A pflula RU 48

1.1.0 mecanismo da RU 486

Eis o funcionamiento da RU 486:

1. Existe um hormónio, a progesterona, que exerce papel decisivo pa


ra preparar o útero que está para receber o óvulo fecundado. Urna vez feita
a nidapSo do ovo no útero, a progesterona é de importancia capital para o
desenvolví mentó da gravidez: estimula e mantém a placenta; favorece o cres-

177
34 "PSRGUNTE E RESPONDEREMOS" 335/1990

cimento das mamas. Acontece, porém, que, para funcionar devida mente, a
progesterona precisa de um elemento receptor, com o qual entra em intera-
cao. Usando urna imagem, diremos: a progesterona é como uma chave e o
seu receptor é a fechadura; para funcionar, a progesterona precisa de virar-se
dentro da fechadura. Ora a RU 486 bloqueia ou obstruí a fechadura (o
receptor), de tal modo que a.chave (a progesterona) nela nao pode entrar
nem se virar. Conseqüentement, o ovo nao pode fazer a sua nidacao no úte
ro e a gravidez é interrompida.

1.2. A OrganizaeSb Mundial da Saúde

A Organizado Mundial da Saúde (OMS), que tem sede em Genebra,


comecou a estudar a RU 486 em 1983. Para tanto, foi constituida uma Co-
missao encarregada de examinar esse novo produto de Laboratorio dentro
de uma perspectiva mais ampia, a saber: no intuito de descobrir meios de
evitar o aborto, visto que este nao é tido como método aceitável de ptaneja-
mentó familiar.

Os resultados dos primeiros estudos dessa Comissao foram publicados


no Relatório da OMS datado de 1987. O Professor Dr. van Look af explica:

Os testes realizados sobre 36 mulheres na primeira fase da sua gravidez


mostraram aos pesquisadores que "a eficacia clínica de tal trata mentó nao
corresponde ao que se esperava". Das mulheres que tomaram a pflula RU
486, somente 61% chegaram ao aborto; registraram-se, porém, vultosas he
morragias, a ponto de se ter que efetuar transfusao de sangue em alguns
casos. Os estudos posteriores evidenciaram resultados menos negativos, mas
aínda deixam pontos obscuros. - Assim, por exemplo, nem todas as mulhe
res respondem do mesmo modo ao uso da RU 486. Além disto, nao se vé
bem como é que tal pflula póe termo á gravidez; isto, alias, nao surpreende,
porque também nao se vé com plena clareza como a progesterona desenvol-
ve sua f uncáo durante a gravidez. A acao da RU 486 se torna mais eficaz se
é combinada com a de algumas postglandinas ministradas em doses pequeñas.

Para o bienio de 1989-1990 a OMS destinou a quantia de US$


1.370.000 a ulteriores pesquisas sobre a RU 486; é a aplicacao mais vultosa
de dinheiro no setor dos estudos dos métodos nao cirúrgicos de interrupcáo
da gravidez.

1.3. Atualmente...

Atualmente a experiencia dos médicos que recorrem a tal pflula, leva


á verificado seguinte:

178
PÍLULARU486 35

Técnicamente talando, a pi'lula RU 486 nao é meio fácil para provocar


o aborto; só pode ser aplicada mediante prescrigao de um médico, que deve
acompanhar a paciente, a fim de controlar os efeitos desse fármaco e evitar
os graves riscos que ele acarreta.

A RU 486 há de ser aplicada em duas doses e em dois dias sucessivos.


Daf a necessidade de se internar a paciente numa Clínica. Após o segundo
dia, é de esperar urna densa hemorragia, urna menstruacao muitas vezes do-
lorosa com a expulsáo do feto ou do ovo fecundado (onde urna nova vida já
teve inicio). No terceiro e no quarto dias haverá recurso á sonografia para se
verificar se o aborto de fato ocorreu. Caso nao se tenha dado, faz-se necessá-
ria a cirurgia ou o tradicional aborto cirúrgico. Na Franca, as mulheres que
entram ñas Clínicas para abortar mediante a RU 486, tém que assinar um
documento pelo qual se declaram dispostas a sofrer interven cfo cirúrgica des
de que a pdula nao dé resultado.

Em nossos dias, afirmam os médicos que a RU 486 dá o resultado pre


visto em 80% dos casos ou até em 95%, se se Ihe acrescentam as postglandi-
ñas (substancias que favorecem a expulsáo do embriao). Nos casos de insu-
cesso da pfluía RU 486, os médicos julgam o aborto cirúrgico absolutamen
te necessário para evitar que nasca urna crianca deformada pelas doses mari
cas dos ingredientes farmacéuticos.

Os próprios representantes do Laboratorio francés Roussell Uclaf, que


fabrica a RU 486, estáo conscientes dos riscos que esse produto acarreta.
Dizia, por exemplo, Cario Bruno á revista italiana Famiglla Cristiana:

"ARU 486 é urna pílula de complexa aplicacSo: deve ser ingerida den
tro de 49 dias após a descoberta da gravidez... Nao pode ser vendida em far
macia... Aínda está em estudo, pois se receiam graves efeitos colaterais e de
ficiencias ñas crianfas que nascam depois do uso de tal pfluía. As pesquisas
aínda nao estáo encerradas; há aínda ¡n terrogacoes e hipóteses a elucidar".

Além do mais, tal produto abortivo nao pode deixar de marcar pro
fundamente o psiquismo da mulher que tome consciéncia de haver tirado a
vida de urna crianca; muitas sofrem de grave trauma durante anos a fio. Tais
casos se tornam tanto mais freqüentes quanto mais fácil se faz o uso desse
abortivo. A imprensa tende a apresentá-lo como novo e mero anticoncepcio
nal, como fácil solucao para problemas que a mulher passa a resolver a sos,
sem cirurgia ou talvez mesmo sem a participacao do homem. A possíveí
"euforia" cede, sem demora, a profundo traumatismo, pois a mulher possui
natureza delicada e fina percepcfo para tudo o que diz respeito á vida.

Examinemos agora o ponto de vista ético da questáo.

179
36 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 335/1990

2. A RU 486 e a Ética

Nao há a mínima dúvida sobre a índole antiética ou pecaminosa desse


novo produto farmacéutico. É urna arma mortífera que se desencadeia sobre
a vida de críancas inocentes, além do mal que causa á mulher usuaria. Regís-
tra-se, além disto, um outro aspecto imoral: nos países em que o aborto é
oficialmente permitido, o Estado tem interesse em fomentar tal pflula, pois
pesa menos sobre as f¡naneas estatais do que as clássicas intervencoes cirúr-
gicas abortivas. O dinheiro, mais urna vez, comanda atitudesdo Estado e de
cidadaos, com detrimento da pessoa humana, vilipendiada e manipulada em
favor da "economía".

Os aspectos antiéticos e antimedicinais da pílula RU 486 sao clara


mente expostos pelo Prof. Dr. Jérbme Lejeune.geneticísta de fama mundial,
membro da Pontificia Academia de Ciencias e descubridor da trisomia 21
(causa do mongolismo).' O Dr. Lejeune foi um dos primeiros dentistas a
despertar as consciéncias para as diversas contra-indicacoes da RU 486, va-
lendose, entre outras coisas, de um principio de Hipócrates (377 a.C), tido
como o pai da medicina: "Nao darei veneno a quem quer que seja, mesmo
que mo peca; nem aconselharei o uso de veneno, como também nao darei
abortivos a urna mulher". Foi entrevistado pela repórter Renata Maderna,
de Famíglía Cristiana, nos seguíntes termos:

Renata M.: "Professor Lejeune, o Sr. sabe que na Franca, como tam
bém na Italia, há urna lei do Estado que permite a ¡nterrupcá'o da gravidez".

Lejeune: "Certo, eu o sei, mas aqui trata-se de outros aspectos da


questfo. Eu sou contrario a qualquer modalidade de aborto. Há anos que pe-
lejo, com os meus colegas, para que se compreenda que se trata de matar um
ser humano. Deixemos porám de lado, por um momento, este tipo de dis
curso e falemos da pílula RU 486, que, como se diz, '6 apenas um método
menos espalhafatoso de abortar*. Isto na"o 6 verdade. Faz-se necessário cha
mar a atencfo das pessoas para essa falsa assercao. Se a RU 486 for difundi
da na Italia, ná*o haverá mais controle ou coloquios ou ref lexSes antes de
abortar, como os prevé a leí, mas apenas se terá um veneno fácil de se tomar.
Os casos de ¡nterrupcá'o da gravidez se multiplicarlo como se se tratasse de
beber um copo dágua".

R.M.: "Mas os que sita favoráveis ao uso da RU 486 afirmam que pre
cisamente o valor da mesma está no modo simples de ser aplicada".

1 Jé em PR 305/1987, pp. 457-461 foi publicado o artigo do mesmo Dr. J.


Lejeune intitulado "Quando comega um ser humano?".

180
PILULARU486 37

L.: "Tambóm isto aparecerá como falsa assercffo quando se evidenciar a


solidá"o a que serao entregues as mulheres. Bastará um momento de fraque-
za, de medo, de dor, para que pratiquem urna acfo da qual se arrependerSo
no futuro".

R.M.: "Todavía a pílula abortiva so deveria ser ingerida sob controle


dos módicos".

L.: "Vocfl disse 'deveria', e fez bem ao usar o condicional, porque sa


bemos perfeitamente que na"o será assim. NSo tendes na Italia, como em to
dos os pai'ses, a difusa*o ilegal de drogas, de produtos químicos nocivos? Na
Franca já existe um mercado negro de RU 486, e o mesmo ocorrerá em to
dos os pai'ses nos quals esta pílula for difundida, com tremendos perigos
para aquelas mulheres que a ingerirem após o terceiro mfis (limite de tempo
prescrito). Atrás do produto RU 486 há enormes interesses espurios. Nffoó
por acaso que os mercados que mais Interesam a Roussel Uclaf sa"o os do
Terceiro Mundo. A China também vem a ser um dos seus termos de mira."

R.M.: "Outro motivo evocado para a legalizacSo desse fármaco é que


poderia servir também á cura de doencas ate" agora ¡ncuráveis".

L.: "NSo é verdade. Ná"o é verdade, e faz-se necessário dizé-lo com voz
forte. Num recente número da abalizada revista norte-americana Science,
foi publicado um ampio estudo sobre a pílula abortiva, no qual o aspecto
terapéutico era amplamente debatido. Nenhum dos estudiosos, porám, pode
provar coisa alguma em favor da pílula. Esta i simplesmente um veneno. É
preciso que o público o satba".

R.M.: "Professor Lejeune, mais urna vez os católicos foram acusados


de nSo pensar no drama das mulheres".

L.: "Deixemos de lado as acusacdes. Sabemos que estamos pensando


naquela mulher que voha do hospital para casa com a pílula na bolsa. Olha
para a pílula. Dissera m-lhe que deve engolHa a esperar que o seu filho mor
ra. Talvez tenha a seu lado um homem que a incite a ingerir o produto, ou
que poderia dissolver a pastilha num copo de agua, sem que a própria mu
lher o saiba. N8b precisamos de nos preocupar comaquilo que os outros di-
zem a nosso respeito. Sabemos que estamos pensando na mulher".

As afirmacoes do Dr. Lejeune, figura de alto relevo no mundo científi


co, contribuem para dissipar mal-entendidos e sofismas que podem engañar
o grande público. Este é, nao raro, manipulado por interesses espurios e f¡-

(continua na p. 176)

181
Dilema candente:

"Deus: Sonho ou Pesadelo?"

por Ovidio Zanini

Em sfritase: O fívro de Zanini ó urna tentativa de apresentar aos jovens


de hoja urna imagem de Deus "simpática" ou "sorridente", diversa da con-
cepcSo severa e amedrentadora que os antigos tinham de Deus. Este objetivo
leva o autor a exagerar contrastes, a caricaturar o passado, a usar linguagem
irónica, ás vezes de gíria e de nivel extremamente popular (ver pp. 21s.
57. 74. 94). A nova imagem de Deus, como se pode perceber, já nSo ó a do
Evangetho.a dois títulos: 1) perde a sua índole austera, indispensável para
nao se conceber um Deus "papai bonachSo"; 2) perde a sua característica de
Soberano Senhor, do qual o homem depende em tudo, para dar lugar a um
ceno humanismo, segundo o qual o homem se pode ufanar de ser o autor de
seu destino; a oracao de louvor eade súplica sao subestimadas ou mesmo re-
¡eitadas satíricamente. — Reconheca-se que a intencSo de Freí Zanini é boa,
mas nao se pode recomendar a obra que ela inspirou.

Freí Ovidio Zanini é um capuchinho, já conhecido por obras de cara-


ter teológico e psicológico; cf. PR 252/1980, pp. 526s. Aprésente ao público
mais um livro: "Deus: sonho ou pesadelo?",1 em que procura dissipar urna
noefo severa e amedrontadora de Deus para incutir o conceito de um Deus
sorridente e animador da vida humana. Preocupa-se com a geracao jovem,
que Ihe parece avessa a certa concepcao de Oeus e necessitada de urna ima
gem mais "simpática" do Senhor Deus.

O livro é escrito em estilo árdeme, incisivo, dado a metáforas e hipér


boles, que visam a impressionar o leitor. Passamos a examiná-lo.

1.0 conteúdo do livro

0 autor afirma que "do conceito de Deus depende toda a nossa vida...

1 Ed. Loyola, 135x215 mm, 142 pp.

182
"DEUS:SONHO OU PESADELO?" 39

Somos o que pensamos de Deus..." (p.8). Ora os clássicos conceitos de Deus,


caricaturáis como eram, suscitaram comporta memos deformados: "Em nome
de Deus cometeram-se os piores crimes" (p. 8); o autor tenta exemplificar
isto; citando numerosos tatos de épocas passadas ou de nossos tempos, que
Ihe parecem depender de erróneo conceito de Deus.

Tal conceito é inaceitável aos olhos da geracáo jovem de nossos dias;


para ela esse Deus morreu (cf. pp. 108-123). Frei Ovidio apresenta entao
urna outra face de Deus, que Ihe parece restaurar o auténtico pensamento de
Jesús referente ao Pai. Pode-se dizer que o essencial do tivro se acha comido
no seguir»te trecho, expressao nao só da mensagem, mas também do estilo
do autor:

"Na prática, para grande parte da populacho, Deus morreu. £ os jo-


vens, que sao vulcoes de dese/os em constante erupfSo, em que ¡rao se agar
rar? Agarram-se desesperadamente a ídolos, criados em estudios, manipula
dos como toñecos de consumo social, com o único objetivo de tirar o pou-
co ou o multo do dinheiro dos vazios de Deus. Quem nao. lembra das cenas
de loucura e histeria coletiva na passagem dos Menudos, dos requebros e vo-
zes sensuais de Elvis Presley, do inferno sonoro do Rock in Rio, do fascfnio
de Madonna, dos ■ gritos e sussurros dos Beattlet? Como explicar o fascfnio
que exerce sobre a ¡uventude um Che Guevara, um Sandino, um Edén Pas
tora? Acredito que esses ídolos representam os sonhos mais ardentes de II-
bertafSo. Libertario de qué? Libertafio de toda opressSo, libertacao de to
da hipocrisia, de toda caricatura de Deus, de toda injustica, de toda forma
piramidal e sufocante de autoritarismo. Há formas de religiao que sao indis-
cutivelmente auténticas opressoes. Obrigar nossa atual ¡uventude a urna for
ma de religiSo própria de nossos bisavós constituí pmvavel'mente urna opres-
sao insuportável. E/es querem um Deus que liberta, que abre o cora^So da
gente, que despena confianza filial adulta, que nao oprime nem reprime,
que nSo censura e nao proibe e nao poda e nao castra e nSo ameaca, que nao
é tipo de chefe da Gestapo, nem da KGB, nem da CÍA, nem do DOPS, que é
pai, e nao padrasto, que nao 6 bicho-papSo, que deixa a gente viver como
acha melhor — numa boa'. —, que nSo gen escrúpulos como fungos, que nSo
amesquinha a gente, que valoriza tudo -o que fazemos de bom, que nao
sufoca a gente com proibicSes e castigos, que éjovem e voliado para o futu
ro, que acompanha e gosta da evolucSo, que nao ó parado e imóvel, um Deus
que faz parte de nossas festinhas e passeios, que viaja ao nosso fado nos Oni-
bus e avides e automóveis, que adora correr conosco em nossas motocas li-
vres como cabritas nos pampas, que é feliz por dancar conosco a primelra
valsa dos 15 anos e de formatura e de casamento, um Deus que aparece
quando.as meninas abrem o rosto num sorriso franco, que se mostra nos
olhos límpidos das pessoas transparentes e puras, que nos diz coisas admira-
veis ñas liturgias calmas e vibrantes dos nossos domingos, que está conosco

183
40 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 335/1990

nos días-dramáticos de sofrimento, que faz florir de¡uventude eterna a nossa


velhice, que é onicontinente mais do que onipresante, que nao fica espiando
nossas acdes para descamgar bordoadas, que é pai e mSe. amigo e aliado dos
momentos serios e alegres, que participa dos nossos ideáis e aventuras, que
está ao nosso lado especialmente quando caímos e precisamos dele, que nSo
precisa de incensacoes e glorificacdes, porque somos nos que precisamos fa-
zer isso para ser felizes, que faz da religiao um caminho de ternura dele co-
nosco para que nos descubramos a alegría de conviver com ele, um Deus que
propoe alianca e ¡amáis mendicSncia, um tipo de anti-Pinochet, anti-Somo-
za, anti-Ouvalier, anti-ldi Amin, anti-Hitler, anti-Franco, antigenerais e coro
néis da repressSo argentina e brasileira e uruguaia, enfim eles querem de vol-
ta o Deus que Jesús viveu e anunciou, náb um deus-pesadelo, mas um Deus-
sonho, que é Máxima Verdade" (pp. Í22s).

O leitor nao pode deixar de se sentir vivamente questionado por esta


e outras passagens do livro, que abordam trapos da fé e da Moral católicas
de maneira tao ambigua e provocadora.

2. Refletindo...

Proporemos tres principáis ponderales.

2.1. A anti'tese "outrora... hoja..."

Todo o livro é perpassado pela conviccao de que há um hiato entre o


passado e o presente ou o que o autor chama "a velha guarda" e "a nova
guarda" ou "a juventude contemporánea". Seria preciso reformular o con-
ceito de Deus para adaptar-se ao modo de pensar dos jovens: "Os jovens que
rem um Deus que nao censura e nao proibe, nao poda, náb castra e nao
ameaca... que deixa a gente viver como acha melhor - numa boa!..." (p.
122).

A propósito deve-se reconhecer que no passado os educadores religio


sos muito ¡nsistiram nos conceitos de proibicao e castigo. Mas observemos
que esse regí me parecía condizente com a mentalidade da sua época, pois
produziu heróis e santos numerosos, cuja magnanimidade e nobreza de alma
podem despertar admiracao e santa inveja ainda em nossos dias. Atualmente
tal método educacional nao encontra a mesma receptividade; deve ceder a
outro tipo de pedagogía, que, embora recorrendo a técnicas novas, salva
guarde intato o conteúdo da fé e da moral católicas.

O comportamento dos antepassados que, neste ou naquele caso, nos


parece erróneo, geralmente nao era tido como tal naquelas épocas; mesmo
os grandes Santos, que existiram em todos os séculos, nao denunciaram vá-

184
"OEUS:SONHO OU PESADE..O?" 41

ríos dos procedimentos que hoje sao censurados, pois certas nocoes básicas
de antropologia, historia, lingüística..., familiares a nos, Ihes eram desconhe-
cidas; assim se hao de considerar as Cruzadas, a Inquisicao medieval, varios
aspectos da escravatura; nem mesmo Safo Paulo, vivendo dentro das coorde
nadas do sáculo I, pode pleitear a abolicao drástica da escravatura: ele devol-
veu o escravo Onésimo a Filemon e tracou normas de convivencia para pa-
tróes e escravos; cf. Ef 6,5-9; Cl 3,22-4,1.

Verdade é que houve abusos da parte de Religiosos, pretensamente ba-


seados em principios da fé. Esses casos nao foram cometidos por genuína
¡nspiracao religiosa, mas em virtude de má interpretacao da mensagemda fé
ou simplesmente por fraqueza humana. Como quer que seja, nao nos habili
ta m a condenar os antepassados e sua mentalidade de maneira global, mas
pedem urna visáo objetiva e desapaixonada, que saiba distinguir entre o bem
e o mal, o certo e o errado na historia pretérita; é precisamente esta capaci-
dade de distinguir que falta no livro de Zanini.

Nao há dúvida de que os cristaos tém que rever as falhas de pensamen-


to e conduta dos antigos e nao as repetir. Isto, porém, nao quer dizer que
formulem um conceito de Deus e de religiao "que deixe os jovens viver
como acham melhor (numa boa!), sem proibicóes nem censuras". O crite
rio da verdade nao é o comportamento dos jovens avessos a proibicóes. Há
um criterio objetivo, ou seja, a fidelidade á Palavra de Deus comida ñas Es
crituras e na Tradicao oral. Alias, deve-se notar que nem todos os jovens sao
alheios a urna disciplina sadia; o jovem de nobres aspiracoes procura propos
tas de vida coerentes; ele sabe que, para dizer Sim a grandes valores, tem que
dizer Nffo a tudo que Ihes contradiga; é impossfvel atingir urna meta eleva
da sem renuncia nem sacrificio ou sem seguir o Cristo portador da Cruz.
Nao se pode fazer de Deus um "papai bonacháo", "colega de festinhas e
aventuras".

Seja a religiao um motivo de estímulo e reconforto, nao de abatimen-


to ou medo, é certamente o que a Igreja apregoa; Deus há de ser sempre o
apoio da confianca e da alegría de seus fiéis. Isto, porém, nao implica que
Ele justifique todas as veleidades dos jovens. Ele pede autodominio para que
nao se torne ilusoria a felicidade dos seus filhos.

Em suma, nao se deve abrir um fosso táo largo entre velhos e jovens,
entre o conceito de Deus daqueles e o destes. Mas veja-se a imagem de Deus
que se revelou por Jesús Cristo crucificado e ressuscitado como algo.de pere
ne, que perpassa todos os sáculos da historia. As mudancas em materia de fé,
de Moral; de Liturgia podem ocorrer em questoes acidentais (rezar de joe-
Ihos, rezar prostrado, rezar sentado...), nunca, porém, em questóes essen-
ciais; estas nao toleram evolucSo.

185
42 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 335/1990

2.2. "Deus nSo precisa do homem..."

Verdade é que Deus nao precisa do homem nem das homenagens que
este Ihe presta... Também nao precisa de ser informado de nossas necessida-
des, que geralmente Lhe expomos na oracao (pp. 95-97).

Mas é lógico que a criatura, tomando consciéncia da grandeza do Cria


dor, lhe preste adoracao e acao de grapas. É certo também que, ao definir
em seu designio eterno dar ao homem as grapas de que necessita, Deus quis
incluir nesse seu designio as súplicas do homem. Este, quando ora a Deus,
nao pretende informar o Senhor nem pleitear a correcao de "displicencia
divina", mas tenciona colaborar com o Pai celeste. Com efeito. Este nao
nos dá os bens necessários como os dá aos pássaros e ás flores (criaturas irra-
cionais), mas no-Ios dá a nos, criaturas racionáis, mediante a nossa coopera-
cao; esta consiste em sugerir os bens que julgamos necessários (se nossas su-
gestoes nao sao adequadas, o Senhor nos responde dando-nos as grapas que
realmente nos convém). Tal é o papel da oracao diante de Deus.

De resto, o Senhor Jesús mandou que pecamos ao Pai em seu nome to


dos os subsidios necessários á nossa caminhada; cf. Le 11, 9s; Jo 14, 13s.'

1 Muito diferem daspalavras de Jesús as de Zanini:


"Em lugar de pedir protecSo a Deus antes de urna vlagem, porexem-
plo, diga: 'Meu Deus a Pai nio vou pedir que vocé cuide de mim, porque isso
pode parecer até urna desconfianza e ofensa é sua hondada a providencia.
Vocé ¡amáis deixa de me proteger. Vamos viajar. Conhecemos as leis da es
trada. Verificamos os pneus, as barras da direcSo e tudo o mais. Queremos
obedecer a todas as leis do tránsito, seguranca e protecSo. Cuidaremos dos
outros nossos limaos que encontrarmos pelo caminho, talvez cansados, so-
nolentos, com carros velhos e inseguros, talvez bébados... Sabemos que de
sua parte nada irá falhar, absolutamente nada... Cuidaremos entao para que
nada faina também da nossa parte' " (p. 59).
Ao contrario, disse Jesús: "Pedia vos será dado; búscale acharéis; ba-
tei e vos será aborto. Pois todo o que pede, recebe; o que busca, acha; e ao
que bate, se abrirá" (Le 11,9s).
"O que pedlrdes em meu nome, eu o farei, a fim da que o Pal se/a glo
rificado no Filho. Se me pedirdes algo em meu nome, eu o fareí' (Jo 14,
13s).
"O que pedirdes ao Pai, Ele vtí-lo daré em meu nome. Ató agora nada
pedistes em meu nome; pedí g recebereis, para que a vossa alegría seja com
pleta"(Jo 16.23s).

IIRR
"DEUS:SONHO OU PESADELO?" 43

Zanini chega a rejeitar a intercessao dos Santos pelos irmaos peregri


nos, como também os sacramentáis (assim, por exemplo, a béncáo de um
carro, rejeitada á p. 59 em tom de sátira):

"NSo espare que os santos o prote/am ñas viagens. Eles nio sSo mecá
nicos, nem borracheiros, nem motoristas, nam policiais rodoviários. Cuide-
sel Existem Ms da protegió, que procedem também de Deus. através da na-
tureza.

NSo adianta pedir aos santos que aprésenteme Reforma Agraria, que
alcancem de Deus comida para os que tém fome, e coisas assim..." (p.95).
Ver também p. 97.

A oracao nao é alienacao. É, sim, o reconhecimento da dependencia


(natural e honrosa) da criatura frente ao Criador. Ela nao nos dispensa de
trabalhar para conseguir os objetivos a I mejados. Nao há oposicao entre ora-
cá"o e traba I ho. Por isto também cada cristao deve pedir a Deus a gra-
ca de sua conversao a urna vida sempre mais santa (pois por si s6 a cria
tura nada pode fazer; cf. Jo 15,5); mas deve também aplicar-se ardorosamen
te á extirpacao de seus vicios, como exorta o Apostólo Sao Paulo, combi
nando entre si a a pao da grapa divina e a resposta da criatura: "Operai a vos-
sa salvacáo com temor e tremor, pois é Deus quem opera em vos o querer
e o operar, segundo a sua vontade" (Ft 2,12s).

A oracao pode até obter milagres, como ensina a Igreja. Esta espera
sempre a realizacáo de auténticos e comprovados milagres para proceder á
canonizacáo de um Santo; cf. PR 329/1989, pp. 473-479.

2.3. Conceitoi etvaziados

No seu afá de renovar a religiao, Zanini procede a inoportuna revi sao


de certos conceitos:

2.3.1. Demonios

0 autor nao nega a sua existencia, mas reduz os demonios á categoría


de seres humanos perversos:

"Demonio é toda pessoa em estado, consciente e livre, de pecado mor


tal, ou se/a, da odio a Deus. Alguns morraram e estSo no inferno a de lá, pro-
vavolmenta, nada podem fazer de mal para Os que vivem nesse outro nosso
mundo. Mas existem demonios vivos, que estSo soltos por af: assassinos.
atravessadores de tóxicos, mafiosos, pornógrafos... Oestes é que devemos
nos cuidar, com policía e tudo o mais" (p. 22, nota 8).

187
44 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 335/1990

Na verdade, estes dizeres equivalem á negacao da existencia dos arijos


maus ou demonios, como os conhecem a fé e o magisterio da Igreja. A exis
tencia dos demonios como anjos decaídos por soberba é artigo de fé; cf.
PR 323/1989, pp. 146-156 e 327/1989, pp. 365-379.

2.3.2. Inferno

"O inferno existe. Porém, deve ser racionalizado... O inferno pode ser
um lugar bonito, com tudo o que é bom para os sentidos, porém sem amor.
Quanta gente milionária, com carros de luxo ñas suas garagens, aviSes nos
hangares, ¡ates atracados no cais, fazendas, amantes por todo lado... vive di-
zendo: 'Minha vida é um infernoV Compreendeu? O que importa é atualizar
o conceito de inferno, pois ninguém irá mais acreditar num Deus associado
ao inferno tradicional..." (p. 116).

Aqui há certamente um mal-entendido a respeito do inferno. Este há


de ser concebido do seguinte modo:

Todo ser humano foi naturalmente feito para o bem... e para o Bem
que nao se acaba ou o Bem infinito — Deus. Este, explícita ou implícitamen
te, exerce atracao sobre todo homern, á semelhanca do Norte que atrai a
agulha magnética da bússola. Se alguém, usando da sua livre vontade, diz
Sim a esse Norte (= Deus), encontra repouso e plenitude (a bem-aventuran-
ca celeste)... Se, porém, voluntariamente Ihe diz Nffo e no dia da morte é en
contrado pelo Senhor nessa atitude de repulsa consciente e voluntaria, terá o
definitivo distanciamento de Deus; o Senhor respeitará a sua opcao negativa
e nao o toreará a voltar para Deus. É este estado que se chama inferno; a
própria criatura a ele se condena, sem que o Senhor Deus necessite de profe
rir alguma sentenca. Além desta dolorosa frustracao, há no inferno o que a
Sagrada Escritura chama fogo,... fogo, porém, que nao é o da térra.

Tal estado é definitivo e sem fim, porque a alma humana é, por si mes-
ma, ¡mortal. O mesmo so terminaría

— se-o Senhor aniquilassé~a criatura lo que seria contrario á SabecJoria


do Criador; Deus nao destrói o que Ele faz);

— se o Senhor forcasse a vontade da criatura a dizer-lhe um Sim postu


mo, contrario á livre opeáo da mesma (ora o Senhor, que deu a liberdade ao
hornero, nao Iha retira);

— se o Senhor cessasse de amar a criatura e deixasse de Ihe aparecer


como o Sumo Bem; entao o pecador se fecharía em si mesmo ou no seu
egoísmo, sem experimentar a atracao de Deus; ela náb sofrena inferno. Eis,

188
"DEUS: SONHO OU P-ESADELO?" 45

porém, que o Senhor nao pode deixar de amar o homem, porque Ele é inca
paz de se contradizer; Ele nao pode dizer Na*o após ter dito Sim;o seu amor
é irreversível.

Eis o que se emende por inferno numa lúcida concepcao. Vé-se que tal
estado, longe de ser ¡ncompatível com a santidade de Deus, resulta preci
samente do fato de que Deus ama a criatura... e a ama divinamente, isto é,
sem se poder desdi zer e sem poder retirar-lhe o seu amor; cf. 2Tm 2,11-13.

2.4. A vontade de Deu*

Desejoso de adaptar a mensagem crista á mentalidade contemporánea,


Zanini chega a dizer:

"Deus nSo infunde a alma guando quer, como quer e se quer. 'Ble se
gué as leis da natureza. Quando um homem e urna mulher decidem gerar
um fílho, Deus se compromete a fazer a sua parte: criar e infundirá alma"
(p. 47).

Seria preciso acrescentar que o homem e a mulher só decidem gerar


um filho por permissáo de Deus; nada escapa ao primado do Criador; o
homem nunca se antecipa a Deus, de modo a obrigá-Lo, quase improvisada
mente, a corresponder á acao da criatura.

Outros varios pontos do livro em foco mereceriam consideracao. To


davía estes sao suficientes para que possamos passar a urna

3. Conclusao

0 livro de Zanini é urna tentativa de apresentar aos jovens de hoje urna


imagem de Deus "simpática" ou "sorridente", pretensamente diversa da
concepcao severa e amedrontadora que os amigos tinham de Deus. Este
objetivo leva o autor a caricaturar o passado, a usar linguagem irónica, as ve-
zes de gíria e de nivel extremamente popular (ver pp. 21s. 57.74. 94). A no
va imagem de Deus, como se pode perceber, já nffoé a do Eyangelho.adois
títulos: 1) perde sua índole austera, indispensável para nao se conceber um
Deus "papai bonacháo"; 2) perde a sua característica de Soberano Senhor,
do qual o homem depende em tudo, para dar lugar a um certo humanismo,
segundo o qual o homem se pode ufanar de ser o autor de seu destino; a ora-
cao de louvor e a de súplica sSo subestimadas ou mesmo rejeitadas satírica
mente.

Reconheca-se que a intencáo de Frei Zanini é boa, mas nao se pode


recomendar a obra que ela inspira.

189
Como vio

As Comunidades Eclesiais de
Base?

Em sfntese: As Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), fundadas na


década de 1960 para possibilitar mais proficuo trabalho pastoral (por re-
partirem a populacao de urna paróquia grande em grupos de quinze a vinte
pessoas) foram, em parte, infiltradas e manipuladas por correntes de pensa-
mentó heterogéneas ou de índole político-partidaria. Isto justifica as apreen-
soes dos Bispos latino-americanos recém-expressas nurna reuniao do CE-
LAM; ao mesmo tempo os pastores manifestaran! o desejo de que se salve e
fomente o que há de auténtico e válido ñas CEBs.

As Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) tiveramorigememSáo Pau


lo do Potengi (RN) na década de 1960. O Vigário da paróquia, Mons. Expe
dito de Medeiros, percebendo que nao dava corita, a sos, de sua ingente ta-
refa pastoral, julgou oportuno distribuir os seus paroquianos em pequeños
grupos ou comunidades de 15 a 20 pessoas cada urna; teriam um(a) anima
dor (a) com o(a) qual realizariam os atos de vida crista que nao necessitassem
de sacerdote: leí tura da Biblia, oracoes, catequese, reflexáo comunitaria,
auxilio mutuo... Periódicamente o Vigário passaria em cada comunidade pa
ra af celebrar os atos sacramentáis. A idéia era valiosa, propagou-se e deu
bons resultados, contribuindo para alimentar a vida espiritual de numerosos
fiéis.

Acontece, porém, que a infiltracao política levou muitas das comuni


dades eclesiais de base a perder a sua inspiracfo primitiva. Foram-se tornan
do grupos de interesses mais e mais seculares ou meramente humanos com
tendencias partidarias políticas acentuadas.

Já em 1980, quando esteva no Brasil, o S. Padre Joao Paulo II deixou


urna alocucao ás CEBs, em que chamava a aten cío para os desvios que, em
parte, as acometiam. Todavia o fenómeno nao se atenuou; ao contrario, in-
tensificou-se, atetando também as CEBs fundadas nos países hispano-ameri-
canos. Isto explica que o CELAM (Conferencia Episcopal Latino-América-

190
COMUNIDADES ECLESIAIS DE BASE 47

na), em reuniao coinemorativa dos vinte anos da Assembléia de Medellin


(1968), tenha emitido preocupacoes e anseios arespeitodas CEBs num texto
que publicamos a seguir, em traducáo portuguesa. É um retrato abalizado
do que sao varias CEBs em nossos días:

PREOCUPAQOES E ANSEIOS

"No quadro da comemoracá"o dos vinte anos da Segunda Conferencia


Geral do Episcopado Latino-Americano em Medellin, um dos pontos abor
dadas foi a avaliacSb de urna pastoral oriunda do nosso continente: as Co
munidades Eclesiais de Base (ver Documento de Medellín, Pastoral de Con
junto 10). Já por ocasiffo da Conferencia de Puebla, este tema apareceu
muito claramente como um dos pontos essenciais da evangelizaca"o, em vista
da edificaca'o da Igreja e sua irradiacSb missionária.

NSb há dúvida, as Comunidades Eclesiais de Base permitirám melhorar


as relacdes pessoais e a aceitacfo da Palavra de Deusassim como urna ref te
xto sobre a realidade cotidiana á luz do Evangelho. Foi assimque a experi
encia da fé se intensificou pelo compromisso com a familia, o trabalho, no
ámbito do quarteirSo e da comunidade local.

Ao mesmo tempo nSo podemos ignorar asdificuldadesinevitáveis em


todo organismo vivo, mas que nffo devem prejudicar urna experiencia tao po
sitiva; em certos lugares, as Comunidades Eclesiais de Base foram manipula
das por interesses político-partidarios, de tal modo que houve quem as ten-
tasse afastar de urna verdadeira comunha*o com os Bispos.

Os riscos denunciados no Documento de Puebla estffo sempre latentes:


'ora tendem a degenerar em direcSb de urna desordem organizada, ora em
direcSb de um elitismo fechado e sectario' (Documento de Puebla 261). Eis
alguns exemplos:

Por ocasiflb de recente Encontró Internacional das CEBs, estiveram


presentes trfis delegacdes diferentes do mesmo país: os enviados pelos Bis
pos, e aqueles representantes de grupos partidarios de faccSes diversas.

O caminho fecundo seguido pelas CEBs até a sua maturidade foi en-
travado em certos lugares e a sua possibilidade de agir como verdadeiros fo
cos de evangelizado foi reduzida por diversds motivos:

a) Porque as CEBs sffo assemelhadas, por vezes, a movimientos, e nato


sa"o consideradas como órgaos da Igreja, intermediarios entre a familia e a
paróquia;

191
48 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 335/1990

b) Porque estáo estruturadas na base do conceho de classe social e ne


gligencia m o aspecto de comunhio que integra as familias, os adultos e os
jovens;

c) Porque tám 'estruturas de coordenacSb'~em nivel nacional e regio


nal, que na prática chegam a constituir grupos de pressSo, contrabalancando
a autoridade da hierarquia diocesana;

d) Porque as CEBs sSo concebidas como meios de tomada de conscién-


cia e de organizado do povo;1

e) Porque rejeitam a dimensSo escato lógica do Reino de Deus em fa


vor de uro projeto histórico adotado de maneira sistemática;2

f) Porque a leitura da Biblia é reduzida a certos textos, em vista de


confirmar posicoes ideológicas preconcebidas.

Frente a estas dificuldades, convém reafirmar o compromissode Pue


bla: 'Como pastores, desojamos calorosamente promover, orientar e guiar as
Comunidades de Base segundo o espirito de Medellin e segundo os criterios
de Evangelü Nuntiandi...' (Documento de Puebla 648). Neste contexto, vi
mos numerosos episcopados latino-americanos esclarecer esse caminho pas
toral mediante importantes pubücacfies. Dentre estas, destaca-se a 'Carta ás
Comunidades de Base' da- Conferencia Episcopal do Chile. A clareza, a sim-
plicidade e a prof undidade desse Documento certamente ajudarao nossos
irmábs Bispos a revitalizar as suas próprias CEBs.

O grande desafio suscitado pela 'nova evangelizado' encontrará ñas


CEBs unía resposta multo eficaz, que mostrará o caminho auténtico da cons-
truca*o da dvilizaca*o do amor.

Mas é preciso saber avaliar com honestidade e coragem esta experiSn-


da original das CEBs. Sempre foi útil saber avaliar as coisas, especialmente
, (continua na p. 167)

1 Tomada da consciénda e organizacao do povo sSo entendidas aquí em sen


tido político partidario. Nao sSo coisas más; todavía nSo compete é Igreja
exercer a política partidaria.

2 Isto quer dizer: a historia presenta é mais valorizada do que a consumapao


•prometida pelo Senhor Jesús para os últimos temóos; o Reino de Deus pode-
tria ser instaurado no próprio decurso do tempo, sem necessidade de ulterior
expectativa da segunda vinda de Cristo.

192
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do século VI (480-540) - SAO BENTO - transformou-
o em exemplo vivo, em mestre e em legislador dejjm es
tado de vida crista, empenhado na procura crescente da
face e da verdade de Deus, espelhada na trajetória de um
vi ver humano renascido do.sangue redentor de Cristo. —
Assim, o discípulo de Sao Bento ouve o chamado para
fazer-se monge, para assumir a "profissao de monge".

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