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Projeto

PERGUNTE
E
RESPONDEREMOS
ON-LINE

Apostolado Veritatis Spiendor


com autorizacáo de
Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb
(in memoríarñ)
APRESENTTAQÁO
DA EDigÁO ON-LINE
Diz Sao Pedro que devemos
estar preparados para dar a razáo da
nossa esperanca a todo aquele que no-la
pedir (1 Pedro 3,15).

Esta necessidade de darmos


conta da nossa esperanga e da nossa fé
hoje é mais premente do que outrora,
"■>■*.•' visto que somos bombardeados por
numerosas correntes filosóficas e
religiosas contrarias á fé católica. Somos
assim incitados a procurar consolidar
nossa crenca católica mediante um
aprofundamento do nosso estudo.

Eis o que neste site Pergunte e


Responderemos propde aos seus leitores:
aborda questoes da atualidade
controvertidas, elucidando-as do ponto de
vista cristáo a fim de que as dúvidas se
dissipem e a vivencia católica se fortalega
no Brasil e no mundo. Queira Deus
abengoar este trabalho assim como a
equipe de Veritatis Splendor que se
encarrega do respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.

Pe. Estevao Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

Celebramos convenio com d. Esteváo Bettencourt e


passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte e
Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicagáo.

A d. Estéváo Bettencourt agradecemos a confiaga


depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e
zelo pastoral assim demonstrados.
SUMARIO

Os cristaos no mundo

Perestroika e Religiao
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"A Biblia na linguagem de hoje"

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Profissao de Fé e Juramento de Fidelidade
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O Pobre e a vida crista. Algumas caricaturas
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Livro em Estante
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ÍANO XXX — JULHO 1989 326


¡UNTE E RESPONDEREMOS JULHO- 1989
Publicacao mensal NP326

.tor-Responsável: SUMARIO
stéváo Bettencourt OSB
njtor e Redator de toda a materia Os Cristáos no Mundo 289
■ublicada neste periódico Na URSS um brado famoso:
Perestroika e Religiío 290
¡tor-Administrador: Nova traducao:
). Hildebrando P. Martins OSB "A Biblia na linguagem de hoje" . . . . 304 ;
Documentos da Santa Sé:
niniítracáb e disiribuicáo: Profissao de fé e juramento de fidelida-
:dicóe$ Lumen Christi ¿e¡ _ ^ 314
)om Gerardo. 40 - 5° andar S/501 Q ¿
fe., (021) 2917122 .,pUr6.vida. , -, ^^ 32Q \
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As Pirámides: Efeitos maravilhosos . . . 324 ¡
A voz de um fiel leigo: '
O Pobre e a vida crista*. Algumas carica- ■
c^,.,,...^,..... turas do Sagrado, por Helio Beglio- ,=
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NO PRÓXIMO NÚMERO: j
327 - Agosto - 1989

Medicina e Milagre. - "Sexualidade e Fé" por Guy Durand. - Projeto "Pala-


vra-Vida". - O Demonio: Sim ou Nao? - As Financas do Vaticano.

COM APROVACÁO ECLESIÁSTICA

SINATURA ANUAL: NCzS 15,00 - Número avulso: NCzS 1,50


Pagamento (áescolhü)

1. VALE POSTAL a agencia central dos Correios do Rio de Janeiro em nome de Edipoes
"Lumen Christi" Caixa Postal 2666 20001 Rio de Janeiro - RJ.

2. CHEQUE NOMINAL CRUZADO, a favor de Edipoes "Lumen Christi" (endereco ácima).

3. ORDEM DE PAGAMENTO, no Banco do Brasil, conta N? 31.304-1 em nome do Mos-


teiro de Sao Bento, pagável na agencia Prapa Mauá/RJ N? 0435-9. (Nao enviar através
de DOC ou depósito instantáneo - A identificapao é diffcil).
Os Cristáos no Mundo
Na literatura crista de comeco do sáculo III encontra-se urna carta, de
autor desconhecido, destinada a certo Diogneto, na qual o escritor apresenta
o que é o "ser cristao". É-peca notável, cujo teor merece ser recordado em
nossos días, pois conserva pleno significado.

0 autor refere que os cristáos em nada diferem dos demais homens no


plano biológico, social, económico... Todavía em seu íntimo trazem urna vi-
talidade que transcende as leis da materia: "Quando entregues á morte, sao
vivificados. Na pobreza enriquecem a muitos... Sao desprezados, mas, no
meio de desonras, sentem-se glorificados". E finalmente: "Para resumir
numa palavra: o que é a alma no corpo, sao os cristáos no mundo".

Estas palavras nao sao totalmente novas na literatura crista, pois já o


Apostólo afírmava: Vivemos "como punidos e, nao obstante, livresda mor
te; ... como indigentes, e, nao obstante, ennquecendo a muitos; como nada
tendo, embora tudo possuamos" (2Cor 6,10).

Essa vitalidade rica do cristao nao resulta de conquistas humanas, mas


é dom de Deus. É a participacao na Páscoa de Cristo, que transfigurou a dor
e a morte, colocando na própria ignominia urna sementé de gloria.

A consciéncia deste tesouro há de ser constantemente reavivada no


cristao, pois ele está sujeito ás vicissitudes que afetam todos os homens. Ñas
horas de tribulacao e angustia, saiba assumir a atitude de quem vé o sentido
transcendental das borrascas presentes. Procure ser fermento na massa, sal da
térra, luz do mundo. O Concilio do Vaticano II, referindo-se aos fiéis em ge-
ral exorta:

"Cada leigo individualmente deve ser perante o mundo urna testemu-


nha da ressurreicao e vida do Senhor Jesús e sinal do Deus vivo. Todos jun
tos, e cada um na medida das suas possibilidades, devem alimentar o mundo
com frutos espirituais... Numa palavra: o que a alma é no corpo, isto sejam
no mundo os cristáos" (Lumen Gentium n? 38).

É oportuno lembrar isto num momento importante como o que o Bra


sil está vivendo: criterios meramente naturais ou humanos, atitudes utilita
rias pouco consentáneas com a escala de valores do Evangelho podem sedu-
zir o cristao. Este há de procurar nao trair sua missao de portador de novas
perspectivas para os seus semelhantes; ele tem para com estes um débito de
que o Senhor Deus Ihe pedirá contas um día: "O que a alma é no corpo, se
jam os cristáos no mundo". Desta santa ufania o cristao nao pode abrir nao;
antes, traduza-a em atos e vida!
E.B.

289
"PEROUNTE E RESPONDEREMOS"

Ano XXX - NP 326 - Julho de 1989

Na URSS um brado famoso:

Perestroika e Religiáo

Em síntese: O dirigente soviético V. Garadja publicou um artigo em Ja


neiro de 1989 na revista de ateísmo Nauka i Religia. Analisa a tenacidade
muito viva da religiSo na URSS e ¡ulga que a perseguicSo religiosa foi nao
somente ineficaz, mas também contra-producente. Afirma que nio corres
ponde ás intencdes de Marx e Lenin, que apregoaram apenas a separacao do
Estado e da Igreja; a religiSo se extinguiría naturalmente mediante a implan-
tafSo sistemática do socialismo. Em conseqüéncia preconiza o retorno á
doutrina de Marx através da supressSo da sufocacSo religiosa. Contrariamen
te ao que tem acontecido, diz Garadja, os cidadaos crentes devem ser convi
dados a construir com os ateus a sociedade socialista, pois a exclusao daque-
les é detrimento para estes, visto que a religiáo tem seus bons méritos na edi
ficado do homem e da patria. Visto que o artigo é longo, o leitor encontra
rá as grandes linhas do mesmo recapituladas ñas pp. 302s deste fascículo.

* * *

A revista soviética Nauka i Religia (Ciencia e ReligiSo), dedicada á pro-


pagacao do ateísmo, com a tiragem de 530.000 exemplares mensais, publi
cou em Janeiro de 1989 um artigo de V. Garadja, Diretor do Instituto do
Ateísmo Científico. O autor analisa o fenómeno religioso persistente na
URSS e as atitudes do Estado Soviético, oficialmente ateu, frente a tal fato:
em vista do exiguo sucesso da propaganda anti-religiosa dos últimos dece
nios, julga que é preciso por de lado as concepcoes "vulgares" da época de
Stalin, Kroutchev, Brejnev, para retornar ao modo de pensar de Marx e Le
nin: estes terao preconizado a separacao da Igreja e do Estado e nao a luta
anti-religiosa. — O artigo desenvolve sua tese em tres partes: 1) crítica do
modo vigente de considerar a religiao; 2) redefinicao das atitudes do ateís
mo, com retorno a Marx e Lenin; 3) proposta de novos caminhos para a edu-
cacSo atei'sta.

290
PERESTROIKA E flELIGIÁO

Traduzimos o artigo a partir do texto francés publicado por La Docu-


mentation Catholique, de 16/04/1989, n? 1982, pp. 399-404. Dado o mo-
mentoso significado desse escrito, vai na íntegra transcrito ñas páginas se
guí n tes, com breve comentario á guisa de reflexa"o final.

Introducto

"Evidentemente ninguém hoje duvida da necessidade de se reformar


por completo a educacao ateísta. O programa adotado pela 27a. sessao do
Partido Comunista da URSS, a 19a. Conferencia Geral do Partido, uma serie
de documentos do Estado e do Partido relacionados com a celebracao do
milenario da Rus', os processos da perestroika em curso na vida política,
económica e social, tudo isto nos coloca diante de tarefas novas e das mais
atuais. Com efeito; para muitos de nos, é preciso fazer uma reflexao seria e
urn reexame de nossas posicoes pessoais a respeito da teoría e da prática do
steísmo. Pois a campanha ateísta, como é efetuada atualmente, nao só é ine
ficaz, mas está marcada por serias insuficiencias moráis, espirituais e polí
ticas.

A reestruturacao da consciéncia social e da opiniao pública ocorre nos


nossos días segundo um ritmo tal que se faz mister reexaminar as idéias e as
situacoes nao só do passado, mas também de hoje. Nisto nada vejo de surpreen-
dente ou vergonhoso. Para um dentista, é muito pior obstinar-se no erro, fi-
cando distante da vida. É preciso que rompamos os dogmas estabelecidos,
que impedem de olhar com olhos lúcidos e novos a teoría e a prática do
ateísmo, a sua historia, os seus métodos de propaganda assim como o siste
ma de educagao ateísta. Nesta perspectiva, é necessário, antes do mais, iden
tificar os estereotipos1 que nos impedem de ir adiante na via da reestrutura-
cSo e da renovacao.

Mas por onde havemos de comecar? Logo de inicio, temos que reexa
minar de maneira crítica varios modos de considerar a religíao que subsistem
em nosia literatura, os julgamentos proferidos sobre a consciéncia religiosa,
as relagoes com os crentes. Em segundo lugar, temos que definir mais exata-
mente os pressupostos teóricos do ateísmo, as suas razoes fundamentáis; ha
vemos de voltar-nos sinceramente para a historia do ateísmo, dando particu
lar atencao á etapa marxista-leninista, ás deformacóes devidas a circunstan
cias conhecidás. Partindo da análise crítica destes dois aspectos, teremos que
tragar-a via de reestruturacSo da educacáo jteísta.

1 Estereotipo, no caso, significa "chavSo, frase feita". (N. d. tradutor).

291
4 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 326/1989

Está claro que nao é possível resolver todos os problemas num artigo
de revista nem mesmo numa monografía seria. Eu me contentare! com a ex-
posiccío de algumas hipóteses.

I. ACABAR COM AS IDÉIASSIMPLISTAS SOBRE A RELIGIAO

A meu ver, o fato mesmo da existencia da religiao numa sociedade so


cialista exige, antes do mais, urna nova reflexao teórica. Até agora, houve en
tre nos urna visao simplista (eu diría 'unilinear') da evolucao da religiao num
contexto socialista. Supunha-se que o fim da exploragao do homem pelo ho-
mem e o desaparecimento dos antagonismos sociais levaría regular e irrever-
sivelmente ao agravamento da crise da religiao, a diminuigao progressiva da
sua esfera de influencia e, por último, a sua rápida extinglo. Este era um es
quema teórico, segundo o qual a vitória do socialismo significaría a instaura-
gao de urna sociedade de ateísmo de massa e a supressao da religiao; este es
quema substituiu a análise científica dos processos concretos do desenvolví-
mentó da sociedade socialista com todas as suas contradigoes e dificuldades;
substituiu a reflexao sobre a evolucao da religiao ñas novas condigoes histó
ricas, a evolucao do curso real da secularizacao, que nfo excluí retrocessos,
o surto de novas situagoes, etc.

Um tal esquema muito ¡nfluenciou a situagao geral da pesquisa teórica


do socialismo ñas ciencias sociais. Pensai no seguinte: nenhuma disciplina so
cial - na análise do socialismo, de seus aspectos jurídicos, económicos e po
líticos - ¡amáis se interessou pela religiao, por seu papel e sua funcáo na so
ciedade. Os sociólogos, os politólogos, os juristas e os economistas procede-
ram como se ela nSo existisse, ou como se existisse a título de coisa sem im
portancia, que se pode negligencias tendo em vista sua exigua influencia,
tendente, além do mais, a diminuir sempre e a se aproximar do zero. Em ne
nhuma monografía seria consagrada a elaboracao da teoria do socialismo —
dos aspectos socioeconómicos, políticos e culturáis da vida e do desenvolví-
mentó do socialismo - descobrireis alguma referencia á religiao em contexto
socialista. Tudo acontece como se a Igreja nao existisse absolutamente em
nossa sociedade, como se o fenómeno religioso no contexto do socialismo só
pudesse interessar vivamente os ateus profissionais. Em numerosos trabalhos
consagrados á consciéncia social, a variante religiosa desta está pura e sim-
plesmente ausente; alguns autores chegaram a julgar que a dímensao religio
sa no socialismo nao existe de modo algum, porque ela nao deve existir.

Assim criou-se um esquema simplista que trata de modo superficial e


abstrato de um problema tao complexo quanto o de 'socialismo e religiao':
aquele tem a obrigacao de aniquilar esta. Conseqüentemente, tudo se resu-
miu na seguinte questao: por que, numa sociedade socialista, ainda existe

292
PERESTROIKA E RELIGlAO

urna religiao, quando, segundo todas as previsoes teóricas, ela estava conde
nada d morrer? Havia apenas um passo a dar para chegar ao estereotipo muí-
to difundido: a religiao é a alteracao de urna consciéncia normal no socialis
mo; as causas da sobrevivencia dos preconceitos religiosos, é preciso procu
ra-las em diversas falhas do desenvolví mentó socio-económico e cultural, na
violáceo do direito e da Moral socialistas, da justica social, ñas digressoes
ideológicas provenientes do estrangeiro, na atividade negativa da Igreja e de
seus ministros.

A ReligiSo, Doenca do Organismo Social

Segundo este estereotipo, a existencia mesma da religiao em nossa so-


ciedade é o índice de certo afastamento das normas, um síntoma patológico,
urna doenca do organismo social. Em conseqüéncia, ela foi equiparada aos
males sociais, como a embriague;, a criminalidade, a droga, a corrupcao. Va-
leu para a religiao a mesma palavra de ordem negativa: é preciso extirpá-la,
custe o que custar! Imaginava-se que a própria existencia da religiao compro
metería o socialismo e que nao poderia haver nenhum contato sereno com
esse 'mal'. Daí a repetida indignacao todas as vezes que se procurava consi
derar a religiao de maneira menos agressiva; contra essa indignacfo nao dei-
xamos até hoje de chamar a atengáo dos quadros dirigentes da educarlo
ateísta. Estes exortavam a que 'remediássemos as falhas do socialismo', 'pro-
curássemos requintar nossas táticas anti-religiosas', 'redobrássemos ativida-
des e vigilancia', etc.

S? o socialismo nao se pode considerar definitivo enquanto nao tenha


extinto por completo a religiao, ocorre que os sucessos do socialismo estao
diretamente ligados á queda da influencia religiosa e á diminuicao do núme
ro de crentes.

Na verdade, para os crentes a vitória do socialismo ¡rhplicou o esmaga-


mento da sua fé. Por que entao, perguntavam, ser utuante no trabalho e na
vida social, se isto tende a acelerar a vitória do socialismo ateu?

É evidente que urna tal distincao ideológica que opóe entre si os ateus
(bons cidadáos) e os crentes (maus cidadaos), impediu a uniao na luta em
prol dos ideáis do socialismo e do comunismo, afastando carnadas importan
tes de sociedade.

A oposigSo entre crentes e nao crentes, a considerapao do fator religio-


.so únicamente sob ángulo negativo, como se fosse um freio, teve conseqüén-
cias deploráveis. Julgaram muitos que tudo o que dá origem á religiao em
nossa sociedade — a consciéncia retrógrada, a psicología da pequeña burgue
sía, a burocracia exagerada, o nacionalismo... — sustenta e alimenta a religiao.

293
6 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 326/1989

Sendo opio do povo e, por conseguinte, urna forca reacionária que


freía a marcha da sociedade, a religiao, em virtude da sua esséncia reacioná
ria imutável, disseminaria no espirito de seus adeptos únicamente o pessimis-
mo e a passividade em relacao á sociedade. A religiao, independentemente
das posicoes concretas sociopolíticas assumidas por ou tal Igreja ou organi-
zacao religiosa, seria nao somente estranha, mas também hostil ao socialis
mo, aos ideáis sociais, á política, ao modo de viver e á moralidade do socia
lismo.

Nao somente merece o riso, mas é também absurdo crer que a religiao
seja praticamente o principal freio para o desenvolvimento da sociedade so
cialista. Hoje as auténticas razoes da estagnacao sao evidentes, a índole erró
nea de tal modo de pensar salta aos olhos. Ver na religiao, que é um fenóme
no de superstrutura,1 a raiz do mal social equivale a cair numa vi sao idealis
ta2 unilateral. O marxismo p6s um termo a essa ilusfo; a religiao nao é a
causa da reduelo da cosmovisao; é, antes, um fator de fixacao e manifesta-
páo da visSo do mundo. Já Karl Marx assim se exprimiu a tal propósito.

As causas profundas da estagnacao social

As verdadeiras causas da passividade social, tais como foram publica


das nos documentos do Partido e do Estado posteriores a abril 1985, nos es-
tudos científicos relativos á reconstrucao, á transparencia e a democratiza-
pao da vida social, nao se encontram em absoluto do lado da psicología re
trógrada dos crentes ou dos preconceitos religiosos. Sá*o muito mais profun
das; partem do nivel das relacSes de base, deformadas durante os anos do cul
to da personalidade e no período da estagnacá*o.3 Enormes massas do povo

1 Superestrutura é vocábulo de linguagem marxista. Significa as idéias filo


sóficas, religiosas. Jurídicas, políticas, artísticas que numa sociedade afloram
em conseqüéncia da distribuicao dos bens materiais. Estes seriam os valo
res de base ou estruturais; os bens ditos espirituais (religiao, direito, arte...)
seriam funcSes e variantes da distribuicao dos bens materiais; da ( dízerem-se
"superestruturais". (N. d. Tradutor).

2 Idealista, no caso, é outro vocábulo marxista. Significa a cosmovisao nao


materialista, dita "capitalista". (N. d. Tradutor).

3 As décadas de 1920-60 sao tidas como de culto da personalidade dos go-


vernantes soviéticos, absolutistas e ditatoriais. Isto terá causado a paralisia
de numerosos cidadSos e, conseqüentemente, da nacSo, que nSo podía con
tar com a colaboracao de numerosos filhos margina/izados pela ideología.
(N. do Tradutor).

294
PERESTROIKAEREUGIAO

foram afastadas de um trabalho vital, tornadas alheias á atividade social, na


qual podiam ter sido úteis á sociedade. Essa aüenacáfo causou perdas gigan
tescas, incomensuráveis na moralidade e na impetuosidade espiritual do po-
vo. É ai que se encontram também as raízes da embriaguez massiva, da apa
tía social e da droga, é ai que se acham as causas das migracSes internas, da
religiostdade, que assumiu, por vezes, formas muito estranhas. Na realidade,
a religiao está ligada ao problema da atividade social; mas a queí-táo é saber
qual é, nesse relacionamento, o elemento dependente e qual o principal, de
cisivo.

O estereotipo essencial do pensamento ateísta correspondeu plena


mente ao espirito da época em que a consciéncia de massa estava orientada
para a consecucao de resultados rápidos, em vista da construpao de uma so
ciedade nova e da transformacao da natureza. Em toda parte esperavam-se
milagres... Na biología, Lyssenko prometía uma mudanca radical e a abun
dancia de produtos agrícolas. A educacao ateísta tinha também os seus Lys
senko, que, como num golpe de mágica, transformarían! os crentes em nao
crentes. Eram eles os zelosos destruidores da fé. Consíderavam a religiao co
mo manifestacao estranha aos olhos das classes, he ranea de um passado
maldito, de um mundo que merecía ser destruido até os seus fundamentos,
pois seria sobrevivencia do capitalismo, sobrevivencia que inspírava valores
e ideáis espirituaís, moráis e políticos diferentes (jaqueles do socialismo. Pen-
sava-se que uma sociedade nova nao produziria religiao e nao precisaría dos
servicos da relígiao. E, se esta aínda existía, devia-se concluir que a renova-
cao nao fora até o extremo e que nao reconhecera a devida importancia á re-
ligiáo. Estimaram entao que deviam partir para a guerra contra a religiao no
mundo inteíro. E de fato partíram para a guerra...

O fracasso da repressáo contra os crentes

Sabemos que o terror de massa na época de Stalin afetou as igrejas e


os crentes. Nao poupou nem mesmo grande número de ateus. A foice feriu
cá e lá sem distincao. Os ataques contra a Igreja so se atenuaram durante a
segunda Guerra Mundial. Mas na década de 60 o voluntarismo ideológico e
político voltou a reinar no Partido e nos nos dispusemos a dar um salto deci
sivo na direcao do comunismo. É claro que nao ficava lugar para o elemento
religioso na socíedade; em conseqüéncía foi desencadeada uma repressáo ad
ministrativa. No fim da década de 50 e no comeco da de 60, sob qualquer
pretexto e mesmo sem pretexto, foram fechadas ¡grejas e mesquitas; casas de
oracao e associacoes religiosas foram privadas de registro. Isto tudo provo-
cou uma réplica chocante, reforcando o fanatismo e o extremismo religioso.
Entre 1950 e 1965 foram fechadas em media anual 420 igrejas ortodoxas
(de 1965 a 1974, fecharam-se apenas 48; e de 1975 a 1987, somente 22).

295
8 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 326/1989

Durante todos esses anos, nossa propaganda teve em mira mostrar a


índole nociva da religiao. Esta era apresentada como responsável pelos prejuí-
zos causados á sociedade mediante as depredacSes e as bebedeiras por oca-
siáo das festas da Igreja. Julgava-se que a religiao, sendo urna cosmovísao
anticientífica, obscurecía, envenenava e corrompía a consciéncia dos sovié
ticos, impedindo-os de participar ativamente na producao da sociedade em
geral.

Por este motivo os crentes nao eram considerados trabalhadores de


vanguarda na producao, mesmo que o merecessem. Caso se reconhecesse o
seu trabaIho dedicado, isto se fazia sempre com urna reserva: em tal ou tal
plano, diz¡a-se, haviam conseguido libertar-se dos entraves e dos preconcei-
tos da religiao. Tal propaganda provocou urna reacao negativa da parte da-
queles que percebiam o modo como se avaliava o trabalho em vista da pro-
ducáo. Isto tudo disseminou desconfianza para com a propaganda ateísta, e
suscitou mudancas negativas na consciéncia social.

A índole nociva da religiao era aínda enfatizada pelo fato de que, co


mo se dizia, a religiao era a única voz a proclamar publicamente, do alto da
cátedra, urna ideología burguesa, tolerada nao se sabia por qué, em nossa so
ciedade de ideología monolítica. Mas por que burguesa? Com efeito; a vi sao
religiosa do mundo se construiu muito antes do nascimento do capitalismo.
Burguesa, porque a religiao nos foi entregue como heranca do czarismo? Ou
porque os políticos burgueses utilízam por vezes planos hostis ao socialis
mo?

Acontece, porém, que varías instituicoes do Estado como o exército, a


justica, o direito, a moral nos foram entregues também pela sociedade czaris-
ta. Nos mudamos o seu conteúdo, mas, como fenómenos sociais, foram con
servadas e até reforjadas.

Quanto aos objetivos políticos concretos visados pela Igreja em tal ou


tal fase da historia, é preciso examínalos um por um. E, se examinarmos
com atencao a atividade política do passado, encontraremos nao só o antico
munismo professado por clérigos, mas também a participacao de clérigos na
luta antiimperialista para a libertacao social e nacional dos povos da América
Latina e de varios países do Oriente, inclusive daqueles que estáo ñas vías do
desenvolví mentó socialista. Sabemos que muitos homens de Igreja estío hoje
entre os que militam ativamente em prol do desarmamento nuclear; susten-
tam palavras de ordem e objetivos dirigidos para o socialismo. Pode-se dizer
o mesmo a respeito dos discursos da Igreja em prol da ecología, do progresso
e da democracia.

296
PERESTROIKA E RELIGlAO 9

P6e-se urna questao pertinente: pode-se considerar tal tipo de ativida-


de nociva e hostil aos interesses do mundo e do socialismo? é evidente que
a auténtica avaliacfo do papel da religilo no mundo atual, tao complexo
como é, ná"o pode ser feita em funcío da alternativa simplista: a religilo é
útil ou é prejudicial ao socialismo?

Precisamente certos artigos da imprensa nos levam insistentemente a


tal alternativa. Lembro a propósito um artigó da Komsomolskaia Pravda:
'Para que serve a ReligiSo?'. Nosso Instituto mesmo outrora foi tributario
aesse modo de colocar o problema; ñas suas edicoes encontramos semelhan-
tes expressoes. Pois bem; chegou o tempo de reexaminarmos também essas
idéias!

Como evidencia a prática cotidiana da política, a religiao é utilizada


para finalidades diversas. Algumas dentre elas sao estranhas ao socialismo.
Outras sío neutras em relacéb aos ideáis e aos valores fundamentáis do socia
lismo. Mas no conjunto nSo sao, de modo nenhum, hostis nem ao nosso regí-
me nem as nossas aspiracoes comunistas. Olhai em torno de vos; considera i
a realidade de hoje: na prática, a reiigiSo traz o seu apoio á nossa política
interna e externa. E isto, para nao falarmos dos setores moráis, espirituais,
nos quais a religiao é tradicionalmente forte. Certas normas moráis, apregoa-
das do pulpito, nao correspondem ás que nos esforcamos por inculcar aos
soviéticos? Os ministros da Igreja, como nos, ateus, lutam contra a embria
guez e a droga, contra a criminalidade, o alcoolismo e a licenciosidade dos
costumes.

Se, de um lado, nos insurgimos contra toda tentativa de utilizar a reli


giao para finalidades hostis á nossa sociedade e á pessoa humana, nao deve-
mos, de outro lado, identificar a religia"o com tal ou tal das suas traducóes,
ou recusar-lhe funcSes positivas na vida da sociedade socialista. Paralelamen
te na*o podemos negar a necessidade, para os crentes e os nao crentes, de se
unir na luta em prol da renovacSo do socialismo. NSo há dúvida, na nossa
sociedade e na Igreja sá"o diferentes os fundamentos de tal luta. Mas os obje
tivos sSo os mesmos. A situacao real no país mostra que nos, ateus, perde
mos, se rejeitamos a ajuda e o apoio das torgas espirituais das diversas confis-
sSes religiosas no setor da educacao moral; também sairnos perdendo se opo-
mos a moral comunista a essa moral genérica que se encontra nos dogmas de
varias religiSes, grapas á percepcSo que elas tém das tradicdes mi leñares do
desenvolvimento da cultura mundial.

Compreendemos que as mudancas na concepcSo e no entendimento


do ateísmo e das suas relacñes com a religiao sejam algo de difícil e nao pos-
sam ser aceitas de ¡mediato. É certo que fomos acostumados a certos este
reotipos antigos de pensamento, que nSo sao verídicos. Recusá-los equivale,

297
10 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 326/1989

por vezes, a considerar ¡núteis e sem sentido todos os esforcos da etapa an


terior da vida social.

Todos nos temos vivido dentro de um organismo social determinado;


fizemos a experiencia de sentimentos semelhantes no tocante á religiao e a
Igreja. Mas a própria vida mudou, a perestroika tocou, antes de tudo, a nossa
consciéncia. O estilo de um novo modo de pensar exige hoje a recusa de dog
mas envelhecidos, de estereotipos caducos pelo desgaste e o reexame de tu
do o que ontem parecía inabalável e fundamental. E, quanto mais rápida
mente nos entregarmos a esse reexame, tanto mais a reconstruyo da tarefa
ateísta será coroada de éxito.

II. REPENSAR OS PRÓPRIOS FUNDAMENTOS DO ATEÍSMO

Repito: a perestroika nao deve apenas considerar as relacoes com a re-


ligiá*o. Ela toca também, de modo essencial, nossa concepgáo de ateísmo e a
idéia, arraigada em nos e quase evidente por si mesma, de que, na vida da so-
ciedade, duas torgas se opoem - o ateísmo e a religiao. Esta desee, aquele au
menta...

Ao invés de pensar assim, ponhamos a questao: que é esse ateísmo,


que equivale a um Credo oposto a religiao? A anti-religiáo seria um sucedá
neo qualquer da fé? Nao foi desse ateísmo que se separaram os clássicos
mentores do marxismo, quando afirmaram que o ateísmo deve viver única
mente da recusa da religiao? Ele deve permanecer no ámbito da consciéncia,
de modo que qualquer forma de intolerancia (religiosa ou anti-religiosa) há
de ser banida. Precisamos de um ateísmo que faca seus os valores da vi sao
religiosa do mundo? Está claro que a nocáo mesma de ateísmo divulgada
nestes últimos anos encerrava certas lacunas e imprecisoes. Parece-me que o
ateísmo, como teoria, foi amplamente deformado, desfigurado; o pensamen-
to auténticamente marxista foi, em parte, apagado, modificado e substituí-
do por urna variante simplista e um ateísmo que lembra o período pré-mar-
xista da filosofía. A tarefa da perestroika atualmente consiste, particular
mente, em suprimir essa deformacao, purificar o ateísmo do seu caráter vul
gar, das estratificacoes estranhas ao ateísmo marxista e em restabelecer o
genuino modo de pensar marxista-leninista.

Retornar a Karl Marx

A propósito digamos algumas palavras sobre a historia do marxismo. A


principio, o ateísmo se apresentava como a rejeicao dos deuses, como o pro-
prio nome indica. Como recusa pura e simples da fé em Oeus, o ateísmo é
ele também urna fé... Certamente fé com outros valores, mas, apesar de tu
do, fé, isto é, urna das formas da consciéncia religiosa. Muitos julgam que a

298
PERESTROIKAE REUGIÁO 11

diferenca entre o ateísmo marxista e o ateísmo anterior consiste em que o


marxismo nao sonriente recusa Deus, mas poe o homem no lugar de Deus.
Esta formulacao fot tirada dos prime i ros manuscritos de Kart Marx, datados
de 1844; este ponto de vista fo¡, por muito tempo, atribuido a Marx e, por-
tanto, ao marxismo. O marxismo colocaría o homem no lugar de Oeus, afir
mando assim o humanismo. Na realidade, tal afirmapáo é absolutamente fal
sa. Naqueles primeiros escritos, K. Marx nao falava da sua posicao própria,
mas da posipa*o de L. Feuerbach, para quem a recusa da religiao era também
o meio, aalavanca, grapas á qual se pode chegar a afirmapáo do homem ou ao
triunfo do humanismo. Um tal ateísmo realiza a libertacao do homem na es
fera da teoría ou na da mudanca das opinioes. Eis, porém, que o auténtico
marxismo encontra outra vía para a consecupfo das suas finalidades — a via
da reestruturacá"o (perestroika) revolucionaria da própria vida social, por
meio da recusa ná"o de Oeus, mas da posse privada dos meios de producSo.
Em lugar do humanismo teórico de Feuerbach, instaura-se o humanismo prá-
tico do comunismo segundo Marx.

A religiao desaparece com o aparecimento do socialismo no cenário da


historia. Ela desaparecerá na medida em que o socialismo e o comunismo se
espalharem, nao porque ela seja um mal que se deva eliminar quanto antes.
Mas porque o comunismo significa mudanca e renovacao radicáis da socieda-
de, da sua estrutura, das formas de organizapao, da regulamenta?ao da vida
social e, afinal, do próprio homem. O desaparecimento da religiao, na con-
cepgáo marxista, se coloca na mesma perspectiva histórica que o desapareci
mento do Estado e de todas as esferas da vida política. Por conseguinte, a
política do Estado socialista frente á Igreja nao é a do ateísmo militante; ela
nao decorre diretamente do conceito de religiao na ciencia social marxista.

O decreto de Lenin (1918) sobre separapao da Igreja e do Estado ou sepa-


rapa*o da escola e da Igreja nao foi urna declaracáo de guerra para aniquilar a
religiao; antes, definiu as condicoes de coexistencia da religiáo e do Estado
soviético na sociedade socialista. A propaganda atéia, segundo a concepplo
leninista, teve como meta romper o vínculo das organizacoes religiosas com
as classes exploradoras, despertar as massas da sua letargía religiosa, purifi
car as relacoes conscientes com a religiao.

Tal é o verdadeiro modo de pensar científico a respe¡to do ateísmo,


da esséncia e do papel deste na construpSo do socialismo. Como se compre-
ende, este ponto de vista difere muito profundamente do conceito de socia
lismo que foi exposto durante muito tempo. Na década de 1920, nos nos
afastamos da concepcao marxista, voltando as idéias de Feuerbach « a urna
visao vulgar. O ateísmo foi recolocado no quadro da teoría da luta de classes
exacerbada, á medida que o socialismo se aproximava da vitória. Para apoiar

299
12 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 326/1989

esta exaltacá"o do socialismo, contribuiram declarares de Trotsky, Stalin,


Boukarin, E. Yoroslavsky e outros; para este, a idéia marxista segundo a
qual o ateísmo ficará sendo a norma do pensar humano na época do comu
nismo, era substituida por outra, a saber: o ateísmo deve lutar contra a reli
giao, como se esta fosse urna manifestacáo estranha do ponto de vista das
classes.

Naqueles anos em que se esperava impacientemente o milagre, a revo-


lucao mundial, a ¡nstauracao da era do comunismo, muitas idéias e tonalida
des ná concepcáo do desenvolvimento da sociedade foram deslocadas. Pare
cía que bastava sacudir os ombros e fazer pequeña pressao para terminar
com o capitalismo nao no fim do sáculo XX, mas no fim da década de 20.
Ao mesmo tempo, estaria liquidada a religiao.

A psicología do culto do proletariado e das acoes ¡mediatas, decisivas,


predomina nao só na prática anti-religiosa, mas também na teoría do ateís
mo. Temos que o dizer com toda a franqueza, é preciso nao ter compaixao
das autoridades anteriores. A idéia de urna luta de classes exacerbada, no
período de construcao do socialismo, elaborada e proposta sob o regí me de
Stalin, repercutiu nao somente sobre as relacoes com a Igreja, a religiao e os
crentes, mas sobre o próprio ateísmo e sua definícfo. A contradicho ideoló
gica desembocou no confronto político. Hoje temos que purificar o ateísmo
das suas estratificacoes, das suas alteracoes vulgares e voltar ao seu conteúdo
genuinamente marxista. Esta é urna tarefa difícil, mas indispensável. Do re-
exame da habitual concepcá'o do ateísmo dependem, em grande parte, a or-
ganizacSo da educacao ateísta e os diferentes aspectos desta atividade.

III. REORGANIZAR OS OBJETIVOS CONCRETOS DA


ATUACAO ATEÍSTA

Aqui passamos para a terceira orientacao da perestroika: o reexame


dos objetivos concretos, a reorganízacao da atuacáo ateísta.

A expectativa de rápida eliminadlo da religiao evidenciou-se falsa na


teoria e na prática. Maís;.. evidenciou-se nociva. Finalmente tomamos cons-
cifincia de que a religiao entra nessa categoría de fenómenos sociais que nos
acompanham na reconstrucao da nossa.sociedade em vista de auténtica de
mocracia, da transparencia (glasnot) e do socialismo. Restaurando as pilas
tras fundamentáis do socialismo na sua concepcá'o leninista, temos que rejei-
tar nítidamente um dos dogmas do culto da personalidade e do período de
estagnacao, que é a intolerancia. Estamos obrígados a tomar consciincia de
que a relígíSo e a Igreja serao companheíras de nossa vida durante muito
tempo.

300
PERESTROIKA E RELIGlAO 13

É preciso que modifiquemos nossas relacoes com a religiao, nSo, po-


rém, para ceder a uma moda provisoria, como pensam alguns. Temos que es-
tabelecer relacoes com a religiao e a Igreja de modo suficientemente sadio,
marxista, examinando-as no conjunto dos fenómenos de superestrutura,
sobre uma base marxista. Desses fenómenos há alguns que hoje nos esforza
mos para utilizar, reforcar, desenvolver. Assim queremos fundar'um Estado
de direito, reforcando o direito, a consciéncia do direito. Queremos melho-
rar a atuacao dos organismos que protegem o direito. Queremos aplicar a
perestroika no exército, corroborando os meios de defesa do nosso país.
Fazemos isto também dentro do Partido, tentando torná-lo o pioneiro po
lítico e o guia da sociedade.

Por todos estes motivos, impoe-se um diálogo benévolo com os crentes


e a Igreja. Esse diálogo foi, em sua essencia, lancado pelo decreto de Lenin
sobre a separacáo da Igreja e do Estado. A partir deste ponto de vista, temos
que reexaminar a historia da Igreja na URSS e a historia do ateísmo em nos-
so país após outubro 1917. É preciso analisar e ponderar, a partir da posicao
da perestroika, as relacoes mutuas da sociedade e dos crentes, do Estado e
da Igreja, a fim de que os crentes já nao tenham motivo para acusar os ateus
de rotina e indiferenca, de dogmatismo e de Intolerancia.

Recordemos a situacab recente criada pela celebracab do milenario da


Ortodoxia na Rus'. Varios ateus manifestaram sua ¡ndignacüo diante do fato
de que, a seus olhos, um jubileu estritamente eclesial era celebrado como
evento dotado de grande importancia sociopolítica e históricocultural. Vi-
ram nisto um recuo diante da Igreja e estavam dispostos a acusar o Partido
de fazer concessoes á religiao e instituir conivéncia com o clero.

Na verdade, nao fechamos os olhos diante das profundas d¡ferengas


ideológicas existentes entre o marxismo e a religiao; nao excluímos a crítica
inspirada por nossa posicao científica. Esta nos propóe uma luta ideológica
concebida como confronto entre os ideáis e certos valores no plano do espi
rito. Luta na qual nenhuma das partes contendentes deve de antemao ter
pretensoes ao monopolio da verdade.

Mu itos objetivos comuns

Na vida real, crentes e ateus tém em comum tantas coisas, metas e ta-
refas que a dispersao de forcas nao é apenas absurda, mas é também nociva.
A reconstrucáo da organizagao prática da atuacao ateísta deve precisamente
unir as forcas dos ateus e dos crentes, consolidando a sociedade a fim de re
solver os problemas sociais, económicos e políticos. A esta tarefa deve natu
ralmente corresponder a reforma da legislacáb negativa á religiao e ao culto.

301
14 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 326/1989

Esta terceira orientado da reconstrucao da atuacao atefsta nao é mais


fácil do que as duas primeiras. Talvez mesmo seja mais difícil. Mas aqui tam-
bém teremos que proceder decididamente, quebrando os dogmas estabeleci-
dos, os métodos de propaganda e as modalidades de organizacao.

É mister que se considere a minha explanacao como um convite ao de


bate, á discussSo, sem os quais ficaremos estagnados. Eu compararía a atual
situacao do ateísmo á de um navio colocado diante de urna onda poderosa;
as aguas atingem o grau 9; a nave é agitada de um lado para o outro. Mas sua
tripulapao nao pode tomar qualquer providencia por iniciativa própria:deve
esperar ordens de cima. É tempo de sairmos do estado de torpor, e de nos
pormos resolutamente em marcha na direcao da per estro ¡ka da atuacáo
atefsta".

COMENTARIO

Este já é o segundo brado de Governantes soviéticos, nos últimos tem


po, relativo á ineficacia da perseguido religiosa na URSS e portador de su-
gestoes em vista de mudanca da poh'tica anti-religiosa do país. O primeiro
foi o de Konstantin Kartchev, Presidente do Conselho para Assuntos Reli
giosos da URSS; tratava-se de conferencia proferida perante os professores
da Escola Superior do Partido Comunista Russo em Moscou aos 26/05/1988
e publicada na imprensa estrangeira. Ver PR 316/1988, pp. 397-406.

O segundo alerta é o que acaba de ser apresentado. Procede de pessoa


altamente colocada, muito abalizada para falar; conserva sua filosofia atéia,
materialista e acredita no socialismo marxista, mas verifica erros na política
religiosa das autoridades soviéticas desde a década de 1920, erros que, segun
do V. Garadja, explicam a presenca viva da religiao na URSS em 1988/89.
Em linguagem difusa, com repeticóes prolixas, o autor diz o seguinte:

1) O ateísmo foi entendido por Trostsky (t1940), Stalin (t 1953),


Boukarin (t 1938) como luta contra a religiao. Daí as drásticas medidas per
secutorias (fechamento de igrejas, nao reconhecimento de associacoes reli
giosas e dos méritos de operarios crentes...) ñas décadas de 20 a 60 (com ex-
cecao dos anos de guerra: 1940-45). Tais medidas provocaram o extremismo

1 O ateísmo dito "científico" está hoje em dia ultrapassado pela própria


ciencia, que ao pmgredir, vai mais e mais oferecendo argumentos á fé, em
vez de a destruir.

302
PERESTROIKAE RELIGIÁO 15

religioso e o fanatismo, gerando odio contra o socialismo em mu i tos cida-


daos soviéticos.. Os chefes soviéticos em pauta sao severamente censurados
por Garadja, visto terem subestimado a forca da religiao.

2) Na verdade, Marx (t 1883) e Lénin (t 1924) nao concebiam o ate


ísmo dessa maneira, mas julgavam que consistiría na separacao da Igreja.e do
' Estado. Na medida em que este fosse implantando o socialismo, iría natural
mente eliminando as necessidades religiosas da populacfo soviética; a reli
giao se extinguiría suavemente. Foi Ludwig Feuerbach (t 1872) quem suge-
riu a luta do atei'smo contra a religiao; Marx referíu-se em seus escritos de
juventude a essa tese de Feuerbach, mas nao a adotou, embora Ihe tenha si
do atribuida.

3) Conseqüentemente, V. Garadja rocpnhece na religiao mu ¡tos valo


res, que Ihe sao comuns com o próprio socialismo; assim o combate á em
briaguez, as drogas, á licenciosidade... Por isto preconiza que o Estado atual
procure unir crentes e nao crentes na construcao da sociedade soviética; a
recusa da colaboracao dos crentes é prejui'zo para a nacao. Assim de verá ees-
sar a perseguicáo religiosa na URSS, embora o Estado continué a disseminar
ñas escolas a sua ideologia materialista.

4} V. Garadja parece crer na extincáfo da religiao nao por morte violen


ta, mas por "morte natural", e após longa convivencia com o Estado ateu no
futuro próximo. O autor reafirma suas críticas feitas a religiao do ponto de
vista "científico", mas encara os aspectos humanistas e construtivos da Igre-
ja na historia russa. Ele julga talvez que a religiao se possa adaptar á cosmo-
visao socialista - o que o leva a pleitear consideracao mais benigna do fenó
meno religioso. Na verdade, a Igreja nunca poderá ender ao marxismo em
materia de fé e de Moral.

5) Certamente as reflexoes de V. Garadja tém grande significado, pois


atestam a vitalidade do fato religioso na URSS, fato tao natural ao homem
quanto a racionalidade e a capacidade artesanal. Impregnado de idéias mate
rialistas, o articulista eré na extincao da religiao; o que interessa ao cristao,
é a autorizado de crer e viver a sua fé na URSS. O tempo se encarregará de
mostrar a Garadja que o socialismo materialista jamáis conseguirá extinguir
o senso religioso e as aspiracoes congénitas do ser humano ao transcenden
tal, por mais atraente que pareca ser o paraíso socialista. "Tu nos fizeste pa
ra Ti, Senhor, e inquieto é o nosso coracáo enquanto nao repousa em Ti"
(S. Agostinho, Confissoes I, 1). Recordem-se também as palavras de Juliano
o Apóstata, o Imperador que quis restaurar o paganismo no Imperio Roma
no do século IV (361-363) :"Venceste, Galileu!"

303
Nova traducao:

"A Biblia na Linguagem de


Hoje"

Em símese: A "Biblia na Linguagem de Hoje" é urna tentativa de tra-


duzir em linguagem popular o texto sagrado para torná-lo acessfvel ao gran
de público. A intencSo dos tradutores é louvável, mas a obra é infeliz, pois,
mais do que urna traducao, fizeram urna interpretacao, por vezes nítidamen
te protestante. Além do qué, a adaptacao do texto sagrado ao vocabulario
popular faz que o novo texto deixe de apresentar termos bíblicos ricos de
conotacdes e temas teológicos como "Alianca, ¡ustificacao, depósito, mis
terio..."; assim se empalidece a mensagem bíblica em vez de ser levada ao
povo simples. A solucao para o problema da difusao da Biblia está, antes,
em conservar o vocabulario típico e rico do texto sagrado, munindo-o, po-
rém, de notas explicativas em rodapé, a fim de que o leitor nao iniciado
cresca em cultura bíblica em vez de ser deixado na sua exigua cu/tura, com
empobrecímentó da mensagem sagrada.

A Sociedade Bíblica do Brasil, de orientacáo protestante, editou em


1988 a Biblia completa "na linguagem de hoje"1. Até aquela.data só exis
tia o Novo Testamento em tal estilo. O trabalho conta com a colaboracao
das Sociedades Bíblicas Unidas e tem seus paralelos em outras Ifnguas mo
dernas, sem incluir os escritos deuterocandnicos (Tobias, Judite, Sabedo-
ria, Baruque, Eclesiástico, 1/2 Macabeus, Ester 10,4-16,24; Daniel 3,24-90
13-14), que o catálogo católico considera Palavra de Oeus ou partes inte
grantes da S. Escritura (o que é pouco atraente pare os fiéis católicos). —
Sem dúvida, toda traducao da Biblia é importante; daf a pergunta espontá
nea: que valor tem essa nova traducfo?

1 A Biblia na Linguagem de Hoje (BLH). Sociedade Bíblica do Brasil Sfo


Paulo 1988.

304
"A BIBLIA NA LINGUAGEM DE HOJE" 17

AVALIAgAO

Traduzir é sempre correr o risco de perder algo da forca e do colorido


do texto original. Isto nao quer dizer que nSo se deva traduzir, mas, sim, que
se há de traduzir levando em corita tal risco e procurando minorá-lo tanto
quanto possfvel. Esse risco tem conseqüéncias especialmente serias quando
se quer verter a Biblia fugindo ¡ntencionalmente da sua nomenclatura origi
nal e típica, a título de que é arcaica ou ininteligível ao homem de hoje;
conseqüentemente utiliza-se um vocabulario tido como mais moderno e
compresnsi'vel, mas certamente distante do teor e da pujanca dos termos ori
gináis. Aos poucos, e insensivelmente, vai-se escrevendo um livro diferente
ou uma obra de leitura fácil e agradável, mas incapaz de transmitir toda a ri
queza da mensagem nativa.

O problema de tornar a Biblia acessível á compreensáo do grande pú


blico nao se resolve pela adaptacao do vocabulario típico (e, índiretamente,
do teor característico) da Biblia ao linguajar (e, consjqüen te mente, ao pen
sar) do povo simples, mas soluciona-se, antes, pela elevacao do nivel de com
preensáo dos leitores ao nivel de expressáo e pensamento do texto sagrado.
O grande público só poderá lucrar se se Ihe acrescentar algo em materia de
cultura bíblica, em vez de ser deixado na sua exigua cultura religiosa. Prati-
camente isto significa que uma boa traducSo da Bfblia nao se deve furtar ao
emprego de termos típicos como "alianca, justificacá*o, parábolas, carne e
sangue...", mas, respeitando-os, o tradutor deverá explicar o seu sentido em
notas de rodapé; assim o texto guardará as suas feicoes características semi
tas ou helenistas e, nao obstante, se tornará inteligfvel.

Em particular, uma das razóes pelas quais é indispensável guardar o


vocabulario típico da Biblia, é a seguinte: muitos termos bíblicos tém sua
historia, suas conotacoes, suas assonancias na cultura amiga (hebraica, ara-
maica ou grega); conseqüentemente, se se trocam tais termos poroutros, po
de-se perder a noca"o da riqueza e das implicacdes semánticas de tais vocá-
bulos.

Passemos agora a exemplos que ilustrarlo quanto dissemos e que tém


sua ocorréncia na "Biblia na Linguagem de Hoje".

1. Tradipáb

Tradícao tem seu equivalente literal ou semántico no grego pará-do-


sii, que significa "dar ou passar adiante". O vocábulo no Novo Testamento
supde a transmissáo de uma doutrina de geracao em geracSo dentro de um

305
18 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 326/1989

clima de respeito e veneracao que os antigos dedicavam a Palavra de Deus ou


ao depósito (parathéke) sagrado (ver subtítulo seguinte).

Ora a BLH troca tradicoes por outros termos:

1Ts 2,5: "Fiquem firmes e guardem aquelas verdades que ensillamos a


voces ñas nossas mensagens e ñas nossas cartas". Literalmente dever-se-ia di-
zer em absoluta fidelidade ao texto e sem prejufzo para a clareza: "Permahe-
cei firmes e guardai as tradicoes (paradóseis, em grego) que recebestes, seja
de viva voz, seja por carta nossa".

Segundo a versao da BLH, perde-se a consciéncia de qué as "verdades


ensinadas por S. Paulo" sao verdades provenientes de fonte m.iis remota.
Além do qué, a palavra mensagens é mais genérica do que "ensinamentos de
viva voz"; dir-se-ia que os tradutores quiseram evitar a recomendacao que
Sao Paulo faz da tradicao oral, rejeitada pelos protestantes.

1 Cor 11,2:"Eu os elogio porque... voces seguem as instrucees que Ihes


entreguei". Literalmente dever-se-ia ler, sem detrimento para a clareza do
texto: "Eu vos louvo por guardardes as tradicdes (paradóseis) tais como eu
vo-las entreguei".

Como dito, a intencao de evitar a palavra "tradicSo, tradicoes" quan-


do o Apostólo a recomenda, deve-se ao fato de que os protestantes rejeitam
a tradicao divino-apostólica ou as doutrinas que nos foram transmitidas por
via meramente oral.

Z Depósito.

Esta palavra corresponde ao grego parathéke, que significava um bem


a ser guardado com zelo e honradez; nao se tolerava qualquer infidelidade
ou violacao da confianza da parte do depositario. Ora, quando Sao Paulo se
refere á doutrina crista como parathéke, ele quer incutir essa inviolabilidade
devida ao ensinamento de Jesús transmitido pelos Apostólos. Tal conotagáo,
porém, é enfraquecida, caso se substitua parathéke, como faz a BLH:

2Tm 1,14: "Guarde as boas coisas que foram entregues a voce" em vez
de: "Guarda o bom depósito (parathéken)".

1Tm 6,20: "Timoteo, guarde bem o que Ihefoi entregue para cuidar",
om vez de: "Timoteo, guarda o depósito (parathéken)".

2Tm 1,12: "Estou certo de que ele <o Senhor) é poderoso para guar-

306
"A BÍBLIA NA LINGUAGEM DE HOJE"

dar até aquele dia aquilo que me confiou", em vez de: "Estou certo de que
Ele tem poder para guardar o meu depósito (parathéken) até aquele dia".

3. Justo, justificar, justificacáb

"Justo", na linguagem bíblica, é o homem reto, identificado com o


plano de Deus. "Justificar" significa "fazer reto ou amigo de Deus". O verbo
se prende também ao substantivo "justica" (dikaiotyne, em grego; sedéq, se-
daqáh, em hebraico), que é ampio e rico em significado tanto no Ahtigo co
mo no Novo Testamento.1 É, pois, insubstitufvel, dados os matizes que tal
palavra apresenta e que devem ser levados em conta por quem deseje enten
der bem a Biblia. Ora a BLH omite os vocábulos "justificar" e "justica",
como se vé nos textos abaixo:

Rm 3,20-22: "Ninguém é aceito por Deus por fazer o que a Lei man
da... Deus já mostrou a maneira como aceita as pessoas, e esta aceitacao nao
tem nada a ver com a Lei... Deus aceita as pnssoas por meio da fé'" em lugar
de: "Diante dele ninguém será justificado pelas obras da Lei... Agora, porém,
se man i festou a justica de Deus, ... justica de Deus que opera pela fé em Je
sús Cristo". Ver Rm 3,28.30; 4,2.3.5...

De modo especial, a BLH modifica o sentido do texto original em


Rm 1,17b; Gl 3,11b; Hb 10.38, em que se encontra a citapSo de Hab 2,4:
"O justo vivera pela fé (no díkaios ek písteos zésetai)". Tal versículo em
que díkaios é substantivo, vem assim traduzido pela BLH:

Rm 1,17b: "Vivera aquele que, por meio da fé, é aceito por Deus".

Gl 3,11b: "Vivera aquele que, por meio da fé, é aceito por Deus".

Hb 11,38: "O meu povo que é correto, será fiel a mim e vivera".

A primeira forma de traduzir distorce o texto, pois faz do substantivo


dikaios (justo) urna forma verbal passiva:é aceito (o que seria dikaioutai no
presente ou dedikaioutai no perfeito, em grego). Transformando o substanti
vo em verbo, o tradutor ligou-o com o complemento pela fé, de modo a ex-

1 A propósito ver, por exemplo, A. van den Born, Dlcionério Enciclopédico


da Biblia, verbete "JustificafSo".

307
20 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 326/1989

primir a doutrina luterana (protestante) da justificapao pela fé apenas (sola


fides, sonriente a fé).1

Quanto á traducao de Hb 10,38, difere da de Rm 1,17b e Gl 3,11b,


embora o texto grego citado seja o mesmo; é menos protestante do que a
traducao de Rm 1,17b e Gl 3,11b, mas vem a ser urna interpretapáo mais do
que urna simples traducao.

4. Primeiro filho

Em Le 2,7 lé-se que María deu á luz o seu protótokon. Á primeira vis
ta, este vocábulo se traduz por primogénito; leve-se em conta, porém, que
primogénito, no linguajar semita e bíblico, equivale muitas vezes a "unigéni
to" e "bem-amado", pois o primogénito é, durante algum tempo, o único fi
lho e aquele que concentra todo o amor de seus pais. Tenham-se em vista,
por exemplo, os dizeres de Zc 12,11:

"Quanto aquele que transpassaram, chorá-lo-áb como se chora um fi


lho unigénito; chorá-lo-ao amargamente como se chora um primogénito".

Mesmo fora da térra de Israel, podíase chamar primogénito o filho


que nao tivesse irmao nem irmá* mais jovem; é o que atesta urna inscricao se
pulcral judaica datada de 5 a.C. e descoberta em Tell el-Jedouhieh (Egito)
no ano de 1922; lé-se ai' que urna jovem mulher chamada Arsinoé morreu
"ñas dores do parto do seu filho primogénito".

Ora a BLH, traduzindo protótokon por primeiro filho, já tira ao leitor


brasileiro a possibilidade de perceber a densidade e as peculiaridades de sig
nificado do linguajar semita. Com efeito; "primeiro filho", em portugués, in
sinúa "segundo, terceiro... filhos", como os protestantes querem que tenha
havido no caso de María e José (ao contrario do que ensina a TradicSo cris
ta até hoje). No vocabulario hebraico suposto pelos evangelistas, o primogé
nito é aquele antes do qual nao houve outro (é por isto o b'em-amado), mas
nao é necessariamente aquele após o qual houve outros.

1 É de notar que a Traducáb Ecuménica da Biblia, realizada por católicos,


protestantes e ortodoxos, conserva o sentido clássico: "Aquele que é justo,
vivera pela fé" (Rm 1,17b; Gl 3,11b; Hb 10,38). Alias, esta traducao é exigi
da pelo contexto mesmo de Hab 2,3s, onde se faz a antftese entre "aquele
que é justo" e "aquele cuja alma nSo é reta". — Ver Novo Testamento em
Traducao Ecuménica da Biblia. Ed. Loyota.
Notamos outrossim que a edicao inglesa de BLH ("Good News Biblej
assim traduz Rm 1,17: "The person put right with God shall live through
faith" (vivera pela fé).

308
"A BIBLIA NA LINGUAGEM DE HOJE" 21

5. Alianca

Alianza é palavra que n§o existe em toda a traducao da BLH. Corres


ponde ao vocábulo hebraico berith e ao grego diathéke. Alianca é urna das
palavras mais significativas da linguagem bíblica; por isto é objeto de arti-
gos e livros em profusao, que explanam a teología da alianpa. Ora nao se
emende que a BLH sonegue ao leitor esse vocábulo, substituindo-o por acor
dó; especialmente grave é a falta de tal termo em Ex 24,8; Gn 17,13; Is 42,
6; Mt 26,28; 1 Cor 11,25...

Apenas em 2Cor 3,14 o texto da BLH traduz palaiá diathéke por Anti-
go Testamento, provavelmente porque os tradutores perceberam quao ¡nade-
quado e empobrecedor seria falar de Antigo Acordó.

6. Misterio

Mysterion é outro termo denso no vocabulario bíblico. Era utilizado


.pelos gregos sob forma de plural para designar os ritos pagaos; e aparece com
este significado no texto grego de Sb 14,15.23; 12,5. Em Daniel 2,7.28s,
significa os acontecimientos fináis da historia, cuja noticia é revelada por
Deus. Nos apócrifos judaicos, mysterion significa um designio de Deus, de
cretado desde todo o sempre e destinado a se revelar no fim dos tempos para
instaurar a ordem violada no mundo pelos iníquos.ver Henoque 49,2; Heno-
que etíope 51,3.

Nos escritos paulinos mystérion é palavra de significado bem definido:

- é o plano de salvacao concebido por Deus Pai desde toda a eternida-


de(1Cor2,7)...

- ocultado a todas as criaturas, até mesmo aos anjos (1Cor 2,8; Ef 3.


9;CI 1.26;Rm16,25s)...

- revelado aos homens mediante a pregacao dos Apostólos e a historia


da IgrejalEf 3,3-5.10$; 1Cor 2,1.7)...

- identificado com o próprio Cristo (Cl 1,27; 2,2; 4,3). A morte e a


ressurreicáo de Cristo sao o conteúdo mais íntimo do misterio de Deus.

- A progressiva revelapao do misterio inaugura os últimos tempos ou


marca a plenitude dos tempos (Ef 1,9).

Ora um vocábulo tío rico de acepcoes e alusoes nao pode ser omitido
numa traducao da Biblia, como faz quase por completo a BLH. Nem se vé

309
22 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 326/1989

por que sonegar tal termo, que na própria linguagem popular é usual; com
efeito, o povo fala freqüentemente de mistério(s). Chama-nos a atencao es
pecialmente a troca de misterio por segredo em Mt 13,11 ("os segredos do
Reino do céu"), Cl 1,26 ("essa mensagem é o segredo que ele escondeu"),
Cl 2,2 ("o segredo de Deus, que é o próprio Cristo"), Ap 10,7 (''Deus cum-
prirá o seu plano secreto....), ICor 4,1 ("nos, que somos encarregados de
realizar os planos secretos de Deus")...

7. Parábola

O vocábulo parábola também nao ocorre na BLH, sendo substituido


por comparacáb; cf. Mt 13,10.36; Le 8,11; Me 4,34... Sabe-se, porém, que
parábola é um género literario consagrado pelo próprio uso dos rabinos e do
tado de significado técnico, mais denso do que o de uma comparacáo. O vo
cábulo tende a penetrar também na linguagem profana literaria, de modo
que nao há por que o cancelar do vocabulario bíblico, onde tem longa histo
ria... As comparaedes como tais se encontram nos livros infantis, ao passo
que as comparacSes bíblicas sao classicamente ditas "parábolas".

8. Tu, vocé(s), o senhor

Em vez de adotar o habitual tratamento tu e vos, a BLH recorre a Tu


(quando é interpelado o Senhor Deus), vocé(s) (quando é interpelado um
subalterno), o senhor (quando Jesús ou umchefe é interpelado). Este trata
mento suscita confusoes e depaupera o texto sagrado, banalizando as suas
expressóes, como tem revelado a praxe recente. Ademáis nao se vé motivo
para abandonar tu e vos, como se fossem incompreensíveis as pessoas sim
ples (sabe-se que estas recorrem ocasionalmente a tais pronomes). Para que
uma traducao da Biblia seja inteligível á gente simples, nao é necessário que
reproduza o expressionismo e o vocabulario limitados das pessoas de pouca
cultura, pois estas entendem vocábulos de um linguajar mais burilado, embo-
ra nao os usem. Basta lembrar que o jornal falado da televisao e do radio re
corre a linguagem mediana, nem sempre reproduzida pelo povo, mas signifi
cativa para este (daí o enorme índice de audiencia que alcanca).

9. Ligar-desligar

Em Mt 16,19, diz Jesús a Pedro, conforme a BLH: "Eu Ihe darei as


chaves do Reino do céu; o que vocé proibir na térra, será proibido no céu, e
o que permitir na térra será permitido no céu".

Os tradutores puseram "proibir-permitir" em lugar de "ligar-desligar".


Ora o binomio "ligar-desligar" (em aramaico, asar e sherá ou hithir) é da lin
guagem técnica rabfnica; significa, antes do mais, atos de jurisdícao, pelos

310
"ABIBLIANALINGUAGEMDEHOJE" 23

quais os rabinos excomungavam (ligavam) ou absolviam da excomunhao


(desligavam). Ulteriormente significava decisoes doutrinárias ou jurídicas,
que ou proibiam, declaravam ilícito (ligavam) ou permitiam, declaravam líci
to (desligavam). — Donde se vé que a traducá*o "proibir-permitir" nao abran-
ge todo o conteúdo do texto original, pois o reduz a materia de Moral, quan-
do, na verdade, o que Jesús entrega a Pedro, conforme o texto original, é o
poder de governar a Igreja tanto no plano jurídico como no da Moral eno
da doutrina. A própria imagem das chaves, que Jesús consigna a Pedro, lem-
bra a jurisdicao, ou seja, o poder de abrir e fechar a comunhao com a Igreja
em nome do Senhor Jesús. As sentencas de Pedro sao confirmadas pelo pro-
prio Oeus.

Em conseqüéncia, teria sido necessário conservar o binomio "ligar-des-


ligur" na traducáo; o seu significado técnico poderia ser explicado no voca
bulario da BLH (pp. 439-447). Qualquer tentativa de substituir "ligar-desli-
gar" equivale a urna interpretado, que pode ser tendenciosa, como é de fato
no caso da BLH. A propósito do significado de tal binomio na teología dos
rabinos antigos, ver PR 132/1980, pp. 538s. 543-547.

As mesmas observares devem ser feitas a respeito de Mt 18,18, onde


reaparece o binomio "ligar-desligar", desta vez para designar o poder de ju-
risdipao e magisterio que toca aos Apostólos reunidos em colegiado.

10. Sangue

Em Rm 3,25; 5,9; Ef 1,7; 2,13; Ap 1,5; 5.9 a palavra grega haima é


traduzida nao por sangue, como seria de prever, mas por morte. — Ora, se
bem que a morte possa em alguns casos lembrar sangue, nao se deveria
deixar de usar o vocábulo sangue em tais passagens, pois é este que poe em
relevo o valor da morte de Cristo como sacrificio ou como vítima de expía-
cao pelos pecados do mundo. O caráter sacrifical da morte de Cristo é essen-
cial á mensagem do Novo Testamento. Alias, em At 20,28; Hb 10,29;
IPd 1,19 os tradutores verteram haima por sangue; a mesma palavra grega é,
pois, tratada de modo desigual na traducáo da BLH.

11. Espiritualmente pobres

A primeira bem-aventuranca (Mt 5,3) reza na BLH: "Felizes os que sa-


bem que sao espiritualmente pobres..." Ora a primeira bem-aventuranca nao
consiste em saber..., mas, sim, em viver;ela é dirigida aqueles que tém um
coracao-simples, humilde e despretensioso como é o dos pobres (anawim)
que o Amigo Testamento muito louva na medida em que sao os fiéis de
Deus, despojados de qualquer ilusao a respeito da escala dos valores; os

311
24 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 326/1989

anawim sao os que confiam em Deus, e nSo em si, como fazia S. Teresinha
do Menino Jesús, que viveu intensamente a primeira bem-aventu ranea.

12 Ulteriores observacoes

Verifica-se que em varias passagens o texto sagrado assume caracterís


ticas bañáis. Por exemplo:

1. O vocábulo óleo é sistemáticamente substituido por azeite, que é


um tipo de óleo usado freqüentemente em cozinha. Assim Jesús diz ao fari-
seu Simáo:

"Vocfl rao arranjou azeite para a rninha cabeca" (Le7,46}, em vez de


"Náb me derramaste óleo sobre a cabeca".

Em Ex 30,31 lé-se: "Esse azeite de ungir deverá ser usado no meu ser-
vico religioso".

Em Hb 1,9 omite-se "o teu Deus te ungiu com óleo de alegría" para
dizer-se:"... a alegría di recebar a honra..."!

Em Tg 5,14 lé-se: "Os presbíteros ponham azeite na cabeca do enfer


mo em rtome do Senhor", em lugar de: "... unjam o enfermo com óleo em
nome do Senhor".

2. O verbo tomar cede a pegar, que é por vezes verbo de Nnguagem ba


nal {"pegou e disse", "pegou e foi...", "pegou e fez..."). Ver Mt 2,20; Mt
26,26s; Me 14,22s; Le 22,17-19. Ora nSo se pode dizer que tomar seja pala-
vra erudita ou desconhecida ao povo; o que é certo, é que pegar é nao ape
nas popular, mas até mesmo vulgar e pouco elegante, principalmente numa
traducao bíblica. Veja-se especialmente Mt 25, 1-3;

"Naquele dia o Reino do céu será como daz mocas que pegaram as
suas lamparinas e sairam para se encontrar com o noivo. Cinco eram sem juí-
zo, e cinco ajuizadas. As mocas sem jufzo pegaram suas lamparinas, mas nao
arranjarain óleo de reserva".

A propósito pergunta-se: por que mocas e nao virgens (partheno),


como está no original?

3. Em Tg 2,20 lé-se: "Seu tolo!", quándo outras edicoes traduzem


por "Homem insensato!"

4. 0- vocábulo Evangelho é geralmente omitido em favor de Boas-


Noticias (cf. Me 1,1.14; Cor 9,18), expressa"o que enfraquece muito o sig
nificado do original; se o povo cristao nio está familiarizado com o que é
Evangelho, os seus pastores tém que Iho ensinar e nao omitir a palavra.

312
"A Bl'BLIA NA LINGUAGEM DE HOJE" 25

5. O Vocabulario existente no final da edicao da BLH, pp. 439-447,


ao aboruar os termos "bispo, presbítero, diácono", explica os ministerios
da Igreja simplesmente como servico de direcao, lideranca e administracao
sem referencia alguma á sacramentalidade dos mesmos — o que tem sabor
protestante. Ademáis a palavra epískopos é traduzida por bispo, o que nao
ressalva a índole singular dos epískopoi a que se referem os escritos do No
vo Testamento. Melhor tería sido dizer epíscopos em portugués. Cf. Fl 1,1;
1Tm3,15;Tt1,7...

Conclusao

Deixando de lado outras varias observacoes, concluímos que a BLH


nao é simplesmente urna tradúcete, mas vem a ser, em mais de um caso, urna
interpretacao. Verdade é que todo tradutor tem nao raro que interpretar o
texto que ele verte. Todavia este fato ocorre com mais freqüéncia e mais se
rias conseqüéncias quando o tradutor, de caso pensado, procura evitar vocá-
bulos consagrados pelo uso, como se dá na BLH. E diga-se de passagemra in-
terpretacao dada ao texto da BLH, cá e lá, é evidentemente protestante. -
Daí nao se poder recomendar o uso da BLH nem para católicos, nem para
protestantes, pois uns e outros necessitam, antes do mais, de ler o texto bí
blico na sua identidade tao objetiva quanto possível.

Ademáis pode-se indagar se é oportuno usar linguagem rude (as vezes


¡ncorreta) na traducao da S. Escritura. Está claro que esta nao deve ser pro
posta ao grande público em linguagem rebuscada ou "preciosa", mas, apesar
de tudo, há de valer-se de vocabulario e estilo de bom timbre, condizentes
com a dignidade da mensagem bíblica. O próprio povo aspira a elevar seu ni
vel de cultura, de modo que só poderá mostrar-se grato a quem o ajude a
compreender um bom linguajar portugués que nao deixe de ser simples. Jul-
gamos, pois, que nao se devem evitar as palavras técnicas do vocabulario bí
blico como Evangelho, alianpa, justificacao, parábola, misterio... e outras
muitas, pois tém su as conotacdes que outras, tidas como equivalentes, nao
possuem; o que elas possam apresentar de insólito, seja explicado ao pé da
página do texto bíblico ou em glossário próprio, de modo que percam sua
estranheza para o leitor nao iniciado.

Eis o que nos convinha observat, em termos sumarios, a respeito da


BLH.

313
Documentos da Santa Sé:

Profissáo de Fé e Juramento de
Fidelidade

Em símese: A partir de 19/03/89, todas as pessoas que, em nome da


Igreja, exercem alguma funció, estao obrigadas a proferir urna Profissáo de
Fé e um Juramento de Fidelidade á Igreja e ao seu magisterio. Este efetua
pronundamentos de diversas modalidades, que nao de ser observados atenta
mente, para que se evite confundir a mente do povo fiel. Tal exigencia da
Igrsja se justifica plenamente pelo fato de que o patrimonio de fé e Moral
entregue por Cristo á Igreja deve ser guardado e transmitido incólume para o
bem do povo de Deus e a gloria do Criador.

Em vista da variedade de sentencas sobre a Fé e a Moral hoje em dia


veiculadas, nem sempre em conformidade com o patrimonio entregue por
Jesús Cristo aos homens, a suprema autoridade da Igreja tem tomado medi
das cautelares. Sao especialmente solicitadas as pessoas que, em nome da
Igreja, exercem alguma funcáo; o Direito Canónico Ihes pede que emitam
urna Profissao de Fé segundo a fórmula aprovada pela Sé Apostólica. Vejase
o canon 833, que assim reza:

Canon 833 - "Tém obrigacao de fazer pessoalmente a Profissáo de fé.


segundo a fórmula aprovada pela Sé Apostólica:

1? diante do presidente ou de seu delegado, todos os que partidpem


de um Concilio Ecuménico ou particular, do Sínodo dos Bispos ou do Síno
do diocesano, com voto deliberativo ou consultivo; o presidente, por sua
vez, diante do Concilio ou do Sínodo;

2? os promovidos á dignidade cardinalícia, segundo os estatutos do


Sacro Colegio;

3? diante do delegado da Sé Apostólica, todos os promovidos ao epis


copado, e os que se equiparan) ao Bispo diocesano;

4? dianta do colegio dos consultores, o Administrador diocesano;

314
PROFISSAO DE FÉ E JURAMENTO 27

5? diante do Bispo diocesano ou de seu delegado, os Vigários gerais,


os Vigários episcopais e os Vigários judiciais;

6? diante do Ordinario local ou de seu delegado, os páróeos, o reitor,


os professores de teología e filosofía nos Seminarios, no inicio do exercício
do cargo; e os promovidos á ordem do diaconato;

7° diante do Gráo-chanceler e, na sua falta, diante do Ordinario local


ou dos respectivos delegados, o reitor de Universidade Eclesiástica ou Católi
ca no inicio do exercício do seu cargo; diante do reitor, que seja sacerdote,
ou diante do Ordinario local ou dos respectivos delegados, os professores
que lecionam disciplinas referentes á fé e aos costumes em qualquer Univer-
sidade, no inicio do desempenho do cargo;

8? os Superiores nos Institutos Religiosos e ñas Sociedades Clericais


de vida apostólica, segundo a norma das Constituicoes".

Além da Profissao de Fé, devem emitir Juramento de Fidelidade aque


tas pessoas mencionadas nos n?s 5-8 do referido canon.

Em vista disto, a Congregado para a Doutrina da Fé houve por bem


elaborar tais fórmulas, que fotam publicadas no jornal L'OSSERVATORE
ROMANO (ed. brasileira de 12/03/1989, p.4). Abaixo segue-se a traducao
portuguesa do original latino de tais documentos:

I. PROFISSAO DE FÉ

A Profissao de Fé consta do Símbolo Niceno-constantinopolitano, ao


qual sao acrescentadas tres proposicoes:

"Eu, N.N., creio e professo todas e cada qual das proposicoes que es-
tao comidas no Símbolo da Fé, a saber:
Creio em um só Deus, Pai todo-poderoso.
Criador do céu e da térra, de todas as coisas visíveis e invisíveis.
Creio em um só Senhor Jesús Cristo, Filho Unigénito de Deus,
nascido do Pai antes de todos os sáculos;
Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro;
gerado, nao criado, consubstancial ao Pai.
Por Ele todas as coisas foram feitas.
E pornós, homens, e para a nossa salvacáo, desceu dos céus;
e se encarnou pelo Espirito Santo no seio da Virgem María
e se fez homem.
Também por nos foi crucificado sob Póncio Pilatos;
padeceu e foi sepultado.
Ressuscitou ao terceiro día, conforme as Escrituras,

315
28 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 326/1989

e subiu aos céus, onde está sentado á direita do Pai.


E de novo há de vir em sua gloria para julgar os vivos e os morios.
E o reino nao terá fim.
Creí» no Espirito Santo,
Sanhor que dá a vida, e procade do Pai e do Filho,
e com o Pai e o Filho 4 adorado e glorificado;
Ele que falou pelos Profetas.
Creio na Igreja una, santa, católica e apostólica.
Professo um só batismo para a remissáb dos pecados.
E espero a ressurreicáo da cama
e a vida do mundo que há de vir. Amém.

Com f¿ firme creio também tudo aquilo que na Palavra de Deus, escri
ta ou oral, está comido e pela Igreja é proposto, ou mediante solene entenca
ou mediante o seu ordinario e universal magisterio, como verdades reveladas
por Deus que se impóem á fé.

Também abraco e retenho firmemente todas e cada qual das proposi


tes que a respeito da doutrina da fé e dos costumes sao propostas pela Igre
ja em termos definitivos.

Além disto, com religioso obsequio da inteligencia e da vontade dou


minha adesáb ás doutrinas que o Pontífice Romano ou o Colegio dos Bispos
enunciam ao exercerem seu auténtico magisterio, embora nao intencionem
proclamá-las em termos definitivos".

Segue-se o

II. JURAMENTO DE FIDELIDADE

Tal é a fórmula a ser usada pelos fiéis cristaos mencionados no canon


833, n? 5-8:

"Eu, N.N., ao receber a funcáb de prometo guardar


sempre a comunhSb com a Igreja Católica tanto pelas palavras que proferir
como por meu modo de agir.

Com grande diligencia e fidelidade, cumprirei os encargos a que estou


obrigado em relacao seja á Igreja universal, seja á diocese na qual sou chama
do a prestar servico, segundo as prescricdes do Direito.

No exercício de minhas funeóes, que em nome da Igreja me foram


confiadas, conservarei íntegro, transmrtirei e ilustrare! fielmente o depósito
da fe; por conseguinte evitareiqualquer doutrina a ela contraria.

316
PROFISSÁO DE FÉ E JURAMENTO 29

Seguirei e fomentarei a disciplina comum da Igreja e guardarei a obser


vancia de todas as leis eclesiásticas, principalmente daquelas que estáo comi
das no Código de Direito Canónico.

Com obediencia crista1, executarei o que for estabelecido pelos sagra


dos Pastores, como auténticos doutores e mestres da fé ou como gover na ri
tes da Igreja, e fielmente prestare! auxilio aos Bispos diocesanos, a fim de
que a atividade apostólica a ser exercida em nome e por mandato da Igreja
se desenvolva dentro da comunháb da mesma Igreja.

Assim me ajudem Deus e estes santos Evangelhos de Deus, que toco


com as minhas máos".

Eis as variantes dos parágrafos 4 e 5 da Fórmula de Juramento válidas


para os fiéis dos quais trata o canon 833, n? 8:

"Fomentarei a disciplina comum da Igreja e urgirei a observancia de


todas as leis eclesiásticas, principalmente das que estío comidas no Código
de Direito Canónico.

Com obediencia crista, executarei o que os sagrados Pastores como


auténticos doutores e mestres da fé declaram ou como governantes da Igre
ja ertabelecem, e com os Bispos diocesanos colaborarei de boa vontade para
que a atividade apostólica, a ser exercida em nome e por mandato da Igreja,
se desenvolva na comunhao da mesma Igreja, ressalvadas a índole e a f inali-
dade do meu Instituto Religioso".

Passemos agora a breve

III. COMENTARIO

As fórmulas da Profissao de Fé e do Juramento de Fidelidade sao obri-


gatórias na Igreja a partir de 19/03/1989.

Já em 1967 a Igreja formulou para os mesmos casos urna Profissao de


Fé que compreendia o Símbolo Nlceno-constantinopolitano e um breve
apéndice assim redigido:

"Abraco também e retenho firmemente todas e cada urna das coisas


acerca da doutrina de fé e dos costumes que foram definidas pela Igreja com
solene juízo ou que foram afirmadas e declaradas pelo magisterio ordinario,
tal qual ela as propoe, especialmente aquelas que dizem respeito ao misterio
da Santa Igreja de Cristo, aos seus sacramentos e ao Sacrificio da Missa e ao
Primado do Romano Pontífice".

317
30 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 326/1989

Vé-se que em 1989 este apéndice fo¡ desdobrado em tres, para explici-
tar a atjtude do fiel diante dos diversos tipos de pronunciamento do magiste
rio da Igreja.

O primeiro parágrafo do novo apéndice ("Com fé firme creio tam-


bém...") tem por objeto as verdades contidas no depósito da Palavra de Deus
(seja escrita, seja oral) e propostas pela Igreja como artigos de fé revelados
por Deus. Tais seriam, entre outras, as verdades que os Concilios de Nicéia
I (325), Constantinopla I (38)), Éfeso (431), Calcedonia (451) definiram a
respeito da SS. Trindade (em Deus há tres Pessoas, que nao retalham a única
substancia divina) e de Jesús Cristo (em Jesús há uma só Pessoa, que é a do
Filho de Deus, e duas naturezas: a Divina e a humana, inconfund¡das entre
si).

O segundo parágrafo ("Também abraco e retenho firmemente...") re-


fere-se a verdades atinentes á fé e á Moral propostas de maneira definitiva
pela Igreja, nao, porém, como proposites divinamente reveladas. Tratase,
por exemplo, das proposicoes derivadas da leí natural, que é expressao da
vontade de Deus. Á Igreja compete o dever de explícitar e propor tais sen-
tencas em caráter definitivo, desde que isto condiga com o ministerio de
salvacáo confiado a Igreja. Assim a recusa do aborto, da eutanasia direta, o
respeito a pessoa humana e ás leis da Bioética... sao decorrentes da lei natu
ral, gravada por Deus no coracáo do homem e proclamadas pela Igreja como
merecedoras de adesSo ¡rrevogável da parte dos fiéis.

O terceiro parágrafo ("Além disto, com religioso obsequio...") versa


sobre os ensinamentos propostos pelo magisterio da Igreja (os Bispos em
comunháo com o Papa ou o Papa no seu magisterio ordinario) sem a inten-
cSo de definir o assunto. A tais sentencas o fiel católico tributa um religioso
obsequio da inteligencia e da vontade. "Religioso", no caso, significa que a
adesSo do fiel nao se baseia sobre motivos meramente racionáis, mas sobre o
reconhecimento da índole específica do ministerio do Sumo Pontífice e dos
Bispos... Sendo "obsequio da inteligencia e da vontade", tal adesao nao vem
a ser apenas um ato de submlssao disciplinar, mas é um assentimento sincero
ás doutrinas ensinadas pelo magisterio da Igreja. ao qual, no tocante a tais
assuntos, fica reservada a última palavra, pois ele goza de especial asslsténcia
do Espirito Santo para nao induzir os fiéis em erro.

O Juramento de Fidelidade anexo a Profissao de Fé implica o compro-


misso de exercer as funpóes eclesiais em comunháo com a Igreja e, de modo
especial, com as proposicoes doutrinárias de que tratam a Profissao de Fé e
seu apéndice.
PROFISSÁO DE FÉE JURAMENTO 31

Entende-se que a Igreja zele pela conservacao íntegra do patrimonio


da fé e da Moral que Cristo Ihe entregou. Consciente de que nao se trata de
proposicoes filosóficas ou racionáis, mas da Palavra de Deus, a Igreja nao po
de permitir que algum dos seus filhos deteriore ou contradiga a tal Palavra,
que é vida e salvacáo (cf. At 13,26; Jo 5,24; 2Cor 4,2). A experiencia dos
últimos tempos evidencia como frequentemente tais tendencias racionalis
tas ou subjetivistas se ¡nfiltram dentro da Igreja, levando mestrese pregado-
res a ensinar, dentro da Igreja, doutrinas que nao sao da Igreja nem de Cris
to - o que causa confusao e daño ao Poyo de Deus. A exigencia de fideli-
dade imposta pela Igreja vem a ser, pois, um servico valioso ao Senhor e a
seu povo fiel.

Icontinuafio da pág. 334)

5? — O conceito de Filosofía Cristi na encíclica "Aeterni Patris" de


Leáb XIII e em outros documentos da Igreja.

6? — Um compendio histórico da Filosofía Crista e as suas partes


estruturais.

7? — As luzes que a Revelacáo de Deus projeta sobre a Filosofía.

8? — A Filosofía Crista' no Brasil e na América Latina em geral; sua


situacao ñas Universidades e na formacao da juventude em geral.

9? - Respostas as objecoes contra a Filosofía Crista.

10? — O diálogo atual na Filosofía Crista com as ciencias experi


mentáis e com o pensamento filosófico contemporáneo.

* * *

OS LEITORES QUE DESEJEM DESFAZER-SE DE NÚME


ROS ATRASADOS DE PR, PODERÁO AJUDAR OUTRAS
PESSOAS A COMPLETAR SUAS COLECOES. QUEIRAM EN-
VIÁ-LOS AS EDICOES LUMEN CHRISTI, CAIXA POSTAL
2666,20001 RIO(RJ).
Queéa

"Pró-Vida. Integragáo
Cósmica"?

Em jfntese: 0 Movímentó "Pro- Vida", já na sua sumaria apresentacao,


através de Carta de Principios e apostilas para treinamento, formula seus
conceitos e seu programa em termos ambiguos, que parecem ser de difícil
conciliacSo com o Cristianismo. Oferece urna cosmovisáo que abstrai, por
completo, da mensagem do Evangelho; é um paralelo que nada tem a ver
com o Cristianismo e que, ao desdobrar-se, pode induzir o discípulo a um
modo de pensar e agir totalmente alheio á fé crista.

0 Movimento "Pró-Vida. I ntegracao Cósmica", fundado pelo Dr. Celso


Charuri, tem em vista "ensinar aqueles que se encontram desapuntados com
os objetivos menores, como encontrar os objetivos maiores" da vida (Aposti-
la para Treinamento. Curso Básico). "Para ¡sto utiliza me ¡os tradicional de
desenvolvimento mental, encontrados ñas culturas das ma<s antigás civiliza-
c5es do Egito, da India, dos celtas..." (ibd.).

É difícil definir o tipo de filosofía ou de cosmovisáo adotada pelo Mo


vimento. As apostilas e a Carta de Principios que distribuí, sao lacónicas. Co
mo quer que seja, chamam-nos a atenpao alguns dizeres mais expressívos.

A passagem abaixo, tirada de urna "Apostila para Treinamento", su-


gere que o homem esteja envolvido numa rede de torcas, que ele deve saber
aproveitar:

"A Mente utiliza o seu cerebro como um verdadeiro computador, e se


ligaré por cañáis competentes ás MÁGICAS FOfíCAS CÓSMICAS (INTE-
GRACÁOKpor.intermedio do EU MAIOR".'

1 As maiúsculas estSo no texto original.

320
"PRO-VIDA" 33

Pergunta-se: que "mágicas forcas cósmicas" sao essas? E que é o"Eu


Maior"?

O panteísmo parece excluido pela seguinte declaracao:

"Acreditamos que tudo tem uma razao de seré que o homem na face
da Térra também tem uma razio de estar. A procura desta razSo leva-nos
ao CRIADOR e, portanto, ADMITIMOS A EXISTENCIA DO CRIADOR.

Por admitirmos isto, sabemos que nSo somos deuses; no máximo,


quando evoluidos, podemos ser filhos de Deus. Por isso tudo, respeitamos
até a mais humilde criatura de todos os reinos e, dado esse Respeito, que
advém da compreensio do Todo, respeitamos a vida em todos os seus aspec
tos e em todas as suas manifestacoes" (Carta de Principios).'

Fica a interrogacao: que Todo é esso, com T maiúsculo?

A Carta de Principios muito enfatiza a evolucao:

"Temos por PRINCIPIO evoluir o homem, porque nao acreditamos


que o homem seja produto do meio, mas sim que o meio é produto do Ho
mem.

Acreditamos que o homem que é produto do meio, é homem com 'h'


minúsculo, e um meio digno se faz com Homens com 'H' maiúsculo. Nos
acreditamos que devemos evoluir o homem, porque a EVOLUCÁO é a meta
do Universo; é medida Universal".

Pode alguém achar estranho o uso tSo freqüente de maiúsculas, que


deixa o leitor desejoso de saber quais os criterios adotados para empregá-las.
- Mais: a EVOLUCÁO assim entendida será de índole moral, cultural, físi
ca...?

A mesma Carta de Principios apresenta o homem como "equilibrio


entre corpo e espirito".

O Dr. Celso Charuri fala de Jesús Cristo, "cuja estatua deve ser coloca
da no coracao da cidade, célula mater da possibílidade" ou "no coracáo do
próprio discípulo" (Quem somos nos?). Trata-se de expressoes metafóricas e
ambiguas, que aludem a Jesús Cristo.

Entre os meios de progresso, recomendam-se as

As maiúsculas estio no texto original.

;-- a g. s
34 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 326/1989

"Faga os exercfdos de preferencia utilizando Pirámides; estude sobre


Pirámides e vocé encontrará maravilhas" (Apostila para Treinamento).

Ora as pirámides sá*o algo muito discutido; supoem energías no mundo


que poderiam ser captadas pela disposicao geométrica das pirámides. Com
mais acertó, porém, deve-se dizer que há muita iiusao a respeito de pirámi
des, como se depreende do artigo das pp. 324-329 deste fascículo.

A finalidade do "Pro-Vida" é atingir um mundo melhor, como se lé


nos dizeres séguintes:

"Fot assim (conscientizando-nos de que a humanidade está sob guer


ras e fome) que nasceu a nossa Utopia de pretender um MUNDO MELHOR.
Um mundo onde a sodedade encontré a sua razio de existencia no SER e
nSo no TEfí. Um mundo onde a UBERDADE terá como base a JUSTIQA.
Um mundo onde o elemento que liberará energía para a PAZ, será a VER-
DADE SUPREMA E ABSOLUTA. Um MUNDO BEM MELHOR. que será
catalisado pela CORAGEM; coragem de expulsar o egoísmo latente por mi-
Ihares de sáculos dentro do proscrito ser terráqueo. Um mundo onde as pala-
vras só mostrarao o seu peso, se seguidas da acio correspondente. Um mun
do que dignificará o homem, como representante material, por imagem e se-
melhanca de Deus" (Quem somos nos?).

Nao é possi'vel depreender novos traeos característicos do Movimentó,


dada a sobriedade dos impressos que divulga.

Avallando...

Pergunta-se agora: como avaliar a proposta?

É muito válido o anseio de construir um mundo de fraternidade e paz;


nSo há quem o possa contestar. Todavía os recursos utilizados pelo Dr. C.
Charuri n3o sao claros; os seus referenciais de pensamento nem sao ateus,
nem pan teístas nem crístios... Tratase de urna filosofía religiosa nova e sin
gular. Além disto, a evocacao de "forqas mágicas" - sedutoras para muitos
— é vazia e foge á realidade... Temos ai um ecleticismo contraditório.

Se se trata de realizar um mundo melhor, com homens justos e retos,


na*o há necessidade de estruturar teorias novas, pois o Evangelho prega esse
ideal e oferece recursos que bercaram a civilizacao ocidental, produzindo mi-
Ihares e milhares de heróis, Santos e Santas. 0 que ao mundo de hoje falta, é
um conheci mentó mais profundo da mensagem do Evangelho e um aprovei-
tamento mais sistemático da sua vitalidade, pois certamente a guerra, a fome
e as injusticas sao as antíteses do que Jesús Cristo pregou. De resto, a expe-

322
'PRÓ-VIDA" 35

riéncia de todos os tempos ensina que o homem por si só nao é capaz de su


perar as desordens que ele traz dentro de si e, por ¡sto, nao consegue chegar
á realizapao da paz e da harmonía fraternas neste mundo. Nenhum sistema
de integrapao cósmica, baseado únicamente ñas capacidades do homem,
atingirá sua meta. Para a conseguir, requerem-se a oracá"o do homem e a gra
pa ou o dom de Deus.

Cremos, pois, que um fiel cristáo nao precisa de recorrer a Movimen-


tos heterogéneos para cumprir a sua missáo na Térra. O "Pro-Vida", já na
sua sumaria apresentapao, é de difícil conciliagao com o Cristianismo, pois
oferece urna cosmovisfo que abstrai, por completo, da mensagem crista; é
um paralelo que nada tem a ver com o Cristianismo; ao desdobrar-se, pode
induzir o discípulo a um modo de pensar totalmente alheio a fé crista.

(continuado da página 329)

Este fato explica que algumas pessoas, trabalhando em pirámides, te-


nham sido vítimas fatais e outras nao. Woward Cárter e outros egiptólogos,
que muito se envolveram ñas escavacoes, nao foram atingidos pela morte
¡mediata, porque sofreram um ataque brando de histoplasmose, que os
¡munizou contra o ataque fatal. - Na verdade. Cárter e companheiros quei-
xaram-se, em determinadas ocasides, de depressao e estranho mal-estar, que
foram diagnosticados pelos médicos; podiam entao estar sob o efeito do ata
que brando, que Ihes salvou a vida, apesar de se exporem a "maldicao dos
Faraos". Cárter morreu em 1939 de doenca bem caracterizada e natural, que
nada tinha a ver com "doenca desconhecida".

Estes dados históricos evidenciam que, se a pirámide é atualmente le


vada para o campo do ocultismo, deveria ser considerada como fonte de ma
leficios e nao de beneficios. Pergunta-se entao: por que é tao estimada como
penhor de bemestar? - É difícil explícalo. Será por causada resistencia ás
intemperies dos sáculos? Será por causa da putañea de sua arquitetura, que
parece conter segredos de enorme valor para o homem? Como quer que seja,
a atribuipao de beneficios as pirámides confirma o fato de que as crendices e
supersticoes sao um tanto irracionais, baseando-se principalmente em emo-
coes e em sugestionamento. Se alguém conta que Ihe aconteceram maravi-
Ihas em sua.casa debaixo de urna armacao piramidal1, dá ini'cio a "boa fa
ma" das armacoes piramidais entre os seus amigos; estes, sugestionados, po-
deráo ser igualmente beneficiados nao pelas pirámides que usarem, mas úni
camente pela sugestáo.

1 MaraviIhas que coincidtram com o uso da pirámide, mas nSo eram devidas
a esta.

323
Na ordem do día:

As Pirámides: Efeitos
Maravilhosos

Em símese: Muí tas pessoas atribuem efeitos maravilhosos a tendas,


grandes ou pequeñas, de forma piramidal: conservariam flores, frutas, carne,
/e/fe...; contribuiriam para a cura de doencas, etc. A origen desta crenca está
ñas pirámides do Egito, ¿s quais se atribuem poderes portentosos; com efei-
to, conforme os habitantes do Egito, a maldicao dos Faraos pesaría sobre
aqueles que quisessem devassar os misterios de tais monumentos; tal afirma-
cao é corroborada, dizem, por varios casos de morte de estudiosos e pesqui
sadores das pirámides do Egito.

O rumor de maldicao dos Paraos se dissipou quando na década de


1960 se descobriu que o falecimento de estudiosos das pirámides deve ter si
do causado por um virus detectado em 1962, virus relacionado com os mor-
cegos do deserto; o estéreo ressecado de tais morcegos é o ambiente em que
se desenvolve um fungo causador da histoplasmose, doenca, nao raro, mor
tal. Os morcegos terSo penetrado no interior das pirámides, onde haverSo
deixado seus excrementos; foram estes que indiretamente vitimaram varios
pesquisadores de tais monumentos. — Donde se vé que as pirámides nada
causam de incompreensivel e misterioso, seja para o mal, se/a para o bem
dos que lidam com elas. A forca da sugestSo é certamente r'esponsável pelo
bem-estar que multas pessoas dizem captar em contato com as pirámides.

É freqüente atribuirem-se ás pirámides do Egito e ás armacóes de for


ma piramidal poderes extraordinarios. Entre nos, no Brasil, muitas pessoas
estimam as armacoes piramidais, porque

— afirmam que ¡oías e moedas embaciadas sao polidas pelas torgas e


energías que agem dentro das pirámides; agua poluida é purificada; leite, car
ne e alimentos em ge ral permanecem frescos e sadios; as flores se desidratam,
mas conservam forma e cores; as giletes guardam o seu corte perfeíto; as
plantas crescem mais rápidamente dentro do que fora das pirámides...;

324
AS PIRÁMIDES 37

- afirmam também que a própria pessoa humana é beneficiada em sua


saúde pelas pirámides: cortes, arranhóes, queimaduras sao mais rápidamente
curados se o paciente se coloca debaixo de urna armacao em forma de pirá
mide. Doentes de molestias graves ou incuráveis teriam sido completamente
sanados pela enérgia proveniente das pirámides;

— afirmam que a forma piramidal parece produzir um campo de ener


gía capaz de influenciar benéficamente os organismos vivos e mortos. Mesmo
animáis mortos, como ratos, ná"o se corromperiam nem exalariam mau
cheiro, mas secariam e se mumificariam.

A pirámide, portanto, seria urna figura perfeita ou um campo de for-


Cas benéficas ao ser humano e aos objetos que o cercam.

Diante destas conceppoes, é obvio perguntar:

1) Será realmente verdade tudo quanto se atribuí as pirámides? Póde


se crer em todas essas noticias maravilhosas?

2) Em caso positivo, como explicar poderes tao portentosos das pi


rámides?

1. As pirámides safo realmente portentosas?

1. Antes do mais, deve-se notar que há muitos exageros ñas narracoes


relativas ás pirámides. Se os prodigios atribuidos ás mesmas fossem reais, as
pirámides seriam a solucao até para debelar doencas incuráveis. Ora até hoje
nenhum dentista, médico ou biólogo, receitou pirámide para curar pacientes
ou entreter a vida. Portanto, científicamente talando, nao há relacao alguma
entre pirámides e saúde do corpo ou conservagfo de objetos.

Se algum beneficio foi realmente obtido pelo recurso a armacóes pira-


midáis, isto se deve únicamente á sugestao ou á predisposicao favorável com
que as pessoas se aproximam das pirámides. Em nossos dias, é mais e mais
conhecida a forca da sugestao, ficando evidente que ela pode mobilizar o
consciente e o inconsciente das pessoas e obter efeitos portentosos, á primei-
ra vista inexplicáveis. Se, pois, alguém se coloca debaixo de urna armacao
piramidal, convencido de que isto faz bem á saúde, poderá ser beneficiado
nao por urna pretensa energia da figura envolvente, mas porque tal convic-
cao Ihe provocará um desbloqueio psfquico, que combaterá disfuncóes do
organismo; sem dúvida,... até certo ponto, nao de maneira ilimitada...

E por que as pessoas créem que as pirámides fazem bem ao homem?

325
38 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 326/1989

— Podemos explicá-lo pela aura de misterio que cerca as pirámides do


Egito. SSo construcdes gigantescas, que resistem á acSo demolidora do tem-
po como nenhuma outra; já isto suscita a admiracao do público. Os enormes
blocos de granito, o sistema arqu¡tetónico, a matemática superior que en-
tram na realídade das pirámides suscitam o fascfnio do misterio e a crenca
na ¡ntervencüo de forcas desconhecidas ou superiores aos homens.

É deste fato que se deriva a estima do homem moderno pelas pirámi


des. Alias, a crenca de que ñas pirámides atuam poderes ocultos foi-se trans-
mitindo até entre dentistas na primeira metade do século XX; seriam, po-
rém, poderes ocultos maléficos ou a chamada "maldicao dos faraós". É o
que passamos a examinar.

2. A "maldicao dos faraós"

Aos 25/11/1922, em presenca de Lord Edward Herbert, Duque de


Carnavon e mecenas dos arqueólogos, o pesquisador Dr. Howard Cárter pro-
fanou o túmulo do Faraó Tutankhamon, da 18a. dinastía do Egito, morto
havia 3.265 anos, na idade de dezoito anos. A fagan ha fora extremamente
ousada, pois ninguém até entáo se havia atrevido a realiza-la. Ora, quando
Lord Carnavon, cheio de euforia, penetrou no túmulo de Tutankhamon, o
Inspetor Geral de Antigüidades do Governo Egipcio, M. Arthur Weigall, dis-
se: "Se penetrar no túmulo com tamanha irreverencia, nao Ihe dou mais
de seis meses de vida". Aludía, convicto, á crenca existente no Egito de que
"o Faraó viria chamar aquele que violasse o seu túmulo". Ora cinco meses
mais tarde, aos 05/04/1923, Lord Carnavon morreu num Hospital do Cairo,
sem que algum médico pudesse diagnosticar a sua estranha doenca. - Duran
te a agonía, o paciente, diante dos acompanhantes perplexos, exclamou: "É
o fim. Ouví o chamado e estou pronto".

Outro pesquisador, o Dr. Evellyne White, foi um dos primeiros a ir a


fundo na cámara mortuária de Tutankhamon... Ora, saindo do Vale dos
Reís, sentiu-se fraco e deprimido, e escreveu: "Sucumbí a urna maldicao que
me forca a desaparecer", palavras encontradas em carta de despedida junto
ao seu cadáver. E enforcou-se.

Frederick Raleigh foi enviado de Londres para averiguar se o corpo de


Tutankhamon estava realmente dentro do sarcófago. Entrou na sala funera
ria como quem ia perturbar o descanso do jovem Faraó. Ora teve que ser re
tirado do recinto, sentíndo-se mal. Logo desmaiou. e em breve estava morto.

O Professor Winlock, o primeíro que descobrira a inscrigao com o no-


me de Tutankhamon em fragmentos de cerámica, os Professores Breasted,
Douglas, Derry e Foucart, os pesquisadores James Could, Garries Davis e

326
AS PIRÁMIDES 39

Joel Woolf, os sabios egiptólogos Harkness, Astor, Bruére, Callender, Lucas,


etc., ao todo dezessete homens de ciencias que estiveram no Vale dos Reis,
perderam a vida sempre por "doenpa desconhecida".

A Policía egipcia interveio: nao conseguiu encontrar indicio de crime


em algum desses casos de falecimento. Um alto membro do Governo egipcio
quis investigar por conta própria; mas, decorridos alguns días ñas escavacóes,
sentiu-se mal e também morreu.

Os felás ou camponeses que estavam a par dessas desgranas, sussura-


vam sem esconder sua alegría vingativa: "Eís a maldicao do Faraó!" Tantos
eram os casos que ninguém pensava em atribui-los a mera coincidencia; es
tavam, alias, todos relacionados com pesquisas ñas pirámides.

Assim foi-se corroborando a crenca na "maldicao do(s) Faraó(s)" e fo-


tamse contando novos e novos episodios de insucesso de pesquísadores e vi
sitantes dos túmulos dos Faraós e das pirámides. O preconceito e a sugestao
pessimistas faziam que o público nao levasse em conta varios outros casos de
arqueólogos que trabalharam ñas pirámides sem sofrer daño algum.

Assim, por exemplo, nada aconteceu aos convidados, repórteres do


mundo inteiro, embaixadores de varios países, á Rainha Elizabeth da Bélgica
e a seu filho, o futuro rei Leopoldo, que aos 18/02/1923 presenciaram como
o arqueólogo Cárter abriu urna porta encravada em mármore e depois o
enorme cofre de madeira dourada, o catafalco, com a imagem do deus falcáo
Horus e sinais mágicos, o selo real e o nome completo: "Nebkperoure-Tu-
tankhamon".

Mais: consta que nada aconteceu aos ladroes que em 1900 tentaram
saquear o túmulo de Amenófolis II, vencendo a resistencia dos guardas que
o vigiavam. Retiraram do sarcófago a múmia do Faraó e arrancaram suas fai-
xas. Mas nada puderam roubar porque as jóias que deveriam estar lá, já ha-
viam sido levadas por outros ladroes. Também nada aconteceu aos arqueólo
gos que descobriram estes mesmos tesouros, os quais atualmente estáo per
didos.

Alias, já em 1881, o Více-Diretor do Museu do Cairo, Prof. Emile


Brugsch, penetrou na antiqüi'ssíma necrópole (cemitério) de Deir el-Bahrie
nada encontrou; tudo fora roubado. Seguindo as indicacoes de um ladrao de
túmulos (que nada sofrera!), descobriu no fundo de um poco a mais fabulo
sa coléelo arqueológica: 31 caixoes mortuários e 24 múmias, inscricóes, te
souros das tres grandes dinastias do antigo Egito; entre as múmias, encontra-
vam-se as dos famosos Faraós Ramsés II e Amenófolis I. Estava prestes a em
barcar levando para a Europa tao preciosos tesouros, quando foi perseguido

327
40 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 326/1989

por urna multidao de mulheres que histéricamente gritavam: "MaldicSo!


MaldicSo!" O povo explicaría a reacio dizendo: "O faraó vira buscar aquele
que violar o seu túmulo", como já mil anos antes de Cristo se pensava. —
Brugsch foi explícitamente admoestado a respeito do perigo que podia estar
correndo, mas seguiu viagem com sua equipe de trabalho e os tripulantes do
navio, sem que nada Ihes acontecesse.

Também nada ocorreu aos funcionarios que nos Museus tém manejado
as múmias, adaptando-as a visitacao pública. Outros casos de total ¡munida-
de se registraram com varios pesquisadores e operarios dos túmulos, desmen-
tindo a "maldicáo dos Faraós".

Vejamos agora a fase das pesquisas médicas.

3. A sentenca dos médicos

Passada a fase emocional, os médicos puseram-se a estudar o fenóme


no de tantos falecimentos, deixando de lado qualquer crenca nao fundamen
tada cientificamente e aprofundando os seus conhecimentos profissionais.

Assim, após a segunda Guerra Mundial (1939-1945), ft'sicos norte


americanos levantaram a h¡pótese de que os antigos egipcios conheceram a
radioatividade e seus perniciosos efeitos; os sacerdotes da época teriam colo
cado material radioativo nos túmulos dos Faraós. As suspeitas pareceram
confirmadas pelos síntomas de leucemia encontrados num ou noutro pacien
te, mas ná"o foram suficientemente comprovadas.

Otto Neubert, o historiador da descoberta do túmulo de Tutankha-


mon, sugeriu que talvez os antigos sacerdotes egipcios tenham impregnado
as pinturas dos túmulos e as faixas de linho das múmias com urna mistura de
sais tóxicos, sais que se teriam conservado até nossos tempos com sua índole
mortífera. Todavia urna serie de análises químicas efetuadas no Museu do
Cairo demonstrou que as múmias eram totalmente inofensivas á saúde dos
visitantes.

Eis que com o tempo novos horizontes se descortinaram. Verif icou-se


a sobrevivencia, quase ilimitada, de certos microorganismos, como os virus,
capazas de cristalizar-se e adquirir as características de materia inanimada;
todavia, postos em contato com células vivas, se reanimara — Em 1962, dois
sabios egipcios descobriram a existencia de virus reanimados numa múmia
copta1, que datava dos primeiros séculos depois de Cristo. Tais virus aínda

1 Coptas sao os habitantes do Egito anteriores á invasSo árabe musulmana


(sáculo Vild.C).

328
AS PIRÁMIDES 41

eram desconhecidos em 1923; por ¡sto os médicos daquela época nao pude-
ram diagnosticar a "doenga misteriosa" que matou varios pesquisadores na
primeira metade do século XX.

Para os cientistas da África do Sul, a "doenga misteriosa" tem reía-


cao com os muitos morcegos do deserto.

Estas descobertas médicas foram esclarecendo os falecimentos miste


riosos das décadas anteriores e dissipando cada vez mais a hipótese da "mal-
dicá*o dos Faraos". Os estudos prosseguiram até se desvendar totalmente o
misterio. Com efeito; o Dr. Geoffrey Deán, outrora médico consultor na
África do Sul, depois residente em Dublin (Irlanda), publicou o resultado de
suas pesquisas nos seguintes termos:

A "doenga desconhecida" é a histoplasmose, causada por um fungo


que se desenvolve no estéreo ressecado dos morcegos.'

Tal molestia manifestou-se em outras localidades, bem distantes das


pirámides e destituidas de qualquer relacao com os Paraos... A pesquisa co-
mecou quando os médicos verificaram a semelhanca dos sintomas apresenta-
dos pelas "vítimas do Faraó" com os sintomas das vi'timas das "cavernas en-
feiticadas" de Urugwe na Rodésia e de outras cavernas existentes inclusive na
América Central.

Concentrándose no túmulo do Faraó, os estudiosos averiguaram que,


desde o inCcio das escavacoes, o acesso ao corredor, á antecámara e a seu
anexo, á própria cámara mortuária e ao tesouro de Tutankhamon estivera
barrado por urna porta de barras de ferro, que permitía a entrada de nume
rosos morcegos vindos do deserto.

Mais: o estudo da histoplasmose ou da doenga das cavernas mostrou


que, segundo as circunstancias, o ataque da doenga pode ser ou brando ou
fatal. O ataque brando acaba geralmente proporcionando imunidade ao ata
que fatal.

(continua na página 323)

1 A histoplasmose é causada pelo fungo do género histoplasma. Conhecem-


se duas modalidades desta molestia: a africana e a americana. A africana se
deve ao histoplasma duboisii e traduz-se em lesdes da pele, abeessos, úlceras,
fístulas... A americana, devida ao histoplasma capsulatum, atinge os pul-
moes, provocando febre, emagrecimentó e sintomas graves...

329
A voz de um fiel leigo:

O Pobre e a yida Crista.


Algumas Caricaturas do
Sagrado

por Helio Begliomini

Em síntese: O Dr. Helio Begliomini, pos-graduado pela Escola Paulista


de Medicina, refere dois fatos que muito o impressionaram em sua recente
vivencia crista". A propósito tece oportunas reflexdes. chamando a atencao
para a desfigurado dos valores mais sagrados devida a concepcoes heterogé
neas introduzidas no santuario.

Publicamos, a seguir, um artigo do Dr. Helio Begliomini, médico do


Hospital do Servidor Público do Estado de Sao Paulo e pos-graduado pela
Escola Paulista de Medicina. Tratase de um fiel católico que deseja viver
coerentemente a sua fé no mundo de hoje e refere algumas de suas dificul-
dades. É oportuno e salutar ouvir a voz dos leigos neste momento em que
a S. Igreja muito valoriza o laicato fiel. Agradecemos cordialmente ao Dr.
Begliomini a preciosa colaboracáo.

Introducto

Alguns conceitos suscitados pela Teología da Libertagáo sempre pro-


duzem efeitos deletérios, pois, nao raramente, causam revolta e descrenca da
parte leiga em relacao aos verdadeiros valores e autoridades cristas.

Tais consideracoes foram inspiradas num sermao pronunciado numa


igreja superlotada do litoral paulista, onde o. pároco ressaltava entre outras
coisas: a opcáb preferencial (obcecada) pelos pobres como o "verdadeiro ca-
minho (talvez o único!) a ser seguido"; que "é muito mais valioso e difícil
praticar obras em favor da libertaca'o do povo oprimido, do que ficar apenas
rezando em favor deles, o que pouco adiantaria"; e que "a Igreja tinha erra
do em se colocar no passado ao lado dos poderosos". Estas e outras simila
res colocapSes sa*o sobejamente conhecidas pelos cristáos engajados na vida
da Igreja. Nossa ¡ntencáo 6 citar objetivamente alguns pontos para refle-

330
POBRE E VIDA CRISTA 43

xáo, a título de contribuicao nao académica, mas leiga, imbuida de sincero


amorá Igrejade Cristo.

A Figura do Pobre

Por pobre podemos entender alguém desprovido de algo. Assim, o


conceito de pobre nao é limitado, mas abrangente, englobando nao exclusi
vamente o desprovido de recursos financeiros, mas também aqueles despro-
vidos de educacao (analfabetos), de saúde (doentes), livre convivencia social
(marginalizados, presos), de evangelizado (carentes de Deus), da grapa divi
na (pecadores) etc., etc. Conseqüentemente, em sentido lato, todos somos
pobres de algum ou de muitos predicados, ou seja, somos limitados e despro-
vidos de determinadas condicoes. Daí o lema "opcao preferencial pelos po
bres" nao ter sido feliz e adequadamente interpretado, urna vez que tal
opcao ná*o está sendo evangélica, mas, sim, política. Ora, a Igreja de Nosso
Senhor Jesús Cristo, desde os seus primordios, sempre se preocupou com os
pobres (desprovidos) de condicoes materiais, de saúde, etc., etc.; os verda-
deiros discípulos sempre tiveram e tém em mente a melhoria dos recursos
humanos dos mais necessitados. mas para proporcionar-lhes bens espiri-
tuais maiores e eternos. Todavía hoje em dia verifica-se o desenvolvimento
de uma Igreja popular, democrática, horizontalista. sutilmente sem sólida
conexáo com o supremo magisterio, acarretando uma acentuada perda do
caráter evangelizador, em proveito de uma mudanca de ordem político/so
cial como fim a ser atingido. Sao apresentadas como mais salutares as al-
teracóes das estruturas governamentais tío que a conversáo dos coracoes,
substituindo-se claramente um ensinamento cristáo por outro marxiste, o
que é inconcebível.

Jesús deu varios exemplos, ao mostrar quais eram a sua real opcao e
as metas a serem perseguidas. Assim, Ele perdoou os pecados do paralítico,
para ressaltar sua Divindade e a necessidade de conversáo interior. Em segui
da, operou a cura física, para mostrar aos descremes que Ele tinha poder,
pois era Deus feito homem (Me 2.1-12). Ao abordar Marta e Maria, enalte-
ceu o simples fato de Maria estar-1 he dando atencSo em detrimento de Marta,
que, afoita, cuidava das coisas passageiras deste mundo (Le 10,38-42). Foi
taxativo ao referir que pobres sempre feriamos neste mundo, mas a Ele nao
(Jo 12,8). Ora, a pobreza em si jamáis será eliminada. Devemos, como cris-
tifos, trabalhar para minimiza-la, porém, nao limitando a isto nossa tarefa,
mas fazendo disto um meio de melhor evidenciar o Reino de Deus entre os
homens, pois só Deus deverá ser a meta do cristao.

Quem tem o sabor de trabalhar ou de conviver com os extremos so-


ciáis, quais sejam: os pobres (desprovidos) de recursos materiais, de saúde; e
aqueles de situacáo inversa, ou seja, os fartos de recursos materiais e de saú-

331
44 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 326/1989

de, perceberá fácilmente que geralmente os primeiros sao muito mais ávidos
e próximos de Deus do que os últimos. Assim, a genuína opgao preferencial
e evangélica deveria ser enderepada sobremodo aos ricos de recursos mate
ria» e rotineiramente mais pobres de Deus, pois caberia primeramente a
conversSo do coragáfo dos mais distantes. É Cristo aue diz que nao veio para
curar os doentes, mas os enfermos (Mt 9,12s). Por outro lado, nao deveria
ser exclusivista, pois, positivamente, ser pobre (desprovido) de recursos ma-
teriais nSo é apanágio de santidade e de riqueza de Deus. Em outras palavras,
a salvacfo na*o é dirigida a um cía, a urna classe social, aum povo, a urna ra
pa, a um país, a um continente, a urna época. Ela é universal!

Entre tantas idéias pervertidas e gratuitamente assumidas, chega-se ao


cúmulo de se vilipendiar o valor ¡ncomensurável da orapao. É tido como
mais importante o trabalho brapal do que a vida contemplativa e de orapao.
Ora, ambos sao importantes e se complementam, tendo efeitos salutares pa
ra a vida da Igreja, sobretudo para quem possui urna visáo sadia e nao miope
do Corpo Místico de Cristo.

A deturpapáo nao termina por ai'; ela transcende os limites da ética


eclesiástica. Procura julgar e minar tendenciosamente, fora do respectivo
contexto, atitudes tomadas em épocas passadas. Com absoluta certeza, feita
urna análise equánime da situapao, pode-se fácilmente concluir que os explí
citos maleficios causados pelos falsos profetas e as espurias "teologías" sao
enormemente maiores do que os pressupostos "erros e retrocessos" cometi
dos pelo magisterio da Igreja ao longo dos anos. Falta maior humildade e re-
flexao, pois um bom exame de consciéncia convidaría os protagonistas da
"política teológica" ou da "teología política" a tirar a enorme trave da fren
te dos seus olhos, mais daninha do que o cisco dos olhos de outrem.

Outra Experiencia

Duas semanas após, na mesma igreja superlotada, participamos nova-


mente da Santa Missa, após urna longa viagem de mais de sete horas, a fim
de cumprirmos o preceito dominical, urna vez que no lugar onde estávamos,
embora populoso, ná~o havia sacerdote. A Missa teve varias intenpoes e, entre
elas, a do 30? día da morte de Chico Mendes. O referido irmao falecido (e
que Deus o tenha intercedendo por nos!) foi pelo sacerdote entusiásticamen
te proclamado Mártir. Tal fato causou estranhezá, pois Mártir, do ponto de
vista cristlo, é sinónimo de santidade, urna vez que significa aquele que se
imolou em defesa da fá crista. Ser mártir da ecología..., da independencia...,
nSo é necesariamente ser santo. Querer o bem, sem ter como meta o amor
a Deus e os sinais indeléveis da obra redentora de Cristo, nao é ser cristao,
pots nSo há religiáo que nao promova a busca do bem. Alias, nao há político
algum que em sua campanha se comprometa com o mal. Entretanto, a cele-

332
POBRE E VIDA CRISTA 45

bracáo de Chico Mendes mártir é fato menor; o ¡nteressante foi a proclama-


cao da Santa Missa como "ecuménica", urna vez que estavam participando,
além do sacerdote, um pastor protestante da Igreja Batista e representantes
políticos do Partido Verde e do Partido dos Trabajadores. Estes também
distribuíram entre os fiéis, na cerimoni'a, panfletos explícitos dos Partidos
assinalados, e alusivos ao homenageado e á sua causa. Com isto caracteriza
se urna desinformaccfo total, por parte do Religioso, do que venha a ser ecu-
menismo (desinformacáo que é transmitida aos fiéis), e urna manipula-
cao política evidente do Santo Sacrificio da Missa. Na homilía da "Missa
ecuménica", a palavra foi proferida pelo sacerdote, pelo pastor e pelos dois
políticos. Felizmente, após termos viajado tanto, demos grapas a Deus por.
ter escutado ao menos um dos pregadores, o único que falou do Evangelho
e de Deus. Os demais falaram somente das causas mortais e passageiras des-
te mundo, e, portanto, desnutridoras dos mais profundos sentimentos da
alma.

No nosso banco havia um humilde senhor, que se manifestava com


gestos de desagrado por causa da orientacao que a cerimdnia tinha tomado.

Tais fatos grassam no nosso meio e se constituem caricaturas da Igre


ja de Cristo, pois nao somente semeiam cizánias, como mal informam os
fiéis sobre a verdadeira doutrina de Nosso Senhor.

Entre tantas dificuldades hoje em día (paradoxalmente talando) para


se ter acesso ás genuínas verdades da fé, devemos ressaltar o inestimável
irabalho evangelizador e transformador, desenvolvido por varias entidades
eclesiásticas. Oportunamente, entre elas, salientamos o proficuo apostolado
da Escola "Mater Ecclesiae", através dos seus Cursos oor Correspondencia.
Iniciativas como esta devem ser multiplicadas e valorizadas, pois só con he-
cendo a verdadeira doutrina poderemos ter um juízo crítico e nao permitir
que barbaridades sejam cometidas, maculando e descaracterizando A base da
Igreja, sobretudo pelos que tém o ministerio de a conduzir.

Como palavra final, devemos frisar que a Igreja já sofreu indeléveis ci-
catrizes ao longo dos sáculos pela innomissao do poder civil (temporal).
Conseqüentemente, a Igreja traz farta experiencia passada e vivencia con
temporánea de outros países dominados por regí mes piores que o nosso.
para ter a prudencia de nao ser conivente com valores e Partidos temporais e
passageiros, e nao se sujar com a política dos homens. Ao contrario, entre
tantas obrigacoes, é dever da Igreja orientar e educar seus filhos sólidamente
na fé, a fim de que estes a representem em seus ambientes; posicionar-se
sempre em prol da verdade crista, independentemente de que esta propo-
sicao satisfaga estratégicamente a determinado Partido; levar em considera-
pao que a todos o Reino de Deus foi anunciado e oferecido por Cristo; con-

333
46 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 326/1989

tinuar, completar e aprimorar a obra da evangelizado; colocar á disposicSo


dos fiéis as verdadeiras vias de salvacSo através dos sacramentos etc., etc.,
etc.

No passado, a renovacao da Igreja se deu nos mosteiros. Atualmente,


com a abertura do Concilio Vaticano II, é mister a partiripacao ativa e orga
nizada dos leigos cónscios de sua missao, imbuidos de sincero amor a Deus
e á Igreja de Cristo, em comunhao com seus legítimos pastores.

* * *

Conjunto de Pesquisa Filosófica


(CONPEFIL)

CURSO "A JUVENTUDE E A FILOSOFÍA CRISTA"

As inscricoes ao curso "Juventude e a Filosofía Crista" estío abenas


desde já para as pessoas que tenham, no mínimo, o segundo grau completo.
Este curso será ministrado pelo CONPEFIL na própria sede, situada na
Estrada da Gávea 1, Gávea, Rio de Janeiro, RJ (tel.: 259-1741), no 2? se
mestre, que se iniciará no dia 12 de agosto, sábado; terminará no dia 18 de
novembro de 1989. O horario do curso será sempre das 15 as 17 h, aos sá
bados. A taxa de inscricá'o e freqüencía é de NCz$ 50,00 (cinqüenta cruza
dos novos), a ser paga no m9s de agosto do mesmo ano.

PROGRAMA

O curso "Juventude e a Filosofía Crista" será ministrado por um gru


po de professores, incluindo o Pe. Stanislavs Ladusans S.J. Di reto r do CON
PEFIL. O seu programa didático tem as articulacoes ou unidades abaixo in
dicadas:

1? — O desejo de felicidade e a busca do sentido da vida como fatores


originantes do complexo problema filosófico.

2? — O processo prá-filosófico da solucao do dito problema.

3? — O processo lógicamente ordenado da solucao do mesmo pro


blema.

4? — A originalidade da Filosofía Crista", ciencia racional autónoma,


distinta, mas nao separada da fé crista'.

(continua na pág. 319)

334
Livro em Estante
Meditacóes sobre os 22 Arcanos Maiores do Taró, por um autor que
quis man terse rio anonimato. Prefacio de Roben Spaemann, Apresentacao
de Hans Urs von Balthasar. TraducSo de Bendni Lernos. ColecSo "Amor e
Psique". - Ed. Paulinas, Sao Paulo 1989, 160 x 230 mm. 636 pp.

O autor baseia-se nos símbolos das vinte e duas cartas do Taró (O Ma


go, a Papisa, A Imperatriz, o Imperador, o Papa, Os amantes...), muñas ve-
zes utilizadas para a adivinhacao do futuro. Faz desses símbolos a ocasiSo de
reflexoes muito pessoais, de caráter eclético, apelando para o Hermetismo,
a Cabala, a Mística cristS... Cita autores diversos da Grecia, da India, da Rus-
sia, da Filosofía Moderna, da Psicología das Profundidades... em suma: urna
ampia biblioteca de saber humano.

Após urna leitura nao muito fácil das páginas de tal obra, duas impres-
sóes parecem poder ser formuladas:

l¡ o livro é de difícil entendimento; contém intuicdes subjetivas, cuja


concatenacao nao aparece á prímeira vista;isto significa nao raro, para o lei-
tor, que há mais jogo de palavras do que de idéias;

2) mais serio é o fato de que o autor pretende interpretar a S. Escritu


ra, inclusive o Evangelho, em chave simbolista, deixando o leitor perplexo
sobre a própria mensagem da Biblia Sagrada. Eis alguns espécimens do pro-
cedimentó do escritor:

'Em verdade, em verdade, te digo: quem nao nascer da agua e do Es


pirito, nao pode entrar no Reino de Deus' (Jo 3,5).

'Em verdade, em verdade' — o Me&tre repete o termo 'verdade' numa


fórmula mántrica (isto 6, mágica) da realidade da consciéncia. Com esses ter
mos ele diz que a plena consciéncia da verdade resulta da verdade insuflada e
da verdade ref letida. A consci&ncia reintegrada, que i o Reino de Oeus, pres-
supóe duas renovacoes, de alcance comparável ao nascimento, nos dois ele
mentos constitutivos da conscidncia — o Espirito ativo a a Agua refletora. O
Espirito deve tornar-se Sopro divino no lugar da atividade pessoal arbitraria,
e a Agua deve tornar-se espelho perfeito do Sopro divino, em vez de ser agi
tada pela perturbacao da imaginacao, das paixoes e dos desejos pessoais. A
consciéncia reintegrada deve nascer da Agua e do Espirito depois que a Agua
voltar a ser Virgem e que o Espirito voltar a ser o Sopro divino ou o Espirito
Santo. A consciéncia reintegrada nascerá, portanto, no interior da alma hu
mana de maneira análoga ao nascimento ou á encarnacáb histórica do Verbo:

335
48 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 326/1989

'Et incarnatus est de Spiritu Sancto ex Maria Virgine'.

O renascimentó da Agua e do Espirito, que o Mestre ensinou a Nico-


demos, é o restabelecimento do estado de conscilncia nao decaída, no qual
o Espirito foi o Sopro Divino e no qual esse Sopro foi refletido pela Natura-
za Virginal. Eis a loga crista" (p. 46).

Ora o texto de Jo 3,5 é classicamente entendido como alusio ao sacra


mento do Batismo\ — Agora aínda o autor anónimo:

"Se Deus fosse só Um e se ele nao tivesse criado o Mundo, ele nao se
ria o Deus revelado pelo Mestre, o Deus do qual diz Sao Joáo:

'Deus é amor; aquele que permanece no amor, permanece em Deus e


Deus permanece nele' (1 Jo 4,16).

Ele náb o seria porque nao amaria ninguém, exceto a si mesmo. Como
isto é ¡mpossível do ponto de vista do Deus de Amor, ele é revelado á cons-
ciencia humana como a Trindade eterna do Amante que ama, do Amado
que ama, e do Amor deles que os ama: Pai, Filho e Espirito Santo" (pp. 48s).

Deste texto deduz-se que Deus necessariamente devia criar o mundo?

O grande teólogo Hans Urs von Balthasar foi convidado a fazer a Apre-
sentacSo do livro; nSo quis furtar-se a isto (pp. 11-17). Desenvolveu entao
considerares sobre o simbolismo na Tradicao cristS, mas observou explíci
tamente: "Nio me sínto em condícoes de seguir nem de aprovar o autor em
cada urna das diligencias de seu pensamento, e muito menos de submeter a
um exame critico todos os argumentos tratados" (p. 11). "É certo que o au
tor, sempre e com grande consciéncia religiosa, procura seguir a ala central
da sabedoria crista. Acontece-lhe talvez afastar-se do meio, dando umpasso
muito á esquerda ou muito á direita" fp. 16).

Estas ponderacoes evidenciam suficientemente o embaraco do teólogo


diante da obra em pauta.

Em sfntese: o livro foi concebido por um crístSo dese/oso de expla


nar o Cristianismo através da interpretacio de símbolos. Todavía as suas
elucubracdes sSo tSo obscuras e distantes da clássíca doutrina crista, que de
Cristianismo parece só ter conservado a nomenclatura.

De resto, o Taró no Brasil está em voga como pretensa porta de entra


da para o transcendental e contando com a tutela do Holismo, do qual tra
taremos num de nossos próximos números.
E.B.

336
Revista "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" de 1988
encadernada em percalina, com índice analítico
600 páginas NCz$ 30,00

RENOVÉ QUANTO ANTES SUÁ ASSINATURA


ANUAL: NCzS 15,00

LIVROS DE PORTUGAL:

Filosofía Tomista, Manuel Correia de Barros. 2a. ed. revista.


Uv. Figueirinha, Porto, 445p NCz$ 20,00
0 Me-j Cristo Partido, Ramón Cué. 28a. ed. 1986. p. Ed.
P. Socorro 6,50
Jesús Cristo nos seus misterios, D. Columba Marmíon, Mos-
teiro Singeverga 20,00
Jesús Cristo Vida da Alma, D. Columba Marmíon, Mosteiro
Síngeverga 20,00

LIVROS EM Ll'NGUA ESPANHOLA:


Nuevo Testamento trilingüe (Espanhol, Latim e Grego), Bo-
ver y O'Callaghan. 2a. ed. 1988, 1385p 191,00
Los Evangelios Apócrifos — Colección de textos griegos y la
tinos, versión crftica, estudios introdutóríos por Aurelio
S. Otero. 6a. ed. 1988 91,00
Código de Derecho Canónico — Ed. bilingüe comentada por
los Prof. Salamanca. 5a. ed. revista. 1985. 950 p 119,00
Etimologías — San Isidoro Sevilla. 02 Vols. Ed. bilingüe.
1932. 1450p 210,00
San Pablo — Heraldo de Cristo. Com apéndice de Grabados.
1980. 570p 58,00
Los Papas — retratos y semblanzas. Lista de los Papas de Pe
dro a Joao Paulo II 71,00
Asi Fuá La Iglesia Primitiva — Vida Informativa de los
Apóstoles. Carlos A. de Sobrinho, 1986. 445p 75,00
El Comienzo del Mundo. 02 vols.. El hombre, la vida y la
vida y la térra y el universo. José M. Riaza Morales.
1984. 998p '. . 185,00
' Livro de a Vida — Sta. Teresa de Jesús. Ed. de Dámaso Chi
charro. 7a. ed. 486p 40,00
Historia de la Iglesia primitiva, Norberto Brox. Herder.
1986. 263p 40,00
Doctrina Teológica de Dios, Herbert Vorgrimler. Herder
1987. 230p 40,00
Teología Natural o Teodicea - Curso de Filosofía Tomista.
M. Grison. 5a. ed. ampliada com apéndice. Herder.
1985. 260p 49,00
Cristo en los Padres de la Iglesia — Las primeras Generacio
nes Cristianas ante Jesús. Antología de textos. Herder.
1986. 336p 85,00
Metafísica, Gnoseologia y Moral - Ensayo sobre el pensa-
rr.ento de A. Rosminí. Miguel F. Sciacca. Editorial Gre-
dos. Biblioteca Hispánica de Filosofía 42,00

OBS.: Pedíto pelo reembolso postal.


Prego sujeito a alteracáo.
1590 - O MOSTEIRO DE SAO BENTO - 1990

IV Centenario de fundadlo

Como nem todos podem vir ao Rio de Janeiro ou penetrar na clausu


ra, poderao contudo admirar a beleza arquitetdnica desse monumento co
lonial do inicio do sáculo XVII, adquirindo o grande Álbum em estojo-, inti
tulado O MOSTEIRO DE SAO BENTO.

Contém 18 fotografías artísticas (preto-e-branco) por Hugo Leal, o


mesmo que fotografou Ouro Preto e Salvador (BA) - Texto portugués-
inglés por D. Marcos Barbosa.

Prego do exemplar: NCz$ 32,00

EDIQÓES "LUMEN CHRISTI"


MOSTEIRO DE SAO BENTO
Rúa Dom Gerardo 40, - 5? andar - Sala 501
Caixa Postal 2666 - Tel.: (021) 291-7122
20001 — Rio de Janeiro — RJ

Obs.: Pedido pelo reembolso postal. — Preco sujeito a alteracao.

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